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z A Relação entre o Crime e a Construção Psicológica do Criminoso em Sociedade. Psicologia Jurídica z O criminoso: um paradigma etiológico De acordo com a construção histórica do direito penal, a figura do criminoso personifica-se na figura do homem delinquente da Escola Positiva no século 19 (Lombroso. 2001); Ferri, 1931; Garofalo,1983), que trazia para o centro do debate a figura do criminoso, deixando a problemática da criminalidade em segundo plano, invertendo a análise realizada, até então, pela Escola Clássica, que não individualizava as causas do crime, “[...] surgia da livre vontade do indivíduo, não de causas patológicas e, por isso, do ponto de vista da liberdade e da responsabilidade moral pelas próprias ações, o delinquente não era diferente, [...] do indivíduo normal” (BARATTA, 2002, p. 31). Visão maniqueísta do bem e do mal na sociedade z Uma criminologia crítica Influências da sociologia cultural e de correntes de origem fenomenológicas, bem como por reflexões históricas e sociológicas sobre o fenômeno criminal (ANDRADE, 2003). Uma conduta não é criminal em si mesma e, muito menos, seu autor um criminoso nato. A atribuição do caráter criminal a uma conduta e o posterior rótulo de criminoso ao seu autor dependerá de certos processos sociais de definição.1 Pode-se deduzir então, que o crime é produto da reação social e a criminalidade uma construção seletiva e desigual, nesse aspecto, aborda-se o processo de criminalização e o criminalizado, ao invés de centrar-se a discussão na criminalidade e no criminoso. 1 teorias do labelling approach (rotulações) :as questões centrais da criminologia devem se voltar ao sistema de controle adotado pelo Estado nos campos preventivo e normativo e na seleção dos meios de reação à criminalidade. Ao invés de se indagar os motivos pelos quais as pessoas se tornam criminosas, deve-se buscar explicações sobre os motivos pelos quais determinadas pessoas são rotuladas como delinquentes, qual a fonte da legitimidade e as consequências da punição imposta a essas pessoas. z Quando se afasta os valores morais e se exaspera a noção de direito, o egoísmo cresce e o homem se desumaniza porque seus sentimentos e suas vontades são substituídos por desejos incontrolados e impulsos instintivos, que passam a dominar seu raciocínio. Nessa situação, para satisfazer o egoísmo, as instituições fundamentais para o convívio humano são negadas e esquecidas. Para satisfazer o egoísmo, com sua ânsia de ter mais bens materiais e mais facilmente obtê-los, para aumentar o gozo dos instintos, é feito aquilo que está ao alcance: roubos, homicídios, sequestros, extorsões, tráfico de drogas e etc. PANUCCI, 2004 z "O crime é, sem dúvida, fato jurídico. Fato jurídico é designação genérica de todo acontecimento relevante para o direito, provocando o nascimento, a modificação ou extinção de uma relação jurídica. (Heleno Fragoso) Crime do ponto de vista jurídico: z Busca investigar as motivações endógenas e exógenas que levaram o individuo a cometer um crime. Segundo Lopes (2003, p.131) “Não é possível julgar um delito sem compreendê-lo”, pois delitos aparentemente iguais podem apresentar significados distintos e devem ser julgados e condenados de formas completamente diferentes. Crime do ponto de vista psicológico: z Nesse contexto, a Psicologia Jurídica propõe investigar os fatores que contribuem para a conduta delitiva do sujeito, estudando não só as causas da criminalidade, mas também a personalidade e o comportamento do criminoso. A análise psicológica do criminoso pode elucidar diversas dúvidas e questões levantadas pelo judiciário no julgamento de diferentes crimes. z Quanto aos agentes, os crimes podem ser unissubjetivos e plurissubjetivos. Quanto à ação do agente, os crimes podem ser comissivos, omissivos ou comissivo por omissão. Quanto à vontade do agente, os crimes podem ser dolosos ou culposos. z Quanto aos agentes, os crimes podem ser: 1) CRIME UNISSUBJETIVO São aqueles que podem ser praticados por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a co-autoria e a participação. (Leandro Vilela Brambilla) z 2) CRIME PLURISSUBJETIVO São aqueles que exigem dois ou mais agentes para a prática do delito em virtude de sua conceituação típica. Eles subdividem-se em três espécies de acordo com o modus operandi. z 2) CRIME PLURISUBJETIVO 2.1) Crimes de condutas paralelas: quando há colaboração nas ações dos sujeitos. 