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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS Reitor Humberto Luiz Falcão Coelho Vice-Reitor Lívio William Reis de Carvalho Pró-Reitor de Graduação Galileu Marcos Guarenghi Pró-Reitor de Pós-Graduação e Extensão Claudemir Andreaci Pró-Reitora de Pesquisa Antônia Custódia Pedreira Pró-Reitora de Administração e Finanças Maria Valdênia Rodrigues Noleto Diretor de EaD e Tecnologias Educacionais Marcelo Liberato Coordenador Pedagógico Geraldo da Silva Gomes Coordenador do Curso André Pugliese da Silva Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS) F981p Administração / Fundação Universidade do Tocantins; EADCON. Palmas: Editora Educon, 2008. 484 p.: il. ‘ Nota: Caderno de Conteúdo e Atividades 8º período de Administração (apostila) 1. Administradores – Formação. 2. Administração – Estudo e Ensino. I. EADCON. II. Título. CDD 378 22. ed. Ficha Catalográfica elaborada pela UNITINS. Bibliotecária – Rozangela Martins da Silva CRB2/1019 Direitos desta edição reservados a UNITINS. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da UNITINS. Negociação ....................................................................................................7 Aula 1 – Negociação: conceitos e fundamentos ........................................................ 13 Aula 2 – Estratégias comportamentais e psicológicas na negociação ........................... 21 Aula 3 – Boas relações, boa negociação? ................................................................ 29 Aula 4 – Conhecendo o ambiente e as características do negócio ............................... 39 Aula 5 – Procedimentos básicos para uma negociação .............................................. 45 Aula 6 – Estilos de Negociador ............................................................................... 49 Aula 7 – Negociando com cada estilo ..................................................................... 55 Aula 8 – Quando e como fazer/obter concessões ..................................................... 61 Aula 9 – Flexibilidade e confiança na negociação .................................................... 67 Aula 10 – O processo decisório na negociação .......................................................... 73 Aula 11 – Conflitos na negociação. Como administrar? ............................................... 79 Aula 12 – A importância das expressões corporais ..................................................... 85 Aula 13 – Desenvolvendo habilidades de negociação ................................................. 91 Aula 14 – Preparando sua equipe para negociar ........................................................ 97 Aula 15 – Poder, estratégia e negociação ................................................................ 103 Aula 16 – A ética na negociação ............................................................................ 109 Plano de Negócios para o Mercado Regional .............................................113 Aula 1 – Plano de negócio: por que precisamos? .................................................... 119 Aula 2 – Negócios e identificação de oportunidades ............................................... 125 Aula 3 – Desenvolvimento regional, integrado e sustentável ...................................... 133 Aula 4 – O empreendedorismo social .................................................................... 139 Sumário Aula 5 – Geração de emprego e renda .................................................................. 145 Aula 6 – Experiências nacionais e internacionais de desenvolvimento ........................ 151 Aula 7 – Planejamento participativo e orientado por objetivos – METAPLAN ZOPP ...... 157 Aula 8 – Agências para o desenvolvimento regional ................................................ 165 Aula 9 – A formação de redes sociais de desenvolvimento ....................................... 175 Aula 10 – A rede colaborativa de negócios .............................................................. 183 Aula 11 – Parceiras e instituições de apoio ao desenvolvimento regional ..................... 187 Aula 12 – Incubadoras de empresas ........................................................................ 195 Aula 13 – Arranjos produtivos locais e clusters .......................................................... 203 Aula 14 – Empoderamento e gestão social ............................................................... 207 Aula 15 – Os desafios e a busca pelos recursos para iniciar o negócio ....................... 215 Aula 16 – Cooperativismo de crédito: uma via para o desenvolvimento regional sustentável ................................................................................ 223 Trabalho de Conclusão de Curso .................................................................229 Aula 1 – Por que fazer um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)? .......................... 235 Aula 2 – Elaboração do projeto e apresentação do artigo ....................................... 241 Aula 3 – Mecanismos de coleta de dados .............................................................. 249 Aula 4 – Redação do artigo científico .................................................................... 259 Aula 5 – Ética na elaboração do artigo científico .................................................... 271 Anexos – Manual – Trabalhando no portal .............................................................. 279 Gestão de Talentos Humanos e Avaliação por Competências ......................293 Aula 1 – A nova era da gestão de pessoas............................................................. 299 Aula 2 – Evolução histórica do conhecimento.......................................................... 309 Aula 3 – Origens da gestão do conhecimento e da gestão por competências ............. 315 Aula 4 – Gestão por competências: aspectos conceituais ......................................... 319 Aula 5 – Gestão por competências: conhecendo os modelos .................................... 327 Aula 6 – Gestão por competências: conhecendo os modelos II.................................. 333 Aula 7 – Implementando a gestão por competências: principais dificuldades .............. 339 Aula 8 – Mapeando e certificando as competências ................................................ 343 Aula 9 – Inteligência: insumo básico da competência .............................................. 347 Aula 10 – Banco de identificação de talentos ........................................................... 351 Aula 11 – A gestão de pessoas por competências ..................................................... 359 Aula 12 – Avaliação e gestão do desempenho ......................................................... 365 Aula 13 – Gestão do conhecimento e gestão por competências .................................. 373 Aula 14 – Capital intelectual: ativo intangível ........................................................... 379 Aula 15 – Modelos de gestão do capital intelectual ................................................... 383 Aula 16 – Capital humano: gestão e mensuração ..................................................... 389 Desenvolvimento e Empregabilidade ..........................................................393 Aula 1 – Introdução e evolução histórica da gestão do trabalho ............................... 399 Aula 2 – As mudanças nas organizações ............................................................... 405 Aula 3 – Empregabilidade – conceitos ................................................................... 413 Aula 4 – As bases da empregabilidade .................................................................. 419 Aula 5 – Fator 1: adequação vocacional ................................................................ 427 Aula 6 – Fator 2: competência profissional ............................................................. 433 Aula 7 – Fator 3: idoneidade ................................................................................437 Aula 8 – Fator 4: saúde física e mental .................................................................. 441 Aula 9 – Fator 5: reserva financeira e fontes alternativas .......................................... 447 Aula 10 – Fator 6: relacionamentos ......................................................................... 451 Aula 11 – Curriculum Vitae ..................................................................................... 455 Aula 12 – A entrevista ............................................................................................ 463 Aula 13 – Desemprego e trabalho ........................................................................... 467 Aula 14 – Problemas na carreira ............................................................................. 473 Aula 15 – Sua carreira na Era da Informação ........................................................... 477 Aula 16 – As organizações e as carreiras ................................................................ 