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Alessandra Albuquerque Cláudia Fontes de Oliveira Eloína Santos Maria Alice Melo-Santos (Org.) Alessandra Albuquerque Cláudia Fontes de Oliveira Eloína Santos Maria Alice Melo-Santos (Org.) RECIFE FIOCRUZ-PE 2019 Alessandra Albuquerque Cláudia Fontes de Oliveira Eloína Santos Maria Alice Melo-Santos (Org.) RECIFE FIOCRUZ-PE 2019 Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães M912 Mosquitos: base da vigilância e controle / Alessandra Albuquerque, Cláudia Fontes de Oliveira, Eloína Santos, Maria Alice Melo-Santos, organização. - Recife: Instituto Aggeu Magalhães, 2019. 97 p. : il., tab., graf. ISBN 978-85-69717-14-0. 1. Culicidae. 2. Controle de mosquitos. 3.Vigi- lância. I. Albuquerque, Alessandra. II. Oliveira, Cláudia Fontes de. III. Santos, Eloína. IV. Melo-Santos, Maria Alice. II. Título. CDU 37:06 © 2019. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz & Instituto Aggeu Magalhães – Fiocruz-PE Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Edu- cacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial. Ministério da Saúde - MS Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Nísia Trindade Lima Presidente Fundação Oswaldo Cruz - Pernambuco Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz) Sinval Pinto Brandão FIlho Diretor Coordenação Geral Joselice da Silva Pinto Coordenação Acadêmica Cláudia Maria Fontes de Oliveira Coordenação de Produção & Designer Instrucional Sandra de Albuquerque Siebra Conteudistas Alessandra Lima de Albuquerque Cláudia Maria Fontes de Oliveira Constância Flávia Junqueira Ayres Danilo de Carvalho Leandro Eloína Maria de Mendonça Santos Gabriel da Luz Wallau Maria Alice Varjal de Melo Santos Maria Helena Neves Lôbo Silva Filha Rosângela Maria Rodrigues Barbosa Tatiany Patrícia Romão Pompílio de Melo Fundação Oswaldo Cruz - Pernambuco - Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz) Endereço: Av. Professor Moraes Rego, s/n – Campus UFPE Cidade Universitária - Recife/PE CEP: 50.740-465 Telefone: 2101.2580 E-mail: seac@cpqam.fiocruz.br Site: http://www.cpqam.fiocruz.br Designers Gráficos Bruno Flávio Espíndola Leite Déborah Vanessa Pereira da Silva Túlio Fernando Farias de Mesquita Desenvolvedor Diego Marcolino Silva Avaliação Midiática-Pedagógica Joselice da Silva Pinto Revisão Ortográfica e de ABNT Jéssica Espíndola de Sá Apoio Técnico Michelle Juliana Pereira da Silva Produção dos Vídeos Luiz Henrique Teixeira Bazílio Sobre oS AutoreS Bióloga com bacharelado (1999) e licenciatura (2000) em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco, mestre em Genética (2004) também pela UFPE e doutora em Ciências (2011) pelo progra- ma de Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE). Colabora com projetos na área de Parasitologia-En- tomologia Médica no Departamento de Entomologia do IAM-Fiocruz/PE desde 1997. Atua em pesquisas sobre vigilância e controle de mosquitos e diagnóstico molecular de infecção vetorial, além de participar como docente em cursos de capacitação de agentes de saúde ambiental pro- movidos pelo Serviço de Referência de Controle de Culicídeos Vetores do IAM. Alessandra Lima de Albuquerque Bióloga com bacharelado (1987) e licenciatura plena em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco (1988), mestre em Biologia Animal, tam- bém, pela UFPE (1996) e doutora em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz/RJ (2002). Pesquisadora em Saúde Pública no Departamento de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE) desde 2006. Desenvolve projetos na área de Parasitologia-Entomologia Médica, atuando principalmente nos temas: Vigilância e Controle de mosquitos e Diagnóstico molecular de infecção vetorial. Cláudia Maria Fontes de Oliveira Biólogo graduado em Ciências Biológicas pela Uni- versidade Federal de Mato Grosso (2009), com mes- trado (2011) e doutorado (2015) em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco. Desde 2016 é professor de Ciências e Biologia no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (CAp-UFPE), onde atua como coordenador do Ensino Médio, além de ser professor orientador do Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (PROFBIO) da UFPE e professor preceptor do Programa Residência Pedagógica (CAPES) no CAp-U- FPE. Pesquisador colaborador do Departamento de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM), da Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE) nos te- mas: biologia molecular de insetos vetores e interação arbovírus-mosquito. Bióloga com Bacharelado em Ciências Biológicas (1994) e Mestrado em Genética (1997), ambos pela Universidade Federal de Pernambuco, Doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswal- do Cruz (2001), e dois Pós-doutorados pela Liverpo- ol School of Tropical Medicine, em Liverpool (2009) e pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical em Lisboa (2019). Pesquisadora Titular em Saúde Públi- ca no Departamento de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM), da Fundação Oswaldo Cruz/PE (Fiocruz/PE), onde atua como orientadora na Pós- -graduação de Biociências e Biotecnologia em Saúde em nível de mestrado e doutorado. Ocupou o cargo de Vice-diretora de Ensino e Informação no IAM- -Fiocruz/PE. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Genética de Populações de Insetos. Danilo de Carvalho Leandro Constância Flávia Junqueira Ayres Bióloga pela Universidade Federal de Pernambuco (2008) e doutora em Ciências pelo Instituto Aggeu Ma- galhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/ PE) (2017). Atua como colaboradora (Pós-doutorado) no Departamento de Entomologia do IAM-Fiocruz/PE, desde 2017. Desenvolve projetos na área de Parasi- tologia-Entomologia Médica, com produção científica nos temas: Bio-ecologia, comportamento, vigilância e controle de mosquitos, atuando também em projetos direcionados à democra- tização da ciência através da educação. Eloína Maria de Mendonça Santos Biólogo pela Universidade Federal de Santa Maria (2008), mestre e doutor em Biodiversidade Animal pela Universidade Federal de Santa Maria. Atua como pesquisador em Saúde Pública no Departamento de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) desde 2015. Desenvolve projetos na área de Genômica de Patóge- nos e Vetores atuando nos seguintes temas: coevolu- ção entre arbovírus e seus insetos vetores (mosquitos), patógenos transmitidos pela fauna silvestre de mosquitos, evolução da família Culicidae e genômica evolutiva de mosquitos. Gabriel da Luz Wallau Bióloga pela Universidade Federal de Pernambuco (1990) e doutora em Ciência Biológicas pela Univer- sité Pierre et Marie Curie-França (1999). Atua como pesquisadora no Departamento de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswal- do Cruz (Fiocruz/PE) desde 1997. A pesquisadora tem desenvolvido projetos na área de Parasitolo- gia-Entomologia Médica, com produção científica nos seguintes temas: controle de mosquitos, execução e avaliação de pro- gramas de controle, modo de ação de inseticidas biológicos e diagnóstico de resistência a inseticidas. Maria Helena Neves Lôbo Silva Filha Bióloga com bacharelado (1993) e licenciatura ple- na em Ciências Biológicas (1994) pela Universidade Federal de Pernambuco, mestre em Biologia Animal, também, pela UFPE (2001). Doutora em Ciências pelo Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) (2008). Pesquisadora em Saúde Pública no Departamento de Entomologia do IAM-Fiocruz/PE desde 2002. Desenvolve projetos na área de Parasitologia-Entomologia Médica de culicídeos nos temas: avaliação de programas de controle, de tecnologias e de instrumentos para vigilância e controle de mosquitos; inseticidasquímicos e biológicos; competência/capaci- dade vetorial para arbovírus e vermes filariais. Maria Alice Varjal de Melo Santos Biomédica pela Universidade Federal de Pernambu- co (2002). Mestre em Genética pela Universidade Fe- deral de Pernambuco (2005) e doutora em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Públi- ca do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) (2010). Pesquisadora no Departamento de Entomologia do IAM desde 2014. Desenvolve projetos na área de Parasitologia-Ento- mologia Médica, com Perfil de atuação em Biologia molecular e bioinformáti- ca aplicada no estudo de insetos vetores e Interação arbovírus-vetor. Tatiany Patrícia Romão Pompílio de Melo Bióloga (1996) e Mestre em Biologia Animal pela Uni- versidade Federal de Pernambuco (2001). Doutora em Saúde Pública pelo Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/PE) (2007). Pesquisadora do Departamento de Entomologia do IAM-Fiocruz/PE desde 2008. Desenvolve projetos na área de Entomologia Médica, com produção científica nos temas: controle de culicídeos vetores, desenvol- vimento de armadilhas, identificação e avaliação de atraentes de oviposição, avaliação de repelentes e estudos do comportamento básico de mosquitos dos gêneros Aedes e Culex. Rosângela Maria Rodrigues Barbosa Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos 1. Quem são os mosquitos? 2. Por que algumas espécies de mosquitos possuem impor- tância médica? 3. Quais as características de alguns mosquitos de impor- tância médica no Brasil? 4. Qual a diferença entre o vetor primário e o secundário? 5. Existem mosquitos que não se alimentam de sangue? 6. Como a condição ambiental influencia as principais espé- cies de mosquitos de importância médica? Referências Capítulo 2 - Controle de Mosquitos 1. Por que é necessário fazer a vigilância e o controle de mosquitos? 