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Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 13 francês para o inglês citada por Vinay e Darbelnet (1977:50), uma vez que o inglês não possui uma outra construção equivalente mais próxima do original em francês: des son lever (lever - substantivo) as soon as he gets up (gets - verbo) O segundo procedimento da é a Neste caso, há uma tradução oblíqua modulação. mudança de ponto de vista, ou de foco, na expressão da mensagem em cada uma das línguas envolvidas na tradução. (pág. 29) Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:89) pode esclarecer melhor este procedimento: jusqu'à une heure avancée de la nuit. until the small hours of the morning. Neste exemplo, embora os segmentos textuais nas duas línguas estejam-se referindo ao mesmo espaço de tempo, entre uma e três horas da manhã, pode-se dizer, o francês refere-se ao período como noite, enquanto o inglês refere-se a ele como manhã, ou seja, cada língua privilegia um aspecto diferente da mesma realidade. Assim, na tradução, é preciso lidar satisfatoriamente com este fato, abandonando a para preservar o sentido da mensagem. tradução literal O terceiro procedimento da é a Esta é utilizada em tradução obliqua equivalência. casos onde as duas línguas em confronto dão conta da mesma situação através de meios estilísticos e estruturais totalmente diversos. Assim sendo, será empregada primordialmente para a tradução do repertório fraseológico, dos idiotismos, clichés, provérbios, interjeições e onomatopeias. Os provérbios em geral constituem exemplos perfeitos da equivalência, pois encerram uma mensagem total em si mesmos, permitindo uma operação de equivalência, já que os povos criaram provérbios cujo referencial se encontra em sua realidade extralinguística particular que, muitas vezes, será incompreensível para falantes de outras línguas, os quais terão gerado seus provérbios particulares, baseados em sua própria realidade extralinguística. Vinay e Darbelnet (1977:52) citam vários exemplos de equivalência, dentre eles o reproduzido abaixo: too many cooks spoil the broth deux patrons font chavirer la barque A mesma ideia é expressa, por tradicionalmente, em português, por panela equivalência, “ que muitos mexem ou sai salgada ou sai sem sal ou por outras formas aproximadas. É possível, ” também, realizar esta equivalência trazendo-a mais para perto de uma realidade brasileira propriamente dita: muito cacique para pouco índio. “ ” (pág. 30) o último procedimento da é também o A adaptação, tradução oblíqua, limite extremo da tradução. Aplica-se em casos onde a situação extralinguística a que se refere o TLO não existe no universo cultural dos falantes da LT, devendo, portanto, ser recriada através de uma outra situação, que ç tradutor julgue equivalente, no contexto extra-linguístico da LT. Trata-se, portanto, de um caso particular da uma equivalência, equivalência de situação. Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:53) é reproduzido abaixo: he kissed his daughter on the mouth Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 14 il serra tendrement sa fille dans ses bras Neste caso, o anglo-saxônico beijo que o pai dá à filha na boca é substituído por um terno abraço em francês, já que na cultura dos povos falantes deste segundo idioma não existe o primeiro comportamento. Ao descrever estes procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977) deixam claro também que, em um determinado segmento de texto, poderão ser usados, concomitantemente, mais de um procedimento técnico da tradução, como pode ser visto em um dos exemplos citados acima (q.v. p. 29): A B C D E F G jusqu'à une heure avancée de la nuit until the small hours of the morning Onde são uma de artigo indefinido para artigo A e E traduções literais. B é transposição definido, C é uma mas com um deslocamento obrigatório de posição dentro do tradução literal, sintagma nominal (pós-posição do adjetivo flexionado em francês e anteposição do adjetivo invariável no inglês), além de uma modulação de singular para plural. D é uma modulação onde se encontram também alterações estruturais obrigatórias, ou seja, a pós-posição do adjetivo e sua concordância em género e número no francês. é uma tradução ao mesmo tempo e que F literal envolve uma do artigo definido de género feminino singular em francês transposição obrigatória para o artigo ( 31) definido