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Exercícios comentados Direito das Obrigações 7

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QUESTÕES OBJETIVAS
Questão 1: 1,0 – um ponto
É correto afirmar sobre as obrigações solidárias: 0,5 – meio ponto
a) Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.
b) Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, acarretará o agravamento dos demais devedores.
c) As exceções pessoais do devedor a um dos credores solidários poderão, a qualquer tempo, ser oponíveis aos demais.
d) A propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores importará na renúncia contra os demais não arrolados.
e) O credor solidário não poderá exigir do devedor o cumprimento integral da obrigação, devendo se limitar a prestação a parte que lhe caiba.
Justifique objetivamente elencando o dispositivo legal referente à alternativa escolhida, quando houver: 0,5 – meio ponto. (1 linha)
A. Art. 271 CC.
Questão 2: 1,0 – um ponto
Relacionado fortemente com os princípios gerais contratuais, em especial à função social do contrato, com o princípio da boa-fé objetiva, e com os princípios que envolvem o adimplemento das obrigações, encontra-se a teoria do adimplemento substancial. 
A respeito dessa teoria, é correto afirmar que: 0,5 – meio ponto
a) encontra-se positivada no Código Civil, entretanto doutrina e jurisprudência entendem ser um grande equívoco, sendo interpretada de forma conjunta ao sistema, desvirtuando a vontade original do legislador.
b) encontra-se positivada no Código Civil, é aplicada como regra; para sua caracterização, levam-se em conta apenas aspectos qualitativos. 
c) encontra-se positivada no Código Civil, sendo amplamente aceita pela doutrina e pela jurisprudência; para sua caracterização, levam-se em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos. 
d) não se encontra positivada no Código Civil, é aceita apenas pela doutrina; para sua caracterização, levam-se em conta apenas aspectos quantitativos. 
e) não se encontra positivada no Código Civil, apesar de amplamente aceita pela doutrina e pela jurisprudência; para sua caracterização, levam-se em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos.
Justifique objetivamente elencando o dispositivo legal referente à alternativa escolhida, quando houver: 0,5 – meio ponto. (1 linha)
E. O STJ frisou, que a teoria do substancial adimplemento visa impedir o uso desequilibrado do direito de resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos desnecessários em prol da preservação da avença, com vistas à realização dos princípios da boa-fé e da função social do contrato.
Questão 3: 1,0 – um ponto
Lucas e Bruno realizaram um contrato de trato sucessivo em que se estampava uma obrigação portável. Entretanto, reiteradamente, o pagamento era feito de forma diversa da que fora pactuada, sem que os envolvidos apresentassem objeção. 
Neste caso, os pagamentos realizados são: 0,5 – meio ponto
a) inválidos, porque realizado de forma diversa daquela constante do instrumento da avença, e o credor poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante do instrumento da avença, uma vez que não há fundamento para se presumir a renúncia ao previsto no contrato nessas circunstâncias.
b) válidos, e o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante do instrumento da avença, uma vez que se presume que o credor renunciou ao previsto no contrato. 
c) inválidos, porque realizado de forma diversa daquela constante do instrumento da avença, mas o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante do instrumento da avença, uma vez que se presume que o credor renunciou ao previsto no contrato. 
d) válidos, mas o credor poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante do instrumento da avença, uma vez que não há fundamento para se presumir a renúncia ao previsto no contrato nessas circunstâncias.
e) válidos, e o credor não poderá exigir que o pagamento passe a ser realizado da forma constante do instrumento da avença, uma vez que, apesar de não existir fundamento para a renúncia, é caso de duty to mitigate the loss. 
Justifique objetivamente elencando o dispositivo legal referente à alternativa escolhida, quando houver: 0,5 – meio ponto. (1 linha)
A. Art. 330 CC.
Questão 4: 1,0 – um ponto
Analise as seguintes proposições relativas às obrigações, segundo o Código Civil: 0,5 (meio ponto)
No direito das obrigações, a novação
a) exige a inequívoca intenção de novar, mas ela pode ser expressa ou tácita.
b) somente se configura caso se refira a todos os elementos da obrigação anterior, pois inexiste novação parcial.
c) é presumida diante da modificação unilateral da forma de cumprimento da obrigação originalmente estatuída.
d) pode ser utilizada licitamente como meio de validar obrigações nulas ou extintas.
e) da obrigação principal não tem reflexos sobre as obrigações acessórias, tal como a fiança. 
Justifique objetivamente elencando o dispositivo legal referente à alternativa escolhida, quando houver: 0,5 – meio ponto. (1 linha) 
A. Art. 361 CC.
QUESTÕES DISCURSIVAS 
Questão 1: 3,00 – três pontos (10 linhas)
João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato, João foi obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal compensatória prevendo que, em caso de inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele. 
a) Defina, explique e exemplifique as espécies de arras e de cláusulas penais (1,5)
b) Suponhamos que, após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. Neste caso, com quais valores João arcará? (1,5)
GABARITO 
ITEM A 
CLÁUSULA PENAL
Conceito
Cláusula penal é...
- uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.
 
