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Engenharia e Desenvolvimento de Produto Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcio Nunes Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos O Ciclo de Vida de um Produto • Introdução • O Ciclo de Vida de um Produto • O Produto e o Meio Ambiente • O Processo DFE · Dar ao aluno uma melhor compreensão das tarefas relativas ao desenvolvimento da arquitetura de um produto, suas características e implicações. · Avaliar o quanto o desenvolvimento da arquitetura é importante para que o produto atinja as especificações esperadas, considerando que o investimento em tempo e em recursos deve ser o menor possível. OBJETIVO DE APRENDIZADO O Ciclo de Vida de um Produto Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto Contextualização Nos dias atuais, desenvolver um produto é uma arte. As exigências dos consu- midores se aguçam progressivamente, exigindo das equipes de desenvolvimento grandes esforços e uma constante evolução no conhecimento. Projetar um produ- to, fabricá-lo e colocá-lo no mercado exige um esforço contínuo de pessoas qualifi- cadas e alocações significativas de recursos, cujo objetivo é produzir produtos com qualidade e que satisfaçam as exigências dos consumidores. Desenvolver um bom produto requer, não somente muita habilidade, conheci- mento específico, acompanhamento das tendências de mercado e dedicação, mas também um conhecimento das leis que regem os fatores ambientais, que acabam influenciando os projetos. O aquecimento global e a poluição das grandes cidades hoje estão na mira dos governos de modo que normas e regras acabam influencian- do o projeto de um novo produto. Esta Unidade VI apresenta o desenvolvimento de um produto com profundas implicações ambientais, visando o lançamento de um produto ecologicamente correto. Desse modo, você, caro(a) aluno(a), deve estar afinado com as tendências do mercado para compreender melhor os pormenores que cercam esta tarefa. Esperamos que você possa absorver esses conceitos na sua atuação profissional. 8 9 Introdução Nesta Unidade, vamos abordar o ciclo de vida de um produto, ou seja, como é encarada sua duração no mercado. Também falaremos sobre a preocupação com a preservação do meio ambiente, cujo cuidado começa a ser tomado durante o desenvolvimento do projeto. A proteção ambiental tem recebido uma importância cada vez maior nas últimas décadas, capitaneada pelos governos das nações, principalmente as europeias. A utilização crescente dos recursos naturais do planeta poderá levar a um colapso no futuro, pela escassez ou extinção de alguns recursos disponíveis. As modificações climáticas também são um problema, principalmente devido ao aumento crescente da emissão de gás carbônico, cuja concentração leva ao chamado efeito estufa, que causa aumento da temperatura média do planeta. Isso poderá causar o derretimento das geleiras e, consequentemente, o aumento do nível dos oceanos. Por isso, a preocupação em desenvolver produtos denominados “ecologicamente corretos” é uma tendência moderna e a previsão é que essa preocupação aumente ainda mais. Hoje, em muitos países, já existem leis que regulam o retorno de produtos descartados no meio ambiente, tais como produtos químicos, baterias e pneus, por exemplo. Os fabricantes devem recolher esses dejetos e descartá-los ou reciclá-los adequadamente. O Ciclo de Vida de um Produto A maioria dos produtos não é produzida ininterruptamente, seja porque se tornaram obsoletos, ou porque perderam a vez para outros produtos mais avançados, e um dia deixarão de ser fabricados. O período entre o início da produção e sua descontinuação é chamada de ciclo de vida do produto. Um produto morre naturalmente, deliberadamente, ou de forma programada. A morte natural é aquela em que as vendas caem a um nível que torna inviável a sua produção. É o caso dos chapéus para homens, por exemplo. A morte deliberada é aquela em que o fabricante decide que tirará o produto de linha em um determinado momento, mesmo que haja vendas suficientes do mesmo. Na maioria das vezes em que isso ocorre, um novo produto é lançado para ocupar o seu lugar. Por exemplo, um modelo de automóvel. E a morte programada é aquela em que o fabricante estipula um prazo para a descontinuação do produto. Por exemplo, alguns modelos de telefones celulares. 9 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto A grande pergunta é: onde começa o estudo do tempo de vida de um produto? As empresas normalmente estipulam o tempo de vida de um produto logo no início do seu desenvolvimento. Após a definição do problema, o primeiro passo na busca de novas informações é a definição do ciclo de vida do produto. De um modo geral, os modelos do ciclo de vida fornecem uma descrição gráfica da história do produto, os estágios pelos quais o produto passa. O início do ciclo é marcado pelos primeiros esforços organizados e planejados para criar o produto. O ciclo de vida do produto não acaba necessariamente quando sua manufatura ou venda é descontinuada. Existem produtos que são usados por muito tempo após as vendas terem sido encerradas. Um exemplo típico são os aviões e auto- móveis. Contanto que a empresa ainda forneça ou fabrique componentes, o ciclo de vida do produto continua. Do ponto de vista da empresa, o final de um ciclo de vida de um produto ocorre quando acaba o suporte de pós-vendas do mesmo. Nesse evento, é marcado o fim de qualquer forma de compromisso da empresa com o suporte ao produto. Isso significa que, em primeiro lugar, será descontinuada a manufatura, vindo em seguida a venda total dos estoques, e não mais fornecidos os componentes sobressalentes. Em alguns casos, as empresas fazem acordos com os consumidores para manter um estoque durante determinado período. Nestes casos, as empresas devem preparar um inventário de componentes sobressalentes, ou preservar o ferramental para possíveis necessidades. Para produtos intangíveis, o fabricante descontinua também o suporte técnico que eventualmente oferecia. Um dos modelos, muito utilizado principalmente na fase de pré-desenvolvi- mento, é o que mostra a evolução do projeto/produto em termos dos recursosfinanceiros associados com as diferentes fases ou estágios do ciclo, conforme mostrado na Figura 1. A fase de desenvolvimento, que compreende o planejamento, projeto e produ- ção, é