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Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 REVISÃO PENAL II – 2019.2 COMPLETA 1. CONCURSO DE PESSOAS O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboração de dois ou mais agentes para a prática de um delito ou contravenção penal. O concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) § 1o - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terão. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) § 2o - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-· aplicada a pena deste; essa pena ser· aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) TEORIAS - Pluralista (ou pluralística) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime próprio, existindo tantos crimes quantos forem os participantes da conduta delituosa, j· que a cada um corresponde uma conduta própria, um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. - Dualista (ou dualística) - Segundo esta teoria, há um crime para os autores, que realizam a conduta típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que desenvolvem uma atividade secundária. - Monista (ou monística ou unitária) - A codelinquência (concurso de agentes) deve ser entendida, para esta teoria, como CRIME ÚNICO, devendo todos responderem pelo mesmo crime. A ADOTADA PELO CP. Isso não significa que todos que respondem pelo delito terão a mesma pena. A pena de cada um irá corresponder à valoração de cada uma das suas condutas (cada um responde na medida de sua culpabilidade). Em razão desta diferenciação na pena de cada um dos infratores, diz- se que o CP adotou uma espécie de teoria monista temperada (ou mitigada). ESPÉCIES Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 - Eventual – pode ocorrer em qualquer infração penal passível de ser praticada por uma só pessoa (crimes unissubjetivos). - Necessário – aquele que em sua própria natureza jurídica devem estar presentes dois ou mais agentes, ou seja, só podem ser cometidos por duas ou mais pessoas. Ex.: como a bigamia, a rixa, o crime de quadrilha, etc. REQUISITOS - Pluralidade de condutas: Existentes condutas de várias pessoas é indispensável, do ponto de vista objetivo, que haja nexo causal entre cada uma delas e o resultado. - Relevância causal de cada um nas ações: Havendo relação entre a ação de cada uma das condutas e o resultado, ou seja, havendo relevância causal de cada ato delituoso, concorreram essas pessoas para o evento e por ele serão responsabilizadas. - Liame subjetivo entre os agentes: É necessário, também, uma ligação psicológica entre os vários autores, ou seja, o conhecimento de que cooperam numa ação comum. Não basta atuar o agente com dolo (ou culpa), sendo necessária uma relação subjetiva entre os concorrentes. Somente a adesão voluntária, objetiva (nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização de um objetivo comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e responsabiliza os agentes à pelas consequências da ação. Inexistente esse liame psicológico, não há que se reconhecer o concurso de agentes disciplinado no art. 29 do Cód. Penal. - A identidade de fato: Mirabete aborda a questão de identidade de fato com o exemplo de que não haverá vínculo na omissão do empregado que se esquece de fechar uma porta da casa do empregador, circunstância que vai favorecer a entrada do autor de um furto. Inexiste no caso o concurso de agentes pois o empregado não agiu com dolo voltado à facilitar a entrada de um ladrão e apenas o autor da subtração responderá pelo ilícito, apesar de ter sido favorecido pela falta de cuidado do criado. Existirá, no entanto, o liame psicológico quando o empregado, intencionalmente, deixa aberta a porta, ainda que o ladrão desconheça a vontade daquele em ajudá-lo a cometer a subtração. Há no caso o concurso de pessoas, pois o criado agiu de modo a facilitar a conduta do autor do furto, como também desejou concorrer, ou seja, contribuir para a subtração. Deve haver, portanto, a consciente e voluntária participação no fato, mais uma vez demonstrado que não é indispensável o acordo prévio de vontades para a existência do concurso de pessoas. A mera ciência, a assistência, ou mesmo a concordância psicológica para o evento, sem que a pessoa concorra com uma razão, porém, diferencia-se da instigação e não é punida pois a instigação visa a fomentação de uma ideia preexistente. Também não há concurso quando a pessoa não denuncia às autoridades que um delito vai ser praticado, exceto se tiver o dever jurídico de impedir o resultado. AUTORIA - Teoria Restritiva de Autor: É a teoria adotada pelo Brasil, e por ela entende-se como autor aquele que realiza conduta típica descrita na lei, ou seja, é quem pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que subtrai, que mata, que sequestra etc., não sendo considerado, portanto, o mandante do crime autor, pois lhe faltam os atos de execução do tipo penal. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 - Teoria Extensiva de Autor: Para essa teoria, além daquele que realiza a conduta típica, será considerado autor aquele que contribui com alguma causa para o resultado. Para essa teoria, instigador e cúmplice são igualmente autores, já que não se distingue a importância da contribuição causal de uns e outros. Tampouco se faz a distinção entre autor e partícipe, uma vez que todos os agentes contribuíram para o resultado. - Teoria do Domínio Final do Fato: Segundo essa teoria, o autor é aquele que detém o domínio total do fato até a sua consumação, ou seja, autor é quem tem o poder de decisão sobre a realização do evento pretendido. É o mandante, aquele que planeja a ação delituosa, que organiza e dirige a atuação dos demais mesmo que não a realize o núcleo do tipo. O autor portanto possui o domínio finalista, diferenciando-se do partícipe que é um simples colaborador no fato, um concorrente acessório mesmo que sua contribuição seja dolosa. - Autoria Mediata: Autor mediato é aquele que realiza a ação típica através de outra pessoa que atua sem culpabilidade, ou seja, utiliza-se de outra pessoa como instrumento para a prática de um delito. * Os crimes de autoria mediata podem resultar de: 1) Valer-se de um inimputável: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (CÓDIGO PENAL). Imputabilidade é a capacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou de determinar- se de acordo com esse entendimento. Todo agente é inimputável, salvo quando ocorrer uma causa de exclusão: 1.2 – Doença mental; 1.3- Desenvolvimento mental incompleto; 1.4- Desenvolvimento mental retardado; 1.5 – Embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior. 2) Coação moral irresistível: Coação moral é obrigar alguém por meio de grave ameaça a realizar uma conduta típica. 