Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MICROBIOLOGIA, TOXICOLOGIA E DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS PROFESSORAS Dra. Renata Menoci Gonçalves Pereira Me. Fernanda de Oliveira Tavares ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! http:// EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. TAVARES, Fernanda de Oliveira; PEREIRA, Renata Menoci Gonçalves. Microbiologia, Toxicologia e Doenças Transmitidas por Ali- mentos. Fernanda de Oliveira Tavares e Renata Menoci Gonçalves Pe- reira. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. 200 p. “Graduação - EaD”. 1. Microbiologia 2. Toxicologia 3. Alimentos. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Maria Fernanda Francelin Carvalho Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Juliana Duenha Designer Educacional Giovana Vieira Cardoso Qualidade Textual Ariane Andrade Fabreti Ilustração Welington Vainer Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 575.163 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-2001-4 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Zagonel NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR BOAS-VINDAS Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimen- to. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, pro- fissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, te- mos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenasde cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de ex- celência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Me. Fernanda de Oliveira Tavares Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universi- dade Estadual de Maringá (UEM), desenvolvendo estudos com ênfase em métodos alternativos para a remediação de água e de solos contaminados por metais pesa- dos. Mestra em Engenharia Química (2016) pela UEM. Especialista em Segurança do Trabalho (2015). Graduada em Engenharia de Alimentos (2013) e em Engenharia Química (2018) pela UEM. Currículo Lattes da professora disponível em: http://lattes.cnpq.br/2992273518122403. Dra. Renata Menoci Gonçalves Doutora em Ciência de Alimentos pela UEM (2017). Mestra na linha de Equilíbrio de Fases e Propriedades Termodinâmicas pela UEM (2011). Especialista em Gestão de Produção pelo Centro Universitário de Maringá (2009). Graduada em Engenharia de Alimentos pela UEM (2005). Atualmente, coordenadora das áreas de química, alimentos e bebidas e sucroenergética no Senai, consultora de melhoria de processo e de programas de qualidade. Currículo Lattes da professora disponível em: http://lattes.cnpq.br/5536915099177357. A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A MICROBIOLOGIA, TOXICOLOGIA E DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS Caro aluno (a), na Unidade I deste livro você irá adquirir conhecimentos sobre a microbiologia básica e, posteriormente, será capaz de reconhecer e identificar as características dos domínios Bacteria, Archaea e Eucarya. Além disso, ao final desta unidade, você poderá identificar as carac- terísticas básicas das células procarióticas e das células eucarióticas, distinguindo- as entre si. Na Unidade II, você irá obter informações sobre a nutrição e o metabolismo microbiano, uma vez que os microrganismos podem apresentar diferentes vias metabólicas e requerem alguns nutrientes que são indispensáveis para seu desenvolvimento e reprodução. Além disso, você ainda poderá comprender como se dá o crescimento microbiano, bem como as fases atreladas ao seu desenvolvimento. Por fim, você comprenderá que os microrganismos necessitam de condições específicas que sejam ideais/favoráveis ao seu desenvolvimento, onde será abordado os principais fatores intrínsecos e extrínsecos que influenciam no cres- cimento microbiano. A Unidade III conterá um breve histórico dos microrganismos nos alimentos, além de uma abordagem sobre sua importância na aplicação industrial e no processo de deterioração dos mesmos. Posteriormente, serão apontados os principais microrganismos indicadores de Segurança e Qualidade dos Alimentos, estando estes associados a qualidade higiênico- -sanitária dos alimentos. Na Unidade IV você será capaz de entender os critérios microbiológicos aplicados para ava- liar a qualidade de alimentos; bem como os principais métodos de detecção utilizados para identificar e quantificar os microrganismos nos alimentos, sendo abordado tanto os métodos convencionais de análise quanto os métodos rápidos de detecção que têm surgido com o passar dos anos. Na Unidade V você poderá aprender sobre as doenças de origem alimentar, bem como os principais microrganismos causadores de doenças devido a ingestão de alimentos conta- minados. Por fim, noções básicas sobre a toxicologia ainda serão abordadas nesta unidade. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da Unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando Ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO MICROBIOLOGIA BÁSICA 8 FUNDAMENTOS DE MICROBIOLOGIA 50 88 MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 118 ANÁLISE DE ALIMENTOS 150 TOXICOLOGIA E DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS 187 CONCLUSÃO GERAL 1 MICROBIOLOGIA BÁSICA PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Introdução à microbiologia • Classificação dos microrganismos • Células procarióticas • Células eucarióticas. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Apresentar o histórico e a evolução da microbiologia • Reconhecer e identificar as características dos sistemas de três domínios (Bacteria, Archaea e Eucarya) • Identificar as características das células pro- carióticas em relação ao tamanho, à morfologia e às estruturas • Identificar as características das células eucarióticas em relação ao tamanho, à morfologia e às estruturas. PROFESSORAS: Dra. Renata Menoci Gonçalves Pereira Me. Fernanda de Oliveira Tavares INTRODUÇÃO Olá, prezado(a) aluno(a)! Nesta primeira unidade, serão apresentadas questões rela- cionadas à microbiologia básica, na qual será apresentada o histórico da microbiologia e a sua evolução como ciência, desde a descoberta das células, passando pela teoria da geração espontânea até chegar à teoria da biogênese. Falaremos sobre o que são microrganismos e os principais grupos (bactéria, archaea, fungos, algas e protozoários), apontando as principais características de cada um deles. Veremos a classificação dos três domínios (Bacteria, Archaea e Eucarya), os critérios utilizados para chegar a essa classificação e como os organismos vivos se relacionam. Falaremos, também, sobre a hierarquia taxonômica, e qual a sua relevância. Teremos o entendimento da importância da célula como unidade básica da vida e discutiremos as características das células procarióticas e eucarióticas relacionadas à estrutura, à presença ou à ausência de organelas, as suas funções principais, seme- lhanças e diferenças. Os conteúdos aqui descritos constituem a base para o reconhe- cimento dos microrganismos e a identificação das suas características relacionadas ao tamanho, à morfologia e à estrutura. O conhecimento e o estudo detalhado dos microrganismos e de suas funções servirão de base para o entendimento do papel desses seres microscópicos para a vida. Esse conhecimento permitirá estabelecer o uso dos microrganismos em aplicações muito variadas, desde os campos médico, alimentar e ambiental até o agrícola e o indus- trial. A compreensão da importância dos microrganismos na indústria de alimentos e bebidas, assim como na segurança alimentar, utilizará, como base, os conteúdos aqui estudados. Desse modo, iniciaremos os nossos estudos tentando conhecer esse tema tão impor- tante e abrangente, a Microbiologia Básica. Preparado(a)? Então, vamos lá! Bons estudos! U N ID A D E 1 10 1 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA Caro(a) aluno(a), a microbiologia é o estudo da vida microscópica. Os cientistas dedu- zem que os microrganismos se originaram há 4 bilhões de anos e, por isso, são conside- rados os ancestrais de todas as formas de vida (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Os microrganismos, também chamados de micróbios, são seres tão pequenos, que são invisíveis a olho nu. Em geral, os microrganismos são capazes de realizar, de maneira independente, os seus processos vitais de crescimento, obtenção de energia e reprodução. O grupo inclui bactérias, fungos, protozoários e algas mi- croscópicas. Os vírus, entidades acelulares, também pertencem a esse conjunto (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A seguir, temos algumas características dos principais grupos de microrganismos: ■ Bactérias: organismos relativamente simples, unicelulares e procariotos. As células bacterianas apresentam diversas formas, sendo as mais comuns: bacilos, cocos (que podem ser esféricos ou ovoides) e os espirilos, que podem se apresentar em forma de saca-rolha ou curva. Embora unice- lulares, em função do gênero ou espécie, podem se agrupar formando pares, cadeias, grupos ou outros arranjos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). U N IC ES U M A R 11 As bactérias possuem uma parede celular, e podem se locomover rapidamen- te nos líquidos devido à presença de flagelos. Normalmente, a sua reprodução se dá pela divisão em duas células idênticas, conhecida como fissão binária. A nutrição é feita pelo uso de compostos orgânicos encontrados na natureza, ou pelo processo de fotossíntese (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). ■ Archaea: as arquibactérias são organismos procariotos, sua parede celular, quando presente, é composta por peptideoglicano. São encontradas em ambientes extremos e podem ser divididas em três grupos principais: metanogênicas, halofílicas