481 Cr éd it os EQUIPE UNITINS Organização de Conteúdos Acadêmicos Joran Oliveira Barros Junior Coordenação Editorial Maria Lourdes F. G. Aires Assessoria Editorial Darlene Teixeira Castro Assessoria Produção Gráfica Katia Gomes da Silva Revisão Didático-Pedagógica Francisco Gilson Rebouças Pôrto Junior Revisão Lingüístico-Textual Ivan Cupertino Dutra Revisão Digital Douglas Donizeti Soares Projeto Gráfico Douglas Donizeti Soares Irenides Teixeira Katia Gomes da Silva Ilustração Geuvar S. de Oliveira Capa Igor Flávio Souza EQUIPE FAEL Coordenação Editorial Leociléa Aparecida Vieira Assessoria Editorial William Marlos da Costa Revisão Juliana Camargo Horning Lisiane Marcele dos Santos Programação Visual e Diagramação Denise Pires Pierin Kátia Cristina Oliveira dos Santos Rodrigo Santos Sandro Niemicz William Marlos da Costa A pr es en ta çã o Olá pessoal! Estamos chegando à reta final do nosso curso, mas ainda temos muito a aprender aqui!!! E nada melhor do que aprofundarmos os nossos conhecimentos sobre Negociação, certo? Para começar, vamos estudar as noções básicas sobre negociação, conhe- cendo os principais conceitos, estratégias comportamentais e psicológicas, bem como entendendo a importância da construção de uma relação harmo- niosa e de vantagens mútuas. Isto será discutido nas aulas um a quatro. Logo em seguida saberemos distinguir os estilos dos negociadores, as estratégias e táticas para lidar com cada um deles, o entendimento de como se constrói um ambiente favorável à negociação e o momento adequado de ceder e obter concessões importantes durante o processo de negociação. Estes assuntos serão explorados, com detalhes, nas aulas cinco a 10. Já nas aulas de 11 a 14 iremos entender o funcionamento do processo decisório na negociação, reconhecer as expressões corporais presentes na outra parte, saber como administrar os conflitos com eficácia, como desen- volver habilidades importantes para a negociação e como preparar sua equipe, para que sirva de complemento e suporte à negociação. Finalizando, nas aulas 15 e 16, iremos falar sobre o uso do poder, das estratégias e principalmente da ética na negociação. Conhecer os limites e critérios para não seguir o caminho das situações fraudulentas, ilícitas e anti- éticas, pois na negociação pode haver competição, mas não a má intenção ou o desejo único de tirar o máximo de proveito e vantagens. O foco deve estar na construção da relação, nos objetivos a serem alcan- çados e no compartilhamento de benefícios e vantagens entre as partes. Então, prepare-se para usufruir desses conhecimentos e de todas as ferra- mentas que preparamos, pois a prática, aliada ao estudo sério, gera compe- tência e desenvolve as habilidades. Vamos nessa? Prof. Joran Junior Pl an o de E ns in o EMENTA Conceitos básicos de negociação. Habilidades necessárias aos negocia- dores. Influência do ambiente e das relações na negociação. Planejamento e desenvolvimento da negociação. As características comportamentais e psicológicas do negociador. Utilização da negociação como estratégia de administração dos conflitos. Estratégias, táticas e operações na negociação. As relações de poder, estratégia e negociação. OBJETIVOS Apresentar ao aluno os principais conceitos, estratégias, métodos e • processos inerentes à negociação. Demonstrar as características, estilos e comportamentos das partes • envolvidas em um processo de negociação, no intuito de fornecer uma base estrutural que possibilite ao acadêmico estar apto para enfrentar os constantes embates que um mercado competitivo, como o atual, requer de um futuro profissional da administração. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Principais conceitos e fundamentos• O ambiente e as habilidades do negociador• A influência do ambiente e das relações no processo de • negociação Estratégias, táticas e procedimentos na negociação• Negociação, processo decisório e administração de conflitos• Poder, estratégia e Negociação• unitins • administração • 8º PErÍodo 11 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ERVILHA, Antônio de Jesus Limão. Habilidades de negociação. São Paulo: Nobel, 2001. FILARDI, Fernando. Negociação empresarial. Rio de Janeiro: FGV Management – Curso de Educação Continuada, 2003. HOU, W.; SHEANG, L.; HIDAJAT, B.; TZU, Sun - A arte da guerra e do gerencia- mento. Rio de Janeiro: Record, 2000. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B; LAMPEL, J. Safári de estratégias. São Paulo: Bookman, 2000. WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Gente, 1998. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BAZERMAN, M. H.; NEALE, M. A. Negociando racionalmente. São Paulo: Atlas, 1995. CARVALHAL, Eugênio do. e outros Negociação e administração de conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2006. FISHER, Roger; ERTEL, Danny. Estratégias de negociação: um guia passo a passo para chegar ao sucesso em qualquer situação. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. MELLO, José Carlos Martins F. de. Negociação baseada em estratégia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. SHELL, G. Richard. Negociar é preciso. São Paulo: Atlas, 1998. WEIL, Pierre. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Petrópolis: Vozes, 1986. aula 1 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 13 Objetivo Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: entender os principais conceitos e fundamentos que constituem o processo • de negociação. Pré-requisitos Para que você atinja os objetivos propostos nesta aula, é necessário que você recorde algumas características básicas, como os estilos de liderança e as habilidades pessoais, técnicas e humanas que requer o processo de negociação, que já foram exploradas principalmente nas disciplinas de Gestão de Pessoas (3º período) e Desenvolvimento Gerencial (7º período). Estas informações são importantes, pois demonstram o funcionamento das relações pessoais, a gestão de processos gerenciais e o desenvolvimento de negócios que formam a base para o entendimento dos fatores que constituem uma negociação. Introdução Somos levados a negociar constantemente em nosso dia-a-dia, desde a infância, passando pela adolescência até chegar à vida adulta, quando o ato de negociar se torna mais complexo e diversi- ficado. Quantas vezes você já teve que negociar com seus pais, amigos, irmãos e pessoas desconhecidas? Em quais se saiu bem em quais foi mal? Por quê? Quais os motivos e características de uma negociação? No mundo dos negócios, em que um admi- nistrador participa de variadas e intensas nego- ciações diariamente, é necessário competência, conhecimento e estratégias para obter bons resul- tados. Então, o que acha de conhecer os princi- pais conceitos e fundamentos da arte negociar? Negociação: conceitos e fundamentos Aula 1 aula 1 • nEgociação 14 8º PErÍodo • administração • unitins É exatamente sobre isso que vamos tratar nesta primeira aula. E para começar vamos saber o que realmentesignifica negociação. Você sabe? Veja, a seguir, o que diz o Novo Dicionário Aurélio (FERREIRA,1999, p. 1399). Negociar – Ajustar, combinar, concluir. Portanto, para ajustar ou combinar algo, é preciso que existam divergências, diferenças, conflitos e interesses das partes. Certo? Daí já começamos a entender um pouco o significado de negociar. E percebemos que a todo o momento, em nossas vidas, fazemos escolhas que dependem de negociações, combinações e ajustes para obtermos o que queremos. Na atividade empresarial, não é dife- rente. Então, que tal aprofundarmos nossa discussão e conhecermos as nuances que envolvem o processo de negociação? 1.1 Conceito sobre negociação Existem diferentes conceitos e formas de colocar em prática a negociação. A base para uma negociação de um filho para com sua mãe é bem diferente da que acontece com um vendedor e um cliente ou entre um empresário e seu fornecedor. No cotidiano, as negociações tendem a ter um caráter informal e sem nenhuma fundamentação estratégica ou operacional. Já no ambiente empresa- rial, as negociações se tornam complexas e estratégicas. Tanto na informalidade do dia-a-dia quanto nas empresas, a negociação ainda é vista, por muitas pessoas, como uma prática de guerrilha onde o principal objetivo é derrotar o inimigo e ganhar a guerra, mesmo que isso implique em prejuízos e/ou decadência do opositor. Esta visão já não tem espaço na mente e nas ações das pessoas e empresas que desejam permanecer no mercado, de bem com seus clientes, parceiros e fornecedores. A imagem e reputação da empresa são objetos de análises e argumentações das pessoas para deixar ou não de manter uma relação comercial com determi- nada empresa. Por isso, vamos conhecer alguns conceitos para deixar claro o que é e como funciona o processo de negociação. Wanderley (1998, p. 21) afirma que negociação é o processo de alcançar objetivos por meio de um acordo nas situações em que existam interesses comuns, comple- mentares e opostos, isto é, conflitos, divergências e antagonismo de interesses, idéias e posições. (grifo nosso) Vejamos alguns pontos importantes deste conceito. Se negociação é um processo, quer dizer que existem etapas, seqüência, lógica. Estes processos e suas ações devem estar focados para o alcance dos objetivos estabelecidos e aula 1 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 15 não para se tornar um joguete pessoal. Para isso é que se faz uso de um acordo, ou seja, algo que esteja a contento das partes envolvidas, independentemente do fato de os interesses, a princípio, serem comuns ou totalmente antagônicos. Para Mello (2007, p. 26), negociar significa movimentar, ou seja, você deve estar ciente que deve ceder em algum momento. O que muda são as estratégias, a forma e os motivos que o levam a esta movimentação. Você deve estar pensando: será que isto é possível em um mercado onde reina o capitalismo e a competitividade? Olha, tudo é uma questão de princí- pios, atitudes e percepção da situação. Para entender melhor, analise a seguinte história (WANDERLEY, 1998, p. 22) e veja como uma negociação estruturada pode ter bons resultados. Dois seminaristas foram pedir ao padre superior autorização para fumarem enquanto rezavam. O primeiro foi direto ao assunto e já perguntou se poderia fumar durante suas orações. O padre, assustado, negou prontamente e exigiu dele uma série de penitências. O segundo preparou-se, descobriu o santo de devoção do padre, leu sobre sua vida e depois o procurou para a conversa. O seminarista iniciou um diálogo amistoso e agradável e esperou o momento certo para fazer sua pergunta. Falou das suas intenções e ações para atingir a santidade, comentou