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FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Stephane Juliana Pereira da Silva Larissa Daniela Costa São Paulo | 2017 ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE MANTENEDORA (IAE) Diretor Presidente Domingos José de Sousa Diretor Administrativo Élnio Álvares de Freitas Diretor Secretário Emmanuel Oliveira Guimarães ADMINISTRAÇÃO GERAL DO UNASP Reitor Martin Kuhn Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Tânia Denise Kuntze Pró-Reitor de Graduação Afonso Ligório Cardoso Pró-Reitor de Relações, Promoção de Desenvolvimento Institucional Allan Macedo de Novaes Pró-Reitor Administrativo Andrenilson Marques Moraes Secretário Geral Marcelo Franca Alves CAMPUS VIRTUAL Diretor Geral Martin Kuhn Gerente Acadêmico Everson Mückenberger Gerente Administrativo Andrenilson Marques Moraes Gerente de Produção Valcenir do Vale Costa PRODUÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO DELINEA TECNOLOGIA EDUCACIONAL Diretoria Executiva Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Margarete Lazzaris Kleis Supervisão do Projeto Camila Sayury Nakahara Renata Oltramari Coordenação do Projeto e de DE Josane Mittmann Mônica Guarezi Rodrigues Coordenação de Revisão Tiago Costa Pereira Coordenação de Design Gráfico Victor Américo Cardoso Projeto Gráfico Cassiana Mendonça Pottmaier Fernando Andrade Conteudista Stephane Juliana Pereira da Silva Larissa Daniela Costa Designer Educacional Cíntia Macedo Revisão Gramatical Tony Roberson de Mello Rodrigues Diagramação Fernanda Vieira Fernandes 4 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o CONHEÇA A DISCIPLINA Olá, prezado aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Fundamentos da Psicologia da Educação! A importância desta disciplina reside no fato de que você, futuro li- cenciado, terá como aliado conhecimentos com base científi ca que irão maximizar a aprendizagem dos seus educandos. Isso porque você pode- rá compreender como a aprendizagem se dá e como ela pode ser efi caz quando são considerados os princípios psicológicos. A Psicologia pode subsidiar várias ciências, dentre elas a Pedagogia. A Psicologia da Educação tem como objetivo colaborar para a refl exão so- bre as práticas educativas escolares. Para isto, estudaremos as teorias psi- cológicas contemporâneas aplicadas à educação. A Psicologia do Ensino é uma ramifi cação da Psicologia da Educação que se refere à educação institucionalizada (escolar). Os crescentes desafi os da sociedade atual exigem que os profi ssionais li- gados à educação conheçam os processos do desenvolvimento humano e entendam a natureza da aprendizagem signifi cativa. A formação desses profi ssionais deve torná-los agentes de transformação social, com capa- citação e habilidades para lidar com os diferentes contextos educativos. Seja bem-vindo e bons estudos! EMENTA A Psicologia no âmbito dos conhecimentos humanos. Princípios gerais e epistemológicos, as principais teorias da Psicologia e suas contribuições para a Educação. CAPÍTULO 3 MODELAGEM COMPORTAMENTAL E SEUS IMPACTOS NAS ÁREAS EDUCACIONAIS Objetivos Analisar as relações entre modelos comportamentalistas em práticas educativas, articulando noções de desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação. 6 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o NOSSO TEMA Neste capítulo falaremos sobre a compreensão das teorias comportamenta- listas sobre a aprendizagem. Destacaremos quais os aspectos que essas teorias consideram na compreensão da aprendizagem. Os comportamentalistas fa-lam da infl uência do ambiente para que o sujeito aprenda. Por isso, falaremos sobre qual é o ambiente favorável para que a aprendizagem esperada aconte-ça. Existem ainda alguns pressupostos que os educadores devem seguir para favorecer essa aprendizagem. Além disso, falaremos sobre o papel do aluno e do professor nesse processo, qual deve ser a postura de cada um segundo as teorias comportamentalistas. Apresentaremos as consequências que essa compreensão do processo de aprendizagem tem para as formas de educar, para a área da educação. Por fi m, faremos uma crítica ao que deve ser um ambiente de sala de aula e propício para que a aprendizagem aconteça. USUARIO Realce 7 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o 3.1 O ponto de vista da Teoria Comportamentalista sobre a aprendizagem As teorias comportamentalistas defi nem a aprendizagem pelas suas conse- quências comportamentais, enfatizando as condições