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Higiene e Segurança Jussara Maria Leite Oliveira Leonardo DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes,Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia Coelho, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes,Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia Coelho, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Coordenador de Contéudo Andrea Shima da Motta, Projeto Gráfico e Editoração José Jhonny Coelho, Editoração Melina Ramos, Designer Educacional Camila Zaguini, Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi, Nayara Valenciano, Yara M. Dias, Ilustração Bruna Marconato, Fotos Shutterstock. NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050- 900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, forman- do profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” Missão C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Edu- cação a Distância; LEONARDO, Jussara Maria Leite Oliveira Higiene e Segurança. Jussara Maria Leite Oliveira Leonardo Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpresso em 2021. 166 p. “Graduação em Gastronomia - EaD”. 1. Higiene. 2. Segurança. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-957-8 CDD - 22ª Ed. 614 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: 3 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualida- de, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conheci- mento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhe- cimento, formando profissionais cidadãos que con- tribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desen- volvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qua- lidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão uni- versitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis- trativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educa- ção continuada. pa la vr a do re it or Reitor Wilson de Matos Silva Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, demo- cratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comuni- cação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conec- tividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets acelera- ram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipa- mentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em infor- mações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. bo as -v in da s Pró-Reitor de EaD Willian V. K. de Matos Silva 5 bo as -v in da s Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou pro- fissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando opor- tunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transfor- mação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pe- dagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desen- volvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situaçãode realidade, de ma- neira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, as- sista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação e Pós Kátia Solange Coelho Diretoria de Design Educacional Débora do Nascimento Leite Diretoria de Permanência Leonardo Spaine H i g i e n e e S e g u r a n ç a Ap re se nt aç ão d o Li vr o Prezado(a) acadêmico(a), Com satisfação, apresento a você este livro que será a base para os estudos em Higiene e Segurança. Os conteúdos abordados em cada unidade proporcionarão conhecimentos sobre as situações que favorecem não só o controle, mas a garantia da qualidade nas produções dentro de uma Unidade de Alimentação e Nutrição – UAN. O objetivo é capacitá-lo(a) a relacionar alimento como veículo, não apenas de nu- trientes, mas também de agentes patogênicos; identificar e eliminar os pontos críticos e os principais riscos de contaminação que comprometem a qualidade sanitária dos alimentos; ainda, conscientizá-lo(a) sobre a importância da higiene; e familiarizá-lo(a) às normas e legislações oficiais vigentes que abordam as boas práticas e os principais procedimentos operacionais padrões para se produzir um alimento seguro, importantes atributos na formação e atuação profissional. A alimentação e o acesso a alimentos seguros devem ser considerados direitos funda- mentais a todas as pessoas, mas são incontáveis os desafios para se produzir alimentos saudáveis, e como veremos, existem inúmeros fatores que condicionam