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Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 1 Princípios básicos dos tumores ósseos Os tumores ósseos primários representam cerca de 1% dos casos ambulatoriais na ortopedia e totalizam 3% dos casos de neoplasias. Nos países desenvolvidos o diagnóstico dessa condição leva cerca de 6 semanas, enquanto que no Brasil pode demorar até 6 meses. A primeira abordagem é clínica, sendo seguida por estadiamento por imagem e diagnóstico anatomopatológico, permitindo a orientação do tratamento dessa patologia. Como plano geral de tratamento não se deve tratar excessivamente os tumores benignos e nem insuficientemente os tumores malignos, além do fato de que não se deve fazer biópsia ou abordagens incorretas em lesões com potencial tratamento radical. Nos relatos clínicos não existe correlação com trauma, a dor é a queixa mais comum e deve ser bem descrita, sendo que, inicialmente, pode ser relacionada a atividades, evoluindo para dor ao repouso ou dor noturna. A observação da etnia é importante, já que a prevalência das doenças pode auxiliar no diagnóstico – sarcoma de Ewing é raro em negros. A idade é o fator isolado mais importante, principalmente para pensarmos em um diagnóstico diferencial. Ao exame físico deve-se descrever as características da massa encontrada, como medidas, localização, forma, consistência, mobilidade, dor, temperatura, vascularização e presença de sinais associados – como atrofia, manchas, sinais de outras síndromes, entre outros. O anatomopatológico na maioria das vezes é o fator final para fechar o diagnóstico, permitindo a escolha da terapêutica mais apropriada. O raio X é o exame mais útil na investigação de tumores ósseos, devendo avaliar detalhadamente o local da lesão (ex.: 50% dos osteossarcomas estão localizados em fêmur distal ou tíbia proximal), zona de transição (área entre a lesão tumoral e o osso sadio), reação do organismo à lesão e aspectos da lesão (calcificações, roído de traça, cistos), sendo que a idade associada ao raio X geralmente é suficiente para a maioria dos diagnósticos. As lesões benignas apresentam demarcação distinta, podendo haver área de esclerose ao redor, enquanto que as malignas têm tendência a limites mal definidos. O osso apresenta reação ao processo neoplásico, geralmente com formação óssea na tentativa de retardar a progressão da lesão tumoral. A esclerose marginal é uma linha de osso denso que envolve a lesão, geralmente relacionada a tumores de crescimento lento e de caráter pouco agressivo. O espessamento cortical é um adensamento do córtex relacionado a lesões irritativas e próximas à superfície do osso, formando uma imagem em fuso – comum em osteoma osteoide. A reação periosteal organizada compensada é relacionada a fatores mecânicos, em que o periósteo produz osso onde o córtex está mais fino. Com a destruição na porção interna (medular) e produção de osso na externa (periosteal) na radiografia têm-se a impressão que o córtex foi deslocado ou empurrado, sem diminuição da espessura do córtex e presente em tumores de crescimento lento, geralmente benignos. A reação periosteal organizada descompensada tem características semelhantes à reação compensada, mas devido ao crescimento tumoral mais rápido que a produção óssea pelo periósteo, a camada cortical fica mais fina, gerando um aspecto radiográfico de insuflação relacionada a tumores benignos. A reação periosteal desorganizada é típica de tumores malignos ou muito agressivos, em que a destruição do córtex deixa apenas alguns fragmentos de periósteo íntegros que produzem osso de forma limitada – três imagens radiográficas representam este tipo de reação. O triângulo de Codman se forma pelo progressivo deslocamento do periósteo a partir da borda do córtex em um polo, enquanto o outro ainda está preso ao córtex. Assim, por esse deslocamento desequilibrado ocorre a formação de uma imagem triangular de osso reacional em uma extremidade do tumor. A imagem em casca de cebola é produzida por faixas paralelas de osso reacional produzido em diferentes momentos e dispostas paralelamente no sentido longitudinal do osso – imagem relacionada ao Sarcoma de Ewing, mas pode aparecer em outros tumores malignos e na osteomielite. A imagem dos raios de sol Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 2 ocorre quando fragmentos menores de periósteo ao serem deslocados pelo tumor deixam um rastro de osso reacional