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Todos os sintomas subsequentes devem ser avaliados tendo em mente a possível ocorrência de metástases. Se houver necessidade de quimioterapia de acompanhamento, o cliente e a família são informados sobre o plano de manejo ou o protocolo da quimioterapia, o que esperar a cada consulta e quando notificar o médico. Além disso, podese efetuar uma avaliação periódica da função renal remanescente (depuração da creatinina, níveis de ureia e de creatinina sérica). Uma enfermeira de cuidados domiciliares pode monitorar o estado físico e o bemestar psicológico do cliente e coordenar outros serviços e recursos indicados. INSUFICIÊNCIA RENAL Ocorre insuficiência renal quando os rins são incapazes de remover os produtos de degradação metabólicos do organismo ou de desempenhar suas funções reguladoras. As substâncias normalmente eliminadas na urina se acumulam nos líquidos corporais, em consequência do comprometimento da excreção renal, afetando as funções endócrinas e metabólicas, bem como o equilíbrio hidreletrolítico e acidobásico. A insuficiência renal é uma doença sistêmica e constitui uma via final e comum de muitas e diferentes doenças renais e do sistema urinário. A cada ano, aumenta o número de mortes por insuficiência renal irreversível (USRDS, 2011). Lesão renal aguda A lesão renal aguda (LRA) se refere a uma rápida perda da função renal, devido à lesão dos rins. Dependendo da duração e da gravidade da LRA, pode ocorrer uma ampla gama de complicações metabólicas potencialmente fatais, incluindo acidose metabólica, bem como distúrbios hidreletrolíticos. O tratamento tem por objetivo substituir temporariamente a função renal para minimizar as complicações potencialmente fatais e reduzir as causas potenciais de lesão renal aumentada, com o objetivo de minimizar a perda a longo prazo da função renal. A LRA é um problema observado em clientes hospitalizados, bem como em clientes que estão em ambientes ambulatoriais. Um critério amplamente aceito para a LRA consiste em uma elevação de 50% ou mais da creatinina sérica acima de seu valor de referência (o nível normal de creatinina é inferior a 1 mg/dℓ) (Dirkes, 2011). O volume urinário pode estar normal, ou podem se observar alterações. As possíveis alterações consistem em oligúria (menos de 0,5 mℓ/kg/h), não oligúria (superior a 800 mℓ/dia) ou anúria (inferior a 50 mℓ/dia) (Yaklin, 2011). Fisiopatologia Embora a patogenia da LRA e da oligúria nem sempre seja conhecida, existe muitas vezes uma causa subjacente específica. Alguns dos fatores podem ser reversíveis se forem identificados e tratados imediatamente, antes que haja comprometimento da função renal. Isso é verdadeiro para as seguintes condições, que reduzem o fluxo sanguíneo para os rins e comprometem a função renal: (1) hipovolemia; (2) hipotensão; (3) redução do débito cardíaco e insuficiência cardíaca; (4) obstrução do rim ou da via urinária inferior por tumor, coágulo sanguíneo ou cálculo renal; e (5) obstrução bilateral das artérias ou veias renais. Se estas condições forem tratadas e corrigidas antes que ocorra lesão permanente dos rins, os níveis elevados de ureia e de creatinina, a oligúria e outros sinais podem ser revertidos. Embora os cálculos renais não sejam uma causa comum de LRA, alguns tipos podem aumentar o risco de LRA. Algumas doenças calculosas hereditárias (ver Capítulo 55), os cálculos primários de estruvita e a urolitíase relacionada com a infecção, associada a anomalias anatômicas e funcionais da via urinária e à lesão da medula espinhal, podem causar surtos recorrentes de obstrução, bem como lesão das células epiteliais tubulares e das células renais intersticiais causada por cristais. Classificações da lesão renal aguda O termo lesão renal aguda substituiu o termo insuficiência renal aguda, visto que ele descreve melhor esta síndrome em clientes, não apenas os que necessitam de terapia de substituição renal, mas também aqueles que apresentam alterações menores da função renal. O Acute Dialysis Quality Initiative Group desenvolveu esse sistema de classificação para possibilitar um diagnóstico mais acurado e descritivo de lesão renal (Dirkes, 2011). Os critérios de classificação para a LRA incluem avaliação de