extremas e termofílicas extremas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). ■ Fungos: são eucariotos, não possuem cloroplastos e, portanto, não reali- zam a fotossíntese. A sua parede celular, presente nos fungos verdadeiros, é composta, principalmente, por quitina (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). ■ As leveduras são fungos unicelulares que possuem diversas formas, po- dem ser benéficas ou prejudiciais, inclusive, podem causar deterioração em alimentos. Têm utilização industrial no processo produtivo de pães e bebidas alcoólicas fermentadas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PE- LCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Os bolores, microrganismos multicelulares, são os fungos mais típicos e formam massas visíveis chamadas de micélios, que são visíveis a olho nu. A sua repro- dução pode ser sexuada e assexuada. Eles obtêm a alimentação por meio da absorção de soluções de matéria orgânica presente no ambiente. Podem ser úteis industrialmente, como na produção de queijos e molho de soja, mas também podem causar doenças em humanos, animais e plantas. ■ Protozoários: microrganismos unicelulares eucarióticos, podem apresen- tar vida livre ou serem parasitas. Também é possível que causem doen- ças em humanos e animais. Não apresentam parede celular rígida e não possuem clorofila, a sua reprodução pode ser sexuada ou assexuada. Para se locomoverem, utilizam pseudópodes, flagelos ou cílios (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). U N ID A D E 1 12 ■ Algas: organismos eucariotos, unicelulares ou multicelulares, fotossinté- ticos (possuem clorofila), com ampla variedade de formas, podem se re- produzir de forma sexuada e assexuada, apresentam parede celular rígida, muitas vezes composta de celulose. Podem ser usadas comercialmente como espessante e emulsificante de alimentos, como drogas anti-inflama- tórias e como fonte de ágar (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). ■ Vírus: são acelulares, o seu núcleo possui somente um tipo de ácido nucleico, DNA ou RNA, que é circundado por um envoltório proteico, pode ser revesti- do por uma camada adicional denominada envelope. A sua reprodução ocor- re dentro de células vivas, usando a maquinaria celular de outros organismos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Histórico da microbiologia O estudo da microbiologia como ciência é recente, remonta a 200 anos, aproxi- madamente, porém os microrganismos existem há muito tempo, é o que revelou a descoberta do DNA de Mycobacterium tuberculosis em uma múmia egípcia de 3.000 anos. As primeiras células vivas que apareceram na Terra foram ancestrais bacterianos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Em 1665, o inglês Robert Hooke, após observar uma fina fatia de cortiça com a ajuda de um microscópio relativamente muito simples, relatou ao mundo que as menores unidades vivas eram “pequenas caixas” ou “células”. Com a versão U N IC ES U M A R 13 melhorada de um microscópio composto, Hooke conseguiu visualizar as células individualmente. A sua descoberta marcou o início da teoria celular, ou seja, a teoria que afirma que todas as coisas vivas são compostas por células.Ela foi a base para as investigações subsequentes a respeito da estrutura e das funções das células (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Na sequência, Anton van Leeuwenhoek, entre 1673 e 1723, descobriu o mundo dos microrganismos por meio das lentes de aumento dos microscópios que ele fabri- cou. Isso gerou interesse na comunidade científica da época quanto à origem desses minúsculos seres vivos. Muitos cientistas e filósofos, até a segunda metade do século XIX, acreditavam na geração espontânea, ou seja, que algumas formas de vida pode- riam surgir espontaneamente da matéria morta (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Francesco Redi, físico italiano que era forte oponente da geração espontânea, começou, em 1668, a demonstrar que as larvas de insetos não surgiam esponta- neamente da carne apodrecida. Para tal, Redi fez um experimento: encheu duas jarras com carne em decomposição, uma foi deixada aberta; e as moscas puderam depositar os seus ovos sobre a carne e, então, apareceram as larvas. A outra jarra foi selada e, consequentemente, as moscas não puderam colocar os ovos sobre a carne, assim, larvas não se desenvolveram. Como Redi foi contestado sob a ale- gação de que o ar fresco era necessário para a ocorrência da geração espontânea, ele realizou um novo experimento. Dessa vez, ele cobriu a jarra com uma fina rede ao invés de lacrá-la e, novamente, nenhuma larva apareceu, embora o ar estivesse presente, ou seja, as larvas de insetos só apareciam quando as moscas podiam depositar os seus ovos sobre a carne (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Embora esses resultados fossem contrários ao antigo conceito da geração espontânea, muitos cientistas ainda acreditavam que organismos pequenos, como os descobertos por Leeuwenhoek, eram simples o bastante para serem gerados a partir de materiais não vivos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Em 1745, o conceito de geração espontânea dos microrganismos foi fortaleci- do pelo inglês John Needham. Ele considerou que os micróbios desenvolviam-se espontaneamente a partir de caldos, pois descobriu que, mesmo após aquecer caldos nutrientes, antes de colocá-los em frascos fechados, as soluções resfriadas eram logo ocupadas por microrganismos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O cientista italiano Lazzaro Spallanzani, 20 anos depois, demonstrou com- frascos lacrados aquecidos que continham caldo nutriente e não apresentavam desenvolvimento microbiano, e sugeriu que os microrganismos do ar teriam entrado nas soluções de Needham após a fervura. Mas Needham alegou que o U N ID A D E 1 14 calor havia destruído a “força vital” necessária para a geração espontânea, e os lacres a mantiveram fora do frasco (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Anton Laurent Lavoisier, pouco tempo após o experimento de Spallanzani, mostrou a importância do oxigênio para a vida e forneceu mais crédito a tal “força vital” imaginária. Assim, as observações de Spallanzani foram criticadas sob a alegação de que o oxigênio presente nos frascos lacrados não eram suficientes para o desenvolvimento da vida microbiana (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A teoria da biogênese Em 1858, o conceito da geração espontânea foi desafiado pelo cientista alemão Rudolf Virchow, por meio do conceito da biogênese, o qual enunciava que as células vivas pode- riam surgir somente de células vivas preexistentes (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Em 1861, o cientista francês Louis Pasteur demonstrou, com uma série de experimentos, que o ar, por si só, não podia criar micróbios, mas que os micror- ganismos presentes no ar podiam contaminar soluções estéreis. Diversos frascos, que tinham a abertura em forma de pescoço curto, foram preenchidos com caldo de carne e, depois, fervidos. Foi possível observar que os frascos que esfriaram quando abertos estavam, em poucos dias, contaminados com microrganismos. Já os frascos lacrados após a fervura não apresentavam contaminação. Foi então que Pasteur concluiu: os agentes responsáveis pela contaminação da matéria eram os microrganismos presentes no ar, assim como nos caldos dos frascos de Needham (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Na sequência, Pasteur utilizou frascos com o pescoço curvado na forma de S e, com a extremidade aberta, colocou o meio de cultura e, então, o ferveu e o resfriou. Tal modelo permitia que o ar entrasse no frasco, mas todos os microrga- nismos do ar que poderiam contaminar o meio de cultura ficavam aprisionados no pescoço curvado. Assim, mesmo após mesmo, o meio de cultura presente nesses frascos não apodreceu e não apresentou sinais de vida (Figura 1) (TOR- TORA; FUNKE; CASE, 2012). U N IC ES U M A R 15 Figura 1 - Os experimentos de Pasteur que refutaram a teoria da geração espontânea Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 9). Pasteur mostrou que os microrganismos podem estar presentes em sólidos, líquidos e ar, ou seja, na matéria não viva. Também mostrou que eles podem ser destruídos pelo calor e que há formas de impedir a entrada desses seres do ar nos ambiente nutritivos, formando a base das técnicas de assepsia, as quais previnem a contami- nação por microrganismos indesejáveis (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Desde o trabalho de Pasteur e, por aproximadamente 60 anos, houve muitas descobertas na microbiologia. Graças aos avanços conduzidos por Pasteur e Ro- bert Koch, entre 1857 e 1914, a microbiologia foi estabelecida como uma ciência. Diante disso, foi possível estudar as atividades químicas de microrganismos, me- lhorar as técnicas de microscopia e de cultivos e desenvolver vacinas e técnicas cirúrgicas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A célula A célula é a unidade básica da vida, ela possui uma barreira denominada mem- brana citoplasmática (celular), que separa o conteúdo externo do meio interno, denominado citoplasma. É, por meio dessa membrana, que os nutrientes e outras substâncias entram na célula, e materiais de excreção e outros produtos saem dela. 1 2 3 U N ID A D E 1 16 O citoplasma é composto por uma mistura de substâncias, dentre elas, macro- moléculas, como as proteínas e os ácidos nucléicos, os ribossomos e as pequenas moléculas, em especial, os precursores de macromoléculas, além de íon orgâni- cos e estruturas responsáveis pela realização das funções celulares, que podem estar dissolvidas ou suspensas na água. A