2.2) Crimes de condutas convergentes: onde as condutas encontram-se somente após o início da execução do delito pois partem de pontos opostos. 2.3) Crimes de condutas contrapostas: onde as condutas desenvolvem-se umas contra as outras. z Quanto a ação do agente, os crimes podem ser: 1). Comissivos 2). Omissivos ou Comissivo por omissão z 1) COMISSIVO: Delito cuja conduta é a ação stricto sensu, isto é, um FAZER do agente. Em outras palavras, o sujeito ativo desatende à proibição do preceito da norma penal, ou seja, faz alguma coisa que estava proibido. 2). OMISSIVO: Configuram-se quando o agente não faz o que pode e deve fazer. Consiste sempre na omissão de uma determinada ação que o sujeito tinha a obrigação de realizar e podia fazê-lo. São divididos em omissivos próprios ou impróprios. z 2.1) OMISSIVO PRÓPRIO: Há somente a omissão de um dever de agir, imposto normativamente, dispensando, via de regra, a investigação sobre a relação de causalidade naturalística, ou seja, são delitos de mera conduta. Como exemplo, podemos citar o delito de omissão de socorro. 2.1) OMISSIVO IMPRÓPRIO OU COMISSIVO POR OMISSÃO: Aquele em que uma omissão inicial do agente dá causa a um resultado posterior, o qual o agente tinha o dever jurídico de evitá-lo. Exemplo: O guia de cego que no exercício de sua profissão se descuida e não evita a morte da vítima que está diante de uma situação de perigo. O agente responde pelo crime omissivo impróprio porque não evitou o resultado que devia e podia ter evitado. z Quanto a vontade do agente, os crimes podem ser: 1). Doloso: também chamado de crime ou dano comissivo ou intencional, é aquele em que o agente prevê o resultado lesivo de sua conduta e, mesmo assim, leva-a adiante, ocasionando o resultado. 2). Culposo: segundo o Código Penal, “quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia” (artigo 18, inciso II). No crime culposo, o agente não tem a intenção de realizar o ato criminoso, ou seja, imprudência é o ato realizado sem a cautela necessária. z Causas da criminalidade estudadas em duas direções: Fatores internos: motivações individuais e processos que levariam as pessoas a se tornarem criminosas. Fatores sociais e ambientais: que, combinados em proporção e situações específicas, poderiam explicar a causação do crime. z 1). Fatores internos: Transtorno Anti-Social da Personalidade, Sociopatas ou Psicopatas. 2). Fatores externos: sócio familiares, socioeconômicos, sócio ético- edagógicos, socioambientais. (João Farias Junior,2008) z 1). Existência de determinada personalidade marcantemente criminosa ou, ao menos, inclinada significativamente para o crime. 2). A flexibilidade ou inflexibilidade dessa personalidade criminosa, é atribuída ora de uma predominância de fatores genéticos, ora de fatores emocionais e afetivos e, ora ainda, fatores sociais e vivenciais. Será o criminoso responsável pelos seus atos ou vítima de um estado doentio? z Em 1838 Esquirol propôs o curioso termo: Monomania Homicida louco alienado e criminoso cruel; Anos depois, Prichard com seus trabalhos sobre uma tal Loucura Moral, reforçou a posição de Esquirol; Séculos e nomenclaturas depois, surgiu na CID.10 a Personalidade Dissocial, com critérios de diagnósticos; Neste tipo de personalidade há uma baixa tolerância à frustração e baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência, existe também uma tendênciaa culpar os outros ou a fornecer racionalizações duvidosas para explicar um comportamento de conflito com a sociedade. z O DSM V, por sua vez, apresenta o termo Personalidade Anti-Social: Um padrão de desrespeito e violação dos direitos dos