caracterizada por um investimento crescente até o lançamento do produto no mercado. Nas fases de lançamento e crescimento, os custos de pesquisa e desenvolvimento, bem como os custos adicionais de promoção e penetração no mercado, fazem com que os lucros sejam negativos ou baixos. Essas fases caracte- rizam-se por serem períodos de investimento e de risco. Ocorre um aumento dos lucros durante a fase de crescimento. Geralmente, poucas empresas obtêm lucro antes dessa fase. Na fase de maturidade, tem-se uma estabilidade, mais bem descri- ta como um período sem crescimento e de estagnação do mercado. A maior parte dos lucros com o produto é obtida nessa fase. Na fase seguinte, de declínio, ocorre uma diminuição nas vendas causada por fatores como aumento da concorrência com novos produtos, por inovações e desenvolvimentos tecnológicos que levam o produto à obsolescência e a mudanças de hábitos nos consumidores. Em geral, nessa fase, as empresas gradativamente eliminam os canais de distribuição menos rentáveis para, em seguida, encerrar a produção do produto. O abandono de pro- dutos geralmente ocorre após a fase de declínio, mas é possível, em alguns casos, que o produto vá diretamente da fase de crescimento para o declínio. 10 11 Ve nd as Vendas Lucro Tempo Fluxo de Caixa Desenvolvimento Lançamento Crescimento Maturidade Declínio Figura 1 – Ciclo de vida baseado nas vendas de um produto É importante ressaltar que cada produto possui seu próprio ciclo de vida, e que, com as informações levantadas na fase anterior, busca-se definir as fases do ciclo de vida do produto, com base no conhecimento sobre produtos similares ou nos produtos que o antecederam. Além disto, o ciclo de vida depende de vários fatores, dentre os quais, os que se destacam: tipo de produto que vai ser projetado, tipo de projeto a ser executado, escala de produção, características de funcionamento, características de uso e manuseio, serviços de manutenção e filosofia de descontinuação. A definição dos clientes associados às diferentes fases do ciclo de vida vem a seguir. Os clientes de um projeto podem ser classificados em três tipos diferentes: clientes externos, clientes intermediários e clientes internos. Os clientes externos, que podem ser pessoas ou organizações, são aqueles que irão usar ou consumir o produto, e/ou manter, desativar e descartar o produto. De uma forma geral, esses clientes desejam que os produtos contenham atributos tais como: qualidade, baixo preço de aquisição e manutenção, eficiência, segurança, durabilidade, confiabilidade, fácil operação, manutenção e descarte, visual atrativo (estético), que incorporem as últimas tendências e desenvolvimentos tecnológicos e que sejam ecologicamente corretos. Os desejos desses clientes devem ser tratados com a máxima prioridade, pois, se o produto não atender às suas necessidades e aos requisitos, o produto resultará em um fracasso em termos de vendas. Os clientes intermediários correspondem àqueles responsáveis pela distribuição, compras, vendas e marketing do produto. Estes, normalmente, esperam que o produto satisfaça a todos os desejos e necessidades dos clientes externos, seja fácil de embalar, armazenar e transportar, seja atrativo e possa ser adequadamente exposto para o público. O atendimento dessas necessidades é um fator determinante para que o distribuidor tenha sucesso na venda do produto. 11 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto Por clientes internos, entende-se como sendo os fabricantes e o pessoal envolvido no projeto e na produção dos produtos. Esses esperam que o produto contenha operações de fabricação, montagem, armazenamento e transporte fáceis e seguros, utilize recursos disponíveis (instalações, equipamentos, matéria-prima e mão de obra), utilize componentes padronizados, utilize as facilidades existentes e produza um mínimo de refugos e partes rejeitadas. As categorias de clientes são mostradas na Figura 2, formando parte, e sendo associadas aos setores produtivos (clientes internos), que são aqueles setores em que se agrega valor ao produto, aos setores de mercado (clientes intermediários), em que o produto é comercializado, e aos setores de consumo (clientes externos), em que o produto é usado em funcionamento. Especi�cações- -meta Projeto Conceitual Projeto Detalhado Fabricação Montagem e Embalagem Transporte Pré-desenvolvimento Projeto Conceitual Armazenagem VendaCompra Uso Função (Clientes externos) (Clientes intermediários) (Clientes internos) ProjetoDescarte Desativação/ Reciclagem Manutenção Setores e Consumo Setores de Mercado Setores Produtivos Escopo do Produto Figura 2 – Modelo do ciclo de vida em espiral (Fonte: Fonseca, 2000, p. 68) Os atributos relacionados às diferentes fases do ciclo de vida auxiliam na definição das características físicas, de forma, de materiais, de uso, de fabricação e outras. Essa visão do relacionamento entre ciclo de vida do produto e seus clientes é de grande interesse no processo de desenvolvimento de produtos, pois fornece uma visão mais ampla de todo o processo, permitindo o desenvolvimento de soluções específicas para cada um desses clientes. Outra visão de grande importância do relacionamento entre clientes e ciclo de vida é originada do marketing. Nessa visão, os clientes externos do produto são divididos em quatro categorias, relacionadas ao fluxo de vendas apresentado na Figura 1. São elas: • Lançamento: neste período, frequentemente, é observada uma taxa de cres- cimento das vendas relativamente forte, porém, com uma participação no mercado (market-share) ainda pequena. Os lucros ainda não foram suficientes para suplantar as despesas com o projeto e o lançamento do produto. Os 12 13 clientes usualmente encontrados durante essa fase do ciclo de vida do produto são caracterizados pelo impulso de serem os primeiros a possuir tal bem, nor- malmente visando atrair as atenções daqueles que se encontram ao seu redor. • Crescimento: as vendas já conseguiram suplantar as despesas realizadas no desenvolvimento do produto (elas existem e continuam, agora para produzir e distribuir o produto) e a participação no mercado já se aproxima de seu ápice, sendo observado, até mesmo, um lucro mediano. O perfil de cliente que atua nesse instante do ciclo de vida do produto é caracterizado por pessoas que, ao verem uma nova tecnologia ser bem-sucedida, passam