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Tromboembolismo Pulmonar Cirurgia Geral e Suas Especialidades - Aula 08/ 03/ 2021 Introdução: Tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma síndrome clínica definida como a presença de trombos que impactam e ocluem vasos arteriais pulmonares. Em sua grande maioria os trombos são originários da Trombose Venosa Profunda (TVP) dos membros inferiores e membros superiores. Existe também embolismo pulmonar não causado por trombos, como, embolia gordurosa, gasosa, tumoral, amniótica, corpo estranho e mural de câmaras cardíacas direitas, são menos comuns. Epidemiologia: A incidência aumenta com a idade, principalmente em mulheres, alcançando uma taxa de > 500 casos por 100.000 mulheres acima dos 75 anos. Não é comprovado a relação do TEP relacionado quanto a etnia e ao sexo, mas alguns estudos sugere que a incidência é maior em homens do que em mulheres. Nos casos diagnosticados a mortalidade é de cerca de 4% em 1 mês e chega a 13% em 1 ano. No Brasil a maioria das mortes ocorrem sem diagnóstico. Estudos acreditam que o TEP cause cerca de 100.000 mortes por ano no país. Classificação: O tromboembolismo pulmonar pode ser dividido em agudo, subagudo e crônico. Quando agudo os pacientes apresentam sintomas de início súbito no momento em que há embolização do trombo em um dos ramos arteriais da circulação pulmonar. Alguns pacientes apresentam os sintomas no decorrer de dias ou poucas semanas após a embolização, sendo assim, um quadro subagudo. E nos casos crônicos, tem-se uma embolização na vasculatura pulmonar e o desenvolvimento gradual de hipertensão pulmonar, em meses ou anos. Fisiopatologia: A patogênese do TEP envolve os mesmo fatores que levam à trombose venosa profunda (TVP), os elementos da Tríade de Virchow e a migração de êmbolos para os pulmões. Em grande parte dos casos os trombos são formados nos membros inferiores em território de vasos venosos íleo-femorais. Os casos que os trombos se movimentam dos membros superiores para a circulação pulmonar são pouco frequentes. Os trombos que ascendem dos MMII pela veia cava inferior e acessam o coração através do AD. Posteriormente, vai para o VD e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré-carga e a liberação de mediadores inflamatórios como o tromboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. O VD tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Por consequência desta instalação súbita as fibras cardíacas podem se afrouxar e causar a dilatação da câmara direita, podendo deslocar o septo interventricular. A hipertensão pulmonar pode continuar mesmo após o tratamento do episódio agudo, por tanto, é uma complicação. Em casos que a obstrução é em ramos mais distais dos vasos pulmonares existe uma maior risco de infarto pulmonar, com resposta inflamatória. Após ocorrer a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surgirá um área de espaço morto no pulmão, nessa área não haverá perfusão para que ocorra a troca gasosa. Sendo assim, haverá uma alteração na relação ventilação/ perfusão (V/Q), contribuindo para o desenvolvimento de sintomas respiratórios. A dinâmica respiratória também sofre alteração em decorrência da resposta inflamatória, contribuindo para a ocorrência da atelectasia, taquipnéia e consequentemente hipoxemia e alcalose respiratória, em casos mais graves. Fatores de Risco: Primeiramente deve-se pensar na Tríade de Virchow, a qual possui três fatores que contribuem para a ocorrência de trombose, estase venosa, hipercoagulabilidade e lesão endotelial. Qualquer situação dos quadros abaixo que envolva um dos elementos da Tríade aumenta a chance de ocorrência de TEP. Classificação: O tromboembolismo pulmonar pode ser classificado conforme: Etiologia: TEP provocada: Quando é causada por alguma situação recente no período entre 6-12 semanas. TEP não provocada: Não se sabe a etiologia do TEP. Apresentação Clínica: TEP maciça: Paciente