sobre o santo de devoção do padre e ao final disse que tinha apenas uma dificuldade. Algumas vezes costumava fumar, mas que nestes momentos lhe vinha uma vontade imensa de rezar. Então perguntou ao padre se nestes momentos ele poderia rezar. Recebeu uma resposta positiva, com a reco- mendação de que rezasse também para interromper o vício de fumar. Moral da história: há uma grande diferença entre pedir para fumar enquanto reza e rezar enquanto se fuma. Percebeu a diferença? O modo como se fazem as coisas, muitas vezes, é mais importante e determinante do o que é, ou seja, a maneira como você apre- senta uma dificuldade é fundamental para o seu desfecho. Por isso é importante estabelecer bem os objetivos e o que está disposto a permutar (dar em troca), pois a negociação é uma via de mão dupla. Quem dá alguma coisa espera outra em troca, mesmo que não seja um bem, especificamente. A negociação é um processo que envolve relações e não uma ação de uma única parte, apesar de haver muitos empresários que ainda acreditam na Lei de Gerson (levar vantagem em tudo) e não se importar com os resultados e conseqüên- cias para a outra parte. E por ser um relacionamento, a emoção e a comunicação estão presentes e sua utilização determina o sucesso ou o fracasso da negociação. aula 1 • nEgociação 16 8º PErÍodo • administração • unitins 1.2 Posicionamentos na negociação Existem três tipos básicos de posicionamento diante de uma negociação. Estes se constituem a partir de um conjunto de atitudes, crenças e valores do indivíduo que os emprega no processo de negociação. Veja a seguir, conforme Wanderley (1998, p. 22), quais são estes posicionamentos e, desde já, desen- volva o seu modo de agir. a) Posicionamento competitivo (ganha/perde) – é o negociador que está interessado apenas na satisfação dos seus próprios interesses, mesmo que isso represente danos para o outro lado. Esse nego- ciador adota máximas como: o importante é levar vantagem em tudo; o mundo é dos espertos; a negociação é um campo de batalha no qual os mais aptos vencem; não é importante estabelecer vínculos duradouros com o outro negociador; o segredo é a alma do negócio. Informações falsas fazem parte do negócio; Vale tudo. O importante é não ser pego. Negociadores com esta posição não têm escrúpulos ou qualquer compro- misso com a ética e muito menos com a outra parte. Este tipo se divide, ainda, em duas categorias: a hostil, que tem o objetivo de intimidar, e a manipuladora, que procura enganar e passar uma imagem de credibili- dade, não revelando as verdadeiras intenções. Será que existem pessoas assim no mercado? É claro que existem e você deve estar preparado para conhecer e saber lidar com estes falsos negociadores. Vejamos outro tipo. b) Posicionamento colaborativo (ganha/ganha) – adota o princípio de que um bom acordo é aquele que satisfaz os interesses de ambos os lados, pois acreditam encontrar pontos de convergências, mesmo em situações em que os interesses pareçam antagônicos. Têm as seguintes crenças: querem os seus interesses, e os da outra parte, atendidos; deve-se dedicar atenção e cuidados no relacionamento das partes; para que haja um bom acordo, é necessário que os dois lados estejam verdadeiramente comprometidos com a sua implementação. c) Posicionamento destrutivo (perde/perde) – é quando o negociador não se importa em perder desde que o outro também perca. O maior inte- resse é em prejudicar o outro e não em fazer uma negociação. Sabemos que no mercado ainda tem muitos negociadores que praticam esta postura sem qualquer compromisso com as conseqüências ou com a ética. Então, agora vamos entender o que acarreta cada uma destas posições. aula 1 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 17 1.3 Resultados de uma negociação conforme o posicionamento Existem quatro maneiras possíveis de se realizar uma negociação, de acordo com o posicionamento que se emprega, veja o quadro a seguir. A posição (um) indica a melhor forma de negociação, em que os interesses foram atendidos plenamente, ou seja, houve um acordo efetivo entre as partes, construído por meio de um compromisso psicológico, gerando um resultado ganha/ganha. Essa situação final é portanto conseqü- ência de um acordo de alta qualidadee alta aceitação. Já o quadrante (dois) e (três), de conse- qüência ganha/perde, ocorre quando apenas os objetivos e interesses de uma das partes foram atendidos. E a posição (quatro), perde/perde, acontece quando os acordos são prejudiciais para ambas as partes. 1.4 Formas de negociação Segundo Wanderley (1998, p. 26), existem duas formas de conduzir uma nego- ciação. Uma é a barganha de propostas e a outra é a solução de problemas. Na barganha de proposta não se tem a preocupação com a negociação em si ou com os interesses da outra parte. O que importa é tirar vantagem sobre o opositor. Com a solução de problemas há uma preocupação em entender a essência e os méritos da questão proposta, por meio de um diagnóstico e uma visão holís- tica da situação e o entendimento de todos os envolvidos. Só após a negociação é estudada uma solução que atenda os interesses das partes. Mas existem ocasiões em que a barganha de propostas é mais adequada do que a solução de problemas. Por exemplo, quando você vai comprar uma roupa ou um eletrodoméstico, não se tem a preocupação com o dono da loja, com o mercado, mas se quer levar o máximo de qualidade com o menor preço, não é mesmo? Mas o princípio da ética deve ser preservado, também nestes casos. Afinal não se deve ter o interesse em prejudicar a empresa, mas garantir a melhor oportunidade de negócio, certo? Também há situações em que apenas a solução de problemas é viável. Exemplo disso são as negociações para aquisição de empresas, grandes forne- Fonte: Wanderley, (1998, p. 25) aula 1 • nEgociação 18 8º PErÍodo • administração • unitins cedores, parceiros e até entre departamentos da organização. Nesses momentos é preciso entender o outro, estudar a situação e fazer acordos efetivos. Concluindo esta aula, podemos afirmar que tudo depende da forma como se faz uma negociação e dos princípios e valores que o indivíduo, ou a empresa, cultiva, pois estes transparecerão nos acordos e formas de negociar em qualquer situação da vida. Então, pare e pense: quais valores, princípios e crenças estou desenvol- vendo? Que tipo de negociação tenho feito diariamente? Síntese da aula Nesta aula, tivemos a oportunidade de conhecer mais a fundo a negociação e a importância de saber os tipos, o posicionamento, as formas e as conseqüên- cias de uma negociação como instrumento de desenvolvimento empresarial e exercício da parceria, dos interesses mútuos e das possibilidades de as partes envolvidas atingirem seus objetivos. A meta é realizar negociações do tipo ganha/ganha, mesmo que, em algum momento, seja preciso utilizar do método da barganha ou, em outras ocasiões, a solução de problemas. O que mais importa é o como, é a forma de desenvolvimento do processo de negociação. Para isso o cultivo dos bons princípios e valores é funda- mental, pois eles contribuem para a formação ética e profissional do administrador. Atividades 1. Sobre negociação, assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as alternativas falsas. a) ( ) Negociação é um processo em que se busca efetivar um acordo onde há apenas interesses comuns entre as partes. b) ( ) Dependendo da forma como negocia, você pode ter resultados bem positivos ou totalmente desastrosos. Daí a importância de se conhecerem os processos e de se estabelecerem objetivos e acordos efetivos. c) ( ) Existem três formas de se posicionar em uma negociação: de forma colaborativa, destrutiva e competitiva. d) ( ) A forma colaborativa é representada pela situação (ganha/perde) e a destrutiva (perde/perde). 2. Veja a história e análise qual a forma de negociação nos casos a seguir. Um escorpião queria atravessar um lago e pediu ajuda a um sapo. O sapo ressabiado falou da sua preocupação de ser picado pelo inseto. Mas o aula 1 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 19 escorpião argumentou que se o sapo morresse o escorpião também não escaparia. E assim o sapo resolveu levar o escorpião... a) Por instinto, o escorpião picou o sapo e os dois morreram. b) O escorpião manteve o acordo e os dois chegaram vivos. Comentário das atividades Na atividade um as alternativas consideradas verdadeiras e falsas são, respectivamente: (a) F: as negociações não necessariamente precisam ter inte- resses em comum, eles podem até ser contrários, mas os resultados devem ser benéficos para as partes; (b) V: para uma boa negociação, deve-se ter planeja- mento, estratégia e flexibilidade, ou ela pode acabar de uma forma desastrosa; (c) V: o posicionamento colaborativo é representado pela forma (ganha/ganha), o competitivo (ganha/perde) e o destrutivo (perde/perde) e (d) F: a forma cola- borativa é representada pela situação (ganha/ganha) e não (ganha/perde). Na atividade dois, a alternativa (a) dia que, se o escorpião não cumpriu o acordo, é porque ele não estava interessado na negociação em si, apenas no desejo de saciar sua vontade, mesmo que isso viesse a ocasionar sua própria morte. Esta situação é bem característica da forma destrutiva de negociar onde todos perdem (perde/perde). Já na segunda situação (b), o escorpião cumpriu o acordo, mas o sapo não obteve qualquer vantagem ou algo em troca do serviço. Então isso se caracteriza pela forma de negociação compe- titiva, em que apenas uma das partes tem benefícios (ganha/perde). Dessa forma, ao resolver as atividades, você demonstrou ter entendido os principais conceitos e fundamentos que constituem o processo de negociação, que é o objetivo desta aula. Referências FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. MELLO, José Carlos Martins F. de. Negociação baseada em