constantemente os alimentos e os processos em todos os diversos tipos de estabelecimentos alimentícios. A questão ambiental deve ser considerada um atributo em culinária, compondo planejamento e implementação de qualquer projeto de produção em Gastronomia. Higiene e Segurança em Gastronomia será o centro dessa abordagem. Iniciaremos este livro com o estudo sobre os alimentos, os contaminantes e suas consequências para o alimento e para o consumidor. Seguiremos abordando as práticas adequadas que devem ser fomentadas pelos profissionais durante todos os processos da cadeia de produção do alimento para a garantia da segurança alimentar. Espero que obtenha êxito neste momento acadêmico e que os conteúdos promovam não apenas informação, mas conscientização da importância do gestor em gastronomia como um importante agente de promoção da saúde. SUCESSO! Professora Mestre Jussara Maria Leite Oliveira Leonardo SUMÁRIO UNIDADE 1 Introdução à Higiene e Segurança em Gastronomia 13 Alimentos e Alimentação 27 Fundamentos da Microbiologia dos Alimentos 39 Doenças Veiculadas por Alimentos UNIDADE 2 Unidades de Alimentação e Nutrição - UAN 59 Configurações e Instalações 79 Equipamentos e Utensílios 89 Higiene dos materiais UNIDADE 3 Boas Práticas em Unidades de Produção e Serviços de Alimentação 117 Boas Práticas na Manipulação de alimentos e Saúde do Manipulador 133 Boas Práticas nas Etapas de Produção e nos procedimentos Operacionais 147 Programas de Controle de Qualidade e higiene operacional dica do chef habilidades Legendas de Ícones recapitulando saiba mais fatos e dados minicaso reflita Dica do Chef: dicas rápidas para complementar um conceito, detalhar procedimentos e proporcionar sugestões. Habilidades: elo entre as disciplinas do curso. Mão na massa: indicação de atividade prática. Fatos e Dados: complementação do conteúdo com informações relevantes ou acontecimentos. Minicaso: aplicação prática do conteúdo. Reflita: informações relevantes que proporcionam a reflexão de determinado conteúdo. Recapitulando: síntese de determinado conteúdo, abordando os principais conceitos. Saiba mais: Informações adicionais ao conteúdo. mão na massa Introdução à Higiene e Segurança em Gastronomia JUSSARA MARIA LEITE OLIVEIRA LEONARDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Alimentos e Alimentação: Classificação e caracterização dos alimentos • Fundamentos da Microbiologia dos Alimentos • Doenças Veiculadas por Alimentos – DVA • Conhecer os fatores relacionados à produção de alimento. • Identificar as características básicas dos alimentos bem como suas parti- cularidades relacionadas com sua qualidade sanitária e comercial. • Compreender os fundamentos básicos da Microbiologia dos Alimentos. • Relacionar alimento à veiculação de substâncias causadoras de compro- metimentos em quem os consome e manipula. • Apresentar as Doenças Veiculadas por Alimentos – DVAs e as respecti- vas medidas preventivas. Plano de Estudo Objetivos de Aprendizagem Introdução Iniciaremos a primeira unidade deste livro apresentando fundamentos sobre os alimentos e alimentação. É importante lembrar que todos os conteúdos abordados são direcionados não apenas aos profissionais da área de alimentação, que trabalham em cozinhas industriais, comerciais, esco- lares, na produção de alimentação coletiva em pequenas, médias e grandes UAN’s, mas também àqueles que produzem alimentos rotineiramente em suas residências, e àqueles que fazem da gastronomia eventual um hobby. Você vai perceber que cada alimento tem uma particularidade que deve ser conhecida, e a matéria-prima a ser transformada deve ser segura, para que você possa produzir alimentos saudáveis. Antes mesmo de se estabelecer as práticas e a busca por padrões de qualidade dentro de um estabelecimento alimentício, é necessário conhecer as características e a classificação de cada alimento, pois avaliação de sua segurança deve iniciar desde a sua origem. Assim, a classificação dos alimentos é uma das formas de se determinar a resistência es- trutural ou a susceptibilidade ao meio e aos agentes que promovem as alterações físicas ou químicas, deteriorações ou, ainda, a propensão à contaminação inicial ou ao desenvolvimento/ multiplicação dos micro-organismos. Este conteúdo não tem o objetivo de torná-lo(a) um(a) microbiologista de alimentos, mas de apresentar alguns aspectos biológicos desses agentes e as formas de controlá-los. Serão descritos os fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos que interferem no meta- bolismo dos micro-organismos contaminantes, e associado a cada fator, as respectivas condições de controle. Finalizaremos esta unidade apresentando as Doenças ou Enfermidades Veiculadas ou Transmitidas por Alimentos (DVA, EVA, DTA, ETA), seus agentes, mecanismos de transmissão, principais sintomas e as medidas de controle. Bons estudos! 