três graus de gravidade e duas classificações a nível de resultados. O sistema de cinco pontos é conhecido como sistema de classificação RIFLE (Dirkes, 2011). RIFLE se refere ao risco, lesão (injury), falência, perda (loss) e doença renal terminal (endstage kidney disease) (Yaklin, 2011). O risco, a lesão e a falência são considerados graus de gravidade da LRA, enquanto a perda e a DRT são consideradas resultados de perda, exigindo alguma forma de terapia de substituição renal, pelo menos temporariamente (Dirkes, 2011). A Tabela 54.2 relaciona os critérios de classificação para o sistema RIFLE da LRA (Murphy & Byrne, 2010). Esse sistema de classificação é usado por profissionais de saúde para identificar a presença de lesão renal e melhorar os resultados do cliente. Categorias de lesão renal aguda As principais categorias de LRA são: prérenal (hipoperfusão do rim), intrarrenal (lesão efetiva do tecido renal) e pósrenal (obstrução do fluxo de urina). A LRA prérenal, que ocorre em 60 a 70% dos casos, resulta do comprometimento do fluxo sanguíneo, levando à hipoperfusão do rim comumente causada por depleção de volume (queimaduras, hemorragia, perdas GI), hipotensão (sepse, choque) e estenose da artéria renal, levando finalmente à uma diminuição da TFG (Yaklin, 2011). A LRA intrarrenal resulta de lesão parenquimatosa efetiva dos glomérulos ou dos túbulos renais. A necrose tubular aguda (NTA), ou LRA, em que ocorre lesão dos túbulos renais, constitui o tipo mais comum de LRA intrínseca. As características da NTA consistem em obstrução intratubular, extravasamento tubular retrógrado (reabsorção anormal do filtrado e diminuição do fluxo urinário por meio do túbulo), vasoconstrição e alterações na permeabilidade glomerular. Esses processos resultam em diminuição da TFG, azotemia progressiva e desequilíbrio hidreletrolítico. A DRC, o diabetes melito, a insuficiência cardíaca, a hipertensão e a cirrose podem levar à NTA (Yaklin, 2011). A LRA pósrenal geralmente resulta de obstrução distal ao rim por determinadas condições, como cálculos renais, estenoses, coágulos sanguíneos, hipertrofia prostática benigna, neoplasias malignas e gravidez. A pressão se eleva nos túbulos renais e, por fim, a TFG diminui. As causas comuns de cada tipo de LRA estão resumidas, a seguir, no Boxe 54.4. TABELA 54.2 Classi䜀�cação RIFLE para a lesão renal aguda. Classe Critérios de TFG Critérios de débito urinário R (risco) Nível sérico elevado de creatinina 1,5 × valor de referência OU Diminuição da TFG ≥ 25% 0,5 mℓ/kg/h para 6 h I (lesão/injury) Nível sérico elevado de creatinina 2 × valor de referência OU Diminuição da TFG ≥ 50% 0,5 mℓ/kg/h para 12 h F (falência) Nível sérico elevado de creatinina 3 × valor de referência OU Diminuição da TFG ≥ 75% OU Nível sérico de creatinina ≥ 354 mmol/ℓ com elevação aguda de pelo menos 44 mmol/ℓ < 0,3 mℓ/kg/h para 24 h OU Anúria durante 12 h L (perda) (loss) Insu�ciência renal aguda persistente = perda completa da função renal > 4 semanas E (ESKD)/DRT DRT > 3 meses • • • • • • • • • TFG, taxa de filtração glomerular; DRT, doença renal terminal. Adaptada de Murphy F, Byrne G. (2010) The role of the nurse in the management of acute kidney injury. British Journal of Nursing, 19(3), 146152. Boxe 54.4 Causas de lesão renal aguda Insu䜀�ciência pré-renal Depleção de volume, em consequência de: Hemorragia Perdasrenais (agentes diuréticos, diurese osmótica) Perdas gastrintestinais (vômitos, diarreia, aspiração nasogástrica) Comprometimento da e䜀�ciência cardíaca, em consequência de: Infarto do miocárdio Insu�ciência cardíaca Arritmias Choque cardiogênico Vasodilatação, em consequência de: Sepse Ana�laxia Medicamentos anti-hipertensivos, ou outros medicamentos, que provocam vasodilatação Insu䜀�ciência intrarrenal Isquemia renal prolongada, em consequência de: Nefropatia por pigmento (associada à ruptura das células sanguíneas contendo pigmentos, que, por sua vez, provocam oclusão das estruturas renais) Mioglobinúria (traumatismo, lesões por esmagamento, queimaduras) Hemoglobinúria (reação transfusional, anemia hemolítica) Agentes nefrotóxicos, como: Antibióticos aminoglicosídios (gentamicina, tobramicina) Agentes de contraste radiopacos Metais pesados (chumbo, mercúrio) Solventes e substâncias