estratégia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Gente, 1998. Na próxima aula Vamos estudar e analisar os conhecimentos, as habilidades e atitudes que devem possuir um bom negociador, ou seja, veremos qual deve ser o perfil do negociador. Preparados para avançar? Então vamos lá!!! aula 1 • nEgociação 20 8º PErÍodo • administração • unitins Anotações aula 2 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 21 Objetivo Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: compreender os fatores e influências comportamentais e psicológicos • que caracterizam o negociador. Pré-requisitos Para que você tenha um melhor aprendizado dos conteúdos desta aula, é inte- ressante que relembre alguns conceitos (aprendizagem, motivação, percepção, influências sócio-culturais) que discorrem sobre o comportamento das pessoas nas organizações. Temas estes abordados na disciplina Psicologia Aplicada às Organizações (2º período). Isto permitirá a você fazer um paralelo entre as características comportamentais das pessoas na empresa e sua importância no processo de negociação entre empresas e/ou indivíduos. Introdução O ato de negociar exige determinadas qualidades, competências e habili- dades que estão relacionadas à personalidade, ao caráter e aos princípios éticos do indivíduo e outras habilidades que precisam ser desenvolvidas e culti- vadas ao longo da carreira profissional. E você, que está prestes a se tornar um adminis- trador, já deve desenvolver este conjunto de caracte- rísticas desde agora, definindo as bases e os princí- pios que nortearão sua vida empresarial. Mas o que exatamente deve-se desenvolver e buscar cultivar para tornar-se um bom negociador? Que comportamentos, sentimentos, percepções, emoções, crenças e valores perfazem as caracte- rísticas de um negociador? Estratégias comportamentais e psicológicas na negociação Aula 2 aula 2 • nEgociação 22 8º PErÍodo • administração • unitins Foi exatamente essas características que buscou identificar a pesquisa de Eugênio Carvalhal, especialista em negociação da FGV – Fundação Getúlio Vargas –, realizadacom base na vivência de negociadores brasileiros. Vamos conhecer um pouco mais os resultados deste estudo e outras informa- ções sobre o comportamento e características do negociador? 2.1 As quatro características de um negociador eficaz Foram pesquisados mais de 4000 profissionais de diferentes segmentos. As 40 características apontadas como necessárias ao bom negociador foram agrupadas e sintetizadas em sete itens. Veja a seguir. Carvalhal (2006, p. 84). Capacidade de planejamento e preparação.a) Conhecimento do tema/assunto do que se está negociando.b) Raciocínio claro e rápido, mesmo sob pressão e incerteza, tomar decisões.c) Habilidade de escutar.d) Comunicar-se de forma expressiva; capacidade para expressar idéias e) verbalmente e capacidade de convencimento e persuasão. Integridade e capacidade de ganhar a confiança da outra parte.f) Auto-controle e paciência.g) 2.2 Bases do comportamento do negociador O processo de negociação, como citamos anteriormente, envolve relacio- namento, isto significa interagir, trocar experiências e informações com outra pessoa. Para que isso seja realizado de uma forma eficiente e proveitosa, é preciso conhecer as noções básicas que constituem o comportamento do ser humano para identificar as suas reais necessidades e reações. Existem diversas teorias psicológicas que tratam e explanam sobre este assunto. Mas no geral, podemos afirmar que o comportamento é influenciado por duas questões básicas: os fatores ambientais (externos) e os individuais (internos). Os fatores ambientais são aqueles oriundos da cultura, dos valores herdados pela família e sociedade, da política de governo e das empresas, dos fenômenos do meio ambiente, ou seja, toda ação externa capaz de influenciar e até mudar o comportamento, mesmo que de forma imperceptível. Por exemplo, você já prestou atenção o quanto replica alguns comportamentos e trejeitos dos seus pais? Parecemos com eles muito mais do que imaginamos. Já os fatores internos são mais complexos e difíceis de serem percebidos, quantificados e materializados, pois são de natureza interna do ser humano. Mas para um bom negociador é imprescindível o conhecimento destas caracte- rísticas. Vejamos as principais. aula 2 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 23 2.2.1 Percepção Apesar de o ambiente externo nos influenciar, tendemos a interpretar isso conforme a nossa percepção. E a partir dessa imagem que fazemos da reali- dade é que agimos, ou seja, nos comportamos. Cada pessoa percebe a realidade de acordo com a sua própria percepção de mundo. Para você ter uma idéia, analise as figuras a seguir e diga o que está vendo. Figura um: um coelho ou um pato? Figura dois: uma taça ou duas faces de rosto? Figura três: uma senhora ou uma moça? FIGuRA 1 FIGuRA 2 FIGuRA 3 Fonte: http://images.google.com.br. Acesso em: 12 fev. 2008. Na negociação, a percepção é um dos pontos mais relevantes da relação porque, mesmo que as partes venham a concordar sobre uma situação obje- tiva, como a necessidade de venda de produtos, elas podem discordar e atribuir pesos e valores diferentes para a questão da quantia a ser paga e do valor a ser cobrado pelos produtos. Você já consegue visualizar a importância da percepção? Veja então, o que diz Mello (2007) na citação a seguir. Para negociar de forma cooperativa, é necessário perceber correta- mente a pessoa do outro negociador e isso não é tarefa fácil. Pessoas diferentes têm necessidades, motivos, formar de agir e pensar total- mente diferentes e estes fatores devem ser levados em consideração para que a negociação tenha sucesso (MELLO, 2007, p. 98). Ou seja, nem sempre o que considero bom para mim o é para o outro, pois cada ser tem uma percepção de valor diferente. É importante investigar a percepção do outro para agir de forma mais eficiente na busca de um acordo bilateral. Mas que fatores influenciam na cons- tituição da percepção? Vejamos... 2.2.2 Expectativas O fator expectativas corresponde aos fatos e acontecimentos que esperamos que se realizem, ou seja, criamos e formamos um ambiente para que a ação saia conforme previmos. aula 2 • nEgociação 24 8º PErÍodo • administração • unitins Mas o que isso tem haver com negociação? Tudo. Sim, geralmente, na nego- ciação criamos expectativas em relação à outra pessoa e esperamos que elas se confirmem. O que nem sempre é possível. De acordo com Wanderley (1998, p. 51), uma das formas da expectativa é o chamado Efeito Pigmalião, que consiste em transformar em realidade aquilo que se espera seja a realidade. Este autor nos traz um exemplo de um teste reali- zado na Universidade de Harvard com alunos de uma escola primária. Os alunos foram escolhidos aleatoriamente e separados em duas turmas distintas (A e B). Depois escolheram uma professora que lecionaria para eles. Disseram para a professora que os alunos da turma A eram excelentes e os da turma B, problemáticos. Após algum tempo, os alunos foram submetidos a um teste onde os estudantes da turma A tiveram notas consideravelmente melhores que os da turma B. Isto significa que a professora adotou uma postura diferente para com os alunos, conforme as suas expectativas. Por isso é importante avaliar as expectativas das partes envolvidas no processo de negociação para que não se chegue a um resultado demasiada- mente diferente daquilo que se esperava. Avaliar as nossas próprias expecta- tivas é bem mais fácil do que analisar a outra parte. Para fazer isso, é preciso ter um relacionamento estreito, seguro e confiável. Shell (2001, p. 35) recomenda que é importante nos colocarmos no lugar do outro por quatro razões, que demonstramos a seguir: estamos acostumados a defender primeiro os nossos próprios interesses;a) mesmo as pessoas mais prestativas carregam algum traço de b) competitividade; a dinâmica do processo de negociação facilita naturalmente a c) competição; talvez ninguém nunca lhe tenha falado para colocar-se no lugar do outro d) em uma negociação. Estas recomendações se tornam um passo importante, para o negociado, no conhecimento dos sentimentos e emoções que influenciam o processo de negociação. 2.2.3 Emoções, sentimentos e desejos Como sabemos, o ser humano é repleto de emoções, sentimentos e desejos que também interferem no seu comportamento e ditam as relações entre as pessoas. Tendemos a ser mais compreensivos com as pessoas por quem temos mais sentimentos, aqueles com quem mantemos relações mais estreitas. De acordo com o nível de sentimentos e de relacionamento, a pessoa tem uma percepção diferente da outra, quanto maior esse nível, mais confiança, diálogo e possibilidade de um acordo. O contrário também é válido. Quanto menor o aula 2 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 25 nível de sentimentos, menor a confiança e o diálogo. Com isso, o desfecho da negociação tende a não ser positivo. Um negociador deve estabelecer uma relação de confiança com a outra parte, deve cultivar bons sentimentos e manter um diálogo franco. 