invariável em inglês. Em G encontra-se novamente uma pág. mo- dulação. Vinay e Darbelnet (1977:54) citam ainda um exemplo onde vários procedimentos tradutórios se realizam no interior da tradução de um só pequeno segmento textual (que, no caso, pode ser considerado como um texto completo em si mesmo): PRIVATE DEFENSE R D’ENTRE Estas seriam placas encontradas pregadas na porta de um gabinete particular. A tradução do inglês para o francês é uma pois o adjetivo se transforma em sintagma nominal; transposição, uma porque se passa de uma constatação a uma ordem; finalmente, é uma modulação, equivalência pois a tradução é feita tendo-se em vista a situação sem preocupação de manter-se a estrutura sintética do TLO. Além desta concomitância de ocorrência de procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977) abordam também outros procedimentos auxiliares, embora discutam-nos fora dó quadro de procedimentos técnicos da tradução que expõem. Estes procedimentos são analisados de modo ad hoc quando os autores aplicam os procedimentos técnicos da tradução aos três planos onde consideram que a tradução se realiza: o lexical, o sintético e o da mensagem. Estes procedimentos auxiliares não são analisados neste ponto do presente trabalho, pois foram revisados e expandidos por Vazquez-Ayora (1977), e são examinados quando da revisão do trabalho deste autor 2.1.3). (q.v. Através do breve exame dos procedimentos técnicos da tradução, segundo Vinay e Darbelnet (1977), feito acima, pode-se concluir que, para estes autores, a ocupa tradução literal uma posição privilegiada, embora sujeita a certos limites: o tradutor deve afastar-se dela quando este procedimento r invalidado pelo teste apresentado na página 24, onde pode-se dizer que está fo também implícita a noção de erro na tradução. Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 15 (pág. 32) Observe-se que, nesse teste, estão colocados, os princípios que norteiam a tradução para Vinay e Darbelnet (1977). O primeiro deles é a manutenção do significado do TLO ao passar para a LT. Estaria aí definida sua noção de fidelidade: ao conteúdo, mas também à forma, já que o tradutor só deve afastar-se da quando esta for impossível por ir contra os tradução literal princípios e normas que regem a LT, sua estrutura e seus registros, ou quando não houver corres- pondência no contexto culturalda LT para o contexto gerado pelo TLO. Esta atitude diante da tradução deve-se, em parte, à preocupação estilística de Vinay e Darbelnet (1977). Sua obra é um compêndio de estilística comparada, um cotejamento entre as formas ideais encontradas em duas línguas. Portanto, em seu ponto de vista, a tradução não pode ser efetuada de modo que contrarie aquilo que, na sua concepção, é o estilo p. 22) da língua (q.v. para a qual é feita. 2.1.2. Equivalência Formal vs Equivalência Dinâmica: O Modelo de Nida Lançando mão de sua grande experiência como tradutor da Bíblia, no âmbito da United Bible Societies (cf. que, até o final de 1968, já havia trabalhado com 1393 línguas Nida e Taber, 1982:vii), Nida (1964 e 1966) escreve sobre a teoria e a prática da tradução. Busca subsídios teóricos na gramática de base gerativa-transformacional e, como Chomsky (1957), considera a língua como um mecanismo dinâmico capaz de gerar uma série infinita de enunciados diversos “ ” (cf. Nida, 1964:9). Acredita que esta visão gerativa da língua é fundamental para o tradutor, pois este, ao traduzir de uma língua para outra, deve ir além da simples comparação das estruturas correspondentes nas duas línguas comparação feita por Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1). O – q.v. tradutor deve também procurar descrever os mecanismos por meio dos quais a mensagem total veiculada através de um texto é decodificada, transferida e transformada nas estruturas de outra língua Nida, 1964:9). (cf. Vendo a língua como um código comunicativo, Nida (1964:30) procura estabelecer a “ ” natureza do significado. Para isto, busca subsídios na semântica e na pragmática, mais especificamente no trabalho de Katz e Fodor (1962, 1963), quando explicita o “ ”dicionário de (pág. 33) que dependem para a descrição dos traços semânticos Nida, 1964:39), cuja (cf. formulação poderia ser útil para o tradutor no estabelecimento de equivalências lexicais de uma língua para a outra. Também as funções da linguagem descritas por Jakobson (1980) são utilizadas por Nida (1964:45-46) em sua análise, no sentido de determinar quais funções da linguagem estão presentes no TLO e se são as mesmas existentes no TLT após o processo tradutório. Desta visão da linguagem resulta o primeiro modelo operacional da tradução, segundo a “ ” proposta de Nida (1964:68), dividido em três etapas: 1) redução do texto original a seus núcleos (kernels, cf. Chomsky, 1957) mais simples e semanticamente mais evidentes. 