parede celular, encontrada nas células vegetais e na maioria dos microrganismos, localizada externamente à membra- na, é relativamente permeável e confere rigidez estrutural à célula (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). As células podem ser diferenciadas em dois tipos estruturais: as procarióticas e as eucarióticas (Figura 2). Essas células se diferenciam, principalmente, quanto à estrutura da parede celular e da membrana e à ausência de organelas (MADI- GAN; MARTINKO; PARKER, 2004). A figura a seguir mostra a estrutura interna de células microbianas. Figura 2 - Estrutura interna de células microbianas Célula de um Eucarioto Célula de um Procarioto Núcleo Cápsula Ribossomos Ribossomos Parede celular Membrana plasmáticaMembrana plasmática Retículo endoplasmático Complexo de Golgi Citoplasma Lisossomo Citoplasma Mitocôndria DNA U N IC ES U M A R 17 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Inicialmente, desde os tempos de Aristóteles, os organismos vivos eram classifica- dos como plantas ou animais. Carlos Linnaeus, botânico sueco, propôs, em 1735, um sistema de classificação formal em que os organismos vivos foram divididos em dois reinos: Plantae e Animalia. Entretanto, com o desenvolvimento das ciên- cias biológicas, os biólogos começaram a procurar um sistema de classificação que agrupasse os organismos de acordo com as relações ancestrais e, consequen- temente, permitisse ver a organização da vida. Carl von Nägeli, em 1857, propôs que fossem incluídos, no reino das plantas, os fungos e as bactérias (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Ernest Haeckel propôs, em 1866, que as bactérias, os fungos, as algas e os pro- tozoários fossem incluídosno reino Protista. Porém a classificação de Carl von Nägeli foi seguida pelos próximos 100 anos, por não haver concordância entre os biólogos sobre a definição de protista. Em 1959, os fungos foram classificados em seu próprio reino. Edward Chatton, em 1937, introduziu o termo procarioto para diferenciar as células nucleadas de plantas e animais de células sem núcleo. U N ID A D E 1 18 Roger Stanier, em 1961, propôs a definição atual de procarioto: “células nas quais o material nuclear (nucleoplasma) não é envolto por uma membrana nuclear” (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012, p. 274). O reino Prokaryotae foi proposto por Robert G. E. Murray, em 1968. Robert H. Whittaker, em 1969, criou o sistema de cinco reinos, sendo o Reino Prokaryo- tae ou Monera constituídos por procariotos, e os outros quatro reinos, consti- tuídos por eucariotos. Vale ressaltar que observações microscópicas permitiram a criação do Reino Prokaryotae, porém, com o advento de novas técnicas de biologia molecular, foi revelado que existem dois tipos de células procarióticas e um tipo de célula eucariótica (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os três domínios Por estarem presentes em todas as células, os ribossomos são utilizados como um método de comparação celular, uma vez que eles se diferem entre as célu- las. A comparação da sequência de nucleotídeos no RNA ribossômico (rRNA), mostrou a existência de três grupos celulares distintos: bactérias, arquibactérias (organismos procariotos) e os eucariotos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O esquema de três domínios é amplamente aceito e foi proposto, em 1978, por Carl R. Woose. Nesse esquema, os três tipos de células deveriam estar a um nível acima de reino, ou seja, no domínio. Segundo Woose, embora bactérias e arquibac- térias tivessem aparência similares, elas deveriam ter os seus domínios separados na árvore evolutiva (Figura 3). Essa classificação leva em consideração, além das diferenças no rRNA, a estrutura lipídica da membrana nas moléculas de RNA de transferência e a sensibilidade aos antibióticos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N IC ES U M A R 19 Figura 3 - Sistema de três domínios / Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 275). Nesse esquema, faz parte do domínio Eukarya os reinos dos animais, plantas, fun- gos e protistas. O domínio Bacteria é composto por todos os procariotos: patogêni- cos, muitos não patogênicos encontrados no solo e na água, e os fotoautotróficos. Já o domínio Archaea inclui procariotos cuja parede celular não há peptideoglicano, que vivem em ambientes extremos e realizam processos metabólicos incomuns. Os três principais grupos da Archaea são: os metanógenos anaeróbicos restritos, os halófilos extremos e os hipertermófilos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Origem das mitocôndrias Or ige m d os do roplastos BACTERIA ARCHAEA EUKARYA Mitocôndria Cianobactérias Cloroplastos Metanógenos Hipertermófilos Halófilos extremos Fungos celulares gelatinosos Fungos gelatinosos plasmodiais Fungos Animais Plantas Amebas Cromista Oomicetes Ciliados Euglenozoa Microspora Mitocôndrias se degeneram Nucleoplasma aumenta de tamanho ArchaezoaThermotoga Bactérias gram-negativas Bactérias gram-positivas 3,5 bilhões de anos atrás. Organismo vivo do qual todos os organismos vivos atuais descendem Todos os organismos são provenientes de células formadas há cerca de 3,5 bilhões de anos. O DNA transmitido a partir dos ancestrais é descrito como conservado. O domínio Eukarya inclui os reinos Fungi, Plantae e Animalia. Também inclui os protistas Conceito-chave Com base nas similaridasdes do RNA ribossômico, os organismos vivos são classificados em três domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya. U N ID A D E 1 20 A Tabela 1 apresenta uma comparação entre algumas das característica dos três domínios Eukarya, Bacteria e Archaea. Archaea Sulfolobus 0,5 µm Tipo de célula Parede celular Lipídeos de membrana Primeiro aminoácido na síntese de proteínas Sensibilidade a antibióticos Alça do rRNA* Braço comum do tRNA** Bacteria Eukarya E. coli Amoeba1 µm 10 µm Procariótica Varia na composição; não contém peptideoglicana Composto de cadeias de carbono rami�cadas ligadas ao glicerol por ligação éter Metionina Não Ausente Ausente * Liga-se à proteína ribossomal; encontrada em todas as bactérias. ** Uma sequência de bases no tRNA encontrada em todos os eucariotos e bactérias: guanina-timina-pseudouridina-citosina-guanina. Procariótica Contém peptideoglicana Compostos de cadeias de carbono lineares ligadas ao glicerol por ligação éster Formilmetionina Sim Presente Presente Eucariótica Varia na composição; contém carboidratos Compostos de cadeias de carbono lineares ligadas ao glicerol por ligação éster Metionina Não Ausente Presente Tabela 1 - Comparação entre algumas das característica dos três domínios Eukarya, Bacteria e Archaea / Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 276). U N IC ES U M A R 21 “A relação evolutiva entre os três domínios é assunto da pesquisa atual dos biólogos. Estudos de rRNA indicam que o ancestral universal dividiu-se em três linhagens: Archaea, Bacteria e ao que finalmente tornou-se o nucleoplasma dos eucariotos. Os fósseis mais antigos conhecidos são os restos de procariotos que viveram há mais de 3,5 bilhões de anos. As células eucarióticas evoluíram mais recentemente, em torno de 1,4 bilhão de anos. De acordo com a teoria endossimbiótica, as células eucarióticas evoluíram a partir de células procarióticas vivendo uma dentro da outra, como endossimbiontes”. Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 275). explorando Ideias Classificação dos organismos Caro(a) aluno (a), como dito anteriormente, a classificação (agrupamento) dos organismos vivos é feita de acordo com as características similares. Cada orga- nismo possui um nome científico. A hierarquia taxonômica permite que os organismos sejam agrupados em uma série de subdivisões que, por sua vez, formam uma hierarquia. A das plantas e dos animais foi desenvolvida por Linnaeus. Uma espécie eucariótica é um grupo de organismos intimamente relacionados que se reproduzem entre si. Um gênero consiste em espécies que são relacionadas pela descendência, mas que, em certas características, diferem entre si. Assim, um grupo de espécies forma um gênero, e uma família é formada por gêneros relacio- nados. A ordem é formada por um grupo de famílias similares, já um grupo de ordens similares forma uma classe, e as classes relacionadas formam um filo. Todos os filos ou divisões relacionadas entre si formam um reino, e os reinos relacionados são reagrupados em um domínio (Figura 4) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N ID A D E 1 22 Para os procariotos, o modelo de classificação taxonômica é encontrado no Ber- gey’s Manual of Systematic Bacteriology. Tal classificação é baseada nas simila- ridades encontradas nas sequências de nucleotídeos no rRNA. Nesse manual, os procariotos são divididos em dois domínios: Bacteria e Archaea. Cada domínio é dividido em filos. A sequência da divisão é classes, ordens, famílias, gêneros e espécies, e uma espécie é definida como um conjunto de organismos com carac- terísticas semelhantes (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os organismos eucarióticos simples, de maioria unicelular, têm sido agru- pados no Reino Protista desde 1969, que abriga organismos bastante diversos nutricionalmente, desde o parasita intracelular obrigatório até o fotossintético (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os organismos eucarióticos mais complexos, maioria multicelular, são agru- pados em um dos três reinos: fungos, plantas e animais. O Reino Fungi é com- posto por leveduras unicelulares, bolores multicelulares e espécies macroscópicas, BACTERIAEUKARYADOMÍNIO ANIMALIA Chordata Mammalia Carnivora Canidea Canis C. familiaris FUNGI Ascomycota Hemiascomycetes Saccharo- mycetales