2. Como podemos realizar o controle mecânico/físico dos mosquitos? 3. Como podemos nos proteger dos mosquitos? 4. Como fazer o controle dos mosquitos através dos inseti- cidas e quais são os compostos mais utilizados? Quais são e como funcionam os agentes de controle bioló- gico? 5. O controle dos mosquitos também pode ser feito através dos próprios mosquitos, ou seja, pelas técnicas de controle genético. Quais são as vantagens de utilizar o próprio mosquito para seu controle? 6. Armadilhas para mosquitos, o que são e como funcio- nam? 14 15 22 26 35 37 36 40 42 43 44 49 51 57 59 63 64 Sumário 1 2 O que são instrumentos de busca ativa para captura de mosquitos adultos? Por que utilizamos instrumentos para coletar os mosqui- tos? Nesse contexto, o que significa monitorar? 7. O que é preciso para planejar e executar um programa de controle de mosquitos? Referência Capítulo 3 - Avanços na pesquisa quanto ao controle vetorial 1. O que são mosquitos transgênicos? 2. Como bactérias simbiontes intracelulares (Wolbachia) podem auxiliar no controle de mosquitos? 3. Como o sequenciamento de DNA pode ajudar nos estu- dos sobre mosquitos? Mas qual a importância de se observar a variação na sequ- ência de DNA dos mosquitos para o controle vetorial? E quanto aos patógenos transmitidos pelos vetores e as diferentes espécies de mosquitos, o que o sequenciamento de DNA pode nos informar? 4. Como meu trabalho, como Agente de Endemias ou de Vigilância Ambiental, pode ajudar na pesquisa realizada no Brasil? Referência 69 70 71 73 80 84 85 88 89 91 92 93 95 3 Nas últimas décadas, as doenças causadas por patógenos trans- mitidos por mosquitos vetores têm provocado um grande impacto ne- gativo na saúde pública. Doenças endêmicas como a malária, dengue, febre amarela, e também as que têm causado novas epidemias, como Zika e chikungunya foram responsáveis, nos últimos anos, por um gran- de número de mortes e um alarmante contingente de pessoas afetadas mundialmente. Ademais, a expansão da distribuição geográfica dos mosquitos acelerou, também, a dispersão de patógenos, dificultando significativamente o impacto das ações para o controle daquelas do- enças. Portanto, ações de vigilância e controle vetorial têm sido im- plementadas em diversos países, visando a redução da densidade po- pulacional das principais espécies de mosquitos vetores. Contudo, o intensivo uso de inseticidas químicos para o controle de insetos tem le- vado à seleção da resistência aos compostos utilizados, e isso, conse- quentemente, afeta de forma direta o sucesso dos programas de con- trole de vetores. Somado a isso, outros aspectos, tais como a expansão e a precariedade ambiental de áreas urbanas, métodos de vigilância inadequados, e a carência de recursos humanos capacitados agravam ainda mais a situação. Neste contexto, este livro foi produzido com o intuito de ampliar o conhecimento dos agentes de saúde e de outros profissionais envolvi- dos nas ações de enfrentamento aos mosquitos vetores, com relação às ferramentas clássicas e novas de vigilância e controle vetorial re- centemente desenvolvidas. Consideramos que um conhecimento mais aprofundado sobre a ecobiologia dos mosquitos e a sua dinâmica po- pulacional, pode contribuir para a implementação de ações integradas de forma mais eficiente e produtiva em sua prática cotidiana. ApreSentAção O módulo 1 trata sobre a biologia dos mosquitos, incluindo ciclo de vida, criadouros preferenciais, e informações básicas sobre alguns gêneros de importância médica. No segundo módulo, são abordados aspectos relativos à vigilância entomológica e aos métodos e agentes tradicionalmente usados nos programas para controle de mosquitos. Já o terceiro e último módulo é destinado à apresentação de novas tecnologias de controle, como as abordagens de liberação em massa de insetos transgênicos, de machos estéreis ou ainda de mosquitos in- fectados por Wolbachia, as quais são ferramentas que poderão em bre- ve ser adotadas. A formação na área específica abordada neste último módulo é praticamente inexistente, e a bibliografia disponível é quase sempre em inglês e em linguagem complexa. Este e-book é o resultado do trabalho da equipe do Departamen- to de Entomologia do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE, além de colaboradores de outras instituições. Ele foi concebido para trazer os principais conceitos de forma direta e objetiva, e ser um instrumento de apoio na formação de agentes de saúde e profissionais afins nesta área. Sempre que possível, outras fontes de informação são sugeridas e disponibilizadas para o leitor. Nos tempos atuais, há necessidade de formar equipes bem pre- paradas para atuarem de forma eficaz e rápida no enfrentamento dos problemas, novos ou recorrentes, associados à interação ambiente- -mosquito-homem, que são determinantes no processo de transmissão de patógenos. Desejamos que os leitores desfrutem do conteúdo do livro, e es- peramos que o curso contribua para consolidar o conhecimento em vigilância e controle de mosquitos. Esperamos ainda dar um passo para a construção de uma visão crítica e ampliada nos profissionais dos ser- viços de saúde sobre o tema, no intuito de promover o ganho de co- nhecimentos e capacidade de avaliar sua prática no dia a dia para a resolução de questões operacionais. Constância Ayres Coordenadora Geral CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS, ECOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS Autores Alessandra Lima de Albuquerque Cláudia Maria Fontes de Oliveira Danilo Carvalho Leandro Eloína Maria de Mendonça Santos Maria Alice Varjal de Melo Santos CAPÍTULO 1 15 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos Os mosquitos são animais que pertencem ao Filo Arthropoda, Classe Insecta, Ordem Diptera, Subordem Nematocera e Família Culicidae. Os animais que fazem parte do Filo Arthropoda são invertebrados e apresentam o corpo segmentado, co- berto por um esqueleto externo cha- mado de exoesqueleto. Este esqueleto é rígido, ou seja, bem endurecido e étambém protegido por uma cutícula de quitina e outras substâncias protetoras que o deixam impermeável. No exoes- queleto, podem ser observados outros componentes do corpo, que são arti- culados, como as patas, antenas e pal- pos. Estas partes ou apêndices variam de número de acordo com a classe a que pertencem. Na classe Insecta, os animais são geralmente terrestres e têm o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen (Figura 1). Na cabeça estão os olhos compostos, o aparelho bucal, um par de antenas e um par de palpos. O aparelho bucal pode variar bastante em função do tipo de alimentação do OBJETIVO Ao concluir este módulo o participante deverá distinguir os mosquitos dos demais insetos da ordem Diptera; as diferentes fases do seu desenvolvi- mento; os locais mais utilizados para oviposição e desenvolvimento de suas larvas e pupas e os ambientes em que são mais frequentes. Bem como, re- conhecer as espécies dos gêneros Aedes, Culex e Anopheles, de maior im- portância para a transmissão de agentes causadores de doenças ao homem. CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS, ECOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS DOS MOSQUITOS 1 1. Quem são os mosquitos? 16 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle inseto. Ele pode ter estruturas para mastigar, cortar, picar, sugar e lam- ber. Estas partes do aparelho bucal são: mandíbulas e maxilas para tritu- rar os alimentos; a hipofaringe, que é um canal para liberar a saliva; o labro, um canal por onde passa o alimento propriamente dito; e o lábio. Os dois palpos e as duas antenas têm função sensorial e possuem minúsculas sen- silas (pelos) que auxiliam na percep- ção de estímulos do meio. No tórax são encontrados três pares de patas, cujos segmentos (as partes destas patas) podem variar em tamanho e forma de acordo com a adaptação de cada inseto para andar, correr, saltar, nadar, coletar e cavar, além de dois pares de asas, que estão presentes na maioria dos indivíduos. VOCÊ SABIA? Qual a classificação biológica dos mosquitos? Reino: Animalia Filo: Arthropoda Classe: Insecta Ordem: Diptera Subordem: Nematocera Família: Culicidae Figura 1: Divisão dos principais segmentos do corpo do mosquito. Fonte: Adaptado do Centers for Disease Control and Prevention (CDC)/ Prof. Frank Hadley Collins, Dir., Cntr. for Global Health and Infectious Diseases, Univ. of Notre Dame. 17 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos O abdômen possui vários seg- mentos e espiráculos respiratórios que também são encontrados no tórax dos mosquitos. Os insetos passam por processos de maturação, para se desenvolverem da fase jovem (pré-imaginal) até a fase adulta (imaginal), que podem acontecer de diferentes formas e são por isso cha- mados de insetos tipo ametábolo, hemi- metábolo e holometábolo (Figura 2). Os insetos ametábolos chegam à fase adul- ta com poucas mudanças estruturais, ou seja, modificações em sua forma. Os hemimetábolos passam por mudanças de pouco a pouco, do estado de ninfa para o adulto. Assim, para os insetos ametábolos e hemimetábolos as for- mas jovens são parecidas com a forma adulta, embora sejam menores. Por ou- tro lado, os insetos holometábolos pas- sam por uma grande transformação, ou metamorfose completa. Mosquitos, por exemplo, passam por este tipo de meta- morfose: a partir do ovo eclode uma lar- va, esta passa