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à ocorrência de complicações, como TVP, sangramento ou pneumonia. Como é fácil para o cliente, a família e a equipe de saúde se concentrar no distúrbio imediato do cliente, excluindo outras questões de saúde, a enfermeira lembra ao cliente e à sua família sobre a importância de participar em atividades de promoção da saúde, incluindo triagens de saúde apropriadas. Transplante de rim O transplante de rim se tornou o manejo de escolha para a maioria dos clientes com DRT. Nos EUA e no mundo inteiro, existem muito mais clientes na lista de espera para transplante de rim do que doadores de órgãos. Mais de 93.000 norteamericanos estão na lista de espera para receber um transplante de rim (Organ Procurement and Transplantation Network [OPTN], 2012). Os clientes optam pelo transplante renal por várias razões, como desejo de evitar a diálise ou de melhorar a sua sensação de bemestar e vontade de levar uma vida mais normal. Além disso, o custo de manter um transplante bemsucedido corresponde a um terço do custo do tratamento com diálise (Wiederhold, Langer, & Landenberger, 2011). O transplante de rim é um procedimento eletivo, e não um procedimento de emergência para salvar a vida. Por conseguinte, os clientes devem estar em sua melhor condição possível antes do transplante (Weng, Dai, Huang et al., 2010). O transplante de rim envolve transplantar um rim de doador vivo ou doador morto para um receptor que não apresenta mais função renal (Boxe 54.13). Um doador vivo é uma pessoa que ainda está viva por ocasião da doação e que pode ou não ser parente do receptor. O transplante de doador morto ou cadavérico provém de uma pessoa que faleceu e doou seus órgãos. O transplante de doadores vivos compatíveis que têm parentesco com o cliente (aqueles com antígenos ABO e antígenos leucocitários humanos compatíveis) é ligeiramente mais bemsucedido do que o transplante de doadores cadavéricos (Ding, 2010). Um projeto atual no transplante de rim é a troca emparelhada de doadores. Nesse tipo de troca emparelhada, os receptores fazem, essencialmente, uma permuta de doadores voluntários (Serur & Charlton, 2011). Embora seja clinicamente elegível para a doação de um rim, um doador voluntário pode ser incompatível com o receptor pretendido, devido ao tipo sanguíneo ou aos antígenos. O doador então concorda doar o rim a um receptor compatível e desconhecido, com a intenção de que o receptor originalmente pretendido do doador faça parte da cadeia de doação e seja o receptor de um rim doado por meio de correspondências organizadas entre doadores e receptores. Boxe 54.13 Doação de rim Um número inadequado de rins disponíveis continua sendo a maior limitação para o tratamento bem-sucedido de clientes com doença renal terminal. Para aqueles que têm interesse em doar um rim, a National Kidney Foundation fornece informações por escrito, descrevendo o programa de doação de órgãos e um cartão especi�cando os órgãos a serem doados em caso de morte. O cartão de doação de órgãos é assinado pelo doador e por duas testemunhas, e deve ser sempre carregado pelo doador. A procura de um número adequado de rins para receptores potenciais continua sendo um problema signi�cativo, apesar da legislação nacional que exige que os parentes de clientes mortos ou clientes declarados com morte cerebral sejam questionados se eles considerariam a possibilidade de doação de órgãos. Nos EUA, em alguns estados, os motoristas podem indicar o desejo de doar órgãos por ocasião da obtenção ou renovação da carteira de motorista; entretanto, essa decisão deve ser discutida com a família, visto que a instituição de procura de órgãos irá discutir essa opção com a família. Antes de receber ou de doar um órgão, devese efetuar uma extensa avaliação médica. Nem todo mundo está apto para um transplante de rim. As contraindicações incluem neoplasia maligna recente, infecção ativa ou crônica, doença extrarrenal