Prévia do material em texto
Sabrina Angheben |Ginecologia e Obstetrícia SANGRAMENTO OBSTÉTRICO Primeira metade da gestação - Até 20ª semana gestacional; - Principais etiologias: - Risco de abortamento; - Doença trofoblástica gestacional; - Gravidez ectópica; - Outras causas: trauma, infecções, pólipos e ectopias; ABORTAMENTO CRITÉRIOS - Interrupção da gestação antes de atingida a viabilidade do conceito; - Feto pesando menos de 500g ou; - Idade gestacional inferior a 20 semanas; - Comprimento igual ou inferior a 28 cm; CAUSAS - Principal (50%): alterações cromossômicas; - Especialmente trissomia do 16; - Outros fatores: - Hormonais (insuficiência de corpo lúteo); - Alterações do ambiente uterino (mioma, malformações, sinéquias, endometrites); - Infecções maternas (TORCHS); - Patologias maternas descompensadas (DM, doença da tireóide, LES, síndrome do anticorpo antifosfolipídio); - Insuficiência istmocervical; - Tabagismo; - Consumo de álcool; - Traumas físicos. + Incompetência istmocervical: - Geralmente ocorre expulsão do feto após a 16ª semana; - Trabalho de parto é comumente curto e indolor; - TTO: - Circlagem do colo uterino pela técnica de MacDonald: sutura cervical na junção cérvico-uterina com fio não absorvível - Realizar entre 12-16ª CLASSIFICAÇÕES ● Quanto à idade gestacional - Abortamento precoce: <12ª - Abortamento tardio: entre 12ª e 20ª ● Quanto a periodicidade - Habitual: >/=3 consecutivos - Importante reconhecer etiologia: - Alterações cromossômicas; - Anormalidades uterinas; - Incompetência istmocervical; - Doenças da tireóide, DM, SOP e hiperprolactinemia; - Insuficiência do corpo lúteo; - Síndrome do anticorpo antifosfolipídio; - Trombofilia; - Baixa reserva ovariana; - Esporádico: quando não se enquadra em habitual; ● Quanto ao quadro clínico - Ameaça de abortamento O abortamento não ocorreu, porém é muito provável de acontecer. - Abortamento inevitável O material ainda não foi expelido, porém é inevitável. Pode ser por colo pérvio ou irregularidade do saco gestacional. - Abortamento incompleto Há sinais de resto intraútero (hiperecogênicos), seja com colo fechado ou aberto. - Abortamento completo Todo o material foi expelido, o colo está fechado e a USG está normal, sem gestação tópica ou ectópica. - Abortamento infectado (séptico) Sinais flogísticos e infecciosos, como febre e odor. - Abortamento retido Alguma intercorrência se deu há mais de 4 semanas, ou seja, não se desenvolveu o embrião ou o embrião está com BCF zerada. CONDUTA ● Ameaça de abortamento: - Conduta expectante; - Abstinência sexual; - Repouso relativo; - Antiespasmódico em caso de cólica; ● Abortamento inevitável ou incompleto: Sabrina Angheben |Ginecologia e Obstetrícia - Facilitar o esvaziamento uterino; ● Abortamento completo: - Cuidar da gestante e acompanhamento ambulatorial; ● Abortamento infectado: - Antibioticoterapia imediata; - Esvaziamento uterino; ● Abortamento retido: - Esvaziamento uterino; - Antes 12 semanas: AMIU ou curetagem; - Após 12 semanas: misoprostol e/ou ocitocina + curetagem; ● Métodos de esvaziamento uterino: - AMIU (aspiração manual intrauterina); - Até 12 semanas; - Aspiração à vácuo; - Curetagem uterina; - Quando há impossibilidade de realização da AMIU ou; - Presença de grande quantidade de material intraútero; - Microcesariana: esvaziamento do útero por via alta; - Reservada aos raros casos de gestações mais avançadas que não se resolveram por via vaginal e que apresentam hemorragias volumosas; - Tratamento clínico: - Perfusão venosa de ocitocina; - Misoprostol no fundo do saco vaginal após 12 semanas; GRAVIDEZ ECTÓPICA - Qualquer implantação do zigoto fora da cavidade uterina; - 95-97% tubária; - Ampular > ístmica; - Cornual > Abdominal > Ovarianas > cervicais; FATORES DE RISCO - Alterações da anatomia ou fisiologia tubária, no geral → atrasa o transporte do zigoto; - Alterações do endométrio; ● Alto risco: - Salpingite e endossalpingites; - Alterações anatômicas da tuba; - DIU; - Prenhez ectópica anterior; - Endometriose; - Cirurgia tubária prévia; - Exposição intraútero ao Dietilestilbestrol; ● Médio risco: - Infertilidade tratada