como se fosse um cometa – imagem relacionada ao osteossarcoma, mas pode aparecer na osteomielite. Em tumores benignos agressivos também pode-se encontrar expansão, abaulamento, afilamento, como por exemplo nos endocondromas e nos cistos aneurismáticos. Reação óssea Achado radiográfico Tipo de tumor Esclerose marginal Linha de osso denso (branca) Tumores de crescimento lento e de caráter pouco agressivo Espessamento cortical Adensamento do córtex com imagem em fuso Osteoma osteoide Reação periosteal organizada compensada Impressão que o córtex foi deslocado ou empurrado Tumores de crescimento lento, geralmente benignos Reação periosteal organizada descompensada Aspecto de insuflação Tumores benignos Reação periosteal desorganizada Triângulo de Codman Imagem triangular de osso reacional em uma extremidade do tumor Tumores malignos ou muito agressivos Casca de cebola Faixas paralelas de osso reacional Sarcoma de Ewing, outros tumores malignos e na osteomielite Raios de sol Rastro de osso reacional como se fosse um cometa Osteossarcoma e osteomielite A ultrassonografia ajuda a diferenciar tecido cístico de tecido sólido, enquanto que a tomografia computadorizada permite a visualização de ossificação heterotópica, integridade cortical, metástases, parede do cisto ósseo aneurismático, calcificações suspeitas, nidus do osteoma osteoide, entre outros. A cintilografia óssea é útil na avaliação das metástases, mas pode ser negativa em tumores como granuloma eosinofílico, mieloma múltiplo, carcinoma de células renais e nos sarcomas intensamente anaplásicos. A ressonância magnética é importante para o estadiamento local, permitindo visualização de tamanho, extensão, relação anatômica com partes moles, extensão intramedular, doenças extraósseas, relação com estruturas neurovasculares, entre outros – imagem ao lado permite a comparação do mesmo tumor visualizado pelo raio X e pela ressonância magnética. Utiliza-se a ponderação em T1 para visualizar tecido adiposo e medula óssea, enquanto que, T2 pode ser usada para observação de fluidos. Como exames laboratoriais pode-se realizar hemograma, VHS e proteína C reativa para avaliar e afastar a presença de quadros como infecção, leucemia, linfoma e histiocitose, que podem ser diagnósticos diferenciais. Atenção ao sarcoma de Ewing que simula a osteomielite, cursando com febre e sinais flogísticos. Como diagnóstico diferencial tem-se algumas lesões não tumorais, como fraturas por stress, miosite ossificante, doença de Paget, tumores marrons, infarto ósseo, distúrbios sinoviais, osteomielite aguda, entre outras. Alterações laboratoriais Tumores Eletroforese e proteína de Bence Jones Mieloma múltiplo Hipercalcemia Metástases e mieloma múltiplo Fosfatase alcalina Aumentada em metástases, alterações metabólicas, osteossarcoma, doença de Paget, sarcoma de Ewing e linfoma Creatinina e ureia Tumores de origem renal Paratormônio (PTH) Tumores marrons do hiperparatireoidismo Para estadiamento dos tumores pode-se utilizar os padrões de comportamento (Grau/Topografia/Metástase) e a classificação de Enneking. O estadiamento tem como propósito descrever os riscos progressivos de recorrência local e metástase à distância, além de estratificar os estágios e fornecer substratos para os tratamentos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Prote%C3%ADna_de_Bence_Jones Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino3 Classificação GTM Graduação G0 (benigno) G1 (baixo grau) G2 (alto grau) Clínica Sem metástases Crescimento lento com raras metástases Crescimento rápido, metástases frequentes Radiográfica Bem delimitada Com invasão indolente Destrutiva Histológica Bem diferenciado Diferenciação moderada (algumas mitoses 1-4) Pouca diferenciação (muitas mitoses > 5) Topografia T1 (intracompartimental) T2 (extracompartimental) Metástases Classificação de Enneking Benignos B1 (latente) Intracapsular, assintomático, achado incidental com imagem bem definida com esclerose ao redor, sem erosão ou destruição cortical e não requer tratamento B2 (benigno ativo) Intracapsular, crescimento ativo, pode ter sintomas e ser expansivo, com margens bem definidas, geralmente cortical fina Tratamento consiste em realização de curetagem, como um cisto ósseo aneurismático B3 (benigno agressivo) Extracapsular, agressivo, normalmente ultrapassa a cortical Tratamento consiste em curetagem extensa ou ressecção, como tumor de células gigantes com metástase e alta recidiva