2.1 - Obediência hierárquica; 2.2 - Erro de tipo escusável, provocado por terceiro: O errode tipo acontece quando o agente não sabe que está cometendo um crime, mas acaba por praticá-lo. 2.3 - Erro de proibição escusável, provocado por terceiro: No erro de proibição o agente sabe o que faz, mas erra sobre a ilicitude da sua conduta. Como exemplo de autoria mediata podemos citar a mãe que manda seu filho menor matar a vizinha, ou que subtraia algum objeto em uma loja, ou ainda, o pai que manda seu filho doente Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 mental desferir golpes de faca em seu desafeto. Nesses casos inexistiu a vontade do executor material do fato. O domínio do fato pertence exclusivamente ao autor e não ao executor, o qual não detém o domínio da ação e, consequentemente, do fato. É, portanto, impossível nos crimes de mão própria e inaplicável nos tipos culposos. Admite- se, porém, a participação entre autor mediato e terceiro, como também coautores mediatos. - Autoria Imediata: Autoria imediata consiste em que o domínio do fato pertence exclusivamente ao executor, ou seja, é autor imediato aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal. É aquele que mata, que sequestra, que lesiona. - Autoria Colateral: Prática de um crime por duas ou mais pessoas sem que um saiba ou conheça a intenção da outra, ou seja, inexiste liame subjetivo entre eles. É o agir conjunto de diversos agentes, sem reciprocidade consensual. Como exemplo, podemos citar a seguinte situação: A e B executam simultaneamente a vítima, sem que um conheça a conduta do outro. Imaginando que no exemplo citado apenas o tiro de uma matou a vítima, para a autoria colateral é necessário que se saiba quem produziu o quê. Aquele autor do disparo causador da morte responderá por homicídio, enquanto o outro responderá por tentativa. Se houvesse liame subjetivo, ambos neste caso responderiam por homicídio em coautoria. Se, neste caso não pudesse saber quem matou a vítima, surge a autoria incerta. - Autoria Incerta: Na autoria incerta sabe-se quem realizou a conduta, mas não se sabe quem foi o causador do resultado. Apesar de alguns doutrinadores acreditarem que na iminência de condenar um inocente deve- se absolver ambos acusados, e outros, adeptos a teoria monista, acreditarem que todos deveriam responder pelo resultado, ou seja, neste caso A e B deveriam responder por homicídio, a maioria da doutrina acredita que nesses casos ambos deverão ser condenados por tentativa de homicídio, pois houve início da execução e a intenção dos agentes era de matar, porém não se conhece o verdadeiro autor do crime. - Coautoria: Coautoria ocorre quando dois ou mais agentes, conjuntamente, realizam o verbo do tipo, ou seja, o coautor é aquele que executa junto com outras pessoas a infração penal. A coautoria nada mais é que a própria autoria, e para que ela exista não é necessário um acordo prévio de vontades, bastando somente a consciência do agente de estar contribuindo para a ação. É desnecessário também que todos pratiquem o mesmo ato executivo, para configurar a coautoria basta que cada um dos agentes contribua efetivamente na realização e no aperfeiçoamento do crime. Funda-se a coautoria sobre o princípio da divisão do trabalho. Se duas pessoas disparam suas armas, alvejando a vítima e causando-lhe a morte, responderão por coautores, assim como aqueles que subtraem a coisa no crime de roubo, onde cada autor colabora com sua parte no fato. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 Na coautoria, o domínio do fato pertence aos diversos agentes que se apresentam como peças fundamentais na execução do plano. PARTICIPAÇÃO Partícipes são aqueles que por meio de conduta acessória concorrem para o crime, ou seja, entende-se por partícipe não aquele que pratica o verbo previsto no tipo penal, mas quem pratica uma atividade que contribui para a realização do delito. A participação pode se dar através da instigação, induzimento, organização e chefia, auxilio material e moral etc. A doutrina, entretanto, considera duas espécies mais relevantes: - Instigação: Instigar significa animar, estimular, reforçar uma ideia existente. Ocorre a participação quando o partícipe atua sobre a vontade do autor, ou seja, ele influencia no processo da formação da vontade, provocando a resolução criminosa do autor, não tomando parte nem na execução nem no domínio do fato. Pode ser exercida por meio de mandato, persuasão, conselho, comando etc. Segundo Júlio Fabbrini Mirabete “a instigação deve dirigir-se à prática do crime determinado, não constituindo participação a incitação genérica para a prática de infrações penais. “ - Cumplicidade: É a participação material onde o partícipe exterioriza a sua contribuição através de um comportamento, como o empréstimo de arma de fogo, revelação do segredo de um cofre, empréstimo de veículo com o intuito de deslocar-se mais facilmente etc. Existe também a cumplicidade por omissão nos casos em que o sujeito tem o dever jurídico de evitar o resultado mas não o faz, como no caso do vigilante que deixa a porta aberta propositalmente para facilitar a ação do autor do furto, ou a do empregado que não tranca o cofre para facilitar que o autor o roube. ESPÉCIES ACESSORIEDADE Existem quatro classes de acessoriedade: - Acessoriedade mínima: para essa teoria é suficiente que a