para outra fase (estágio) de desenvolvimento denominada pupa, quando então ocorre a metamorfose, e ela se transforma em um mosquito adul- to. Portanto, as formas jovens, larva e pupa, são bem diferentes do mosquito adulto (Figura 2). Na fase adulta, o inse- to não sofre mais mudanças de forma e também não cresce mais em tamanho. Os insetos geralmente possuem dois pares de asas, um anterior e ou- tro posterior, embora alguns possam ter apenas um par ou serem ápteros, isto é, não possuem asas. Estas estruturas podem ser usadas para classificar os insetos em ordens (Figura 3) e as dez ordens mais conhecidas são: 1. Orthoptera: as asas anteriores são mais rígidas e estreitas do que as posteriores que são membra- nosas (ex.: grilos e gafanhotos); 2. Coleoptera: as asas anteriores são bem rígidas, como uma cara- paça, e as posteriores são mem- branosas (ex.: besouros); 3. Hemiptera: a base das asas an- teriores é mais rígida e a ponta é membranosa, assim como as asas posteriores (ex.: barbeiro e perce- vejos); VOCÊ SABIA? Os insetos utilizam espiráculos para respirar. Os espiráculos são estruturas situadas lateralmente no tórax e no abdômen da maio- ria dos insetos. São aberturas por onde entra o ar e normalmente está presente um par por segmen- to do corpo. DESENVOLVIMENTO DOS INSETOS a. Traça ametábolo b. Barbeiro hemimetábolo c. Mosquito holometábolo PUPA ADULTO LARVAS FORMAS JOVENS OVO ADULTO FORMAS JOVENS OVO FORMAS JOVENS (NINFAS) OVO ADULTO Figura 2: Tipos de Desenvolvimento dos insetos. | Fonte: Os autores. Infografia: Déborah Silva, EAD Fio- cruz PE, 2019. DESENVOLVIMENTO DOS INSETOS a. Traça ametábolo b. Barbeiro hemimetábolo c. Mosquito holometábolo PUPA ADULTO LARVAS FORMAS JOVENS OVO ADULTO FORMAS JOVENS OVO FORMAS JOVENS (NINFAS) OVO ADULTO 1. Coleoptera (Besouro) 5. Hymenoptera (Abelha) 9. Odonata (Libélula) 13. Diptera (Mosquito) 2. Hemiptera (Percevejo de cama) 6. Hymenoptera (Formiga) 10. Diptera (Borrachudo) 14. Siphonaptera (Pulga) 3. Hemiptera (Barbeiro) 7. Hymenoptera (Vespa) 11. Diptera (Flebótomo) 15. Psocodea (Piolho) 4. Lepidoptera (Borboleta) 8. Blattodea (Barata) 12. Diptera (Mosca) Figura 3: Diferentes ordens de insetos e seus respectivos representantes. Fonte: 1. Adaptado do Centers for Disease Control and Prevention (CDC); 2. CDC/DPDx - Blaine Mathison; 3. CDC; 4. CDC; 5. CDC - Dr. Pratt; 6. Freeimages - Marcin Morawiec; 7. CDC; 8. CDC; 9. Freeimages - Cheryl Empey; 10. CDC; 11. CDC - Frank Collins; 12. CDC - Dr. Gary Alpert - Ur- ban Pests - Integrated Pest Management (IPM); 13. CDC - Prof. Woodbridge Foster; Prof. Frank H. Collins; 14. CDC - Ken Gage; 15. CDC - Dr. Dennis Juranek. 20 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle 4. Lepidoptera: as asas anteriores são maiores do que as posteriores e são completamente recobertas por escamas (ex.: borboleta); 5. Hymenoptera: podem ter dois pa- res de asas membranosas ou não terem asas (ex.: vespas, abelhas e formigas); 6. Blattodea: as asas anteriores são rígidas e as posteriores são mem- branosas (ex.: baratas); 7. Odonata: os dois pares de asas são membranosos e têm o mesmo tamanho, mas não se dobram so- bre o corpo (ex.: libélulas); 8. Diptera: o par de asas anterior é membranoso e funciona para o voo, já o par posterior é atrofiado (ex.: mosquitos, moscas, flebotomíneos); 9. Siphonaptera: não possuem asas funcionais, mas possuem pernas adaptadas ao salto (ex.: pulgas); 10. Psocodea: não possuem asas funcionais, mas possuem per- nas adaptadas a se fixarem ou se agarrarem em alguma base (ex.: piolhos). Os insetos da ordem Diptera (do grego di = duas e pteron = asas) pos- suem o par de asas anterior destinado ao voo e o par posterior modificado em pequenas estruturas, chamados de ba- lancins ou halteres, que funcionam para o equilíbrio do voo. Estima-se que te- nham sido descritas 150 mil espécies da ordem Diptera, distribuídas em 188 famílias e cerca de 10 mil gêneros. Os dípteros, como são chamados os insetos da ordem Diptera, são holo- metábolos e estão presentes na maioria dos habitats (ambientes), embora para alguns os ambientes aquáticos sejam colonizados apenas durante a fase jo- vem do desenvolvimento. Os dípteros, especificamente da subordem Nematocera, têm asas lon- gas e estreitas, com pequenas escamas revestindo suas veias, as antenas são filiformes, formadas por seis ou mais segmentos recobertos por cerdas e os palpos apresentam de quatro a cinco segmentos. Finalmente, os dípteros da família Culicidae são habitualmente chama- dos de mosquitos,pernilongos, cara- panãs ou sovelas. Em geral, apresen- tam dimorfismo sexual, ou seja, machos e fêmeas são diferentes. As fêmeas são mais corpulentas (maiores) e possuem antenas pilosas, já os machos são me- nores e possuem antenas plumosas, sendo bem mais vistosas do que as pi- losas (Figura 4). Figura 4: Características morfológicas da diferença sexual entre machos e fêmeas e entre machos e fêmeas de diferentes gêneros de mosquitos. Fonte: Adaptado do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) / Dr. Richard Darsie. 22 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle 2. Por que algumas espécies de mosquitos possuem importância médica? O hábito da alimentação sanguí- nea, ou hematofagia, observado para diversas espécies, levou estes insetos a terem contato e a ingerirem os patóge- nos presentes no sangue de hospedei- ros vertebrados. É importante entender que o hábito hematofágico dos insetos provavelmente surgiu através de duas formas. Na primeira é possível que os insetos que viviam associados aos ver- tebrados e seus abrigos foram sendo selecionados e modificaram gradativa- mente suas peças bucais (probóscide) para conseguir realizar a sucção san- guínea. A segunda, por sua vez, suge- re que insetos que já possuíam peças bucais alongadas foram se adaptando para realizar a alimentação sanguínea. Independentemente da origem, o fato é que diversos insetos se ali- mentam de sangue. Para alguns deles, como os piolhos, pulgas e triatomíne- os, tanto os machos quanto as fêmeas são hematófagos. Para outros, como os mosquitos, flebotomíneos e simu- lídeos, apenas as fêmeas se alimen- tam de sangue. Para estas, o sangue é necessário para obter nutrientes que são fundamentais ao desenvolvimento dos ovários e, consequentemente, dos ovos daquelas espécies. No entanto, sua sobrevivência, assim como os ma- chos, também depende da ingestão de seivas vegetais, néctar de flores ou ou- tras substâncias açucaradas presentes no ambiente. Os insetos hematófagos, seja ma- cho ou fêmea, podem causar importan- tes problemas de saúde pública, pois podem transmitir agentes patogênicos ao homem e a outros animais. A trans- VOCÊ SABIA? Você sabia que nem todos os mosquitos estão infectados? Em uma área de ocorrência de casos de arboviroses, por exemplo, apenas uma pequena quantidade de fêmeas dos mosquitos está infectada com um ou mais vírus. Logo, a maioria delas não participa da transmissão vetorial. Do contrário, os problemas de saúde pública seriam ainda maiores. Além disso, a taxa de fêmeas infectadas pode variar bastante em virtude dos períodos de epidemia/surto de algumas doenças, pois quanto maior for o número de pessoas infectadas maiores as chances das fêmeas dos mosquitos se infectarem durante a alimentação sanguínea. 23 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos missão destes agentes patogênicos (ex.: bactérias, vírus, protozoários e hel- mintos) ao homem pode ocorrer através de duas formas principais, a mecânica e a biológica. Na transmissão mecânica, os insetos podem carregar os patógenos em suas patas ou outras partes do seu corpo e, posteriormente, de forma ca- sual, transferí-los para um hospedeiro vertebrado simplesmente através do contato. Já o processo de transmissão biológica de patógenos ocorre exclu- sivamente via alimentação sanguínea. Neste processo, o patógeno ingerido no sangue infecta o inseto (hospedeiro invertebrado), se desenvolve em dife- rentes estágios no interior do seu cor- po e pode se multiplicar ou até se re- produzir nele. Em seguida, o patógeno será então transmitido quando o inseto infectado for picar um outro hospedei- ro vertebrado. No caso dos mosquitos, o processo de transmissão biológica é realizado exclusivamente pelas fêmeas. O período entre a ingestão do sangue contaminado com o patógeno e sua transmissão para outro hospe- deiro, a partir de uma nova alimentação sanguínea, é conhecido por período de incubação extrínseca. Quando pató- genos como vírus são transmitidos por mosquitos, por exemplo, durante esse período o vírus infecta as células intes- tinais do inseto, multiplica-se e invade outros órgãos alvos (ex.: glândulas sa- livares e ovários). Finalmente, para que a transmissão ocorra, o patógeno deve ser liberado na saliva durante um novo repasto ou alimentação sanguínea. Dois principais tipos de transmis- são são descritos para os ciclos de infecção de patógenos em culicídeos vetores, a transmissão horizontal e a vertical (Figura 5). A mais comum é a transmissão do tipo horizontal, que ocorre quando uma fêmea do mosqui- to não infectada se alimenta do sangue de um hospedeiro vertebrado (ex.: ho- mem ou outros animais), já infectado pelo patógeno. Depois do período de incubação extrínseca, a fêmea passa a infectar, através de sua picada, novos hospedeiros vertebrados, estabelecen- VOCÊ SABIA? O que é um arbovírus e uma arbovirose? Arbovírus é um vírus transmitido ao hospedeiro vertebrado, homem ou outros animais, através de um animal invertebrado do filo Arthropoda, ou seja, um artrópodo. A arbovirose, por sua vez, é a doença causada pela infecção com o arbovírus. 