irreversível grave (p. ex., cardiopatia inoperável, doença pulmonar crônica, doença vascular periférica grave), infecção ativa (p. ex., HIV, hepatite B e C), obesidade mórbida (índice de massa corporal superior a 35), abuso de substância atual, incapacidade de fornecer um consentimento informado e histórico de não adesão a esquemas de tratamento (Counts, 2008; Weng et al., 2010). Os doadores podem ser rejeitados pelos mesmos motivos ou por qualquer condição que seja considerada como um impacto sobre o rim remanescente. Os exemplos incluem hipertensão e diabetes melito, visto que ambos constituem causas conhecidas de doença renal. Quando se avaliam doadores, é imperativo que seja dada uma consideração particular para a saúde geral a longo prazo do doador. Todas as precauções precisam ser tomadas para assegurar que o rim remanescente do doador permaneça saudável. Se essas condições forem preenchidas, o doador deverá permanecer saudável depois da doação e ter uma vida normal. Como apenas um rim pode facilmente atender às necessidades do organismo, não haverá necessidade de efetuar ajustes a longo prazo. Os rins nativos do receptor não são, em geral, removidos. O rim transplantado é colocado na fossa ilíaca do cliente, anteriormente à crista ilíaca, visto que essa localização possibilita um acesso mais fácil ao suprimento sanguíneo necessário para perfundir o rim. O ureter do rim recentemente transplantado é transplantado na bexiga ou anastomosado ao ureter do receptor (Figura 54.10). Uma vez restabelecido o suprimento sanguíneo para o rim transplantado no centro cirúrgico, a urina deve começar a fluir. A produção de urina neste estágio constitui um importante indicador do sucesso geral do procedimento e do resultado final a longo prazo. Manejo préoperatório As metas do manejo préoperatório consistem em fazer retornar o estado metabólico do cliente a um nível mais próximo possível do normal por meio de dieta, possivelmente pela diálise e manejo clínico, certificandose de que o cliente esteja sem infecção, e preparandoo para a cirurgia e a evolução pósoperatória. Manejo clínico Efetuase um exame físico completo do doador e do receptor para detectar e tratar quaisquer condições passíveis de causar complicações após a doação e o procedimento de transplante. A tipagem tecidual, a tipagem do sangue e a triagem de anticorpos são realizadas para estabelecer a compatibilidade dos tecidos e das células do doador e do receptor. Outros exames complementares devem ser realizados para identificar condições que necessitam de tratamento antes do transplante tanto para o doador quanto para o receptor. O via urinária inferior é examinada para avaliar a função do colo da bexiga e detectar qualquer refluxo ureteral. Figura 54.10 Transplante de rim. 1. O rim transplantado é colocado na fossa ilíaca. 2. A artéria renal do rim doado é suturada à artéria ilíaca, enquanto a veia renal é suturada à veia ilíaca. 3. O ureter do rim doado é suturado à bexiga ou ao ureter do cliente. Tanto o cliente quanto o doador não devem apresentar infecção por ocasião do transplante renal. Depois da cirurgia, são prescritos medicamentos para evitar a rejeição do transplante no receptor. Estes medicamentos suprimem a resposta imune, deixando o cliente imunossuprimido e com risco de infecção. Por conseguinte, tanto o doador quanto o receptor são avaliados e tratados para quaisquer infecções, incluindo doença gengival e cáries dentárias. Uma avaliação psicossocial é conduzida para verificar a capacidade do receptor de se ajustar ao transplante, os estilos de enfrentamento, o histórico social, o apoio social disponível e os recursos financeiros. É importante obter um histórico de doença psiquiátrica, visto que os transtornos psiquiátricos frequentementesão agravados pelos corticosteroides necessários para a imunossupressão depois do transplante (Weng et al., 2010). Efetuase também uma avaliação psicossocial para identificar