Saccharo- mycetaceae Saccharomyces S. cerevisiae NENUMDESIGNADO PARA BACTÉRIA Proteobacteria Gamma- Proteobacteria Enterobacteriales Entero- bacteriaceae Escherichia E. coli PLANTAE Tracheophyta Angiospermae Rosales Rosaceae Rosa R. pratincula REINO Filo Classe Ordem Família Gênero Espécie Cão Levedura de panificação Nome comum 5 cm 5 µm E. coli 0,5 µm Rosa do campo 2,5 cm Figura 4 - Hierarquia taxonômica / Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 280). U N IC ES U M A R 23 como os cogumelos. Musgos, samambaias, coníferas, plantas com flores e algumas algas formam o Reino Plantae. Já o Reino Animalia inclui esponjas, vários vermes, insetos e animais com esqueleto (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os vírus não pertencem a nenhum dos três domínios, uma vez que são acelulares e utilizam de outra célula para se multiplicar, portanto, são parasitas intracelulares obrigatórios. Uma espécie viral é definida pelo International Committee on Taxonomy of Virus (Comitê Internacional em Taxonomia de Vírus) como uma população de vírus com características similares, dentre elas, morfologia, genes e enzimas que ocupam um nicho ecológico específico. Vale ressaltar que o nicho ecológico de um vírus é a sua célula hospedeira específica (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Nomenclatura científica A nomenclatura científica, chamada de nomenclatura binomial, foi desenvolvida no século XVIII. É composta por dois nomes: o nome do gênero e o da espécie (epíteto específico). Os nomes são escritos sublinhados ou em itálico, o gênero é sempre um substantivo e começa sempre com letra maiúscula, e o nome da es- pécie, normalmente, é um adjetivo e começa com letra minúscula. Por exemplo, a nomenclatura do fungo que contamina o pão é chamado de Rhizopus stonolifer: Rhizo descreve a estrutura semelhante à raiz do fungo, e stolo descreve as hifas longas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A utilização da nomenclatura é importante, pois garantirá que os biólogos tenham certeza de que conhecem exatamente o microrganismo sobre o qual estão discutindo. Os cientistas de todo o mundo utilizam os binômios, indepen- dentemente de sua língua nativa, permitindo, assim, o compartilhamento do conhecimento de maneira eficiente e exata (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As normas que governam a denominação dos organismos são estabelecidas por várias entidades científicas. De acordo com o Bacteriological Code, os no- mes científicos devem ser derivados do latim ou latinizados pela adição de um sufixo apropriado. Com o avanço das técnicas de laboratório, torna-se possível a caracterização mais detalhada dos microrganismos, o que pode desencadear a re- classificação. Por exemplo, dois gêneros podem ser reclassificados em um, ou um gênero pode ser dividido em dois ou mais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N ID A D E 1 24 3 CÉLULAS PROCARIÓTICAS As células procarióticas apresentam uma estrutura interna mais simples e não possuem estruturas delimitadas por membranas, as chamadas organelas, apresentando apenas o nucleoide, isto é, os cromossomo(s) e os ribossomos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A figura a seguir representa uma célula procariótica e mostra as estruturas típicas que podem ser encontradas em bactérias. Figura 5 - A estrutura de uma célula procariótica / Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 80). Cápsula Parede celular Membrana plasmática Flagelo RibossomosPilus Nucleoide U N IC ES U M A R 25 Estruturas internas à parede celular O citoplasma, substância da célula no interior da membrana plasmática, que é espesso, aquoso, semitransparente e elástico, é composto por água (cerca de 80%), proteínas (enzimas), carboidratos, lipídeos, íons inorgânicos e compostos por peso molecular muito baixo. É no citoplasma que são encontradas a área nuclear, os ribossomos e as inclusões que são depósitos de reserva. São as proteínas fila- mentosas no citoplasma as responsáveis pela forma helicoidal e de bastonete da célula bacteriana (TORTORA, FUNKE & CASE, 2012). O nucleóide pode ser esférico, alongado ou em forma de halteres, normal- mente contém uma única molécula longa e contínua de DNA de fita dupla, fre- quentemente arranjada de forma circular, denominada cromossomo bacteriano não envolto por membrana, e está fixado à membrana plasmática. Acredita-se que proteínas na membrana plasmática sejam responsáveis pela replicação do DNA e pela segregação dos novos cromossomos para as células-filhas na divisão celular (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As células procarióticas podem apresentar plasmídeos, os quais são pequenas quantidades de DNA extracromossomal, contendo de cinco a cem genes genes, normalmente, circulares de fita dupla, com genes que conferem propriedades especiais às células (resistências aos antibióticos, tolerância a metais tóxicos, pro- dução de toxinas, síntese de enzima), portanto, podem ser adquiridos ou perdi- dos sem causar dano à célula. Eles podem ser transferidos de uma bactéria para outra. Na verdade, o DNA plasmidial é utilizado para a manipulação genética em biotecnologia (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os ribossomos funcionam como locais de síntese proteica, estão presentes em grande quantidade (dezenas de milhares) no citoplasma, conferindo a ele um aspecto granular (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os ribossomos são compostos por duas subunidades (Figura 6) que, por sua vez, são formadas por proteína e o RNA ribossômico (rRNA). Os ribossomos procarióticos são denominados ribossomos 70S, diferem dos eucarióticos em relação ao número de proteínas e de moléculas de rRNA, além de serem um pouco menores e menos densos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N ID A D E 1 26 “A letra S refere-se às unidades Svedberg, que indicam a velocidade relativa de sedimen- tação durante a centrifugação em alta velocidade. A velocidade de sedimentação é uma função do tamanho, do peso e da forma de uma partícula. As subunidades de um ribos- somo 70S são uma pequena subunidade 30S, contendo uma molécula de rRNA, e uma subunidade maior 50S, contendo duas moléculas de rRNA”. Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 95). explorando Ideias Figura 6 - O ribossomo procariótico: (a) uma subunidade menor 30S e (b) uma subunidade maior 50S compõem (c) o ribossomo procariótico completo 70S. Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 95). Ainda dentro do citoplasma, há as inclusões, que são depósitos de reserva forma- dos quando certos nutrientes são abundantes, para que as células possam utili- zá-los quando estiverem escassos no ambiente. As inclusões servem como base para identificação, uma vez que algumas delas são comuns a ampla variedade de bactérias, e outras são restritas a um pequeno número. Dentre as inclusões, temos: ■ Grânulos metacromáticos: recebem esse nome porque, em algumas situações, eles pintam-se de vermelho com certos corantes. São grandes inclusões encon- trados em algas, fungos, bactérias e protozoários. Também conhecidos como volutina, são uma reserva de fosfato inorgânico (polifosfato) que pode ser uti- lizada na síntese de ATP (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). ■ Grânulos polissacarídicos: são compostos por glicogênio e amido. Na presença de iodo, eles tornam-se visíveis; os grânulos de glicogênio ficam de cor marrom- -avermelhada, e os grânulos de amido, azuis. ■ Inclusões lipídicas: podem ser coradas com corantes solúveis em gordura. O po- límero ácido poli-β-hidroxibutírico (PHB), solúvel em clorofórmio e exclusivo + (a) Subunidade menor (b) Subunidade maior (c) Ribossomo completo 70S 30S 50S 50 S 30 S U N IC ES U M A R 27 de bactérias, é um material comum de armazenamento de lipídios (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). ■ Grânulos de enxofre: bactérias que oxidam enxofre para obter energia e, assim, po- dem armazená-lo na célula. Essas inclusões servem como reserva de energia para a bactéria (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). ■ Carboxissomos: inclusões que contêm a enzima ribulose-1,5-difosfato-carbo-xilase, utilizada pelas bactérias que usam dióxido de carbono como a sua única fonte de carbono na fixação do dióxido de carbono durante a fotossíntese (TOR- TORA; FUNKE; CASE, 2012). ■ Vacúolos de gás: cavidades ocas encontradas em muitos procariotos aquáticos. São responsáveis por manterem a flutuação, de modo que a célula consiga ficar na profundidade apropriada de água para receberem quantidades suficientes de oxigênio, luz e nutrientes. São formados por várias vesículas de gás individuais, que são cilindros ocos cobertos por proteína permeável a gás, impermeável à água e a outros solutos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; TRABULSI; AL- TERTHUM, 2015). ■ Magnetossomos: inclusões de óxido de ferro (Fe3O4) que agem como ímãs. Po- dem ser utilizados pelas bactérias para se moverem para baixo até atingirem um local de fixação aceitável. Há a hipótese de que eles possam proteger a célula con- tra o acúmulo de peróxido de hidrogênio (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A membrana plasmática, ou citoplasmática, ou membrana interna, é vital para a célula. Ela fica imediatamente abaixo da parede celular, é uma estrutura fina que reveste o citoplasma da célula e separa o meio interno (citoplasma) do meio externo. É composta por fosfolipídios e proteínas e, por não conter esteróis, é menos rígida que as membranas eucarióticas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). As membranas plasmáticas procarióticas e eucarióticas, vistas em micros- cópios