11 H i g i e n e e S e g u r a n ç a 13G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Para iniciarmos nosso estudo, gostaria que refletisse: em algum momento você já se questionou por que nos alimentamos? A resposta é simples: Por que é preciso controlar a fome, uma necessidade fisiológica dos seres vivos, que necessitam ingerir quantidades suficientes de alimentos até alcançar a saciedade do organismo (BRASIL, 2007). No entanto, as funções orgânicas necessitam de nutrientes e estes independem da quantidade de alimento, mas sim do tipo de alimento ingerido. A seguir, apresento a você as impressões de importantes au- toresda área: Alimentos e Alimentação H i g i e n e e S e g u r a n ç a N ós nos alimentamos por que preci- samos nos nutrir, ingerindo níveis adequados de vitaminas, proteínas, sais minerais, lipídeos (gorduras), carboidratos (açúcares), fibras, água, assim, os nutrientes são elementos imprescindíveis para as atividades energéticas, estruturais, re- paradoras e são transportados do meio externo para o meio interno do organismo através dos alimentos que, para desempenhar esta função, devem estar em bom estado ou terem sido bem preparados (EVANGELISTA, 2008). Essas substâncias promovem a manutenção dos organismos vivos, contribuindo para que se mantenham saudáveis, principalmente durante e após períodos de gasto energético, físico, inte- lectual, emocional, equilibrando o organismo, suas defesas imunológicas e mantendo assim a vida (GERMANO; GERMANO, 2008). Conseguiu compreender como o nosso or- ganismo depende grandemente dos alimentos e da alimentação? O tipo de alimentação a ser consumida por um indivíduo depende do perfil de idade (criança, jovem, adulto ou senil), da atividade que realiza constantemente (física, intelectual etc.) e do clima em que vive (frio, temperado ou quente); da mesma forma, as consequências dessa ingestão também diferem de um organis- mo para outro, por esta razão o alimento deve ser produzido com segurança. Assim, um alimento que apresente algum comprometimento, alguma alteração, poderá ser imperceptível para alguns, como poderá causar sérios distúrbios orgânicos para outros, podendo levar indivíduos ao afastamento das atividades rotineiras, à hospitalização ou, ainda, causar consequências irreversíveis, até mesmo o óbito. Segundo a OMS (2014), estima-se que no mundo as mortes por alimentos contaminados superam os 2,0 milhões e só no Brasil, mais de 6 mil pessoas morrem todos os anos. 15G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Noticiários nos últimos anos têm reportado diversos casos de DVA, e podemos lembrar- -nos de situações graves, com mortalidades, como: • Listeriose, em 2011 - dezenas de mortes por melões contaminados com Listeria; • Botulismo, em 2011 - morte por Botulismo em mortadela, em 2012, mortes e hospitalização por Botulismo em Umuarama, causado por embutidos; em 2013, morte e hospitalizações por Botulismo em Araraquara, SP, pela in- gestão de torta de frango contaminada por Clostridium Botulinum; • Doença de Chagas, em 2005 - 5 mortes e centenas de infectados em Navegantes, no litoral de Santa Catarina, após inges- tão de caldo de cana contaminado, e em Belém do Pará, o Trypanosoma cruzi, cau- sando contaminação em Assaí. • Salmonelose, em 2013 - surto causado por frango contaminado, 18 estados dos EUA, Califórnia, Oregon, Washington e outros, no qual 278 pessoas adoeceram; e casos nacionais de salmonelose em Votuporanga, Batatais, Salvador-Bahia, com mortes e hospitalizações. Portanto, quando elaboramos um alimento, é necessário viabilizarmos todas as formas ade- quadas de se realizar esta produção, para que este seja considerado um alimento seguro. Quando o alimento torna-se um meio de veicu- lação ou transmissão de agentes indesejáveis, tanto microscópicos quanto macroscópicos, causadores de enfermidades, este