24 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle do assim o ciclo de transmissão veto- rial. Esta é a via mais importante para a circulação de patógenos entre as popu- lações humanas (Figura 5). Outra forma de transmissão, me- nos comum e possivelmente com me- nor importância epidemiológica, devido a sua baixa ocorrência, é a transmis- são vertical ou transovariana. Esta ocorre quando o vírus invade os ovos que estão sendo produzidos pela fêmea e infecta posteriormente os embriões. Assim, os mosquitos que vão ser pro- duzidos a partir destes embriões pas- sam para a fase adulta já infectados (Fi- gura 5). Acredita-se que esta seja uma forma pela qual os vírus conseguem passar de uma geração para outra e se manter na natureza. Para que um mosquito possa transmitir um determinado patógeno ele precisa ter competência vetorial para a transmissão. Um mosquito é competente quando: 1. Consegue se infectar com um patógeno a partir da alimentação sanguínea; 2. Permite o completo desenvolvi- mento e/ou multiplicação/repro- dução do patógeno em seus teci- dos e órgãos; 3. Consegue transmitir o patógeno a um novo hospedeiro a partir de uma nova alimentação de sangue. A competência vetorial está rela- cionada principalmente a fatores ge- néticos, resultantes da seleção natural durante o processo de evolução simul- tânea entre patógeno e vetores. Alguns insetos, por exemplo, são incapazes de transmitir o patógeno após ingestão de sangue infectado, pois há uma incompatibilidade entre os dois organismos e o desenvolvimento do patógeno é bloqueado em alguma fase da infecção. Esta incompatibilida- de genética/evolutiva explica o porquê de algumas espécies de mosquitos não VOCÊ SABIA? O que é capacidade vetorial? Capacidade vetorial é definida pela taxa de eficiência da transmissão do patógeno por uma determinada população do vetor. A capacidade vetorial depende de vários aspectos, tais como: a própria competência vetorial, a preferência alimentar, o número de picadas, a longevidade, a duração do ciclo gonadotrófico (tempo para a maturação de ovos), a eficiência no processo de alimentação sanguínea e densidade populacional. Figura 5: Vias de transmissão. | Fonte: Os autores. | Infografia: Déborah Silva, EAD Fiocruz PE, 2019. 26 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle conseguirem transmitir determinados tipos de patógeno. Como exemplo po- demos citar a incapacidade do mosqui- to Aedes aegypti em transmitir o verme Wuchereria bancrofti, um nemátodo causador da filariose linfática. Também deve ser lembrado que diferentes linha- gens ou populações de uma mesma espécie podem ter diferenças na sua competência vetorial devido às varia- ções genéticas entre mosquitos e pató- genos. A competência vetorialfaz parte da capacidade vetorial de uma espécie, mas não tem o mesmo significado. A capacidade vetorial é bem mais ampla e complexa, envolve fatores próprios do mosquito, da sua relação com o hospedeiro e de fatores ambien- tais do local onde eles estão inseridos. De um modo geral, os mosquitos são considerados dípteros primitivos. Como os outros insetos, os adultos apresentam o corpo alongado dividido em cabeça, tórax e abdômen (Figura 1). Atualmente, existem mais de 3000 espécies de mosquitos descritas para a família Culicidae, a qual está subdi- vidida em três subfamílias: Culicinae, Anophelinae e Toxorhynchitinae. As duas primeiras subfamílias têm grande importância para a saúde pública. O ciclo de vida dos mosquitos tem início com a deposição dos ovos após digestão da alimentação sanguínea pe- las fêmeas. A quantidade de ovos por ciclo gonotrófico pode variar bastante a depender da espécie. Estes ovos apre- sentam formas e coloração variadas e podem ser colocados nos criadouros de forma isolada, ovo a ovo, ou agru- pada, formando uma massa de ovos (Figura 6). A postura dos ovos (oviposi- ção) pode ser feita diretamente na água ou em superfícies ou substratos úmi- dos próximos ao contato com a água. Aproximadamente 48 a 72h depois da oviposição eclodem as primeiras larvas. Embora os mosquitos adultos co- lonizem o ambiente terrestre, as suas formas jovens (larvas e pupas) são aquáticas, no entanto, respiram o oxi- gênio dissolvido no ar, e não na água. As larvas e pupas precisam vir para a superfície da água para respirar através de uma estrutura chamada de sifão, ou ainda de um conjunto de placas respi- ratórias, localizado no último segmento abdominal. O sifão respiratório possui formas diferentes e pode auxiliar na identificação das larvas e sua classi- 3. Quais as características de alguns mosquitos de importância médica no Brasil? 27 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos ficação até o nível de espécie. Para a subfamília Anophelinae, por exemplo, a ausência de sifão já a torna diferente das demais (Figura 6). Em relação à alimentação, as larvas são predominantemente filtradoras, com aparelho bucal adaptado para filtrar e in- gerir microrganismos e matéria orgânica em suspensão na água dos criadouros. Excepcionalmente, em alguns gêneros como Toxorinchites as larvas são preda- doras. Dependendo da temperatura e da disponibilidade de alimento, a fase larvá- ria, que compreende quatro estádios de desenvolvimento (L1, L2, L3 e L4), pode se completar entre 5 a 7 dias. Na sequência do desenvolvi- mento da fase jovem ou pré-imaginal, ocorre a passagem da larva para a pupa. Essas se movimentam livremen- te na água e não se alimentam mais. É a partir desta fase que ocorre, em cerca de 48h, a metamorfose final e a passagem para a forma adulta, de ma- chos e fêmeas. Assim, o ciclo de vida dos mosquitos do ovo até o mosquito adulto (Figura 2) leva de 8 a 10 dias, em condições favoráveis de desenvol- vimento, ou seja, com disponibilidade de alimento, temperatura e luminosi- dade (fotoperíodo) adequados. Uma vez adultos, os mosquitos podem ter um tempo de vida (longe- vidade) que, em condições favoráveis, pode alcançar dois ou mais meses, es- pecialmente para as fêmeas. Em alguns casos excepcionais, em regiões de cli- ma frio, as fêmeas podem entrar em diapausa (um tipo de dormência), aju- dando-as a superar o inverno rigoroso. Na subfamília Culicinae, os prin- cipais gêneros envolvidos com a trans- missão de patógenos são Aedes e Culex, já para a subfamília Anopheli- nae, o gênero de maior importância é Anopheles. Informações sobre cada gênero são descritas em mais detalhes a seguir. • Aedes Os mosquitos pertencentes ao gê- nero Aedes estão envolvidos em ciclos de transmissão de um grande número de patógenos, em especial os arboví- rus. Atualmente, a espécie mais impor- tante deste gênero é Aedes aegypti. A sua origem está no continente africano (provavelmente na região etiópica), e a ampliação de sua distribuição geográfi- ca para regiões tropicais e subtropicais do globo ocorreu através da expansão da navegação no século XIX. Esta es- pécie está distribuída em diversos pa- íses cujas características ambientais (temperatura, umidade e pluviosidade) favorecem seu estabelecimento. A sua introdução no Brasil pode ter ocorrido Figura 6: Características de ovos, larvas e adultos de Anopheles, Aedes e Culex. Fonte: 1. Ovos de Anopheles stephensi, Centers for Disease Control and Prevention (CDC); 2. Ovos de Aedes aegypti, CDC; 3. Jangada de ovos de Culex quinquefasciatus, CDC - Harry Weinburgh; 4. Larva de Anopheles quadrimaculatus; University of Florida - James Newman; 5. Larvas de Aedes aegypti, CDC - Dr. Pratt; 6. Larva de Culex sp.; 7. Fêmea de Anopheles albimanus; 8. Fêmea de Aedes aegypti; 9. Fêmea de Culex quinquefasciatus. Fotos 6 a 9 por CDC - James Gathany. 1. Postos isolados com flutuadores 5. Permanecem vertical à superficie da água - possuem sifão curto 7. Probóscide e corpo quase em linha com a superfície de pouso 2. Postos isolados sem flutuadores 6. Permanecem diago- nal à superficie da água - possuem sifão longo 3. Postos agrupados formando jangada sem flutuadores 8. Corpo pousado para- lelamente a superfície 4. Permanecem para- lelas à superfície da água para respirar - não possuem sifão 9. Corpo pousado para- lelamente a superfície AnofelinosFormas Anopheles Aedes Culex Culicíneos Ovos Larvas Adultos 29 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos durante o período colonial, provavel- mente na época do tráfico de escravos oriundos do continente africano. Os mosquitos adultos são de por- te médio, coloração escura, do marrom ao preto, com padrões diferenciados de escamas claras. O abdômen é frequen- temente mais estreito nos últimos seg- mentos. Já as larvas possuem o sifão respiratório curto e largo, com aspecto cônico e coloração escura (Figura 6). As espécies do gênero Aedes, no Brasil, estão agrupadas em dois subgêneros de importância epidemiológica (Ochle- rotatus e Stegomyia) e dois outros que não apresentam registro de transmis- são de patógenos (Howardina e Proto- macleaya). No subgênero Stegomyia, os mosquitos na fase adulta apresentam o corpo de cor negra e no tórax tem orna- mentações de manchas com escamas em tons claros. As pernas, tradicional- mente, apresentam manchas claras in- tercalando-se com manchas escuras, assim, as pernas dos insetos têm um aspecto listrado (Figura 7). No subgê- nero Ochlerotatus, as ornamentações de tórax ocorrem com escamas estrei- tas de mais de uma tonalidade, apre- sentando linhas ou manchas. As duas espécies do subgêne- ro Stegomyia com maior importância médica são Aedes aegypti e Aedes al- bopictus (Figura 7). O mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti foi descrito por Lin- naeus, em 1762, e é atualmente a espé- cie mais importante nos registros epi- demiológicos da febre amarela urbana, dos quatro sorotipos do vírus dengue, do vírus chikungunya e do Zika vírus. Os adultos são facilmente reconheci- Figura 7: Mosquitos adultos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Fonte: Adaptado de Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Ae. aegypti CDC/ Paul I. Howell, MPH; Prof. Frank Hadley Collins & Ae. albopictus CDC/ James Gathany. 