químicas (etilenoglicol, tetracloreto de carbono, arsênico) Agentes anti-inǼamatórios não esteroides Inibidores da enzima conversora de angiotensina Processos infecciosos, como: Pielonefrite aguda Glomerulonefrite aguda Insu䜀�ciência pós-renal Obstrução do sistema urinário, incluindo: Cálculos Tumores Hiperplasia prostática benigna Estenoses Coágulos sanguíneos Fases da lesão renal aguda Existem quatro fases da LRA: início, oligúria, diurese e recuperação. O início começa com a agressão inicial e termina quando há desenvolvimento de oligúria O período da oligúria é acompanhado de aumento na concentração sérica de substâncias geralmente excretadas • • pelos rins (ureia, creatinina, ácido úrico, ácidos orgânicos e cátions intracelulares [potássio e magnésio]). A quantidade mínima de urina necessária para livrar o organismo dos produtos de degradação metabólicos normal é de 400 mℓ. Nessa fase, os sintomas urêmicos são os primeiros a aparecer, e observase o desenvolvimento de condições potencialmente fatais, como hiperpotassemia. Alguns clientes apresentam diminuição da função renal, com retenção crescente de nitrogênio, embora, na realidade, excretem quantidades normais de urina (1 a 2 ℓ/dia). Tratase da forma não oligúrica de insuficiência renal, que ocorre predominantemente após exposição do cliente a agentes nefrotóxicos, queimaduras, lesão traumática e uso de agentes anestésicos halogenados O período de diurese é marcado por um aumento gradual do débito urinário, indicando que a filtração glomerular começou a se recuperar. Os valores laboratoriais se estabilizam e, por fim, diminuem. Embora o volume do débito urinário possa alcançar níveis normais ou elevados, a função renal ainda pode estar acentuadamente anormal. Como os sintomas urêmicos ainda podem estar presentes, continua tendo necessidade de manejo clínico e de enfermagem. O cliente precisa ser observado rigorosamente quanto à ocorrência de desidratação durante esta fase; caso ocorra, é provável que haja aumento dos sintomas urêmicos O período de recuperação sinaliza a melhora da função renal e pode levar de 3 a 12 meses. Os valores laboratoriais retornam ao nível normal do cliente. Embora possa ocorrer uma redução permanente de 1 a 3% na TFG, ela não é clinicamente significativa (Ali & GrayVickrey, 2011). Manifestações clínicas Quase todos os sistemas do corpo estão afetados, com falência dos mecanismos reguladores renais normais. O cliente pode apresentar estado crítico e letárgico. A pele e as mucosas estão secas, devido à desidratação. Os sinais e os sintomas do sistema nervoso central consistem em sonolência, cefaleia, contrações musculares e convulsões. A Tabela 54.3 fornece um resumo das características clínicas comuns em todas as três categorias de LRA. Avaliação e achados diagnósticos A avaliação do cliente com LRA inclui a avaliação das alterações na urina, exames complementares que definem o contorno renal e uma variedade de valores laboratoriais. (Ver o Capítulo 53 para informações sobre as características normais da urina, achados diagnósticos e valores laboratoriais no sistema renal.) Na LRA, o débito urinário varia desde um volume escasso a normal, podese observar a presença de hematúria, e a urina apresenta uma baixa densidade específica (em comparação com um valor normal de 1,010 a 1,025). Uma das manifestações mais precoces de lesão tubular consiste na incapacidade de concentração da urina (Porth & Matfin, 2009). Os clientes com azotemia prérenal apresentam uma quantidade diminuída de sódio na urina (menos de 20 mEq/ℓ) e sedimento urinário normal. Os clientes com azotemia intrarrenal geralmente exibem níveis urinários de sódio superiores a 40 mEq/ℓ, com cilindros urinários e outros restos celulares. A ultrassonografia constitui um componente crítico da avaliação de clientes com insuficiência renal. A ultrassonografia ou a TC ou RM dos rins pode revelar evidências de alterações anatômicas. O nível de ureia aumenta continuamente, em uma taxa que depende do grau de catabolismo (decomposição da proteína), da perfusão renal e do aporte de proteína. Os níveis séricos de creatinina mostramse úteis para monitorar a função renal e a progressão da doença, e aumentam com a lesão glomerular. Com o declínio da TFG, da