automati- camente perdeu a sua função primordial, pois passa a desencadear alterações patológicas na- quele organismo que estava preparado para receber nutrientes, mas que acabou sendo invadido por esses agentes responsáveis por disfunções orgânicas, que podem até mesmo culminar em surto. O alimento deve NUTRIR e não PROMOVER DOENÇAS! H i g i e n e e S e g u r a n ç a WHO/ SVS/ MS SURTO: é a ocorrência de doença em duas ou mais pessoas que apresentaram os mesmos sintomas após ingestão do mesmo alimento, mas para aquelas micro-organis- mos com severidades mais altas, como o Clostridium botulismo, a Escherichia coli O157 H7 e a Listeria monocitogenes, basta um caso para ser considerado um surto. Na produção industrial (fábrica de alimentos), co- mercial (alimentação coletiva) ou doméstica (ca- seira) de alimentos, as práticas adequadas estão sendo não apenas recomendadas, mas exigidas, e tornou-se obrigatório seguir as “normas” preco- nizadas dentro de uma Unidade de Alimentação e Nutrição - UAN, porém, devido ao desconheci- mento ou à falta de consciência, e até mesmo à inconstância da fiscalização, as legislações nem sempre são seguidas por quem gera alimentos. Afinal a questão é: O que é Alimento Seguro? Diversas são as definições. Vamos conhecê-las? 1. Segundo o Codex Alimentarius, que é um Programa Conjunto FAO/OMS sobre normas alimentares, alimento seguro é o alimento livre ou que contenha níveis aceitáveis de contaminantes de origem biológica, química ou física, de boa qua- lidade, portanto, inócuo - que não cause dano à saúde (BRASIL, 2006). 2. Alimento Seguro é aquele que não oferece perigos (físicos, químicos ou biológicos) à saúde e integridade do consumidor, quando preparado e/ou consumido con- forme o uso pretendido (BRASIL, 1998). 3. Segundo o programa oficial PAS – Programa Alimento Seguro, é o alimento produzido com a garantia de não apre- sentar os perigos considerados, já que foram controlados durante o processo de produção, com implantação de boas prá- ticas desde o campo, transporte, indús- tria, distribuição, à mesa do consumidor. 4. De acordo com os pesquisadores da ESALQ, alimento seguro é todo aquele produzido que não causa nenhum dano à saúde quando ingerido (SILVA JR., 2014). 5. Segundo registros do SEBRAE, alimento seguro é aquele produzido dentro do con- ceito de segurança, quanto à implantação das boas práticas de higiene e controle 17G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R de qualidade na manipulação, produção e armazenamento de alimentos. 6. Germano e Germano (2008) associam alimento seguro à inocuidade e conside- ram que os procedimentos de higieniza- ção são fundamentais para se assegurar a qualidade do alimento. 7. O alimento seguro é aquele que apre- senta a condição necessária durante a produção, processamento, estocagem e distribuição do alimento, que deve estar adequado e bom para o consumo humano (RUWER, 2011). 8. Alimento seguro é aquele que não ofere- ce risco à saúde do consumidor, estan- do livre de contaminantes e preparado com o conhecimento das Boas Práticas e com responsabilidade de quem o produz (BEZERRA et al., 2010). 9. Evangelista (2007) integra o conceito de alimento seguro ao produto padronizado em condições de cumprir com a finalida- de de alimentar e nutrir. Atrelado ao conceito de “segurança” do alimento encontra-se a sua condição de caracterização, para que se possa intervir em sua “qualidade”. Agora que já conhecemos algumas definições, quero convidá-lo(a) a continuar em nossa jor- nada de estudos, e neste tópico, proponho a reflexão sobre as características dos alimentos. Então, vamos classificá-los? H i g i e n e e S e g u r a n ç a Para compreendermos sobre a segurança dos alimentos, precisamos conhecer cada produto, suas classificações de acordo com características intrínsecas e extrínsecas, considerando as suas diversas particularidades importantes na busca da “qualidade”. Esta classificação nos possibilita iden- tificar meios para conservar a sua qualidade inicial e viabilizar procedimentos mais ou menos específicos de manipulação, transporte e armazenamento. Preste atenção aos conceitos e exemplos, pois esses produtos representam as maté- rias-primas que serão utilizadas nos pratos a serem elaborados! Classificação e caracterização dos alimentos 19G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Classificação