2) transferência do significado da LO para a LT em um nível estruturalmente simples e 3) geração de uma expressão estilística e semanticamente equivalente na língua da tradução Nida, 1964:68). Afirma ainda (cf. que o tradutor realmente competente traduz unidades de significado Nida, 1964:68), não se “ ” (cf. ocupando apenas em reproduzir unidades estruturais. “ ” Nida (1964) aplica, aqui, à tradução, o modelo da gramática de base gerativa-transformacional. Trata-se de uma explicitação teórica daquilo que o tradutor faz. Pode-se dizer mesmo que seria uma visão em câmera-lenta do que se passa na cabeça do tradutor no ato de traduzir. Não encontrei, no entanto, qualquer subsídio na literatura disponível para afirmar que esta fosse realmente uma descrição satisfatória dos processos mentais que ocorrem no ato da tradução. Segundo o próprio Nida (1964:145), para efetuar tal descrição, seriam necessários subsídios da psicologia e da neurologia, ciências que não sabem precisamente o que ocorre na “ Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 16 mente do tradutor quando este traduz. ” Retomando sua visão da língua como código comunicativo, Nida (1964:120-144) volta-se para a teoria da comunicação, na qual o tradutor e o leitor da tradução podem ser considerados como elementos atuantes em um ato comunicativo Zagury, 1975:105-106), bem como a (cf. tradução uma etapa dele, como no gráfico apresentado abaixo que elaborei para ilustrar este ponto: (pág. 34) FONTE MENSAGEM1 RECEPTOR1 MENSAGEM2 RECEPTOR2 FONTE = autor do TLO MENSAGEM2 = TLT (equivalente MENSAGEM1) à MENSAGEM1 = TLO RECEPTOR2 = o leitor do TLT RECEPTOR1 = tradutor Nida (1964:120) considera esta análise como tendo especial importância para a tradução, pois vê a produção de mensagens equivalentes (a MENSAGEM1 e a MENSAGEM2 não são iguais, mas equivalentes) como um processo não apenas de encontrar equivalentes para segmentos de enunciados, mas como um processo de reprodução do caráter dinâmico global da comunicação. Assim sendo, Nida (1964:156) considera que há três fatores básicos a serem avaliados antes de se efetuar uma tradução: 1) a natureza da mensagem, 2) o objetivo ou objetivos do autor e, consequentemente, do tradutor e 3) o tipo de público visado pelo original e pela tradução. A partir daí, o que se deve buscar na tradução é a maior equivalência possível entre a MENSAGEM1 e a MENSAGEM2 afirma Nida (1964:159), mas considerando que há dois tipos , fundamentais diversos de equivalência: uma que pode ser chamada de e outra que é formal primordialmente dinâmica. A equivalência formal é centrada no conteúdo e na forma da MENSAGEM1, o texto original. Neste tipo de tradução, a preocupação está em manter a correspondência estilística, a correspondência de frase para frase e de conceito para conceito entre o TLO e o TLT. Encarada com esta orientação formal, a tradução precisa gerar um TLT que corresponda o mais possível aos diversos elementos linguísticos e extralinguísticos contidos no TLT. Já a tem como meta atingir uma total naturalidade na expressão da equivalência dinâmica MENSAGEM1, o TO, na LT e tenta transpor o TLO para a LT de tal modo que o leitor encontre no TLT modos de comportamento e outros elementos extralinguísticos relevantes em sua própria cultura; não insiste que ele compreenda padrões culturais do contexto da LO a fim de poder compreender a mensagem. (pág. 35) Assim, de acordo com este modelo, a tradução deve almejar ao efeito “ equivalente” que, segundo Nida (1964:159), foi enunciado por Rieu e Phillips (1954, Nida, apud 1964:159)8, ou seja, a tradução teria sobre seu leitor o mesmo efeito que teve o TO sobre seu leitor. Mas isso nem sempre é possível ou desejável, como no caso das populações mencionadas por 7 Nida (1964) que, mesmerizadas pelo TLO, preferem uma tradução totalmente literal, mesmo que não compreendam seu significado. Nida (1964, 1966) não enumera procedimentos técnicos da tradução nos moldes do que