30 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle dos por apresentarem coloração mar- rom-escura, desenho em forma de uma lira no tórax, destacado por escamas branco-prateadas e pernas com listras de escamas claras e escuras (Figura 7). Aedes aegypti é um mosquito extremamente antropofílico, isto é, ali- menta-se preferencial de sangue huma- no, durante o dia. Está muito presente nos aglomerados humanos, sobretudo em ambientes urbanos nas cidades, onde está bem adaptado, pois nestes encontra com facilidade fonte de ali- mento (hospedeiro humano), abrigo e potenciaiscriadouros nos domicílios e áreas peridomiciliares. Os ovos de Aedes aegypti apre- sentam uma característica chamada de quiescência. Esta representa uma inter- rupção do processo de desenvolvimen- to embrionário devido à redução drás- tica da umidade no ambiente, que por sua vez leva à perda de água nos ovos (dessecação). A quiescência induz à dormência do embrião, permitindo que ele resista a períodos prolongados de seca no ambiente, permanecendo viá- vel por até um ano. Desta forma os ovos podem ser transportados passivamen- te para outros locais (dispersão pas- siva). Outra forma de dispersão desse mosquito é o comportamento de ovi- posição em saltos, no qual as fêmeas distribuem os ovos em pequenos gru- pos em diversos criadouros, garantindo assim um maior sucesso reprodutivo. Os ovos são postos nas paredes internas de objetos/recipientes naturais ou artificiais, temporários ou não, que possam acumular água parada, limpa ou com baixo teor de matéria orgânica. VOCÊ SABIA? Qual a capacidade de desloca- mento do mosquito Aedes ae- gypti? A capacidade de dispersão ativa do mosquito Ae. aegypti pelo voo pode ser de até 800 m, nos momentos em que a fêmea faz a busca por locais para a postura dos ovos. A dispersão é um importante parâmetro em epidemiologia e programas de controle desse mosquito vetor, porque pode definir as áreas de risco para a transmissão viral e para o direcionamento/intensificação das ações de controle e bloqueio da transmissão. No entanto, há evidências de que, havendo fonte de alimentação e locais para a oviposição disponíveis, as fêmeas dessa espécie se deslocam por pequenas distâncias, que podem variar entre 50 a 100 m, mantendo-se próximas aos locais (casas) onde emergiram ou em sua proximidade (casas vizinhas), especialmente em áreas muito urbanizadas. 31 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos Cada fêmea põe 50 ou mais ovos por oviposição. São exemplos de criadou- ros dessa espécie: caixa d´água, pneus em desuso, vasos de planta e seu pra- to coletor de água, entre muitos outros. Atenção! Pois os tipos de criadouros podem ser diversos de acordo com o ambiente (Figura 8). As larvas de Ae. aegypti buscam o alimento no criadou- ro movimentado-se ativamente da su- perfície ao fundo. Outra espécie importante epi- demiologicamente na transmissão do vírus dengue é o mosquito Aedes al- bopictus. Espécie descrita por Skuse, em 1894, apresenta sua distribuição relacionada aos países de clima tem- perado e tropical. Sua distribuição está mais relacionada a ambientes silvestres, semisilvestres, rurais e ur- banos. Neste último caso, o ambiente urbano, geralmente tem uma ampla cobertura vegetal. É uma espécie que não depende da grande concentração humana para sua ocorrência, como Ae. aegypti, uma vez que pode se ali- mentar do sangue de outros animais. Morfologicamente é caracterizado por ser um mosquito de coloração marrom quase negra (mais escuro do que Ae. aegypti), com uma única faixa longitu- dinal de escamas brancas, localizada bem no meio do tórax, apresentando também pernas com listras claras e escuras (Figura 7). Vários estudos comprovam a sus- ceptibilidade de Ae. albopictus a dife- rentes arbovírus, entre eles dengue, fe- bre amarela, chikungunya e Zika. Surtos de transmissão do vírus dengue, atribu- ídos a essa espécie, foram registrados em regiões dos continentes asiático, europeu e africano. Ae. albopictus está presente na maioria dos estados brasi- leiros, mas, sua participação nos ciclos locais de transmissao ainda é incerta. Em 2017, no Brasil, fêmeas desta espécie infectadas pelo vírus da febre amarela foram detectadas em áreas rurais de municípios de Minas Gerais, onde havia transmissão silvestre ativa. Esta situação revela que Ae. albopictus pode assumir o papel de vetor ponte entre os ciclos de transmissão silvestre e urbano, ou seja, suas fêmeas podem se alimentar em macacos infectados e posteriormente transferir o vírus para o homem no ambiente urbano. Este pa- pel de vetor ponte aumenta sua impor- tância epidemiológica local. • Culex O gênero Culex é um dos mais abundantes, pois possui 768 espé- cies amplamente distribuídas, sendo a maioria delas presente nas regiões tropicais e subtropicais do globo. Eles são conhecidos por atacar o homem e uma diversidade de animais para sugar sangue, e embora gerem um grande in- 32 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle cômodo com as picadas, suas fêmeas são menos agressivas do que as do gê- nero Aedes. Algumas espécies são reconheci- das pela importância médico-veteriná- ria na transmissão de patógenos cau- sadores de doenças como a filariose bancroftiana, dirofilariose (filariose ca- nina), malária aviária, encefalite equina venezuelana, encefalite de Saint Louis, encefalite japonesa, além da febre do Nilo ocidental e, mais recentemente, considerada vetor potencial do Zika ví- rus. Devido à sua característica cosmo- polita, é importante a investigação do papel de Culex na transmissão de pató- genos de doenças emergentes. Considerando o grande número de espécies do gênero Culex, as ca- racterísticas biológicas são variadas quanto ao ambiente onde ocorrem (ex.: silvestre, rural e urbano), bem como quanto ao comportamento de acasala- mento, que pode se dar em locais pe- quenos e fechados, como no interior de uma casa ou mesmo de uma gaiola em condições de laboratório (neste caso são chamadas de espécies estenogâ- micas) tal como Ae. aegypti. Outras es- pécies se reproduzem em locais aber- tos no ambiente silvestre (ex.: matas), formando verdadeiros enxames (espé- cies eurigâmicas). Quanto ao tamanho, as espécies de Culex podem variar de pequeno a grande porte, com colora- ção em geral marrom claro a negro. Os dois subgêneros com maior número de espécies e importância epi- demiológica são Culex e Melanoconion. Sob o ponto de vista de transmis- são de doenças ao homem no Brasil, Culex quinquefasciatus é o represen- tante de maior importância do com- plexo Culex pipiens. Um complexo é um grupo de espécies muito parecidas morfologicamente, mas geneticamente distintas, e que em alguns casos não podem produzir uma prole fértil e por isso podem ser consideradas espécies diferentes. Assim, na maioria das vezes a identificação taxonômica destas es- pécies só é possível através da análise de seus genes. Cx. quinquefasciatus é conheci- do como mosquito doméstico tropical, apresenta distribuição expansiva no ambiente urbano entre a faixa equato- rial, tropical e subtropical do globo. No Brasil, sua distribuição é bastante in- fluenciada pela presença do homem. O mosquito adulto tem porte mé- dio, coloração marrom claro sem brilho metálico e pernas também escuras sem marcações claras (Figura 7), diferente de Aedes aegypti. Os adultos, machos e fêmeas, são frequentemente encon- trados dentro das casas, espaço explo- 33 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos rado na busca de locais para abrigo/ repouso durante o dia e, à noite, para a alimentação sanguínea das fêmeas em hospedeiros humanos. Este compor- tamento de antropofilia tem sido mais registrado em países da América do Sul do que do Norte, onde as fêmeas de Cx. quinquefasciatus são mais genera- listas e se alimentam em animais, como as aves. As fêmeas de Cx. quinquefascia- tus tiram proveito das modificações hu- manas no ambiente peridomiciliar para encontrar criadouros. Portanto, não ne- cessitam realizar grandes deslocamen- tos, embora estudos tenham registrado sua dispersão por quase 10 quilôme- tros, quando necessário. Os criadouros preferenciais des- ses mosquitos são geralmente coleções de águas paradas, poluídas com maté- ria orgânica como dejetos de animais, vegetais em decomposição e rejeitos agroindustriais. São exemplos desses criadouros ao nível do solo, rios, ca- nais, córregos, lagoas de decantação, charcos,fossas sépticas, sistemas de escoamento de água, caixas de drena- gem de águas pluviais e águas usadas (esgoto), fossos de elevadores e outros recipientes artificiais temporários (Figu- ra 8). Os ovos são postos de forma agru- pada na superfície da água e, embo- ra não possuam flutuadores, boiam no criadouro, semelhantes a uma jangada (Figura 8). Mas há exceções, como al- gumas espécies do subgênero Melano- conion. Cada jangada tem aproximada- mente 200 ovos, que não são resistentes à dessecação, portanto, murcham fora d’água levando à morte dos embriões. Os ovos possuem uma substância que atrai outras fêmeas da mesma espécie (feromônio de oviposição) para fazer postura no mesmo criadouro, por isso podem ser encontradas densidades ele- vadas de larvas e pupas. As larvas possuem um sifão lon- go e se posicionam de forma diagonal à superfície da água durante a respira- ção. Elas se alimentam de partículas or- VOCÊ SABIA? Apenas as espécies do gêne- ro Anopheles podem ser vetores dos quatro tipos de plasmódios que causam a malária humana. Plasmodium falciparum, Plasmo- dium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale são os proto- zoários que causam a malária hu- mana e o fato deles conseguirem se reproduzir sexuadamente no corpo do mosquito faz dele não apenas vetor, mas também hospe- deiro definitivo destes parasitas. 