ambientais como for- ças propulsoras da aprendizagem (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Essa perspectiva defi ne que o ambiente e as experiências são fatores de- cisivos do comportamento humano. Para os teóricos desse movimento, o desenvolvimento seria o resultado das diversas aprendizagens acumu- ladas durante a vida. O fundador dessa teoria foi John Broadus Watson (1878-1958), que defi niu a Psicologia como campo da ciência objetivo e experimental. Em seus estudos, fez questão de mostrar que o com- portamento humano pode ser explicado pelos mesmos princípios que o comportamento animal, sendo o dos humanos um comportamento mais refi nado (GOULART, 2010). Para os teóricos da abordagem Comportamentalista, a ideia de aptidões, disposições intelectuais ou temperamentos inatos é totalmente errônea. Para eles, a aprendizagem é resultado das infl uências dos fatores externos. Figura 6 – Recém-nascido é desprovido de conhecimento. Fonte: Plataforma Deduca (2017). USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 8 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o O bebê humano, por exemplo, vem ao mundo desprovido de todo co- nhecimento, seria uma tábua rasa que está em branco e será preenchida com a infl uência do meio em que será inserido. É dessa forma que cons- truímos nossa história de vida. Nessa perspectiva, o que importa é expli- car como os comportamentos são aprendidos por meio dos diversos tipos de condicionamento: o operante e o clássico (GOULART, 2010). 3.1.1 Qual a consequência dessa teoria para a educação? A abordagem comportamentalista apresenta algumas repercussões para a Educação enquanto área de atuação. Algumas dessas consequências são: • a organização de atividades por meio de pequenos passos; • a ideia de pré-requisitos; • o reforço dado pelas notas; • pontos positivos; • a distribuição de prêmios para os alunos considerados exempla- res (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Para essa teoria o professor é quem detém o conhecimento absoluto do conteúdo a ser repassado e pode programá-lo passo a passo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,1999). Por sua vez, o aluno deve assimilar o conteúdo por repetição e acumu- lação do que será passado por quem o ensina. Dessa forma o aluno é colocado em uma posição passiva no processo de aprendizagem (GOU- LART, 2010). CONDICIONAMENTO O operante e o clássico: dois tipos do processo pelo qual o indivíduo responde a um reforço dado a seu comportamento. USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Comentário do texto CONSEQUENCIAS 9 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Figura 7 – Criança aprendendo. Fonte: Plataforma Deduca (2017). Outra característica dessa teoria é entender o ensino como uma progres- são gradual do mais fácil ao mais difícil, na opinião do professor que elabora as atividades e conteúdos. Podemos refl etir sobre essas caracterís- ticas fazendo algumas considerações. Por exemplo, a percepção do pro- fessor daquilo que os alunos devem aprender é fundamental, mas não é sufi ciente. Se esse processo fosse tão fácil assim, bastaria que fi zéssemos uma boa sequência dos conteúdos escolares e repassássemos para os alu- nos. Infelizmente, essa concepção de aprendizagem defendida pelos com- portamentalistas é considerada incompleta por deixar de considerar dois pontos muito importantes no processo de aprendizagem: a complexidade do aprendizado humanoe as condições sociais e culturais para que esse aprendizado ocorra (GOULART, 2010). USUARIO Realce USUARIO Realce 10 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Figura 8 – Crianças participando de uma aula. Fonte: Plataforma Deduca (2017). Devemos entender o ser humano por meio de sua participação na cultura em que o corpo, as emoções, a razão e a visão de mundo de cada sujei- to estão presentes. A criação do ambiente propício para aprendizagem também é um ponto importante a ser considerado. É importante que o professor considere o contexto em que a escola está inserida, isso ajudará a entender porque os alunos aprendem ou não determinados conteúdos (GOULART, 2010). 