a adotá-la, causando um elevado crescimento na taxa de vendas. • Maturidade: a taxa de crescimento das vendas é muito fraca ou, até mesmo, nula, não havendo grandes variações na cota de mercado do produto. No entanto, é durante esse período que a empresa acaba por conseguir os maiores lucros, já que grande parte das despesas foi amortizada nas fases anteriores do ciclo de vida. Os clientes presentes nessa fase do ciclo de vida do produto são aqueles que compram o produto, em grande parte, por imitação. • Declínio: os lucros passam a fracos, ou até mesmo negativos, dado o declínio da participação do produto no mercado, sendo observada uma taxa de crescimento negativa. Para a empresa, é importante manter o monitoramento durante a maturidade do produto de forma a identificar o mais rapidamente possível o aparecimento da fase de declínio e, se for necessário, descontinuar o produto. Nessa fase, as vendas são feitas aos clientes mais fiéis do produto, os quais não foram atraídos por novas marcas ou tecnologias. O Produto e o Meio Ambiente Um mundo sustentável é aquele em que os materiais que são extraídos da natureza retornam ao mesmo local de onde vieram, sem causar outros danos ou perturbações, além de consumir pouca energia. Por exemplo, extrai-se o ferro e com ele se fabricam automóveis; depois de usados, o ferro contido nesses automóveis deveria retornarao mesmo local, ou ainda, ser utilizado na fabricação de um novo. Além disso, os processos produtivos não deveriam ter deixado marcas no ambiente. Todos nós sabemos, entretanto, que as coisas não acontecem desta maneira. Muitos materiais até são reciclados, porém, os processos pelos quais passaram deixam suas marcas deteriorantes (elevado consumo de energia e elevação do teor de gás carbônico na atmosfera, por exemplo). Conforme relata Ulrich (2012), em junho de 2009, a empresa Herman Miller Inc., fabricante de mobiliário para escritório nos Estados Unidos, lançou uma nova cadeira multifuncional com design arrojado. O projeto procurou estabelecer novos padrões de simplicidade, adaptabilidade e conforto do assento, com um desenho bastante amigável. O fabricante descobriu que muitas cadeiras utilizadas em escritórios eram desconfortáveis e desajustadas. Além disso, a maioria delas 13 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto era feita com materiais e processos prejudiciais ao meio ambiente. O fabricante então identificou uma necessidade de mercado para uma cadeira multiuso nova e inovadora – uma combinação de conforto, design e preço atraente. A base do projeto foi um encosto flexível, moldado a partir de dois materiais à base de polipropileno. Sem qualquer mecanismo de inclinação e com apenas um ajuste (altura), a cadeira ficou significativamente mais leve, menos complexa, e mais barata que suas concorrentes no mesmo segmento do mercado. A Herman Miller produziu um produto que emergiu do compromisso assumido para minimizar os impactos ambientais na produção de seus produtos e fornecer um grande exemplo de como incorporar considerações ambientais no processo de desenvolvimento de produto. A cadeira foi projetada visando à reciclagem dos materiais e foi produzido usando materiais ambientalmente seguros e energias renováveis. Os seguintes fatores explicam seu nível de desempenho ambiental: • Materiais ecológicos: a cadeira de uso múltiplo da Herman Miller é composta de materiais ambientalmente seguros e não tóxicos, na base de 41 % (em peso) de alumínio, 41 % de polipropileno e 18 % de aço. • Conteúdo reciclado: a cadeira é composta de 44 % de materiais reciclados (em peso, com 23% de pós-consumo e 21% de conteúdo reciclado pós-fabricação). • Índice de reciclagem: a cadeira é 92 % reciclável (em peso) no final da sua vida útil. Os componentes de aço e alumínio são 100% recicláveis. Os com- ponentes de polipropileno são identificados com um código de reciclagem sempre que possível para ajudar na devolução destes materiais para o fluxo de reciclagem. • Energia limpa: a cadeira foi fabricada em uma linha de produção que utiliza 100% de energia verde (metade por meio de turbinas eólicas e metade a partir de gás proveniente de aterro sanitário). • Emissões: não há emissões nocivas de ar ou água durante a produção da cadeira. • Embalagens retornáveis e recicláveis: os componentes são recebidos pela Herman Miller de uma rede de fornecedores próximos em bandejas moldadas que são devolvidas aos fornecedores para reutilização. Materiais de embalagem de saída incluem papelão ondulado e um saco de plástico de polietileno, ambos os materiais capazes de reciclagem repetida. O Que é Projetar para o Meio Ambiente? O exemplo da Herman Miller é marcante. A empresa utilizou um processo conhecido como Design for Environment (DFE), ou projetado para o meio am- biente (vimos na Unidade V a definição do conceito do sistema DFX). O DFE é uma maneira de incluir considerações ambientais no processo de desenvolvimen- to do produto. 14 15 Cada produto tem seus impactos ambientais. A DFE fornece às organizações um método prático para minimizar esses impactos num esforço para criar uma sociedade mais sustentável. Assim como a prática eficaz de design para fabricação (DFM) tem demonstrado que é possível manter ou melhorar a qualidade do produto ao mesmo tempo em que reduz os custos, os profissionais da DFE também descobriram que a prática efetiva de DFE pode manter ou melhorar a qualidade e reduzir os custos dos produtos e os impactos ambientais. Os impactos ambientais de um produto podem incluir o consumo de energia, o esgotamento dos recursos naturais, as descargas líquidas, as emissões gasosas e a geração de resíduos sólidos. Esses impactos se dividem em duas grandes categorias – energia e materiais – e ambos representam problemas ambientais críticos que precisam ser resolvidos. Para a maioria dos produtos, abordar o problema da energia significa desenvolver produtos que usam menos energia ou que utilizam energia renovável. Resolver o problema dos materiais não é uma tarefa tão simples. Portanto, grande parte do foco do DFE é escolher os materiais certos para os produtos e, assim, garantir que eles possam ser reciclados. Durante os estágios iniciais do processo de desenvolvimento do produto, as decisões deliberadas sobre o uso do material, a eficiência energética e o descarte de resíduos podem minimizar ou eliminar os