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Diagramas de VENN e problemas com categorias Vagner Luis Zanin Introdução Nesta aula estudaremos um recurso muito interessante para a resolução de problemas envolvendo conjuntos numéricos e que foi desenvolvido pelo matemático inglês John Venn (1834- 1923). Publicado em sua obra “Symbolic Logic” (1881), o diagrama de Venn trouxe uma grande contribuição para a lógica e a estatística. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender o conceito do diagrama de Venn; • conhecer formas de resolução de problemas a partir do diagrama de Venn. 1 O diagrama de Venn Para iniciarmos os estudos sobre este tema, vamos conhecer um pouco da vida do matemá- tico inglês John Venn. Segundo Rosen (2010, p. 115): Venn (1834-1923) nasceu em uma família do subúrbio de Londres, conhecida por sua fi- lantropia. Ele frequentou escolas londrinas e conquistou seu diploma em matemática na Caius College, Cambridge, em 1857. Foi eleito membro de sua faculdade e manteve o cargo até a sua morte. Frequentou o seminário em 1859 e, depois de uma breve carreira religiosa, retornou a Cambridge, onde desenvolveu trabalhos na área da ciência moral. Além de seu trabalho em matemática, Venn tinha interesse em história e escreveu intensamente sobre sua faculdade e sua família. Venn participou profundamente de ramos variados da ciência, sem deixar de se desenvolver na matemática, área onde ocorreu sua maior contribuição. Mas qual delas foi a mais importante e é utilizada até hoje? O diagrama de Venn, criado em 1881, é uma forma gráfica de representar uma coleção de objetos e informações e é muito aplicado para a resolução de problemas envolvendo conjuntos, que são utilizados amplamente na área da estatística e da probabilidade. Nesse ponto, vale desta- car que o filósofo britânico George Boole (1815 – 1864), criador da álgebra booliana, foi o primeiro matemático a desenvolver a teoria dos conjuntos, estudo que serviu de base para Venn aplicar, na forma de balões, em seu diagrama. George Boole nasceu em 2 de novembro de 1815 em Lincoln, Inglaterra, onde começou a frequentar a escola. Foi de seu pai que Boole recebeu as primeiras instruções sobre matemática e o gosto pelos instru- mentos óticos. Quando começou a se interessar por idiomas, passou a ter aulas com um livreiro local de latim e grego e acreditava que esse conhecimento o ajudaria a melhorar sua condição social. Boole não teve formação acadêmica, mas aos 16 anos já era um professor assistente. Em 1835, abriu uma escola e mudou o seu interesse, passando a estudar matemática. Seu primeiro trabalho nessa área teve como base os estudos de Laplace e Lagrange sendo encorajado por Duncan Gregory, que estava em Cambri- dge. Boole não pode aceitar o conselho de Duncan para frequentar cursos em Cambridge, pois precisou cuidar de seus pais, mas ele começou a fazer publicações na recém fundada “Cambridge Mathematical Journal”. Também por influência de Duncan passou a estudar álgebra. Recebeu uma medalha da Royal Society por uma publicação na “Trasactions of the Royal Society” sobre métodos algébricos para a solução de equações diferenciais e, a partir de então, o seu trabalho começou a ser conhecido. Quadro 1 – Biografia de George Boole Fonte: BOYER, 1996, p. 430 Figura 1 – Representação da lógica Booleana, utilizada na eletrônica digital. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com EXEMPLO A eletrônica digital é uma das tecnologias que utiliza amplamente os conceitos de portas lógicas desenvolvidas por George Boole, precursor dos estudos sobre a te- oria dos conjuntos. De acordo com Rosen (2010, p. 113), “os conjuntos podem ser representados graficamente usando diagramas de Venn, [...], onde o conjunto universo U, que contém todos os objetos em con- sideração, é representado por um retângulo”. FIQUE ATENTO! Embora seja fruto de um trabalho teórico, o diagrama de Venn é de suma importân- cia no inter-relacionamento de informações e objetos. Figura 2 – Diagrama proposto por John Venn Fonte: littleredshark/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! A representação por balões utilizada no diagrama de Venn é uma estratégia para simbolizar e representar conjuntos que se entrecruzam. É possível, por exemplo, identificar a preferência por uma determinada marca de celular, coletando dados de diversos clientes de uma loja e unindo simultaneamente estes balões para identifi- car quem gosta das marcas A, B e C ao mesmo tempo. Podemos observar na figura 2 que os círculos, destacados em três cores básicas, unem- se em algumas situações formando cores diferentes ou, ainda, possuem participações comuns, entrelaçando-se uns nos outros, formando outras cores. A partir dessa representação, é possível correlacionar objetos e informações, realizando operações lógicas entre conjuntos, tais como a união e a interseção, obtendo, assim, dados que antes pareciam insuficientes para a resolução de tais problemas. De acordo com Rosen (2010, p.113) “os diagramas de Venn são utilizados para indicar as relações entre conjuntos”. FIQUE ATENTO! A união e a interseção de conjuntos podem ser representadas com o diagrama de Venn por silogismos (raciocínio dedutivo estruturado formalmente a partir de duas proposições) categóricos ou hipotéticos, por meio das expressões: todo, nenhum e algum. No próximo tópico, faremos um estudo a respeito de métodos e formas de resolver proble- mas a partir do diagrama de Venn. 2 Formas de resolução de problemas a partir do diagrama de Venn Agora que já sabemos quem foi John Venn e como surgiu a ferramenta proposta por ele, vamos aprofundar nosso estudo nos métodos de resolução de problemas envolvendo o diagrama proposto por ele. Para isso, exemplificaremos alguns problemas que demonstram estratégias para resolução desses problemas. SAIBA MAIS! O livro “Introdução à História da Matemática”, de Rogério S. Mol, apresenta o início de diversas teorias matemática, entre elas a teoria dos conjuntos numéricos. Leia mais: <http://www.mat.ufmg.br/ead/acervo/livros/introducao_a_historia_da_ matematica.pdf>. 