Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Laiane Sousa Fisiopatologia AIDS INTRODUÇÃO A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é uma doença causada por infecção do vírus HIV e se caracteriza por uma imu- nossupressão profunda que se associa a infecções oportunistas, doenças malignas, desgaste e degeneração do sistema ner- voso central. Sida se considera uma do- ença crônica. SURGIMENTO DA AIDS O HIV evoluiu recentemente. Em 1981, médicos reconheceram uma nova sín- drome de imunodeficiência em homens homossexuais. Inicialmente essa síndrome foi chamada de GRIDS. Até o final de 1891 houve relato de centenas de casos e essa doença foi chamada de AIDS e logo se viu que essa doença não se delimita somente a um segmento da população. Os estudos levaram a conclusão que AIDS é uma do- ença infecciosa transmitida pelo sangue, por contato sexual e por transmissão peri- natal de mãe para o filho. Em 1986 a denominação Vírus da imuno- deficiência adquirida se tornou internacio- nalmente aceita. TRANSMISSÃO HIV O HIV é um retrovírus que ataca seletiva- mente os linfócitos TCD4. Como Consequência, o sistema imunológico de pessoas com infecção pelo HIV fica enfra- quecido, portanto elas se tornam mais suscetíveis a infecção graves por microrga- nismos normalmente inofensivos. O ví- rus responsável pela maior parte da infec- ção pelo HIV em todo o mundo é cha- mado HIV tipo 1 (HIV-1). Um se- gundo tipo, HIV tipo 2 (HIV-2), é endê- mico em muitos países da África Ociden- tal, mas raramente é observado em ou- tras partes do mundo. O HIV é transmitido de uma pes- soa para outra pelo contato se- xual, por via hematológica ou perinatal. A transmissão pode ocorrer quando o san- gue, sêmen ou secreções vaginais de uma pessoa infectada são depositados sobre uma membrana mucosa ou na corrente sanguínea de outra pessoa. O contato se- xual é a forma mais comum de transmis- são do HIV, consequentemente o uso de preservativos é a forma mais eficiente na prevenção da transmissão do HIV. Como o HIV é encontrado no sangue, o uso de agulhas, seringas e outros dispositi- vos para injeção de drogas constitui uma via direta de transmissão. Laiane Sousa Fisiopatologia CARACTERÍSTICAS MOLECULARES E BIO- LOGICAS DO HIV O HIV-1 é um membro encapsulado da fa- mília dos retrovírus, especificadamente da família dos lentivírus. O HIV-1 é o tipo mais associado ao desenvolvimento de aids, enquanto o HIV-2 é mais presente na África ocidental. Embora os dois pareçam o HIV-2 se propaga mais lentamente e de- mora mais tempo para provocar a doença. O vírion do HIV é esférico e contém um centro denso em elétron cercado por um envelope lipídico. No centro viral contém uma importante proteína, chamada de p24 que é o antígeno mais facilmente de- tectável, é alvo dos anticorpos utilizados no rastreio para infecção do HIV, há tam- bém o RNA genômico e três enzimas vi- rais: protease, transcriptase reversa e inte- grase. O centro viral está rodeado por ma- triz proteica chamada p17, que se localiza abaixo do envelope viral. O envelope viral é formado por duas proteínas super im- portantes para a contaminação da célula, chamada de gp120 e gp41. REPLICAÇÃO DO HIV Primeira etapa: O HIV entra na corrente sanguínea e se junta a superfície de uma célula TCD4. No entanto, a ligação ao re- ceptor CD4 não é suficiente para desen- volver a infecção; o vírus precisa se ligar a outras moléculas de superfície ( correcep- tores CCR5 E CXCR4) que unem os envelo- pes de glicoproteínas gp120 e gp41. Este processo é conhecido como ligação. Segunda etapa: é a internalização do ví- rus. Após a ligação os peptídeos do enve- lope