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FILOSOFIA E LEITURA DE TEXTOS FILOSÓFICOS Professor Dr. Edson Barbosa da Silva GRADUAÇÃO Unicesumar Acesse o seu livro também disponível na versão digital. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/407 C397CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SILVA, Edson Barbosa da. Filosofia e Leitura de Textos Filosóficos. Edson Barbosa da Silva. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpressão 2020. 232 p. “Graduação - EaD”. 1. Filosofia. 2. Leitura . 3. Textos Filosóficos 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1857-8 CDD - 22 ed. 101 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Pós-graduação Bruno do Val Jorge Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Coordenador de Conteúdo Eder Rodrigo Gimenes Designer Educacional Amanda Peçanha Dos Santos Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Robson Yuiti Saito Qualidade Textual Meyre Barbosa da Silva Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian- do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi- ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complemen- tando sua formação profissional, desenvolvendo com- petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe- cimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó- runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra dis- ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professor Dr. Edson Barbosa da Silva Doutor em Educação (2018) pela UEM - Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Filosofia das Ciências Humanas (1997) pela PUC-SP. Graduado em Filosofia pela PUC-PR (1990) e em Pedagogia (2013), pelo Instituto Superior de Educação do Paraná. Atualmente, é professor na Unicesumar, em Maringá, e desenvolve pesquisas sobre Filosofia, Representações Educativas e epistemologia a partir do século XVII, ministrando aulas com os temas: Filosofia - Educação – Filosofia do Direito e Propaganda. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4790019D8 SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), esta obra Filosofia e leitura de textos filosóficos tem o desejo de ser uma ferramenta para apropriação de conteúdos, exercícios de leitura, reflexão e criação de novos conceitos filosóficos. Estes elementos constituem os fundamentos necessários aos novos amantes da sabedoria, a fim de avançarem nos estudos e na produção de textos de filosofia. Na primeira unidade, apresentamos a leitura, de forma ampla, partindo dos primórdios do entendimento sobre ler o texto e o mundo, ou seja, a leitura ultrapassa as fronteiras dos textos, da sala de aula em direção ao mundo. Procuramos esclarecer como podemos superar as dificuldades na compreensão dos textos filosóficos. Na segunda unidade, nossa atenção volta-se para a compreensão dos elementos que compõem o cenário dos textos filosóficos. Faz-se necessário identificar no cenário as polifonias, no sentido criado pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975). Compre- ender as dificuldades e as funções da primeira e da terceira pessoa nas cenas dos textos filosóficos, além dos problemas de precisão e rigor dos conceitos na filosofia. Na terceira unidade, apresentamos a importância do problema fundamental, a tese ou resolução do problema, a argumentação, a fundamentação e o problema dos exemplos na compreensão dos textos filosóficos. O problema fundamental é aquele incômodo que perturba o pensador, que não permite descansar e o impulsiona a criar conceitos para responder ou buscar solucioná-lo de forma clara e convincente. Na quarta e quinta unidades, veremos que a dissertação é um exercício acadêmico que será, necessariamente, realizado com suas especificidades, quer seja com certa frequência, quer seja de forma esporádica ou no final do curso, como o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) ou um artigo científico a ser submetido à avaliação pelas revistas especializadas. Por fim, concluiremos com a hermenêutica filosófica e os exercícios de leituras de artigos filosóficos. APRESENTAÇÃO FILOSOFIA E LEITURA DE TEXTOS FILOSÓFICOS SUMÁRIO09 UNIDADE I PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA 15 Introdução 16 Como Ler um Texto Científico? 21 Leitura Como Ato de Estudar o Mundo 25 Leitura de Textos Filosóficos e Suas Dificuldades 33 Ler Para Explicar os Textos 39 Ler Para Comentar os Textos 47 Considerações Finais 53 Referências 54 Gabarito UNIDADE II OS CENÁRIOS E OS CONCEITOS NOS TEXTOS FILOSÓFICOS 57 Introdução 58 Sujeito nas Cenas dos Textos 64 Variações dos Sujeitos e Destinatários 70 A Terceira Pessoa nas Cenas dos Textos 77 Conceitos no Cenário dos Textos 86 O Sentido no Cenário dos Textos 92 Considerações Finais 99 Referências 100 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III FILOSOFIA COMO RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 103 Introdução 104 Filosofia e Seus Problemas 110 Problemas Para Criar Novos Conceitos na Filosofia 116 Há Problemas Filosóficos? 121 Argumentos e Suas Conexões 127 Filosofia Contra Exemplos 134 Considerações Finais 140 Referências UNIDADE IV DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA 143 Introdução 144 Exercício da Dissertação Filosófica 150 Complexidade do Exercício de Dissertar 156 Imposições do Tema Numa Dissertação 162 Definições Para Dissertar 168 Dissertação Filosófica e Sua Especificidade 175 Considerações Finais 183 Referências 184 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V EXERCÍCIOS DE LEITURAS FILOSÓFICAS 187 Introdução 188 Exercício de Diferenciação de Artigos Científicos e Filosóficos 194 Exercício Sobre Escrever Artigo Filosófico 201 Exercício de Análise do Artigo de Kant Sobre o Esclarecimento 210 Exercícios Sobre Esclarecimento e Liberdade 216 Exercício de Hermenêutica nas Leituras Filosóficas 223 Considerações Finais 229 Referências 230 Gabarito 231 Conclusão U N ID A D E I Professor Dr. Edson Barbosa da Silva PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar os pressupostos elementares para fazer boa leitura de textos científicos. ■ Demonstrar como a leitura ultrapassa as fronteiras dos textos e da sala de aula em direção ao mundo. ■ Esclarecer como podemos superar as dificuldades na compreensão dos textos filosóficos. ■ Explicitar os pressupostos de leituras para a explicação de textos filosóficos. ■ Demonstrar como podemos avançar das explicações para os comentários de textos filosóficos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Como ler um texto científico? ■ Leitura como ato de estudar o mundo ■ Leitura de textos filosóficos e suas dificuldades ■ Ler para explicar os textos ■ Ler para comentar os textos INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), bem-vindo (a) à Unidade I do livro “Filosofia e leitura de tex- tos filosóficos”. Esperamos que seja uma jornada muito proveitosa de estudos. “Todo começo é difícil; isso vale para qualquer ciência” (MARX, 1978, p. 11). Por isso, partimos do principio da leitura, com o intuito de facilitar o máximo possível este estudo, e aos poucos, como por degraus, avançar em direção aos assuntos mais complexos de um texto filosófico. Nos dois primeiros tópicos, apresentamos a leitura em senstido amplo, desde a mecânica da leitura comum até a leitura do mundo, destacamos as dimensões de um texto e suas implicações, tanto nos aspectos de sua estrutura interna quanto nos aspectos externos. Em seguida, apresentamos as ideias do educador Paulo Freire, demonstrando a possibilidade de aprendizado nos diferentes contextos, inclusive quando trabalhamos. Além disso, tratamos da para os disciplina e autodisciplina nos estudos de textos e da importância do esforço pessoal para aprender. Nos três últimos tópicos, procuramos responder a seguinte questão: Por que os textos de filosofia são considerados tão difíceis? Há luta do leitor com o texto para o compreender e fazer a análise necessária. Daremos dicas nas escolhas do que se deve ler, e uma delas é a escolha dos textos clássicos da história da filo- sofia. No quarto tópico, discutiremos a problemática do ator de ler, de explicar um texto filosófico e de fazer o esquadrinhamento das palavras fundamentais que dão suporte às teses, aos parágrafos e para esclarecer os pressupostos e as implicações de tais afirmações. Por fim, no último tópico, “Ler para comentar os textos”, apresentamos os elementos necessário da leitura para comentar um texto, inclusive, em forma de carta. Com isto, desejamos a vocês, estudantes ou iniciantes nos textos filosófi- cos, bons estudos e uma proveitosa leitura desta unidade. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 COMO LER UM TEXTO CIENTÍFICO? A leitura é um aprendizado para toda a vida e, uma vez desenvolvida, nunca mais se esquece. O professor doutor José Carlos Bruni, da USP (Universidade de São Paulo), preparou um texto para seus alunos, no ano de 2003, ainda muito opor- tuno para este momento, por isso apresentamos na íntegra. Contudo faremos algumas intervenções e observações, pequenas pausas na leitura para melhor compreendê-lo. Aprende-se a mecânica de ler aos sete anos de idade. No entanto, a lei- tura, concebida como instrumento de compreensão de uma ideia, é pro- cesso bem mais complexo. Seu aprendizado não pode ser fixado em uma idade determinada e o aprimoramento da técnica de leitura é tarefa de toda uma vida. Vamos tratar, aqui, só de alguns aspectos mais impor- tantes dessa técnica e de modo extremamente esquemático. A leitura é exercida sobre um texto, nome genérico para toda e qualquer porção de linguagem escrita. As dimensões do texto são variáveis. Textos podem ser: uma obra inteira, com vários volumes; um livro inteiro; uma par- te de um livro, com vários capítulos; um capítulo de um livro; às vezes, uma página apenas, mas de conteúdo bastante rico. O texto científico, caracterizado por um certo rigor de pensamento e expressão, uma certa ordem na concatenação das ideias e pela demonstração das afirmações, comporta uma leitura interna e uma análise externa. A leitura interna atém-se ao que o texto diz explicitamente. A análise externa utiliza dados que não aparecem no texto, mas que o explicam (BRUNI, [s. d.], p. 1). Destacamos o aspecto, no breve texto apresentado, o trecho em que autor afirma que aprendemos a ler durante toda a vida. Quando lemos, aperfeiçoamos a mecâ- nica da leitura. Outro aspecto que destacamos é o fato de o texto possuir duas estruturas, uma interna e outra externa, o texto e o contexto. Estas estruturas são os aspectos que podem melhor explicar o texto. Avancemos no conheci- mento desses aspectos. Como Ler um Texto Científico? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 A ESTRUTURA DA LEITURA INTERNA DO TEXTO A leitura interna deve, sempre, intencionar a busca pela a ideia central do texto, pois não há texto sem ela. Esta ideia ainda não é o tema do texto, às vezes, o tema não coincide com a ideia central. A posse desta ideia ajuda a compreender todo livro, se for o caso, ou toda a obra filosófica. A Leitura interna. “A ideia básica. Ler é, fundamentalmente, o ato de apro- priação da ideia central do texto, isto é, da ideia principal, básica, que con- tém a essência do texto. Esse deve ser o princípio norteador de toda leitura. Todos os outros princípios estão subordinados a esse e devem contribuir para a sua realização. A ideia básica não está localizada em um ponto per- feitamente identificável do texto. Não se constitui em uma ou duas frases do texto. Anima o texto inteiro, podendo transparecer mais claramente em certas frases do que em outras. Há certos trechos mais, em que certas frases são muito importantes. Mas a leitura desses trechos não é suficiente para produzir a ideiabásica do texto. Tendo em vista essas considerações, podemos tentar fixar a primeira regra da técnica da leitura: o esquema aqui proposto aplica-se especialmente a textos de Ciências Humanas, 1º Ler inicialmente o texto inteiro, para obter uma visão de conjunto, do todo. Nessa leitura, deve-se procurar prestar atenção apenas no que se destaca, deixando-se de lado os pormenores, o que não é essencial, como exemplos, repetições, dados ilustrativos etc. Terminada essa primeira leitura, neces- sariamente a mais superficial, é interessante tentar fazer, mentalmente ou por escrito, um apanhado geral de ideias que se revelaram mais salientes, que mais chamaram a atenção, das que formam um conjunto global, sem consultar o texto novamente. Essa ideia geral será guia para os passos res- tantes do trabalho de leitura. 2º As ideias secundárias como vimos, a ideia básica percorre o texto inteiro, isto é, ela não se apresenta de choque repen- tino, mas é o desenrolar ordenado do discurso, são parte a sucessivas do discurso que formam a ideia básica. A ideia básica vai estruturar o texto, vai comandar a articulação das várias partes do texto. Em geral, todo texto encontra-se dividido em partes, cada uma contendo ideias, não a central, mas outras secundárias, acessórias, que servem de apoio para a central. As partes que se sucedem no texto estão relacionadas entre si de um modo determinado e é esse modo de relacionamento das diversas partes entre si que chamamos de estrutura de um texto” (BRUNI, [s. d.], p. 1). No trecho apresentado, chamamos a atenção do(a) aluno (a) sobre a importân- cia da ideia central, das ideias secundárias e acessórias. Na leitura do texto, esses três elementos devem ser considerados para se estabelecer o diálogo necessário, PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 que constitui toda a leitura de um texto, afinal, ler é dialogar com o autor. O princípio fundamental de um diálogo é a possibilidade da discordância, se não, é monólogo. Ela possibilita outro olhar sobre o objeto ou problema em questão. Quanto mais olhares sobre um objeto, melhor a compreensão e, consequente- mente, melhor a ação no mundo. Com isso, podemos formular a segunda regra de leitura. Na segunda leitura, procurar identificar as partes do texto que contêm as ideias se- cundárias, bem como o modo como estão relacionadas. Nessa leitura, já mais aprofundada que a anterior, deve-se prestar atenção aos pormeno- res, aos elementos subordinados à ideia central, como os exemplos, os dados ilustrativos e como de uns se passa aos outros. 3º Os conceitos. As partes de um texto, por sua vez, são compostas por vários elementos que podemos chamar, de maneira geral, de conceitos, ou seja, as ideias mais elementares de um texto. São como os tijolos de uma casa, assim como as partes corresponderiam a seus vários cômodos. A análise do texto deve chegar aos conceitos que o constituem. Daí a terceira regra leitura. Uma terceira leitura do texto deve apreender os vários elementos componen- tes de suas diferentes partes: os conceitos. Trata-se, evidentemente, da leitura mais cuidadosa, mais minuciosa. Não é necessário ter em men- te, a cada momento, a ideia básica, mas deve-se tentar compreender as minúcias das ideias, ou antes, os elementos mínimos de que as ideias são formadas. Procura-se, então determinar o sentido de cada palavra, servindo-se das indicações dadas no próprio texto (BRUNI, [s. d.], p. 2). Neste trecho, merece destaque o fato das ideias secundárias, que percorrem todo o texto, nos forçar a ter mais atenção na sua relação com a ideia central. Aparecem, aqui, os conceitos que possuem uma função muito importante, pois garante a profundidade do tema e a forma como eles dão sustentação à ideia central. Os conceitos devem ser observados com muito cuidado, buscando os detalhes, as minúcias da sua escolha. Em um texto, nada está posto por acaso ou é resultado da falta de atenção, tudo tem uma intenção consciente e objetiva. Segundo Bruni: A leitura interna de um texto deve, portanto, captar sua ideia básica, sua es- trutura e seus conceitos. Trata-se de um movimento que parte do mais geral, do mais global, para terminar no mais particular, no mais elementar. Pode- mos chamar a ideia básica, a estrutura e os conceitos de níveis de um texto. A leitura correta é aquela que consegue apreender os vários níveis do texto sem confundir um com o outro. Há outros níveis menos importante mas que convém conhecer para não imaginar que todo texto tenha apenas os men- cionados. Quando em um texto predomina a intenção polêmica, por exem- plo, devemos tomar cuidado com os recursos de estilo, como a ironia, para Como Ler um Texto Científico? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 não confundir o que o autor afirma com aquilo que ele próprio critica. Em suma, deve-se ler um texto científico três vezes. A primeira leitura deve apre- ender a ideia básica, a segunda deve procurar as partes e sua concatenação e a terceira deve fixar os conceitos. Obs.: A prática constante da leitura de textos científicos vai aos poucos dispensando o leitor das três leituras obrigatórias; com o treino e o tempo, já numa primeira leitura pode-se distinguir, com bastante segurança, os vários níveis do texto. Para o principiante, porém, es- tudar um texto significa lê-lo, no mínimo, três vezes” (BRUNI, [s. d.], p. 2). A parte final da leitura interna chama a nossa atenção quanto ao uso do método dedutivo (raciocínio do geral para o particular), pois possibilita captar a estrutura textual na essência, que identifica um objeto ou ideia de uma outra e distingui- -la com certa clareza. Outro aspecto são é os vários níveis conceituais presentes no texto e que precisam ser identificados com clareza. Além dos níveis de com- preensão, os iniciantes não devem estranhar o fato de receber como orientação fazer o uso das três leituras obrigatórias de um texto, algo muito comum. Muitos alunos (as) afirmam que ler três vezes demora muito, um pouco mais adiante, falaremos das velocidades de leitura: lenta, média e a rápida. CONTEXTO DO TEXTO E SUA ESTRUTURA Todo texto possui um contexto que precisa ser compreendido. O contexto é tudo aquilo que o ser humano tem constituído de múltiplos elementos, tais como social, político, econômico, educacional, cultural, em determinado período. O texto pro- duzido