eletrônicos, parecem estruturas em bicamada, ou seja, existem duas li- nhas escuras com um espaço claro entre elas, onde as moléculas de fosfolipídeos formam uma bicamada na qual a maioria das proteínas estão embebidas. Cada molécula de fosfolipídio possui caudas apolares, compostas por ácidos graxos hidrofóbicos e insolúveis em água, os quais estão no interior da bicamada; além de uma cabeça polar, composta por um grupo fosfato e por glicerol hidrofílico e solúvel em água, e estão nas duas superfícies da bicamada lipídica (Figura 7) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). U N ID A D E 1 28 Figura 7 - Membrana plasmática As proteínas periféricas ficam situadas na superfície interna ou externa da mem- brana e podem ter a função de enzimas que catalisam reações químicas. Já as proteínas integrais atravessam a membrana completamente, por isso, são chama- das de proteínas transmembranas, algumas delas funcionam como canais pelos quais as substâncias entram e saem da célula (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Quando as proteínas se ligam aos carboidratos, elas são denominadas glicoproteínas, quando os lipídeos são ligados a carboidratos, eles são denominados glicolipídeos. Mui- tas proteínas e alguns lipídios na superfície externa da membrana plasmática possuem carboidratos ligados a eles, que auxiliam na proteção e na lubrificação da célula, além de estarem envolvidos nas interações célula-célula (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A membrana plasmática, que possui permeabilidade seletiva, serve como uma barreira através da qual os materiais entram e saem da célula, isto é, alguns íons e mo- léculas passam através da membrana, mas outros não. Além disso, ela também tem importância nos processos de digestão de nutrientes e de produção de energia. Pode haver invaginações com pigmentos e enzimas envolvidos na fotossíntese, denominados cromatóforos ou tilacoides, em algumas bactérias (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Devido à função vital que a membrana plasmática exerce nas células, muitos agentes antimicrobianos, como certos álcoois e compostos de amônio quaternário, exercem nela seus efeitos. Outras substâncias químicas danificam a parede celular e, assim, expõem indiretamente a membrana à lesão (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O movimento dos materiais através das membranas plasmáticas de células procarióticas e eucarióticas pode ser por dois tipos de processos: passivo, quando as substâncias atravessam a membrana de uma área de alta concentração para uma Fosfolipídio Interior da membrana celular (citoplasma) Cabeça hidrofílica Cauda hidrofóbica Glicolipídeo Cadeia de carboidrato Proteína globular Polar Polar Proteína integral Apolar Glicoproteína Bicamada fosfolipídica Proteína periférica Proteína hidrofóbica alfa héliceColesterol Poro (proteína de transporte) Exterior da membrana celular U N IC ES U M A R 29 área de baixa concentração, sem gasto de energia (ATP) pela célula, e ativo, quando as células utilizam energia (ATP) para mover as substâncias das áreas de baixa con- centração para as áreas de alta concentração (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Na Figura 8, são apresentadas as diversas formas de processos passivos que ocorrem nas células, seguidos de uma breve explicação do processo envolvido. a) Difusão simples através da bicamada líquida Movimento das moléculas ou dos íons de uma área de alta concentração para uma área de baixa concentração, até que as moléculas ou os íons sejam distribuídos uniformemente (equilíbrio). b) Difusão facilitada através de um transportador não especí�co O processo difere da difusão simples pelo uso das proteínas integrais ou transportadoras ou permeases, que funcionam como canais que facilitam o movimento de substâncias (íons ou grande moléculas) através da membrana plasmática. c) Difusão facilitada através de um transportador especí�co O processo ocorre quando uma substância transportada liga-se a uma proteína transportadora especí�ca na superfície externa da membrana plasmática, a qual sofre uma mudança de formato; então, a proteína libera a substância do outro lado da membrana. Quando as moléculas que as bactérias necessitam são muito grandes para serem transportadas para a célula por estes métodos, enzimas extracelulares liberadas no meio circundante, degradam as moléculas grandes em moléculas mais simples que se movem para dentro da célula com o auxílio de transportadores. d) Osmose Movimento de moléculas de solvente, da área de alta concentração para a área de baixa concentração de membrana semipermeável, sendo a água o principal solvente nos sistemas vivos. As moléculas de água atravessam a membrana plasmática por difusão simples ou através das aquaporinas, que são proteínas integrais de membrana e funcionam como canais de água. Exterior Membrana plasmática Transportador não específico Interior Substâcia transportadora Transportador específico Aquaporina Glicose U N ID A D E 1 30 A pressão osmótica é a pressão necessária para interromper o fluxo de água atra- vés da membrana seletivamente permeável. Uma célula bacteriana pode estar sujeita a três tipos de soluções osmóticas (Figura 9): ■ Isotônica: a concentração total de solutos é igual no meio e dentro da célula, neste caso, a água sai e entra na célula na mesma velocidade. Conteúdo celular e meio exterior estão em equilíbrio. ■ Hipotônica: a concentração de solutos fora da célula é menor do que no interior dela. A maioria das bactérias vive em soluções hipotônicas. ■ Hipertônica: a concentração de solutos fora da célula é maior do que no interior dela (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Figura 9 - O princípio da osmose / Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 93). Os processos ativos, como o transporte ativo e a translocação de grupo, são ne- cessários quando uma célula bacteriana está em um ambiente em que há baixa concentração de nutrientes, para o acúmulo das substâncias necessárias. Nesse processo, para que as substâncias se movam através da membrana plasmática, ocorre a utilização de energia pela célula, na forma de Trifosfato de Adenosina (ATP). Os íons, tais como Na+, K+, H+, Ca2+ e Cl–, estão entre as substâncias ativamente transportadas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Citoplasma SolutoParede celular Membrana plasmática Água Solução isotônica Sem movimento total de água Solução hipotônica A água se move para dentro da célula. Se a parede celular é forte, ela contém a dilatação.Se a parede estiver fraca ou dani�cada, a célula se rompe (lise osmótica) Solução hipertônica A água se move para fora da célula, fazendo seu citoplasma encolher (plasmólise) U N IC ES U M A R 31 O transporte ativo depende de proteínas transportadoras na membrana plas- mática e a substância que atravessa essa membrana não é alterada pelo transporte através dela. Já na translocação de grupo, que ocorre exclusivamente em procariotos, a substância é alterada quimicamente durante o transporte através da membrana. Essa substância alterada dentro da célula permanece dentro dessa, pois a membrana plasmática se torna impermeável a ela (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Parede celular A parede celular, presente na maioria dos procariotos, circunda a membrana plasmática. É uma estrutura complexa e semirrígida, responsável pela forma da célula. A sua principal função é conferir resistência e proteção celular, impedindo a lise osmótica (ruptura celular) em meio hipotônico (a pressão da água dentro da célula é maior que fora dela). Além disso, a parede celular é utilizada como ponto de ancoragem para os flagelos. Ela contribui para a capacidade que algu- mas espécies têm de causarem doenças e também pode ser o local de ação de alguns antibióticos. A sua composição química é utilizada na diferenciação dos principais tipos de bactérias (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As paredes celulares de arquibactérias e eubactérias diferem em composição química e estrutura. As paredes celulares de arquibactérias não possuem o ácido N-acetilmurâmico (NAM) e D-aminoácidos e, portanto, não possuem pepti- deoglicanos, elas são compostas por proteínas, glicoproteínas ou polissacarídeos (PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). A parede celular das eubactérias é composta pelo peptideoglicano, que é um polissacarídeo complexo, também conhecido como mureína, o qual pode estar presente de forma isolada ou em combinação com outras substâncias. O pepti- deoglicano é um dissacarídeo repetitivo ligado por polipeptídeos para formar uma rede que envolve e protege toda a célula. A porção dissacarídica é composta por dois derivados de açúcares, a N-acetilglicosamina (NAG) e o ácido N-acetil- murâmico (NAM) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N ID A D E 1 32 Cada camada de peptidioglicano é composta por NAM, NAG, aminoácidos como a L-alanina, D-alanina, ácido D-glutâmico e lisina, ou ácido diaminopimé- lico (DAP). Os componentes se associam e dão origem ao tetrapeptídeo glicano, que é uma estrutura repetitiva. As cadeias laterais paralelas de tetrapeptídeos podem ser ligadas diretamente umas às outras ou unidas por uma ponte cruzada peptídica, consistindo de uma cadeia curta de aminoácidos (TORTORA; FUN- KE; CASE, 2012; MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004). A parede celular das bactérias gram-positivas é formada por muitas camadas de peptideoglicana, formando uma estrutura espessa e rígida. Ao contrário, as paredes celulares de bactérias gram-negativas contêm somente uma camada fina de peptideoglicana, formada por uma ou poucas camadas, portanto, são mais suscetíveis ao