3.2 Sala de aula como ambiente de aprendizagem A sala de aula é um ambiente que conhecemos bem, mesmo sem sermos educadores, pois estamos inseridos no contexto de ensino desde muito pequenos, frequentando salas de aula. Nesse ambiente, a aprendizagem vai além dos conteúdos que os professores nos ensinam. É nele que fa- zemos amizades, trocamos opiniões sobre os mais variados assuntos etc. (GOULART, 2010). USUARIO Realce 11 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Figura 9 – Crianças formando vínculos a partir da convivência na escola. Fonte: Plataforma Deduca (2017). A ideia da perspectiva comportamentalista sobre o ambiente de sala de aula é a de um lugar onde existe um adulto que sabe muitas coisas, ge- ralmente o(a) professor(a), e crianças ou adolescentes que pouco sabem e que estão ali para aprender com ele(a). Porém, os profi ssionais da Educa- ção vêm discutindo essas ideias e tentando transformar essa visão tradi- cional de sala de aula (GOULART, 2010). REFLETINDO... Refl ita sobre a prática pedagógica a que você foi submetido como aluno durante sua vida. Ela se assemelha ao que discutimos no tex- to? Por quê? USUARIO Realce 12 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Segundo Goulart (2010), devemos pensar a sala de aula como um ambien- te de aprendizagem que pressupõe uma mudança radical na sua dinâmica, propondo que cada participante aprenda a ter responsabilidade sobre seu próprio aprendizado e que exista um trabalho conjunto de professor(a) e alunos, que trocam responsabilidades e se ajudam mutuamente. MATERIAL COMPLEMENTAR Indicamos dois livros de Paulo Freire, grande escritor e teórico da educação na atualidade. Em suas obras o autor faz uma análise crí- tica das formas de educar e traz novas propostas para pensarmos como estamos educandos os sujeitos. É uma leitura interessante para todas as pessoas, mas principalmente para os educadores. FREIRE, P. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. FREIRE, P. Política e Educação. São Paulo: Cortez, 1993. Figura 10 – Participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem. Fonte: Plataforma Deduca (2017). Portanto, a abordagem comportamentalista traz uma visão reduzida do processo educacional, já que não espera um papel ativo do aluno sobre o seu processo de aprendizagem. 13 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o PESQUISE! Procure saber sobre outros modelos educacionais e os efeitos des- tes na sua aplicação em sala de aula. Neste capítulo falamos sobre a infl uência das perspectivas comportamen- talistas no processo de aprendizagem. Apontamos os principais pontos sobre esse tema e ao fi nal realizamos uma análise dos efeitos dessa pers-pectiva na educação. Esperamos que você tenha feito ótimas refl exões e que o conteúdo apresen- tado sirva para aguçar a busca por mais conhecimento sobre o tema. 14 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o APLICANDO A TEORIA NA PRÁTICA Simule um planejamento de atividades de uma escola e uma sala de aula imaginárias, baseado nas características da teoria comportamentalista. Compartilhe com seus colegas. 15 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o SÍNTESE Neste capítulo falamos sobre a compreensão das teorias comportamen- talistas sobre a aprendizagem. Destacamos quais os aspectos que essas teorias consideram na compreensão da aprendizagem. Os comportamen-talistas falam da infl uência do ambiente para que o sujeito aprenda, então falamos qual é o ambiente favorável para que a aprendizagem esperada aconteça. Existem ainda alguns pressupostos que os educares devem se-guir para favorecer essa aprendizagem. Nesse mesmo contexto, falamos sobre o papel do aluno e do professor nesse processo, qual deve ser a postura de cada um segundo as teorias comportamentalistas. Além dis-so, apresentamos as consequências que essa compreensão do processo de aprendizagem tem para as formas de educar, para a área da educação. E, por fi m, fi zemos uma crítica ao que deve ser um ambiente de sala de aula e propício para que a aprendizagem aconteça. USUARIO Realce 16 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o REFERÊNCIAS BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicolo- gias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. FREIRE, P. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. ______. Política e Educação. São Paulo: Cortez, 1993. GOULART, M. I. M. Psicologia da aprendizagem I. Belo Horizonte: UFMG, 2010. CAPÍTULO 4 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO – PARTE 1 Objetivos Apresentar as contribuições da teoria de Jean Piaget para a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Analisar o processo de incorporação da Epistemologia Genética de Piaget na prática escolar. Despertar o interesse do aluno a respeito das contribuições de Emília Ferreiro para a área de Educação, pois essa autora contribuiu de forma signifi cativa para esse campo e pode orientar ações dos pedagogos. 