A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena convencional.
 
Natureza jurídica da cláusula penal
Trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado.
 
Finalidades da cláusula penal
A cláusula penal possui duas finalidades.
• Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato.
• Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional.
 
Espécies de cláusula penal
	MORATÓRIA
(compulsória):
	COMPENSATÓRIA
(compensar o inadimplemento)
	Estipulada para desestimular o devedor a incorrer em mora ou para evitar que deixe de cumprir determinada cláusula especial da obrigação principal.
É a cominação contratual de uma multa para o caso de mora.
	Estipulada para servir como indenização no caso de total inadimplemento da obrigação principal (inadimplemento absoluto).
	Funciona como punição pelo retardamento no cumprimento da obrigação ou pelo inadimplemento de determinada cláusula.
	Funciona como uma prefixação das perdas e danos, ou seja, representa um valor previamente estipulado pelas partes a título de indenização pela inexecução contratual.
	Ex.1: em uma promessa de compra e venda de um apartamento, é estipulada multa para o caso de atraso na entrega.
Ex.2: multa para o caso do produtor de soja fornecer uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”.
	Ex.: em um contrato para que um cantorfaça um show no réveillon, é estipulada uma multa de R$ 100 mil caso ele não se apresente.
	A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação principal mais o valor da cláusula penal (poderá exigir a substituição da soja inferior e ainda o valor da cláusula penal).
	A cláusula penal compensatória não é cumulativa. Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir o cumprimento da obrigação principal ou apenas o valor da cláusula penal.
	Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.
	Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.
 
Multa moratória = obrigação principal + multa
Multa compensatória = obrigação principal ou multa
 
ARRAS
O que são as "arras"?
Quando duas pessoas celebram um contrato, é possível que elas combinem que uma delas irá pagar à outra um valor em dinheiro (ou em outro bem fungível) como forma de:
1) demonstrar que irá cumprir a obrigação no momento em que chegar o dia do vencimento; ou
2) como uma espécie de valor que será perdido caso ela queira desistir do negócio.
Para Sílvio Rodrigues, as arras “constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada por um contratante ao outro, por ocasião da conclusão do contrato, com o escopo de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de assegurar, para cada um dos contratantes, o direito de arrependimento” (Direito Civil. Vol. 2, 30ª ed, São Paulo: Saraiva. 2002, p. 279).
Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento. É o que diz o Código Civil:
Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.
 
As arras só existem em contratos bilaterais (obrigações para ambas as partes) que tenham por objetivo transferir o domínio (propriedade) de alguma coisa.
As arras possuem natureza jurídica de contrato acessório.
 
Finalidades das arras
A Min. Nancy Andrighi identifica que as arras têm por finalidades:
a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o ajuste (caráter confirmatório);
b) servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo gênero da obrigação principal);
c) prefixar o montante das perdas e danos devidos pelo descumprimento do contrato ou pelo exercício do direito de arrependimento, se expressamente estipulado pelas partes (caráter indenizatório).
 
Espécies de arras
A partir do conceito acima dado, é possível identificar duas espécies diferentes de arras e a diferença principal entre elas está no objetivo de cada uma:
	Confirmatórias (arts. 418 e 419)
	Penitenciais (art. 420)
	São previstas no contrato com o objetivo de reforçar, incentivar que as partes cumpram a obrigação combinada.
 