o motivo do doador na doação do órgão. O doador não deve ser coagido a doar esse órgão; deve ser um ato altruísta (Boxe 54.14). Quando existe uma rotina de diálise estabelecida, a hemodiálise é frequentemente realizada no dia anterior ao procedimento de transplante agendado, a fim de otimizar o estado físico do cliente que irá receber o transplante. Manejo de enfermagem Os aspectos de enfermagem do cuidado préoperatório para o cliente que se submete a transplante renal e doação se assemelham àqueles de clientes submetidos a outros tipos de cirurgia renal ou abdominal eletiva. As instruções pré operatórias podem ser realizadas em uma variedade de ambientes, incluindo a área de préadmissão ambulatorial, o hospital ou a clínica de transplante durante a fase de pesquisa preliminar. As instruções ao cliente direcionadas para o doador e o receptor de transplante de rim abordam a higiene pulmonar pósoperatória, as opções de controle da dor, as restrições nutricionais, as linhas intravenosas e arteriais, os tubos (cateter de demora e, possivelmente, tubo nasogástrico) e deambulação precoce. Os clientes estiveram, em sua maioria, sob diálise durante meses ou anos antes do transplante. Muitos esperaram meses a anos por um transplante de rim e estão ansiosos sobre a cirurgia, possibilidade de rejeição e necessidade de retorno à diálise. Ajudar o cliente a lidar com essas preocupações faz parte da função da enfermeira no manejo préoperatório, assim como as instruções sobre o que esperar depois da cirurgia. O cliente que recebe um rim de um doador vivo aparentado frequentemente fica preocupado com o doador e como este irá tolerar o procedimento cirúrgico. Se o cliente estiver recebendo um transplante de doador cadavérico, o receptor pode expressar tristeza e pesar em relação à perda de vida do doador. A enfermeira precisa manter uma comunicação aberta com o receptor do órgão e possibilitar a expressão de suas preocupações. A enfermeira que trabalha em um ambiente de terapia intensiva pode fornecer cuidado ao doador de órgão que está com morte cerebral antes da remoção do órgão. A meta global consiste em preservar a função dos órgãos pela manutenção da estabilidade hemodinâmica, diminuição do risco de infecção e monitoramento dos valores laboratoriais enquanto se fornece cuidado digno ao doador e aos familiares (Flodén e Forsberg, 2009). O cuidado continuado para o doador pode ser complexo e durar várias horas. O cuidado é frequentemente fornecido em colaboração com o coordenador de obtenção de órgãos e coordenador de transplante. Manejo pósoperatório O objetivo do cuidado pósoperatório consiste em manter a homeostasia até que o rim transplantado esteja funcionando adequadamente. O cliente cujo rim funciona imediatamente apresenta um prognóstico mais favorável do que o cliente cujo rim não funciona. Com frequência, o doador do órgão estará na mesma unidade do que o receptor de transplante. O doador necessita do mesmo nível de cuidados proporcionados ao receptor, incluindo acompanhamento após o procedimento e durante toda a vida. Estudos realizados mostraram que o doador de órgão pode sentir mais dor do que o receptor, exigindo possivelmente mais analgesia para o controle da dor (Lentine & Patel, 2012). O estado hidreletrolítico e o estado hemodinâmico também devem ser rigorosamente monitorados no doador de órgão (Tong, Chapman, Wong et al., 2012). Boxe 54.14 DILEMAS ÉTICOS A quem conceder a dádiva da vida? De quem é a vida? Situação Você é uma enfermeira que trabalha em uma clínica de transplante de órgãos sólidos associada a um centro universitário de ciência da saúde. Um homem de 42 • • • • • • • anos de idade com histórico de doença renal policística (DRP) e seus três irmãos biológicos, nenhum deles com DRP, foram submetidos a exames para identi�car se um deles pode ser compatível para transplante de doador vivo. A irmã mais nova, que é a única �lha da família, é uma doadora perfeita. O irmão