Malignos IA Baixo grau, intracompartimental e sem metástase Massas indolores de crescimento lento por erosão Raio X com lesões similares e menos agressivas que B3, com halo de esclerose, triângulo de Codman, entre outros Histologia com células bem diferenciadas, poucas mitoses, moderadas atipias, necrose, hemorragia e invasão vascular Interrupções na pseudocápsula Metástases para nódulos são infrequentes e pulmonares são raras, tardias e únicas IB Baixo grau, extracompartimental e sem metástase IIA Alto grau, intracompartimental e sem metástase Lesões destrutivas, sintomáticas e podem ser associadas a fraturas patológicas Crescem rápido e estimulam a formação de muito osso reativo Se tornam rapidamente extracompartimentais e envolvem feixes vásculo-nervosos Cruzam a placa de crescimento Ao raio-X apresenta margens indefinidas, destruição cortical importante, invasão de tecidos moles e cintilografia com concentração além das margens (skip metastasis) Na histologia tem-se alto índice célula/matriz, matriz imatura, mitoses abundantes, invasão vascular, necrose e destruição dos tecidos IIB Alto grau, extracompartimental e sem metástase III Qualquer grau, qualquer localização e com metástase regional ou distante Disseminação linfática: sarcomas ósseos e de tecidos moles Disseminação sanguínea: envolvimento pulmonar precoce. Uma metástase não pulmonar apresenta pior prognóstico Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 4 Nos tumores grau III, como exemplos de carcinomas de disseminação linfática tem-se sarcomas ósseos e de tecidos moles, enquanto que por disseminação sanguínea apresenta envolvimento pulmonar no estágio precoce e envolvimento ósseo em estágio tardio – uma metástase não pulmonar tem pior prognóstico. A biópsia deverá ser planejada de acordo com o tratamento cirúrgico após avaliação clínica, laboratorial e imagem. O trajeto da biópsia é considerado contaminado, devendo evitar incisões transversas e violar apenas um compartimento. Se necessário perfurar o osso, optar por um acesso oval ou circular para diminuir a chance de fraturas patológicas, além de promover uma hemostasia rigorosa, já que o hematoma pode disseminar as células tumorais – principalmente condrossarcoma. Os avanços nos diversos campos da medicina permitem o salvamento do membro em alguns casos, devendo considerar fatores como: influência do tratamento escolhido na sobrevida, morbidade a curto e longo prazo, função do membro em comparação à prótese, consequências psicossociais, entre outros. Em relação às margens cirúrgicas pode-se ter uma abordagem: → Intralesional: ressecamento ou curetagem dentro da área reacional, em que a margem está dentro do tumor e ele pode ser retirado em fragmentos. Pode ser feita em tumores benignos sintomáticos em que teria que sacrificar estruturas importantes e em pacientes paliativos com metástase. → Marginal: ressecção de toda área reacional em que o plano é da pseudocápsula e pode conter células viáveis. É usada na maioria dos tumores benignos e malignos de baixo grau. → Ampla: retirada da área reacional associada a ressecção de tecidos saudáveis ao redor, em que o plano é o tecido normal e a dissecção vai além da zona reacional. Usada em tumores malignos de alto grau. → Radical: ressecção de todo o compartimento em casos de tumores malignos de alto grau, pouco utilizada hoje em dia. A curetagem pode ser usada em tumores benignos com alta taxa de recorrência local, exigindo uma janela óssea do tamanho da lesão, retirando fragmentos com uma cureta ou com o instrumento power burr. A curetagem estendida inclui o uso de adjuvantes para remover as células tumorais, como nitrogênio líquido, fenol 5%, argônio, bisturi elétrico, entre outros. A fenolização promove necrose dos tecidos adjacentes à lesão, aumentando a segurança do procedimento e diminuindo o risco de recidiva local. A eletrocauterização é a queima dos tecidos com o bisturi elétrico, podendo ampliar a margem em até 1 cm. A ressecção associada a reconstrução pode ser empregada em tumores malignos e benignos agressivos, podendo reconstruir com osso autólogo, osso heterólogo, substitutos ósseos, endopróteses, irradiação extracorpórea seguida de reimplante, entre outras técnicas. Cada caso deve ser analisado, verificando a necessidade de amputação, como em má resposta à quimioterapia, acometimento do feixe neurovascular, fratura patológica, infecção, perda muscular intensa, entre outras indicações. O