2.1 Interseção de dois conjuntos Em uma primeira estratégia, desenhamos os diagramas conectados por balões. Observe o exemplo a seguir: em uma escola há 1000 alunos, sendo que 650 deles possuem o uniforme azul marinho e 320 possuem o azul marinho e o verde-militar. A partir dessas informações, como pode- mos descobrir o número de alunos que vestem somente o uniforme verde militar? Para isso, representamos, primeiramente, as quantidades citadas no enunciado em dois balões que se interceptam, como mostra a figura 3: 330 320 1000 Azul Verde X Figura 3 – Representação da interseção de dois conjuntos Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. Em um segundo passo, coletamos os dados representados nos balões e efetuamos uma soma de todas as quantidades, já que 1000 é o conjunto universo dos alunos dessa escola. A fór- mula obtida fica da seguinte forma: 330 + 320 + X = 1000 Sendo assim, o resultado será a quantidade desconhecida, que é de 350 alunos. 2.2 Interseção de três conjuntos Alguns problemas são caracterizados por uma lista de informações, onde teremos a interse- ção de três conjuntos, simultaneamente. Neste tipo de problema, a melhor estratégia é desenhar a intersecção de todos os conjuntos e colocar as quantidades em todos os espaços dentro dos balões. Observe o exemplo a seguir: uma pesquisa de campo realizada em uma pequena cidade coletou os seguintes dados sobre a audiência de determinados canais de televisão. • 50 pessoas assistiam o canal A; • 30 pessoas assistiam o canal A e B; • 15 pessoas assistiam o canal A, B e C; • 20 pessoas assistiam o canal A e C; • 25 pessoas assistiam o canal B e C; • 70 pessoas assistiam o canal B; • 90 pessoas assistiam o canal C; Com base nessas informações, como podemos defi nir o número total de pessoas que foram entrevistadas? Primeiramente, desenhamos o diagrama de Venn, inter-relacionando todas as infor- mações. Acompanhe afi gura 4: 15 515 15 30 60 10 A B C X Figura 4 - Representação de três conjuntos que se inter-relacionam Fonte: Elaborado pelo autor, 2016. Observe que o conjunto universo é representado pelos balões, que aparecem na fi gura 4. Podemos, então, concluir que a soma de todas estas quantidades nos dará o total de pessoas entrevistadas: 15 + 15 + 15 + 5 + 30 + 10 + 60 = 150 Ou seja, 150 pessoas foram entrevistadas nesta cidade. EXEMPLO Uma pesquisa realizada em uma determinada região a respeito da preferência de um canal de TV pode ser representada em diagramas de Venn, com o auxílio da teoria dos conjuntos, onde os espectadores de diferentes canais podem ser inclu- ídos em balões para, assim, ser possível obter o número daqueles que gostam, ao mesmo tempo, do canal A e B, por exemplo. 2.3 Representação de conjuntos Neste tópico, veremos como representar, a partir do diagrama de Venn, mais de três conjun- tos: nestes casos, não podemos representar quatro conjuntos a partir de quatro circunferências pois, desta maneira, não é possível representar todas as relações que se formam. Para isso, utiliza- remos elipses para retratar, de forma adequada, todas as interseções possíveis. Observe a fi gura 5: Figura 5 – Não é um diagrama de Venn Fonte: Elaborado por Catiúscia Borges, 2016. Observamos que, neste caso, nem todas as regiões possíveis são representadas. Por exem- plo, não há uma região em que apenas o círculo azul e o verde se intersectem. Agora, observe na fi gura 6 a representação a partir de elipses: Figura 6 – Diagrama de Venn para representar quatro conjuntos com quatro elipses. Fonte: Elaborado por Catiúscia Borges, 2016. Neste ponto, vale destacar que existem outras propostas para o diagrama de Venn formado por quatro conjuntos. O matemático israelense Branko Grünbaum, por exemplo, propôs um Diagrama de Venn para cinco conjuntos usando elipses congruentes em um arranjo radialmente simétrico. SAIBA MAIS! No livro “Matemática Discreta” (2010), o autor Kenneth H. Rosen aborda, de forma bem didática, os conceitos e definições de conjuntos e as representações do diagrama de Venn. Podemos concluir que os diagramas desenvolvidos por John Venn, representados grafica- mente por balões ou elipses, são uma maneira bem prática e visual de retratar a união e interseção de conjuntos e solucioná-los nos mais diversos problemas. Fechamento Nesta aula, você teve oportunidade de: • Entender o conceito do diagrama de Venn; • Conhecer as formas de resolução do diagrama de Venn. Referências BOYER, Carl B. História da Matemática. São Paulo: Edgard Blucher,1996. MOL, Rogério S. Introdução à história da matemática. Editora CAED-UFMG. Belo Horizonte, 2013. Disponível em: <http://www.mat.ufmg.br/ead/acervo/livros/introducao_a_historia_da_ matematica.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2016. MORAIS, José Luiz. Matemática e Lógica para Concursos. São Paulo: Editora Saraiva,2012. ROSEN, Kenneth H. Matemática Discreta. São Paulo: Mc Graw-Hill, 2010.
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