com indutores de ovulação; - Múltiplos parceiros sexuais; - Infecção ginecológica antiga, como tuberculose genital; ● Baixo risco: - Cirurgia abdominal prévia; - Uso frequente de duchas vaginais; - Tabagismo; - Início da atividade sexual com menos de 18 anos; - Fertilização in-vitro; QUADRO CLÍNICO - Paciente em idade reprodutiva com atraso ou irregularidade menstrual + dor pélvica → sempre tratar como hipótese. - 50% → sangramento discreto; - Outros sinais da gestação; - Massas anexiais palpáveis; - Sinal de Proust (grito de Douglas): - Durante toque vaginal, presença de dor à mobilização do colo uterino, além de abaulamento e dor no fundo de saco de Douglas; ● Gestação ectópica rota: - 30% dos casos de gestação ectópica; - Hemorragia abdominal abundante; - Dor abdominal → intensa e aguda no fossa ilíaca e hipogástrio; - Choque; - Sinais de irritação peritoneal: - Sinal de Laffon - Dor no ombro por irritação do nervo frênico - Sinal de Blumberg - Irritação peritoneal - Sinal de Cullen - Equimose periumbilical - Sinal de Proust DIAGNÓSTICO Clínica + Beta HCG positivo + USG - Beta > 1500 mUI/mL; - Local de implantação não visualizável ou visualizado fora SG e BCF na região axial; Sabrina Angheben |Ginecologia e Obstetrícia CONDUTA ● Instabilidade hemodinâmica - Laparotomia e, como ocorre rotura tubária (geralmente) → salpingectomia ● Estabilidade hemodinâmica - Em caso de rotura tubária: - Salpingectomia videolaparoscopica; - Sem rotura + desejo de nova gestação + massa <5cm: - Salpingectomia linear + metotrexate ● Sobre metotrexate: ○ É antagonista do ácido fólico que interfere na produção de purinas e pirimidinas, e consequentemente na síntese de DNA e RNA, impedindo a multiplicação celular. ○ Condições de indicação: ■ SG > 3,5cm ■ BCF zerada ■ Beta <5000 ● Estabilidade hemodinâmica e com níveis decrescentes de beta: - Massa deve ser <3,5cm; - Ideal beta <1000; - Ausência de sangramento; + Laparoscopia: + Gestação ectópica íntegra ou ectópica rota com estabilidade hemodinâmica (se não houver indicação de tratamento clínico com MTX) + Laparotomia: + Gestação ectópica rota com instabilidade hemodinâmica. DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL ● Benigno: ○ Mola hidatiforme completa; ○ Mola hidatiforme incompleta; ● Malignas: ○ Mola invasora; ○ Coriocarcinoma; ○ Tumor trofoblástico; FATORES DE RISCO - Idade >40 anos; - Intervalo interpartal curto; - SOP; - Aborto prévio; - Mola hidatiforme anterior; - FIV; - Tabagismo; - ACO; - Radiação ionizante; FATOR DE PROTEÇÃO - Filho anterior normal; MOLA HIDATIFORME COMPLETA - É caracterizada pela degeneração hidrópica de todas as vilosidades coriais. - Quadro clínico: - Sangramento vaginal intermitente e progressivo em aspecto de suco de ameixa; - Útero amolecido e maior que IG; - Útero em sanfona (cresce e diminui); - Cistos anexiais bilaterais; - Hiperêmese gravídica; - hCG muito elevado; - Pré-eclâmpsia precoce; - Formação de vesículas hidatiformes; - USG: tempestade de neve sem feto presente; - Sintomas gravídicos exacerbados; - Fisiopatologia: - Óvulo vazio + 1 espermatozóide que se duplica → 46 XX; - Óvulo vazio + 2 espermatozóides - RARO 46 XY; - Pode tornar-se maligna; Sabrina Angheben |Ginecologia e Obstetrícia MOLA HIDATIFORME INCOMPLETA - Apresenta duas populações distintas de vilosidades coriais: uma normal e outra com degeneração hidrópica; - Quadro clínico: - Similar, porém mais brando; - USG: pode-se observar feto. - Fisiopatologia: - 1 óvulo normal + 2 espermatozóides: - Triplóide 69XXX/69XXY/69XYY - Em casos raros, tetraplóide - Pode tornar-se maligna; DIAGNÓSTICO MOLA HIDATIFORME - Completa: comumente é clínico; - USG confere segurança ao diagnóstico; - Diagnóstico podeser confirmado pelo estudo anatomopatológico de material retirado de curetagem em um quadro supostamente de abortamento; TRATAMENTO - Esvaziamento uterino: - AMIU; - Curetagem; - Indução por misoprostol vaginal; - Histerectomia; - Histerectomia total profilática; - Enviar para análise histopatológica; - Rh neg: profilaxia de isoimunzação. - Acompanhamento do Beta-hCG: - Possível malignização; - Diminuição progressiva