Buscar

Suspensão do contrato de trabalho

Prévia do material em texto

SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO 
É incontestável que desde a ascensão do Estado Liberal pós Revolução 
Francesa, diversas críticas surgiram direcionadas as relações entre 
trabalhadores e contratantes, dado a indubitável submissão dos prestadores 
de serviço a condições de trabalho desumanas e a ausência de remunerações 
justas. Dado o exposto, instou a necessidade da intervenção estatal, para que 
o Estado regulasse o vínculo de trabalho supramencionado e assegurasse aos 
trabalhadores maior proteção e estabilidade. 
 Nesse panorama, aspirando assistir os funcionários em circunstâncias 
que estorvem o andamento do contrato de trabalho, foi estruturada a entidade 
da suspensão de contrato de trabalho que, por meio do princípio de 
continuidade da relação de emprego, certifica aos contratados a permanência 
em seus postos de ofício, mesmo que, por uma determinada lacuna de tempo, 
paralisada a prestação de serviços ao contratante. 
Outrossim, a suspensão do contrato de trabalho ocorre quando o 
contratado está a não exercer a sua principal obrigação contratual, ou seja, 
não está a disponibilidade do empregador ou efetivando o que lhe foi 
incumbido. 
 Conquanto, o contrato se mantém, mas não há o pagamento do salário, 
bem como não há contabilização do tempo de serviço ou depósito do FGTS 
(esse com ressalva a ser citado a posteriori). Assim sendo, como citado por 
Maurício Godinho Delgado “a suspensão consiste na sustação temporária 
plena dos efeitos contratuais, preservando, porém, o vínculo entre as partes” 
(DELGADA. 2015, p.1149). 
De mesma forma como inferido por Gustavo Filipe Barbosa Garcia 
(GARCIA. 2012, p.533). 
No curso do contrato de trabalho, este pode sofrer certos eventos que 
signifiquem a ausência de prestação de serviços, mas sem acarretar a 
cessação do vínculo de emprego. São as hipóteses de suspensão e 
interrupção do contrato de trabalho, conforme terminologia indicada no 
Capítulo IV, do Título IV, da Consolidação das Leis do Trabalho. 
Embora os referidos termos possam receber certas críticas por parte de 
alguns autores na doutrina, encontram-se adotados em nosso sistema de 
direito positivo. Na realidade, o que fica suspenso não é o contrato de 
emprego em si (que permanece em vigor), mas sim os seus efeitos 
principais, especialmente quanto à prestação do trabalho. 
Ainda nessa perspectiva, consoante Amador Paes de Almeida 
(ALMEIDA. 2008, p. 228, 283) 
A suspensão, como o próprio nome indica, apenas suspende os efeitos 
do pacto laboral, subsistindo, todavia, o vínculo jurídico. Não há 
prestação de serviços, tampouco pagamento salarial. O período da 
suspensão, outrossim, não é computado no tempo de serviço. 
É irrefutável, portanto, que os principais efeitos jurídicos da suspensão 
do contrato de trabalho são a não obrigatoriedade do colaborador a manter-
se à disposição do empregador, a não obrigatoriedade da continuidade do 
pagamento do salário ao contratado durante o período de suspensão, a não 
computação desse período como tempo de serviço e a ausência da 
remuneração do décimo terceiro salário. Enquanto que a contabilização das 
férias acontece em conformidade com as especificações de cada afastamento 
e os encargos trabalhistas também não são depositados ou contados, 
ressalvado o FGTS em situação de acidente ocupacional. 
Além disso, como efeitos jurídicos da suspensão contratual trabalhista, 
é impreterível também ressaltar que, durante o período da suspensão 
contratual, as partes permanecem obrigadas manter o respeito mútuo, físico 
e moral e tem o dever de confidencialidade e de não concorrência. Ademais, 
de acordo com o artigo 471 da Consolidação das Leis de Trabalho, em seu 
regresso, o colaborador pode lograr de todos ajustes salariais proporcionados 
a sua categoria em sua ausência. 
Dessarte, para que aconteça a suspensão do contrato de trabalho 
seguindo as diretrizes dispostas acima, é inescusável que se esteja em 
observância com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as 
normativas dispostas a seguir. 
“Art. 474 - A suspensão do empregado por mais de 30 (trinta) dias 
consecutivos importa na rescisão injusta do contrato de trabalho” (CLT, 
1984, art. 474). O inferido versa sobre a suspensão disciplinar, nesse caso 
acontecerá a suspensão contratual trabalhista. 
Embora não esteja presente na CLT a ausência não justificada é tratada 
na Lei nº 605/49i em seu artigo 6 e impõe a suspensão em caso de falta sem 
justificativa oficial “Art. 6. Lei nº 605/49 Não será devida a remuneração 
quando, sem motivo justificado, o empregado não tiver trabalhado durante 
toda a semana anterior, cumprindo integralmente o seu horário de trabalho”. 
O artigo 475 da CLT prevê a suspensão em caso de aposentadoria por 
invalidez, no entanto, segundo a Súmula nº160 do TSTii mesmo após o 
período de 5 (cinco) anos não se torna definitivo 
Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez terá suspenso 
o seu contrato de trabalho durante o prazo fixado pelas leis de 
previdência social para a efetivação do benefício. 
§ 1º - Recuperando o empregado a capacidade de trabalho e sendo a 
aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o direito à função que 
ocupava ao tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao empregador, 
o direito de indenizá-lo por rescisão do contrato de trabalho, nos termos 
dos arts. 477 e 478, salvo na hipótese de ser ele portador de estabilidade, 
quando a indenização deverá ser paga na forma do art. 497. 
 