impactos ambientais. No entanto, uma vez que o conceito do design foi estabelecido, melhorar o desempenho ambiental geralmente envolve longas iterações durante o projeto. O DFE, portanto, pode envolver atividades ao longo de todo o processo de desenvolvimento do produto e requer uma abordagem interdisciplinar. O desenho industrial, a engenharia, compras e marketing trabalham juntos no desenvolvimento de produtos ecológicos. Em muitos casos, profissionais de desenvolvimento de produtos com treinamento especializado em DFE lideram os esforços dentro de um projeto. O Ciclo de Vida Natural A base do DFE é orientar o pensamento para o ciclo de vida do produto. Isso ajuda a expandir a preocupação do fabricante tradicional com a produção e distribuição de seus produtos para incluir um sistema fechado que relaciona o ciclo de vida do produto ao ciclo de vida natural, ambos ilustrados na Figura 3. O ciclo de vida do produto começa com a extração e processamento de matérias-primas a partir de recursos naturais, seguido pela produção, distribuição e uso do produto. Finalmente, no final da vida útil do produto, existem várias opções de recuperação: remanufatura ou reutilização de componentes, reciclagem de materiais, descarte por incineração ou depósito em aterro. O ciclo de vida natural representa o crescimento e a decadência de materiais orgânicos em um ciclo contínuo. Os dois ciclos de vida se cruzam, como mostra o diagrama, com o uso de materiais naturais em produtos 15 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto industriais e com a reintegração de materiais orgânicos de volta ao ciclo natural. Enquanto a maioria dos ciclos de vida do produto ocorre ao longo de alguns meses ou anos, o ciclo natural abrange um espaço de tempo mais amplo. A maioria dos materiais orgânicos (baseados em plantas e animais) pode decair com relativa rapidez e se tornar nutrientes para o crescimento de novos materiais semelhantes. No entanto, outros materiais naturais (como minerais) são criados em uma escala de tempo muito mais longa, e por isso não são considerados recursos naturais renováveis. Portanto, depositar a maior parte dos materiais industriais baseados em minerais em aterros não recria facilmente materiais industriais semelhantes por talvez milhares de anos (e, muitas vezes, produz concentrações não naturais de resíduos nocivos). Cada um dos estágios do ciclo de vida do produto pode consumir energia e outros recursos e pode gerar emissões e resíduos, todos com impactos ambientais. A partir dessa perspectiva do ciclo de vida, a fim de alcançar condições de sustentabilidade ambiental, os materiais em produtos devem ser equilibrados em um sistema sustentável em malha fechada. Isso dá origem a três desafios de concepção de produtos para alcançar a sustentabilidade, que também estão representados no diagrama de ciclo de vida da Figura 3: 1. Eliminar a utilização de recursos naturais não renováveis (incluindo fontes de energia nãorenováveis). 2. Eliminar a utilização de materiais sintéticos e inorgânicos que não se deteriorem rapidamente. 3. Eliminar a criação de resíduos tóxicos que não fazem parte dos ciclos de vida naturais. Deposição Tóxicos Orgânicos Inorgânicos Recolha Reuso Remanufatura Ciclo de vida do produto Uso Decaimento natural Recursos não-renováveis Recursos pós-industrial Reciclagem pós-consumo Ciclo de vida natural Recursos Materiais Produção Distribuição Recursos renováveis Figura 3 – O ciclo de vida do produto e o ciclo de vida natural 16 17 As organizações comprometidas com o DFE procuram trabalhar para alcan- çar essas condições de sustentabilidade ao longo do tempo. O DFE ajuda essas organizações a criar melhores produtos, escolhendo cuidadosamente os materiais e permitindo opções de recuperação adequadas para que os materiais utilizados em produtos possam ser reintegrados no ciclo de vida do produto ou ao ciclo de vida natural. Impactos Ambientais Todo produto pode ter vários impactos ambientais ao longo de seu ciclo de vida útil. A seguir, estão listados alguns dos impactos ambientais decorrentes do setor manufatureiro (adaptado de FIKSEL, 2009): • Aquecimento Global: dados científicos e modelos mostram que a tempera- tura da Terra está aumentando gradualmente como resultado do acúmulo de gases de efeito estufa, partículas e vapor de água na atmosfera superior. Este efeito parece estar acelerando como resultado das emissões de dióxido de car- bono (CO2), metano (CH4), clorofluorcarbonos (CFCs), partículas de carbono preto e óxidos de nitrogênio (NOx) de processos e produtos industriais. • Esgotamento de recursos: muitas das matérias-primas utilizadas para produção, como minério de ferro, gás, petróleo e carvão, são não renováveis e os suprimentos são limitados. • Resíduos sólidos: os produtos podem gerar resíduos sólidos ao longo de seu ciclo de vida. Alguns destes resíduos são reciclados, mas a maior parte é depositada em incineradores ou aterros. Os incineradores geram poluição atmosférica e cinzas tóxicas (que são depositadas em aterros sanitários). Os aterros também podem criar concentrações de substâncias tóxicas, gerar gás metano (CH4) e liberar poluentes das águas subterrâneas. • Evitar o uso de água: as fontes mais comuns de poluição da água são as descargas de processos industriais, que podem incluir metais pesados, fertilizantes, solventes, óleos, substâncias sintéticas, ácidos e sólidos em suspensão. Os poluentes da água podem afetar as águas subterrâneas, a água potável e os ecossistemas frágeis. • Poluição atmosférica: as fontes de poluição do ar incluem emissões de fábricas, usinas geradoras de energia, incineradores, edifícios residenciais e comerciais e veículos motorizados. Os poluentes típicos incluem CO2, NOx, dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3) e compostos orgânicos voláteis (VOCs). • Degradação dos solos: a degradação dos solos diz respeito aos efeitos adversos que a extração e a produção de matérias-primas, tais como a mineração, a agricultura e a silvicultura, têm sobre o ambiente. Os efeitos incluem redução da fertilidade do solo, erosão do solo, salinidade da terra e da água e desmatamento. • Biodiversidade: a biodiversidade diz respeito à variedade de espécies vegetais e animais e é afetada pela limpeza de terras para desenvolvimento urbano, mineração e outras atividades industriais. 