18 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o NOSSO TEMA Neste capítulo vamos aprender sobre a teoria elaborada por Jean Piaget acerca do desenvolvimento humano e como seus estudos contribuíram para a compreensão do processo de aprendizagem. Destacaremos a divi-são que Piaget fez por períodos de evolução de acordo com a faixa etária e os pontos mais relevantes de sua teoria. Finalizaremos com a contribui-ção de uma pesquisadora orientada por Piaget que contribuiu signifi cati-vamente para a Educação. Vamos aos estudos! 19 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o 4.1 Piaget e sua teoria O psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) se destacou pelas suas pesquisas, pelo rigor científi co de sua teoria e pelas implicações prá- ticas de sua produção, principalmente no campo da Educação. Esse teó- rico é responsável por uma das principais teorias sobre desenvolvimento humano. Até hoje, nenhuma outra teoria teve a mesma importância para o estudo do desenvolvimento humano (FELDMAN, 2015) Para ele, o desenvolvimento humano deve ser entendido em sua globali- dade, abordando quatro aspectos básicos: aspecto físico-motor (cresci- mento biológico e maturação neurofi siológica), aspecto intelectual (capa- cidade de raciocínio e pensar), aspecto afetivo-emocional (modo como o sujeito integra suas experiências, se refere ao sentir algo), aspecto social (como o sujeito reage frente a situações que envolvem outras pessoas). Piaget divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento (conhecimento e com- preensão) e não só da quantidade de novas habilidades (BOCK; FUR- TADO; TEIXEIRA, 1999; FELDMAN, 2015). Essas mudanças inter- ferem diretamente no que explicamos anteriormente sobre a globalidade do desenvolvimento. Os períodos descritos pelo autor são, por ordem de acontecimentos: sensório-motor (0 a 2 anos), pré-operatório (2 a 7 anos), operações concretas (7 a 11 ou 12 anos), operações formais (11 ou 12 anos em diante) (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,1999). 4.1.1 Período sensório-motor Esse período compreendeo bebê de 0 a 2 anos. Nesse período, a criança conhece o mundo pela manipulação dos objetos e de seu próprio corpo. Ela se utiliza da percepção para descobrir todo o universo que a cerca. Algumas características são importantes de serem destacadas para enten- dermos melhor essa fase. Nesta fase a criança conhece o mundo por meio de ações como tocar, sugar, mascar, sacudir e manipular os objetos. No período inicial do es- tágio, elas têm pouca competência na representação do ambiente pelo uso de imagens, linguagem ou outros tipos de símbolos. Como consequência CRESCIMENTO BIOLÓGICO Relacionado ao desenvolvimento físico do corpo de acordo com a idade. MATURAÇÃO NEUROFISIOLÓGICA Amadurecimento das funções cognitivas do nosso corpo, envolve todo o sistema nervoso. USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 20 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o disto, os bebês não possuem o que Piaget chamou de constância objetal, que é a consciência de que os objetos e as pessoas continuam existindo mesmo quando estão fora da visão (FELDMAN, 2015). Figura 11 – Bebê mamando – refl exo. Fonte: Plataforma Deduca (2017). Ao nascer, um bebê tem a capacidade mental de se expressar por refl exos, por exemplo, o de sucção. Com o passar do tempo ele vai treinando suas habilidades e adquirindo novos hábitos e aprendendo/desenvolvendo no- vas habilidades. Nesse caso, a criança utiliza a inteligência prática ou sensório-motora, que envolve as percepções e os movimentos. Figura 12 – Bebê em diferentes comportamentos. Fonte: Plataforma Deduca (2017). 21 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Ao longo desse período, a criança faz uma diferenciação entre o seu eu e o mundo exterior. Se, no início, o mundo era uma continuação do próprio corpo, os progressos da inteligência levam a situar-se como um elemento entre outros no mundo. Essa diferenciação também ocorre no aspecto afetivo passando de emoções primárias (primeiros medos como o de um barulho muito forte), para uma escolha afetiva de objetos (no fi nal do pe- ríodo), quando já manifesta preferências por brinquedos, objetos, pessoas etc. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,1999). Figura 13 – Criança em seus primeiros passos. Fonte: Plataforma Deduca (2017). O desenvolvimento continua e a criança atinge (aos 2 anos) uma atitude mais participativa com relação ao mundo que a cerca. 