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Farmacologia Tammi Ráisla Fármacos usados nos distúrbios da coagulação Resposta plaquetária à lesão vascular: Células endoteliais intactas: liberam mediadores químicos (prostaciclina e NO) Receptores de membrana plaquetário AMPc ↓Ca+2 Impede liberação de mediadores ↓aglutinação e agregação plaquetária 1. Mediadores químicos sintetizados pelas células endoteliais: Prostaciclina e NO são sintetizados pelas células endoteliais intactas e atuam como inibidoras da aglutinação das plaquetas. ✓ As prostaciclinas atuam ligando-se a receptores de membrana plaquetários que estão acoplados à síntese de monofosfato cíclico de adenosina (AMPc). ✓ AMPc é um mensageiro intracelular que, quando em níveis elevados, diminui os níveis de cálcio intracelular, evitando a aglutinação de plaquetas. As células endoteliais lesadas sintetizam menos prostaciclina do que as células saudáveis, resultando em níveis mais baixos de prostaciclina. ↓prostaciclina = ↓AMPc intracelular = Ca+2 = aglutinação das plaquetas. 2. Papéis da trombina, do tromboxano e do colágeno: No vaso intacto os níveis de trombina e tromboxano circulantes são baixos, e o endotélio intacto cobre o colágeno nas camadas subendoteliais. Os receptores das plaquetas correspondentes estão desocupados não ocorre ativação ou agregação de plaquetas. Contudo, quando ocupados, cada um desses tipos de receptores inicia uma série de reações que leva à liberação de grânulos intracelulares pelas plaquetas na circulação. Por fim, isso estimula a aglutinação das plaquetas. 3. Adesão e ativação plaquetária: Quando o endotélio está lesado, as plaquetas aderem e praticamente cobrem o colágeno exposto do subendotélio. Os receptores na superfície das plaquetas aderentes são ativados pelo colágeno do tecido conectivo subjacente. Isso causa alterações morfológicas nas plaquetas e a liberação de grânulos de plaquetas contendo mediadores químicos, como: − Difosfato de adenosina (ADP) − Tromboxano A2 − Serotonina − Fator de ativação plaquetária − Trombina Essas moléculas sinalizadoras se ligam aos receptores na membrana externa das plaquetas em repouso circulantes vizinhas, funcionando com sensores ativadores. As plaquetas previamente dormentes se tornam ativadas e iniciam a aglutinação (↓AMPc Ca+2). ✓ O cálcio elevado causa: − liberação de grânulos de plaquetas; − ativação da síntese de tromboxano A2; − ativação dos receptores de GP (glicoproteína) IIb/IIIa – ligam fibrinogênio e regulam as interações plaquetas- plaquetas e a formação do trombo. 4. Formação do coágulo: A estimulação local da cascata de coagulação pelos fatores teciduais liberados dos tecidos lesados e pelos mediadores da superfície das plaquetas resulta na formação de trombina (fator IIA). ✓ A trombina catalisa a hidrólise do fibrinogênio em fibrina, que é incorporada no coágulo. Ligações cruzadas subsequentes das tiras de fibrina estabilizam o coágulo e formam um tampão fibrina-plaquetas hemostático. 5. Fibrinólise: Durante a formação do tampão, a via fibrinolítica é ativada localmente. O plasminogênio é processado à plasmina (fibrinolisina) enzimaticamente pelos ativadores de plasminogênio nos tecidos. ✓ A plasmina limita o crescimento do coágulo e dissolve a rede de fibrina à medida que ocorre a cicatrização. Hemostasia “Refere-se ao processo dinâmico primorosamente regulado de manter a fluidez do sangue, visando ao reparo da lesão vascular e à limitação da perda de sangue, enquanto evita a ocorrência de oclusão vascular (trombose) e a perfusão inadequada dos órgãos vitais” Farmacologia Tammi Ráisla Distúrbios da hemostasia: − Hipercoagulabilidade: Fatores envolvidos: a) Condições que aumentam a função plaquetária: ✓ Distúrbios do fluxo sanguíneo (aterosclerose, diabetes, tabagismo, dislipidemia) ✓ Lesão endotelial. b) Condições que aceleram o sistema de coagulação: ✓ Gravidez ✓ Puerpério ✓ Estado pós-cirúrgico com imobilização ✓ Insuficiência cardíaca congestiva ✓ Fibrilação atrial − Hemorragia ✓ Defeitos associados às plaquetas ✓ Alterações