34 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle gânicas e microrganismos localizados na coluna de água dos criadouros. • Anopheles Estes mosquitos são também conhecidos como anofelinos ou ca- rapanãs. Ocorrem principalmente nas regiões tropicais e subtropicais do glo- bo terrestre. A subfamília Anophelinae é considerada a mais antiga (ancestral) da família Culicidae e possui três gêne- ros: Anopheles, Chagasia e Bironella. O gênero Anopheles é sem dúvida o que apresenta o maior número de espécies já descritas, distribuídas em todo o mundo. Os dois outros gêneros estão restritos a algumas regiões. No gênero Anopheles existem seis subgêneros: Anopheles, Nys- sorhynchus, Kertezia, Lophopodomyia, Stethomyia e Cellia, dos quais apenas o último não ocorre no Brasil. Além disso, o maior número de espécies é encon- trado nos três primeiros subgêneros. Aproximadamente 70 das 484 es- pécies de Anopheles são vetores dos plasmódios causadores da malária. De acordo com as condições ambientais, o comportamento alimentar das fême- as em relação ao hospedeiro humano, e sua densidade, as espécies podem ser consideradas vetores primários ou se- cundários daqueles parasitas. Algumas destas espécies são morfologicamente muito parecidas e também formam um complexo de espécies semelhante ao Cx. quinquefasciatus. O mais importan- te deles é o complexo Anopheles gam- biae, originário da África. Considerado o mais conhecido entre os anofelinos, o gênero Anopheles é o único que possui espécies de importância para a saúde pública, pois estão envolvidas nos ciclos de transmissão dos patógenos causadores da malária humana, filariose bancroftiana e algumas arboviroses. A malária tem maior destaque pelo elevado número de mortes registrado anualmente, e é por esta razão que os mosquitos são considerados os animais mais letais do mundo para os humanos. Dados da OMS mostram que quase metade da população mundial vive em áreas com risco de adoecimento por malária. Apesar das medidas de controle, esta doença permanece fatal, principalmente para crianças abaixo dos cinco anos de idade, matando uma criança a cada dois minutos. 35 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos 4. Qual a diferença entre o vetor primário e o secundário? O vetor primário ou principal é a espécie que apresenta elevada com- petência e capacidade vetorial para a manutenção do ciclo de transmissão de um patógeno. Já o vetor secundário ou auxiliar apresenta uma menor com- petência ou capacidade vetorial, sendo responsável pela transmissão ocasio- nal do patógeno, não tendo, portanto, a mesma importância epidemiológica do vetor primário. Para cada região existem as espé- cies de maior importância no ciclo de transmissão da malária. No Brasil, por exemplo, cinco espécies se destacam: Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi – Root, 1926; Anopheles (Nyssorhynchus) albitarsis – Lynch-Arribalzaga, 1878; Anopheles (Nyssorhynchus) aquasa- lis – Curry, 1932; Anopheles (Kerteszia) cruzii – Dyar & Knab, 1908 e Anopheles (Kerteszia) bellator – Dyar & Knab, 1906. Apesar de existirem mais de 50 espé- cies de Anopheles descritas no país. Anopheles darlingi é o vetor pri- mário da malária no Brasil. Com hábito crepuscular e noturno, este anofelino de médio porte possui comportamento eurigâmico, habita ambientes silvestres, semissilvestres, rurais e urbanos. Em relação a outras espécies, An. darlin- gi apresenta um comportamento mais acentuado de antropofilia e endofilia. Embora, suas fêmeas possam oportu- namente se alimentar e permanecer nos espaços externos (exofilia). Além des- sas características comportamentais, outros fatores ambientais podem afetar o desenvolvimento do parasita no mos- quito, contribuindo para o sucesso da transmissão da malária. Um dos mais importantes é a temperatura do am- biente, pois quando elevada, acelera o crescimento do parasita no mosquito, permitindo que os plasmódios comple- tem seu desenvolvimento e multiplica- ção mais rapidamente. Adicionalmente, pode também aumentar a longevidade das fêmeas, potencializando sua capa- cidade vetorial. Durante a vida adulta, cada fê- mea pode fazer a postura de 50 a 200 ovos por oviposição. Os ovos são pos- tos diretamente na água e, como os de Culex, também não resistem à desse- cação. Além disso, eles são colocados de forma isolada, ovo a ovo, e possuem flutuadores, que são estruturas laterais para que eles não afundem na água (Fi- gura 6). Os criadouros mais frequentes dos anofelinos são cursos d’água ao Pneus descartados - Criadouro de Aedes Esgoto a céu aberto - criadouro de Culex Caixa d’água destampada - Criadouro de Aedes Criadouro de Anopheles Lixo dosméstico - Criadouro de Culex Figura 8: Exemplos de criadouros típicos de alguns culicídeos. Fonte: 1. Maria Alice Varjal de Melo Santos; 2. e 4. Centers for Disease Control and Prevention (CDC) / Graham Heid, Dr. Harry D. Pratt; 3. e 5. Instituto Aggeu Magalhães / Departamento de Entomologia / Danielle C. T. V. Melo. 2 3 4 5 1 37 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos nível do solo, pobres em matéria orgâ- nica, representados por igarapés, rios com pouca correnteza, charcos, cam- pos de plantação de arroz, pântanos de água doce ou salgada, pântanos de mangue, valas gramadas, margens de córregos, rios e pequenas poças de chuva temporárias (Figura 8). Há mui- tas espécies de Anopheles que podem explorar criadouros, produzidos pelo homem, em áreas urbanizadas, como tanques, cisternas e até tanques e/ou lagoas de piscicultura. Existem características morfoló- gicas que separam os anofelinos dos demais mosquitos (Figura 6), entre elas destacam-se: • A maioria das suas espécies, repousam de modo quase per- pendicular nas superfície, se- melhante a um prego inclina- do, e por isso são chamados de mosquitos-prego; • Apresentam escamas claras e escuras formando diferentes padrões nas veias das asas, em ambos os sexos, os quais auxiliam na identificação das espécies; • Possuem palpos maxilares tão longos quanto à probóscide (Figura 4); • Ausência de sifão respiratório na larva o que leva ao posicio- namento do seu corpo parale- lo à superfície da água; • Presença de estruturas laterais que auxiliam na flutuação do ovo (flutuadores) sobre a lâmi- na d’água. Entre os culicídeos encontramos a subfamília Toxorhynchitinae, re- presentada por mosquitos grandes e coloridos com um único gênero cha- mado Toxorhynchites (Figura 9). São conhecidos também como “mosquito elefante” por apresentarem umapro- bóscide curva para baixo, como uma tromba (Figura 9A). O mosquito ele- fante costuma assustar pelo tamanho, que pode ser duas vezes maior do que os outros mosquitos. Não transmitem doenças e são inofensivos, pois não sugam sangue na fase adulta. Pelo contrário, eles podem ser nossos alia- dos no controle de outras larvas de mosquito, já que larvas de Toxorhyn- chites são predadoras vorazes de ou- tras larvas de mosquito (Figura 9B). 5. Existem mosquitos que não se alimentam de sangue? 38 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle Assim eles podem desempenhar um papel importante no controle de mos- quitos no ambiente silvestre. Existem ainda os “imitadores” de mosquitos, pois se parecem com eles mas não são mosquitos. Os tipulíde- os e os quironomídeos (Figura 9C e 9D), por exemplo, são confundidos fre- quentemente com mosquitos, mas não fazem parte do grupo dos culicídeos. Os Tipulídeos apresentam pernas muito longas, podem medir até 6 cm de comprimento e se parecem com mosquitos, por isso são conhecidos como “mosquitos gigantes”. Mas não são culicídeos nem são hematófagos (Figura 9D). Os Quironomídeos não possuem probóscide e o comprimento aproxima- do é de 1 cm (Figura 9D). Na maioria das regiões do Bra- sil, as condições climáticas são muito favoráveis para o desenvolvimento de insetos, apresentando temperaturas e umidade elevadas durante a maior parte do ano. Vários estudos confirmam uma relação direta entre temperaturas eleva- das (27º-31º C) e a rapidez do desen- volvimento da fase larval dos mosqui- tos. Consequentemente, em um período menor de tempo os adultos emergem e vão em busca de fonte alimentar. Por outro lado em baixas temperaturas, os mosquitos podem se desenvolver muito lentamente ou até não sobreviver. 