ação principal seja típica, sendo indiferente ser ilícito ou não. Como exemplo, aquele que induzir o autor a agir em legítima defesa responderá pelo crime, enquanto o executor, autor direto, será absolvido pela excludente de ilicitude. - Acessoriedade limitada: será considerado partícipe aquele que tiver participado de uma conduta típica e antijurídica, mesmo que o autor não seja culpável. Isso quer dizer que a participação é acessória da ação principal, de um lado, mas que também depende desta até certo ponto. Esta é a teoria adotada pela nossa Legislação. - Acessoriedade extrema: o partícipe somente é responsabilizado se o fato principal é típico, antijurídico e culpável. Por essa teoria, caso o executor seja inimputável ou tenha agido por erro de proibição escusável, não haveria participação uma vez que a conduta principal não é culpável. - Hiperacessoriedade: será considerado partícipe aquele que participou de uma conduta típica, antijurídica e culpável e, concorrerá inclusive as causas agravantes e atenuantes de caráter pessoal relativas ao autor principal. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 2. CONCURSO DE CRIMES Assim como é plenamente possível que duas ou mais pessoas se unam para praticar determinado delito, é plenamente possível que de uma mesma conduta (ou de uma série de condutas interligadas) surjam vários crimes. O concurso de crimes pode ser de três espécies: concurso formal, concurso material e crime continuado. A exata caracterização de cada um dos institutos é bastante importante, pois isso influenciará na adoção do sistema de aplicação da pena. Três também são os sistemas de aplicação da pena: - Sistema do cúmulo material: Aqui, ao agente é aplicada a pena correspondente ao somatório das penas relativas a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi adotado no que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no concurso formal impróprio ou imperfeito (art. 70, caput, 2° parte) e no concurso de penas de multa (art. 72 do CP); - Sistema da exasperação: Aplica-se ao agente somente a pena da infração penal mais grave, acrescida de determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao concurso formal próprio ou perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e ao crime continuado (art. 71 do CP); - Sistema da absorção: Aplica-se somente a pena da infração penal mais grave, dentre todas as praticadas, sem que haja qualquer aumento. Foi adotado (jurisprudencialmente) em relação aos crimes falimentares. DISTINÇÃO – CONCURSO DE CRIMES X CONFLITO APARENTEDE NORMAS Imagine um sequestro relâmpago que chegou a durar sete horas. Isso é só roubo com privação da liberdade ou também houve extorsão? É, portanto, uma questão de conflito aparente de normas ou um concurso de crimes? O juiz de primeira instância entendeu que houve não só roubo como também extorsão, mas o desembargador que apreciou o caso entendeu que houve apenas o primeiro crime. O conflito aparente de normas ocorre quando há vários tipos penais, e só um, em princípio, pode ser aplicado. No concurso de crimes, há vários crimes, portanto várias penas. Um princípio subjacente a isso é o ne bis in idem. Então a diferença entre o conflito aparente de normas e o concurso de crimes é que no primeiro há, em princípio, um único crime, em que parecem poder incidir várias normas penais. No segundo há vários crimes. Mas os dois institutos não são incompatíveis. Podem-se discutir as duas coisas num mesmo caso. Alguém pode ser condenado por um único crime dúbio, em que ficou difícil o entendimento sobre os tipos penais praticados pelo agente, mas ainda assim discutir-se se houve um crime, dois, três, etc. A distinção entre conflito aparente de normas e concurso de crimes não preexiste à interpretação mas é dela resultado. Ou seja, o mesmo fato pode ser ora entendido como conflito aparente de normas ou concurso de crimes. Não se pode pretender distingui-los objetivo-formalmente. No primeiro caso é, dessa maneira, entendido que houve só um crime. Especialidade, consunção e absorção são princípios que afastam o conflito aparente de normas. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 Os desembargadores que apreciaram o caso de roubo/extorsão acima entenderam que o juiz de primeira instância havia errado, mas poderiam ter mantido a interpretação dele. ESPÉCIES DE CONCURSOS DE CRIME - Concurso Material: Ocorre concurso material quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão pratica dois ou mais crimes. Também conhecido como concurso real de crimes. Exemplo: um sujeito entra na sala, agride alguém, entra em outra, agride outra pessoa, depois foge de carro e atropela alguém. Houve três ações, três crimes. Os autores também fazem uma distinção entre concurso homogêneo e heterogêneo. O primeiro é quando o sujeito pratica vários crimes iguais. O heterogêneo é quando ele pratica crimes distintos. - Concurso Formal: O mais comum é o concurso material. O formal é a exceção, pois ocorre quando o agente, mediante uma única ação ou omissão, pratica vários crimes. Exemplo de Paulo César Timponi: bater contra um veículo e matar três pessoas. Ou então matar duas pessoas com um tiro só, com a intenção de matar apenas a primeira. Outra coisa importante: existe a figura do concurso formal impróprio. Ocorre quando o agente, mediante uma única ação ou omissão, pratica vários crimes, mas cada um deles tendo decorrido de um dolo autônomo, ou seja, o sujeito queria mesmo todos os resultados decorrentes daquela ação única. Exemplo: usar uma bomba para matar um indivíduo, e matando outros dois. Nesse caso, aplica-se a regra do concurso material. Por quê? Porque embora se trate, a rigor, de concurso formal, o sujeito quis matar os três indivíduos, previa o resultado e não foi algo acidental. Isso é, de fato, um concurso material, apesar de ter aparência de concurso formal. É uma situação excepcionalíssima. - Concurso de Crime continuado/ Continuidade delitiva: cada ato constitui um crime. Requisitos do crime continuado 1. É necessário que exista vários crimes da mesma espécie. O que são crimes da mesma espécie? Há duas correntes doutrinárias tratando sobre esse assunto: 1.1- A corrente majoritária diz que são crimes previstos no mesmo tipo penal. Vários homicídios, roubos, estupros, etc. Ainda que haja crimes qualificados, privilegiados, ainda assim o são. 1.2- Para a corrente minoritária, crimes da mesma espécie não são necessariamente os mesmos crimes, mas são crimes que atentam contra o mesmo bem jurídico. Por exemplo: roubo e extorsão podem ser considerados crimes da mesma espécie, pois ambos atentam contra o patrimônio. O mesmo para estupro e atentado violento ao pudor. Também injúria e calunia, em relação à honra. 