rompimento mecânico, e uma membrana externa (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As paredes celulares das bactérias gram-positivas contêm ácidos teicoicos. Estes podem se ligar e regular o movimento de cátions para dentro e para fora da célula devido à sua carga negativa, e podem assumir um papel no crescimento celular. Além de fornecerem parte da especificidade antigênica da parede, tor- nando possível a identificação dessas bactérias por meio de testes laboratoriais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Nas paredes celulares das bactérias gram-negativas, a peptideoglicana está li- gada a lipoproteínas na membrana externa e está no periplasma, um fluido seme- lhante a um gel, entre a membrana externa e a membrana plasmática, com alta con- centração de enzimas de degradação e proteínas de transporte. As paredes celulares gram-negativas não contêm ácidos teicoicos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A membrana externa é formada por lipopolissacarídeos (LPS), lipoproteínas e fosfolipídeos. Serve como uma barreira seletiva que controla a passagem de nu- triente para garantir o metabolismo celular, parte da permeabilidade é devida as porinas que são proteínas que formam canais. A membrana externa pode causar efeitos tóxicos sérios em animais infectados (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N IC ES U M A R 33 A Figura 10 apresenta a estrutura da parede celular de células gram-posi- tivas e gram-negativas. Figura 10 - Paredes celulares bacterianas; (a) a estrutura da peptideoglicana em bactérias gram-positivas; (b) uma parede celular gram-positiva; (c) uma parede celular gram-negativa. Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 86). N-acetiglicogamina (NAG) Ácido N-acetilmurâmico (NAM) Cadeia lateral de aminoácido Ponte cruzada de aminoácido NAM Ligação peptídica (a) Estrutura de peptideoglicana em bactéria gram-positiva (b) Parede celular gram-positiva (c) Parede celular gram-negativa ProteínaPeriplasma Membrana plasmática Parede celular Parede celular Ácido teicoico de parede Ácido lipoteicoico Peptideoglicana Esqueleto de carboidrato Ponte cruzada peptídica Cadeia lateral tetrapeptídica Lipopolissacarídeo Polissacarídeo O Gene polissacarídico Lipídeo A Polissacarídeo O Gene polissacarídico Lipídeo A Peptideoglicana Membrana externa Lipoproteína Proteína porina Proteína Partes do LPS Fosfolipídeo NAG NAG Membrana plasmática U N ID A D E 1 34 Estruturas externas à parede celular Muitos procariotos secretam, na sua superfície, uma substância denominada glicocálice, que é um polímero viscoso e gelatinoso, produzido em maior parte, dentro da célula, e secretado para a superfície celular, composto por polissa- carídeo, polipeptídeo ou ambos, varia de acordo com a espécie e está situado externamente à parede celular. Quando está firmemente aderido a essa parede e é organizado, ele é denominado cápsula. Quando não é organizado e está fra- camente aderido à parede celular, é denominado camada viscosa (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As cápsulas podem contribuir com a virulência bacteriana de algumas espé- cies, e protegem as bactérias patogênicas da fagocitose pelas células do hospedeiro (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Essa substância é um componente muito importante dos biofilmes, pois au- xilia as células a se fixarem umas às outras e ao seu ambiente-alvo. Por meio da fixação, as bactérias podem crescer em diversas superfícies. A sua viscosidade pode inibir o movimento dos nutrientes para fora da célula e proteger a desidra- tação dessa (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Algumas células procarióticas possuem longos apêndices filamentosos que propelem as bactérias, denominados flagelos. Quando as células não possuem esses apêndices, elas são denominadas atríqueas, quando eles estão distribuídos ao longo de toda a célula, são denominados peritríqueos, se estão em um ou em ambos os polos da célula, são chamados de polares. Se for polar e apresentar um único flagelo em um polo, ele é monotríqueo, caso tenha um tufo de flage- lo na extremidade da célula, é chamado de lofotríqueo, se os flagelos estiverem em ambas as extremidades celulares, são chamados de anfitríqueo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O flagelo procariótico é uma estrutura helicoidal semirrígida que move a célula pela rotação do corpo basal. A rotação de um flagelo pode ter sentido horário ou anti-horário em torno de seu eixo longo. A mobilidade permite que a bacteria mova-se em direção a um ambiente favorável ou para longe de um ambiente adverso (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Filamentos axiais ou endoflagelos possuem estrutura similar a dos flagelos, é a estrutura de mobilidade das espiroquetas. Tais filamentos ficam ancorados em uma extremidade da espiroqueta, são feixes de fibrilas que se originam nas extremidades das células, sob uma bainha externa, e fazem uma espiral em torno U N IC ES U M A R 35 da célula. As espiroquetassão impulsionadas pelo movimento da bainha externa, o qual é gerado pela rotação dos filamentos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Fímbrias e pili consistem em uma proteína denominada pilina, são apêndices semelhantes a pelos, mais curtos, retos e finos do que os flagelos. Estão presentes em muitas bactérias gram-negativas e são mais utilizados para a fixação e a trans- ferência de DNA do que para mobilidade. As fímbrias podem ocorrer nos polos da célula bacteriana, ou podem estar homogeneamente distribuídas em toda a su- perfície da célula. Possuem tendência de aderirem umas às outras e às superfícies, estando envolvidas na formação de biofilmes e outros agregados na superfície de líquidos, vidros e pedras. Os pili, normalmente, são mais longos que as fímbrias, e há apenas um ou dois por célula. Eles também estão envolvidos na mobilidade celular e na transferência de DNA (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Endosporos Os endosporos são células especializadas de “repouso”, formadas quando os nu- trientes essenciais se esgotam. Exclusivos das bactérias, os endosporos são forma- dos dentro da membrana celular bacteriana, além de serem células desidratadas altamente duráveis, que podem sobreviver a temperaturas extremas, a falta de água, a exposição a muitas substâncias químicas tóxicas e a radiação. Essas estru- turas são típica de bactérias gram-positivas, porém com estruturas semelhantes a endósporos. São encontradas em uma espécie gram-negativa, Coxiella burnetii, o agente causador da febre Q (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O processo de esporulação ou esporogênese leva várias horas. O início da esporulação ocorre quando um nutriente-chave (fonte de carbono ou nitrogênio) torna-se escasso ou indisponível. Inicialmente, uma invaginação da membra- na plasmática, denominada septo do esporo, isola um cromossomo bacteriano recém-replicado e uma pequena porção de citoplasma. O septo do esporo, que circunda o cromossomo, e o citoplasma tornam-se uma membrana dupla, que é denominada pré-esporo, quando inteiramente fechada dentro da célula origi- nal. Entre as duas lâminas da membrana são depositadas camadas espessas de peptideoglicana e, na sequência, uma espessa capa de proteína, responsável pela resistência dos endosporos a muitas substâncias químicas agressivas que se forma em torno de toda a membrana externa. Por fim, a célula original é degradada, e o endosporo é liberado (Figura 11) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). U N ID A D E 1 36 Figura 11 - Formação do endosporo por esporulação Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 97). Uma lesão física ou química no revestimento do endosporo pode fazê-lo retornar ao seu estado vegetativo; esse processo é conhecido como germinação. A água entra após o rompimentos enzimático das camadas extras que envolvem o endos- poro, e o metabolismo recomeça. Vale ressaltar que a esporulação bacteriana não é um meio de reprodução, diferentemente dos esporos formados por actinomice- tos (procariotos), fungos eucariotos e algas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Na indústria de alimentos, os endosporos possuem importância, uma vez que são resistentes aos processos que, normalmente, matam as células vegetativas, como o aquecimento, o congelamento, a dessecação, o uso de substâncias quími- cas e a radiação. Assim, as bactérias formadoras de endosporos podem sobreviver ao subprocessamento e, se ocorrerem condições para o crescimento, algumas espécies produzirão toxinas e doença (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Parede celular Citoplasma Cromossomo bacteriano (DNA) Membrana plasmática O septo do esporo começa a isolar o DNA recém-aplicado e uma pequena porção de citoplasma. 1 A membrana plasmática começa a circundar o DNA, o citoplasma e a membrana isolados na etapa 1. 2 3 4 A capa do esporo se forma. 5 O endosporo é liberado da célula. (b) Um endosporo no Bacillus anthracis (a) Esporulação, o processo de formação do endosporo 6 Duas membranas Endosporo O septo do esporo circunda a porção isolada do pré-esporo em formação. A camada de peptideoglicana se forma entre as duas membranas. 