fazem Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1). Nida (1964) discute procedimentos técnicos da q.v. tradução, embora não de modo ordenado, dificultando uma apreciação sucinta dos mesmos, observação já feita por Vázquez-Ayora (1977:6). Há considerável superposição entre os procedimentos descritos ao longo de sua obra por Nida (1964, 1966) e por Vinay e Darbelnet (1977) a quem Nida (1964) cita e cujos exemplos Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material podeser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 17 utiliza em seus comentários. Assim, por causa da dificuldade de elencar os procedimentos abordados por Nida (1964, 1966), estes não são apresentados a esta altura, no presente trabalho, mas serão mencionados sempre que forem necessários para esclarecer melhor minha proposta. 2.1.3. Os Quatro Modelos de Catford Catford (1965: vii) considera que, uma vez que a tradução opera com a língua, a análise e discussão de seus processos deve utilizar categorias estabelecidas para a descrição das línguas. Em outras palavras, deve recorrer a uma teoria da língua, ou seja, a uma teoria linguística geral. Afirma Catford (1965:1) que a teoria linguística que utiliza é a desenvolvida, sobretudo por M. A. K. Halliday4, influenciada pelo trabalho de J. R. Firth (1970, por exemplo). Sua preocupação expressa não é deter-se em problemas específicos da tradução, mas antes analisar o que a tradução é (cf. Catford, 1965:v ). Deste modo, logo após sua apresentação sucinta ii da teoria linguística de onde tirou subsídios, com a qual inicia seu livro, forma de apresentação já encontrada em Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1 e Nida, 1964, 2.1.2), encontra-se sua q.v. q.v. definição de tradução (cf, Catford, 1980: 22): “a substituição de material textual numa língua (pág. 36) (LO) por material textual equivalente noutra língua.” A partir desta definição, delineia os eixos de tensão ao longo dos quais se colocam os tipos de tradução que considera existir, que se configuram em quatro modelos de tradução. Para Catford (1965:23-24), no primeiro modelo, a tradução pode ser ou Na plena parcial. tradução plena, todo o material textual na LO é substituído por seu equivalente na LT, Já na tradução parcial há partes (ou uma só parte qualquer) do TO que não são traduzidas, mas que são simplesmente incorporadas ao TLT, procedimento denominado “transferência” por Catford (1965:43-48). Observe-se que esta incorporação de elementos do TLO no TLT corresponde ao procedimento denominado por Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1). Catford “ ”empréstimo q.v. (1965:21) justifica seu emprego do mesmo modo que Vinay e Darbelnet (1977): ou por ser o item lexical em questão considerado intraduzível, ou pelo objetivo estilístico de dar cor local ao texto “ ” traduzido. Em seguida, Catford (1965:24) explica o conceito de ou “ ”Ordem “ ”plano (ranks, cf. Catford, 1965:24, § 2.4; Catford, 1980:26, § 2.4) linguísticos, os quais considera importantes para a tradução. As ou “ ”ordens “ ”planos são os degraus da hierarquia gramatical ou fonológica nos quais se estabelece a equivalência da tradução. As “ ”ordens que considera Catford (1965:24) são o morfema, a palavra, o grupo, a oração, o período, o parágrafo e o texto, podendo haver sobreposição, já que, por exemplo, em uma placa de sinalização que contenha a palavra PERIGO, esta palavra é também um texto completo em si mesma. O eixo descrito em seguida por Catford (1965:22-24), e que configura seu segundo modelo da tradução, é o da corresponde à definição de tradução total vs. a restrita. A tradução total tradução citada acima (p. 42-43). Nesta, todas as “ordens planos” ou “ ” do léxico, de uma hierarquia gramatical, fonológica e grafológica do TLO são substituídos por outros da LT. A tradução restrita limita-se apenas a uma dessas ou , conforme será descrito “ordens” “ ”planos abaixo. A tradução fonológica consiste na substituição da fonologia da LO pela equivalente na LT. No exemplo abaixo, organizei um quadro em que apresento dois itens lexicais do inglês com sua tradução fonológica para o português e o espanhol, segundo a descrição de Catford (1965), para 4 Catford (1965:1) remete o leitor para Halliday, M. A. K., "Categories of the theory of grammar," Vol. 17, N°. 3, 1961, pp. 241-92; e Word, Halliday, M. A. K. et al. The linguistic sciences and language teaching, Longmans, 1964. Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 18 ilustrar este caso: (pág. 37) INGLÊS PORTUGUÊS DO BRASIL ESPANHOL DO URUGUAI output [autipútí] [aupú] vickvaporub [viquivaporúbi] [viváporu] A tradução grafológica consiste na substituição da grafologia da LO pela equivalente na LT. No exemplo abaixo, citado por Catford (1965:13), aparece uma inscrição inglesa com grafologia devanagári (hindi): INDIAN AIRLINES A tradução gramatical lexical e consistiria respectivamente na substituição da gramática ou do léxico da LO por uma ou outro da LT. No entanto, por causa das estritas relações entre gramática e léxico, é muito difícil, se não impossível, que um tipo ocorra independentemente do outro. Catford (1965:71) cita o seguinte exemplo de onde se substituiu a tradução gramatical, gramática da LO pela gramática equivalente da LT, sem efetuar as substituições do léxico: This is the man (that) I saw. G G L G G G L G Voici le man que j' ai see- é. G – item gramatical item lexical L – A tradução lexical do mesmo período produziria: This is the man I saw. G G G L G L G This is the homme I voi-ed onde só foram traduzidos os itens lexicais e não os gramaticais. (pág. 38) Como se pode observar através dos dois exemplos acima, nenhum desses dois tipos de tradução parece ser de utilidade prática isoladamente, a não ser talvez em algum tipo de texto de função metalinguística, talvez para análise contrastiva. Este modelo de tradução, que se configura na tensão entre tradução total e tradução restrita, pode ser resumido graficamente como no quadro abaixo: TRADUÇÃO TOTAL tradução fonológica tradução grafológica tradução gramatical tradução lexical Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 19 TRADUÇÃO RESTRITA tradução fonológica tradução grafológica tradução gramatical tradução lexical onde fica claro que a tradução total engloba, simultaneamente, todos os modos de traduzir listados ao longo de seu eixo, enquanto a seleciona somente um deles de cada vez. tradução restrita Trabalhando ainda com o conceito de , Catford (1965:24) considera que pode “ ”ordem haver dois outros tipos de tradução, que configuram seu terceiro modelo: a tradução limitada à ordem, aquela em que se procura encontrar equivalentes da LO na LT apenas em uma das ordens, por exemplo, a da palavra. A outra, a tradução não limitada, corresponde à tradução total, ou seja, mais uma vez, à definição de tradução oferecida por Catford (1980:22) citada acima. Neste caso, as equivalências se deslocam livremente na escala das ordens, conforme as necessidades geradas pelo confronto entre as duas línguas. Expondo um quarto modelo de tradução, Catford (1965:25) afirma também que as noções intuitivas de correspondem em parte às descrições tradução livre, literal e palavra-por-palavraacima. A tradução livre (pág. 39) é não limitada, total; a tradução palavra-por-palavra é limitada à ordem da palavra e a situa-se a meio termo entre as duas, pois parte de tradução literal uma mas efetua as alterações necessárias, de acordo com as tradução palavra-por-palavra, normas de uso da LT, fazendo com que possa ser uma tradução efetuada na ordem do grupo ou mesmo da oração. Catford (1965:25-26) oferece um exemplo deste quarto modelo, reproduzido abaixo: Texto na LO: It’s raining cats and dogs. Tradução palavra-por-palavra: * Il est pleuvant chats et chiens. Tradução literal : * Il pleut des chats et des chiens. Tradução livre : Il pleut à verse. (* Não aceitável na LT) Aqui, somente a terceira versão é comutável com o TLO, e portanto, ao meu ver, é a única que constitui uma tradução aceitável. Como foi visto acima, na discussão do quarto modelo, há uma certa sobreposição nos modelos de tradução descritos por Catford (1965), o que poderá ser melhor explicado por meio de um gráfico, tal como o que elaborei e apresento abaixo: OS QUATRO MODELOS DE TRADUÇÃO DE CATFORD (1965) E SUAS SOBREPOSIÇÕES Tradução Parcial Tradução Restrita Tradução Limitada Tradução Palavra-por-palavra Tradução Plena Tradução Total Tradução Não Limitada Tradução Literal Tradução Livre (pág. 40) Examinando-se o quadro acima observa-se que: 1) a tem tradução parcial correspondência na e na bem como na tradução restrita tradução limitada, tradução palavra-por-palavra, tradução literal que encontram também correspondências entre si; 2) a Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 20 corresponde, em parte, à e à que se