com DRP está exultante. Entretanto, a irmã, na ausência de outros familiares, chega a lhe confessar: “A senhora sabe, meus pais e meus irmãos colocam toda a responsabilidade sobre mim. E eu realmente não tenho certeza se eu quero fazer isso. O que aconteceria se 1 dia eu fosse precisar desse rim?” Discussão Os transplantes de doadores vivos oferecem a melhor possibilidade de enxerto bem-sucedido de órgãos. Os irmãos biológicos são os melhores candidatos para encontrar órgãos compatíveis; existe uma maior probabilidade de que os irmãos compartilhem todos os antígenos leucocitários humanos. Todavia, enquanto algumas famílias se unem durante momentos de doença e de estresse, outras podem �car fragmentadas. Antigos ressentimentos, hostilidades e padrões familiares disfuncionais podem emergir durante crises importantes da vida, como esta. As enfermeiras de transplante de órgãos são testemunhas frequentes desses tipos de processos familiares disfuncionais. Análise Descreva os princípios éticos que estão em conǼito neste caso (ver Boxe 3.3). Que princípio deve ter primazia enquanto prossegue o seu trabalho com essa família? Existem dois clientes neste caso – um deles é o irmão com DRP que espera receber um rim de um dos irmãos, enquanto o outro é a irmã com rins saudáveis que reluta em doar um dos rins a seu irmão. O direito de autonomia de um cliente deve ter primazia sobre o direito de autonomia do outro? Como você responderia à irmã quando con�ou em você? Para quem se destina o dever de defesa nessa situação – o irmão, a irmã ou a família como um todo? Que recursos você mobilizaria para ajudá-los a reconciliar suas divergências? Recursos Consulte no Capítulo 3, Boxe 3.6, para recursos sobre ética. Manejo clínico Depois de um transplante de rim, podem ocorrer rejeição e falência em 24 h (hiperaguda), entre 3 a 14 dias (aguda) ou depois de muitos anos. A rejeição hiperaguda é causada por uma reação imediata mediada por anticorpos, que leva à trombose generalizada dos capilares glomerulares e necrose. A rejeição aguda tipicamente ocorre em poucos dias a semanas após a cirurgia para transplante, e o cliente apresenta hipersensibilidade no local do transplante, diminuição dos níveis séricos de creatinina, febre, malestar e oligúria (Ding, 2010; Wiederhold et al., 2011). A rejeição aguda exige reconhecimento e tratamento precoce com terapia imunossupressora, enquanto uma reação hiperaguda exige a remoção imediata do órgão transplantado (Tong et al., 2012). A sobrevida a longo prazo de um rim transplantado depende do grau de compatibilidade do receptor e do nível de controle da resposta imune do cliente. O sistema imune do cliente interpreta o rim transplantado como “estranho”; por conseguinte, ele atua continuamente no sentido de rejeitálo. Para superar ou minimizar os mecanismos de defesa do organismo, são administrados agentes imunossupressores. De modo ideal, os medicamentos modificam o sistema imune o suficiente para evitar a rejeição, porém não o suficiente para permitir a ocorrência de infecções ou de neoplasias malignas (Tabela 54.4). TABELA 54.4 Agentes imunossupressores no pós-transplante. Agente Ação Implicações para a enfermagem Azatioprina Antagoniza o metabolismo das purinas e parece inibir a síntese de DNA, RNA e de proteínas normais nas células em rápido crescimento; suprime os efeitos das células T Administrar o medicamento por via oral em doses fracionadas com alimento. Monitorar as contagens de leucócitos e plaquetas e a ocorrência de sangramento. Belatacepte Inibição da proliferação de linfócitos T e produção de citocinas Contraindicado para clientes comsoronegatividade para EBV ou sorologia para EBV desconhecida, transplante de fígado, aleitamento. Monitorar à procura de sintomas de infecção, hipertensão, leucoencefalopatia multifocal progressiva. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Administrar por via intravenosa. Ciclosporina Inibição seletiva e reversível da primeira fase de ativação das células T com linfócitos T Não diluir a solução oral com suco de toranja (usar suco de laranja, leite comum ou com chocolate, ou suco de maçã, e administrar imediatamente após misturar). Observar o aparecimento de reações adversas durante 30 min após o início da infusão intravenosa. Estar atento para o fato de que a nefrotoxicidade é relatada em até um terço dos receptores de transplante. Administrar o medicamento com alimento para reduzir o desconforto gastrintestinal. Administrar o medicamento na mesma hora, diariamente. Everolimo Inibidor da proteína tirosinoquinase Monitorar a ocorrência de reação de hipersensibilidade. Observar o aparecimento de alterações no estado pulmonar e tosse. Evitar a administração de vacinas vivas. Administrar no mesmo horário diariamente com alimentos; não esmagar nem permitir que o cliente mastigue o comprimido. Micofenolato de mofetila Ácido micofenólico Inibição das respostas dos linfócitos T e B, inibindo, assim, a formação de anticorpos e a produção de células T citotóxicas Administrar com estômago vazio. Não esmagar nem abrir as cápsulas. Evitar o contato com o pó das cápsulas; lavar minuciosamente com água e sabão se houver qualquer contato. Obter um hemograma completo como base de referência, com contagem diferencial, antes de iniciar a terapia. Instruir o cliente a evitar o uso de antiácidos de venda livre. Prednisona Análogo sintético de ação imediata da hidrocortisona, que possui propriedades anti- inǼamatórias e imunossupressoras Administrar com as refeições ou um lanche. Esmagar o comprimido e administrar com líquidos se o cliente for incapaz de deglutir um comprimido inteiro. Ressaltar que o medicamento não deve ser interrompido de modo abrupto; a dose deve ser reduzida gradualmente. Monitorar o peso, a pressão arterial, os níveis de glicemia e o padrão de sono. Monitorar quanto à ocorrência de hipocalcemia. Instruir o cliente a evitar ou minimizar o consumo de bebida alcoólica. Sirolimo Inibe a resposta dos linfócitos T auxiliares e linfócitos B Administrar 4 h após a ciclosporina oral. Instruir o cliente a deglutir o comprimido inteiro e a evitar mastigar ou esmagar os comprimidos. Refrigerar o medicamento e protegê-lo da luz. Instruir o cliente a evitar o consumo de suco de toranja em 2 h após o medicamento e misturar o medicamento apenas com suco de laranja ou água. Instruir o cliente a limitar a exposição à luz solar. Tacrolimo Inibe os linfócitos T auxiliares Monitorar quanto à ocorrência de • • neurotoxicidade (tremores e alterações do estado mental). Avaliar a ocorrência de hipertensão. Monitorar os níveis de tacrolimo. DNA, ácido desoxirribonucleico; RNA, ácido ribonucleico; EBV, vírus EpsteinBarr. Adaptada de Karch A. (2012) 2012 Lippincott’s nursing drug guide. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. Para minimizar a reação do organismo ao órgão transplantado, são utilizadas combinações de corticosteroides e medicamentos desenvolvidos especificamente para afetar a ação dos linfócitos. O tratamento com combinações de novos agentes melhorou notavelmente as taxas de sobrevida, e, hoje em dia, 90 a 95% dos rins transplantados ainda funcionam depois de 1 ano (Ding, 2010). As doses de agentes imunossupressores são frequentemente ajustadas, dependendo da resposta imunológica do cliente ao transplante. Todavia, será necessário que o cliente tome alguma forma de terapia imunossupressora durante todo o tempo em que tiver o rim transplantado. Os riscos associados ao uso desses medicamentos incluem nefrotoxicidade, hipertensão, hiperlipidemia, hirsutismo, tremores, discrasias sanguíneas, cataratas, hiperplasia gengival e vários tipos de câncer (Ding, 2010). Manejo de enfermagem Avaliação do cliente quanto à rejeição do transplante Depois do transplante renal, a enfermeira examina o cliente à procura de sinais e sintomas de rejeição do transplante: oligúria, edema, febre, elevação da