17 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto • Degradação da camada de ozônio: a camada de ozônio protege a terra contra os efeitos nocivos da radiação solar. Ela é degradada por reações com ácido nítrico (criado pela queima de combustíveis fósseis) e por compostos de cloro (como os CFCs). Histórico do DFE O nascimento do DFE pode ser rastreado até o início dos anos 1970, quando Papanek (1971) desafiou os projetistas a enfrentar suas responsabilidades sociais e ambientais em vez de apenas considerarem interesses comerciais. O Relatório Brundtland (1987) da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu pela primeira vez o termo desenvolvimento sustentável como “[...] desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades”. Na década de 1990, vários livros influentes sobre design ambientalmente amigável foram publicados. Burall (1991) argumentou que não havia mais um conflito entre uma “abordagem verde” para o design e sucesso empresarial. Fiksel (1996, revisado em 2009) discutiu como o DFE integra o pensamento do ciclo de vida no desenvolvimento de novos produtos e processos. À medida que o processo DFE amadurecia, Brezet e Van Hemel (1997) forneceram um guia prático chamado Ecodesign. Também na década de 1990, a Universidade Técnica de Delft, a Philips Electronics e o governo holandês colaboraram para desenvolver uma ferramenta de software de análise do ciclo de vida que fornece métricas para avaliar o impacto ambiental global de um produto. O movimento de desenvolvimento sustentável de hoje abrange o conceito mais amplo de design de produto sustentável (BHAMRA e LOFTHOUSE, 2007), que inclui não apenas DFE, mas também as implicações sociais e éticas dos produtos. Embora os autores tenham utilizado várias terminologias para abordagens de design ambientalmente amigáveis, os termos design verde, ecodesign, design sustentável e DFE em resumo procuram dizer a mesma coisa. A Jornada da Empresa Herman Miller para o DFE Muitas empresas de manufatura começaram a adotar o DFE. No entanto, ao que se tem notícia, poucos o fizeram até o ponto de Herman Miller (o fabricante 18 19 das cadeiras ecologicamente corretas), onde o DFE foi fundamental para a sua estratégia corporativa. A Herman Miller se esforçou para manter altos padrões de qualidade de seus produtos, ao mesmo tempo em que incorporava cada vez mais materiais e processos de fabricação ecológicos em cada novo design de produto. Em 1999, Herman Miller formou uma equipe especializada em DFE. Essa equipe foi responsável por desenvolver padrões de design ambientalmente sensíveis para produtos novos e existentes da empresa. Uma empresa de design de produtos e processos industriais com sede na Virgínia, a McDonough Braungart Design Chemistry (MBDC), apoia a formação de equipes especializadas em DFE. McDonough e Braungart (2002) declararam em seu livro, Cradle to Cradle: Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things, que a abordagem DFE tradicional – projetar produtos que são meramente menos prejudiciais ao meio ambiente devido a melhorias incrementais, como a redução do uso de energia, geração ou uso de materiais tóxicos – não é suficiente porque esses produtos ainda não são saudáveis para o meio ambiente. Para passar do estágio de “menos prejudicial” para produtos “verdadeiramente amigáveis ambientalmente”, McDonough e Braungart (2002) descrevem um método DFE que se concentra em três áreas-chave de design de produtos, que são: • Produtos químicos: » Quais os produtos químicos que compõem os materiais especificados? Eles são seguros para os seres humanos e o meio ambiente? • Desmontagem: » Os produtos podem ser desmontados no final da sua vida útil para reciclar os seus materiais? • Capacidade de reciclagem: » Os materiais podem ser reciclados? Os materiais são facilmente separáveis em categorias de reciclagem? Os materiais podem ser reciclados no final da vida útil do produto? Para implementar o DFE, a Herman Miller constituiu uma equipe de especialistas em DFE, cujos integrantes trabalhavam em cada desenvolvimento de novos produtos. Juntamente com a MBDC, eles criaram um banco de dados de materiais e uma ferramenta de avaliação de DFE que fornecem métricas para orientar as decisões de design ao longo do processo de desenvolvimento do produto. 19 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto O Processo DFE A implementação efetiva do DFE inclui atividades em todo o processo de desenvolvimento do produto.As etapas do processo DFE são mostradas na Figura 4. Apesar da apresentação linear das etapas, as equipes de desenvolvimento de produto provavelmente repetirão algumas etapas várias vezes, tornando o DFE um processo iterativo. As seções a seguir descrevem cada etapa do processo DFE. Fase de detalhamento do produto Re�namento do projeto Re�etir sobre os resultados Comparar com metas do DFE Veri�car impactos ambientais Aplicar diretrizes de DFE Estabelecer diretrizes de DFE Identi�car impactos ambientais Estabelecer a agenda Fase de planejamento do produto Projeto a nível do sistema Desenvolvimento do processo Desenvolvimento do conceito Figura 4 – Fluxograma do processo de DFE ETAPA 1: Definir os Requisitos para o DFE: Diretrizes, Objetivos e Equipe O processo DFE começa tão cedo quanto a fase de planejamento do produto com a definição da agenda do DFE. Esta etapa consiste em três atividades: identificar as diretrizes internas e externas do DFE, definir as metas ambientais para o produto e configurar a equipe do DFE. Ao definir a agenda da DFE, a organização identifica um caminho claro e viável para um projeto de produto ambientalmente amigável. Identificar as Diretrizes Internas e Externas para o DFE A fase de planeamento do DFE começa com uma discussão das razões pelas quais a organização pretende abordar o desempenho ambiental dos seus produtos. É útil documentar as diretrizes internas e externas. Esta lista pode evoluir ao longo do tempo, uma vez que as mudanças na tecnologia, regulação, experiência, partes 20 21 interessadas e concorrência afetam essas diretrizes, a capacidade e os desafios da organização. As diretrizes internas são os objetivos do DFE dentro da organização. Brezet e Van Hemel (1997) recomendam: • Qualidade do produto: o foco no desempenho ambiental pode elevar a qualidade do produto em termos de funcionalidade, confiabilidade, durabilidade e