§ 2º - Se o empregador houver admitido substituto para o aposentado, 
poderá rescindir, com este, o respectivo contrato de trabalho sem 
indenização, desde que tenha havido ciência inequívoca da interinidade 
ao ser celebrado o contrato.” (CLT, 1984, art. 475, incisos 1º e 2º). 
Consoante a Lei n° 7.783/89iii, o afastamento do colaborador dado o 
motivo de participação em greve trabalhista pacífica, por um período de 
tempo que se deveria estar prestando serviços ao contratante, gera a 
suspensão contratual 
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em 
greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações 
obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, 
laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. 
Referente ao afastamento do trabalhador devido a prisão preventiva 
ou temporária 
Enquanto o trabalhador ficou afastado aguardando julgamento na 
Justiça Comum ou Militar ou respondendo a inquérito, houve a 
suspensão do contrato de trabalho, uma vez que não perdurou qualquer 
obrigação por parte do empregador. A rescisão, nesses casos, só se pode 
operar após a condenação criminal transitada em julgado, de acordo 
com o disposto no artigo 482, “d”, da CLT.iv 
Em caso de afastamento ocasionado por motivo de doenças 
ocupacionais ou acidentes de trabalho para recebimento de auxílio-doença, 
haverá a suspensão do contrato de trabalho a partir do 16º, pois os primeiros 
15 (quinze) dias serão pagos pela empresa. (art. 60, § 3º, da Lei n.º 
8.213/1991). 
Havendo afastamento por qualificação profissional promovida pelo 
contratante ocorrerá a suspensão contratual 
Art. 476-A. O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período 
de dois a cinco meses, para participação do empregado em curso ou 
programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador, com 
duração equivalente à suspensão contratual, mediante previsão em 
convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência formal do 
empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação (CLT, 
1984, art. 476 -A). 
Suspensão em caso de afastamento devido o encargo público não 
obrigatório 
São os termos do artigo 472 da CLT, em que há o afastamento do 
trabalhador para o exercício de cargo político, ser membro de órgão da 
Previdência Social, exercício de mandato sindical... Durante esse 
afastamento os encargos trabalhistas se transferem para o respectivosindicato, entrementes, isto não implica existência de relação de 
emprego entre o dirigente e a entidade sindical, pois é mantida apenas 
uma relação de mandato.v 
Referências bibliográficas 
DELGADO, M.G. Curso de Direito do Trabalho. 16ª. Ed. rev. e ampl..— São 
Paulo : LTr, 2017. 
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho, 6ª edição, Rio 
de Janeiro: Forense, 2012, p.533 
ALMEIDA, Amador Paes de. CLT comentada,revista, comentada e ampliada. 
5ª.edição. São Paulo – Ed.Saraiva 2008 – pág.228/233. 
BRASIL, Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. 1943. 
BRASIL. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. 
Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. LEI 
Nº 8.213, Brasília, DF, 1991. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213compilado.htm> Acesso em: 11/10/2020. 
 
i BRASIL. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. 
Repouso semanal remunerado e o pagamento de salário nos dias feriados civis e religiosos. LEI Nº 605 
artigo 6. Brasília, DF, 1949. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l0605.htm Acesso 
em: 11/10/2020. 
ii BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Aposentadoria por invalidez Res. 121/2003, DJ 19, 20. 
21/11/2003. Disponível em: 
<http://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/1116/Sumulas_e_enunciados#:~:text=S%C3%9AMULA%2
0N%C2%BA%20160%20%2D%20APOSENTADORIA%20POR,lo%20na%20forma%20da%20lei> Acessado 
em 11/10/2020. 
iii BRASIL. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Dispõe sobre o exercício 
do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da 
comunidade, e dá outras providências. Lei n° 7.783, artigo 7, Brasília, DF, 1989. Disponível em < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM> Acesso em 11/10/2020. 
iv SAMPAIO, & Meira Assessória Jurídica. DA INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO: 
ASPECTOS GERAIS. JurídicoCerto, 09/01/2015. Disponível em: 
https://juridicocerto.com/p/nataliasampaio/artigos/da-interrupcao-e-suspensao-do-contrato-de-
trabalho-aspectos-gerais-1028 Acessado em: 11/10/2020. 
v SAMPAIO, & Meira Assessória Jurídica. DA INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO: 
ASPECTOS GERAIS. JurídicoCerto, 09/01/2015. Disponível em: 
https://juridicocerto.com/p/nataliasampaio/artigos/da-interrupcao-e-suspensao-do-contrato-de-
trabalho-aspectos-gerais-1028 Acessado em: 11/10/2020. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l0605.htm
http://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/1116/Sumulas_e_enunciados#:~:text=S%C3%9AMULA%20N%C2%BA%20160%20%2D%20APOSENTADORIA%20POR,lo%20na%20forma%20da%20lei
http://www.coad.com.br/busca/detalhe_16/1116/Sumulas_e_enunciados#:~:text=S%C3%9AMULA%20N%C2%BA%20160%20%2D%20APOSENTADORIA%20POR,lo%20na%20forma%20da%20lei
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM
https://juridicocerto.com/p/nataliasampaio/artigos/da-interrupcao-e-suspensao-do-contrato-de-trabalho-aspectos-gerais-1028
https://juridicocerto.com/p/nataliasampaio/artigos/da-interrupcao-e-suspensao-do-contrato-de-trabalho-aspectos-gerais-1028

Continue navegando