quanto à estabilidade A estabilidade dos alimentos depende principal- mente da sua composição nutricional e do teor de água interna, assim,quanto mais rápido de- teriorarem, mais perecíveis serão considerados, portanto, alimentos mais nutritivos e úmidos têm menor tempo de estabilidade. • Alimentos não perecíveis: Também denominados estáveis, são ali- mentos que possuem longo tempo de durabilidade, mesmo em temperatura ambiente. Como são produtos que não precisam ser mantidos sob refrigeração, congela- mento ou aquecimento, pois são mais secos, possuindo baixo teor de umidade, podem ser armazenados em temperatura ambiente. Eles possuem uma data deter- minada de acordo com a sua fabricação, são mais seguros quanto ao manuseio dos produtos, são estocados em prate- leiras de supermercado sem qualquer risco de perda, podendo ser mantidos por vários meses (BRASIL, 2004). Vamos identificá-los indicando exem- plos de alimentos não perecíveis: cereais (milho ou fubá, feijão, soja, arroz, café, trigo), massas (macarrão), sal, açúcar, farináceos (polvilho, farinha de trigo, de milho, amido), café, óleo, leite em pó, bolachas, pipoca, achocolatado em pó, gelatina em pó. • Alimentos semiperecíveis: São os alimentos que não deterioram facilmente, podem permanecer fora da refrigeração, mas devem ser consumidos em pouco tempo, de acordo com a data de validade. Incluem-se neste tipo de alimentos os ovos, as conservas e semiconservas, mas também alguns produtos hortícolas (batata, beterraba, cenoura etc.) e frutas, porém necessitam de cuidados: o bom estado ou qualidade da embalagem e a data de limite de consumo aconselha- da e as condições do local, para que os alimentos não se deteriorem durante o armazenamento (BRASIL, 2010). São alimentos que foram subme- tidos a métodos de conservação capazes de mantê-los viáveis por longos períodos de tempo. H i g i e n e e S e g u r a n ç a • Alimentos perecíveis: São alimentos susceptíveis à alteração e à multiplicação de microrganismos, por isso possuem curtíssimo período de estabilidade, mesmo quando refrige- rados.São alimentos que se deterioram com facilidade, por serem mais hidra- tados e nutritivos, como os produtos de origem animal (frescos) – POA – e de origem vegetal (suculentos) – POV, com elevado teor de água e de nutrien- tes, devendo ser armazenados em con- dições especiais de temperatura em ambiente refrigerado, para a sua con- servação e controle do desenvolvimen- to de microrganismos (EVANGELISTA, 2008). Classificação quanto às formas de obtenção As formas diferentes de obtenção dos ali- mentos podem valorizar o cardápio a ser elaborado ou continuar mantendo-o em um padrão comum, mas os alimentos que utiliza- mos rotineiramente em nossas UANs devem ser conhecidos pelo chef ou pelo profissional responsável pela cozinha, pois no momento de um questionamento deve estar apto a dar esclarecimentos. • Alimentos Convencionais Esses alimentos constituem a maior parte dos alimentos obtidos, processa- dos, vendidos e consumidos, e por terem sido produzidos de forma comum, são também os mais acessíveis à popula- ção em geral, devido ao baixo preço de produção. São aqueles produzidos por técnicas clássicas. Estas implicam na utilização intensiva de insumos e tecnologias agrícolas (agrotóxicos, fertilizantes quí- micos, mecanização etc.). Geralmente utilizam grandes áreas agrícolas, e pre- valece o regime de cultivo de apenas uma cultura (monocultivo), com ênfase na produtividade em larga escala, com a ob- tenção de alimentos mais “padronizados” (ex.: peso, tamanho de fruto, coloração, textura do alimento etc.), produzidos para atender grandes demandas, po- dendo sofrer alterações genéticas, mas estas ocorrem por meio do cultivo, com técnicas de melhoramento genético por cruzamentos de variedades, de forma natural (PARANA, 2003). • Alimentos Orgânicos Os produtos orgânicos são aqueles que utilizam, durante a sua produção, téc- nicas que respeitam o meio ambiente, visam à qualidade do alimento e não 21G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R recebem agrotóxicos nem qualquer outro tipo de produto que possa vir a causar algum dano à saúde dos consumidores. Além de serem isentos de insumos ar- tificiais como os adubos químicos, não contêm ainda uma infinidade de subpro- dutos, como nitratos, metais pesados; também