está, historicamente, localizado e condicionado por estes fatores, e o autor não está descontextualizado ou acima das suas circunstâncias. O texto sempre responde aos desafios e problemas apresentados pela realidade concreta, e o filo- sófico jamais pode ser compreendido como algo puramente abstrato, sem sujeitos e destinatários. Continuamos a ver como o professor Bruni nos orienta ver com- preender a análise externa do texto. Análise externa. Todo texto está inserido em um contexto. Ao contrário do texto, o contexto é invisível, isto é, não se apresenta diretamente ao leitor. O contexto deve ser procurado, pesquisado, reconstruído. Con- texto é o conjunto de elementos que cercam, de algum modo, o texto. O contexto lógico é composto pelos elementos de ordem intelectual que envolvem o texto. Tudo aquilo que antecede logicamente o texto e de que o texto depende pode ser chamado de os pressupostos do texto. PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Todas as consequências que o texto acarreta, tudo aquilo a que o texto leva, pode ser chamado de as implicações do texto. Os pressupostos do texto com as suas implicações do contexto (BRUNI, [s. d.], p. 2). Merece destaque o contexto lógico de ordem intelectual para sempre pesqui- sarmos sobre a formação educacional, as influências recebidas da históriada filosofia, dos seus mestres e as correntes com as quais simpatiza. Por exemplo, Sócrates teve Platão como aluno, Platão teve Aristóteles como aluno, Edmund Husserl teve Martin Heidegger como assistente. Por mais que quase todos se dis- tanciassem dos seus mestres, sempre os carregam como parte da sua história de forma inerente, como veremos um pouco mais adiante. O contexto histórico indica o conjunto de acontecimentos - fatos de or- dem política, econômica e social que determinam o contexto do texto. Todo o texto tem uma data, a data de sua produção que o marca como produto de uma história e de uma época. O trabalho do texto exaustivo ou total deve dar conta da estrutura interna do texto (compreensão das idéias manifestas no texto), bem com como da situação histórica (com- preensão dos fatores determinantes do texto, que se situam fora dela) Só depois de compreendido, um texto pode ser discutido, criticado, aceito ou rejeitado (BRUNI, 2019, p. 20). O conjunto de acontecimentos históricos e datados deve ser levado em considera- ção, mas não é fácil, tanto que professor Bruni classifica o contexto como invisível. O contexto não é invisível, mas aparece como se fosse, e isto ocorre porque os filó- sofos raramente fazem menção a eles, mas estão sempre batendo à porta do texto. Se for negligenciada a análise do texto, seja de explicação seja de comentário, ela pagará a conta no final, isto é, poderá ser classificado como superficial e incompleta. A leitura é um aprendizado para toda a vida e, uma vez desenvolvida, nunca mais se esquece. O texto resultado de uma leitura do mundo e é produzido por você, que está historicamente localizado e condicionado por diversos fatores. Lembre-se: você não está descontextualizado ou acima das suas cir- cunstâncias. Fonte: o autor. Leitura Como Ato de Estudar o Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 LEITURA COMO ATO DE ESTUDAR O MUNDO O ATO DE ESTUDAR - PRIMEIRA PARTE O autor deste texto, o educador Paulo Freire (1921-1997), terceiro mais citado no mundo, serve de fundamento para a educação nos países classificados com os melhores índices de desempenho escolar, como a Finlândia, Noruega, Alemanha e Itália entre outros, que sofreram influências dos filósofos Martin Heidegger, Jean Paul Sartre, Karl Marx, Sören Kierkegaard, entre outros. Ele entende que a leitura não é somente de textos, mas de problemas da vida cotidiana a serem solucionados dentro de uma visão de mundo, a weltanschauung, em alemão. Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas par- tes mais baixas do terreno. Em certos lugares, a terra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes, os pés apenas escorregavam nela. Às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos torno- zelos. Era difícil andar. Pedro e Antônio estavam transportando numa camioneta cestos cheios de cacau para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura, perceberam que a camioneta não atravessaria o atoleiro que tinham pela frente. Pararam. Desceram da camioneta. Olharam o atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram os dois metros PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 de lama, defendidos por suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram. Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas pedras e galhos secos de árvores, deram ao terreno a consistência mínima para que as rodas da camioneta passas- sem sem se atolar. Pedro e Antônio estudaram. Procuraram compre- ender o problema que tinham a resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa. Não se estuda apenas na escola. Pedro e Antônio estudaram enquanto trabalhavam. Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema (FREIRE, 1986, p. 67). A descrição da realidade em que estava presente Pedro e Antônio revela que a leitura da situação em que se encontraram não é diferente daquela quando estamos com um texto em mãos. A situação problema enquanto paradigma, modelo ou padrão exige do leitor reflexão e atitude de resposta para a resolução da dificuldade, isto é muito prazeroso. O ato de estudar, a partir das leituras que fazemos de um texto ou do mundo ao nosso redor, faz com que o ser humano sinta-se útil e dê um sentido à sua existência. Portanto, o ato de ler é uma ativi- dade extremamente prazerosa e nos ajuda a viver melhor no mundo repleto de desafios. Viver é bom, porque resolvemos, a todo momento problemas dos mais simples aos mais complexos. ATO DE ESTUDAR - SEGUNDA PARTE Neste momento, o educador orienta-nos a dar um passo no sentido de alargar o nosso entendimento em direção a apropriação dos pressupostos necessários para o estudo dos textos. Esta apropriação constitui o fundamento para o ato de estudar durante toda a vida. Sem estes pressupostos, o iniciante nos estudos reunirá todas as condições para desistir do ato de estudar de forma intencio- nada, sistemática e organizada, uma vez que ele é difícil e exige muito esforço, caso contrário, as escolas estariam abarrotadas de estudantes por todos os can- tos do mundo. Muitos iniciantes nos estudos desistem pelas dificuldades sociais, econômicas, psicológicas, educacionais, culturais e religiosas, mas outros pelas dificuldades do próprio ato de estudar. Leitura Como Ato de Estudar o Mundo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Esta atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e os fatos caracteriza o ato de estudar. Não importa que o estudo seja feito no momento e no lugar do nosso trabalho, como no caso de Pedro e Antônio, que acabamos de ver. Não importa que o estudo seja feito nou- tro local e noutro momento, como o estudo que fazemos no Círculo de Cultura. Em qualquer caso, o estudo exige sempre esta atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e os fatos que observamos. Um texto para ser lido é um texto para ser estudado. Um texto para ser estudado é um texto para ser interpretado. Não podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem curiosidade; se desistimos da leitura quando encontramos a primeira dificuldade. Que seria da produção de cacau naquela roça se Pedro e Antônio tivessem desistido de prosseguir o trabalho por causa do lamaçal? Se um texto às vezes é difícil, insiste em compreendê-lo. Trabalha sobre ele como Antônio e Pedro trabalharam em relação ao problema do lamaçal. Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e recriar e não repetir o que os outros dizem. Estudar é um dever revolucionário (FREIRE, 1986, p. 67). Merece a nossa atenção, neste fragmento, quando o educador fala da atitude curiosa e séria. A ciência só avança no desenvolvimento de novos conhecimentos e, conse- quentemente, novas descobertas se houver curiosidade, que precisa ser alimentada, segundo Aristóteles, na Metafísica, livro I, “Todos os homens têm por natureza, desejo de conhecer” (1979, p.11). O conhecimento é inerente ao homem, por isso, busca-o sempre que motivado e estimulado. Sem o conhecimento e as informa- ções o ser humano sofre, paga um preço muito alto pela ignorância. Quanto mais conhecimentos e informações, maior a possibilidade de ser uma pessoa feliz. Outro aspecto que merece a nossa atenção é a ideia de que um texto, para ser lido, é também para ser estudado. Um texto a ser estudado é, também, a ser trabalhado. Ler é, inclusive, um trabalho. Não é possível estudar um texto sem uma atitude séria. A seriedade exige que o iniciante na leitura de textos filosóficos encare esta atividade como a coisa mais importante a ser feita neste momento, como um momento único e imprescindível. A seriedade tem como característicafundamental a preocupação com a destreza na execução desta tarefa, ou seja, já que se dispôs a fazer, faça bem feito para não precisar