1 µm MET U N IC ES U M A R 37 Como já sabemos, os organismos eucarióticos incluem as algas, os protozoários, os fungos, as plantas e os animais. Em relação à célula procariótica, a eucariótica é tipicamente maior e possui estrutura mais complexa, como é mostrado na Figura 12 (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As organelas, características das células eucarióticas, são estruturas com for- matos específicos e funções especializadas. São elas: o núcleo, o retículo endo- plasmático, o complexo de Golgi, os lisossomos, os vacúolos, as mitocôndrias, os cloroplastos, os peroxissomos e os centrossomos, e nem todas as organelas são encontradas em todas as células (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os flagelos e os cílios são projeções presentes em muitos tipos de células eucarióticas, utilizadas para a locomoção celular ou para mover substâncias ao longo da superfície celular. Elas possuem citoplasma e são revestidas por mem- brana plasmática. Quando estão em pouca quantidade e são longas em relação ao tamanho da célula, denominam-se flagelos. Caso sejam numerosas e curtas, chamam-se cílios (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Essas projeções ficam ancoradas à membrana plasmática por um corpo basal e consistem em nove pares de microtúbulos, compostos por tubulina, arranjados em um anel, mais outros dois microtúbulos isolados no centro do anel, em um arranjo denominado arranjo 9 + 2. Enquanto o flagelo procariótico gira, o flagelo eucariótico se move de forma ondulante (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). 4 CÉLULAS EUCARIÓTICAS U N ID A D E 1 38 A parede celular das células eucarióticas é, geralmente, muito mais simples que as das procarióticas. Os polissacarídeos de celulose são os principais compo- nentes das paredes celulares de muitas algas e de todas as plantas, embora outras substâncias químicas também possam estar presentes. Na maioria dos fungos, o principal componente estrutural é a quitina (polissacarídeo), embora alguns fungos também tenham as paredes celulares composta por celulose. Já nas leve- duras, as paredes contêm os polissacarídeos glicana e manana. Nos protozoários, não há uma parede celular típica, eles têm uma película que, na verdade, é uma proteína externa de revestimento flexível (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A membrana plasmática, em outras células eucarióticas, é coberta por uma camada de material com quantidades substanciais de carboidratos adesivos, de- nominados glicocálice. Quando ligados covalentemente a proteínas e a lipídeos na membrana plasmática, formam glicoproteínas e glicolipídeos, que ancoram o glicocálice à célula. Além de reforçar a superfície celular, o glicocálice auxilia na união das células e pode contribuir para o reconhecimento entre elas (TOR- TORA; FUNKE; CASE, 2012). Embora as membranas plasmáticas das células eucarióticas e procarióticas se- jam similares na função e na estrutura básica, elas diferem nos tipos de proteínas encontradas nas membranas, possuem esteróis que parecem estar associados à capacidade das membranas de resistirem à lise resultante do aumento da pressão osmótica, contêm carboidratos, os quais servem como sítios de ligação para as bactérias e como sítios receptores que assumem um papel nas funções de reco- nhecimento entre as células (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Tanto na células eucarióticas como nas procarióticas, as substâncias podem atravessar as membranas plasmáticas por difusão simples, difusão facilitada, os- mose ou transporte ativo. A translocação de grupo não ocorre em células euca- rióticas, entretanto, elas podem usar um mecanismo denominado endocitose, ou seja, um segmento da membrana plasmática envolve uma partícula ou molécula grande e a conduz para dentro da célula (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Podemos destacar dois tipos de endocitose: a fagocitose, em que as partícu- las são englobadas por pseudópodes, e a pinocitose, cuja membranaplasmática dobra-se para dentro, trazendo o líquido extracelular e qualquer substância que esteja dissolvida nele para o interior da célula. Uma das formas de os vírus en- trarem nas células animais é pela pinocitose (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). As substâncias no interior da membrana plasmática e externas ao núcleo com- põem o citoplasma das células eucarióticas. O citoplasma eucariótico possui estru- U N IC ES U M A R 39 Identifique ao menos uma diferença significativa entre cílios e flagelos, paredes celulares, membranas plasmáticas e citoplasmas eucarióticos e procarióticos. pensando juntos tura interna complexa, consiste de bastões extremamente pequenos e cilindros que formam o citoesqueleto, o qual fornece suporte e aspecto morfológico, auxiliando no transporte das substâncias através da célula. O fluxo citoplasmático auxilia a distribuir os nutrientes e a mover a célula sobre uma superfície. Além disso, muitas das enzimas importantes encontradas no líquido citoplasmático dos procariotos estão contidas nas organelas dos eucariotos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Os ribossomos estão ligados à superfície externa do retículo endoplasmático rugoso e também são encontrados livres no citoplasma; também são locais de síntese proteica na célula, assim como nos procariotos, porém são mais largos e mais densos que os das células procarióticas. Os ribossomos eucarióticos, deno- minados 80S, são compostos por uma subunidade maior de 60S, contendo três moléculas de rRNA, e por uma subunidade menor 40S, com uma molécula de rRNA. São encontrados, nos cloroplastos e nas mitocôndrias, os ribossomos 70S (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O núcleo, organela característica das células eucarióticas, geralmente esférico ou oval e, frequentemente, a maior estrutura na célula, é circundado por uma membrana dupla, com estrutura semelhante da membrana plasmática, denomi- nada envelope nuclear. Na membrana, existem poros nucleares que permitem ao núcleo se comunicar com o citoplasma e que controlam o movimento de substâncias entre o núcleo e o citoplasma. No envelope nuclear, existem corpos esféricos, que são regiões condensadas de cromossomos onde o RNA ribossô- mico é sintetizado (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). É no núcleo que está a maioria da informação hereditária (DNA), a qual pode ser encontrada também nas mitocôndrias e nos cloroplastos dos organismos fotossintéti- cos. O DNA da célula é combinado com várias proteínas, incluindo as histonas e não histonas. Os cromossomos procarióticos não possuem histonas e não estão revestidos por um envelope nuclear. Antes da divisão celular, nas células eucarióticas, ocorre a mitose e a meiose para segregar cromossomo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Uma rede extensa de sacos membranosos achatados, ou túbulos denomina- dos cisternas, que continua com o envelope nuclear e está presente no citoplasma U N ID A D E 1 40 das células eucarióticas, é denominada retículo endoplasmático (RE). A superfície exterior do RE rugoso é salpicada de ribossomos, os quais sintetizam proteínas que penetram nas cisternas dentro do RE para processamento e seleção. Tais pro- teínas podem formar glicoproteínas ou serem aderidas aos fosfolipídeos, também sintetizados pelo RE rugoso, por enzimas presentes nas cisterna e, então, serem incorporadas às membranas das organelas ou à membrana plasmática (TORTO- RA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). O RE liso não possui ribossomos na superfície externa de sua membrana, e se estende a partir do RE rugoso para formar uma rede de túbulos de membranas. O RE liso possui enzimas exclusivas, sintetiza fosfolipídeos, gorduras e esteroides (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). O transporte para outras regiões da célula da maioria das proteínas sinte- tizadas pelos ribossomos aderidos ao RE rugoso se dá através de uma organela denominada complexo de Golgi, que consiste de três a 20 cisternas curvas e com vesículas nas suas extremidades (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Vesícula transportadora, originada do RE, contém proteínas sintetizadas pelos ribossomos no RE rugoso, se funde com a cisterna do complexo de Golgi, liberando as proteínas dentro da cisterna. O transporte de uma cisterna para a outra, após as proteínas serem modificadas, se dá através das vesículas de transferência que surgem nos bordos das cisternas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). As proteínas são modificadas pelas enzimas das cisternas para formar glico- proteínas, glicolipídeos e lipoproteínas. Algumas delas deixam as cisternas nas vesículas secretórias, que entregam as proteínas para a membrana plasmática, onde são liberadas por exocitose. Outras terão o seu conteúdo incorporado à membrana plasmática. Por fim, algumas proteínas processadas deixam as cister- nas em vesículas que são chamadas de vesículas de armazenamento (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Os lisossomos são a principal vesícula de armazenamento. Formados a partir dos complexos de Golgi, parecem esferas revestidas por uma membrana. Pos- suem uma única membrana e não têm estrutura interna. São capazes de degra- dar muitos tipos de moléculas, pois contêm em torno de 40 tipos diferentes de enzimas digestivas, as quais também podem digerir bactérias que penetram na célula (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). No citoplasma de uma célula há um espaço, ou uma cavidade denominada vacúolo, que é revestida por uma membrana chamada de tonoplasto. São derivados U N IC ES U M A R 41 dos complexos de Golgi e podem ocupar de 5 a 90% do volume celular nas células vegetais. Podem exercer a função de: organelas temporárias de armazenamento para substâncias, como as proteínas, os açúcares, os ácidos orgânicos e os íons inor- gânicos; trazer o alimento para dentro da célula, sendo formados durante a endo- citose (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Existem, ainda, no citoplasma da maioria das células eucarióticas, as mitocôn- drias, que são organelas esféricas, ou em forma