viral se fundem com a membrana da célula TCD4. Essa fusão resulta no desen- velopamento do vírus, viabilizando a en- trada do conteúdo do centro viral na cé- lula hospedeira. Terceira etapa: consiste na síntese de DNA. Para que o HIV possa se reproduzir, deve alterar a molécula para cadeia dupla de DNA que carrega as instruções para a replicação viral. Ele faz isso usando a transcriptase reversa que faz uma copia do RNA viral e em seguida em sentido in- verso, faz outra copia em espelho. O resul- tado é a molécula dupla de DNA. Quarta etapa: é denominada integração. Durante a integração a nova molécula de DNA entra no núcleo da célula TCD4 e, com a ajuda da enzima integrasse, se in- sere no DNA original da célula. Quinta etapa: Envolve a transcrição do DNA viral de cadeia dupla para formar a molécula de cadeia simples de RNA men- sageiro com a instrução para a construção de novos vírus. A transcrição envolve a ati- vação da célula T hospedeira e a indução de fatore de transcrição celular, como o Laiane Sousa Fisiopatologia fator nuclear kappa B. Para finalizar o ciclo o RNA ribossomico usa as instruções do mRNA para criar uma cadeia de proteínas e enzimas denominas poliproteínas. Elas contêm os componentes necessários para as próximas etapas da construção do novo vírus. Sexta etapa: é denominada clivagem. Du- rante a clivagem a enzima protease corta a cadeia de poliproteínas em proteínas in- dividuais que compõe os novos vírus. Fi- nalmente, as proteínas e o RNA viral são montados para formar novos vírus HIV. O tratamento do HIV se baseia na utiliza- ção de agentes que interrompem as eta- pas do processo de replicação do HIV. A replicação do HIV envolve a morte da célula TCD4 e a liberação de copias de HIV na corrente sanguínea. Estas partículas vi- rais invadem outras células TCD4, viabili- zando a propagação da infecção. CLASSIFIÇÃO VÍRUS HIV Cada pessoa com HIV deve ser categori- zada em relação a contagem de células CD4 e em relação a categoria clínica. Como funciona essa classificação: Categoria que corresponde a contagem de células CD4: • categoria 1 (> 500 células por μℓ); • categoria 2 (200 a 499 célu- las por μℓ) • categoria 3 (< 200 células por μℓ). Categoria Clínica: • categoria clínica A, que inclui indiví- duos assintomáticos ou que apresentam sintomas de linfadepa- tia generalizada persis- tente (LGP), infecção HIV primária. • categoria clínica B, que inclui indiví- duos com sintomas de deficiên- cia imunológica, mas não suficiente- mente grave para ser defi- nida como AIDS. • categoria clínica C, que in- clui as condições que definem a AIDS como doença e que estão lista- das na definição de caso para AIDS. FASES DA INFECÇÃO São 3 fases: fase primária, fase assintomá- tica crônica ou de latência e fase de mani- festação da AIDS. Muitas pessoas que sai infectadas por HIV, apresentam síndrome semelhante a mo- nonucleose aguda conhecida como infec- ção primária, que pode durar semanas. Essa fase aguda pode incluir febre, mial- gia, dor de garganta, fadiga, suores notur- nos, problemas gastrointestinais, linfade- nopatia, eritema maculopapular e cefa- leia. Durante a infecção primaria, há o au- mento da replicação viral e uma diminui- ção na contagem de células TCD4. Os si- nais e sintomas costumam manifestar um mês após a exposição com HIV. Após va- rias semanas o sistema imunológico age para controlar a replicação e reduz a carga viral a um nível mais baixo, e permanece assim durante anos. Ai depois dessa fase, vem a fase de latên- cia e essa fase dura em media 10 anos e é a fase assintomática da infecção. Nessa fase gradativamente vai caindo a Laiane Sousa Fisiopatologia