refazer. As dificuldades que se impõem ao estudo de um texto são inúmeras, desde a falta de pressupostos para a leitura até a disponibilidade e o interesse pelo assunto. É comum ouvirmos de estudantes algumas expressões que traduzem a PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 falta de interesse e sentido para estudar um texto, como: Isto serve para quê? Por que tenho que estudar isto? Entre outras. O educador destaca o porquê de não desistir do ato de estudar um texto, pois pode haver consequências desagradá- veis, ademais, pode evitar, ou diminuir o sofrimento e usufruir dos prazeres do bem viver nesse mundo. Muitas pessoas desistem porque não refletiram direito, ou não receberam orientações de como ler. Estudar exige disciplina, mas preferimos utilizar o termo autodisciplina. A disciplina vem de fora para dentro, ou seja, alguém diz a você o que deve fazer. A autodisciplina vem de dentro para fora, ou seja, é você que diz a si mesmo o que deve fazer, levando a si mesmo a fazer escolhas, estabelecer prioridades, objetivos, metas a serem cumpridas. Contudo toda escolha implica renúncia. O problema não é escolher, mas renunciar as coisas que também queremos ou das quais gostamos. Isto é muito difícil e exige esforço mental para garantir o foco nas prioridades. A autodisciplina só ocorre quando você está convicto, quando tem uma ideologia, quando se convenceu de que o estudo de texto é necessário para atingir os seus objetivos e, às vezes, de outras pessoas, como os objetivos dos seus pais. Estudar é uma atividade de criação e recriação diante dos problemas que as circunstâncias impõem a nós. O educador brasileiro destaca, além disso, que é um dever revolucionário, entendido em relação a si mesmo no sentido de que o estudo modifica o ser humano em sua totalidade, no aspecto pessoal, social, eco- nômico e cultural. Ele também tem a possibilidade de modificar o mundo a nossa volta, ou seja, provocar alterações sociais em nossa cidade, país e mundo. Este é um poder que a atividade educativa, por meio da leitura de textos e mudança de comportamento, não raramente acontece no dia a dia. Estudar é um trabalho. Para isto, faz-se necessário ter atitude séria e curiosa diante de um problema. Ler também é um trabalho, que deve ser encarado com profissionalismo, a fim de criar autodisciplina nos estudos. Fonte: o autor. Leitura de Textos Filosóficos e Suas Dificuldades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 LEITURA DE TEXTOS FILOSÓFICOS E SUAS DIFICULDADES A leitura dos textos filosóficos, efetivamente, cumpre dois objetivos ao mesmo tempo, e não podem estar separados de forma alguma: o primeiro, a iniciação à filosofia propriamente dita, o segundo, que não há conhecimentos filosóficos sem iniciação à leitura de seus textos e com a retomada de pensamentos já produzi- dos na sua história. Com isso, surge um problema inerente aos objetivos: Como iniciar para conhecer? É necessário conhecer-se para iniciar. É caminhando que se faz o caminho, e o primeiro passo precisa ser dado o quanto antes. Os primeiros passos nesta trajetória necessitam dos pressupostos de leitura mencionados nos tópicos anteriores e devem ser dados na busca pela totalidade da filosofia. Aconselha-se, desse modo, que sejam feitos com conhecimento em blocos, que possuem vantagens e desvantagens e se multiplicam na aprendizagem filosófica. Vejamos o itinerário apresentado por Platão, no livro VII da República, sobre o famoso mito da caverna cuja problemática gira em torno da educação e da ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de per- nas e pescoço acorrentados […]. Assemelham-se a nós. […] Se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediata- mente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 de distinguir os objetos de que antes via as sombras. […] E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras? Glauco – Não o conseguirá, pelo menos no início (PLATÃO, 1978, p. 226). Platão revela bem que a iniciação filosófica pressupõe, portanto, um caminho longo e difícil. Por que isso ocorre? Devido à ignorância (o não saber). Quando ele afirma que os homens estão ali desde a infância significa que não nasceram na caverna, mas estão presos. Quem os levou até a caverna? Quem os acorrentaram pelo pes- coço e pernas? Veja que Platão não fala em mãos, o que representa o pescoço e as pernas diante do não saber? São questões que dificultam a compreensão do texto. Após percorrer um caminho, a luz adquirida brilha com força, em seguida, diante de novos questionamentos e informações, ofusca-se, exigindo novas luzes. Assim, a iniciação filosófica exige novos esforços para a compreensão das coisas e, aos pou- cos, afasta-se da ignorância. A leitura de textos filosóficos apresenta dificuldades, além daquelas da própria língua vernácula, “[…] parece que toda obra filosófica – esta é uma caracte- rística do gênero – elabora ou pretende elaborar as condições de sua própria validade e, portanto, enuncia as próprias regras da leitura que se pode fazer dela” (COSSUTTA, 2001, p. 3). Essa característica desenvolvida pelos textos filosófi- cos, de forma geral, apresenta-se como se aprisionasse o texto dentro do próprio sistema filosófico. O filósofo Ludwig Wittgenstein, em sua obra Tratactus Logico- philosophicus, no aforismo 6.54, afirma: Minhas proposições são elucidativas para aquele que, compreende-me, as toma finalmente como contra-sensos, quando, passando por elas – sobre elas -, delas se afasta. É preciso que ele transponha essas proposições; então adquire uma justa visão do mundo (WITTGENSTEIN, 1994, p. 281). Veja que, caso o leitor compreenda o seu enunciado, entende uma impossibilidade, ou seja, o autor convida-o para uma leitura no mesmo momento em que o torna impossível. Contudo cada filosofia explicita as condições de sua possibilidade ou impossibilidade de sua leitura, revelando um fenômeno abrangente para sair das contradições e nos coloca num confronto filosófico perpétuo. O confronto do leitor com o filósofo constitui a luta pela compreensão do texto. O iniciante na filosofia deve ter ciência dessas dificuldades para se tornar um andarilho pelos textos filo- sóficos, sabendo que as alegrias proporcionadas pelo conhecimento, com muito Leitura de Textos Filosóficos e Suas Dificuldades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 esforço desde o início do caminho, deve ser um esforço organizado e crítico. Ao menos, perceberá que, ao apoiando-se nas dificuldades, elas mesmas constituirão pedras e galhos para dar sustentação à caminhada filosófica. É fácil ler e-mails com mensagens de texto, um site com curiosidades engra- çadas, um artigo de jornais e revistas não científicas, porém é difícil compreender um texto filosófico. Nada mais normal. Portanto, faz-se necessário não misturar os gêneros literários. Na filosofia não se pode, nem se deve, esperar entendimento imediato. Se assim fosse, poderia ser um sinal de superficialidade, ou seja, não se atingiu o essencial. Diante disso, não devemos nosassustar e nem nos sur- preendermos com as dificuldades. Os textos filosóficos podem ser enfrentados como mediações do pensamento, a luta pela sua compreensão caracteriza com frequência aquilo que denominamos trabalho intelectual. Assim como todo tra- balho, o trabalho intelectual tem suas regras que devem ser seguidas e criadas de acordo com as exigências estabelecidas pelos filósofos. COMO SUPERAR AS DIFICULDADES NOS TEXTOS? Ajuda muito vencer as dificuldades, observar que todas as obras elaboram uma teoria do conhecimento, do sentido dos termos e dos conceitos da linguagem, deduzindo uma hermenêutica filosófica. Por exemplo, Marx (1978), na sua obra Contribuição à crítica da economia política, descreve que as categorias de análise só podem vir à tona na mente de um pensador na medida que os condiciona- mentos sociais determinados historicamente, ou seja, em um contexto específico. O concreto é concreto porque é a síntese de muitas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como o processo de síntese, como resultado, não como ponto de parti- da, ainda que seja o ponto de partida do efetivo, e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação. No primeiro método, a representação plena volatiliza-se em determinações abstratas, no se- gundo, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concre- to por meio do pensamento. Por isso é que Hegel caiu na ilusão de con- ceber o real como resultado do pensamento que se sintetiza em si, se aprofunda em si, e se move por si mesmo; enquanto que o método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto não é senão a maneira de PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 proceder do pensamento para apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado. Mas este não é de modo nenhum o processo da gênese do próprio concreto. A mais simples categoria econômica, su- ponhamos, por exemplo, o valor de troca, pressupõe a população, uma população produzindo em determinadas condições e também certos tipos de