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ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli Parceria com oficinas de design na Concept Design Services “Mal posso acreditar no quanto mudamos em um período relativamente curto. Passamos de um fabricante com o foco interno para uma operação de projeto e fabricação focada no cliente. Agora, somos fornecedor de serviços integrados. A maior parte de nossos novos negócios provém de parcerias que fizemos com oficinas de design. Na verdade, projetamos produtos juntamente com oficinas de design especializadas, que possuem uma marca conhecida, e lhes oferecemos o serviço completo de fabricação e distribuição de produtos. Em muitos aspectos, somos agora uma empresa business-to-business.” (Jim Thompson, CEO da Concept Design Services (CDS)). A CDS transformou-se em uma das empresas mais lucrativas de artefatos para o lar na Europa. Fundada na década de 1960, a empresa passou de fabricante de moldes industriais, principalmente para o setor aeroespacial, e de alguns utensílios baratos de limpeza, como baldes e pás de lixo vendidos com a marca “Focus”, para fabricante de utensílios de alta qualidade (caros) com alto “valor de design”. A mudança para produtos “Concept” A mudança para empresa de utensílios domésticos de margem mais alta foi pensada por Linda Fleet, diretora de marketing da CDS, que havia trabalhado anteriormente para uma grande rede varejista de tintas e papéis de parede. “A experiência na indústria de produtos decorativos ensinou-me a importância da moda e do desenvolvimento de produto, mesmo em produtos triviais como tintas. Cores especiais a preços mais altos e texturas novas permaneciam populares durante um ou dois anos, com o apoio de promoção adequada e revistas de decoração. Os fabricantes e varejistas que criavam e apoiavam tais produtos eram muito mais lucrativos do que aqueles que simplesmente ofereciam produtos padronizados. Instintivamente, senti que isso também se aplicava a utensílios domésticos. Decidimos desenvolver toda uma gama de produtos coordenados e abrir uma nova rede de distribuição para eles, direcionada a lojas finas, lojas de equipamentos de cozinha e varejistas de produtos de especialidade. Um ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli ano após o lançamento de nossa primeira nova linha de utensílios para casa com a marca ‘Concept’, tínhamos contratado com mais de 3.000 varejistas o fornecimento de displays de ponto de venda. A cobertura da imprensa gerou imenso interesse, que foi reforçado pelo aparecimento dos produtos em vários programas de televisão sobre culinária e estilos de vida. Rapidamente, desenvolvemos um mercado totalmente novo e, em dois anos, os produtos ‘Concept’ eram responsáveis por 75% de nosso faturamento e 90% de nosso lucro. A faixa de preço dos produtos Concept é muito mais alta que a faixa de preço dos produtos Focus. Para ficarmos sempre à frente, lançamos frequentemente novos produtos em intervalos regulares.” A mudança para parcerias com oficinas de design “Nos últimos quatro anos, temos desenhado, fabricado e distribuído produtos para algumas das mais prestigiadas oficinas de design. Esse tipo de negócio tende a crescer, especialmente na Europa, onde as oficinas de design apreciam nossa habilidade de oferecer um serviço completo. Podemos desenhar produtos juntamente com sua própria equipe de projeto e oferecer um nível de especialização em fabricação que não se consegue em nenhum outro lugar. E, o que é mais importante, podemos oferecer um serviço de distribuição adequado às suas necessidades. Do ponto de vista do cliente, os arranjos de distribuição parecem pertencer à própria oficina de design. De fato, eles são baseados exclusivamente em nossos recursos de call center, armazenagem e distribuição.” A parceria mais bem-sucedida foi com os designers italianos da Villessi. Geralmente, é a experiência acumulada em design da CDS que é atraente para os parceiros das “oficinas de design”. A CDS não apenas emprega designers respeitados profissionalmente, como também adquiriu uma reputação de ser capaz de transformar designs tecnicamente difíceis em produtos fabricáveis e vendáveis. As parcerias com oficinas de design envolvem, comumente, longo tempo de desenvolvimento de produto, mas produzem-se produtos únicos com altas margens de lucro, quase sempre levando a marca da oficina de design. ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli “Esse tipo de relacionamento favorece nossos pontos fortes. Nossos especialistas em design ganham a parceria para nós, mas em pouco tempo somos também valorizados por nossa competência em marketing, fabricação e distribuição” (Linda Fleet). Operações de manufatura Toda a operação de manufatura ocorria em um prédio localizado a 20 km da sede da empresa. Sua área de moldagem abrigava grandes máquinas injetoras, muitas com capacidade de manipulação robótica do material. Os produtos e componentes eram passados para a área de empacotamento, onde eram montados e inspecionados. Geralmente, os produtos mais novos e mais complexos tinham que ser levados da moldagem à montagem e trazidos de volta para mais moldagem. Todos os produtos seguiam o mesmo roteiro geral de processo, mas, com mais produtos necessitando de vários estágios progressivos de moldagem e montagem, houve um aumento no “retorno de fluxos de processo”, que aumentava a complexidade. Uma ideia era destinar uma célula separada para produtos mais novos e complexos até que eles fossem “incorporados” à linha de maior volume. Essa célula poderia também ser usada para testar novos moldes. Entretanto, essa ideia necessitaria de investimento em capacidade extra que não seria sempre utilizada completamente. Depois de fabricados, os produtos eram embalados e estocados no centro de distribuição adjacente. “Quando mudamos para a fabricação de produtos Concept de margens mais altas, nos desfizemos da maior parte de nossas máquinas injetoras antigas e menores. Ter máquinas maiores nos permitiu usar moldes maiores, com múltiplas cavidades. Isso acarretou aumento de produtividade ao nos permitir produzir diversos produtos ou componentes em cada ciclo da máquina. Isso também nos permitiu usar moldes de alta qualidade e complexos que, embora mais difíceis e trabalhosos de trocar, resultavam em produtos de alta qualidade. Por exemplo, com o mesmo trabalho com que antes faríamos três itens por minuto nas máquinas antigas, nas modernas podíamos fabricar 18 itens por minuto, utilizando os moldes com cavidades múltiplas. Isso representa um aumento de 600% em produtividade. Também alcançamos alta acurácia dimensional, excelente ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli acabamento de superfície e alta consistência de cor. Conseguimos tudo isso graças à anos de experiência acumulada na fabricação de produtos aeroespaciais. Além do mais, ao padronizar em apenas grandes máquinas, qualquer molde poderia adaptar-se em qualquer máquina. Essa era a situação ideal do ponto de vista de planejamento, já que, com frequência, éramos solicitados sem muita antecedência a fabricar pequenas levas de produtos Concept” (Grant Williams, gerente de produção da CDS). O aumento de volume e o desejo de reduzir custos resultaram na subcontratação de boa parte dos produtos Focus para outras (geralmente menores) empresas de moldagem. “Nunca faríamos isso com nenhum produto mais complexo ou produtos das oficinas parceiras de design, mas a subcontratação permitiu-nos reduzir custos de fabricação de produtos básicos e, ao mesmo tempo, liberar capacidade para os produtos com margens maiores. Entretanto, tivemos alguns ‘problemas de crescimento’. Coordenar o cronograma de produção é normalmente um problema, como também estabelecer consenso sobre padrões de qualidade. Em certo sentido, a falhafoi nossa. Não percebemos que a subcontratação era uma habilidade por si só e, embora tenhamos resolvido alguns dos problemas, ainda não temos um relacionamento satisfatório com todos os nossos subcontratados” (Grant Williams). Serviços de planejamento e distribuição O departamento de serviços de distribuição era visto como o coração que impulsionava o serviço ao cliente da empresa. Seu propósito era integrar os esforços de projeto, manufatura e vendas ao planejar o fluxo de produtos da produção, passando pelo centro de distribuição até o cliente. Sandra White, gerente de planejamento, reportava-se a Linda Fleet, e era responsável pela programação de toda a fabricação e distribuição e por manter os níveis de estoque para todos os itens do depósito. “Tentamos manter uma sequência preferida de produção para cada máquina e molde para minimizar tempos de preparação, começando por cores mais claras e avançando na sequência até as cores mais escuras. Podemos mudar cores a cada 15 minutos, mas, como nossos moldes são