pressão arterial, ganho de peso e edema ou hipersensibilidade sobre o enxerto ou rim transplantado. Os clientes que recebem ciclosporina podem não exibir os sinais e sintomas habituais de rejeição aguda. Nesses clientes, o único sinal pode consistir em elevação assintomática do nível sérico de creatinina (uma elevação de mais de 20% é considerada como rejeição aguda) (Ding, 2010; Danovitch, 2010). Prevenção de infecção Os resultados dos exames de bioquímica do sangue e as contagens de leucócitos e de plaquetas são rigorosamente monitorados, visto que a imunossupressão deprime a formação de leucócitos e de plaquetas. O cliente é rigorosamente monitorado quanto à infecção, em virtude da suscetibilidade, à deficiência de cicatrização e infecção relacionadas com a terapia imunossupressora e as complicações da insuficiência renal. As manifestações clínicas da infecção incluem calafrios, febre, batimento cardíaco rápido (taquicardia) e respirações rápidas (taquipneia), bem como aumento ou diminuição dos leucócitos (leucocitose ou leucopenia). A infecção pode ser introduzida por meio de muitas fontes. São realizadas culturas de urina com frequência, devido à elevada incidência de bacteriúria durante os estágios inicial e tardio do transplante. Qualquer tipo de drenagem da ferida deve ser considerado como fonte potencial de infecção, visto que a drenagem constitui um excelente meio de cultura para as bactérias. As extremidades dos cateteres e drenos podem ser cultivadas, quando removidas, cortando as pontas do cateter ou do dreno (utilizando uma técnica asséptica) e colocandoas em um recipiente estéril para ser enviado ao laboratório para cultura (Boxe 54.15). A enfermeira se certifica de que o cliente esteja protegido contra a exposição à infecção pela equipe do hospital, visitas e outros clientes com infecções ativas. É imperativo dispensar uma atenção para a higiene das mãos por todos aqueles que entram em contato com o cliente. Monitoramento da função urinária O rim de um doador vivo aparentado com o cliente, em geral, começa a funcionar imediatamente depois da cirurgia e pode produzir grandes quantidades de urina diluída. O rim de um doador cadavérico pode sofrer NTA e, portanto, pode não funcionar por 2 ou 3 semanas, período durante o qual podem ocorrer anúria, oligúria ou piúria. Durante esse estágio, o cliente pode sofrer alterações significativas no estado hidreletrolítico. Por conseguinte, indicase a realização de cuidadoso monitoramento. O débito a partir do cateter urinário (acoplado a um sistema de drenagem fechado) é medido a cada hora. São administradas soluções intravenosas com base no volume urinário e nos níveis séricos de eletrólitos, e de acordo com a prescrição do médico. A hemodiálise pode ser necessária no período pós operatório para manter a homeostasia até que o rim transplantado esteja funcionando bem. Pode ser também necessária se houver sobrecarga hídrica e hiperpotassemia. Após transplante renal bemsucedido, o dispositivo de acesso vascular pode coagular, possivelmente devido a uma melhor coagulação com o retorno da função renal. O acesso vascular para a hemodiálise é monitorado para assegurar a sua permeabilidade e avaliar qualquer evidência de infecção. Boxe 54.15 Rejeição do transplante renal e infecção A rejeição e a falha do enxerto renal podem ocorrer em 24 h (hiperaguda), em 3 a 14 dias (mais comumente aguda) ou depois de muitos anos (mais comumente crônica). Não é raro que a rejeição ocorra durante o primeiro ano após o transplante. Detecção da rejeiçãoA ultrassonogra�a pode ser utilizada para detectar um aumento do rim; a biopsia renal percutânea (mais con�ável) e as técnicas radiográ�cas são utilizadas para avaliar a rejeição do transplante. Quando o organismo rejeita o rim transplantado, o cliente precisa voltar para a diálise. O rim rejeitado pode ou não ser removido, dependendo do momento em que ocorre a rejeição (aguda vs. crônica) e o risco de