famílias, de comunidades ou Estados (MARX, 1978, p. 117). As suas categorias, como o valor de troca de uma mercadoria, só podem ser con- cebidas a partir das relações concretas, não abstratas e descoladas da realidade. O alicerce proposto do seu método depende da legitimidade do alicerce filosó- fico do qual ele deduz. Nesse caso, Marx apontou que seu alicerce é a filosofia de Hegel, apesar de deixar claro as suas divergências com ele. Mesmo assim, Marx continua a ser fortemente influenciado por Hegel, ou seja, no caminho percor- rido por ele, Hegel estará presente, ocupando um espaço privilegiado. Todo filósofo quer escapar do círculo hermenêutico, no entanto todos entram na sua órbita no exato momento em que querem evitá-lo. Encontramos na história da Filosofia muitos fenômenos que apresentam as peculiaridades da reflexão filosófica na sua relação com a retomada de pensa- mentos consolidados, tornando, assim, difícil a sua compreensão. Com isso, compreendemos que a aprendizagem da leitura só pode ser filosófica, não dispensando, de forma alguma, a reflexão. Nem por isso deve dispensar uma análise metodológica na sua compreensão, diminuindo, assim, as suas dificuldades inerentes aos textos. Entretanto essa reflexão preliminar das dificuldades leva-nos a tomar consciência de que a filosofia busca atingir a verdade na universalidade, mas, a todo momento, busca apagar ou ocultar essa mesma universalidade nos seus textos. O texto filosófico possui um encadeamento, às vezes, uma linearidade no tempo e na escrita, mas há textos que fogem a esta estruturação. Tais elementos, devido às suas referências internas, cruzam-se e colocam-se numa dupla presença (o leitor e o escritor) ideal dos momentos da sua construção. Um texto ou uma obra, em Filosofia, deve ser apresentada em forma de um tratado dedutivo ou de aforismos brilhantes que constituem o todo, aberta ao mundo e ao sentido captado pelo lei- tor. Por exemplo, no livro Assim falou Zaratustra, no aforismo sobre ler e escrever: De tudo o que se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com seu próprio sangue. Escreve com sangue; e aprenderás que o sangue é espíri- to. Não é fácil compreender o sangue alheio; odeio todos os que leem por Leitura de Textos Filosóficos e Suas Dificuldades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 desfastio. Aquele que conhece o leitor nada mais faz pelo leitor. Mais um século de leitores – até o espírito estará fedendo. Que toda a gente tenha o direito de aprender a ler, estraga, a longo prazo, não somente o escrever, senão, também, o pensar. […] Aquele que escreve em sangue e máximas não quer ser lido, mas aprende de cor (NIETZSCHE, 1998, p. 66). O texto possui mobilidades, tanto interna quanto externa (leitor), que se desen- volve num mundo de virtualidades provocado pela própria estrutura discursiva, suscetíveis de serem analisadas e explicitadas. Isto ocorre a partir do momento em que tomamos o texto em nossas mãos, com acesso ao título, ao índice, prefácio e que tenhamos uma visão de totalidade, antes de uma leitura detalhada. A curiosi- dade vence a estranheza, o primeiro contato com o estilo do texto, e, aos poucos, o leitor apropria-se da conceituação filosófica com mais facilidade, percorrendo o caminho traçado pelo texto. As informações tornam-se familiares à medida que é necessário ler e reler sem cessar. É justamente aí que começa a dificuldade: ao entrar no labirinto das terminologias filosóficas da argumentação, surgem as questões, como: De que maneira pode-se separar o superficial do fundamental nas argumentações? Não só em nível conceitual do texto, como das imagens e exem- plos que parecem desviar das argumentações centrais? Ler e reler um texto com inteligência, ou seja, com um esforço organizado, faz-se necessário para que tenhamos domínio dos procedimentos utilizados na compreensão, é o que chamamos de método. Chamamos a atenção para o fato de que não há um método que sirva para todos os textos, mas sim regras para ler um texto e se apropriar dos conteúdos. Cada filosofia apresenta elementos necessários para as percebermos naquela leitura, mas a atenção aos seus procedi- mentos no próprio texto constitui um aspecto tão importante quanto o método. ESCOLHAS DOS TEXTOS A SEREM LIDOS Os textos filosóficos consagrados, os chamados clássicos da história da filoso- fia, devem fazer parte da nossa prioridade de escolha. A principal justificativa é que eles foram submetidos à crítica de grandes filósofos e resistiram ao ponto de se tornaremm uma referência de reflexão na resolução de problemas, tanto no período em que foi construído quanto na atualidade. Os outros textos ainda não PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 submetidos ao crivo da crítica na história, devemos submetê-los aos seguintes questionamentos: Este texto é, ou não, redutível à inteligência filosófica? Quais os fundamentos conceituais deste conhecimento e a forma como os problemas são postos e respondidos por tal reflexão? A filosofia não pode ser vista como a “ciência humana”, contrariamente, o que sugerem as classificações fixadas por algumas Universidades ou diplomas emitidos por elas e governos constituídos, assim como a psicologia, a sociologia entre outras, mas sim a reflexão crítica das chamadas “ciências humanas”. Com isto, numerosos textos das chamadas “ciências humanas” e literatura podem ser objetos de uma leitura filosófica. Por exemplo, textos de Freud, Thomas Mann, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Lacan, Max Weber, Dürkheim entre outros. Podemos chamá-los de textos intermediários que os estudantes de filosofia devemestudá-los de forma sistemática e crítica. Não esqueça de que a prática da filosofia, que pode submeter a exame qualquer objeto, ganha em sutileza e pertinência quando acompanhada de uma verdadeira cultura geral. Conforme os gostos, as competên- cias ou as lacunas, convém, portanto, se esforçar sempre para ampliar e aprofundar essa cultura através da leitura regular de livros de literatura, de história, de psicologia, ou relativos às ciências da natureza, etc. Só que será preciso distinguir os gêneros e as coisas, evitando misturar o que tem a ver com a informação, com o conhecimento e com a reflexão propriamente dita (FOLSCHEID, 2002, p. 15). No caso dos estudantes de filosofia, os professores apresentam os textos a serem rigorosamente lidos, portanto, não há nenhum problema na escolha. Durante o curso de filosofia, muitas serão as abordagens, mas o iniciante nos estudos se familiarizará e se identificará com o tipo pensamento ou com o pensamento de determinada época: filosofia antiga, medieval, moderna, contemporânea (atuali- dade) diante de si. Em cada período da história da filosofia, os textos apresentam dificuldades específicas daquele momento histórico, além do estilo e da forma de reflexão exteriorizada pelos dos pensadores. O processo de escolha dos textos filosóficos para os iniciantes deve ser feito em forma espiral, não podemos começar com um livro extremamente difícil, como Crítica da razão pura de Kant ou Enciclopédia das ciências filosóficas de Hegel, mas é possível, no primeiro momento, a leitura dos livros de entendimento medianos, Leitura de Textos Filosóficos e Suas Dificuldades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 como os Fundamentos da metafísica dos costumes de Kant e, no segundo momento, Lições sobre a estética de Hegel. Na filosofia antiga, é aconselhável começar com o livro República de Platão, do que com livro Parmênides do mesmo autor. Contudo isto não significa que devemos demorar muito nos textos considerados de menor dificuldade, os textos mais difíceis devem ser enfrentados o quanto antes, nem que seja pelos prefácios e pelas introduções. Os prefácios e as introduções cons- tituem a filosofia propriamente dita, visto que não é possível introduzir e ficar de fora do texto. A forma de leitura em espiral é uma estratégia que significa avançar e retomar, reler e reler de forma progressiva, avançando na compreensão do pen- samento, iniciando pelos mais simples até chegar aos mais complexos. LEITURA COM REGULARIDADE As dificuldades na leitura dos textos filosóficos podem ser amenizadas com a regularidade nos exercícios de ler e reler algumas vezes por dia, ou por semana, se possível. Porém não convém postergar os momentos de aprendizagem para enfrentar os textos filosóficos de difícil compreensão, esperando estar melhor preparado para tal. Esta forma de pensar pode aumentar as dificuldades, em vez de superá-las. Este tipo de dificuldade só é superado com esforço organizado e paciência, aos poucos e com o tempo a compreensão conceitual ganha mais repertório intelectual na aprendizagem. O período de iniciação na filosofia não tem um tempo definido em anos. Diferente do esporte ou de outras ocupações, o estudante percebe aos poucos o seu progresso, que pode dar os primeiros sinais em poucos meses, e isto se veri- fica ao fazer uma retrospectiva desde o início, voltando-se para o seu passado próximo. Ao destacar