manutenção. • Imagem pública: anunciar um alto nível de qualidade ambiental de um produto pode melhorar a imagem da empresa. • Redução de custos: usar menos material e menos energia na produção pode resultar em consideráveis economias. A geração de resíduos e a eliminação de resíduos perigosos resultam em menores custos de eliminação de resíduos. • Inovação: o pensamento sustentável pode levar a mudanças radicais no design do produto e pode promover a inovação em toda a empresa. • Segurança operacional: a eliminação de materiais tóxicos pode ajudar a aprimorar a saúde e segurança no trabalho dos trabalhadores. • Motivação dos empregados: os empregados podem ser motivados a contribuir de forma nova e criativa se forem capazes de ajudar a reduzir os impactos ambientais dos produtos e operações da empresa. • Responsabilidade ética: o interesse em um desenvolvimento sustentável entre gerentes e desenvolvedores pode ser motivado em parte por um senso moral de responsabilidade pela conservação do meio ambiente e da natureza. • Comportamento do consumidor: a disponibilidade de produtos com benefícios ambientais positivos pode acelerar a transição para estilos de vida mais limpos e para uma demanda por produtos mais ecológicos. As diretrizes externas do DFE incluem tipicamente os regulamentos ambientais, as preferências dos clientes e as ofertas dos concorrentes, tais como: • Legislação ambiental: a política ambiental orientada ao produto está se desenvolvendo rapidamente. As empresas não devem apenas compreender a miríade de regulamentos nas várias regiões onde operam e vendem produ- tos, mas também podem antecipar futuras legislações. O foco do legislativo recente está mudando da proibição de certos materiais para uma respon- sabilidade mais ampla dos fabricantes, incluindo obrigações de recolha de produtos descartados. • Demanda do mercado: hoje, as empresas operam em um ambiente de negócios de clientes industriais cada vez mais bem informados e usuários finais que podem exigir produtos sustentáveis. Publicidade negativa, blogs e boicotes de produtos, fabricantes ou varejistas podem ter um impacto con- siderável nas vendas. Obviamente, o efeito positivo oposto está se tornando mais poderoso também. 21 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto • Concorrência: as atividades de sustentabilidade empreendidas por concor- rentes podem levar à pressão para que seja dada mais ênfase em atividades de DFE. A definição de um padrão ambiental elevado pode significar uma vantagem em um primeiro momento. • Fornecedores: os fornecedores influenciam o comportamento da empresa através da introdução de materiais e materiais mais sustentáveis. • Pressões sociais: através de seus contatos sociais e comunitários, os gerentes e funcionários podem ser questionados sobre a responsabilidade de seu negócio em relação ao meio ambiente. No caso das cadeiras da empresa Herman Miller, as principais diretrizes do DFE foram a procura no mercado, a inovação e o compromisso da empresa com a responsabilidade ambiental. Definir os Objetivos do DFE Uma atividade importante na fase de planejamento do produto é definir as metas ambientais para cada projeto de desenvolvimento do produto. Muitas organizações estabeleceram uma estratégia que inclui metas ambientais de longo prazo. Essas metas definem como a organização atende aos regulamentos ambientais e como a organização reduz os impactos ambientais de seus produtos, serviços e operações. Em 2005, Herman Miller estabeleceu seus objetivos ambientais de longo prazo para o ano 2020: • Nada para aterros sanitários; • Nenhuma geração de resíduos perigosos; • Emissões atmosféricas prejudiciais nulas; • Nenhuma utilização de água de processo; • 100 % da energia utilizada renovável; • Todos os edifícios certificados para cumprir os padrões de eficiência ambiental; • Todas as vendas de produtos definidas durante o processo de DFE. Para alcançar estes objetivos em longo prazo, metas ambientais específicas podem ser estabelecidas para cada produto durante a fase de planejamento. Esses objetivos individuais também permitem que a organização progrida rumo a estratégias de longo prazo. Com base no entendimento de quais estágios do ciclo de vida contribuem com pactos significativos de proteção ambiental, os objetivos podem ser desenvolvidos adequadamente. A empresa Herman Miller entendeu que os principais impactos ambientais de seus produtos de mobiliário de escritório estão nos materiais, na produção e na recolha dos produtos descartados. Para sua cadeira de escritório, a empresa utilizou exclusivamente materiais com baixo impacto ambiental, facilitou a desmontagem do produto e possibilitou a reciclagem. 22 23 Montar uma Equipe para o DFE A DFE exige a participação de muitos especialistas funcionais no projeto de desenvolvimento de produtos. A composição típica de uma equipe de DFE (geralmente constituída de uma subequipe dentro da equipe principal de projeto geral) consiste em um líder de DFE, um especialista em química e materiais ambientais, um engenheiro de fabricação e um representante da organização de compras e da cadeia de suprimentos. É claro que a composição da equipe do DFE depende da organização e das necessidades do projeto específico e também pode incluir profissionais de marketing, consultores externos, fornecedores ou outros especialistas. A empresa Herman Miller criou sua equipe DFE, em 1999, para trabalhar com os designers e engenheiros em cada projeto de desenvolvimento de produto para rever a composição química do material, os processos de desmontagem, reciclagem, embalagens de entrada e saída, fontes de energia e usos e geração de resíduos. A equipe do DFE deverá estar envolvida desde o início para assegurar que as etapas posteriores atendam aos requisitos. Ao trabalhar em estreita colaboração com cada equipe de desenvolvimento de produtos, a equipe de DFE fornece as ferramentas e conhecimentos necessários para tomar decisões de design ambientalmente saudáveis. ETAPA 2: Identificar PotenciaisImpactos Ambientais Dentro da fase de desenvolvimento do conceito, o DFE começa identificando os potenciais impactos ambientais do produto ao longo de seu ciclo de vida. Isso permite que a equipe de desenvolvimento do produto considere os impactos ambientais no estágio do conceito, ainda que quase não haja informação específica (no que diz