oligúria e da anúria, os clientes correm alto risco de hiperpotassemia. O catabolismo proteico resulta na liberação de potássio celular nos líquidos corporais, provocando hiperpotassemia grave (níveis séricos elevados de potássio). A hiperpotassemia pode levar a arritmias, como taquicardia ventricular e parada cardíaca. As fontes de potássio incluem o catabolismo tecidual normal, o consumo nutricional, a presença de sangue no trato GI ou transfusão de sangue e outras fontes (p. ex., infusões intravenosa, penicilina potássica e deslocamento extracelular em resposta à acidose metabólica). Ocorre acidose metabólica progressiva na insuficiência renal, visto que os clientes não conseguem eliminar a carga metabólica diária de substâncias de tipo ácido produzidas pelos processos metabólicos normais. Além disso, os mecanismos normais de tamponamento renal falham. Isso se reflete por uma diminuição no poder de combinação do dióxido de carbono (CO2) sérico e do pH sanguíneo. 1. ° ° ° Pode ocorrer aumento nas concentrações sanguíneas de fosfato; os níveis de cálcio podem estar baixos, devido à absorção diminuída de cálcio pelo intestino e como mecanismo compensatório para os níveis sanguíneos elevados de fosfato. A anemia constitui outro achado laboratorial comum na LRA, em consequência da produção diminuída de eritropoetina, lesões GI urêmicas, redução do tempo de sobrevida dos eritrócitos e perda de sangue do trato GI. TABELA 54.3 Comparação das características clínicas da lesão renal aguda. Categorias Características Pré-renal Intrarrenal Pós-renal Etiologia Hipoperfusão Lesão parenquimatosa Obstrução Valor da ureia sanguínea ↑ (fora da proporção normal de 20:1 em relação à creatinina) ↑ ↑ Creatinina ↑ ↑ ↑ Débito urinário ↓ Varia, frequentemente ↓ Varia, pode estar ↓, ou anúria súbita Sódio urinário ↓ a < 20 mEq/ℓ ↑ a > 40 mEq/ℓ Varia, frequentemente ↓ a ≤ 20 mEq/ℓ Sedimento urinário Normal, poucos cilindros hialinos Cilindros e restos anormais Geralmente normal Osmolalidade urinária ↑ a 500 mOsm cerca de 350 mOsm, semelhante ao soro Varia, ↑ ou igual ao soro Densidade especí�ca da urina ↑ Normal baixa Varia Prevenção A LRA apresenta uma alta taxa de mortalidade, que varia de 40 a 90%. Os fatores que influenciam a mortalidade incluem idade avançada, condições comórbidas e doenças renais e vasculares preexistentes e insuficiência respiratória (Dirkes, 2011). Por conseguinte, a prevenção da LRA é essencial (Boxe 54.5). Obtémse uma história cuidadosa para identificar qualquer exposição a agentes nefrotóxicos ou toxinasambientais. Os rins são suscetíveis aos efeitos adversos dos medicamentos, visto que são repetidamente expostos a substâncias presentes no sangue. Os clientes que fazem uso de medicamentos nefrotóxicos (p. ex., aminoglicosídios, gentamicina, tobramicina, colistimetato, polimixina B, anfotericina B, vancomicina, amicacina, ciclosporina) devem ser monitorados rigorosamente à procura de alterações na função renal. A função renal precisa ser monitorada antes de iniciar o uso desses medicamentos e durante a terapia (Karch, 2012). Qualquer agente capaz de reduzir o fluxo sanguíneo renal (p. ex., uso prolongado de analgésicos) pode causar insuficiência renal. O uso crônico de agentes analgésicos, particularmente antiinflamatórios não esteroides (AINEs), pode provocar nefrite intersticial (inflamação no tecido renal) e necrose papilar. Os clientes com insuficiência cardíaca ou cirrose com ascite correm risco particular de insuficiência renal induzida por AINE. A idade avançada, a doença renal preexistente e a administração simultânea de vários agentes nefrotóxicos aumentam o risco de lesão renal. Boxe 54.5 Prevenção da lesão renal aguda Fornecer uma hidratação adequada aos clientes com risco de desidratação, incluindo: Antes, no decorrer e depois da cirurgia Clientes, que se submetem a exames complementares intensivos, exigindo restrição hídrica e agentes de contraste (p. ex., enema baritado, pielogra�a intravenosa), particularmente clientes idosos que podem apresentar uma reserva renal marginal Clientes com distúrbios neoplásicos ou distúrbios do metabolismo (p. ex., gota) e aqueles que recebem quimioterapia. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Evitar e tratar imediatamente o choque com reposição de sangue e de líquidos. Monitorar as pressões arterial e venosa central e o débito urinário a cada hora de clientes em estado crítico, a �m de detectar o início da insu�ciência renal o mais cedo possível. Tratar imediatamente a hipotensão. Avaliar continuamente a função renal (débito urinário, valores laboratoriais), quando apropriado. Tomar precauções para garantir a administração do sangue apropriado ao cliente correto, a �m de evitar a ocorrência de reações transfusionais graves, que podem precipitar insu�ciência renal. Prevenir e tratar imediatamente as infecções. As infecções podem provocar lesão renal progressiva. Dispensar uma atenção especial para feridas, queimaduras e outros precursores da sepse. Para evitar que as infecções ascendam no sistema urinário, prestar cuidado meticuloso aos clientes com cateteres de demora. Remover os cateteres o mais cedo possível. Para evitar os efeitos tóxicos dos medicamentos, monitorar rigorosamente a dose, a duração do uso e os níveis sanguí neos de todos os medicamentos metabolizados ou excretados pelos rins. A nefropatia induzida por meios de contraste radiológicos (NIC) constitui uma importante causa de LRA adquirida no hospital. Nos EUA, os clientes são submetidos a mais de 1 milhão de exames com meios de contraste radiológicos anualmente; deste 1 milhão, aproximadamente 150.000 irão desenvolver NIC, dos quais pelo menos 1% necessitará de diálise e permanecer no hospital por um período prolongado de tempo (Murphy & Byrne, 2010). Tratase de uma condição potencialmente evitável. Os níveis basais de creatinina superiores a 2 mg/dℓ identificam os clientes com alto risco. A limitação da exposição do cliente a agentes de contraste e a medicamentos nefrotóxicos irá reduzir o risco de NIC (Murphy & Byrne, 2010; Rank, 2013). A administração de Nacetilcisteína e de bicarbonato de sódio antes e no decorrer dos procedimentos diminui o risco, porém a préhidratação com soro fisiológico é considerada o método mais efetivo para a prevenção de NIC (Murphy & Byrne, 2010; Rank, 2013). Considerações gerontológicas Cerca de 50% de todos os clientes que desenvolvem LRA durante a hospitalização têm mais de 60 anos de idade. A etiologia da LRA em adultos idosos inclui causas prérenais, como desidratação; causas intrarrenais, como agentes nefrotóxicos (p. ex., medicamentos, agentes de contraste); e complicações de cirurgia de grande porte (Dirkes, 2011). A supressão da sede, o repouso forçado no leito, a falta de acesso à água potável e a confusão contribuem para a incapacidade do cliente idoso de consumir líquidos adequados, o que pode levar à desidratação, comprometendo ainda mais a função renal já diminuída. A LRA em indivíduos idosos também é observada frequentemente no ambiente comunitário. As enfermeiras no ambiente ambulatorial precisam estar atentas para o risco. Todos os medicamentos precisam ser monitorados quanto aos efeitos colaterais potenciais que podem resultar em lesão dos rins por meio de redução da circulação ou nefrotoxicidade. Os procedimentos ambulatoriais que exigem jejum ou preparação intestinal podem causar desidratação e, portanto, necessitam de monitoramento cuidadoso. Manejo clínico Os rins têm uma notável capacidade de se recuperar de agressões. O tratamento da LRA tem por objetivo restaurar o equilíbrio químico normal e evitar complicações até que possam ocorrer reparo do tecido renal e restauração da função renal. O manejo consiste em eliminar a causa subjacente; manter o equilíbrio hídrico; evitar o excesso de líquidos; e, quando indicado, instituir uma terapia de substituição renal. A azotemia prérenal é tratada otimizando a perfusão renal, enquanto a insuficiência pósrenal é tratada pelo alívio da obstrução. O manejo da azotemia intrarrenal consiste em terapia de suporte, com remoção dos agentes etiológicos, manejo agressivo da insuficiência prérenal e pósrenal, e prevenção dos fatores de risco associados. O choque e a infecção, quando presentes, são tratados imediatamente (ver Capítulo 14). A manutenção do equilíbrio hídrico se baseia no peso corporal diário, em medições seriadas da pressão venosa central, nas concentrações séricas e urinárias, perdas hídricas, pressão arterial e estado clínico do cliente. O