4.1.2 Período pré-operatório Esse período compreende o período dos 2 aos 7 anos. É nesse período que ocorre o surgimento da linguagem. Com o aparecimento da lingua- gem, o desenvolvimento do pensamento da criança se acelera (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). LINGUAGEM Função psicológica para a fala. PENSAMENTO Função psicológica relacionada ao raciocínio. USUARIO Realce 22 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Figura 14 – Menino realizando leitura. Fonte: Plataforma Deduca (2017). Outras características desse período que podemos destacar, conforme Bock, Furtado e Teixeira (1999), são: • a criança transforma o real em função de suas fantasias e desejos e utiliza como referencial para explicar o real chegando à fase dos porquês; • o repertório verbal é imitado, a criança tem difi culdade em esta- belecer ordem e ainda não possui conceito de número; • quanto à afetividade, nessa fase a criança nutre respeito pelos outros, principalmente os superiores a ela; • é nessa fase, também, que a maturação neurofi siológica se com- pleta permitindo que a criança seja capaz de desenvolver novas habilidades: a coordenação motora fi na é uma delas. Piaget ainda classifi ca o pensamento desenvolvido nesse período como pensamento egocêntrico, pois, apesar de estar mais desenvolvido, ele ain- da é muito inferior ao dos adultos. Possui a característica de que a criança vê e compreende o mundo a partir de sua própria perspectiva (FELD- MAN, 2015). USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 23 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o 4.1.3 Período das operações concretas Esse período diz respeito à infância propriamente dita, dos 7 anos aos 11 ou 12 anos. O desenvolvimento mental é marcado pelo início da cons- trução lógica, que é a capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes. Bock, Furtado e Teixeira (1999) destacam as seguintes características nessa fase: • no plano afetivo, a criança é capaz de cooperar com os outros e de trabalhar em grupo; • é nessa fase que a criança é capaz de realizar operações; • nessa fase algumas habilidades já são possíveis, tais como se- quenciar ideias, formar conceito de número, noção de quanti- dade e comprimento, peso e volume e ainda relações de causa e efeito e pontos de vista; • no aspecto afetivo, a vontade aparece como uma qualidade; • a criança desenvolve uma crescente autonomia em relação ao adulto; • a grupalização se torna cada vez mais importante; • alguns sentimentos fi cam cada vez mais evidentes: a honestidade, cooperação, respeito mútuo, companheirismo e justiça (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Figura 15 – Grupo de crianças. Fonte: Plataforma Deduca (2017). GRUPALIZAÇÃO Ato de formar grupos, meio de socialização. USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 24 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Em resumo, durante o estágio das operações concretas, as crianças desen- volvem a capacidade de pensar de uma maneira mais lógica e começam a superar parte do egocentrismo, principal característica do período pré- -operatório. Outra característica desse período é a reversibilidade, a ideia de que algumas mudanças podem ser desfeitas pela reversão de uma ação anterior (FELDMAN, 2015). O próximo período que veremos será o das operações formais. Vamos adiante! 4.1.4 Período das operações formais O período das operações formais se refere à adolescência, dos 11 ou 12 anos em diante, e se estende por toda a vida adulta. Nesse período, o ado- lescente passa a realizar operações no plano das ideias, ou seja, passa do pensamento concreto para o formal ou abstrato. Ele inicia sua capacidade de refl exão espontânea que é formular ideias, opiniões, ideias de mundo. Outras características desse período são: Figura 16 – Na adolescência a capacidade de refl exão é exacerbada. Fonte: Plataforma Deduca (2017). • a contestação é uma marca presente; • o adolescente consegue se caracterizar primeiro por meio de um processo de interiorização no qual ele se afasta da família; USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 25 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o • período marcado por confl itos no campo afetivo e pela busca da independência. Figura 17 – Confl itos familiares são comuns na adolescência. Fonte: Plataforma Deduca (2017). 