infecção, se o rim for mantido em posição. Infecção potencial Cerca de 75% dos receptores de transplante renal apresentam pelo menos um episódio de infecção no primeiro ano após o transplante, devido à terapia imunossupressora. Os agentes imunossupressores usados no passado tornavam o receptor de transplante mais vulnerável às infecções oportunistas (candidíase, citomegalovírus, pneumonia por Pneumocystis) e à infecção por outros vírus, fungos e protozoários relativamente não patogênicos, podendo constituir um importante risco. A terapia imunossupressora, como a ciclosporina, reduziu a incidência de infecções oportunistas, visto que ela exerce seus efeitos de modo seletivo, preservando as células T, que protegem o cliente contra infecções potencialmente fatais. Além disso, a terapia imunossupressora combinada e o melhor cuidado clínico dispensado produziram taxas de sobrevida de 1 ano do cliente, as quais se aproximam de 100%, e uma sobrevida do enxerto, que ultrapassa 90%. Todavia, as infecções continuam sendo uma importante causa de morte em todos os momentos para os receptores de transplante de rim (Ding, 2010). Abordagem das preocupações psicológicas A rejeição de um rim transplantado é objeto de grande preocupação para o cliente, a família e a equipe de saúde durante muitos meses. O medo da rejeição do rim e as complicações da terapia imunossupressora (síndrome de Cushing, diabetes melito, fragilidade capilar, osteoporose, glaucoma, cataratas, acne, nefrotoxicidade) exercem um enorme estresse psicológico sobre o cliente. A ansiedade e a incerteza sobre o futuro e o difícil ajuste após o transplante constituem, com frequência, fontes de estresse para o cliente e a sua família. Uma importante função de enfermagem consiste em avaliar o estresse e a habilidade de enfrentamento do cliente. A enfermeira utiliza cada visita ao cliente para determinar se ele e a sua família apresentam habilidades de enfrentamento efetivas e para verificar se o cliente está aderindo ao esquema medicamentoso prescrito. Quando indicado ou solicitado, a enfermeira encaminha o cliente para aconselhamento. Monitoramento e manejo de complicações potenciais O cliente que se submete a transplante renal corre risco das complicações pósoperatórias que estão associadas a qualquer procedimento cirúrgico. Além disso, a condição física do cliente pode estar comprometida, devido aos efeitos da insuficiência renal de longa duração e seu tratamento. Por conseguinte, a avaliação cuidadosa quanto às complicações relacionadas com a insuficiência renal e aquelas associadas à uma cirurgia de grande porte constitui um aspecto importante do cuidado de enfermagem. Os exercícios de respiração, a deambulação precoce e o cuidado da incisão cirúrgica são aspectos importantes do cuidado pósoperatório. Podem ocorrer ulceração GI e sangramento induzido por corticosteroides. Pode ocorrer colonização fúngica do trato GI (particularmente da boca) e da bexiga em consequência da terapia com corticosteroides e antibióticos. O monitoramento rigoroso do cliente e a notificação do médico sobre a ocorrência dessas complicações constituem intervenções de enfermagem importantes. Além disso, o cliente é monitorado rigorosamente quanto a sinais e sintomas de insuficiência suprarrenal se o tratamento tiver incluído o uso de corticosteroides. Promoção dos cuidados domiciliar e comunitário • • • Orientação do cliente sobre autocuidados. A enfermeira trabalha estreitamente com o cliente e a sua família para assegurar que eles compreendam a necessidade de terapia imunossupressora contínua, conforme prescrição. Além disso, o cliente e a sua família são instruídos a avaliar e relatar o aparecimento de sinais e sintomas de rejeição de transplante, infecção ou efeitos adversos significativos do esquema imunossupressor. Incluem diminuição do débito urinário, ganho de peso, malestar, febre, angústia respiratória, hipersensibilidade sobre o rim