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Duda Bernardes 1 Terapia Nutricional na gestação INTRODUÇÃO: → O papel da nutrição é visto, com interesse crescente e cabe aos profissionais da área acompanhar de modo cui- dadoso esse binômio mãe-feto, a fim de assegurar a perpetuação da espécie. MUDANÇAS FISIOLÓGICAS E METABÓLICAS NA GESTAÇÃO: → A gestação é um processo fisiológico, dinâmico, que afeta todo o organismo materno, causando alterações bioquímicas, hormonais e urinárias → As alterações promovem o crescimento fetal e a ma- nutenção do corpo gravídico ao mesmo tempo que o prepararam para a lactação. → As alterações são divididas em dois períodos: 1) Anabólico: tanto para a mãe quanto para o feto, que se estende desde a concepção até a 27ª semana. 2) Catabólico materno e Anabólico fetal: que se estende até o parto • Assim, o peso é um critério de importância máxima • Nessa fase, muitas alterações gastrointestinais ocorrem e podem ocasionar quadros de náuseas e vômitos, além de aumento na sensação de fome. • Ocorre alterações fisiológicas como: o A diminuição do tônus e da motilidade gástrica, o Diminuição da secreção ácida, o O retardo do esvaziamento do estômago e o aumento da secreção da mucosa gástrica são secundários à elevação da progesterona. o Motilidade do intestino também é reduzida durante a gestação, embora não haja alteração na absorção de nutrientes, exceto pelo aumento da absorção do ferro. • A concentração de proteínas transportadoras de vitamina D, cortisol, hormônios esteroides, hormônios tireoideanos e metabolismo dos carboidratos está aumentada para garantir os nutrientes necessários ao crescimento fetal. • A sensibilidade à insulina cai cerca de 50 a 60% quando comparada à mulher não grávida, alterando não apenas o metabolismo da glicose, mas também as lipoproteínas, além de diminuir a capacidade da insulina em suprimir a lipólise. • Nesse período ocorre um aumento no risco de: o Cetonemia: em decorrência do estado de jejum acelerado, o que torna os corpos ce- tônicos um importante combustível metabólico para o cérebro fetal nas situações de queda do aporte de glicose pela mãe. o Cetonúria → Com a evolução da gravidez, ocorre um aumento no peso materno e no produto do depósito de proteínas, gorduras, água e minerais que são depositados no feto, na placenta, no líquido aminiótico, no útero, na glândula mamária, no sangue e no tecido adiposo. → Os produtos da concepção (placenta, feto, líquido aminiótico) compreendem cerca de 35% do total do ganho de peso da gestante o Principais alterações fisiológicas na gravidez: VARIAÇÕES BIOQUÍMICAS E MEDIDAS LABORATORIAIS → O pico da expansão sanguínea ocorre entre 32 e 34 semanas de gestação, com aumento de aproximadamente 30 a 40% na volemia, o que ocasiona redução dos níveis de hematócrito e hemoglobina. → Outras alterações fisiológicas incluem: o aumento do trabalho cardíaco, o acúmulo de água no corpo o modificações nas funções renal, respiratória e gastrointestinal Terapia nutricional na gestação Duda Bernardes 2 → Essas adaptações durante a gravidez alteram os níveis sanguíneos de muitos nutrientes. Geralmente, os nutrientes hidrossolúveis têm valores diminuídos. No entanto, os nutrientes lipossolúveis, como o caroteno e a vitamina E, sofrem aumento de cerca de 50% na gravidez. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NA GESTAÇÃO: → A avaliação nutricional da gestante é semelhante à da paciente não grávida, porém com critérios antropométricos e laboratoriais ajustados à condição → Na primeira consulta avaliar: o História clínica detalhada o Identificar doenças preexistentes o Uso de medicamentos o Tendência à prisão de ventre ou diarreia o Alergias alimentares o Flatulência excessiva o E outros fatores que possam a vir interferir na gravidez. → No exame físico avaliar: o Edemas o Hipocromia de mucosas o Hidratação o Aferir pulso e PA. → Avaliação da dieta baseada no recordatório alimentar de 3 dias consiste em ferramenta de suma importância na avaliação do perfil nutrológico da gestante e permite identificar: o características alimentares e número de refeições por dia; o diminuição da ingestão de grupos alimentares específicos; o aversões, compulsões alimentares, repulsas ou mesmo hábito alimentar inadequado originário de crendices; o quantidade de água ingerida. As medidas antropométricas seguem os mesmos métodos para pacientes não grávidas, porém as referências mudam na gravidez. O dado de maior preocupação para as gestantes é o peso, que pode ser avaliado por meio de três métodos diferentes: 1) IMC 2) Compleição da mulher (altura/circunferência do punho) 3) Curva de ROSS → A variação de ganho de peso deve ser calculada e discutida com a gestante na primeira consulta e depende do IMC pré-gravídico MACRONUTRIENTES NA GESTAÇÃO: → O aumento do metabolismo basal das gestantes decorre do aumento do útero, do feto e do trabalho cardíaco. → No primeiro trimestre, deve-se ressaltar o desenvolvimento do sistema nervoso, o que demanda uma grande necessidade de vitaminas e minerais. Duda Bernardes 3 → Estudos de calorimetria indireta feitos em gestantes evidenciam um aumento de 350 a 500 kcal a partir do segundo trimestre da gravidez, correspondendo ao aumento das necessidades metabólicas. Assim, o valor do REE deve ser acrescido, em média, 350 kcal/dia para o segundo trimestre e 500 kcal/dia para o terceiro. → A idade da gestante também é um fator determinante das necessidades calóricas. o Quando a gravidez ocorre na adolescência, as necessidades nutricionais são aumentadas, em razão da maior demanda dessa fase. o Já na fase adulta, no final da vida reprodutiva, as reservas nutricionais podem estar comprometidas, principalmente na presença de multiparidade. GESTAÇÕES MÚLTIPLAS: → O acompanhamento nutricional de mães com gestações múltiplas é preponderante, visto que a nutrição pode influenciar tanto no crescimento intrauterino quanto na duração dessas gestações de alto risco. → Em caso de gestações gemelares, orienta-se a ingesta energética diária: o 4.000 kcal para grávidas de baixo peso, o 3.500 kcal para grávidas de peso normal, o 3.250 kcal para grávidas com sobrepeso o 3.000 kcal para grávidas obesas. → Recomendações de vitaminas e minerais para a gravidez gemelar: • Multivitamínico com 100% do RDA para não grávida (incluindo 400 mcg de folato). Ofertar um comprimido no 1° trimestre e dobrar a dose no 2° e no 3° trimestre. o cálcio: 3 g/dia; o magnésio: 1,2 g/dia; o zinco: 45 mg/dia. • Suplementação adicional: o vitamina C: 1 g o vitamina E: 400 IU (reduzir o risco de pré - eclampsia) o suplementação na forma de leites e derivados devido ao consumo de cálcio aumentado Duda Bernardes 4 MICRONUTRIENTES NA GESTAÇÃO: → Ocorre diminuição nos níveis sanguíneos das vitaminas hidrossolúveis e aumento das lipossolúveis que decorrem do aumento dos lipídios sanguíneos • Ácido fólico: o A necessidade dessa vitamina aumenta em decorrência de aumento da eritropoese materna, crescimento fetal e placentário. o deficiência de ácido fólico pode estar relacionada a malformações congênitas do tubo neural, como espinha bífida e anencefalia. o A suplementação de 1 mg de ácido fólico 3 meses antes da concepção (quando programada) ou imediatamente após o conhecimento da positividade no teste de gravidez garante um aporte de ácido fólico satisfatório. • Vitamina A: o A necessidade de vitamina A está aumentada na gravidez, porém tanto sua deficiência quanto seu excesso em seres humanos podem ser teratogênicos. o Muitas patologias respiratórias em adultos parecem ter sua origem no crescimento e na maturação dopulmão no útero. • Ferro: o As necessidades de ferro variam acentuadamente a cada período gestacional o A partir do segundo trimestre, esses