cilíndrica. A sua quantidade pode variar muito entre tipos diferentes de células. A mitocôndria é formada por uma membrana dupla, a qual é similar, em estrutura, à membrana plasmática. A sua membrana externa é lisa, enquanto a interna tem uma série invaginações denomi- nadas cristas. O centro da mitocôndria é uma substância semifluida denominada matriz (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Na superfície das cristas, pode ocorrer reações químicas. Nelas estão presen- tes algumas proteínas que fazem parte da respiração celular, incluindo a enzima que produz o ATP, e muitas das etapas metabólicas do processo e da respiração celular estão concentradas na matriz. Por sua função (papel central na produção de ATP), as mitocôndrias são consideradas o “gerador da célula” (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). As mitocôndrias possuem os seus próprios ribossomos, que são do tipo 70S; o seu próprio DNA, o qual é capaz de replicar, transcrever e traduzir a informação codificada pelo seu DNA. As mitocôndrias se dividem para formar uma nova mitocôndria, podem se reproduzir por meio do crescimento e da divisão em duas, praticamente da mesma forma pela qual as células procarióticas se dividem (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Nas algas e nas plantas verdes está presente uma estrutura revestida por uma membrana que contém o pigmento clorofila, localizada em sacos achatados de membrana denominados tilacoides, e as enzimas necessárias para as fases de captação de luz da fotossíntese. As pilhas de tilacoides são denominadas gra- na, e essa organela exclusiva é denominada cloroplasto (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Os cloroplastos, assim como as mitocôndrias, são capazes de se multiplicar por si próprios dentroda célula e, também, possuem ribossomos 70S, DNA e enzimas envolvidos na síntese pro- teica (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012; PELCZAR JR.; CHAN; KRIEG, 1997). Os peroxissomos são organelas similares, em estrutura, aos lisossomos, porém menores, e se formam pela divisão de peroxissomos preexistentes. Possuem uma ou mais enzimas capazes de oxidar substâncias orgânicas variadas, incluindo subs- U N ID A D E 1 42 tâncias tóxicas, como o álcool. Embora as reações de oxidação gerem o peróxido de hidrogênio (H2O2), que é um componente potencialmente tóxico, os peroxissomos o decompõem, pois contêm a enzima catalase, protegendo assim, outras partes da célula dos efeitos tóxicos do H2O2 (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). O centrossomo desempenha um papel fundamental na divisão celular e na formação de microtúbulos em células que não estão se dividindo. Ele é localiza- do próximo ao núcleo e consiste em dois componentes: a área pericentriolar e os centríolos. O material pericentriolar, centro organizacional para o fuso mitótico, é a região do citosol composta por uma densa rede de pequenas fibras proteicas; no seu interior está um par de estruturas cilíndricas denominadas centríolos; que é composta por nove grupos de três microtúbulos (triplos) dispostos de forma circu- lar, em um arranjo denominado arranjo 9 + 0 (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Na tabela a seguir, temos as principais diferenças entre as células procarió- ticas e eucarióticas. Tabela 2 - Principais diferenças entre células procarióticas e eucarióticas Fonte: Tortora, Funke e Case (2012, p. 101). Características Procarioto Procariotos Eucarioto 10 µm Tamanho da célula Núcleo Organelas resvestidas por membrana Flagelos Glicocálice Parede celular Membrana plasmática Citoplasma Risossomos Cromossomo (DNA) Divisão celular Recombinação sexual Tipicamente 0,2 a 2,0 µm de diâmetro Sem membrana nuclear ou nucléolo Ausentes Consistem em dois blocos construtivos de proteína Presente como cápsula ou camada viscosa Geralmente presente; complexa do ponto de vista químico (a parede celular bacteriana típica inclui peptideoglicana) Sem carboidratos e geralmente não tem esteróis Sem citoesqueleto ou corrente citoplasmática Tamanho menor (70S) Normalmente um único cromossomo circular, não possui histonas Fissão binária Nenhuma; somente trasnferência de DNA Tipicamente 10 a 100 µm de diâmetro Núcleo verdadeiro, consistindo de membrana nuclear e necléolo Presentes; os exemplos incluem lisossomos, complexo de Golgi, retículo endoplasmático, mitocôndrias e cloroplastos Complexos; consistem em múltiplos microtúbulos Presente em algumas células que não possuem uma parede celular Quando presente, quimicamente simples (inclui células de quitina) Esteróis e carboidratos que servem como receptores Citoesqueleto, corrente citoplasmática Tamanho maior (80S); tamanho menor (70S) nas organelas Múltiplos cromossomos lineares com histonas Envolve mitose Envolve meiose P i U N IC ES U M A R 43 Prezado(a) aluno(a), dessa forma, chegamos ao final desta aula, com os conheci- mentos necessários para reconhecer os microrganismos eucarióticos e diferen- ciá-los do microrganismos procarióticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, foi possível ter uma visão global da micro- biologia básica. O entendimento desses conceitos são fundamentais para a se- gurança alimentar, pois é esse conhecimento que sustenta as ações para garantir a inocuidade dos alimentos. Vimos a evolução da microbiologia como ciência, os caminhos que ela percor- reu para chegar aos conceitos aqui estudados, desde a descoberta da célula, pas- sando pela teoria da geração espontânea até a teoria da biogênese. E entendemos a importância da célula como unidade básica da vida e, ainda, a sua organização. Compreendemos os principais grupos de microrganismos: bactérias, archaea, fungos, vírus e protozoários; assim como as suas características e diferenças. Co- nhecemos a classificação dos organismos nos três domínios: Eukarya, Bacteria e Archaea; e como os organismos se relacionam entre si. Vimos a importância da hierarquia taxonômica e como ela permite que os organismos sejam agrupa- dos em uma série de subdivisões que formam uma hierarquia (espécie, gênero, família, ordem, classe, filo, reino e domínio). Falamos sobre as estruturas de células procarióticas (estruturas externas à parede celular, estruturas internas à parede celular e a parede celular) e eucarió- ticas (flagelos, cílios, parede celular, membrana plasmática e organelas: o núcleo, o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi, os lisossomos, os vacúolos, as mitocôndrias, os cloroplastos, os peroxissomos e os centrossomos), os seus prin- cipais componentes e as suas funções para a vida celular. Finalmente, o entendimento das semelhanças e das diferenças entre as células procarióticas e eucarióticas nos permitirá optar pelos métodos adequados para prevenir e eliminar os microrganismos. O entendimento destas maquinarias são fundamentais para a construção do conhecimento. 44 na prática 1. Dentro dos grupos de microrganismos, encontram-se as bactérias. Qual das se- guintes características é típica de bactérias? a) São eucariotos. b) As parede celulares têm peptideoglicano. c) Apresentam a mesma forma. d) Podem se reproduzir de forma sexuada ou assexuada. e) Não possuem a capacidade de locomoção. 2. Em relação às estruturas encontradas nos três domínios, leia as afirmativas a seguir. I - Flagelos 9 + 2. II - Fímbrias. III - Membrana plasmática. IV - Núcleo. V - Peptidioglicana. VI - Ribossomos 70S. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas III e VI estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas III, V e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. Relacione as estruturas da célula procariótica apresentadas na coluna à esquer- da com as suas respectivas funções elencadas na coluna à direita: Estrutura Função (1) Endosporo ( ) Adesão à superfície. (2) Ribossomos ( ) Proteção da lise osmótica. (3) Glicocálise ( ) Repouso. (4) Membrana plasmática ( ) Síntese proteica. 45 na prática Estrutura Função (5) Parede celular ( ) Permeabilidade seletiva. A sequência correta para a resposta da questão é: a) 1; 2; 3; 4; 5. b) 3; 4; 1; 2; 5. c) 3; 5; 1; 2; 4. d) 1; 5; 3; 2; 4. e) 1; 5; 3; 4; 2. 4. Relacione as organelas da célula eucariótica apresentadas na coluna à esquerda com as suas respectivas funções elencadas na coluna à direita: Organela Função (1) Clorosplasto ( ) Armazenamento de enzimas digestivas. (2) Complexo de Golgi ( ) Fotossíntese. (3) Mitocôndria ( ) Respiração. (4) RE rugosso ( ) Síntese de proteína. (5) Lisossomo ( ) Secreção. A sequência correta para a resposta da questão é: a) 5; 1; 3; 4; 2. b) 3; 4; 1; 2; 5. c) 3; 5; 1; 2; 4. d) 5; 1; 3; 2; 4. e) 5; 3; 1; 4; 2. 5. Em relação aos eucariotos e procariotos, explique qual é a principal diferença entre ambos. 46 na prática CUIDADOS QUE SE DEVE TOMAR PARA QUE A ALIMENTAÇÃO NÃO SE TORNE UM RISCO À SAÚDE A alimentação está diretamente relacionada à nossa saúde e os alimentos que se- guem para o consumo devem receber muita atenção. A qualidade e a higiene nos processos de produção, transporte, manipulação e armazenamento dos alimentos devem ser rigorosos para que possam garantir a integridade da saúde do consumi- dor e evitar possíveis contaminações. Alimentos seguros O número crescente e a gravidade de doenças transmitidas por alimentos, em todo o mundo, têm aumentado consideravelmente o interesse do público em relação à segurança alimentar. Mas afinal, o que são alimentos seguros? Essa é uma pergunta que invoca diferen- tes respostas, dependendo de quem responde. Essencialmente, as diferentes defini- ções são dadas a partir do que constitui um risco significativo. O público em geral pode considerar que alimentos seguros significam risco igual a zero, enquanto um produtor
Compartilhar