4.2 Contribuições da teoria de Piaget para a aprendizagem e para a educação Entre 1918 e 1980 Piaget foi responsável por inúmeras obras que contri- buíram para o campo da educação. Com base nelas, sua teoria pode ser classifi cada como construtivista. Essa característica se torna marcante a partir da década de 1970, quando Piaget passou a pesquisar sobre os me- canismos de transição que explicam a evolução do desenvolvimento cog- nitivo. Na teoria de Piaget, a formação das operações cognitivas no ho- mem está subordinada a um processo de equilibração que possibilita o desenvolvimento cognitivo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). MATERIAL COMPLEMENTAR Para complementar seus estudos, sugerimos a leitura do livro “O Nascimento da Inteligência na Criança”, de Jean Piaget. A obra aprofundará os aspectos do desenvolvimento que você estudou neste capítulo. EQUILIBRAÇÃO Ponto de equilíbriodo sujeito entre a acomodação e a assimilação descritas por Piaget. USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce EQUILIBRAÇÃO 26 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o Além disso, Piaget consolidou a ideia de que existe uma organização própria dos sujeitos sobre a experiência sensível e esta submete os estímu- los do ambiente à atividade interna do sujeito. Para Piaget, o que guia o homem nesse processo é a busca por um equilíbrio entre as necessidades biológicas fundamentais de sobrevivência e as agressões ou restrições co- locadas pelo meio para a satisfação dessas necessidades. Esses são os eixos principais da teoria de Piaget. Eles nos mostram que o ato de conhecer é construído e estruturado a partir daquilo que se vivencia com os objetos que vamos conhecer e ocorre por intermédio da ação do sujeito. Essa ação passa por um processo que Piaget chamou de adaptação, que acontece por meio da assimilação e acomodação. Para deixar mais cla- ro, vamos defi nir cada um deles. A adaptação é um processo pelo qual o sujeito interage com o meio. A assimilação é o processo de incorporação e é por meio dele que o que vivemos é inserido em nosso sistema de relações que passam a ter signifi cado. E a acomodação Piaget defi niu como o pro- cesso que modifi ca as estruturas do pensamento para que sejam assimila- das novas experiências (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Para deixar mais claro, entendemos a ADAPTAÇÃO como um processo no qual o sujeito mantém interação com o meio, constituindo um equi- líbrio entre suas necessidades de sobrevivência e aquilo que o ambiente impõe como restrição. Na ASSIMILAÇÃO, acontece um processo no qual o indivíduo incorpora objetivos e fatos do meio, que passam a ter signifi cado para ele. E o processo de ACOMODAÇÃO é quando são modifi cadas estruturas de pensamentos do sujeito para poder assimilar novos objetos e fatos do ambiente, ou seja, aquilo que o indivíduo já tem incorporado é modifi cado para que novos conhecimentos sejam também incorporados (GOULART, 2010). Sendo assim, no processo de assimilação, vamos tentando relacionar as ideias novas àquilo que já sabemos, e em contrapartida, ideias e conceitos que já temos são modifi cados pelo que vamos conhecendo. Esse processo de mudança é chamado por Piaget de acomodação (GOULART, 2010). Os processos de assimilação e acomodação são, para Piaget, como fer- ramentas do pensamento e são chamadas de invariantes funcionais. USUARIO Realce USUARIO Realce ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 27 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o No decorrer do desenvolvimento, o sujeito apresenta diversas formas de expressão de sua inteligência. Elas vão se caracterizando de acordo com as possibilidades de relação com seu meio ambiente (GOULART, 2010). REFLETINDO... Levando em conta os aspectos do desenvolvimento considerados por Piaget e as teorias do desenvolvimento (hereditariedade, crescimento orgânico, maturação neurofi siológica e meio), pense sobre a impor- tância e a infl uência de cada um deles no desenvolvimento humano. Piaget não desenvolveu uma teoria do processo de ensino-aprendizagem, mas subsidiou outras que vieram após. Um exemplo disso é Emília Fer- reiro, que foi orientada por Piaget e conseguiu desenvolver uma teoria sobre aprendizagem seguindo a teoria de seu orientador. Porém, sua teoria teve uma enorme infl uência na educação. Piaget afi rmava que os indivíduos não conseguem aumentar seu desempenho cognitivo a menos que exista a capacidade cognitiva causada pela maturação e estimu- lação ambiental apropriadas. Essa visão inspirou a natureza e a estrutura dos currículos educacionais e dos métodos de ensino (FELDMAN, 2015). 