2. Que as circunstâncias de tempo, lugar, meios de execução e outras semelhantes. Com relação ao tempo, a jurisprudência é muito vacilante. Há precedentes dizendo que a circunstância de tempo deve ser de no máximo um mês, mas há julgados mais recentes no STJ entendendo que este tempo poderia ser de até três meses. Logo, se houve intervalo de quatro meses entre um crime e outro, não cabe reconhecer a continuidade em função Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 do tempo decorrido. Outras semelhantes são os elementos que podem conferir àquela conduta o caráter de unidade. - Crime continuado especifico: É uma forma mais dura de apenação do crime continuado. Ocorre quando, presentes todos os elementos do crime continuado, houver a presença dos seguintes elementos: crimes dolosos, violência ou grave ameaça, contra vítimas diferentes, circunstâncias favoráveis a ser levadas em conta pelo juiz. A pena pode ser aumentada até o triplo. Há uma sumula do STF, anterior à reforma de 84, que portanto está revogada, que dizia que o crime continuado poderia ser contra vítimas diferentes, mas não mais. De todo modo, se a pena se tornar maior que 30 anos, ela deverá ser unificada para 30. EFEITO DAS CAUSAS E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE As causas extintivas da punibilidade, em geral, atingem apenas o jus puniendi, permanecendo o crime em sua integridade, com todos os seus demais efeitos e, quando operarem após o trânsito em julgado da sentença pena condenatória, atingirão a primariedade do agente. Em algumas situações excepcionais, a causa de extinção da punibilidade atinge o crime em sua totalidade, eliminando-o simplesmente, como ocorre na hipótese da abolitio criminis e da anistia. Quando a causa operar antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, extinguindo o direito estatal de punir o infrator da norma, este não será julgado e, de consequência, garantirá a situação de primariedade, se existente até então. As causas extintivas da punibilidade são aquelas previstas no artigo 107 do Código Penal. I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Relevante frisar que, com o advento da Lei nº 11.106/2005, as causas extintivas da punibilidade, incisos VI e VII, art. 107, do Código Penal, ligadas ao casamento da vítima com o agente ou com terceira pessoa, no crime de estupro, hoje crime contra a dignidade sexual, foram revogadas. DAS PENAS Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 A pena pode ser conceituada como a resposta que a sociedade dá ao indivíduo que transgride a ordem jurídico-penal estabelecida, e consiste na privação ou restrição de um bem jurídico do condenado (liberdade, patrimônio, etc.), de forma a castigá-lo e reeducá-lo. Finalidade: retribuir ao delito praticado, prevenir a novos crimes e ressocializar o criminoso, a fim de evitar reincidência. TEORIAS ABSOLUTISTAS E RELATIVAS - Teoria absoluta e sua finalidade retributiva: Para esta teoria, pune-se o agente simplesmente porque ele cometeu uma transgressão à ordem estabelecida e deve ser castigado por isso. Não há nenhuma finalidade educacional de reinserção do indivíduo à vida social. A pena é mero instrumento para a realização da vingança estatal. Trata-se de um imperativo categórico de Justiça ou de Moral (se delinquiu, deve ser punido, independentementede qualquer outra finalidade). - Teoria relativa e sua finalidade preventiva: Pune-se o agente não para castiga-lo, mas para prevenir a prática de novos crimes. Essa prevenção pode ser: Prevenção Geral: Busca controlar a violência social, de forma a despertar na sociedade o desejo de se manter conforme o Direito. Pode ser negativa, quando busca criar um sentimento de medo perante a Lei penal, ou positiva, quando simplesmente se busca reafirmar a vigência da Lei penal. Prevenção especial: Não se destina à sociedade, mas ao infrator, de forma a prevenir a prática da reincidência. Também pode ser negativa, quando busca intimidar o condenado, de forma a que ele não cometa novos delitos por medo, ou positiva, quando a preocupação está voltada à ressocialização do condenado (Infelizmente, não há uma preocupação com isto na prática). - Teoria Mista (unificadora ou eclética ou unitária) e sua dupla finalidade: Aqui, entende-se que a pena deve servir como castigo (punição) ao infrator, mas também como medida de prevenção, tanto em relação à sociedade quanto ao próprio infrator (prevenção geral e especial). Além de consagrada na maioria dos países ocidentais, foi a adotada pelo art. 59 do CP, que diz: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecer·, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) ESPÉCIES DE PENA - Privativas de liberdade: Retiram do condenado o direito à liberdade de locomoção, por determinado período. (É vedada pena de caráter perpétuo, art. 5°, XLVII, b da Constituição). Máximo de 30 anos para crimes (art. 75 do CP) e de 05 anos para contravenções penais (art. 10 da Lei de Contravenções Penais); Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 - Restritivas de direitos: Em substituição à pena privativa de liberdade, limitam (restringem) o exercício de algum direito do condenado. Estão previstas no art. 43 do CP e em alguns dispositivos da Legislação Especial; - Pena de multa: Recai sobre o patrimônio financeiro do condenado; - Restritiva de liberdade: Restringem, mas não retiram o direito de