respeito ao uso de materiais e energia, emissões e geração de resíduos) disponível para o produto real que possa conduzir a uma avaliação de impacto ambiental detalhada. No caso do redesenho do produto, entretanto, dados relevantes podem ser fornecidos por meio da análise de impacto de alguns produtos existentes. Na etapa 5 abaixo, descrevemos os métodos de avaliação do ciclo de vida. Há algumas considerações a fazer. Para alguns produtos (por exemplo, automó- veis, dispositivos eletrônicos) os impactos mais significativos são encontrados na fase de utilização. Para outros produtos (por exemplo, vestuário, mobiliário de es- critório), os maiores impactos podem ser nos materiais, na produção e na recolha. ETAPA 3: Selecionar as Diretrizes para o DFE As diretrizes ajudam as equipes de design de produtos a tomarem as primeiras decisões de DFE sem uma análise de impacto ambiental mais detalhada, a qual só é possível depois que o projeto esteja mais avançado. As orientações relevantes podem ser selecionadas com base, em parte, na avaliação qualitativa dos impactos do ciclo de vida (a partir do passo 2). A seleção de diretrizes relevantes durante a fase de desenvolvimento do conceito permite que a equipe de desenvolvimento do produto as aplique ao longo do projeto de desenvolvimento do produto. 23 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto ETAPA 4: Aplicar as Diretrizes de DFE ao Projeto Inicial do Produto Uma vez que a arquitetura do produto é desenvolvida durante a fase de projeto do nível do sistema, algumas escolhas iniciais de material são feitas junto com algumas das decisões de projeto. É benéfico, portanto, aplicar as diretrizes DFE mais relevantes (selecionadas na etapa 3) neste ponto. Dessa forma, o design inicial do produto pode ter impactos ambientais menores. Por exemplo, a equipe de desenvolvimento da cadeira de escritório queria que ela fosse leve para reduzir o uso de materiais e os impactos no transporte. Essa foi uma das diretrizes adotadas. Os projetistas conseguiram isso desenvolvendo um conceito e arquitetura de produto que não continha um mecanismo de inclinação localizado sob o assento e outras complexidades. Isso ajudou a reduzir o peso da cadeira em até 9 kg, segundo Ulrich (2012). A equipe também procurou novas formas de facilitar a desmontagem da cadeira, a fim de facilitar a reciclagem. Eles colocaram as juntas onde é facilmente acessível e também asseguraram que os componentes são separáveis à mão ou com ferramentas comuns (mais uma diretriz de DFE aplicada). Na fase de detalhamento, são determinadas as especificações exatas dos mate- riais, a geometria detalhada e os processos de fabricação. A aplicação das diretrizes de DFE no projeto detalhado é essencialmente a mesma que no design do nível do sistema. No entanto, neste momento, muitas decisões estão sendo tomadas e os fatores ambientais podem ser considerados com maior precisão. Especificando materiais de baixo impacto e reduzindo o consumo de energia, as equipes de desenvolvimento de produtos criam produtos mais ecológicos. Além disso, as diretrizes DFE podem inspirar as equipes de desenvolvimento de produtos a me- lhorar a funcionalidade e a durabilidade do produto, o que pode levar a impactos ambientais significativamente menores. Para especificar materiais que atendessem aos requisitos ambientais e funcio- nais, a equipe de desenvolvimento da cadeira da empresa Herman Miller utilizou o banco de dados de materiais proprietários da empresa. A base de dados, manti- da em conjunto com a empresa MBDC, considerava os impactos ambientais e de segurança de cada material e os classificava em quatro categorias: verde (pouco ou nenhum perigo), amarelo (perigo baixo a moderado), laranja (dados incom- pletos) e vermelho (alto risco). O objetivo da Herman Miller era usar somente materiais que classificassem amarelo ou verde para todos os novos produtos. Por exemplo, o cloreto de polivinila (PVC) é classificado como um material vermelho. O PVC é um polímero que é comumente utilizado em móveis e outros produtos devido ao seu baixo custo e alta resistência. No entanto, tanto a produção como a incineração de PVC libertam emissões tóxicas. Para evitar o uso de materiais tó- xicos para o ser humano e para o meio ambiente, os engenheiros especificaram materiais mais seguros, como o polipropileno no lugar do PVC. 24 25 ETAPA 5: Avaliar os Impactos Ambientais O próximo passo é avaliar, na medida do possível, os impactos ambientais do produto ao longo de todo o seu ciclo de vida. Para fazê-lo com precisão, é necessário compreender detalhadamente como o produto é produzido, distribuído, utilizado ao longo de sua vida útil e reciclado ou descartado no final da sua vida útil. Esta avaliação é, geralmente, feita com base na lista detalhada de materiais (BOM), incluindo fontes de energia, especificações de materiais componentes, fornecedores, modos de transporte, fluxos de resíduos, métodos de reciclagem e meios de descarte. Várias ferramentas quantitativas de avaliação do ciclo de vida (ACV) estão disponíveis para realizar essa avaliação ambiental. Essas ferramentas são softwares para computadores e variam em preço e complexidade, podendo ser selecionadas com base nos tipos de materiais e de processos envolvidos e na precisão necessária para a análise. As ferramentas ACV requerem uma quantidade significativa de tempo, treinamento e dados. Muitas análises de ACV são comparativas e fornecem uma base para considerar o desempenho ambiental de alternativas de design de produto. Os softwares comerciais de ACV estão se tornando amplamente utilizados na concepção de produtos, e os dados de suporte estão disponíveis para materiais comuns, processos de produção, métodos de transporte, processos de geração de energia e cenários de descarte. Comparar os Impactos Ambientais aos Objetivos do DFE Este passo compara os impactos ambientais do projeto em evolução com os objetivos do DFE estabelecidos na fase de planejamento. Se várias opções de projeto foram criadas na fase do projeto detalhado, elas podem agora ser comparadas para julgar qual delas tem os menores impactos ambientais. A menos que a equipe de desenvolvimento do produto seja muito experiente em DFE, o projeto geralmente terá muito espaço para melhorias. Geralmente, várias iterações DFE são necessárias antes que a equipe esteja convencida de