	São previstas no contrato com o objetivo de permitir que as partes possam desistir da obrigação combinada caso queiram e, se isso ocorrer, o valor das arras penitenciais já funcionará como sendo as perdas e danos.
	A regra são as arras confirmatórias. Assim, no silêncio do contrato, as arras são confirmatórias.
	Ocorre quando o contrato estipula arras, mas também prevê o direito de arrependimento.
	Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento.
	Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento.
	• Se a parte que deu as arras não executar (cumprir) o contrato: a outra parte (inocente) poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas para si.
• Se a parte que recebeu as arras não executar o contrato: a outra parte (inocente) poderá exigir a devolução das arras mais o equivalente*.
	• Se a parte que deu as arras decidir não cumprir o contrato (exercer seu direito de arrependimento): ela perderá as arras dadas.
• Se a parte que recebeu as arras decidir não cumprir o contrato (exercer seu direito de arrependimento): deverá devolver as arras mais o equivalente*.
	Além das arras, a parte inocente poderá pedir:
• indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima;
• a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.
	As arras penitenciais têm função unicamente indenizatória. Isso significa que a parte inocente ficará apenas com o valor das arras (e do equivalente) e NÃO terá direito a indenização suplementar. Nesse sentido:
Súmula 412-STF: No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior, a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo.
 
* Equivalente: significa o valor equivalente das arras que haviam sido dadas. Ex: Mário deu R$ 500 de arras a Paulo; este não cumpriu o contrato; significa que ele terá que devolver as arras recebidas (R$ 500) mais o equivalente (R$ 500), totalizando R$ 1000. Obs: esta devolução deverá ocorrer com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.
 
Exemplo de arras confirmatórias
João está se mudando e combina de comprar o carro de Gabriel, que custa R$ 100 mil; o comprador pede para receber o veículo e pagar o preço só daqui a três meses, quando irá passar a morar na cidade; o vendedor não queria aceitar porque existem outros interessados no veículo e ele desejava vender logo; depois de muita insistência, ele acabou concordando, mas impôs uma exigência, qual seja, a de que João pagasse R$ 10 mil adiantados, como "sinal"; Gabriel explicou que este valor serviria como uma demonstração de que João teria intenção de cumprir o contrato e que não iria desistir; o vendedor explicou, ainda, que, quando o comprador pagasse o preço (R$ 100 mil), ele iria devolver o cheque com o "sinal" de R$ 10 mil. Este "sinal" é chamado, juridicamente, de "arras".
 
Exemplo de arras penitenciais
Antônio comprometeu-se a vender seu apartamento para Ricardo. No contrato, havia uma cláusula prevendo que o promitente-comprador deveria dar um sinal de R$ 10 mil reais, valor este que foi pago. Vale ressaltar que o contrato estipulou que as partes tinham direito de desistir do negócio (direito de arrependimento). Antes que a primeira prestação fosse paga, Ricardo resolveu não mais comprar o imóvel. Isso significa que ele irá perder o sinal (arras) que pagou. Em outras palavras, não terá direito de pedir de volta essa quantia. Da mesma forma, Antônio não poderá exigir nenhum outro valor de Ricardo, ainda que tenha tido outros prejuízos decorrentes da desistência.
ITEM B 
Neste caso, João perderá apenas as arras, mas não será obrigado a pagar também a cláusula penal compensatória. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal compensatória. Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora autorizada a apenas reter o valor das arras, sem direito à cláusula penal. Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das arras com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non bis in idem. Se previstas cumulativamente para o inadimplemento contratual, entende-se que deve incidir exclusivamente a pena de perda das arras, ou a sua devolução mais o equivalente, a depender da parte a quem se imputa a inexecução contratual. Isso porque o art. 419 do CC afirma que as arras valem como "taxa mínima" de indenizaçãopela inexecução do contrato.
Assim, em nosso exemplo, como quem praticou a inexecução contratual foi quem deu as arras (João), ele perderá as arras.
STJ. 3ª Turma.REsp 1617652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/09/2017 (Info 613).
Questão 2: 3,00 – três pontos (10 linhas)
“XX” Agropecuária Ltda. é uma empresa que desenvolve atividades agropecuárias. Ela contraiu um empréstimo junto ao banco para financiar a implementação de um projeto agrícola em sua fazenda. Como garantia, foi emitida uma cédula de crédito bancário com garantia hipotecária, no valor de R$ 500.000,00, com vencimento para dois anos depois de sua emissão. Quando chegou a data do vencimento, a empresa não pagou o empréstimo e ajuizou contra o banco ação declaratória de inexistência de débito, argumentando que a fazenda onde o projeto era desenvolvido foi invadida pelo “Movimento dos Sem Terra” (MST). Com isso, ela ficou impossibilitada de produzir normalmente em sua propriedade e, por conseguinte, paralisou as atividades, não conseguindo angariar recursos para pagar suas obrigações, situação que caracteriza a hipótese de força maior, prevista no art. 393 do Código Civil, apta a ensejar a extinção da obrigação:
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.
a) Segundo a jurisprudência do STJ a invasão da propriedade pelo MST, por si só, é um evento que pode ser considerado como hipótese de força maior? Por que?(1,0)
b) Quais são os requisitos caracterizadores do caso fortuito e da força maior? Defina e exemplifique cada um deles. (2,0).
GABARITO 
ITEM A
NÃO.
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser analisada, concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/8/2016 (Info 589).
 