contagem de TCD4, de uma faixa normal de 800 a mil células por microlitros para 200 células ou menos. Alguns indivíduos apresentam tumefação nos linfonodos nesse momento. A terceira fase, a AIDS se manifesta e se inicia quando o individuo apresenta conta- gem de TCD4 inferior a 200 células por mi- microlitros. Sem a terapia antirretroviral, esta fase pode conduzir a morte no inter- valo de 2 a 3 anos. O risco de infecções oportunistase morte aumenta de forma significativa quando a contagem de células CD4 cai abaixo de 200. INFECÇÕES OPORTUNISTAS Começam a ocorrer infecções oportunistas à medida que o sistema imunológico vai sendo mais gravemente comprometido. Infecções oportunistas envolvem micror- ganismos comuns, que não produzem in- fecção a menos que haja comprometido a função imunológica. Manifestações respiratórias: Pneumonia por Pneumocystis jiroveci: Foi a manifestação mais comum de apre- sentação da AIDS durante a primeira dé- cada de epidemia. O Pneumocystis jiro- veci é um microrganismo co- mum no solo, em casas e muitos outros lo- cais espalhados pelo meio ambi- ente. Em pessoas com sistema imunoló- gico saudável, P. jiroveci não causa infec- ção ou doença. Em pessoas com infec- ção pelo HIV , o P. jiroveci pode se multi- plicar rapidamente nos pulmões e cau- sar pneumonia. Conforme a doença pro- gride, os alvéolos ficam cheios de um lí- quido espumoso rico em proteí- nas que prejudica a troca gasosa (Fi- gura 16.6). Desde que foram instituí- das a terapia HAART e a profilaxia para PPC, a incidência tem diminuído. O que melhor pode prever o desenvolvi- mento de PPC é uma contagem de célu- las CD4+ abaixo de 200 células por microli- tro, e é neste ponto que a profila- xia com sulfametoxazol-trimetoprima é fortemente recomendável. Os sintomas de PPC podem ser agu- dos ou graduais e progressivos. As pes- soas podem apresentar queixas de tosse, febre, falta de ar e perda de peso. O exame físico pode revelar apenas fe- bre e taquipneia, e os sons respirató- rios podem ser normais. Quando vemos a radiografia pode-se mostrar infiltrado in- tersticial, mas, em algumas pes- soas com PPC+, este exame pode não ser diagnóstico. O diagnóstico de PPC é esta- belecido com base no Laiane Sousa Fisiopatologia reconhecimento do microrganismo em se- creções pulmonares. Isto é possí- vel pelo exame do escarro induzido, la- vado broncoalveolar, biopsia transbrôn- quica. Mycobacterium tuberculosis: Tubercu- lose é a principal causa de morte em pes- soas com a infecção pelo HIV em todo o mundo e, frequentemente, é a pri- meira manifestação de infecção pelo HIV. Os pulmões são o local mais comum de in- fecção por M. tuberculosis, mas em pes- soas infectadas pelo HIV também se de- senvolve infecção extrapulmo- nar nos rins, na medula óssea e em ou- tros órgãos. Seja tuberculose pulmo- nar ou extrapulmonar, a maioria das pes- soas apresenta febre, sudorese no- turna, tosse e perda de peso. Manifestações gastrintestinais Doenças do sistema digestório são algu- mas das complicações mais frequentes re- sultantes da infecção pelo HIV e AIDS. De fato, 80% das pes- soas com HIV têm algum tipo de infec- ção gastrintestinal durante o curso da do- ença, que mais frequentemente en- volve o esôfago e/ou o cólon. Se uma pes- soa HIV+ tem contagem de CD4 de 200 cé- lulas/μℓ, é comum em algum mo- mento que desenvolva esofagite cau- sada por, pelo menos, um dos seguintes: candidíase esofágica, infecção por CMV , infecção por herpes-vírus simples. Pes- soas com HIV têm infecções do có- lon mais frequentemente causa- das por Salmonella, Shi- gella, CMV e/ou Campylobacter. Também são comuns úlceras