que o produto é tão bom quanto deveria ser segundo a perspectiva DFE. ETAPA 6: Refinar o Projeto do Produto para Reduzir ou Eliminar os Impactos Ambientais O objetivo desta etapa e subsequentes iterações DFE é reduzir ou eliminar quaisquer impactos ambientais significativos através de refinamentos de projeto. Os impactos podem assim ser reduzidos a um nível aceitável e o desempenho ambiental acaba se enquadrando nos objetivos do DFE. O refinamento para melhoria contínua de DFE também pode continuar após a produção começar. No caso da Herman Miller, depois de várias iterações de projeto, a equipe desenvolveu uma maneira de moldar a coluna que sustenta o encosto usando dois materiais de polipropileno diferentes 25 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto que são compatíveis para reciclagem sem separação. A base de alumínio da cadeira é um exemplo de “design mínimo”: não foi revestida e nem polida, sem trabalho de acabamento e sem toxinas prejudiciais, é durável e tem menos impactos ambientais do que as bases de cadeira tradicionais. Um dos compromissos difíceis abordados no desenvolvimento dessa cadeira estava relacionado à seleção de materiais para os braços da mesma: enquanto os engenheiros estavam determinados a evitar ouso de PVC, a equipe não foi capaz de moldar os braços usando materiais olefínicos (como polipropileno) devido a preocupações de durabilidade e falhas por fadiga. Os braços da cadeira foram então moldados a partir de nylon e sobre moldados com um elastômero termoplástico. Como esses materiais não são quimicamente compatíveis para reciclagem, essa decisão tirou a capacidade de reciclagem total da cadeira. ETAPA 7: Refletir sobre o Processo e Eesultados do DFE Assim como em todo processo de desenvolvimento do produto, a atividade final é perguntar: • Como o processo DFE foi executado? • Como o processo DFE pode ser melhorado? • Quais as melhorias DFE que podem ser feitas em produtos derivados e futuros? Como já dissemos, há várias ferramentas de avaliação disponíveis. Ulrich (2012) descreve que a empresa Herman Miller, utilizando uma delas, havia obtido para a sua cadeira ecologicamente correta o índice de 72 % em termos de facilidade de desmontagem e viabilidade de reciclagem, em uma escala de zero a 100 %, o que deixou a equipe de desenvolvimento satisfeita. Ao longo do desenvolvimento, porém, a pontuação de capacidade de reciclagem da cadeira subiu e desceu, caindo de 99 % para 92 %, devido ao trade-off relativo à escolha do material na concepção dos braços. Uma conquista muito importante feita durante o desenvolvimento da cadeira para permitir sua reciclagem foi uma mudança nos materiais da coluna. As iterações iniciais usaram materiais diferentes unidos, que não podiam ser reciclados. A equipe do DFE desafiou a equipe de desenvolvimento a inovar ainda mais. A solução resultante foi a combinação de dois materiais que são compatíveis para uma reciclagem sem separação. Infelizmente, tal solução não pôde ser desenvolvida para os braços das primeiras cadeiras. Isso demonstra que a criação de um produto perfeito a partir de uma perspectiva DFE é um objetivo que pode levar anos para alcançar. Um DFE eficaz exige uma equipe de desenvolvimento de produtos que se esforça para a melhoria contínua. 26 27 Outro passo importante dado pela empresa Herman Miller foi a redução do índice de “carbon footprint”, ou literalmente “rastro de carbono”. O rastro de carbono de um produto é a quantidade de emissões de gases com efeito de estufa causadas pelo produto, normalmente expressas em termos da massa equivalente de CO2 emitida. A consideração do rastro de carbono afetaria ainda mais as escolhas materiais da Herman Miller. Por exemplo, com base apenas na capacidade de reciclagem e na toxicidade ambiental, o alumínio é um material ecológico. No entanto, considerando o rastro de carbono do alumínio, pode ser uma escolha menos favorável (comparada ao aço, por exemplo), devido à quantidade de energia necessária para produzir alumínio novo. O alumínio reciclado, entretanto, usa muito menos energia, incluindo nesta análise também a energia utilizada para processar os metais. E, assim, chegamos ao término desta Unidade. Esperamos que o conteúdo teórico descrito aqui tenha sido útil para o seu aprendizado. 27 UNIDADE O Ciclo de Vida de um Produto Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Design for Sustainability: A Practical Approach BHAMRA, T., and LOFTHOUSE, V. Design for Sustainability: A Practical Approach, Gower, UK, 2007. Ecodesign, A Promising Approach to Sustainable Production and Consumption BREZET, H., and VAN HEMEL, C. Ecodesign, A Promising Approach to Sustainable Production and Consumption, TU Delft, Netherlands, 1997. Green Design BURALL, P. Green Design, Design Council, London, 1991. Design for Environment: A Guide to Sustainable Product Development FIKSEL, J. R. Design for Environment: A Guide to Sustainable Product Development, second edition, McGraw-Hill, New York, 2009. Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things McDONOUGH, W, and BRAUNGART, M. Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things, North Point Press, New York, 2002. Design for the Real World: Human Ecology and Social Change PAPANEK, V. Design for the Real World: Human Ecology and Social Change, Van Nostrand Reinhold Co., New York, 1971. Product Design and Development ULRICH, T. K.; EPPINGER, S. D. Product Design and Development. 5. ed. New York: MacGraw-Hill, 2012. The Brundtland Report: Our Common Future World Commission on Environment and Development, The Brundtland Report: Our Common Future, Oxford University Press, London, 1987. 28 29 Referências BAXTER, M. Projeto de Produto: Um guia prático para o design de novos produtos. São Paulo: E. Blücher, 2011. FONSECA, A. J. H. Sistematização do Processo de Obtenção das Especifica- ções de Projeto de Produtos Industriais e sua Implementação Computacio- nal. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica – UFSC) – Florianópolis, 2000. ROTONDARO, R.G.; MIGUEL, P.A.C. Projeto do produto e do processo. São Paulo: Atlas, 2010. ROZENFELD, H. et al. Gestão de Desenvolvimento de Produtos: Uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. SLACK, N.; CHAMBERS, C. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 2012. 29
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