4.3 Emília Ferreiro e sua contribuição para educação Emília Ferreiro começou a publicar seus trabalhos a partir da década de 1980. Seu trabalho mais relevante está relacionado ao fracasso escolar das populações marginalizadas. Ferreiro contribuiu signifi cativamente para a compreensão do processo de aprendizagem, demonstrando a existên- cia de mecanismos no sujeito que aprende, na interação com a lingua- gem escrita (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Para Ferreiro, as crianças interpretam o ensino que recebem e transformam em escritas estranhas para os adultos. Ela afi rma que essas escritas são esquemas de assimilação ao objeto de aprendizagem. Na sua concepção, o sujeito tem um papel ativo na interação com os objetos da realidade. Assim, a criança não aprende exatamente como lhe foi ensinado, mas elabora e modifi ca. O papel do educador, nesse sentido, é estar atento a esses processos para USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce USUARIO Realce 28 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o promover a aprendizagem (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Se- gundo Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 167): [...] Ferreiro entende que a aprendizagem da escrita tem um caráter evoluti- vo, no qual é relativamente tardia a descoberta de que a escrita representa a fala, não sendo necessário que se estabeleça, de início, a associação entre letras e sons. Outro aspecto importante nesta evolução refere-se ao aspecto conceitual da escrita. Para que as crianças possam descobrir o caráter sim- bólico da escrita, é preciso oferecer-lhes situações em que a escrita se torne objeto de seu pensamento. Ferreiro valoriza as histórias ouvidas e contadas pelas crianças, pois têm grande importância no processo. O principal objetivo da estudiosa é integrar o conhecimento espontâneo da criança ao ensino, dando-lhe maior signifi ca- do (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). A autora trouxe grande con- tribuição para alfabetização e “despatologizou” os erros comuns nas crianças e deu importância a participação delas no processo de aprendizagem. DESPATOLOGIZAR Patologizar signifi ca tornar patológico, ser dotado de algo considerado anormal, fora do padrão, doença. Nesse caso, seria o ato de não tonar patológico. USUARIO Realce 29 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o APLICANDO A TEORIA NA PRÁTICA Escolha duas crianças de seu contexto familiar (ou de amigos) que te- nham idades diferentes e compare as etapas de desenvolvimento à qual elas pertencem, fazendo uma avaliação da evolução das fases distintas. 30 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d a E d u c a ç ã o SÍNTESE Este capítulo tratou sobre os estudos realizados por Piaget, importante teórico para a teoria do desenvolvimento humano. Inicialmente, falamos um pouco sobre esse autor enquanto pesquisador e como fi cou reconhe-cido por ser um importante teórico na Psicologia. Depois, começamos a falar sobre a teoria que Piaget escreveu a respeito do desenvolvimento hu-mano. Ele dividiu o processo de desenvolvimento em quatro estágios ou etapas que são estabelecidos pela idade dos indivíduos começando desde o nascimento até a fase da adolescência, que é quando o sujeito atinge uma maturidade em seu desenvolvimento e que perdura por sua vida restante. Os períodos defi nidos por Piaget são: sensório-motor (0 a 2 anos), pré-ope-ratório (2 a 7 anos), operações concretas (7 a 11 ou 12 anos), operações formais (11 ou 12 anos em diante). Ao falarmos sobre a contribuição que Piaget deixou para a aprendizagem, apresentamos os principais processos descritos por esse autor para explicar o processo de aprendizagem: acomo-dação, assimilação e equilibração. Esses são processos que explicam como se desenvolve a aprendizagem humana e que nos ajudaram a compreender esses processos no campo da educação. Por fi m, apresentamos Emília Fer-reiro como autora que deu seguimento aos estudos de Piaget e contribuiu de forma signifi cativa para o campo da educação. 31 | F u n d a m e n t o s P s i c o l ó g i c o s d aE d u c a ç ã o REFERÊNCIAS BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicolo- gias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. Porto Alegre: Grupo A, 2015. GOULART, M. I. M. Psicologia da aprendizagem I. Belo Horizonte: UFMG, 2010. w w w . d e l i n e a . c o m . b r
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