2.2.4 Julgamentos e ações Valemo-nos de alguns dispositivos internos para decidir em que devemos prestar atenção e a forma de organizar e processar determinada informação. Para Wanderley (1998, p. 52-53), existem cinco metaprogramas (como ele chama esses dispositivos) que orientam nossas ações. Aproximação e afastamento• : é uma tendência que o ser humano tem de mover-se em busca de algo do seu interesse e se afastar daquilo que tem como errado e/ou prejudicial. Ex.: a busca pelo prazer e a fuga da dor e do desprazer. Introvertido e extrovertido• : pessoas introvertidas são aquelas preocu- padas apenas com seus interesses. Já as extrovertidas preocupam-se com o relacionamento, com os outros. Internos e externos• : internos, são pessoas que resolvem tudo ao seu jeito e só levam em conta a sua própria opinião, sem buscar apoio de outros. Os externos são muito voltados para o relacionamento e a opinião dos outros. Associadorese dissociadores• : os primeiros são pessoas que conseguem enxergar semelhanças e estão mais voltadas para o global. Os dissocia- dores visam mais as diferenças e estão mais focados nos detalhes. O que temos de fazer para convencer alguém• : este dispositivo está rela- cionado ao número de vezes que se deve repetir uma mensagem para que a outra pessoa consiga entender e aceitá-la. Isso não quer dizer que, para convencer uma pessoa, basta ficar repetindo a mesma coisa para ela diversas vezes, mas que cada pessoa tem um tempo de assimi- lação diferente do outro. Cada pessoa tem esses dispositivos em um grau diferente de desenvolvi- mento. Por exemplo, uma pessoa pode ser extrovertida em 80%, mas ser intro- vertida em 20% das situações a que for submetida. Estes fatores devem ser considerados no processo de negociação para que você saiba delimitar o seu campo e limite de ação. 2.2.5 Crenças e valores O sistema de crenças e valores que cultivamos e interiorizamos é respon- sável por boa parte dos nossos comportamentos, de tal modo que muitas vezes nem percebemos o quanto somos influenciados. aula 2 • nEgociação 26 8º PErÍodo • administração • unitins Em um processo de negociação, estas crenças e valores devem ser conhe- cidos e respeitados para não se tornarem um fator de desacordo. Temos muitos exemplos em que pelo desconhecimento destes fatores, principalmente em negociações internacionais, nas quais estão em jogo culturas, crenças e valores diferentes, nossos governantes e negociadores têm passado por muitas gafes e perdido muitos negócios. 2.2.6 Necessidades O fator mais determinante do nosso comportamento são as necessidades, pois elas são as motivadoras e as estimuladoras das nossas ações, sejam essas ações em busca de satisfazer, ou evitar a privação de, alguma das nossas necessidades. Estas necessidades já foram amplamente estudadas durante o curso, quando foi abordado o estudo das teorias motivacionais de Maslow, Herzberg, MacGregor e outros. Vamos nos deter em alguns aspectos básicos que constituem a estrutura destas teorias: a realização, o reconhecimento, a associação e a segurança. A realização é a necessidade de atingir metas e obter resultados. O reco- nhecimento é a necessidade de a pessoa se sentir importante para si mesma e para outras pessoas. A associação é a necessidade de socialização que uma pessoa tem em relação ao ambiente em que vive. Segurança é a necessidade de certeza, de proteção e de não exposição. Estas necessidades também estão distribuídas nas pessoas em níveis e graus diferentes. Em algumas pessoas estes níveis estão equilibrados, já em outras há um desequilíbrio que causa insatisfação. Também se torna fundamental conhecer as necessidades da pessoa com quem vai se negociar, saber quais níveis já supriu e quais ainda estão por serem satisfeitos. Isto facilita o diálogo e favorece a boa negociação. Na pirâmide de Maslow, ainda podemos citar as necessidades fisiológicas (alimento, roupas, etc.) e as necessidades de auto-realização (crescimento indivi- dual e utilização plena do seu potencial). A primeira está na base da pirâmide e a segunda no topo. Lembram-se? Pois é, na negociação, as necessidades humanas merecem atenção e estudo!!! Para concluir esta aula, é importante ressaltar que estas estratégias inerentes ao ser humano devem ser percebidas e desenvolvidas com o intuito de trazer benefícios para o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo. No campo da negociação, elas se tornaram determinantes para o sucesso ou fracasso, de acordo com a amplitude do conhecimento e uso de que se tem destes fatores. Aproveite a oportunidade e aprofunde o seu conhecimento sobre estas questões. Estude, pesquise e avance!!! aula 2 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 27 Síntese da aula Nesta aula, relembramos e relacionamos alguns conhecimentos sobre o comportamento humano com foco no processo de negociação. Vimos que a percepção, as expectativas, os sentimentos, crenças, valores, julgamentos e necessidades são elementos que devem ser analisados, estudados e mais do que isso, devem ser utilizados para o melhor conhecimento e estreitamento das relações nas atividades empresariais. Então, para não perder tempo, vamos exercitar estes conhecimentos? Hora de colocar os neurônios para funcionar. Sucesso!!! Atividades 1. Preencha as lacunas a seguir com base nos conhecimento sobre as estraté- gias comportamentais e psicológicas do comportamento humano. O processo de negociação envolve ____________________, interação e a) troca de experiências. Cada pessoa avalia a _________________ conforme a sua própria b) percepção. Nos comportamos segundo as ________________ que criamos ou c) tomamos por verdade. As _______________, _______________ e __________________ são d) responsáveis por estreitar ou afastar as relações entre duas pessoas. A ação de ________________ e _________________ é uma tendência e) que o ser humano tem de repelir algumas coisas e/ou situações e mover- se atrás de outras de seu interesse. 2. Você tem uma prova na segunda-feira, mas sua (seu) namorada (o) lhe deu um ultimato para sair com ela (ele) no sábado, pois ultimamente não tem dado atenção à ela. Sua mãe está em cima para que você estude, pois suas notas não estão nada bem... Planeje uma negociação do tipo ganha/ ganha levando em consideração o conjunto de estratégias comportamentais e psicológicas dos envolvidos nesta trama. Boa Sorte!!! Comentário das atividades Na atividade um, você resgatou os conhecimentos sobre as estratégias comportamentais na negociação. Na letra (a), a resposta correta para a lacuna é (relacionamento) sendo um dos principais ingredientes do processo de nego- ciação; para a letra (b), a resposta é (realidade), pois cada pessoa tem uma percepção diferente de um mesmo fato; já na letra (c), o correto é (expectativas), aula 2 • nEgociação 28 8º PErÍodo • administração • unitins visto que elas são responsáveis por boa parte da determinação de como nos posicionamos diante de algumas situações; com relação à letra (d), a resposta correta é (emoções, sentimentos e desejos) que são influências fortes que afetam as relações; e por último, a letra (e), o correto é (aproximação e afastamento) que são tendências inatas ao ser humano. Na atividade dois, você deve ter exercitado a capacidade de negociar, tendo em vista os conhecimentos que vimos até o momento. Como uma das delimita- ções do exercício era fazer o planejamento com base no posicionamento ganha/ ganha, você deve ter pensado em algo que favoreça todas as partes, ou seja, sua mãe, o (a) namorado (a) e você mesmo. Então pode ter pensado em negociar com sua mãe que, em compensação, iria passar a tarde de domingo estudando e que iria à igreja com ela, visto que tem uma firme crença. Para o (a) namorado (o) você diria que iria, mas deveria fazer umas pesquisas na internet para colaborar com seus estudos. Você ganharia um passeio, a gratidão de sua mãe e possibilidades de boas notas futuras. Então, como você pensou? Envie-nos sua resposta na intera- tividade e vamos conhecer alternativas possíveis? O que acha? Ao realizar essas atividades, você demonstrou compreender os fatores e influências comportamen- tais e psicológicas que caracterizam o negociador, que é objetivo desta aula. Referências CARVALHAL, Eugênio do et al. Negociação e administração de conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2006. MELLO, José Carlos Martins F. de. Negociação baseada em estratégia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. SHELL, G. Richard. Negociar é preciso. São Paulo: Atlas, 2001. WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Gente, 1998. Sítio: http://images.google.com.br. Acesso em: 17 jan. 2008. Na próxima aula Vamos conhecer melhor alguns aspectos das relações interpessoais e suas interferências em um processo de negociação. Aproveite para relembrar o que já estudamose consolidar o conhecimento! Bom proveito! Anotações aula 3 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 29 Objetivo Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: identificar as habilidades, as estratégias de comunicação e os comporta-• mentos inerentes às relações interpessoais, que influenciam no processo de negociação. Pré-requisitos Para você acompanhar bem esta aula é interessante que tenha entendido bem o processo de administrar conflitos, gerenciar pessoas, percepção das habilidades e competências dos colaboradores e o processo de comunicação em grupo, pois são importantes para o entendimento das relações e suas características durante uma negociação. Estes conhecimentos você encontra nas disciplinas de Gestão de Pessoas (3º período) e Psicologia Aplicada às Organizações (2º período). Introdução Que o relacionamento é primordial no processo de nego- ciação é evidente e claro, apesar de muitos empresários não se darem conta disso. Mas saber exatamente quais os aspectos mais importantes, as habilidades, a melhor comu- nicação e os comportamentos a serem desenvolvidos para alcançar uma negociação eficaz, são elementos pouco conhecidos e explorados. Apenas os bons nego- ciadores, empresários e grandes homens se aprofundam nestas áreas. Mas este não seria um processo maquiavélico, no qual há todo um planejamento para desenvolver um relacionamento cujo objetivo é a negociação? Novamente aqui, depende dos princípios e valores que o indivíduo cultiva. O relaciona- Boas relações, boa negociação? Aula 3 aula 3 • nEgociação 30 8º PErÍodo • administração • unitins mento deve surgir não em função na negociação, mas da identificação e afini- dades existentes entre as partes. Afinal a grande maioria das pessoas tem algo em comum ou alguma coisa em que é possível desenvolver diálogo agradável. Além disso, este relacionamento é de caráter comercial e não pessoal (o que pode vir a ser). Sem relacionamento não há negociação. Por isso, vamos conhecer algumas estratégias que podem melhorar a relação em uma negociação. Animado? Então vamos em frente! 