a necessidade do esforço organizado e a paciência diante dos textos filosóficos, significa que falamos em mudança de atitude para ser mais racional, não dramatizando as dificuldades e criando ilusões por um lado, nem as simplificar como se elas não estivessem a todo momento batendo à sua porta. Por exemplo, os pensamentos de Platão, Descartes, Hegel entre outros, em que alguns textos são considerados, por muitos, como de fácil compreensão e outros herméticos e difíceis. PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Um texto passa a ser tecnicamente fácil na medida em que você possui os recursos, as chaves de leitura, fazendo as identificações das problemáticas, dos conceitos e das categorias que fundamentam a tese central daquela filosofia. Diante disso, podemos afirmar que o texto não é, objetivamente, difícil, mas é o leitor que ainda não se encontra com as suas capacidades desenvolvidas ao ponto de decodificar o texto diante de si. Portanto, os chamados textos difíceis são ques- tões mal colocadas que se voltam contra o leitor, desarmando-o dos recursos necessários para ler o texto. Em vez de encorajar o leitor, esta forma de pensa- mento tira a coragem e impede a pessoa de dar o melhor de si. O essencial não é ser o vencedor na compreensão do texto, como se fosse um concurso público, mas os progressos pessoais diante de todos os tipos de textos diante de si. Todo leitor, mesmo com conhecimentos modestos adquiridos no ensino médio, possuem os elementos necessários que permitem uma iniciação em forma de espiral para a leitura e compreensão de qualidade. Contudo essas indicações sobre a apropriação dos conteúdos das teses, conceitos e categorias filosóficas apresentam resultados se forem colocados em prática efetiva da leitura. Só se aprende a ler os filósofos, lendo. Só o exercício de leitura é a garantia dos pro- gressos pessoais, do desenvolvimento da capacidade crítica e outras habilidades menores, mas necessárias na compreensão da filosofia escolhida. O exercício da leitura é melhor praticado quando o iniciante nos textos filosó- ficos procura determinar velocidades de leitura. Há três tipos de leitores: vagarosos, médios e velozes. Os vagarosos são considerados aqueles que leem até 400 palavras por minuto; o leitor médio é aquele que lê até 800 palavras por minuto; os velozes são aqueles que leem acima deste número de palavras por minuto. A leitura tem como pressuposto que lemos por sentenças, e não por palavras, pois nos comuni- camos por frases e de forma rápida. O mesmo ocorre com a leitura, quanto maior a velocidade melhor a compreensão do pensamento a ser apropriado. O bom lei- tor é aquele que determina a velocidade da leitura de acordo com a necessidade. Há textos que podem e devem ser lidos vagarosamente, objetivando a com- preensão detalhada das ideias, e outros que devem ser lidos da forma mais rápida possível. A leitura rápida ou dinâmica é um instrumento a ser utilizado para o conhecimento de totalidade do livro ou da obra dos pensadores. Ela é, também, Ler Para Explicar os Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 muito útil para todos os meios escritos: jornais, documentos, e-mails, revistas, romances, ensaios entre outros. Esta leitura é indispensável em todas as áreas do conhecimento, contudo o bom leitor é aquele que alterna velocidades dela de acordo como a necessidade de cada texto. Há textos filosóficos que necessi- tam de uma leitura vagarosa e atenta, às vezes, desesperadamente lenta, dando a impressão de que não está saindo do lugar. No entanto devemos tomar cui- dado, pois, ao esmiuçar o texto, podemos nos perder em detalhes periféricos da tese central, afastando-nos, assim, do essencial, das discussões fundamentais. LER PARA EXPLICAR OS TEXTOS A leitura atenta do texto deve ser o foco, buscando um esquadrinhamento das palavras fundamentais que dão suporte às teses, dos parágrafos para esclarecer os pressupostos e as implicações de tais afirmações. Estes aspectos são os sinais de uma leitura genuinamente filosófica que, posteriormente, sera explicada. O tempo gasto numa página não é fundamental, o que interessa é a compreensão para provocar as fissuras e, assim, chegar na medula central do texto ou da tese. Um exercícioimportante é escolher uma parte do texto e explicá-la como se fosse uma questão de prova a ser respondida com detalhes. Com isto, encurtará a dis- tância entre leitura e explicação das reflexões filosóficas nos textos. Você sabia que há velocidades de leituras? O bom leitor determina as ve- locidades de acordo com os textos: leitura devagar (até 400 palavras por minutos), leitura média (de 400 a 800 palavras) e leitura rápida (800 a 1200 palavras por minutos). Esta deve ser feita com jornais e revistas. Um texto filosófico, como, por exemplo, a Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant (1787), a leitura deve ser feita devagar e com muita atenção. Fonte: o autor PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 No treinamento, é importante exercitar-se, alternando velocidades na leitura para não perder a visão de totalidade dos textos. O tempo de leitura e o resultado obtido deve ser analisado de forma racional, tendo em vista que, nesse momento, o importante é o aspecto oral, o escrito será em outro momento. Ter o domínio da leitura é o pri- meiro pressuposto do estudante de filosofia, o que será, progressivamente, ampliado dia a dia na sua ocupação intelectual. Este primeiro pressuposto do estudante e ini- ciador da filosofia, constitui aquilo que denominamos a normalidade da atividade de leitura e reflexão do futuro filósofo. Os passos seguintes só poderão ser dados com consistência se houver o domínio da alternância entre a leitura rápida e a aprofun- dada dos tipos de escritos do autor. Além dos textos com as principais categorias ou conceitos, é importante fazer leituras de poemas, poesias e romances se houver. LER E ANOTAR O segundo passo fundamental após a leitura, para os iniciantes, são as anotações das ideias funda- mentais do textos, indispensáveis para registar o esforço de compreensão naquele momento. Aos poucos aumentará a sua cultura filosófica. Um princípio básico é que aquilo que não anotamos podemos esquecer. O esquecimento do que foi lido força, a todo momento, retomar um caminho Ler Para Explicar os Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 já percorrido, tornando a leitura enfadonha. As anotações são os primeiros pas- sos para que um texto seja estudado, e não apenas lido. Podemos classificar, de modo geral, dois tipos de anotações, a primeira destinada a atender uma exigên- cia acadêmica: avaliações, dissertações e teses; a outra é destinada ao uso pessoal, aos esboços, esquemas, resumos, fichamentos entre outros. As anotações com objetivo de atender às exigências acadêmicas são aquelas que realizamos sob pressão, devido ao fato de ser um estudo direcionado, com tempo determinado, orientado para a disciplina em específico e para atender aos critérios determinados pelos professores ou orientadores. Atender às exigências de leitura de textos determinados por outrem faz com que as atividades acadê- micas sejam consideradas, por muitos, como desagradáveis, pelo fato de agirmos por dever, e não por prazer. Contudo são necessárias exigências que servem para nos ajudar a moldar o nosso caráter (força que vem de dentro para fora) e para termos uma formação completa enquanto cidadãos, para o mercado de traba- lho e para a vida intelectual que se iniciou. As anotações dos textos lidos que visam atender ao estudo estritamente pes- soal são mais importantes que as primeiras já mencionadas, porque são movidas pelos seus desejos racionais livres de exigências de outrem. As anotações pesso- ais resultam de análise objetiva do texto, em que prevalece a transcrição literal das ideias centrais e periféricas, que devem ser muito precisas em relação às referências bibliográficas para serem utilizadas em novas produções dissertati- vas ou explicativas. Elas também resultam de reflexões críticas sobre tais ideias do pensador em questão. Nestas anotações, devem ficar muito claras a distin- ção entre citação literal e as reflexões críticas suas, se possível, faz-se necessário datar o período de tal análise. A clareza de tais anotações dos textos filosóficos lidos faz-se necessário pelo fato de o iniciante e os filósofos frequentarem estes escritos com certa frequên- cia, ora para ampliá-los, ora para corrigi-los, ora para as dissertações, de modo geral, de artigos, livros, palestras, enfim, são ferramentas de trabalho da ocupação filosófica. O Padre Antônio Vieira (1608-1697), intelectual de máxima grandeza, relata como as anotações eram importantes naquele período. PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 [...] Indo estudar Filosofia de idade de vinte anos, no mesmo tempo compus uma filosofia própria; e passando à Teologia, me consentiram os meus prelados que não tomasse apostila, e que eu compusesse por mim as matérias, como com efeito compus, que estão na mesma