aporte parenteral e oral e o débito de urina, a drenagem gástrica, as fezes, a drenagem de feridas e a sudorese são calculados e utilizados como base para a reposição hídrica. O líquido insensível produzido por meio dos processos metabólicos normais e perdido por intermédio da pele e dos pulmões também é considerado no manejo dos líquidos. Os líquidos em excesso podem ser detectados pelos achados clínicos de dispneia, taquicardia e distensão das veias do pescoço. Os pulmões do cliente são auscultados à procura de estertores úmidos. Como o edema pulmonar pode ser causado pela administração excessiva de líquidos parenterais, é preciso ter atenção extrema para evitar a sobrecarga de líquidos. O desenvolvimento de edema generalizado é avaliado pelo exame das áreas présacral e pré tibial várias vezes ao dia. Podese prescrever manitol, furosemida ou ácido etacrínico para iniciar a diurese (Warise, 2010). O fluxo sanguíneo renal adequado em clientes com causas prérenais de LRA pode ser restaurado pela administração de soluções intravenosas ou transfusões de hemoderivados. Se a LRA for causada por hipovolemia secundária à hipoproteinemia, podese prescrever uma infusão de albumina. A diálise pode ser iniciada para evitar as complicações da LRA, como hiperpotassemia, acidose metabólica, pericardite e edema pulmonar. A diálise corrige muitas anormalidades bioquímicas; possibilita a liberalização do aporte de líquidos, proteínas e sódio; diminui as tendências hemorrágicas; e promove a cicatrização das feridas. Podese realizar a hemodiálise (procedimento que faz o sangue do cliente circular através de um rim artificial [dialisador], para remover os produtos de degradação e o excesso de líquidos), adiálise peritoneal (DP; procedimento que utiliza a membrana peritoneal do cliente [o revestimento da cavidade peritoneal] como membrana semipermeável para a troca de líquidos e solutos), ou uma variedade de terapias de substituição renal contínua (TSRC) (métodos empregados para substituir a função renal normal por meio da circulação do sangue do cliente através de um hemofiltro). Essas e outras modalidades de manejo para clientes com disfunção renal são discutidas mais adiante, neste capítulo. Terapia farmacológica Entre as alterações hidreletrolíticas que ocorrem em clientes com distúrbios renais, a hiperpotassemia é a que comporta maior risco de vida. Por esse motivo, o cliente é monitorado quanto ao desenvolvimento de hiperpotassemia por meio de determinação dos níveis séricos seriados de eletrólitos (nível de potássio superior a 5,0 mEq/ℓ [5 mmol/ℓ]), alterações do ECG (ondas T altas, em tenda ou em pico) e alterações no estado clínico (ver Capítulo 13). Outros sintomas de hiperpotassemia incluem irritabilidade, cólica abdominal, diarreia, parestesia e fraqueza muscular generalizada. A fraqueza muscular pode se manifestar na forma de fala arrastada, dificuldade na respiração, parestesia e paralisia. À medida que o nível de potássio aumenta, tanto a função cardíaca quanto a função de outros músculos declinam, constituindo uma verdadeira emergência clínica (Murphy & Byrne, 2010). Os níveis elevados de potássio podem ser reduzidos pela administração de resinas de troca catiônica (sulfonato de poliestireno sódico) por via oral ou por edema de retenção. O Kayexalate atua por meio da troca de íons sódio por íons potássio no intestino. Podese administrar sorbitol em associação com o Kayexalate para induzir um efeito do tipo diarreia (induz uma perda hídrica no trato GI). Se for administrado um enema de retenção com Kayexalate (o cólon constitui o principal local de troca de potássio), podese utilizar um cateter retal com balão para facilitar a retenção, se necessário. O cliente deve reter o Kayexalate durante pelo menos 30 min (de preferência várias horas) para promover a remoção do potássio (Karch, 2012). Em seguida, podese prescrever um enema de limpeza para remover o medicamento remanescente como precaução contra a impactação fecal. Se o cliente estiver hemodinamicamente instável (pressão arterial baixa, alterações do estado mental, arritmia), podese administrar glicose a 50% por via intravenosa, insulina e reposição de cálcio para deslocar o potássio de volta ao interior das células. O deslocamento do