locomoção do condenado. Na verdade, trata-se de uma espécie de pena restritiva de direitos. Exemplo: Proibir o marido de se aproximar da casa da ex-esposa no caso de violência doméstica; PRIVATIVA DE LIBERDADE X RESTRITIVA DE DIREITOS X MULTA PRIVATIVA DE LIBERDADE A pena privativa de liberdade é meio de punição e ressocialização do transgressor, de modo que toda pessoa – imputável - que praticar um crime se sujeitará a uma determinada pena pelo período previsto no tipo penal respectivos. Vale dizer, que a pena sempre será temporária, não podendo ultrapassar 30 anos. Uma vez imposta a pena privativa de liberdade (reclusão ou detenção), deverá o juiz fixar o regime inicial para cumprimento desta, tendo por critério principal o quanto de pena aplicada ao condenado. Veja-se: Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. O regime fechado consiste na permanência na penitenciária por tempo integral, tendo a faculdade de poder trabalhar internamente durante o dia e repousar à noite. O regime semiaberto, para o legislador, consiste na possibilidade de o preso ser transferido da penitenciária para uma colônia penal agrícola ou industrial, durante o dia, retornando à penitenciária à noite. Hoje, na prática, o preso tem uma prisão própria para tal regime e são-lhe oferecidas vagas de emprego da iniciativa privada, de modo que o preso sai durante o dia para trabalhar e retorna à penitenciária à noite. O regime aberto, para o legislador, reside na hipótese em que o condenado teria autonomia durante o dia e passaria a noite e feriados em uma casa de albergado (local específico, no qual lhe seriam oferecidos cursos e palestras). No entanto, na prática, o preso tem, geralmente, autonomia plena: fica em liberdade, computando-se o cumprimento de sua pena, observada, todavia, a possibilidade de fixação de proibição de alguns comportamentos. RESTRITIVA DE DIREITOS A pena restritiva de direitos é sanção penal imposta em substituição à pena privativa de liberdade, que consiste na supressão ou diminuição de um ou mais direitos do condenado. Trata-se de espécie de pena alternativa. Aplicar-se-á aos crimes com menor grau de responsabilidade, consequentemente, com penas mais brandas. Está ligada ao princípio da proporcionalidade. Art. 43 traz o rol das penas restritivas de direito: a) Prestação Pecuniária: Refere-se ao valor em favor da vítima, seus dependentes ou entidades públicas ou particularidades com destinação social. Que é o caso da multa, a qual só pode ser aplicada em substituição a pena privativa de liberdade, quando esta não for superior a seis meses. b) Perda de Bens e Valores: Como o próprio nome diz é a perda dos bens ou valores, como forma de pagamento da pena. c) Prestação de Serviço à Comunidade ou a Entidades Públicas: É a realização de tarefas gratuitas em hospitais, entidades assistenciais ou programas comunitários. Tais tarefas serão desempenhadas conforme a aptidão do condenado, que prefere submeter-se a essa sanção a afrontar a pena privativa de liberdade. Essa pena alternativa deverá ser cumprida durante oito Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal do trabalho. d) Interdição Temporária de Direitos: Constitui uma incapacidade temporária para o exercício de determinada atividade, podendo ser proibição do exercício do cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo, proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público e suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. Assim essa pena poderá ser aplicada quando o indivíduo cometer algum crime no exercício da administração pública. e) Limitação de Fim de Semana: Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado, podendo ser ministrados aos condenados, durante essa permanência cursos e palestras, ou atribuídas a eles atividades educativas. As vantagens dessa pena é a permanência do condenado junto à sua família, ocorrendo o seu afastamento apenas nos dias dedicados ao repouso semanal, a possibilidade de reflexão sobre o ato cometido, a permanência do condenado em seu trabalho, não trazendo assim dificuldades materiais para a sua família, o não contato com condenados mais perigosos, o abrandamento da rejeição social. MULTA No cálculo da multa, deve o juiz fixar a quantidade de dias multa entre 10 a 360 dias multa e em seguida fixar o valor de cada dia multa entre 1/30 avos a 5 vezes o salário mínimo. § 1º - O valor do dia-multa será fixadopelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. Se, embora aplicada no máximo a pena de multa, ainda mostrar-se ineficaz, em razão da boa condição econômica do réu, de acordo com o artigo 60, parágrafo 1°, o juiz poderá aumentar essa pena até o triplo. Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu. § 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do Multa substitutiva A multa substitutiva é prevista no parágrafo 2° do artigo 60 e pode ser aplicada pelo juiz em condenações por pequenas infrações quando a pena aplicada não ultrapassar 6 meses e o réu preencher os requisitos que autorizam a substituição previstos no artigo 44, incisos II e III, tudo conforme disposição expressa do parágrafo 2° do artigo 60. Art. 60, § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 AÇÃO PENAL Podemos conceituar a ação penal, em poucas palavras, como o direito de provocar o Poder Judiciário, com o intuito de levar a este o conhecimento da ocorrência de uma infração penal, para que seja aplicado o direito penal objetivo. (Encontra-se compreendido nos arts. 24 a 62 do Código de Processo Penal e arts. 100 a 106 do Código Penal). - Classificação quanto à titularidade: 1. Ação penal pública: Nesta, o Ministério Público é o titular da ação, na qual é iniciada por meio de uma peça denominada denúncia. Sendo composta por autor e acusado (antes do recebimento da denúncia pelo juiz) / réu (após o recebimento da peça acusatória pelo juiz). Dispositivos legais pertinentes: art. 129, I, CF/88 e art. 257, I, CPP. Espécies: a) Ação penal pública incondicionada à representação: Esta é a regra geral, que se aplica todas as vezes