3.1 A Janela de Johari e o processo de comunicação A janela de Johari foi desenvolvida por Joseph Luft e Harry Ingham e representa as maneiras como uma pessoa se relaciona com outra. Veja o esquema a seguir. Quando nos relacionamos com outra pessoa existe uma parte ou situação que conhecemos e outra que desconhecemos deste indivíduo. Da mesma forma, o outro indivíduo em relação a você. Destas rela- ções surgem quatro possibilidades. O primeiro quadrande é a área aberta, ou seja, são fatos ou informações conhecidas tanto por você quanto pelo outro. No segundo quadrante, está a área cega, que é aquela parte sua ou da situação que lhe interessa, que você desconhece, mas que o outro conhece. Já o terceiro quadrante é a parte que você conhece e o outro desconhece. Por último, está o quarto quadrande que corresponde à parte desconhecida por ambos. Em todos os relacionamentos este esquema entra em ação, principalmente em uma negociação. No início a parte aberta é menor e se alarga à medida que a relação evolui com a descoberta da fachada e da área cega. O aspecto desconhecido pode ou não vir a ser explorado, essa exploraçao devendo ser feita de forma compartilhada. Em um processo de negociação, torna-se básico descobrir as fachadas e áreas cegas do outro negociador para se chegar a um acordo benéfico para ambas as partes. Conhecer este processo de comunicação torna-se estratégico no desenvolvi- mento de uma negociação. E mais do que conhecer, deve-se fazer bom uso dos mesmos. Então, experimente com seus amigos em uma próxima negociação! O que acha? Bola pra frente... Janela de Johari A pessoa consideradaO O U T R O Conhecido Desconhecido Aberta Fechada Cega Desconhecida Conhecido Desconhecido Fonte: Wanderley (1998, p. 85). aula 3 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 31 3.2 Os níveis de Rapport Rapport significa o nível de sintonia e harmonia existente em uma relação. Também define o tipo e a qualidade de relacionamento entre negociadores. Segundo Wanderley (1998, p. 86), existem três grupos de rapport. Sedução e muito quente: implica um alto envolvimento emocional, que pode • acarretar em perda de discernimento e incapacidade de analisar com clareza e objetividade uma situação para tomar a decisão mais racionalmente. Entusiasmo, identificação/cooperação, compreensão e indiferença/• neutralidade: são os que permitem analisar situações e tomar decisões com propriedade. É o grupo intermediário. Frieza e hostilidade: como o primeiro, pode comprometer a capacidade • de análise das situações, da maneira de decidir e agir. O primeiro e o último grupo não são indicados para fazer parte de um processo de negociação, a não ser que se queira manipular ou intimidar a outra parte, o que não se caracteriza como negociação. No segundo grupo, pode parecer estranho o fato da indiferença/neutrali- dade, mas em algumas situações temos que agir desta forma para não deixar o emocional se sobrepor ao racional. Pessoas com as características deste grupo proporcionam um clima necessário para refletir, identificar caminhos e decidir em conjunto. Vejamos outros instrumentos!!! 3.3 Matriz de Relacionamento A Matriz de Relacionamento foi criada por Kleber Nascimento citado por Wanderley (1998, p. 87) e tem como objetivo colaborar no entendimento das relações. No relacionamento devemos considerar dois fatos: o conteúdo e a forma. Sobre o conteúdo, ele pode ser verdade ou mentira. E quanto à forma, pode ser desenvolvida com respeito e com desrespeito. Veja novamente um esquema representativo. A posição um significa um relacionamento com base na mentira e no desrespeito. É a forma mais antiética e desumana. No segundo quadrante a relação se fundamenta na verdade , mas com desrespeito à outra parte. Existem muitos casos típicos desta situação, onde uma parte acredita que tem mais conhecimento, vantagens e argu- mentos para se contrapor ao outro negociador. Deixa o orgulho e a vaidade imperarem. Conhece alguém assim? Muitos, não é? Fonte: Wanderley (1998, p. 87). Matriz de Relacionamento A F O R M A Mentira Verdade R/M (3) D/M (1) R/V (4) D/V (2) Respeito Desrespeito aula 3 • nEgociação 32 8º PErÍodo • administração • unitins Na terceira opção, temos uma relação de mentiras, mas com respeito e cuidado pelo outro. E este tipo, você conhece? Aquela pessoa que te elogia, mas no fundo quer te estrangular ou aqueles que dão um tapinha nas suas costas, te chamam de amigo, mas na verdade querem sua cabeça. Reina a farsa e frieza. Por último, temos a melhor forma de se relacionar, a verdade dita com respeito e consideração à outra parte. Muitos acreditam que a estratégia, a tática e o planejamento em uma nego- ciação vale tudo, mas podem ter certeza de que a transparência, a franqueza, o respeito e a verdade são as melhores armas da negociação. Estes ingredientes fornecem segurança, confiança e estreitamento das relações. Isto não implica que todas as informações devem ser repassadas ao outro negociador. Desde que a informação que for ocultada não prejudique o acordo, pode-se fazer uso desta estratégia. Assim percebemos que existem duas formas de reagir à mentira, aos desres- peitos e aos impasses. Segundo Wanderley (1998, p. 88), pode-se usar os seguintes mecanismos psicológicos. Agressão• : sair do foco da negociação e dirigir os esforços para atingir o ego da outra pessoa. Fixação• : bater na mesma tecla insistentemente, mesmo quando a situ- ação está tensa. Se não está tendo resultado, a melhor estratégia é mudar o foco. Regressão• : indivíduos que entram em um processo de insatisfação contínua ficam amuados e de cara feia. Isto só complica a negociação. Resignação• : há também aqueles que preferem não enfrentar a situação e recuam, satisfazendo- se com o mínimo necessário. Racionalização• : pessoasque dão uma desculpa ou justificativa para não ver ou encarar a essência da negociação. E como não têm um bom desem- penho, eles não admitem o erro ou a deficiência e preferem se justificar. Compensação• : ao sair frustrado de uma negociação, a pessoa procura, em outro ambiente ou em outro relacionamento, descontar o prejuízo emocional e material. Estas formas de reagir dentro de uma negociação apenas agravam a situ- ação, aguçam os conflitos e impasses. Portanto resta a outra forma de se posi- cionar, que é com base no respeito/verdade, sem perder o foco do objetivo da negociação. Para isso é fundamental: separar os problemas das pessoas com quem se está negociando • – Não se pode confundir idéias, posições e interesses antagônicos com a pessoa do outro negociador. Por isso, os negociadores não podem ser tratados como inimigos, com raiva, de cara-feia ou com algum mecanismo psicológico. aula 3 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 33 compreender e se fazer compreender • – Entenda interesses, alterna- tivas, necessidades e posições do outro. Isto gera satisfação, boa vontade e cooperação. Nesta mesma linha de raciocínio, podemos dizer, ao invés de respeito/ desrespeito, falar amor/desamor. Então temos a escolha de nos comunicarmos com base na verdade com amor ou com desamor. Talvez, muito mais drástico: a mentira com amor ou com desamor!!! E aí, qual a sua escolha? 3.4 Comunicando-se de forma eficaz Desde os primeiros anos de estudo, conhecemos o processo de comuni- cação humana, mas parece que demoramos a apreender a nos comunicarmos de forma a sermos entendidos com precisão. Comunicação é o processo pelo qual uma idéia é transmitida de uma fonte para um receptor, podendo haver um feedback ou a retroalimentação do processo com uma nova comunicação por parte do receptor. Mas o que acontece com freqüên cia, é que entendemos e damos significados diferentes para a fala do receptor. Vamos entender melhor este processo, por meio do triângulo lingüístico. Toda vez que precisamos nos comunicar, temos um objeto de comunicação (o que queremos transmitir), símbolos ou palavras (instrumento de transmissão) e os significados do que queremos comunicar. Com isso, pergunta-se: a mensagem terá o mesmo significado tanto para o emissor quanto para o receptor? Já sabemos que não, certo? Mas por que isto acontece? Também já comentamos sobre isso, mas vamos relembrar. O significado das coisas e palavras é formado na mente das pessoas de acordo com seus valores, crenças, cultura, educação e relação com o ambiente em que as pessoas vivem. Então cada um percebe ou entende de uma forma própria. Mas e agora? Se todos não entendem o que eu falo, como vou negociar? Calma, em primeiro lugar, essa definição não pode ser feita de forma radical. As pessoas entendem um contexto geral, mas nas entrelinhas podem associar a mensagem a qualquer outro entendimento, ou seja, as palavras podem ter significados diferentes. Para Wandeley (1998, p. 92), existem três mecanismos que contribuem para o entendimento da mensagem: distorções, omissões e generalizações. Algumas mensagens podem ser distorcidas em função de nosso estado mental, grau de expectativas ou da ótica específica que damos a determinada comunicação, ou seja, quase sempre projetamos nossas idéias na mensagem da outra pessoa. Por exemplo, se você é especialista em marketing e vai negociar com uma pessoa leiga ou de outra área do conhecimento, existe uma probabilidade grande de você interpretar as mensagens à luz do markteting. A pessoa pode estar falando de posição estética e você está entendendo posicionamento de mercado. aula 3 • nEgociação 34 8º PErÍodo • administração • unitins Há também os casos de omissões de alguma coisa ou situação desagra- dável que o indivíduo deixa de esclarecer. Adiante, estes