nos fatores de coagulação ✓ Alteração na integridade vascular Trombose É uma condição patológica decorrente da ativação inapropriada dos mecanismos hemostáticos. Trombo pode se desprender e seguir seu trajeto como êmbolo causando isquemias. a) Trombo venoso: pequeno componente plaquetário e um grande componente de fibrina – desencadeia trombose venosa profunda, embolia pulmonar b) Trombo arterial: plaquetas e leucócitos (aterosclerose) – desencadeia isquemias cardíacas e cerebrais. Trombogênese Terapia Lesão endotelial Redução de fatores de risco Adesão e ativação plaquetária Antiplaquetários Formação de trombina e fibrina Anticoagulantes Formação de plasmina e fibrinólise Fibrinolíticos Objetivo do tratamento: ✓ Impedir o crescimento do coágulo sanguíneo; ✓ Impedir que o coágulo avance para outras regiões; ✓ Reduzir as chances de recorrência da trombose. Antiplaquetários Fármacos inibidores da aglutinação: AAS 100mg – inibe apenas COX 1 (via fisiológica da cascata araquidônica tromboxano A2). – Efeito antiplaquetário, diminuindo a produção de tromboxano A2 (não afeta a produção prostaciclina – COX 2) Indicação: ✓ Tratamento profilático de trombo arterial. ✓ Angina de peito (obstrução das coronárias) ✓ IAM ✓ Infarto cerebral Clopidogrel (bloqueia o receptor de ADP) – previne eventos ateroscleróticos em pacientes com IAM ou AVE recentes, previne trombose associada a intervenção percutânea em associação AAS (stent coronário) Ticagrelol, prasugrel (bloqueia o receptor ADP) – angina instável ou IAM em associação com AAS. – Dupla ação antiplaquetária. Anticoagulantes Inibidores indiretos da trombina: limitam a expansão dos trombos – ligam-se a antitrombina III e aceleram a inibição da coagulação. a) Anticoagulantes parenterais – interferem agudamente na formação de trombos; não absorvidas do trato gastrointestinal. Heparina não fracionada – induz uma mudança conformacional na antitrombina III que cria seu local reativo mais acessível para a trombina e fator Xa, ou seja, aumenta a afinidade entre antitrombina e trombina; é de alto peso molecular. − Hemofol (heparina sódica I.V.) − Liquemine (heparina sódica SC) Heparina de baixo peso molecular – induz uma mudança conformacional na antitrombina III que cria seu local reativo mais acessível ao fator Xa; não é menos efetiva e é mais segura. − Enoxaparina (Clexane) – uso SC Derivado da heparina − Fondaparinux (SC): mesmo mecanismo de ação do Clexane – só inibe o fator Xa. − Hepamax-S (I.V. e SC): maior vantagem pela flexibilidade de via de administração. Farmacologia Tammi Ráisla *Tempo de Tromboplastina Parcial (TTPa) a cada 6 horas. Via que promove alto risco de sangramento. Paciente na UTI. Liquemine Clexane Ligação às proteínas plasmáticas Extensa ligação Baixa ligação Biodisponibilidade Variável ~100% Tempo de 1/2 ~2 horas 7 horas Paciente com Liquemine tem maior chance de ter hemorragia pela variação da biodisponibilidade. b) Anticoagulantes orais: Cumarínicos – diminuem 30-50% da quantidade de cada fator (II, VII, IX e X). − Varfarina: antagonista da vitamina K (na forma reduzida é cofator da ativação dos fatores de coagulação) – inibe enzima vitamina K redutase que a ativa. Vantagens: ✓ Antídoto conhecido ✓ Baixo custo ✓ Ampla literatura para indicação terapêutica Desvantagens: ✓ Dose não é fixa – muda para cada paciente. ✓ Monitoramento do INR (razão de normalização internacional) ✓ Janela terapêutica estreita ✓ Diversas interações com medicamentos e alimentos ricos em vitamina K. ✓ Tempo de meia vida longo ✓ Suspensãopara procedimentos cirúrgicos requer maior tempo (prazo de mais de 24h) Transição do anticoagulante de parenteral para oral (varfarina) Varfarina + Heparina ou Enoxaparina Até atingir INR terapêutico *INR= 2 a 3 ou 2,5 a 3,5 (prótese valvar) − Novos anticoagulantes: Vantagens: ✓ Dose fixa ✓ Não há necessidade de controla laboratorial ✓ Interação medicamentosa menor ✓ Não há interação com alimentos Desvantagens: ✓ Antídoto desconhecido ✓ Esquecimento de uma dose expõe o paciente ao risco protrombótico ✓ Não há teste