que a legislação não mencionar a necessidade de queixa, representação ou requisição do ministro da justiça. A única exceção ocorre quando o crime for praticado contra o patrimônio da União, Estado ou Município. b) Ação penal pública condicionada à representação: Como o próprio nome sugere, o ajuizamento da ação penal pelo Ministério Público fica condicionado a representação do ofendido. Entende-se por representação como a manifestação de vontade do ofendido com o intuito de investigação e processamento dos acusados. Exemplo: art. 130, §2º do CP. Prazo: decadencial de seis meses para a representação, a serem contados a partir do dia em que o titular da ação tomar ciência de quem cometeu o delito. Decaído o prazo, ocorre a extinção da punibilidade. c) Ação penal pública condicionada à requisição do ministro da justiça: O Ministério Público só poderá ajuizar a ação se houver requisição do ministro da justiça. Não há prazo para requisitá-la. 2. Ação penal privada: O particular, denominado querelante, é o titular da ação, na qual é iniciada por meio de uma queixa-crime, contra o querelado / réu. Só é possível nas hipóteses em que a lei menciona expressamente a possibilidade. Espécies: a) Ação penal privada exclusiva ou propriamente dita: é cabível a propositura para aqueles que tem o direito de representação, dentro do prazo decadencial de seis meses; b) Ação penal privada personalíssima: cabe apenas à vítima o direito de propor. A única hipótese de cabimento atualmente é no crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao casamento, tipificado no art. 236 no CP. Prazo decadencial de seis meses. c) Ação penal privada subsidiária da pública: proposta pelo titular da ação penal privada exclusiva, através de uma queixa- crime subsidiária, ocorrendo a inércia do direito de ação do Ministério Público (cinco dias para acusado preso ou quinze dias para acusado solto). Art. 5º, LIX, CF/88. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 Prazo decadencial de seis meses, a serem contados a partir do dia posterior ao término do prazo para o Ministério Público apresentar a denúncia. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO CONDICIONAL Na liberdade condicional, o preso é liberto, e posto em liberdade se houver preenchido todos os requisitos impostos legalmente. Requisitos Objetivos Consideram-se requisitos objetivos quanto à: 1) qualidade da pena (privativa de liberdade); 2) quantidade da pena (igual ou superior a dois anos); 3) reparação do dano (salvo impossibilidade); 4) cumprimento da pena: a) mais de um terço (bons antecedentes e não reincidente); b) mais da metade (reincidente em crime doloso); c) entre um terço e metade (não reincidente e maus antecedentes); d) mais de dois terços (crimes hediondos). Requisitos Subjetivos 1) Comportamento satisfatório durante a execução da pena; 2) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; 3) Aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; 4) Cessação da periculosidade nos crimes praticados mediante violência ou grave ameaça à pessoa; 5) Não ser reincidente específico em crimes hediondos. A suspensão condicional do processo é aplicada a qualquer crime ou contravenção penal com mínima de 1 ano, já considerada as causas de aumento e diminuição de pena. Requisitos 1) O crime imputado ao réu não pode estar sujeito à jurisdição militar (art. 90-A); 2) A pena mínima cominada ao crime deve ser igual ou inferior a 1 (um) ano; 3) O réu não pode estar sendo processado por outro crime; 4) O réu não pode ter sido condenado por outro crime; Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 5) Devem estar presentes os requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art.77 do Código Penal). MEDIDA DE SEGURANÇA A medida de segurança é aplicada aos inimputáveis a aos semi-imputáveis com a finalidade diversa da pena, no qual tem o objetivo, o tratamento ou a cura do agente que praticou um ato típico e ilícito, sendo ele no momento declarado inimputável. Inimputável – é a pessoa inteiramente incapaz de entender a ilicitude do fato e de determinar- se de acordo com esse entendimento. (Sujeito à MEDIDA DE SEGURANÇA) artigo 26, caput do Código Penal. Semi-imputável – é a pessoa que, embora aparentemente sã, não tem plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme esse entendimento. Nos termos do artigo 96, do CP: Art. 96. As medidas de segurança são: I - internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial. Parágrafo único. Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. Como as medidas de segurança podem-se iniciar em internação ou em tratamento ambulatorial, dividem-se as mesmas em medidas de segurança DETENTIVAS (internação) e RESTRITIVAS (tratamento ambulatorial). De acordo com o artigo 97, do CP: Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (artigo 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO São genéricos ou específicos: Genéricos: São chamados genéricos por se aplicarem a todos tipos de crimes e não necessitarem de motivação na sentença. 1) Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime A S.P.C faz coisa julgada no cível, valendo como título executivo, nos termos do art,584,II do CPC Ação civil ex delicto Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 Quando há um sentença penal condenatória, não há necessidade de se discutir mérito na esferacivil, só será definido o valor da indenização para reparação do dano causado 2) Perda em favor da união de instrumentos e produtos de crime Confisco Perda ou privação de bens do particular em favor do Estado “O confisco, na nossa legislação atual, não é pena, mas simples efeito da condenação, e limita-se aos instrumentos e produtos de crime Instrumentos do crime: Objetos; coisas materiais empregadas para a prática e execução do delito Produtos do crime: coisas adquiridas diretamente com o crime, assim como toda e qualquer vantagem, bem ou valor que represente proveito, direto ou indireto, auferido pelo agente com a prática criminosa Não abrange contravenções penais O confisco foi ampliado