ITEM B
O caso fortuito e a força maior são causas excludentes da responsabilidade.
Para estarem presentes, no entanto, é necessário o preenchimento de dois elementos que os caracterizam:
a) a necessariedade e
b) a inevitabilidade.
 
Necessariedade
Necessariedade significa que o fato ocorrido tinha, no caso concreto, a aptidão (força) de impossibilitar o cumprimento da obrigação.
Deve-se verificar se o acontecimento natural (ex: um furacão) ou o fato praticado por terceiro (ex: uma invasão) pode ser considerado, no caso concreto, como barreira intransponível para a execução da obrigação.
O fato deve ser de tal ponto grave que gere a impossibilidade absoluta de cumprimento da prestação.
Vale ressaltar que impossibilidade não se confunde com dificuldade ou onerosidade. Não basta que o fato tenha tornado mais difícil ou oneroso o cumprimento da obrigação. Ele deve ter tornado impossível.
 
Inevitabilidade
Inevitabilidade significa que o devedor não tinha, no caso concreto, meios para evitar ou impedir as consequências do evento.
“O fato deve ser irresistível, invencível, atuando com força indomável e inarredável. O que se considera é se o evento não podia ser impedido nos seus efeitos. O fato resistível, que pode ser superado, não constitui evento a autorizar a exoneração. É perfeitamente possível que o fato seja imprevisível, mas suas consequências evitáveis. Se o devedor não toma medidas para evitá-la, tipifica-se o inadimplemento e não a impossibilidade com apoio no caso fortuito ou força maior.” (VIANA, Marco Aurelio S. Curso de Direito Civil: direito das obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 399)
 
Voltando ao exemplo dado:
A empresa, na ação proposta, alegou que:
a) houve invasão de sua propriedade rural por integrantes do MST;
b) a invasão ocorreu exatamente na parte em que havia sido implementado o projeto agrícola;
c) isso resultou na absoluta incapacidade de plantar e colher em virtude da depredação dos equipamentos;
d) houve tentativa de retirada pacífica dos invasores das terras, mas sem êxito.
 
Ocorre que, no caso concreto, a autora somente provou a afirmação contida na letra “a”, ou seja, que houve uma invasão de sua propriedade, não trazendo provas das demais alegações.
 
Diante deste quadro probatório, o seu pedido deverá ser julgado procedente?
NÃO. Não existem provas das alegações da autora e, portanto, não há comprovação de que o fato ocorrido (invasão) possa ser qualificado como força maior.
A autora não provou que as autoridades policiais foram comunicadas sobre o ocorrido. Também não provou que ajuizou ação de reintegração de posse contra os invasores.
Dessa forma, no caso concreto, não restou comprovado que a ocupação ilegal da propriedade rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação. Também não se provou que não havia meios de evitar ou impedir os seus efeitos, nos termos do art. 393, parágrafo único, do Código Civil.
 
Este ônus era da parte autora, razão pela qual cabia a ela juntar tais provas.

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