hemodinamicamente instável (PAS <90 mmHg) ou queda da PAS em mais de 40 mmHg em um intervalo de 40 minutos. TEP submaciça: Paciente estável, mas que apresenta disfunções miocárdicas no ecocardiograma (disfunção de VD, área de hipocinesia). TEP não maciça: Paciente estável e sem alterações miocárdicas, ou seja, aquele que não preenche os critérios anteriores. Local da obstrução: Obstrução na bifurcação das artérias pulmonares principais esquerda e direita são classificadas como TEP em sela, e em virtude da obstrução proximal da circulação pulmonar. Além de poder ser classificado como lobar, segmentar ou subsegmentar a depender de quão grande é a área de irrigação da artéria obstruída. Score PESI: É uma ferramenta que esratifica o risco de mortalidade por tromboembolia pulmonar aguda (TEP), auxilia a definir o melhor tratamento após um episódio de TEP. Pacientes Classe I ou II: o tratamento pode ser feito em domicilio com o uso de antigoagulante oral, são classificados como baixo risco. Pacientes Classe > III: Necessitam de internamento hospitalar para a investigação do quadro e avaliar prognóstico. Deve ser solicitado eco transtorácico + enzimas cardíacas. A classificação desses pacinetes é de intermediário e podem ser divididos em risco intermediário baixo (eco OU enximas alteras OU nenhum dos dois alterados) ou risco intermediário alto (ambos os exames alterados). Pacientes com alteração no ecotranstorácico e/ ou alteração de enzimas (troponina e BNP) apresentam um pior prognóstico. Quadro Clínico: O tromboembolismo apresenta um amplo espectro clínico que vai desde pacientes hemodinamicamente instáveis a pacientes que apresentam sintomas gerais, como, tosse seca, taquipneia o que dificulta muitas vezes o diagnóstico e retarda o início da terapêutica. Classicamente a tríade da TEP é dispnéia, hemoptise e dor pleurítica. Porém nem todos os pacientes têm esta sintomatologia. Sintoma: O sintoma mais prevalente é a dispneia, seguido pela dor torácica de caráter pleurítico e tosse, que pode se apresentar seca ou hemoptoica. Alterações hemodinâmicas como hipertensão e até mesmo choque obstrutivo são observados nos pacientes com TEP de alto risco, podendo estar associados a arritmias. Com menos frequência os pacientes apresentam síncope, dor esternal, ansiedade e redução do nível de consciência. Sinais: Podem estar presentes taquicardia, taquipneia, sinais de instabilidade (hipotensão/ PAS <90), distensão jugular, hiperfonese de B2 na ausculta cardíaca (sugere existência de hipertensão pulmonar), sibilos na ausculta respiratória, murmúrios vesiculares reduzidos (como consequência da atelectasias) e sinais de TVP como edema assimétrico em membros inferiores que pode ou não estar associado a dor, calor e rubor no local. Febre é um achado muito incomum. * O principal sintoma da TEP é dispnéia e o principal sinal é a taquipnéia. Diagnóstico diferencial: Os principais diagnósticos diferenciais para pacientes com suspeita de TEP são pneumonia, ICC, doença pulmonar obstrutiva crônica e asma. Escore de Wells: São necessários exames complementares para se fechar o diagnóstico de TEP. Utiliza-se pré-testes para determinar a probabilidade clínica e não retardar o início da anticoagulação. Algoritmo para diagnóstico complementar: Exames Complementares: Gasometria arterial: O paciente com TEP apresenta um distúrbio V/Q, com perfusão inadequada. Como consequência o paciente tenta compensar o quadro hiperventilando levando a diminuição da PCO2 no sangue. Na gasometria vai ser possível encontrar hipoxemia e hipo ou hipercapnia. Entretanto, são achados inespecíficos para a TEP, sendo assim, não pode-se fechar o diagnóstico apenas com a gasometria, ela ainda pode vir norma em alguns casos. D-dímero: O D-dímero é um produto de degradação da fibrina é utilizado pelo seu alto valor preditivo negativo (VPN), ou seja, quando os níveis de D-dímero são baixos (< 500 ng/ml) em pacientes com baixo risco da doença, o TEP