6. Como a condição ambiental influencia as principais espécies de mosquitos de importância médica? Toxorhynchites - Mosquito elefante adulto Toxorhynchites - Grande dimensão da larva do mosquito elefante Tipulídeos - “mosquitos” gigantes Quironomídeos - imitadores de mosquitos Figura 9: Curiosidades sobre mosquitos e falsos mosquitos. Fonte: A. e B. Walther Ishikawa - Planeta Invertebrados; C. Bulent Fahri Ince - Freeimages; D. Dé- borah Silva/EAD Fiocruz PE. A B C D 39 Capítulo 1 - Características biológicas, ecológicas e comportamentais dos mosquitos Em relação à umidade, a precipi- tação exerce um importante efeito no aumento do número de criadouros na- turais para larvas dos mosquitos. Inclu- sive criadouros permanentes ao nível do solo, frequentemente, colonizados por espécies de Culex e Anopheles, quanto os microcriadouros temporários artificiais, são colonizados por Aedes (Figura 8). Por isso, frequentemente, quando acontecem chuvas esparsas em períodos de temperaturas elevadas, pode ser observado o crescimento po- pulacional explosivo dos mosquitos. É importante destacar, que condi- ções precárias de saneamento básico também favorecem o aumento da den- sidade populacional de mosquitos nas áreas urbanas, por ampliar as opções de criadouros. Culex quinquefasciatus, por exem- plo, concentra o maior número possível de ovos (jangadas) em poucos criadou- ros, como fossas e esgotos a céu aber- to, por isso, suas densidades larvárias são extremamente elevadas (Figura 8). Situações dessa natureza são particu- larmente importantes em áreas endê- micas para filariose linfática, a exemplo da Região Metropolitana do Recife. A irregularidade no abastecimen- to de água potável também representa um grande problema, haja vista, que o seu armazenamento de forma inade- quada, pode aumentar a presença de criadouros potenciais para Ae. aegypti. Diferente de Culex, as fêmeas de Ae. aegypti tendem a espalhar ao máximo seus os ovos, no maior número de cria- douros existente no ambiente. Assim, é possível perceber que realizar o controle de mosquitos em pa- íses tropicais, além de ser um grande desafio para a saúde pública, requer ações constantes e intersetoriais, espe- cialmente as voltadas ao saneamento básico e ao manejo ambiental. 40 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle REFERÊNCIAS CDC. Centers for Disease Control and Prevention. Division of Parasitic Disea- ses and Malaria - Anopheles Mosquitoes. Disponível em: <https://www.cdc. gov/malaria/about/biology/mosquitoes/index.html>. Acessado em 11 dez. 2018. CONSOLI, R. A. G. B.; OLIVEIRA, R. L. Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. 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CONTROLE DE MOSQUITOS Autores Cláudia Maria Fontes de Oliveira Maria Alice Varjal de Melo Santos Maria Helena Neves Lobo Silva Filha Rosângela Maria Rodrigues Barbosa CAPÍTULO 2 43 Capítulo 2 - Controle de Mosquitos CONTROLE DE MOSQUITOS 2 Os mosquitos, como sabemos, podem ser vetores de patógenos que causam doenças ao homem, além de alergias e desconfortos, associados às picadas durante a alimentação sanguí- nea. Por isso, é necessário reduzir, ao máximo, a quantidade destes insetos no ambiente, ou seja, fazer o controle de sua densidade populacional. Para controlar é preciso antes co- nhecer qual(is) espécie(s) pode(m) estar atuando como vetor de algum patóge- no ao homem, ou provocando outros problemas de saúde. Em seguida,é necessário avaliar vários fatores para, por fim, definir as estratégias que deve- rão ser utilizadas para sua vigilância e/ ou controle. Os principais fatores a se- rem determinados são: saber se a es- pécie é exótica (estrangeira, ou seja, se tem origem diferente do local em que foi encontrada) ou se é própria desse lugar (autóctone); sua distribuição no ambiente e o número de indivíduos en- OBJETIVO Ao final desse módulo o participante deverá reconhecer as condições que favorecem a presença de mosquitos nos ambientes; os objetivos, instru- mentos e métodos para a vigilância de mosquitos; a importância estraté- gica das ações de vigilância para a saúde pública; os principais métodos de controle, vantagens, limitações e adequações aos diferentes contextos; a necessidade da implantação de programas de controle integrado para reduzir a população de mosquitos de forma sustentável. 1. Por que é necessário fazer a vigilância e o controle de mosquitos? 44 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle contrados em uma determinada área (densidade populacional); seu compor- tamento para estimar o nível de contato com o homem em sua moradia (domici- liação); e as causas da sua proliferação no ambiente. Todas estas informações são necessárias à vigilância entomo- lógica que, com base na análise dos resultados encontrados, estabelece os indicadores entomológicos e os níveis de transmissão da doença, para identi- ficar situações ambientais e climáticas que favoreçam a disseminação de pa- tógenos. Portanto, a vigilância entomo- lógica é um componente essencial nos programas de controle de insetos. É importante saber que não existe um método universal, ou único, para re- duzir as populações dos mosquitos em todos os lugares ou ambientes onde eles causam problemas. A situação de cada local deve ser avaliada para es- colher as estratégias de controle mais adequadas e viáveis. Por isso, a Organi- zação Mundial de Saúde recomenda o Manejo Integrado de Vetores (MIV) e re- centemente publicou diretrizes relativas à importância estratégica do controle de vetores para a redução e eliminação de doenças a nível global até 2030. A alta infestação ou alta densi- dade populacional de mosquitos em áreas urbanas, geralmente, indica que existem condições no ambiente, pos- sivelmente associadas à deficiência no abastecimento de água, de saneamen- to, coleta de lixo, estrutura das habita- ções e dos espaços públicos, que favo- recem sua proliferação (Figura 1). A estratégia de controle mecânico é a mais importante e deve ser feita pela população, pelos agentes de endemias e pelos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. Ela deve ser apli- cada em todos os programas, pois tem como objetivo eliminar os criadouros e as condições que causam a prolifera- ção dos mosquitos. Ações mecânicas ou físicas incluem o fechamento corre- VOCÊ SABIA? Devemos controlar mosquitos em uma área mesmo que NÃO esteja ocorrendo a transmissão de doenças. Isto porque eles podem causar danos à saúde humana, como alergias e incômodo ao sono e repouso das pessoas. 2. Como podemos realizar o controle mecânico/físico dos mosquitos? Figura 1: Exemplos de ambientes que favorecem a proliferação de mosquitos e podem ser cha- mados de “criadouros”. Fonte: Departamento de Entomologia / Instituto Aggeu Magalhães - Eloína Maria M. Santos, Tatia- ne Cibele S. Gomes e Maria Alice V. Melo Santos. A C B D Poço de elevador Canaletas e canais com obstrução do fluxo de água pelo lixo Canaletas e canais com obstrução do fluxo de água pelo lixo Caixa de inspeção sem tampa 46 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle to de fossas, bem como dos grandes reservatórios de água, como tanques, cisterna e caixas d’água; o descarte de objetos que possam acumular água, es- pecialmente no ambiente peridomiciliar (fora da casa) e intradomiciliar (dentro de casa); a drenagem e limpeza de rios, canais, córregos, sistemas de coleta de águas pluviais (água de chuva) e de es- gotos, calhas e outros para impedir o acúmulo de água parada (Figura 2). A vistoria nas residências para en- contrar e eliminar os criadouros é uma ação mecânica-física-ambiental muito importante para o controle de mosqui- tos, no entanto, não pode acontecer apenas durante as campanhas ou ar- rastões de limpeza. A vistoria precisa ser feitas pelos próprios moradores e por isso, os Agentes de Endemias dos municípios são também responsáveis por ensinar a população sobre como achar e eliminar os criadouros presen- tes no ambiente residencial. A partir destas informações, cada morador(a) VOCÊ SABIA? O melhor agente para achar criadouros de mosquitos é o próprio morador(a). Ele(a) conhece bem todos os recantos da casa, sabe onde estão a fossa, tanques, cisternas, calhas, e outros locais e recantos que podem servir como criadouros. Figura 2. Aspecto de um rio em área urbana com proliferação de Culex quinquefasciatus. Fonte: Prefeitura de São Paulo / Coordenação da Vigilância em Saúde (COVISA). VOCÊ SABIA? A organização e a limpeza nas casas pode eliminar boa parte dos mosquitos do ambiente. Situação após a intervenção englobando limpeza da vegetação das margens, reti- rada de lixo e dragagem do leito do rio. Situação antes de intervenção 47 Capítulo 2 - Controle de Mosquitos pode então vistoriar semanalmente os locais que podem ser uma possível fon- te de criação de mosquitos, dentro e fora de suas casas, e assim proteger ao máximo o ambiente em sua volta. A organização e a limpeza dentro e fora da casa significa não deixar ne- nhum local que possa acumular qual- quer quantidade de água, incluindo a bandeja atrás do motor da geladeira e do ar-condicionado, a grade do bebe- douro de água, as esquadrias dos boxes de banheiros, janelas e portas. Significa também limpar a calha e as canaletas de drenagem de água, removendo fo- lhas, papéis ou outros objetos descar- táveis e resíduos que possam represar ou acumular água de chuva; cobrir re- servatórios, que armazenam água e não tenham tampas, com tela de malha bem fina, prendendo-a com elástico, bem como tonéis, tanques e baldes; colocar semanalmente água sanitária nos ralos, vasos sanitários e outros locais pareci- dos. As fêmeas dos mosquitos gostam de se abrigar em locais escuros dentro das casas (debaixo de camas, armá- rios, móveis, mesas, caixas e