objetivo da radioterapia é gerar o maior efeito no tumor com o mínimo de dano celular possível, em que a maioria dos tumores malignos ósseos é radiorresistente – exceto tumores de células medulares incluindo mieloma, linfoma e sarcoma de Ewing. Os carcinomas metastáticos para ossos, com exceção do renal, em geral são sensíveis a radioterapia. A radioterapia também pode ser usada na diminuição de recidivas e na redução do tumor primário como terapia neoadjuvante (antes da cirurgia para reduzir o tamanho do tumor). A quimioterapia pode ser usada em lesões de alto grau e com alto índice de mitose, como osteossarcoma de alto grau, fibrohistiocitoma maligno e rabdomiossarcoma. Não é útil em lesões cartilaginosas e malignas de baixo grau, mas pode ser usada como terapia neoadjuvante para redução do tumor primário. De acordo com a classificação de Huvos e Ayala pode-se prever o prognóstico de cada lesão de acordo com a avaliação histológica da efetividade – quanto maior a necrose melhor o prognóstico. → Grau I: mínimo ou nenhum efeito da quimioterapia pré-operatória no rumor; → Grau II: 50 a 90% de necrose; → Grau III: 90 a 99% de necrose com focos esparsos de tumor viável; → Grau IV: nenhuma área de tumor viável. Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 5 Em metástases de origem desconhecida deve-se fazer toda a investigação antes da biópsia, já que a lesão pode ser primária do osso e a técnica de biópsia ser outra, com uma lesão mais acessível. Se câncer renal, considerar embolização prévia para evitar sangramento e em casos de mieloma o diagnóstico é laboratorial. O diagnóstico patológico tem mais acurácia se somado a exames, de modo que o cirurgião e o patologista ficam mais seguros do diagnóstico de metástase após a avaliação completa. Dentre os achados pode-se ter lesões pseudotumorais, tumores formadores de osso, tumores formadores de cartilagem, tumores medulares, tumores de outros tecidos conectivos, metástases e tumores de células gigantes. Lesões pseudotumorais As lesões pseudotumorais não são consideradas neoplasias verdadeiras, já que não possuem características anatomopatológicas específicas com células neoplásicas. Na maioria das vezes se formam por estímulometabólico ou hiperatividade de células, como os osteoclastos. Cisto ósseo simples (A): de causa desconhecida, é uma lesão em cavidade única, radiotransparente e bem delimitada, respeitando a cortical óssea e com halo de esclerose nas margens da lesão. Geralmente tem localização metafisária e surge na infância ou adolescência, com uma fratura como primeira manifestação em 70% dos casos. O diagnóstico é presuntivo pelo raio X, mas uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem estadiar a lesão. Cisto ósseo aneurismático (C): é uma lesão dolorosa lítica, metafisária e que insufla a cortical adjacente, de rápido crescimento e sem halo de esclerose. Apresenta cavidades de conteúdo hemático do trabeculado ósseo, formando traves osteofibrosas intralesionais. No estudo anatomopatológico há típica presença de lacunas de sangue, limitadas por septos, osteoclastos com infiltrado inflamatório e células gigantes multinucleadas, sem sinais de malignidade. Displasia fibrosa (A e B): lesão pseudotumoral osteofibrosa, benigna e caracterizada pela substituição do osso por um tecido fibroso permeado por um trabeculado de tecido ósseo imaturo. Frequentemente assintomática, essa lesão pode ser diagnosticada na idade adulta por exame radiológico ocasional, por deformidade óssea gradual, ou sob a forma de fratura patológica ainda na infância. Com a idade, a lesão tende a deformar gradativamente os ossos longos acometidos. Radiologicamente, são lesões radiotransparentes com aspecto intralesional característico de “vidro fosco”, de limites precisos e zona de transição estreita, às vezes com halo de esclerose reacional caracterizando o denominado “sinal do anel”. Infarto ósseo (A e B): pode ter causas como etilismo, doenças do colágeno, uso de glicocorticoides ou doenças hematológicas, atingindo todas as faixas etárias. As lesões são caracterizadas pela necrose do osso medular e perda do trabeculado ósseo normal, com consequente esclerose localizada. Assintomático até que cause comprometimento articular, o infarto ósseo frequentemente é achado diante de investigação por dor articular adjacente. Na radiografia simples há presença de esclerose óssea medular focal ou difusa em um ou mais ossos. É frequente o envolvimento metafisário periarticular. São lesões mistas, com áreas líticas permeadas com áreas de esclerose, restritas à medular óssea, que não comprometem a cortical ou induzem reação periosteal. Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 6 Tumores formadores de osso Osteossarcoma: é a segunda neoplasia óssea primária mais frequente, acometendo cerca de 1 a 3 milhões de pessoas por ano. É um tumor ósseo maligno caracterizado pela produção de osteoide pelas células malignas. É mais comum em homens, sem influência étnica e com preferência por locais de crescimento rápido – fêmur distal ou tíbia proximal. A manifestação está ligada com a faixa etária, sendo mais comum os de alto grau de 10 a 20 anos, parosteal de 30 a 40 anos e secundários em idosos. Os osteossarcomas podem ser primários, como convencional, intramedular de baixo grau, parosteal, periosteal, alto grau de superfície, teleangiectásico e pequenas células, enquanto que os secundários se desenvolvem por doença de Paget ou após radioterapia (raros em jovens, em que 50% dos casos acontecem em > 50 anos). Além disso, os osteossarcomas também podem ser classificados de acordo com seu local de origem em intramedulares ou de superfície. 1) Osteossarcoma convencional ou clássico: é o tipo mais comum de osteossarcoma de alto grau, em que a lesão inicial geralmente é intramedular. A histologia pode ser primariamente osteoblástica, fibroblástica ou condroblástica, tendo lesão de alto grau com hipercelularidade e pleomorfismo nuclear. 2) Osteossarcoma intramedular de baixo grau: é raro, de curso indolente e aspecto radiológico e histológico relativamente benigno. A histologia apresenta atipias leves produzindo trabéculas ósseas irregulares e lesão inicial intramedular. 3) Osteossarcoma periosteal ou condroblástico: pode ser confundido com o condrossarcoma, sendo um tumor de superfície, de malignidade intermediária e produtor de cartilagem. Se localiza preferencialmente em diáfises de fêmur e tíbia e em pacientes de idade mais avançada. Na histologia apresenta cordões de células fusiformes produtoras de osteoide irradiando entre lóbulos de cartilagem. 4) Osteossarcoma parosteal ou justacortical: é de baixo grau e com lesão inicial na superfície, tendo apresentação típica como uma massa ossificada e lobulada no aspecto posterior do fêmur distal, com crescimento lento. Sua histologia é semelhante ao intramedular de baixo grau e pode ter como diagnóstico diferencial miosite ossificante e osteocondroma. 5) Osteossarcoma de alto grau de superfície: é o tipo menos comum de osteossarcoma, um tumor altamente agressivo emergindo da superfície e com invasão medular precoce. No raio X apresenta lesão invasiva, sem bordas definidas e histologia semelhante ao convencional. 6) Osteossarcoma teleangiectásico: lesão puramente lítica com aparência invasiva ou insuflativa ao raio X, tendo aspecto macroscópico de cisto cheio de sangue com pequena porção sólida. A histologia se assemelha ao cisto ósseo aneurismático, com espaços cheios de sangue separados por septos finos e aparência francamente maligna das células dos septos. 7) Osteossarcoma de pequenas células: é raro e se assemelha ao tumor de Ewing e linfoma, com presença de pequenas células azuis e com osteoide que se assemelha ao matéria fibrina-like presente do tumor de Ewing – faz-se necessário imunohistoquímica para realização de diagnóstico diferencial. O osteossarcoma se manifesta com dor progressiva na maioria dos osteossarcomas de alto grau, essa que é resultante de microinfartos em decorrência do crescimento rápido do tumor e da vascularização inadequada. Os tumores de baixo grau geralmente são diagnosticados na presença de uma massa indolor. Uma dor noturna tem alta especificidade para neoplasia maligna, mas baixa sensibilidade, já que apenas 25% dos casos possuem essa queixa. Ao raio X tem-se uma lesão agressiva na metáfise de osso longo, com um aspecto misto gerado por áreas de produção e destruição óssea. É uma lesão permeativa, de bordas mal definidas e com reação periosteal manifestada por raios de sol ou triângulo de Codman. A ressonância magnética é importante para avaliar a extensão do tumor Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 7 dentro do osso e partes moles, observando a relação com estruturas anatômicas adjacentes. A tomografia computadorizada permite o estadiamento da lesão e a cintilografia promove avaliação de metástases ósseas. De modo