pode ser excluído como hipótese diagnóstica. Porém, se os níveis forem > 500 ng/ml, nãopode se afirmar que essa elevação foi causada pela TEP, já que outras situações como, gravidez e envelhecimento também cursam com a sua elevação. Radiografia de tórax: A radiografia apresenta baixa sensibilidade e baixa especificidade para se avaliar a TEP. O TEP pode se manifestar na radiografia na forma de atelectasia ou derrame pleural. As principais alterações encontradas são: Sinal de Westermark: é uma consequência da obstrução do vaso, ou seja, por áreas de hipoperfusão pulmonar. Sinal de Palla: é uma dilatação na artéria pulmonar, causado pelo desvio de sangue da artéria obstruída para outra região. Sinal de lampton (opacidade em cunha): é a alteração clássica da TEP na radiografia, corresponde a área de infarto ou hemorragia pulmonar, que forma necrose na área de atelectasia podendo ou não estar associada a derrame pleural. Eletrocardiograma: O ECG pode apresentar formas variadas, ou seja, normal assim como cursar com achados inespecíficos dentre eles a taquicardia sinusal e alterações do segmento ST em cerca de 70% dos casos. Ecocardiograma: É um exame fundamental para o prognóstico, pois irá auxiliar na estratificação dos pacientes pós-TEP já que pode avaliar disfunções no VD. Também pode auxiliar na identificação da etiologia da dispnéia e dor torácica. Cintilografia: O exame consiste na inalação de albumina marcada com tecnésio 99. Após a inalação, são realizadas várias imagens que relacionam ventilação com perfusão de cada área. O exame compara a perfusão com a inalação: se há áreas com ventilação SEM perfusão, deve-se pensar no diagnóstico de TEP, o qual consiste na probabilidade. - Alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica = TEP; - Baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal = exclui TEP; - Baixa ou intermediária probabilidade cintilográfica = para elucidar o diagnóstico devemos lançar mão de outro exame. Angiotomografia de tórax: É o exame padrão ouro. Possui alta sensibilidade e alta especificidade para TEP. Arteriografia pulmonar: Também considerado padrão ouro para o diagnóstico de TEP, porém, esse é invasivo. Utiliza-se contraste iodado que permite avaliar a circulação pulmonar. Apesar de ser padrão ouro é utilizada em casos em que outros métodos não confirmaram a TEP e a suspeita clínica continua alta. USG de MMII com doppler: É um exame pouco invasivo que demonstra sinais diretos e indiretos de trombo. Tratamento: O tratamento do tromboembolismo pulmonar consiste na anticoagulação. Os anticoagulantes não degrada os trombos já formados, na verdade eles atuam impedindo a formação de novos trombos. Sendo assim, os anticoagulantes evitam a recorrência do tromboembolismo pulmonar. Medidas de suporte: Oxigenoterapia: Pacientes com saturação periférica de O2 (SpO2) < 90% devem receber oxigênio suplementar. Em caso de hipóxia, instabilidade hemodinâmica grave, rebaixamento do nível de consciência e insuficiência respiratória grave, há indicação de intubação orotraqueal e ventilação mecânica. Suporte hemodinâmico: Pacientes com hipotensão devem receber fluidos com cautela. Em caso de ausência de resposta adequada, deve ser instituída terapia com droga vasoativa. Esses pacientes com instabilidade hemodinâmica apresentam indicação de trombólise. Paciente estável: O paciente pode ser anticoagulado de imediato, mesmo que o diagnóstico ainda não tenha sido fechado, mas tenha-se uma elevada suspeita. Os anticoagulantes usados na fase inicial são: Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM): Possui um efeito rápido e menor risco de sangramento e plaquetopenia em relação a heparina não fracionada. Esse medicamento é contraindicado ou ajustado em pacientes com disfunção renal grave. Heparina Não Fracionada (HNF): Possui um rápido efeito e pode ser usada em pacientes com disfunção renal. Ao usar este medicamento deve-se realizar o controle com coagulograma