fatos podem prejudicar ou mesmo tornar impossível a negociação. É como naqueles casos em que você está negociando algo e quando está prestes a fechar o negócio, o vendedor diz que só pode entregar no prazo de 15 dias, sendo que todas as suas expectativas e diálogo eram para ter o produto no momento da compra. Já aconteceu isto com você? Não é frustrante e desagradável? Mas acontece... Por último, existem as generalizações. A partir de um dado ou informação, já caracterizamos toda a situação. Isto é próprio do ser humano. Exemplo: se uma pessoa vestiu-se mal em uma ocasião, já é taxada de um sem elegância ou maltrapilho. Para evitar as generalizações ou as palavras com vários significados, o ideal é especificar ao máximo. Uma das formas de especificação é o processo chamado de metamodelagem, composto por categorias lingüísticas. Apesar de haver várias categorias na área da negociação, elas podem ser resumidas conforme o quadro a seguir. CATEGORIAS LINGÜÍSTICAS EXEMPLOS ESPECIFICAÇÃO (PERGuNTAS-CHAVE) Nomes (substantivos) Aqueles negociadores são palpiteiros. Isto é um problema de comunicação. Perguntas com que ou quem. Quem ou que negociadores, especificamente, são palpiteiros? Que problema de comuni- cação, especificamente. Verbos Vou falar sobre o seu desem-penho na negociação. Como você vai falar? Obrigatórios/ limitativos (tem de, deve, não deve, não pode, etc.) Você tem de assinar este contrato. Você não vai conseguir. O que aconteceria se não assinasse? Qual a conseqü- ência de não assinar? O que o impede de conseguir? Universais (todos, sempre, ninguém, nunca) Ninguém merece confiança. Sempre honramos nossos compromissos. Buscam-se exceções. Ninguém merece confiança? Sempre honraram seus compromissos? Comparações sem padrão, como melhor, pior Temos o melhor produto do mundo. Comparado com o quê? Ou em relação a quê? De acordo com o quê? Fonte: Wanderley (1998, p. 94). Estes são apenas alguns exemplos para que você possa ser mais específico e se fazer melhor entendido em uma negociação, sem ser frio ou grosseiro. A seguir, algumas dicas para que o processo de comunicação seja uma solução e não um problema. aula 3 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 35 Fale com um objetivo. Defina com clareza o propósito da sua comunicação.• Considere que a efetividade da comunicação está na resposta que ela • provoca e não na sua intenção. Mesmo querendo elogiar, se a pessoa se sentiu ofendida, não importa qual era a sua intenção, você ofendeu a pessoa. Por isso, fique atenta aos impactos da sua mensagem. O emissor, e não o receptor é responsável pelo entendimento da mensagem.• O significado está nas pessoas e não nos símbolos. Cada pessoa pode ter • uma compreensão diferente da mesma palavra. Procure analisar se compreendeu bem o que a outra pessoa quis dizer, • sem julgar ou avaliar, antes de analisar a mensagem sob seu ponto de vista e responder. Respeite os sentimentos dos outros quando são diferentes dos seus. Crie • um clima que facilite a comunicação. Esforce-se conscientemente para construir possibilidades de retroalimen-• tação (feedback) nas comunicações ineficientes. Escute ativamente e registre o que está sendo dito.• Utilize todos os sentidos para se fazer entendido. Use recursos áudio-visuais.• Metamodele para não ser surpreendido por generalizações, imprecisões • e falsos pressupostos. Se a resposta que você está obtendo não é a que queria, crie outras formas de • se fazer entender. Não fique repetindo uma coisa que não está dando certo. Para Sayed (2003, p. 40), a negociação deve ser encarada como uma arte que, neste caso, é entendida como aquilo que se aprende e se aprimora na prática, sendo formada por três elementos: a criatividade, a sensibilidade e a intuição. Sayed afirma que para desenvolver uma negociação bem-sucedida deve-se aprender sobre o processo de negociação, compreender a si mesmo e buscar a construção de melhores relacionamentos. Saiba mais Finalizando, podemos dizer que a negociação pode ser considerada como a oportunidade de desenvolvimento e fortalecimento das relações.Com base nisso, é preciso que o bom negociador faça perguntas, ouça atentamente, concentre-se nos seus objetivos e estude a outra parte, avaliando os seus interesses, desejos e objetivos. O equilíbrio deve permear todo o processo de negociação, indepen- dentemente de como age a outra parte. aula 3 • nEgociação 36 8º PErÍodo • administração • unitins O processo de negociação deve manter uma perspectiva de preservação da ética, dos valores e do bom relacionamento, afinal estamos lidando com seres humanos exatamente como nós, ou seja, seres cheios de expectativas, percep- ções diferentes e necessidades próprias. Então, uma boa relação se traduz em uma boa negociação? Talvez não, mas uma boa negociação sempre se dá com uma boa relação. Entendeu?! Agora é só praticar... Vamos nessa? Síntese da aula Nesta aula, vimos à importância do cultivo e desenvolvimento de um rela- cionamento com base no respeito e na verdade. Notamos o quanto o processo de comunicação pode determinar o desfecho de uma negociação. Temos que ter cuidado com as palavras, seus significados e principalmente com a interpretação que a outra pessoa está fazendo. A harmonia e a sintonia devem permear a negociação e a relação entre negociadores. É isso aí! Vamos exercitar a mente e recordar um pouco? Manda ver... Atividades 1. De acordo com a Janela de Johari, o que se deve fazer para tornar o relaciona- mento saudável e proveitoso em uma negociação. Marque a alternativa correta. Expandir as áreas cegas e desconhecidas da janela de Johari.a) A melhor estratégia é manter uma fachada, onde a outra parte pense que b) está se dando bem, mas na realidade apenas você irá se beneficiar. Diminuir as áreas cegas e as fachadas, aumentando a área aberta, ou c) seja, cultivando a transparência, a verdade e o respeito. Diminuir a área aberta para que o outro negociador não consiga infor-d) mações importantes para a negociação. 2. Estudo de Caso: o seu gerente pede para desenvolver um trabalho e entregar no máximo até o outro dia, às 8h da manhã. Além de você ter certeza de que não terá tempo suficiente para terminar, não concorda com a metodologia que o gerente determinou. Com base neste caso, indique algumas estratégias de relacionamento que você poderia utilizar para convencer o gerente a mudar a metodologia e o tempo de entrega. Comentário das atividades Tenho certeza de que você respondeu rápido à atividade um, certo? Este exercício deve ter sido útil para você relembrar os fatores mais importantes em aula 3 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 37 um relacionamento: a verdade, o respeito, a transparência e a ética. Por isso, a alternativa correta é a letra (c), visto que na (a), expandir às áreas cegas e desconhecidas o tornaria impossível qualquer negociação, pois você seria uma pessoa fechada e instransponível. Já na alternativa (b) e (d), manter uma fachada ou diminuir a área aberta, são atitudes antiéticas e que levariam a negociação para um desfecho unilateral, ou seja, benefício só para uma parte. Na atividade dois, buscou-se colocar em prática os conhecimentos que esta aula pode oferecer, tais como estratégias de relacionamento, comunicação e comportamento em um processo de negociação. Você poderá ter respondido que a principal estratégia de um relacionamento é manter a verdade, o respeito e a ética. Daí poderia ter procurado o gerente para uma conversa (em um momento apropriado), utilizaria a metamodelagem para se fazer bem enten- dido e demonstraria algumas vantagens que a empresa poderia obter se você tivesse mais tempo e fizesse o trabalho de outra forma. Por exemplo, a empresa obteria mais lucros, mais clientes ou ampliaria sua participação no mercado. Outra tática seria especificar bem os seus planos para que o gerente tivesse uma percepção mais clara da situação. Manter a sintonia e harmonia é essen- cial nestes casos. Faça um teste na prática e exercite, seja um bom negociador! Dessa forma, você estará identificando as habilidades, as estratégias de comuni- cação e os comportamentos inerentes às relações interpessoais, que influenciam no processo de negociação, que é o objeto desta aula. Referências SAYED, Kassem Mohamed El. Fae Business, n. 7, nov. 2003. WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Gente, 1998. Na próxima aula Vamos saber os aspectos aos quais devemos estar atentos no ambiente da negociação, afinal só as atitudes e características dos negociadores não são sufi- cientes para garantir o sucesso da operação. Prontos para mais conhecimentos? Então siga em frente... Anotações aula 3 • nEgociação 38 8º PErÍodo • administração • unitins aula 4 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 39 Objetivo Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: identificar os principais aspectos e características do ambiente interno e • externo de uma negociação. Pré-requisitos Para melhor compreender esta aula, é preciso que você entenda como a política, as leis, o mercado, a cultura organizacional, o perfil e as caracterís- ticas das pessoas fazem parte de um ambiente que interfere nas decisões e processos da empresa. Estes conhecimentos foram demonstrados nas disciplinas de Planejamento Estratégico e Inteligência Competitiva (5º período), Gestão de Pessoas (3º período) e Gestão da Mudança Organizacional (6º período) e permitem a você construir um raciocínio melhor sobre o conteúdo que iremos demonstrar aqui. Então recorde e aprenda muito mais!!! Introdução O desempenho de uma negociação não se restringe apenas às habili- dades e características dos negociadores. Não basta se comunicar bem, especificar, ter uma relação razoável, é preciso conhecer e avaliar uma série de outros aspectos inerentes ao ambiente da negociação. O ambiente de uma negociação é constituído da seguinte forma: o local onde se desenrola a negociação, as pessoas e os fatores organizacionais (internos) que interferem no processo e os fatores externos, como tecno- logia, política, economia, meio ambiente, fatores jurí- dicos, internacionais e sociais. Agora, vamos conhecer as características de cada componente deste ambiente, o grau de influ- Conhecendo o ambiente e as características do negócio Aula 4 aula 4 • nEgociação 40 8º PErÍodo • administração • unitins ência e as estratégias que podemos utilizar para controlar ou pelo menos atenuar estas interferências. Então prepare sua bagagem que lá vem mais conhecimentos... 