geral, o tratamento é feito com quimioterapia neoadjuvante inicial, seguido por cirurgia com margem oncológica ou radical e, posteriormente, quimioterapia adjuvante. Se o tumor for de baixo grau pode-se realizar uma ressecção com margem oncológica sem quimioterapia. Tumores formadores de cartilagem Condrossarcoma: representa 9% dos casos de neoplasias ósseas primárias malignas, tendo pico entre 40 e 60 anos, de preferência em homens e com localização em pelve, fêmur e úmero proximal, sem relação com etnia. Apresenta-se com dor progressiva ou massa palpável. O condrossarcoma secundário é aquele que ocorre em local de lesão cartilaginosa benigna preexistente, como síndrome de Ollier (25%), síndrome de Mafucci (25 a 90%) e osteocondroma. É o principal tumor maligno nas mãos, apesar de não ser uma área de frequente acometimento. Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 8 No raio-X apresenta calcificações do tipo pipoca, salpicadas ou no formato de vírgula, além de áreas de destruição óssea, erosão cortical e reação periosteal. Tem-se uma lesão emergindodo canal medular com matriz calcificada irregular. Na histologia tem-se células malignas com matriz cartilaginosa abundante, pensando em osteossarcoma condroblástico se tiver presença de osteoide. Tem hipercelularidade com núcleos grandes, muitas células binucleadas, padrão permeativo e aprisionamento de trabéculas. O tratamento do condrossarcoma de baixo grau é controverso, podendo ser feita apenas curetagem ampla e tratamentos adjuvantes intraoperatórios. O de alto grau deve ser tratado com ressecção por margem oncológica, sendo que as células cartilaginosas podem sobreviver com baixa vascularização, tendo alta taxa de recorrência por contaminação intraoperatória. A realização de quimioterapia e radioterapia não apresenta resposta. Osteocondroma: é o tumor benigno mais comum do esqueleto, podendo ser séssil ou pediculado, único ou múltiplo – relacionado com a osteocondromatose familiar. O paciente não se queixa de dor, mas de uma passa óssea que cresce próximo a uma articulação, especialmente no joelho, com posterior limitação de movimento e sintomas compressivos de nervos periféricos. Consiste em uma capa de tecido cartilaginoso que produz osso normal como se fosse uma cartilagem de crescimento e forma “exostoses” (protuberâncias ósseas na região metafisária). O crescimento ocorre durante a infância e adolescência e cessa na maturidade esquelética, podendo voltar a crescer no adulto, acompanhado de dor espontânea e reação inflamatória local. O tratamento do osteocondroma consiste da ressecção da exostose tomando-se o cuidado de não deixar fragmentos da capa de cartilagem e com cuidado para não lesar a cartilagem de crescimento que quanto mais jovem o paciente mais próxima estará do tumor. A transformação para condrossarcoma é rara, ocorrendo em até 5% dos casos de osteocondromatose múltipla. Endocondroma: é um tumor benigno caracterizado pela formação de tecido cartilaginoso hialino maduro, se manifestando em lesões solitárias ou múltiplas – mais prevalente nos ossos das mãos, pés e fêmur proximal. São características as lesões líticas, ovoides, com pontos de calcificação intralesional, e sem halo de esclerose adjacente. Nos ossos da mão podem insuflar a cortical, mas sempre respeitando os limites da cortical. Complementação diagnóstica com exames de RM e TC são úteis quando há dúvida diagnóstica e para confirmar presença de calcificação intralesional. Condroblastoma ou tumor de Codman: é um tumor ósseo benigno-agressivo produtor de tecido cartilaginoso na epífise do esqueleto imaturo. Apresenta-se clinicamente por dor periarticular e aumento de volume local em jovens com placa de crescimento aberta, em que a tíbia distal, o fêmur proximal e o úmero proximal são os locais mais frequentes de apresentação. Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 9 Na radiografia são vistas lesões epifisárias osteolíticas bem delimitadas, com zona de transição estreita, halo de esclerose reacional, que geralmente não rompe a cortical e com pontos de calcificação no interior da lesão, caracterizando a linhagem cartilaginosa deste tumor benigno. O tratamento mais eficaz é a curetagem com enxertia óssea, adotando os devidos cuidados para não lesar a placa de crescimento ou a cartilagem da articulação. Quando realizada a curetagem simples, sem enxertia, há um maior risco de recidiva local. Fibroma condromixoide: é um tumor ósseo benigno agressivo formador de tecido cartilaginoso, com proliferação de tecidos mixoide e fibroso. Corresponde a 0,5% de todos os tumores ósseos primários, pode acometer todas as faixas etárias e é mais comum entre adolescentes e adultos jovens. O quadro clínico do paciente consiste de dor progressiva no segmento afetado, aumento de volume local, podendo apresentar outros sinais inflamatórios. Na radiografia pode ter aspecto variado, mas frequentemente se apresenta como lesão metafisária, lítica, excêntrica, insuflativa, zona de transição curta e com halo de esclerose reacional. Pontos de calcificação intralesional não constituem achado frequente. O diagnóstico diferencial se faz principalmente com o cisto ósseo aneurismático, e em alguns casos com tumor de células gigantes. Na dúvida de estarmos diante de uma lesão mais agressiva, o estadiamento e a biópsia são a conduta mais segura. Tumores medulares Sarcoma de Ewing: é a malignidade primária óssea mais comum em < 10 anos e a segunda mais comum em < 30 anos, sendo a quarta malignidade óssea mais comum com maioria de pacientes entre 5 a 25 anos. Dentre os locais mais comuns de manifestação tem-se metáfise de ossos longos com extensão para a diáfise, ossos chatos da cintura escapular ou pélvica e raro em coluna, pés e mãos. É mais comum em homens e raro em negros e orientais. Tem relação com tumores neuroectodérmicos (PNE) e com o cromossomo Philadelphia. O quadro clínico geralmente conta com dor de início insidioso e aumento de volume da região afetada, acompanhados de sinais inflamatórios como febre baixa, astenia, eritema e edema local. Frequentemente apresenta leucocitose, anemia normocrômica/normocítica e aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS), o que também é comum na osteomielite – além de ter aspirado de agulha com secreção semelhante ao pus, devendo mandar sempre para a cultura. A dosagem de LDH está aumentada e é importante índice de evolução do tumor, sendo que a fosfatase alcalina aumenta pela elevação da atividade óssea. Ao raio-X lesão em ossos longos geralmente é salpicada em padrão de roído de traça com características permeativa no osso. A arquitetura do osso é mantida, tendo áreas líticas ao lado de áreas blásticas e lesão destrutiva na diáfise com reação periosteal em casca de cebola e raios de sol. Em ossos chatos tem-se uma lesão destrutiva inespecífica. O raio-X e tomografia de tórax devem ser sempre pedidos, já que os pulmões se caracterizam como os sítios de metástase mais comuns nesses casos. A ressonância magnética sempre deve ser solicitada para avaliar extensão da lesão e acometimento de tecidos moles. A cintilografia é importante, já que os ossos são o segundo local mais comum de metástase, essa que é presente em 30% dos casos já no diagnóstico. Na histologia tem-se pequenas células azuis com pouca matriz intracelular, sendo diferenciada do tumor de pequenas células pela presença do antígeno CD99 na imunohistoquímica. Como diagnóstico diferencial pode-se ter osteomielite, linfomas, rabdomiossarcoma embrionário e carcinoma metastático de pequenas células. Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 10 O prognóstico depende de fatores como metástases a distância, tamanho da lesão primária e localização. O diagnóstico precoce exibe chance de cura em 75 a 80% dos casos, tendo 20% de sobrevida caso o diagnóstico aconteça em fase de metástase. O tratamento do tumor de Ewing divide-se em quimioterapia pré operatória, cirurgia e quimioterapia ou radioterapia pós operatória. O tratamento da lesão local é controverso, já que ele o tumor é radiossensível, mas apresenta melhores resultados com ressecção ampla. Desse modo, em lesões periféricas ressecáveis faz-se cirurgia com margens amplas, promovendo radioterapia em lesões centrais não ressecáveis. A radioterapia também pode ser utilizada como adjuvante após a ressecção. As recorrências apresentam mau prognóstico com sobrevida de 20% em 5 anos e sobrevida de 10% em 5 anos se presença de metástases a distância. Caso a recorrência ocorra dentro do primeiro ano, o prognóstico piora. Mieloma múltiplo: é a lesão neoplásica primária mais frequente do osso, prevalente em pacientes negros entre 50 e 70 anos. Clinicamente, a queixa inicial é de dor óssea, muitas vezes generalizada, acompanhada de palidez cutaneomucosa, e alterações na função renal nosestágios mais avançados. Do ponto de vista laboratorial, pode ser comprovada