que demonstre efetividade ✓ Redução de dose na disfunção renal ✓ Elevado custo Transição do anticoagulante de parenteral para oral (novos anticoagulantes) Enoxaparina Suspender exonaparina Administrar anticoagulante oral no próximo horário da enoxaparina Principais indicações para anticoagulação: ✓ Profilaxia (pacientes em leito de hospital e gestantes – Clexane) e tratamento de TEV (tromboembolismo venoso) e TEP (tromboembolismo pulmonar) ✓ Acidente vascular cerebral isquêmico ✓ Trombose venosa cerebral ✓ Fibrilação atrial ✓ Síndrome coronariana aguda Contraindicações: ✓ Hipersensibilidade às heparinas ✓ Plaquetopenia induzida por heparina ✓ Sangramento ativo ✓ HAS não controlada > 180x110mmHg Síndrome coronariana aguda (trombólise) ✓ Indicação de anticoagulante parenteral ✓ Tempo de tratamento: até a terapia de reperfusão (angioplastia ou revascularização) ✓ Caso após angioplastia há presença de trombo, é indicado manter anticoagulante por 24-48 horas. c) Fibrinolíticos – casos clínicos e de forma aguda. Indicação: tratamento do IAM, AVE isquêmico agudo e EP maciça; indicado logo após a formação do trombo; estimula a formação de plasmina; há alto risco de sangramento. − Estreptocinase (pioneiro) – infarto − Alteplase – atua mais localizadamente na fibrina trombótica; ↓ risco de sangramento. Via de administração Medicamento Recomendação Subcutânea Heparina sódica Enoxaparina Fondaparinux Profilaxia e tratamento Endovenosa* Heparina sódica Tratamento anticoagulante Farmacologia Tammi Ráisla Anti-hemorrágicos Fármacos antifibrinolíticos. Indicações: ✓ Hemorragia em mucosas (oral, pós-extração dentária, epistaxes) em pacientes hemofílicos ✓ Menorragia ✓ Prevenção cirúrgica em pacientes com coagulopatias ✓ Maior tempo de ação. − Ácido tranexâmico. Monitoramento laboratorial Anticoagulante Exame laboratorial Heparina não fracionada (I.V) TTPA Enoxaparina Anti-fator Xa Varfarina INR (2 – 3) ou (2,5 – 3,5 em próteses mecânicas) Demais anticoagulantes podem alterar exames laboratoriais como TP e TTPA, entretanto não podem ser utilizados na prática clínica para monitoramento da ação do fármaco. Reversão da anticoagulação Anticoagulante Reversão Heparina não fracionada Protamina Enoxaparina Protamina reverte 60% da ação Fondaparinux Não há antídoto específico. Varfarina Vitamina K e completos protrombínico Dabigatrana Não há antídoto específico. Rivaroxabana e apixabana Não há antídoto específico. Situações clínicas a) Prevenção de eventos aterotrombóticos como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico através da diminuição da atividade plaquetária: antiplaquetário AAS + bloqueador de ATP. b) Prevenção de trombose venosa profunda em paciente hospitalizado com mobilidade reduzida devido cirurgia ortopédica de joelho. Clexane S.C. c) Paciente há 2 semanas ne UTI, em uso de enoxaparina profilática (dose de 40 mg uma vez ao dia) passa a desenvolver um quadro de insuficiência renal (Clerance de creatinina <30 ml/min). Como proceder? Mantém o anticoagulante? Paciente com insuficiência renal, preferência de reduzir a dose pela metade. Se fosse questão de tratamento, seria melhor substituir por heparina não fracionada. d) Tratamento de imediato de embolia pulmonar maciça Alteplase e) Homem com hemorragia após uso de Heparina não fracionada Sulfato de protamina f) Paciente com sangramento significativo associado a Varfarina Vitamina K g) Gestante com trombofilia Clexane h) Paciente com menorragia Ácido tranexâmico. Classe Fármaco Inibidores indiretos da trombina Heparina não fracionada (HNF) Heparina de baixo peso molecular (HBPM) Fondaparinux Inibidores diretos da trombina Dabigatrana Inibidores diretos do fator Xa Apixabana Rivaroxabana Fondaparinux Cumarínico Varfarina Trombolíticos Alteplase Tenecteplase Estreptoquinase Inibidores plaquetários Ácido acetilsalicílico Ticlopidina Clopidogrel Prasugrel Ticagrelor Anti-hemorrágicos Inibem a ativação do plasminogênio Ácido tranexâmico Sulfato de protamina Vitamina K (fitomenadiona)
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