até gerar em 8-10 semanas; - Manter negativado por 6 meses; - ACO combinado; - Contraindicação de DIU. FATORES DE MALIGNIZAÇÃO - Elevação Beta-hCG (2 semanas consecutivas); - Estabilização do Beta-hCG (3 semanas consecutivas); - Ausência de negativação por 6 meses; - Metástases: - Principalmente vagina e pulmão; - USG: alteração intramiometrial mista; TIPOS HISTOLÓGICOS - Mola Invasora; - Coriocarcinoma; - Tumor trofoblástico do sítio placentário ● SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO - A partir da 20ª semana; - Principais etiologias: - Placenta prévia; - Descolamento prematuro de placenta; - Rotura uterina; - Rotura de vasa prévia; - Rotura do seio marginal; SOBRE IMPLANTAÇÃO PLACENTÁRIA - Tópica: inserção no sítio habitual, no segmento corporal da cavidade uterina. - Heterotópica: na matriz uterina, mas em local anômalo; - Ectópica: fora do útero; PLACENTA PRÉVIA - É heterotópica, sobre o orifício cervical interno, cobrindo total ou parcialmente; - Pode estar aproximado (<5 cm); - Ocorre após 28ª semana; - 4/1000 partos; ● PP completa ou central total: Recobre totalmente o OCI. ● PP parcial ou central parcial: Recobre parcialmente o OCI. ● PP marginal: O bordo placentário tangencia o OCI, sem ultrapassá-la; Até 5 cm de distância. Sabrina Angheben |Ginecologia e Obstetrícia ● Inserção baixa ou lateral: Segmento inferior do útero, porém o rebordo está a mais de 5 cm do OCI. FATORES DE RISCO - Idade; - Multiparidade; - Endometrite; - Abortamento provocado; - Curetagens prévias; - Cicatrizes uterinas prévias; - Grande volume placentário; - Tabagismo; RISCO DE MORBIDADE - Sangramento anteparto - 8x - Hemorragia intraparto - 2,5x - Hemotransfusão - 10x - Histerectomia puerperal - 33x QUADRO CLÍNICO - Hemorragia espontânea e indolor; - Sangramento inicia comumente ao final do segundo trimestre em diante; - Vermelho vivo; - Raramente se inicia com sangramento intenso; - Sangramento se exterioriza sempre e totalmente; - Suspeita: sangramento vivo, indolor e espontâneo (início e cessar súbito) - Sem demais sintomas EXAME FÍSICO - Tônus uterino normal à palpação; - Estática fetal alterada; - BCF normal; - Cardiotoco: boa vitalidade; - Especular: - Fonte hemorrágica do canal cervicovaginal; - NÃO realizar toque em suspeita ou confirmação; DIAGNÓSTICO - Clínico + USG transvaginal. CONDUTA Varia conforme a IG, intensidade do sangramento e tipo de inserção viciosa. - Hemorragia importante: - Interrupção - Hemorragia leve em gestação a termo: - Interrupção; - Hemorragia leve pré-termo: - Expectante em hospitalização; - Monitoramento fetal e avaliação da série vermelha; - MANDATÓRIO: corticóide para liberação de surfactente; ● Em caso de interrupção: - PP Total: SEMPRE cesariana, independente da vitalidade fetal. - PP parcial: cesárea, exceto em mulheres com parto próximo do fim, sangramento discreto e ausência de obstáculo importante. - PP marginal ou baixa: parto vaginal permitido - Acompanhar intensidade do sangramento - Amniotomia: permite insinuação e comprime segmento inferior uterino, parando sangramento. POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES - Atonia pós parto e hemorragia; - Infecção puerperal; - Laceração do trajeto; - Distócia de parto; - Parto prematuro; - Amniorrexe prematura; - Apresentação anômala; - Discinesias uterinas; - Acretismo placentário; ● Acretismo placentário: Aderência anormalmente firme à parede uterina; - Acreta: vilosidade penetra mais profundamente ao endométrio; - Alcança camada esponjoso; - Extração manual ou histere; - Increta: vilosidades penetram no miométrio; - Apenas histere; Sabrina Angheben |Ginecologia e Obstetrícia - Percreta: vilosidade alcança serosa, podendo perfurá-la. - Risco de hemorragia intraperitoneal; - Histerectomia; DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA CLASSIFICAÇÃO - Grau 0 - assintomática: diagnóstico retrospectivo - Confirmação histopatológica da placenta → hematoma; - Grau 1 - leve: sangramento vaginal sem dor - Grau 2 - intermediário: sangramento vaginal, dor abdominal e hipertonia uterina; - Feto vivo sem sofrimento; - Grau 3 - grave: óbito fetal.