potássio para o espaço intracelular é temporário, de modo que é necessário tomar providências para a realização de diálise em uma base de emergência. Muitos medicamentos são eliminados por meio dos rins; por conseguinte, é preciso reduzir as dosagens quando o cliente apresenta LRA. Os exemplos de agentes comumente utilizados, que necessitam de ajuste, incluem medicamentos antibióticos (particularmente aminoglicosídios), digoxina, fenitoína, inibidores da ECA e agentes que contêm magnésio. Além disso, muitos medicamentos têm sido utilizados em clientes com LRA, na tentativa de melhorar os resultados do cliente. Com frequência, são administrados diuréticos para controlar o volume de líquidos; todavia, não foi constatado que esses medicamentos melhoram a recuperação da LRA (Warise, 2010). Em clientes com acidose grave, a gasometria arterial e os níveis séricos de bicarbonato (poder de combinação do CO2) precisa ser monitorada, visto que o cliente pode necessitar de terapia com bicarbonato de sódio ou de diálise. Se houver desenvolvimento de problemas respiratórios, é necessário instituir medidas ventilatórias apropriadas. O nível sérico elevado de fosfato pode ser controlado com agentes de ligação do fosfato (p. ex., carbonato de cálcio ou de lantânio), que ajudam a evitar uma elevação contínua dos níveis séricos de fosfato ao diminuir a sua absorção pelo sistema intestinal. Terapia nutricional A LRA provoca desequilíbrios nutricionais graves (visto que as náuseas e os vômitos contribuem para um aporte nutricional inadequado), comprometimento no uso da glicose e na síntese de proteínas e catabolismo tecidual elevado. O cliente é pesado diariamente e perde entre 0,2 a 0,5 kg/dia se o equilíbrio nitrogenado for negativo (i. e., o aporte calórico cai abaixo das necessidades calóricas). Se o cliente ganhar ou não perder peso, ou se desenvolver hipertensão, devese suspeitar de retenção de líquidos. O suporte nutricional se baseia na causa subjacente da LRA, na resposta catabólica, no tipo e na frequência de terapia de substituição renal, na presença de comorbidades e no estado nutricional. A reposição de proteínas dietéticas é individualizada para proporcionar o benefício máximo e minimizar os sintomas urêmicos. As necessidades calóricas são supridas com refeições ricas em carboidratos, visto que estes têm um efeito de preservação das proteínas (i. e., em uma dieta rica em carboidratos, a proteína não é utilizada para atender às necessidades energéticas, porém é “poupada” para o crescimento e a cicatrização tecidual). Os alimentos e os líquidos que contêm potássio ou fósforo (p. ex., bananas, sucos e frutas cítricas, café) são restritos. A fase oligúrica da LRA pode durar 10 a 14 dias e é seguida da fase diurética, quando o débito urinário começa a aumentar, sinalizando que o cliente se encontra na fase de recuperação (Ali & GrayVickrey, 2011). Os resultados dos exames bioquímicos do sangue são utilizados para determinar as quantidades necessárias de sódio, potássio e água para reposição, juntamente com avaliação quanto à ocorrência de hidratação excessiva ou deficiente. Depois da fase diurética, o cliente recebe uma dieta hiperproteica e hipercalórica e é incentivado a retomar gradualmente suas atividades. Manejo de enfermagem A enfermeira desempenha um importante papel no cuidado do cliente com LRA. A enfermeira monitora as complicações, particularmente no manejo de emergência dos desequilíbrios hidreletrolíticos, avalia a evolução e a resposta do cliente ao tratamento e proporciona apoio tanto físico quanto emocional. Além disso, a enfermeira mantém os familiares informados a respeito da condição do cliente, ajudaos a compreender os manejos e fornece apoio psicológico. Embora o desenvolvimento de LRA possa constituir o problema mais grave, a enfermeira continua fornecendo o cuidado de enfermagem indicado para o distúrbio primário (p. ex., queimaduras, choque, traumatismo, obstrução do sistema urinário). Monitoramento do equilíbrio hidreletrolítico Devido aos graves desequilíbrios hidreletrolíticos que podem ocorrer na LRA, a enfermeira monitora os níveis séricos de eletrólitos do cliente e os indicadores físicos destas complicações durante todas as fases do distúrbio. As soluções intravenosas