requerimentos começam a se elevar, em decorrência das necessidades de oxigênio para mãe e feto, e perduram até o parto, sendo necessário manter os níveis adequados de hemoglobina para garantir a saúde materna e fetal. o A ferritina sérica é considerada o melhor marcador para o estado de ferro materno.39 É baixa na deficiência de ferro e, quando está elevada, é relacionada a infecções e prematuridade. o A suplementação de ferro é recomendada nos dois últimos trimestres da gestação mesmo na ausência de anemia. • Zinco: o A necessidade de zinco está aumentada na gravidez por causa do seu papel em processos metabólicos e reprodução celular o Por outro lado, ela também está reduzida comparada a mulheres não grávidas, indicando que há a passagem de zinco da mãe para o feto. o A carência de zinco na gestação relaciona-se a abortamento espontâneo, retardo do crescimento intrauterino, nascimento pré- termo, pré-eclâmpsia, prejuízo da função dos linfócitos T, anormalidades congênitas, como retardo neural, e prejuízo imunológico fetal • Cálcio: o Há um aumento fisiológico na demanda de cálcio na gravidez, principalmente no 3º trimestre em que ocorre a ossificação do esqueleto fetal. o Dietas pré-natais pobres em cálcio estão associadas a aumento da pressão arterial em função da reatividade aumentada do músculo cardíaco, resultando em aumento do risco de hipertensão induzida na gravidez e parto prematuro. Duda Bernardes 5 QUESTIONAMENTOS DIETÉTICOS NA GESTAÇÃO: o Álcool: pode causar a síndrome do alcoolismo fetal o Adoçantes artificiais: nada muito confirmado, mas apresentou pequenos valores para desenvolvimento carcinogênico o Cafeína COMPLICAÇÕES DA GRAVIDEZ RELACIONADAS À DIETA: o Náusea e vômitos: ▪ pode-se desenvolver um déficit agudo de proteínas e energia, assim como uma perda de minerais, vitaminas e eletrólitos. ▪ Consumir alimentos mais secos ▪ Líquidos deverão ser ingeridos quando paciente tiver melhorado na náusea o Azia: ▪ Deve-se à pressão que o útero exerce sobre o estômago, associada ao relaxamento do esfíncter inferior do esôfago, resultando em regurgitação ocasional dos conteúdos do estômago para o esôfago. o Constipação e hemorroidas o Edema e cãibras. GRÁVIDA DOENTE: → Em gestações de alto risco, pode-se ser necessária a utilização da nutrição enteral ou paraenteral, para conseguir nutrir tanto a mãe quanto o feto. → É necessário também estar atenta a mães que estão no puerpério após gestações múltiplas. Estas podem se apresentar desnutridas devido ao alto catabolismo decorrente da gestação. TERAPIA NUTROLÓGICA NA GRAVIDEZ: → A terapia nutricional enteral ou paraenteral é incomum em gestantes, mas alguns casos são relatados. → A TN é calculada a partir do REE, seguindo-se do acréscimo correspondente ao trimestre em que se encontra a paciente. As considerações referentes à doença de base da paciente devem ser consideradas no cálculo de proteínas e lipídios o A terapia nutrológica enteral (TNE) é indicada na presença de doença aguda ou crônica em que a ingestão oral esteja precária e o trato gastrointestinal esteja funcionante. o A terapia nutrológica parenteral (TNP) é indicada nos casos em que o trato gas- trointestinal não é funcionante. EPIGENÉTICA: o A epigenética é a ciência que estuda os mecanismos pelos quais os genes se modificam pela interação com o meio ambiente. o Algumas fases do desenvolvimento embrionário podem ser mediadas por meio de “programas epigenéticos”, que consistem em modificações do DNA e histonas proteicas (matrizes para a sustentação do DNA), influenciando na expressão genética e manifestando fenótipos diferentes; o Já existem provas de que fatores nutricionais podem entrar na metilação do DNA e modificar as proteínas histonas.Entendimentos futuros podem evidenciar o papel do ganho de peso durante a gestação na sequência do DNA.
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