correspondem, também, tradução limitada tradução restrita, em parte; 3) & tradução literal tradução plena, tradução total corresponde, em parte, à a e a tradução não limitada, que se correspondem perfeitamente, assim como correspondem à tradução livre. Além destes modelos de tradução, Catford (1965:73-82) fala das transposições5 (shifts) que ocorrem na tradução. A definição destas •mudanças, oferecida por Catford (1980:82), que é “ ”perdas de correspondência formal no processo de passagem da LO para LT, corresponde à definição de tradução oblíqua de Vinay e. Darbelnet (1977) cujos exemplos Catford (1965) cita – abundantemente em seu livro e, mais especificamente, ao procedimento que descrevem sob o – nome de “transposição.” É possível dizer, acredito, que as a que se refere Catford (1965) são, na transposições verdade, procedimentos técnicos da tradução, inclusive pela proximidade com as colocações de Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1). Enquanto procedimento técnico da tradução, a q.v. transposição de Catford (1965) estaria dentro dos eixos das traduções plena, total, não limitada, literal e livre. Para resumir as expostas por Catford (1965:73-82), elaborei o quadro transposições abaixo, que será explicado em seguida: TRANSPOSIÇÕES NA TRADUÇÃO TRANSPOSIÇÃO DE ORDEM de gramática a léxico de léxico a gramática TRANSPOSIÇÃO DE CATEGORIA de escritura de classe de unidade intra-sistema (pág. 41) O primeiro tipo de transposição que cita Catford (1980:82) é a transposição de ordem ou plano. Por exemplo, uma transposição entre a ordem gramatical e a ordem lexical, como no exemplo abaixo, retirado de Vinay e Darbelnet (1977) por Catford (1965:75): This text is intended for... Le présent manuel s'adresse à... Aqui, o dêitico da ordem gramatical, foi traduzido por artigo + adjetivo this, le présent, lexical, pertencendo parcialmente à ordem lexical Catford, 1980:85). (cf. O segundo tipo de que enumera Catford (1980:85) corresponde às transposição transposições de categoria, também definidas como perda de correspondência formal, e subdivididas em Abaixo são transposições de estrutura, de classe, de unidade e intra-sistema. examinadas estas de acordo com Catford (1965:76). transposições, As envolvem alterações sintáticas, como no exemplo entre a transposições de estrutura tradução do inglês para o francês, citada por Catford (1965:77-78), onde a estrutura sintética do inglês, modificador + qualificador + núcleo, transforma-se em modificador + núcleo + 5 O termo "mudanças" foi utilizado na tradução brasileira Catford, 1980:82) para o termo em LO, que vem a ser o mesmo utilizado por (cf. shift outros autores (por exemplo, Newmark, 1981) para traduzir o termo utilizado por Vinay e Darbelnet (1977). transposition Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 21 qualificador flexionado em francês: A white house. Une maison blanche. A transposição de classe ocorre quando um item da LO é traduzido por um item de classe diferente na LT. Catford (1965:78-79) define a classe segundo Halliday: o agrupamento de “ membros de determinada unidade que se define pela sua operação na unidade imediatamente superior.” O exemplo abaixo é citado por Catford (1965:79): a medical student (medical – adjetivo) un étudiant en médecine (en médecine – sintagma adverbial) (pág. 42) consiste em um afastamento da correspondência A transposição de unidade formal em que o equivalente tradutório de uma unidade ou uma ordem no TLO pertence a uma outra ordem no TLT. Seria o mesmo dizer mas, segundo Catford transposição de ordem, (1980:89), não é possível empregar este termo aqui, pois criaria uma divergência com a gramática de Halliday (as foram discutidas na página anterior e o exemplo que transposições de ordem Catford (1965) oferece para o mesmo oferecido naquela altura para transposição de unidade 6 transposição de ordem). A transposição intra-sistema ocorre quando a LO e a LT possuem sistemas de relativa proximidade formal, mas o tradutor escolhe um termo não correspondente na LT para traduzir o termo da LO. Para ilustrar este caso, Catford (1965:79) emprega um exemplo retirado de Vinay e Darbelnet (1977), onde esta ocorre de singular no inglês para plural no francês transposição (sendo opcional a pois existe a possibilidade de uso no singular, dentro da língua transposição, francesa): advice des conseils (un conseil) news des nouvelles (une nouvelle) lightning