aftosas pre- sumivelmente secundárias ao HIV. Pes- soas com estas infecções em geral se quei- xam de dor ao engolir ou dor retroester- nal. A apresentação clínica pode va- riar de assintomática a uma completa in- capacidade de engolir, resultando em de- sidratação. É necessário realizar endosco- pia ou esofagografia com bário para esta- belecer o diagnóstico definitivo. Diar- reia ou gastrenterite é uma queixa co- mum em pessoas com infec- ção pelo HIV De fato, até 40% dos porta- dores de HIV. sofrem de pelo me- nos um evento de diar- reia por mês, e 25% dos portado- res de HIV têm diarreia crônica. É impor- tante avaliar os portado- res de HIV para as mesmas causas co- muns de diarreia que acometem a popula- ção geral. A infecção oportunista por pro- tozoário que mais comumente causa diar- reia é o Cryptosporidium parvum. As ca- racterísticas clínicas da criptosporidi- ose podem variar de diar- reia leve até grave, aquosa, com perda de muitos li- tros de água por dia. A forma mais grave g eralmente ocorre em pessoas com conta- gem de células CD4+ inferior a 100 célu- las/μℓ. Manifestações neurológicas: A infecção pelo HIV , particular- mente em sua fase final de imunossupres- são grave, deixa o sistema nervoso Laiane Sousa Fisiopatologia vulnerável a uma série de transtor- nos neurológicos, como transtornos neu- rocognitivos associados ao HIV, toxoplas- mose e LMP. Estes transtornos podem afe- tar o sistema nervoso perifé- rico ou o SNC e contribuir para morbi- dade e mortalidade de pessoas infecta- das pelo HIV. Câncer e doenças malignas Pessoas com AIDS têm alta incidên- cia de certas doenças malignas, especial- mente SK, linfoma não Hodgkin e carci- noma cervical invasivo. A maior incidên- cia de doenças malignas, provavelmente, é uma função do comprometi- mento da imunidade mediada por célu- las. Como as pessoas com infec- ção pelo HIV estão vivendo mais tempo, tem havido relatos de au- mento da incidência de neoplasias associ- adas a doenças malignas específicas de sexo e idade. Indivíduos com infec- ção pelo HIV pare- cem ter risco maior para câncer de pul- mão, mesmo após o ajuste para histó- rico de tabagismo e outras doenças malig- nas. Doenças malignas não definido- ras de AIDS são responsáveis por um nú- mero maior de casos de morbidade e mor- talidade do que doenças malignas defini- doras de AIDS na era da terapia antirretro- viral. Os fatores de risco tradicionais de- sempenham papel significativo no au- mento do risco de doenças malig- nas não definidoras de AIDS para indiví- duos infectados pelo HIV , mas não o explicam inteiramente. Na era pós-HA- ART, têm sido demonstradas maiores inci- dências de Hodgkin, de câncer de pul- mão, cabeça e pescoço, da conjun- tiva e de hemopatias. Síndrome consumptiva A síndrome consumptiva é uma do- ença definidora de AIDS comum em pes- soas com infecção pelo HIV ou AIDS. A sín- drome consumptiva se caracte- riza por perda de peso involuntá- ria de pelo menos 10% do peso corpo- ral basal com diarreia, mas do que duas defecações por dia, ou fraqueza crô- nica e febre. Este diagnóstico pode ser es- tabelecido quando não existem outras in- fecções ou neoplasias oportunistas identi- ficadas como causa dos sintomas. Os fato- res que contribuem para a sín- drome consumptiva são anorexia, anor- malidades metabólicas, disfunção endó- crina, distúrbios de barreira intestinal, in- flamação do tecido linfático associ- ado ao intestino, má absorção e desregu- lação de citocinas. O tratamento da sín- drome consumptiva inclui interven- ções nutricionais, como administra- ção de suplementos orais e nutrição ente- ral ou parenteral.
Compartilhar