Pro- víncia, onde de idade de trinta anos fui eleito mestre de Teologia, o que não prossegui por ser mandado a este Reino na ocasião da restauração dele (VIEIRA, 2015, t. III, v. IV, p. 439) Desde os primórdios da filosofia, os estudantes eram orientados a fazerem as pró- prias anotações e a escreverem os seus textos. O próprio Vieira relata que sempre andavam com os chamados “papelinhos” ou “borrões” em mãos, ora para memo- rização para depois pregar, ora como fonte de consultas para auxiliar na escrita dos famosos Sermões (a principal obra literária do século XVII). Os professores deveriam escrever as suas apostilas para ministrar as aulas. Aulas compreendi- das pelos estudantes desde a Antiguidade, significa que deveriam ser anotadas. ANOTAÇÕES PARA LER As anotações, num passado próximo, eram feitas, exclusivamente, em papéis, fichas de leituras e cadernos. Com o advento da rede mundial de computado- res, a chamada Internet, a partir de necessidades bélicas, no início dos anos de 1980, nos Estados Unidos, e a sua liberação no Brasil, no final do ano de 1997, surgiram novas formas de anotações não mais, exclusivamente, em papéis. Estes passaram a dividir os espaços das anotações dos textos com as formas eletrônicas. A Internet com as novas mídias, os computadores em rede, os celulares smar- tfones, os livros eletrônicos e as novas formas de armazenamento de dados em nuvens. Ou seja, a própria Internet fez com que os papéis e os livros escritos em papéis começassem a perder a preferência dos leitores e escritores. A Internet passou a ser uma poderosa ferramenta de consulta e armazenamento de dados para os filósofos e os seus iniciantes nos estudos de textos filosóficos. As anotações em fichas de leituras bibliográficas, descritivas, analíticas, per- manentes, transitórias entre outras, constituem uma forma de estudos e registro. Os resultados das leituras dos textos em resumos, os conceitos fundamentais, os esquemas de estudos, os livros mais importantes daquele assunto em específico, as Ler Para Explicar os Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 referências de textos a serem usadas numa dissertação, tese ou avaliações, constitu- íram a principal e mais eficaz forma de anotações para a atividade intelectual diária conhecida até então. Todo o trabalho duro e penoso do estudo do filósofo e dos ini- ciantes não caía no esquecimento, ou não eram confiados, unicamente, à memória. Com efeito, os pensamentos dos outros não podem se tornar para nós “lembranças” no sentido estrito. Existe aí como que uma distorção de nos- sas funções. A memória está de uma certa maneira envolvida, mas ela não predomina – e não deve predominar, sob pena de transvestir o pensamen- to de saberes exteriores. Independente da integração dos pensamentos dos outrosem nosso pensar, o verdadeiro lugar onde se depositam os pensa- mentos é o papel. Isso vale tanto para o filósofo experiente quanto para o aprendiz. O tempo passado sobre os textos, mas que não se concretiza em fichas, é praticamente tempo perdido (FOLSCHEID, 2002, p. 24) As fichas de anotações são tão pessoais que se tornam quase impossível descre- ver quais as melhores formas de suas confecções, contudo elas são indispensáveis no estudo pessoal. A partir delas é que temos uma visão global e minuciosa dos textos estudados e dos seus autores. Os resultados das fichas de anotações são imensos, desde a preparação para as avaliações e os trabalhos intelectuais de modo geral. Apesar de ser impossível fazê-las com rapidez ou às vésperas de avaliações e demais trabalhos. As suas confecções devem se estender durante todo o ano ou durante toda a vida intelectual. Contudo as consultas às fichas de anotações devem ser feitas de forma frequente com as devidas atualizações. ANOTAÇÕES DE LEITURAS ELETRÔNICAS Na contemporaneidade, a Internet ocupa um tempo enorme na vida das pessoas, e, de modo geral, passa a ocupar também um enorme espaço de armazenamento de livros eletrônicos, imagens, sons e artigos científicos. A Internet passou a ser a principal fonte de acesso à pesquisa de informações, conhecimentos científicos e filosóficos como nunca se viu na história da humanidade. A questão que surge, agora, é: Como fazer o registro das nossas anotações de forma eletrônica? Quais os principais desafios e riscos das anotações eletrônicas? Estas questões são importan- tes pelo fato de constituir uma novidade e, portanto, não termos resultados claros para fazermos afirmações das vantagens ou desvantagens das anotações de papéis. PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Antes de responder às questões apresentadas, faz-se necessário destacar que tanto o filósofo quanto o iniciante nos textos filosóficos devem estabelecer um padrão ou um sistema de anotações e como fazê-las. Por exemplo, é necessário estabelecer o significado das abreviações, os esquemas e mantê-los durante o processo. O sistema de abreviações próprias ajuda a agilizar as anotações, como se fosse um telégrafo (mas inteligível), economizando espaço, ganha-se tempo para poder ter mais den- sidade filosófica na ficha eletrônica a ser confeccionada. Quanto maior a densidade filosófica, melhor será a ficha, e as consultas serão mais frequentes. A precisão nas referências constitui um aspecto fundamental a ser observado. Outro aspecto é obe- decer as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), seguindo sempre a ordem: autor, título do livro, lugar da edição, editor, ano e página. Para fazer os registros em fichas eletrônicas deve haver as mesmas caracterís- ticas científicas da ficha de papel, reservando em torno de 10 a 15 fichas para um livro, por exemplo, a Crítica da razão pura. Cada ficha deve corresponder a uma página de caderno do tipo universitário. Nas fichas, são necessárias algumas infor- mações básicas fundamentais, como o título de ficha de leitura (de forma bem visível e em caixa alta) e numeração em cada uma. A numeração deve ser a pri- meira coisa a ser feita e ficar sempre visível como meio de controle e identificação, com suas subdivisões, quando houver. As referências bibliográficas, como o con- junto de informações que permite identificar o livro, o jornal, a revista, o artigo, os textos de Internet ou qualquer obra publicada. O autor deve ser identificado pelo sobrenome e nome, título, volume ou tomo e número da edição, tradutor (se houver), local, editora, ano e páginas. Estes registros podem ser feitos de várias maneiras, como o arquivo simples dos redatores de textos e armazenados em HD (externo) como se fosse uma biblioteca móvel, que é o menos aconselhável, mas pode servir como um plano B em caso de perda de dados. O mais seguro são as chamadas nuvens, o Google Drive, Google doc, OneDrive entre outros. Nas fichas eletrônicas, o iniciante deve anotar, com precisão, para obter sem- pre mais clareza nas referências e nas ideias centrais do texto lido. Se preferir, coloque as ideias centrais em itálico, evite as aspas em títulos ou termos, melhor grifar aquilo que merece destaque para a sua atenção. As observações são sem- pre oportunas, caso julgue necessárias e pertinentes na compreensão da ideia central. As reflexões feitas pelo autor das fichas devem ser destacadas ao ponto Ler Para Comentar os Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 de não fazer confusão entre as ideias centrais e argumentos que dão sustentação a esta, garantindo, assim, o máximo de objetividade no resumo ou fichamento do livro ou texto em questão. LER PARA COMENTAR OS TEXTOS O bom leitor procura sempre uma leitura enriquecedora, e o caminho a per- correr passa, necessariamente, pela classificação dos conceitos encontrados e identificados com o contexto da produção da filosofia naquele livro ou naquela obra. Este trabalho é indispensável para aumentar a cultura filosófica e poderá recorrer a todos os tipos de exercícios e trabalhos intelectuais. A organização deste trabalho deve seguir as preferências do autor, mas alguns aspectos meto- dológicos merecem ser observados, primeiro que há termos não filosóficos que podem se tornar; segundo, termos filosóficos universalmente consagrados, por exemplo: substâncias, essência, ideia, razão entre outras adquirem significações diferentes conforme o contexto e o autor. E, por fim, há termos absolutamente específicos, impossível de se retirar do seu contexto, caso ocorra, pode levar ao erro, como o termo “transcendental” no sentido kantiano. No processo de estudo para a compreensão dos textos filosóficos, faz-se necessária a utilização de dicionários especializados dos filósofos e de filosofia geral. Há muitos dicionários de filosofia geral e específicos dos principais sis- temas filosóficos, além dos clássicos de termos em grego e latim, disponíveis, eletronicamente. Os termos que estão nos dicionários ajudam-nos a compre- ender o sentido no sistema filosófico, mas as conceituações apresentam-se de forma engessada, não possibilitando alterações, obrigam-nos a aceitar do jeito que estão. Contudo os dicionários constituem uma base fundamental para refle- xão filosófica. PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Diferentemente dos dicionários, a reflexão filosófica, a partir de um determi- nado texto ou problema, faz com que os termos e as noções filosóficas ganhem versatilidade e dinâmica a serviço do exercício, máxima de liberdade, na escrita. A atividade racional de criação jamais parte do sentido dos termos filosóficos, ao contrário, todo texto tem como ponto de chegada um novo sentido, ou seja, jamais se parte do sentido. Portanto, os dicionários são constituídos de termos filosóficos como uma ferramenta para auxiliar na elaboração de novos signifi- cados. Consultando os dicionários, exercitando a escrita filosófica, o iniciante, aos poucos, deixa de lado a visão ingênua de pensar que os dicionários dão sen- tido aos termos, e passa a vê-los apenas como mais um dado a ser trabalhado, um dado como ponto de partida para a reflexão filosófica. DA LEITURA EXPLICATIVA PARA A LEITURA COMENTADA DO TEXTO O leitor deve ter presente em suas intenções que a explicação é algo inerente à ativi- dade de leitura e, em um texto, está longe de ser difícil, ela nada mais é do que um exercício como os outros, podendo ser o melhor caminho para se chegar à reflexão Ler Para Comentar os Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e19 98 . 