grandes e complexos, a mudança de moldes pode levar até três horas. Boa ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli programação é importante para manter alta a utilização da planta. Com maior variedade de produtos complexos, os tamanhos de lote reduziram- se e retornamos a uma utilização média. É comum não conseguirmos manter a programação. Mudanças de curto prazo são inevitáveis no mercado de moda. Certamente, melhores previsões ajudariam..., mas, muitas vezes, até nossas próprias promoções são organizadas em cima da hora e nos pegam com falta em estoque. Novos produtos, em particular, são difíceis de prever, especialmente se são itens da ‘moda’ ou sazonais. Além disso, tenho que programar tempo de produção de teste de moldagem de novos produtos; normalmente, permitimos 24 horas para o teste de cada novo molde recebido e isso deve ser feito em máquinas da produção. Mesmo quando temos pedidos urgentes, as necessidades dos designers têm sempre prioridade” (Sandra White). Os pedidos de clientes para os produtos da Concept e da parceria com as oficinas de design eram feitos por meio da central de vendas por telefone, localizada perto do depósito. Os pedidos individuais eram, então, despachados, utilizando-se a própria frota da empresa, de veículos pequenos e médios, para entregas no Reino Unido e empresas de transporte para o mercado continental europeu. Um cronograma de entrega padrão era utilizado e um “serviço expresso” oferecido para aqueles clientes que quisessem pagar um pequeno valor adicional. Entretanto, estudo recente mostrou que quase 40% das entregas expressas foram iniciadas pela empresa e não pelos clientes. Tipicamente, isso se dava para atender a pedidos de entrega contendo produtos não existentes em estoque no momento do pedido. O serviço de entrega expressa não era necessário para os produtos Focus porque quase todas as entregas dirigiam-se a cinco clientes principais. O tamanho de cada pedido geralmente era muito grande, com entregas diretas aos depósitos dos próprios clientes. Entretanto, embora a organização da entrega de produtos Focus fosse relativamente simples, as consequências de alguma falha eram muito grandes. Perder uma entrega significa aborrecer um grande cliente. ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli Desafios para a CDS Embora a empresa fosse financeiramente bem-sucedida e muito bem vista na indústria de utensílios para o lar, havia algumas questões e desafios a serem resolvidos. O primeiro era o papel do departamento de design e sua influência sobre o desenvolvimento de novos produtos. O desenvolvimento de novos produtos tornou-se particularmente importante para a CDS, especialmente desde que ela formou alianças com as oficinas de design. Isso levou ao aumento substancial tanto do tamanho quanto da influência do departamento de design, que se reportava diretamente a Linda Fleet. “Construir e manter especialização em design será a chave para nosso futuro. Grande parte de nosso crescimento virá de negócios atraídos pela criatividade e talento de nossos designers. Aqueles que conseguirem combinar a criatividade com o entendimento dos negócios de nossos parceiros e suas necessidades de design poderão atrair contratos substanciais. Os negócios existentes são importantes, com certeza, mas o crescimento virá diretamente da capacitação dessas pessoas” (Linda Fleet). No entanto, nem todos são tão positivos a respeito da ascensão do departamento de design. “É inegável que o relacionamento entre os designers e as outras partes da empresa tem estado sob pressão recentemente. Suponho que isso seja, em certa medida, inevitável. Apesar de tudo, eles de fato necessitam ter a liberdade de desenhar o que quiserem. Posso entender por que eles ficam frustrados com algumas limitações com que precisamos lidar nas funções de produção ou distribuição da empresa. Também deveriam esperar um nível de serviço profissional de nós. Algumas vezes, eles não parecem entender as consequências ou implicações de suas decisões sobre o design ou das promessas que fazem às oficinas de design. O mais grave é que não parecem realmente entender que poderíamos, de fato, ajudá-los a desempenhar melhor seu trabalho, se eles cooperassem um pouco mais. De fato, atualmente encontro com mais frequência alguns dos designers de nossas oficinas parceiras do que nossos próprios designers. Os designers da ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli Villessi estão sempre em nossa fábrica e desenvolvemos com eles um ótimo relacionamento” (Grant Williams). A segunda maior questão diz respeito à previsão de vendas e, novamente, apresenta duas visões. Grant Williams estava convencido de que as previsões deveriam ser aprimoradas. “Toda sexta-feira de manhã, montamos a programação da produção e distribuição para a semana seguinte. Ainda assim, geralmente antes de terça-feira pela manhã, já teremos feito mudanças significativas devido a pedidos inesperados que chegaram de nossos clientes como efeito das vendas de final de semana. Isso causa uma tremenda interrupção em ambas as operações de produção e distribuição. Se as vendas pudessem ser previstas de forma mais precisa, poderíamos atingir níveis mais altos de utilização, melhor serviço ao cliente e, acredito eu, economias de custo significativas.” Entretanto, Linda Fleet entendia a questão de outra forma. “Veja, entendo a frustração do Grant, mas, acima de tudo, esse é um negócio relacionado à moda. Por definição, é impossível fazer previsões com exatidão. Em termos de volume de vendas mês a mês, somos, na verdade, bem precisos, mas tentar fazer previsões rigorosas para cada semana e cada produto é quase impossível. Desculpe, mas essa é justamente a natureza de nosso negócio. De fato, embora Grant reclame de nossa falta de previsões precisas, ele sempre faz um ótimo trabalho em responder às demandas inesperadas de nossos clientes.” Jim Thompson, diretor geral, resume da seguinte forma sua visão da situação corrente. “Foram particularmente importantes nossas alianças com as oficinas de design italianas e alemãs. Na verdade, estamos nos posicionando como um parceiro que fornece serviço completo aos designers. Possuímos capacitação de design de nível internacional, aliada a serviços de manufatura, processamento e emissão de pedidos e distribuição. Essas habilidades nos permitem desenvolver parcerias genuínas, integrando-nos a todas as atividades da indústria.” ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli Linda Fleet também observou um papel cada vez maior para arranjos colaborativos. “Pode ser que estejamos vivendo uma mudança fundamental na maneira como fazemos os negócios na indústria. Sempre nos vimos, primordialmente, como umaempresa que satisfaz os desejos do cliente por meio do fornecimento de bom serviço aos varejistas. Os novos arranjos de parceria nos colocam mais no setor de relacionamento business-to- business. Não tenho nenhum problema com esse princípio, mas estou um pouco preocupada que isso possa nos levar a áreas de negócios além de nossa especialização central.” A questão final que tem sido debatida na empresa é de longo prazo e particularmente importante. “As duas grandes mudanças que fizemos nessa empresa ocorreram porque aproveitamos um ponto forte que tínhamos internamente. A mudança para os produtos Concept só foi possível porque trouxemos nossa especialização de precisão em alta tecnologia desenvolvida no setor aeroespacial para o setor de utensílios domésticos, uma situação de excelência em manufatura que nenhum de nossos concorrentes poderia igualar. Quando mudamos para as parcerias com oficinas de design, fomos bem-sucedidos porque possuíamos um corpo de designers que eram respeitados por essas mesmas oficinas internacionais. Qual será o próximo passo? Devemos expandir globalmente? Somos fortes na Europa, mas em nenhum outro lugar. Devemos estender nosso escopo de design para outros mercados, como o de móveis? Se fizermos isso, poderemos ser levados a áreas em que não temos especialização em manufatura. Somos ótimos em moldagem de plásticos por injeção, mas se tentarmos qualquer outro processo manufatureiro, poderemos não ser melhores e, provavelmente, seremos piores que outras empresas com mais experiência. Assim, qual será nosso futuro?” (Jim Thompson, CEO da CDS). ESTUDO DE CASO Sistemas Produtivos Prof. Helton O. Talyuli QUESTÕES 1. Por que a administração da produção é importante para a CDS? 2. Desenhe um perfil dos “4 V” para os produtos e serviços da empresa. 3. Quais seriam suas recomendações para a empresa se fosse chamado a aconselhar sobre como aprimorar suas operações? Referência: Administração da produção / Nigel Slack, Alistair Brandon-Jones, Robert Johnston; tradução Daniel Vieira. - 8 ed. - São Paulo: Atlas, 2018.
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