transplantado, ansiedade, depressão, alterações nos hábitos alimentares e de consumo de líquidos, ou outros hábitos e alterações da pressão arterial. O cliente é instruído a informar os outros profissionais de saúde (p. ex., dentista) sobre o transplante renal e o uso de agentes imunossupressores. Cuidados contínuos. O cliente precisa saber que o cuidado de acompanhamento depois do transplante é uma necessidade permanente. São dadas orientações individuais verbais e por escrito sobre a dieta, os medicamentos, líquidos, pesagem diária, medições diárias da urina, controle do equilíbrio hídrico, prevenção da infecção e rejeição crônica, retomada das atividades e prevenção de esportes de contato nos quais o rim transplantado pode ser lesionado. Devido ao risco de outras complicações potenciais, o cliente é acompanhado rigorosamente por uma equipe de saúde que inclui nefrologista, cirurgião de transplante, coordenador ou enfermeira de transplante, assistente social e nutricionista. Os medicamentos são frequentemente obtidos em uma farmácia ou na farmácia do hospital onde foi realizada a cirurgia para transplante com a finalidade de controle de qualidade. O acompanhamento com médicos da equipe do transplante será inicialmente realizado 1 vez/semana por ocasião da alta hospitalar e a intervalos maiores com o passar do tempo. Exames laboratoriais também devem ser obtidos e acompanhados de modo continuado para monitorar a função renal. A doença cardiovascular constitui a principal causa de morbidade e de mortalidade depois do transplante, devido, em parte, à idade crescente dos clientes com transplantes. Outro problema é a possibilidade de neoplasia maligna; os clientes que recebem terapia imunossupressora a longo prazo correm maior risco de cânceres do que a população em geral. A enfermeira lembra ao cliente a importância da promoção da saúde e da triagem da saúde, e fornece informações sobre grupos locais de apoio de transplante no hospital de transplante ou por meio da organização de obtenção de doadores. A American Association of Kidney Patients e a NKF (listada na seção Recursos deste capítulo) são organizações sem fins lucrativos, que atendem às necessidades de indivíduos com doença renal. Esses grupos podem fornecer muitas sugestões valiosas para que clientes e seus familiares aprendam a lidar com a diálise e o transplante. TRAUMATISMO RENAL Os rins são protegidos pela caixa torácica e pela musculatura das costas, posteriormente, e por um coxim da parede do abdome e vísceras, anteriormente. Os rins são altamente móveis e estão fixados apenas no pedículo renal (haste de vasos sanguíneos renais e ureter). Em caso de lesão traumática, os rins podem ser arremessados contra as costelas inferiores, resultando em contusão e ruptura. As fraturas de costelas ou as fraturas do processo transverso das vértebras lombares superiores podem estar associadas a contusão ou laceração renal. O não uso de cintos de segurança contribui para a incidência de traumatismo renal em colisões de veículos automotores. Até 80% dos clientes com traumatismo renal apresentam lesões associadas de outros órgãos internos (MillerGraziano, 2011). As lesões podem ser fechadas (colisões de automóveis e motocicletas, quedas, lesões desportivas, agressões) ou penetrantes (feridas porarma de fogo, arma branca). O traumatismo renal fechado responde por 80 a 90% de todas as lesões renais; o traumatismo renal penetrante é responsável pelos 10 a 20% restantes (Counts, 2008; USRDS, 2011). O traumatismo renal fechado é classificado em um de quatro grupos, da seguinte maneira: Contusão: equimoses ou hemorragias sob a cápsula renal; cápsula e sistema coletor intactos. Laceração menor: ruptura superficial do córtex; a medula renal e o sistema coletor não estão acometidos Laceração significativa: ruptura do parênquima que se estende no córtex e na medula, acometendo, possivelmente, o sistema coletor
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