41 filosófica. Nas universidades, ela cumpre função secundária, que são as avaliações. Ao mesmo tempo em que ela é um teste, é um alimento. Antes de explicar ou disser- tar, é necessário saber o que realmente os filósofos disseram, porque disseram e como disseram para só depois começar a explicar e dissertar sobre o assunto em questão. A explicação de um texto está intimamente ligada à leitura rigorosa, a prin- cipal característica da leitura filosófica por excelência. Há uma distância entre a dissertação e a explicação. A dissertação trata de um tema, já a explicação é sobre um texto em específico, em que é necessário apoderar-se do tema do texto em sua totalidade. Com isto, o texto trabalhado é um de pretexto a ser esquadri- nhado, dissecado pelo filósofo ou iniciante da explicação, e, no final, o texto fica de lado diante do objetivo alcançado. Tudo isso para que seja dito exatamente o que o autor expôs no texto. Toda explicação de texto é uma atividade extremamente limitada e delimitada. Há dois elementos que devem levar em consideração numa explicação. O primeiro elemento refere-se à erudição relacionada ao contexto analisado. A erudição deve ser deixada de lado para traduzir o pensamento numa linguagem clara e precisa, com o objetivo da compreensão do texto dito. O segundo elemento trata de situar o texto na obra do autor e fazê-los dialogar. Além disso, o pensador deve estar contextualizado nos aspectos históricos, sociais, econômicos e culturais, para não ser visto como um ser descolado da realidade. Os seres humanos são eles e suas circunstâncias e respondem aos seus problemas situados no seu tempo historica- mente delimitado, quer sejam problemas filosóficos, quer sejam sociais entre outros. Um aspecto importante é procurar atender objetivamente ao que foi solici- tado. Alguns cuidados devem ser tomados na explicação do texto, o primeiro é fugir da paráfrase, considerado o maior pecado dos iniciantes. Parafrasear, como a palavra indica, consiste em fraser ao lado do texto, a propósito do texto. Por que recusar a paráfrase? Porque ela é a arte de repetir de outro modo o que é enunciado, simplesmente juntando-lhe um coeficiente multiplicador de quantidade. Falando claro: substitui-se um texto bom e breve por outro, longo e ruim – a obra de um mestre pela imitação de um aluno. A paráfrase é antifilosófica porque oculta o texto em vez de manifestá-lo, aplaina suas asperezas em vez de realçá-las, ig- nora o que ele pressupõe, subentende, cala ou implica em vez de mostrar, apaga as articulações em vez de exibi-las. A paráfrase dilui, aborrece, en- fraquece, torna cego, surdo e mudo (FOLSCHEID, 2002, p. 31) PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 A explicação de um texto deve ser cuidadosa com as palavras, com os signos para não destruir o sentido atribuído aos termos dado pelo pensador, isto serve não só para o texto filosófico, mas todo e qualquer texto que seja pedido uma expli- cação. A dissecação de um texto, do início ao fim parece ser algo complicado, mas se avança aos poucos e quando menos se espera a análise acabou e o texto foi desmembrado. Explicar um texto é uma tarefa relativamente fácil e prazerosa, porque é um ato de desdobramento e retirada de informações e conhecimen- tos daquilo que está posto em um determinado lugar delimitado. Além disto, a explicação sempre vai em direção ao outro e favorece o autoconhecimento. FOCO NA COMPREENSÃO DO TEXTO Para que uma explicação possa atrair a atenção de todos os envolvidos no pro- cesso é necessário seguir alguns passos, primeiro separar o tema da tese do autor. O segundo, identificar e destacar os movimentos e articulações da argumentação, e em terceiro, destacar as noções filosóficos. Estas questões deve estar na mente do iniciante em filosofia para que faça uma leitura objetiva e foque naquilo que inte- ressa. Outro aspecto que merece destaque, é buscar as informações e conhecimentos de forma desarmada, sem preconceitos com o texto, deixando o texto falar por si. O primeiro aspecto, separar o tema da tese do autor pressupõe que o iniciante nos textos busca de forma implacável compreender qual o problema apresentado pelo autor. Não há filosofia que não surge a partir de um problema, a filosofia nada mais é do que uma atividade intelectual que busca a resolução de problemas. Quais os tipos de leitura? A leitura racional, a sensorial e a emocional. A leitura racional deve merecer a nossa atenção? Ela está na base de todas as outras? Sim. Como articular o sensorial e o emocional nas leituras? Fonte: o autor. Ler Para Comentar os Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 Ao encontrar o problema central a ser resolvido, o passo seguinte é separar o tema da tese defendida pelo autor, o comum deveria ser os dois coincidirem ou se complementar, mas nem sempre isso ocorre. A tese a ser desenvolvida cons- titui a medula central do texto, o elemento que serve de comparação com outros olhares e entendimento do mesmo problema. O segundo aspecto é destacar os movimentos e as articulações que dão o suporte argumentativo necessário para o desenvolvimento e explicitação da tese central. Todo o edifício argumentativo gira em torno da tentativa de provar a tese central. O argumento é constituído por ideias que são logicamente organizadas e relacionadas entre si com a finalidade de esclarecer para a resolução de um deter- minado problema ou sustentar uma tese. Nos argumentos as ideias são organizadas em forma de premissa, proposições ou frases para dar um sentido lógico, cujo o resultado final pode ser um raciocínio verdadeiro ou falso, válido ou inválido. O raciocínio parte sempre do conhecido para chegar ao não conhecido ou partir do que se sabe para chegar ao que não se sabe. Nos argumentos são incluídos, além de ideias, fatos ou acontecimentos, provas em forma de relatos com imagens, figu- ras de linguagens entre outros, para convencer o leitor da sua tese em questão. O terceiro e último aspecto em destaque, é destacar as noções filosóficas utilizadas no texto. As noções são ideias aplicadas na aplicação a uma situação em específicos e com peculiaridades ou particularidades extremamente especí- ficas. A noção é o esclarecimento do uso de uma ideia num determinado caso. Um exemplo disto, é a noção como uso em Voltaire (1694-1778) nas Cartas Filosóficas e Tratado de Metafísica, apresentada por uma iniciante em filosofia. Nas Cartas Filosóficas, a razão é estreitamente ligada ao uso que se faz dela – de modo que não é tanto saber o que ela seja que interessa, mas saber como se deve usá-la. Este conhecimento é crucial, pois interfere diretamente na vida humana: uma vez que os homens são esclarecidos pela razão, são mais felizes. Portanto, quando se pensa em “razão” não se pode perder de vista o fim a que ela se propõe. No entanto, para entendermos o uso que os homens devem fazer da razão segundo Vol- taire, é preciso entender primeiro a maneira como ele pensa esses dois termos: “homem” e “razão”. Se no caso desta última não chegaremos a uma definição completamente esclarecedora, poderemos ao menos entender como nosso filósofo estrutura essa noção e como ela se rela- ciona com a ideia de “homem”, e para tanto recorreremos ao Tratado de Metafísica (MACHADO, 2015, p. 116). PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 A noção de razão em Voltaire ajuda a compreender como o emprego de uma ideia difere dos outros, a chave de leitura para uma interpretação próxima daquilo que o pensador procurou explicitar é decisiva quando buscamos expli- car um texto. A chave de leitura interpretativa, neste caso sobre a noção de razão, possibilita um olhar correto
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