anemia importante, elevação da velocidade de hemossedimentação, com pico monoclonal da fração gamaglobulina na eletroforese de proteínas séricas. O diagnóstico é completado com o mielograma, que revela hiperplasia da série plasmocitária. Os achados radiológicos são de osteopenia difusa associada a lesões osteolíticas com o aspecto típico de “saca-bocado”, lesão endosteal, de Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 11 zona de transição ampla, por vezes mal definida, limites imprecisos e sem reação periosteal, que pode evoluir com fratura patológica, com acentuação da dor local de forma aguda. O plasmocitoma é um tumor histologicamente idêntico ao mieloma múltiplo, mas na forma localizada, sem repercussões sistêmicas e sem alteração da eletroforese de proteínas, cujo diagnóstico só é possível pela biópsia. Tumores de outros tecidos conectivos Fibroma não ossificante: é caracterizado por lesões radiotransparentes justacorticais, de aparecimento em crianças e adolescentes, com clara delimitação por halo de esclerose, sem romper o osso cortical, sem reação periosteal, e com extensão a medular óssea. O defeito fibroso cortical é lesão histologicamente idêntica, e radiologicamente a lesão não se estende a medular óssea, sendo mais bem delimitada na cortical, próximo à placa de crescimento, e pode estar presente em até 30% da população. São lesões assintomáticas e tendem a calcificar com a idade. Podem ser múltiplas ou isoladas, mono ou poliostóticas. O diagnóstico diferencial pode ser feito com displasia fibrosa, cisto ósseo simples ou mesmo fibroma condromixoide. Algumas vezes encontramos essas lesões incidentalmente, comumente em estudos de RM para pesquisa de lesão meniscal ou ligamentar. Os achados radiológicos do fibroma não ossificante são típicos e praticamente não se indica biópsia óssea para confirmação diagnóstica. Metástases Frequentemente o tecido ósseo é sede de lesão metastática, que além de traduzir pior prognóstico pode evoluir com fratura patológica e piora da qualidade de vida e do tratamento do doente. As metástases ósseas podem ter padrões osteolíticos, osteoblásticos ou misto. É essencial que diante de uma lesão radiologicamente agressiva seja feito criterioso estadiamento sistêmico e local, não se poupando exames complementares como TC, RM e cintilografia. Caso o sítio primário não seja diagnosticado no estadiamento, a biópsia da lesão para o exame histopatológico e imuno- histoquímico é fundamental. Tumor de células gigantes Tumor de células gigantes: é um tumor benigno agressivo, caracterizado por um tecido muito vascularizado, constituído por estroma de células fusiformes ou ovoides e pela presença de numerosas células gigantes do tipo osteoclasto, uniformemente distribuídas por todo tecido neoplásico. A faixa etária do acometimento localiza-se entre os 20 e 40 anos, geralmente em pacientes com placa de crescimento fechadas. Princípios básicos dos tumores ósseos – prof Robson Otino 12 Localiza-se principalmente nas epífises dos ossos longos, como epífise distal do fêmur, proximal da tíbia e distal do rádio (50% dos casos ao redor do joelho). A queixa principal é dor e aumento de volume, podendo haver derrame articular e sinovite. A fratura patológica pode ser o primeiro achado e quando o tumor se localiza no esqueleto axial frequentemente os distúrbios neurológicos são a primeira manifestação. Na radiografia as são lesões excêntricas, líticas agressivas que destroem a epífise, podendo apresentar trabeculados ou pseudotrabeculados internos. Com a evolução o tumor insufla o osso cortical epifisário, invade a região metafisária e provoca fratura da extremidade óssea. Como principais diagnósticos diferenciais tem-se cisto ósseo aneurismático, histiocitoma fibroso benigno, tumor marrom do hiperparatireoidismo, cisto ósseo justarticular e o condrossarcoma. O objetivo do tratamento é remover todo o tumor e preservar ou restaurar a função da articulação adjacente. As opções são curetagem, ressecção/curetagem ampliada, ressecção ampla, amputação (múltiplas recorrências ou degeneração maligna) radioterapia e embolização. Apresentam alta taxa de recidiva local quando tratados com curetagem simples. Existe chance de apresentar metástase de cerca de 2 a 3 % sendo o principal sítio o pulmão. As metástases correm principalmente após recidivas locais e invasão de partes moles, sendo assim a qualidade da cirurgia extremamente importante no prognóstico.