des éclairs (un éclair) Como se pode concluir pelo exposto acima, há muitos pontos de contato entre a visão de Catford (1965) e a de Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1) e mesmo entre a de Catford (1965) e a q.v. de Nida (1964, 2.1.2). O que distingue a visão de Catford (1965) das outras duas é q.v. primordialmente a teoria linguística que utiliza como base para seu modelo da tradução, pois o que Catford (1965) faz é aplicar à tradução o modelo da gramática de Halliday. Assim, esclarece melhor as operações linguísticas que ocorrem na tradução do ponto de vista desse modelo gramatical específico mas, ao meu ver, não lança uma luz maior sobre o ato tradutório era geral. Além disso, algunsdos tipos de tradução que descreve são de aplicação prática rara ou até nula (como a exclusivamente ou a tradução gramatical tradução lexical exclusivamente). A sobreposição entre os modelos tradutórios que Catford (1965) propõe torna difícil sua aplicação em trabalhos teóricos, fazendo com ( 43) que fosse rejeitado por Alves (1983) pág. como base para sua análise estatística, em favor do modelo de Vinay e Darbelnet (1977). 2.1.4. Tradução Literal vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vázquez-Ayora Tal como Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), Nida (1964, q.v. 2.1.2) e Catford (1965, q.v. 2.1.3). Vázquez-Ayora (1977) começa seu livro pela descrição da teoria linguística que serve de base para seu estudo acerca da tradução, que vem a ser a análise contrastiva de base Impresso por Nicholas, CPF 010.690.912-60 para uso pessoal e privado. Este material pode ser protegido por direitos autorais e não pode ser reproduzido ou repassado para terceiros. 03/11/2020 09:22:36 BARBOSA, Heloísa Gonçalves - Procedimentos Técnicos da Tradução 22 gerativa-transformacional e a semântica estrutural ( Vázquez-Ayora, 1977: 1), além da cf. estilística, a partir de Bally (cf. Vázquez-Ayora, 1977:68-101), tal como Vinay e Darbelnet (1977, (cf. q.v. Vázquez-Ayora, 1977:252), o que tem em comum com Nida (1964, 2.1.2). Também como Nida (1964), em que se baseia, Vázquez-Ayora (1977:49) aponta um modelo transformacional da tradução, (cf. que pode ser entendido através do quadro abaixo Vázquez-Ayora, 1977: 49), onde se vê o caminho que deve percorrer o tradutor para produzir o TLT: língua original língua da tradução texto1 texto2 redução reestruturação nível pré-nuclear nível nuclear nível conceitual Esse caminho consiste em 1) reduzir o TO às orações pré-nucleares estruturalmente mais simples e semanticamente mais evidentes, 2) transferir o sentido da LO para a LT e 3) gerar na LT a expressão estilística e semanticamente equivalente Vázquez-Ayora, 1977:49). (cf. Vázquez-Ayora (1977:49) afirma ser este modelo a base do método de tradução oblíqua (cf. Vinay e Darbelnet, 1977, q.v. 2.1.1), portanto um dos meios mais eficazes de evitar a tradução literal, que, de acordo com ele, é a fonte da maioria dos erros e, em segundo ( 44) lugar, de 6 pág. proporcionar os meios para obter o contexto apropriado na LT.' Apesar de tentar aplicar os parâmetros da gramática de base gerativa-transformacional à tradução, o modelo que produz é quase idêntico ao de Vinay e Darbelnet (1977, 2.1.1) q.v. identificando dois macro-eixos – a tradução literal e a oblíqua – ao longo dos quais se distribuem procedimentos técnicos de execução, ampliados a partir dos descritos por Vinay e Darbelnet (1977). Um quadro representativo do modelo de Vázquez-Ayora poderia ser o que elaborei e apresento abaixo: TRADUÇÃO LITERAL (Procedimento único) TRADUÇÃO OBLIQUA Procedimentos Principais transposição modulação equivalência adaptação Procedimentos Complementares amplificação explicitação omissão compensação A definição que oferece Vázquez-Ayora (1977) é a mesma oferecida de tradução literal por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), com a diferença que, para estes últimos, a tradução literal é, ao mesmo tempo, um macro-eixo ao longo do qual se alinham procedimentos tradutórios (o empréstimo, decalque tradução literal) o e a própria e um procedimento tradutório por si mesmo, 6 Na literatura disponível, só encontrei uma tentativa de caracterização do erro tradutório em Gouadec (1974:9), onde estes são classificados em três tipos: (não-senso), (contra-senso) e (falso-senso). non-sens contresens faux-sens
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