malas). Qualquer objeto, móvel ou local, e até roupas de cor escura, atraem bastante os mosquitos adultos. Assim, deve-se abrir as janelas para arejar e clarear os ambientes, e mover os móveis e objetos para achar e matar os mosquitos que se esconderam atrás ou embaixo deles. As ações do setor público, dos governos, como os serviços de infra- estrutura, também fazem parte nesta categoria de controle mecânico. Os exemplos mais importantes são os serviços de saneamento, fornecimen- to de água encanada (para evitar seu armazenamento em reservatórios nas casas), coleta regular de lixo e manu- tenção de espaços públicos, como praças, vias públicas, canais e córre- gos limpos. As ações do setor privado tam- bém são necessárias quanto aos cui- dados com os imóveis, sobretudo fer- ros-velhos, borracharias, cemitérios, depósitos de objetos para reciclagem e outros estabelecimentos comerciais que possam servir como locais estra- tégicos para a proliferação dos mos- quitos (Figura 3). Os estabelecimentos SAIBA MAIS Você já ouviu falar da campanha 10 minutos contra a dengue? Existem folhetos e vídeos que explicam como fazer a vistoria das casas para buscar e eliminar criadouros do mosquito Ae. aegypti, em apenas 10 minutos a cada semana. Conheça mais acessando: ⮑ http://www.ioc.fiocruz.br/ dengue/textos/10minutos.html 48 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle industriais também precisam atentar para que suas instalações não tenham fontes de mosquitos (ex.: tanques de água ou de rejeitos). Os hospitais e outras unidades de saúde devem ser mantidoslivres de mosquitos, pois, também são locais estratégicos para a transmissão, devi- do à presença de um grande número de pessoas doentes, que podem estar infectadas e servir como fonte de in- fecção para as fêmeas dos mosquitos. As escolas e locais de trabalhos também devem ter uma atenção espe- cial às condições ambientais para não terem focos de mosquito. Estes locais são estratégicos, pois agrupam muitas pessoas e se houver mosquitos tam- bém oferecem um ótimo cenário para a transmissão rápida de patógenos. O controle governamental tam- bém pode ser feito através da legis- lação específica. O exemplo mais co- mum é a aplicação de multas para os responsáveis por imóveis que tiverem criadouros ativos (Lei nº 6.437, de 1977, que configura as infrações à le- gislação Sanitária Federal). No Brasil, Figura 3: Exemplos de áreas estratégicas para criadouros de Aedes. Fonte: A e B: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Maria Alice V. Melo Santos e Rosângela Maria R. Barbosa; C: Pixabay. A C B Cemitério Ferro-velho Vasos de plantas como exemplo de cria- douros potenciais de mosquitos 49 Capítulo 2 - Controle de Mosquitos esta forma de controle não é utilizada, embora nos casos de denúncias de lo- cais com focos ativos e produtivos de mosquitos, as portas de imóveis aban- donados podem ser abertas à força. Locais abandonados podem represen- tar um grande risco para a proliferação dos mosquitos. Para evitar tal situação, é cada vez mais necessário um traba- lho de conscientização e, sobretudo, mobilização das pessoas para evitar a presença destes locais de proliferação de mosquitos (Figura 4). As ações de educação/conscien- tização/mobilização da população são essenciais para o sucesso do controle vetorial. Infelizmente, elas não têm sido valorizadas nem, portanto, executa- das rotineiramente, sendo comum ver a participação da comunidade apenas nos arrastões, mutirões e campanhas de limpeza, realizados de tempos em tempos pelos órgãos de saúde. Parte da população tem informações sobre mosquito, mas poucos conhecem as suas formas jovens. Os ovos e as lar- vas são muito pequenos, e a população precisa de orientação para reconhecê- -los (Figura 5). Mosquiteiro na cama e outros lo- cais de repouso (figura 6), serve como uma importante barreira de proteção contra os mosquitos, sobretudo durante o sono, quando as pessoas estão mais expostas às picadas destes insetos. Te- las protegendo portas e janelas também devem ser usadas para reduzir a entrada dos mosquitos nas casas. Existem ain- da as raquetes “mata-mosquitos” que VOCÊ SABIA? Existe uma legislação especifica para punir os responsáveis por locais abandonados com risco da presença de criadouros de mosquitos. É a Lei nº 6.437, de 1977, que configura as infrações à legislação Sanitária Federal. VOCÊ SABIA? Os mosquitos que estão em uma casa provavelmente vêm dela e não da casa dos vizinhos. Em 80% dos casos os mosquitos de uma casa vêm dela mesma e uma busca cuidadosa vai comprovar que há criadouros. 3. Como podemos nos proteger dos mosquitos? 50 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle Figura 4: Exemplos de criadouros de mosquitos que devem ser protegidos ou preferencialmente eliminados. Fonte: Departamento de Entomologia - Instituto Aggeu Magalhães / Cláudia Maria F. Oliveira e Maria Alice V. Melo Santos. Tonel parcialmente coberto Recipientes sem coberturas ou tampas Tanque com abertura Caixa de passagem aberta e água estagnada Figura 5: Fases de desenvolvimento dos mosquitos Culex e Aedes em escala. Adultos, pupas, larvas e ovos. Fonte: Os autores. Infografia: Déborah Silva, 2019 FASES DE DESENVOLVIMENTO DO MOSQUITO AEDES AEGYPTI EM ESCALA ~1mm L1 ~0.5mm OVO L2 L3 L4 LARVAS ~3mm ~5mm ~7mm ~8mm ADULTO PUPA~5mm 52 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle podem ajudar a eliminar adultos que circulam no ambiente (Figura 6). Todos são instrumentos simples e que podem reduzir as picadas dos mosquitos. As ações chamadas de proteção pessoal têm como objetivo prevenir a picada daquelas fêmeas de mosquitos que já estão presentes e circulando nas residências, nos locais de trabalho e de lazer. A utilização de roupas de cor clara para cobrir bem o corpo, como blusas de mangas longas, meias, sapatos fe- chados são muito úteis. Repelentes de mosquito (ex.: DEET, icaridina e outros) podem ser aplicados em diferentes par- tes do corpo, especialmente nas pernas, tornozelos e braços (Figura 7). Atenção, pois o uso de repelentes tem que ser feito de acordo com as instruções do rótulo, sobretudo para crianças. Mesmo assim, deve ser verificado se o produto está funcionando após a aplicação. Inicialmente, deve ser lembrado que as ações de controle mecânico-fí- sico-ambiental são as mais recomen- dadas, pois agem na raiz do problema. O uso de qualquer inseticida deve ser feito em situações que não podem ser resolvidas de outra maneira. Abaixo se- gue a descrição das principais classes de agentes de controle de mosquitos atualmente disponíveis para uso em programas de controle. Inseticidas químicos “tradicio- nais” com ação larvicida ou adultici- da. Os quatro grupos de inseticidas quí- Figura 6: Instrumentos de proteção contra mosquitos. Fonte: A. Louise Gubb / Carter Center; B. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019. A B 4. Como fazer o controle dos mosquitos através dos inseticidas e quais são os compostos mais utilizados? Cama protegida por mosquiteiro Raquete mata-mosquito 53 Capítulo 2 - Controle de Mosquitos micos mais conhecidos e utilizados são os organoclorados (ex.: DDT, dieldrin), organosfosforados (ex.: temephos e malathion), carbamatos (ex.: propoxur) e piretróides (ex.: permetrina e deltame- trina) (Figura 8). Estes compostos podem ser usa- dos como larvicidas e aplicados na água dos criadouros para matar as for- mas jovens, principalmente na fase de larvas. Eles também podem ser usa- dos como adulticidas para eliminar os mosquitos adultos do ambiente. Neste Figura 7: Exemplos de repelentes para proteção pessoal. Fonte: Os autores. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019. Óleo de Citronela Cymbopogon nard us Peso: 15m l uso extern o Produzido e exportado por: EAD exportadora B-75, Setor-7 IAM Recife PE, Brasil Figura 8: Exemplos de inseticidas usados no controle de mosquitos. Fonte: Os autores. Ilustração: Túlio Mesquita, EAD Fiocruz PE, 2019. Loção com ingredientes DEET Organofosforado (temephos) Óleo de citronela Piretróides (permetrina) 54 Mosquitos | Bases da Vigilância e Controle caso, os inseticidas podem ser aplica- dos em ultra baixo volume (UBV) em veículo (fumacê), UBV-Portátil (Figura 9) ou até através de sprays domésticos, de venda livre nos supermercados. As aplicações podem ser feitas no ambiente em geral (aplicação espa- cial), especificamente em torno de fo- cos dos mosquitos (perifocal) ou ainda em paredes do interior das casas (apli- cação residual). Os inseticidas químicos agem por contato com o tegumento (ou superfície do corpo) dos insetos e atingem o siste- ma nervoso causando danos que levam à morte. Em geral eles têm uma ação muito rápida, em poucas horas. O prin- cipal problema deste tipo de inseticida é que eles também podem causar danos para outros seres vivos, ou seja, também são tóxicos para outros insetos úteis (ex.: abelhas) e até para o próprio homem, de- pendendo da dosagem e tempo de uso. Usar um inseticida químico para o controle é uma escolha que deve ser feita cuidadosamente, após as ten- tativas de eliminação dos focos do mosquito através de ações de contro- le mecânico. Além disso, ao se usar um determinado inseticida devemos ter certeza que aqueles insetos são realmente susceptíveis ao insetici- da escolhido, através de testes que comprovem essa susceptibilidade. Os inseticidas devem ser trocados por outros inseticidas, em forma de rodí- zio, para evitar que ocorra a seleção
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