4.1 O Território da negociação e seus principais protagonistas As pessoas responsáveis pelas decisões em uma negociação não são, neces- sariamente, a liderança da empresa, mas qualquer pessoa com competência, habilidades, conhecimento e autoridade para atuar como negociador da orga- nização. Dependendo da complexidade da negociação, são envolvidas mais de uma pessoa no processo. A negociação pode se desenrolar simultaneamente ou separadamente com cada negociador ou decisor. O local da negociação, ou território, pode ser definido tanto pelo espaço físico em que acontece a negociação, como pelo espaço pessoal, ou seja, a área que delimitamos para estabelecer um diálogo com outra pessoa. Estudos demonstram que esta área está em torno 50 cm ao nosso redor. Mas varia de pessoa para pessoa ou de país para país. 4.2 Os negociadores e o ambiente Como comentamos anteriormente, os negociadores podem ser pessoas dele- gadas e com autoridade dada pela liderança da empresa para desenvolver a negociação. Por isso mesmo é importante saber que existem pessoas que influen- ciam a decisão do negociador. Wanderley (1998, p. 70) denomina estas pessoas de eleitorado, ou seja, são as pessoas a que os negociadores, direta ou indiretamente, devem algum tipo de satisfação, querem agradar, têm alguma espécie de temor ou tomam como modelo. Podemser os chefes, colegas de trabalho, familiares ou amigos. Muitas vezes, são estas pessoas que realmente decidem a negociação, definem os limites, critérios e estratégias a serem adotadas. Os aspectos logís- ticos, tecnológicos e estruturais de uma negociação são de responsabilidade da organização e dão sustentabilidade ao processo decisório de uma negociação. Uma negociação com seqüestradores sem o apoio dos grupos de policiais espe- cializados, dos bombeiros, dos veículos e dos instrumentos tecnológicos poderia ter um fim trágico. Trabalho em equipe, suporte tecnológico e logístico são fundamentais para criar um ambiente tranqüilo e agradável em uma negociação. 4.3 As influências do ambiente externo O ambiente externo é bastante amplo e variável, envolvendo questões macroeconômicas, sociais, culturais, ambientais e políticas. Em se tratando de aula 4 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 41 negociações a nível internacional, a complexidade é ainda maior e pode incluir as questões culturais e de opinião púbica. Em negociações fora do território, o melhor é seguir a regra em Roma, aja como os romanos, mas lembre-se de que existem muitos tipos de romanos e cada um tem uma maneira de negociar. Sun Tzu citado por How, Sheang e Hidajat (2005, p. 35), a mais de dois mil anos, já dizia que Aquele que possui minucioso conhecimento de si mesmo e do inimigo está fadado a vencer todas as batalhas. Aquele que conhece a si mesmo, mas não ao inimigo tem chances iguais de vencer ou perder. Aquele que não conhece nem a si mesmo nem ao inimigo está fadado a perecer em todas as batalhas. No ambiente interno, a primeira questão é identificar quem realmente tem autoridade e poder para decidir e as limitações de quem está negociando. Depois é preciso definir bem e especificar o objetivo da negociação. Já no ambiente externo, é preciso estudar previamente os fatores sociais, culturais e econômicos que estão presentes na organização ou no país em que se deseja negociar (em caso de negociações internacionais). 4.4 Conhecendo o negócio Conhecer o negócio ou o assunto da negociação é simplesmente básico para um negociador. Não saber é igual ao vendedor de eletrodomésticos que apenas informa o preço e as formas de pagamento, mas não tem idéia do funcio- namento, das características técnicas ou vantagens utilitárias do equipamento. Na negociação não é diferente. Segundo Wanderley (1998, p. 75), conhecer sobre o assunto ou o negócio é encontrar soluções e benefícios que atendam aos interesses das partes. Quanto aos produtos e serviços, é importante conhecer suas características, as soluções e benefícios que servirão aos clientes. Sobre a clientela, é necessário saber seus desejos, expectativas e necessi- dades, bem como seus estilos de vida e sua personalidade. 4.5 Margem de negociação A margem de negociação consiste na faixa de valores que vai do melhor resul- tado possível, aquele que é desejável, ao menor acei- tável, o mínimo necessário ou limite. Vamos verificar quatro situa ções típicas em negociação, abordadas por Wanderley (1998, p. 79-80). 1. Situação de impasse. O vendedor e o comprador estabelecem valores mínimos de negociação de um produto de forma arbitrária. Comprador Vendedor R$ 150 R$ 120 R$ 100 R$ 80 aula 4 • nEgociação 42 8º PErÍodo • administração • unitins O produto custa R$ 150, o vendedor só vende por, no mínimo, R$ 120 e o comprador só paga, no máximo, R$ 100. 2. Situação sem distorção. O valor desejável do vendedor (150) está acima do limite ou valor máximo que o comprador admite pagar (130), assim como o valor desejável do comprador (110) está abaixo do limite do vendedor (120). Nesta situação, o objetivo de cada um dos negociadores será buscar um valor mais próximo do desejável, o que significa desco- brir qual é o limite do outro. 3. Situação com distorção. O valor limite do vendedor (125) é inferior ao valor desejável do comprador (130). O comprador perde a oportunidade de conhecer o valor mínimo do vendedor. Em alguns casos, o lance inicial do comprador chega a ser tão elevado que atende às expectativas mais otimistas do vendedor. 4. Situação de margem mal formulada. O valor desejável do vendedor (140) está abaixo do limite, ou valor máximo, que o comprador está disposto a pagar (150). Neste caso, o vendedor perde a oportunidade de conhecer o valor máximo do comprador. Então é preciso cautela ao estabelecer as margens de negociação. Uma tática bastante utilizada é fazer o lance inicial bem alto, em situações de venda, e baixo o suficiente em situações de compra. Assim concluímos que durante o processo de negociação é imprescindível observar as características internas e externas do ambiente, estudá-las com prudência para estabelecer as melhores estratégias e ações de modo que as partes alcancem os objetivos propostos. Síntese da aula Nesta aula, tivemos a oportunidade de conhecer os aspectos e caracterís- ticas inerentes ao ambiente interno e externo em uma negociação. Para obter sucesso é preciso conhecer bem o negócio, o local onde irá se desenvolver a negociação, suas especificidades, a cultura e o perfil do outro negociador. Conhecer com profundidade os produtos e serviços, as pessoas envolvidas no processo de negociação, os concorrentes e a clientela que se beneficiará. Comprador Vendedor R$ 150 R$ 120 R$ 130 R$ 110 Comprador Vendedor R$ 150 R$ 125 R$ 140 R$ 130 Comprador Vendedor R$ 140 R$ 130 R$ 150 R$ 125 aula 4 • nEgociação unitins • administração • 8º PErÍodo 43 Atividades 1. O território de uma negociação pode ser definido como o local físico ou o espaço pessoal de um indivíduo em relação a outro. ( ) Verdadeiro ( ) Falso 2. Os elementos principais do ambiente interno são: a tecnologia, a logística e a equipe que assessora a negociação. ( ) Verdadeiro ( ) Falso 3. Quais os principais aspectos que se deve conhecer do negócio ou do assunto da negociação? Equipamentos, logística e a tecnologia empregada.a) O perfil do outro negociador, o local físico e a cultura.b) Os produtos ou serviços, a clientela e os concorrentes.c) A equipe assessora, o ambiente interno e externo.d) 4. Quais as possíveis situações que podem ocorrer para se estabelecer uma margem de negociação? Como definir a melhor situação? Comentário das atividades Nas atividades um e dois, você deve ter relembrado os aspectos importantes no processo de negociação: o território (físico e o espaço pessoal) e o ambiente interno e externo. As duas afirmações são verdadeiras. Na atividade três, buscou-se conhecer os aspectos inerentes ao negócio e ao assunto da negociação. A alternativa correta é a letra (c). Já a alternativa (a) aborda os aspectos do ambiente interno, a letra (b) coloca aspectos do ambiente externo e, na letra (d), há uma mistura de ambiente interno (equipe) e ambiente externo, por isso estão erradas de acordo com o enunciado da questão. Na atividade quatro, você deve ter exercitado o aprendizado sobre as táticas de estabelecimento de margem de negociação. A melhor situação, conforme nossos estudos, é aquela em que o comprador ou o vendedor estabelecem margens dentro das expectativas um do outro, possibilitando uma negociação onde haja satisfação de ambas as partes. Exercite mais, a experiência é um grande apren- dizado!!! Com isso, você identificará os principais aspectos e características do ambiente interno e externo de uma negociação, objeto desta aula. Referências HOU, W., SHEANG, L.; HIDAJAT, B. A arte da guerra e do gerenciamento. Rio de Janeiro: Record, 2005. aula 4 • nEgociação 44 8º PErÍodo • administração • unitins WANDERLEY, José Augusto. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Gente, 1998. Na próxima aula Vamos conhecer o passo-a-passo do processo de negociação com suas etapas e as características próprias, ou seja, agora vamos saber como se estru-
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