pela lei 12.694/2012, que autoriza a “perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior”. “Esse diploma legal facilita a punição dos infratores, permitindo o confisco do equivalente ao produto ou proveito do crime, quando, por qualquer razão, estes não forem localizados, encontrando-se ou não no exterior”. Art.91,§2: Medida para assegurar posterior perda de bens. Medidas assecuratórias previstas na legislação processual. Entretanto, não é qualquer instrumento de crime que pode ser confiscado, mas sim aqueles cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito. Confiscam-se aqueles instrumentos que, por sua destinação específica, são usados na prática de crimes, ou cujo uso ou porte sejam proibidos. Ex: o bisturi do médico, o automóvel que atropela a vítima, a navalha do barbeiro, embora instrumentos de crime, não podem ser confiscados. O confisco pode recair somente em objeto pertencente a quem participou da prática do delito. O lesado e o terceiro de boa-fé não podem ser prejudicados Específicos: São chamados específicos por não serem automáticos, sendo aplicáveis somente a determinados tipos de crimes, bem como por necessitarem de motivação na sentença. 1) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo. Condenação superior a um ano, por crime praticado contra a administração pública. Imprescindível que a infração penal tenha sido praticada com abuso de poder ou violação de dever inerente ao cargo, função ou atividade pública. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 “Funcionário condenado poderá perder a função, mas não ficará impedido de ser investido em outra, posteriormente, pelo menos no âmbito do Direito Penal”. Condenação superior a quatro anos, por qualquer outro crime. Nos crimes comuns, somente a condenação superior a quatro anos gera o efeito de perda da função pública. “A perda de mandato eletivo também poderá ser efeito específico da condenação, e não se confunde com a proibição do exercício de mandato, que constitui pena restritiva de direitos. Reabilitado, o condenado poderá vir a exercer novo mandato, porém, não aquele que perdeu”. Perda do cargo ou função pública, por condenação criminal a pena inferior a um ano: Regras de direito administrativo (princípio da especialidade). Lei 8.112/90 em seu art.132: determinação de perda do cargo ou função pública a funcionário que sofrer condenação inferior a um ano de pena privativa de liberdade, por crime praticado com abuso de poder ou violação de dever a ele inerentes 2) Incapacidade para o exercício de pátrio poder, tutela ou curatela. Nos crimes dolosos, sujeitos a pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado. “Basta que o crime doloso tenha cominada a pena de reclusão, ainda que, a final, a pena aplicada venha a ser de outra natureza”. “A reabilitação apenas afasta o impedimento de o reabilitado, no futuro, exercer o mesmo munus em relação a outros tutelados, curatelados, bem como em relação a outros filhos, mas nunca em relação às suas vítimas anteriores“. 3) Inabilitação para dirigir veículo, utilizado em crime doloso. Não se confunde com a proibição temporária (pena restritiva) aplicável aos autores de crimes culposos no trânsito (Art.47,III). DOS EFEITOS DA REABILITAÇÃO - É uma ação que visa resguardar o sigilo sobre a condenação, permitindo ao condenado apresentar-se à sociedade como se primário fosse - Restaura os direitos atingidos pelos efeitos específicos da condenação - A qualquer tempo, revogada a reabilitação, se restabelece a situação anterior 1) Sigilo sobre os registros criminais do processo e da condenação. Atualmente, esse sigilo já é obtido de imediato e de forma automática por força do artigo 202 da L.E.P. Assim, para se obter o sigilo da condenação não é necessário esperar dois anos e instruir o processo postulatório Não constitui um cancelamento definitivo dos registros criminais, mas impede tão somente a sua divulgação Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 Ressalvas: Concedido o sursis, o sigilo só pode ser quebrado quando as informações forem requisitadas por órgão judiciário ou pelo Ministério Público, para instruir processo criminal (art.163,§2, da L.E.P) Cumprida ou extinta a pena, independentemente de reabilitação, o sigilo só pode ser quebrado para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei (art.202, da LE.P) Concedida a reabilitação, o sigilo só pode ser quebrado quando as informações forem requisitadas por juiz criminal Enfim, o sigilo decorrente de reabilitação é mais amplo, e somente ela exclui os efeitos específicos da condenação 2) Suspensão condicional de alguns efeitos da condenação. Só exclui efeitos específicos previstos no art.92, vedada a reintegração à situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo. Não impede a reincidência. Revogação Art.95.CP: A reabilitação é revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for novamente condenado, como reincidente, a pena que não seja de multa. Requisitos: - Condenação do reabilitado, como reincidente, por sentença irrecorrível; - Nova condenação seja a pena privativa de liberdade; - Com a revogação, os efeitos que estavam suspensos voltam a vigorar; - O juízo competente para conhecer do pedido de reabilitação será o juízo da Condenação, e não o da execução. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE CONCRETA E ABSTRATA Abstrata: Escusas absolutórias. Expressão jurídica usada no Código Penal Brasileiro para designar uma situação em que houve um crime e o réu foi declarado culpado, mas, por razões de utilidade pública, ele não está sujeito à pena prevista para aquele crime. Concreta: Nas causas extintivas, o injusto nasce punível mas por evento posterior o Estado abdica do poder de punir. - Morte do Agente: A morte do agente deve ser comprovada na forma da lei civil, ou seja, por atestado ou certidão. Obs.: No caso de decisão de extinção da punibilidade em sentença definitiva lastreada em documento comprobatório da morte do agente inidôneo, as Cortes Superiores entendem se Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 tratar de um vício tão grave que a decisão deve ser considerada inexistente, ou seja, basta ao juiz continuar o processo. - Anistia, Graça e Indulto: Anistia é a lei que promove o esquecimento jurídico penal de um fato. Pode ser total ou parcial; anterior ou posterior a condenação. Só atinge os efeitos penais, os efeitos extrapenais persistem. Não cabe anistia para crime hediondo ou equiparado a hediondo. Graça e Indulto são formas de indulgência soberana da Presidência da República. São veiculados por decreto presidencial e podem ser totais ou parciais; condicionados ou incondicionados. A diferença entre a graça e o indulto consiste no fato da graça ser individual e provocada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo. Prevalece em nosso ordenamento, que a graça e o indulto só podem ser concedidos após a condenação, e só alcançam apena, permanecendo os efeitos penais secundários e os efeitos extrapenais. A Constituição Federal proíbe expressamente a graça aos condenados por crimes hediondos e equiparados. No que tange ao indulto, é pacífica orientação nas Cortes Superiores de que o indulto foi implicitamente proibido, pois se vedado o perdão individual, com mais razão estará afastado o perdão coletivo. Porém, em 2014, o STJ admitiu indulto humanitário para crimes hediondos e equiparados. - Abolitio Criminis: Trata-se da norma revogadora de tipo incriminador. Extingue a punibilidade e afasta todos os eventuais efeitos penais da sentença condenatória. - Decadência: A decadência extingue a punibilidade se o ofendido (ou seu representante) não exerce no prazo determinado em lei o direito de queixa ou representação. Nos termos do artigo 103 do Código Penal o prazo será, em regra, de 6 meses contados do conhecimento da autoria. - Perempção: É a perda do direito de prosseguir na ação penal privada em razão da inércia do querelante. As hipóteses estão no artigo 60 do Código de Processo Penal. São elas: I- Se o querelante não dá andamento ao processo por 30 dias; II- Se morto ou incapaz o querelante, não há sucessão em 60 dias; III- Se, sem motivo justificado, o querelante falta a ato no qual deveria estar presente ou se deixa de formular pedido de condenação nos memoriais; IV- Se o querelante é pessoa jurídica que se extingue sem deixar sucessor. - Renúncia: É a renúncia ao direito de queixa. Viável apenas na ação penal privada, é a manifestação de desinteresse sobre o direito de oferecer queixa. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 Pode ser expressa ou tácita. Será tácita com a prática de ato incompatível com a vontade de processar. A renúncia só é possível antes do oferecimento da queixa e atinge à todos os ofensores. - Retratação: Retratar é desdizer o que disse. Extingue a punibilidade nos crimes de calúnia, difamação e no falso testemunho. Na injúria não é possível. A retratação deve ocorrer até a sentença (no falso testemunho, até a sentença no processo em que foi proferido o falso). É ato unilateral, ou seja, não precisa ser aceita. Na calúnia e na difamação, a retratação só beneficia aquele que se retratou; no falso testemunho, a retratação se comunica, ou seja, é extinta a punibilidade do fato. - Perdão Judicial: O Perdão Judicial permite ao juiz deixar de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em lei. Não importando a natureza da ação. A Súmula 18 do STJ esclarece que a decisão que concede perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, ou seja, não condena, nem absolve. A PRESCRIÇÃO PENAL A prescrição penal, portanto, nos termos do art. 107 do Código Penal, consiste em uma das causas de extinção da punibilidade, podendo ser dividida em: 1. Prescrição da pretensão punitiva: dá-se no processo de conhecimento penal, ocorrendo pelo escoamento do prazo antes do trânsito em julgado da sentença. O prazo da prescrição da pretensão punitiva será estabelecido pela quantidade da pena in abstracto, sendo esta o máximo de pena aplicável para o tipo penal, haja vista que a sentença não poderá condenar à pena superior ao máximo legal. 2. Prescrição da pretensão executória: dá-se no processo de execução penal, ocorrendo pelo fim do prazo antes de iniciar o cumprimento da pena. O prazo da prescrição da pretensão executória será estabelecido pela quantidade da pena in concreto, ou seja, a quantidade de pena aplicada e já transitada em julgado. Para ambos os casos, deverá ser consultado o prazo prescricional estabelecido no art. 109 do Código Penal. Vê-se: Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1ºdo art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. Dito isto, quanto ao início da contagem do prazo prescricional, temos que o termo inicial da prescrição da pretensão punitiva será no (art. 111 do CP): 1. Crime consumado: o dia da consumação. 2. Crime tenTado: o cessar da atividade criminosa. 3. Crime permanente: o cessar da permanência. 4. Crime contra a dignidade sexual de menor de idade: o completar da maioridade da vítima. Já o termo inicial da prescrição da pretensão executória (art. 112 do CP) será o dia do trânsito em julgado, para o Ministério Público, da sentença condenatória. Vale ressaltar que a prescrição da pretensão punitiva, no concurso de crimes material, dar-se- á individualmente para cada crime. Enquanto o prazo da prescrição da pretensão executória aumentará em um terço, se o condenado for reincidente. Ademais, vale mencionar que ocorrerá a redução dos prazos da pretensão executória à metade, se (art. 115, CP): I. na data do crime, o autor for menor de 21 anos; II. na data da sentença, o autor for maior de 70 anos. Por fim, são causas de interrupção da prescrição penal (art. 117, CP): 1. O recebimento da denúncia ou da queixa; 2. A pronúncia, ou seja: decisão declaratória de admissibilidade de julgamento pelo Tribunal do Júri; 3. A publicação da sentença e acórdão recorríveis; 4. Pelo início ou continuação de cumprimento da pena. Yasmim Martins de Magalhães – Direito Penal II – 2019.1 5. A reincidência.
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