precisam ser cuidadosamente selecionadas, com base no estado hidreletrolítico do cliente. A função cardíaca e o estado musculoesquelético do cliente são rigorosamente monitorados à procura de sinais de hiperpotassemia. Alerta de enfermagem | Qualidade e segurança A hiperpotassemia constitui o distúrbio potencialmente fatal mais imediato observado na LRA. Os líquidos parenterais, toda ingestão e todos os medicamentos são cuidadosamente rastreados para garantir que quaisquer fontes de potássio não sejam inadvertidamente administradas ou consumidas. A enfermeira monitora o estado hídrico, dispensando uma atenção cuidadosa para o aporte de líquidos (os medicamentos intravenosos devem ser administrados com o menor volume possível), para o débito urinário, apresença de edema aparente, a ocorrência de distensão das veias jugulares, alterações nas bulhas cardíacas e sons respiratórios e dificuldade crescente na respiração. A pesagem diária acurada e os registros do equilíbrio hídrico são essenciais. Os indicadores de deterioração do estado hidreletrolítico são relatados imediatamente ao médico, e o cliente é preparado para manejo de emergência. Os distúrbios hidreletrolíticos graves podem ser tratados com hemodiálise, DP e TSRC. Redução da taxa metabólica A enfermeira toma as providências necessárias para reduzir a taxa metabólica do cliente. O repouso no leito pode ser indicado para diminuir o esforço e a taxa metabólica durante o estágio mais avançado do distúrbio. A febre e a infecção, que aumentam a taxa metabólica e o catabolismo, são evitadas ou tratadas imediatamente. Promoção da função pulmonar Devese dispensar uma atenção para a função pulmonar, e o cliente é auxiliado a mudar de decúbito, tossir e realizar respirações profundas com frequência, a fim de evitar o desenvolvimento de atelectasia e infecção da via respiratória. A sonolência e a letargia podem impedir que o cliente se mova ou mude de decúbito sem incentivo e assistência. Prevenção da infecção A assepsia é essencial com linhas invasivas e cateteres, a fim de minimizar o risco de infecção e de aumento do metabolismo. Evitase o uso de cateter urinário de demora, sempre que possível, devido ao elevado risco de ITU associado a seu uso; todavia, pode ser necessário para fornecer dados contínuos para o monitoramento do equilíbrio hídrico. Prestação do cuidado cutâneo A pele pode ser seca ou suscetível à ruptura em consequência do edema; por conseguinte, é importante efetuar um cuidado meticuloso da pele. Além disso, a escoriação e o prurido da pele podem resultar do depósito de toxinas irritantes nos tecidos do cliente. Banhar o cliente com água fria, efetuar mudanças frequentes de decúbito e manter a pele limpa e bem umidificada e as unhas das mãos cortadas para evitar a escoriação constituem, com frequência, medidas de conforto que evitam a solução de continuidade da pele. Prestação de apoio psicossocial O cliente com LRA pode necessitar de manejo com hemodiálise, DP ou TSRC. A duração necessária destes tratamentos varia de acordo com a etiologia e a extensão da lesão dos rins. O cliente e a sua família necessitam de assistência, explicações e apoio durante esse período. Sua finalidade é explicada ao cliente e à sua família pelo médico. Entretanto, os altos níveis de ansiedade e medo podem exigir explicações repetidas e esclarecimentos pela enfermeira. A princípio, os familiares podem ter medo de tocar o cliente e de conversar com ele durante esses procedimentos, mas devem ser incentivados e ajudados a fazêlo. Em um ambiente de terapia intensiva, muitas das funções da enfermeira destinamse aos aspectos técnicos do cuidado do cliente; todavia, é essencial que as necessidades psicológicas e outras preocupações do cliente e da família sejam consideradas. É essencial efetuar uma avaliação continuada do cliente à procura de complicações da LRA e de causas precipitantes. Doença renal terminal ou insuficiência renal crônica Quando um cliente apresenta lesão renal sustentada o suficiente para exigir terapia de substituição renal em uma base permanente, isso significa que ele passou para o quinto estágio ou estágio final da DRC, também denominada DRT ou insuficiência renal crônica.
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