outros, padrão este também conhecido como Psicopatia, Sociopatia ou Transtorno da Personalidade Dissocial. Constituição Biológica ou Livre Arbítrio? z Segundo Cesare Lombroso (1835-1909): Criminoso ocasional e criminoso nato Criminoso Nato Criminoso Louco Criminoso Profissional Criminoso Primário Criminoso por Paixão . z Os autores mais modernos achavam demasiadamente retrógrada a ideia do determinismo biológico de Lombroso, e alguns preferiam o determinismo social. Segundo Debuyst incluía 3 elementos: Personalidade criminosa Situação perigosa Importância sociocultural do ato cometido Cada sociedade tem o criminoso que merece ... z a) Teorias focadas na patologia individual (natureza biológica, psicológica e psiquiátrica); b) Teoria da desorganização social; c) Teoria do estilo de vida; d) Teoria do aprendizado social; e) Teoria do controle social. z f) Teoria do autocontrole; g) Teoria da anomia; h) Teoria interacional; i) Teoria econômica da escolha social; j) Modelo ecológico. (Cerqueira; Lobão, 2004) TEORIA ABORDAGEM VARIÁVEIS Desorganização social Abordagem sistêmica em torno das comunidades. Status socioeconômico; heterogeneidade étnica; urbanização; redes de amizades locais; participação Aprendizado Social (associação diferencial) Os indivíduos determinam seus comportamentos a partir de suas experiências pessoais com relação a situações de conflito, por meio de interações pessoais. Grau de supervisão familiar; intensidade de coesão nos grupos de amizades; existência de amigos com problemas com a polícia, contato com técnicas criminosas. Escolha racional O indivíduo decide sua participação em atividades criminosas a partir da avaliação racional entre ganhos e perdas esperadas advindos das atividades ilícitas. Salários; renda familiar per capita; desigualdade da renda; acesso a programas de bem- estar social; eficiência da polícia; magnitude das punições; inércia criminal; aprendizado social; e educação. TEORIA ABORDAGEM VARIÁVEIS Controle social A crença e a percepção do mesmo em concordância com o contrato social (acordos e valores vigentes), ou o elo com a sociedade. Envolvimento do cidadão no sistema social; concordância com os valores e normas vigentes; ligação filial; amigos delinquentes; e crenças desviantes. Autocontrole O não desenvolvimento de mecanismos psicológicos de autocontrole na fase que segue dos 2 anos à pré-adolescência, que geram distorções no processo de socialização, pela falta de imposição de limites. Frequentemente age ao sabor do momento sem medir consequências; e raramente deixa passar uma oportunidade de gozar um bom momento. Anomia Impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele. Enfoques: a) diferenças de aspirações individuais e os meios disponíveis; b) Oportunidades bloqueadas; c) Privação relativa. Eventos de vida negativos; sofrimento cotidiano; relacionamento negativo com adultos; brigas familiares; desavenças com vizinhos; e tensão no trabalho. TEORIA ABORDAGEM VARIÁVEIS Interacional Processo dinâmico com 2 ingredientes: a) perspectiva evolucionária, cuja carreira criminal se inicia aos 12-13 anos, ganha intensidade aos 16-17 e finaliza aos 30 anos; b) perspectiva interacional que entende a delinquência como causa e consequência de um conjunto de fatores e processos sociais. As mesmas daquelas constantes. nas teorias do aprendizado social e do controle social. Ecológico Combinação de atributos pertencentes a diferentes categorias condicionaria a delinquência. Esses atributos, por sua vez, estariam incluídos em vários níveis: estrutural, institucional, interpessoal e individual. Todas as variáveis anteriores podem ser utilizadas nessa abordagem “Através da violência você pode matar um assassino, mas não pode matar o assassinato. Através da violência você pode matar um mentiroso, mas não pode estabelecer a verdade. Através da violência você pode matar uma pessoa odienta, mas não pode matar o ódio. A escuridão não pode extinguir a escuridão. Só a luz pode.” (Marthin Luther King)
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