pelo TTPa (inicialmente de 6/6 horas), realizando o ajuste pelo valor do TTPa, o qual o valor deve ficar entre 65 e 85. Inibidor do Fator XA: - Fondaparinux: Essa classe de medicamentos faz parte dos anticoagulantes orais e como benefícios tem-se a ausência da interação com alimentos, assim não é necessário fazer restrição alimentar. Também não é necessário fazer exames para acompanhar sua atividade anticoagulante. O que limita sua utilização é o elevado custo. Possui um efeito rápido e agudo. Sendo muito utilizado em pacientes com trombocitopenia induzido pela heparina. Contraindicado para pacientes com disfunção renal. Cumarínicos: É uma das droga mais utilizadas para anticoagulação dos pacientes após a alta hospitalar, no entanto, não pode ser utilizado isoladamente no paciente admitido com TEP, uma vez que os inibidores da vitamina K (ex.:varfarina) apresentam inicialmente um efeito pró-trombótico, devendo ser combinados com o uso da HNF ou enoxaparina até atingir os níveis de RNI adequados. Devem ser evitados durante a gestação por apresentar atividade teratogênica. Também deve orientar o paciente para evitar o consumo de alimentos ricos em vitamina K, já que estes medicamentos exercem a função anticoagulante inibindo os fatores de coagulação dependentes de vitamina K. Novos Anticoagulantes Orais (NOACs) ou DOACs: Exemplo: Apixabana, Rivaroxabana, Endoxabana e Dabigatran. Tem como vantagem o menor sangramento em relação à varfarina, possuem pouca interação com alimentos e não é necessário fazer o controle de RNI (exame realizado para verificar o efeito da varfarina no sangue). Já como desvantagens, ele é contraindicado para pacientes em pacientes com disfunção renal, FA com uso de prótese valvar e pacientes com estenose mitral. Paciente instável Em pacientes instáveis (PAS <90 mmHg) é preconizado o uso de trombolíticos. Só podem ser usados em pacientes com o diagnóstico de TEP confirmado com exames por imagem. Trombectomia: É um tratamento de fibrinólise mecânica, onde é retirado o coágulo endovascular através de cirurgia. Sendo uma opção para pacientes jovens com TEP grande proximal que estão com hipotensão. Filtro de Veia Cava Inferior: Nos casos em que se tem contraindicação ao uso de anticoagulante ou reincidência de quadros de tromboembolismo pulmonar em pacientes anticoagulados corretamente a opção é a utilização de filtro de veia cava inferior. Tromboembolismo Venoso (TEV): O tromboembolismo venoso inclui duas condições frequentes, que são a trombose venosa profunda (TVP e o tromboembolismo pulmonar (TEP), sendo esta a causa de morte evitável mais comum no paciente hospitalizado. Medidas de Prevenção: Hidratação adequada; Mobilização/ deambulação precoce; Meia elástica anti-trombo; Compressão pneumática intermitente; Bomba venosa podal; Anticoagulantes (HBPM, HNF, Fondaparinux, DOACs). Pacientes cirúrgicos: Cirurgia ortopédica (principalmente de joelho e quadril) ou não ortopédica. Escore Rogers, Caprini. Pacientes clínicos: Escore de Pádua, Improve (D), Caprini Escore de Pádua: Baixo risco < 4; Alto risco > ou = 4. Escore de Pádua – Pacientes clínicos < 4 pontos Baixo risco Deambulação precoce ≥ 4 pontos Alto risco HNF: 5.000 UI 8/8h HBPM: 40 mg 1x/dia / Profilaxia mecânica quando houver contra indicação da quimioprofilaxia e reconsiderar quando o risco de sangramento diminuir Escore de Caprini – Pacientes cirúrgicos 0 ponto Muito baixo risco: Deambulação precoce 1-2 pontos Baixo risco: Deambulação precoce 3-4 pontos Moderado risco: HNF: 5.000 UI 12/12h HBPM: 20 mg 1x/dia / Profilaxia mecânica quando houver contra indicação da quimioprofilaxia e reconsiderar quando o risco de sangramento diminuir ≥ 5 pontos Alto risco: HBPM: 40 mg 1x/dia / Profilaxia mecânica quando houver contra indicação da quimioprofilaxia e reconsiderar quando o risco de sangramento diminuir. * Não esquecer de avaliar o risco de sangramento!!!
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