devem ser isentos de drogas veterinárias, hormônios e antibióticos, e de organismos geneticamente modi- ficados. Durante o processamento dos alimentos é proibido o uso das radiações ionizantes (que produzem substâncias cancerígenas, como o benzeno e formal- deído) e aditivos químicos sintéticos, como corantes, aromatizantes, emulsi- ficantes, entre outros (BRASIL, 2008; STRINGHETA, 2009). • Alimentos Hidropônicos A hidroponia é um sistema de cultivo de vegetais que utiliza a água potável como base, associada a uma solução nutriti- va específica para plantas, produzindo, então, o alimento hidropônico. São produzidos em estufas (ambiente protegido), onde não há o uso do solo, e sim o uso de adubos químicos de fácil solubilidade em água, sendo cultivados dentro de tubos plásticos perfurados ou em recipientes com substratos nutriti- vos diluídos, que são absorvidos pelas raízes diretamente da solução que circula dentro dos tubos ou colocada no meio de cultivo do recipiente utilizado (BLISKA; HONÓRIO, 2004). • Alimentos Transgênicos São os alimentos geneticamente modi- ficados (AGM), produzidos a partir de organismos alterados em laboratório, in- serindo-se um ou mais genes de outra es- pécie, visando a objetivos diversos, como resistência às pragas. Muitos são os prós e contras atribuídos a esses alimentos, mas é preciso conhecer o assunto para formarmos uma opinião. A partir da Lei de Biossegurança (Lei 11105/05), a responsabilidade pela auto- rização do plantio e comercialização deste tipo de alimentos é feita pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio (BRASIL, 2005). H i g i e n e e S e g u r a n ç a Essa tecnologia ou modificação do gene (por engenharia genética) ocorre pela alteração do código genético, ou seja, são inseridos em um organismo genes provenientes de outro (genes que conferem resistência a doenças, pragas, à seca); esse procedimento pode ser feito até mesmo entre organismos de espécies diferen- tes (inserção de um gene de um vírus em uma planta, por exemplo). O procedimento pode ser realizado em plantas, animais e micro-organis- mos. Ex.: soja, batata, milho etc. (GERMANO; GERMANO, 2008). Alimentos elaborados ou produtos industrializa- dos de qualidade dependem das respectivas ma- térias-primas, e é determinante que se conheça a origem, as diferenças no preparo, conservação, transporte, portanto há muita diferença entre POA e POV. Produtos de Origem Animal – POA São alimentos provenientes de organismos ani- mais criados zootecnicamente ou coletados, caçados ou pescados (da terra, do ar ou da água), porém dentro de condições de legalidade, e ven- didos em condições adequadas de frescor, por isso devem ser inspecionados por profissionais capacitados para coibir a clandestinidade e a transmissão de doenças. Para que o POA não se torne um proble- ma de Saúde Pública, deve ser inspecionado oficialmente pelo SIM (Serviço de Inspeção Municipal), SIP (Serviço de Inspeção do Paraná) ou SIF (Serviço de Inspeção Federal), de acordo com as normas do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (BRASIL, 2007). Agora faço um questionamento: Você já ingeriu algum POA hoje? Possivelmente sim. Então confira alguns exemplos de POA: Carnes de mamíferos (bovina, ovina, capri- na, bubalina, suína, equina, de caça e animais selvagens etc.) e seus derivados, como os embu- tidos (presunto, salame etc.), curados (charque,carne de sol etc.); de aves (galináceos, avestruz, perdiz etc.) e seus derivados; de pescados (peixes, frutos do mar, incluindo os crustáceos, como camarões, e ainda os quelônios, como os cága- dos comestíveis da Amazônia) e derivados; leite fluido e derivados (iogurte, bebida láctea, queijos, requeijões etc.); mel e derivados dos diferentes méis; ovos e derivados; caracóis e outros gastró- podes (escargot); e insetos (em algumas culturas). Classificação quanto à origem 23G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Produtos de origem vegetal são alimen- tos ricos em proteínas, lipídios, minerais, vitaminas, sendo apreciados pela maioria das pessoas, porém, de elevado valor à compra, devido ao alto custo da produ- ção. Sendo assim, a sugestão é equilibrar o cardápio. Produtos de Origem Vegetal – POV A matéria-prima vegetal abrange o maior volume das empregadas nas unidades de ali- mentação e é proveniente do plantio e cultivo terrícola ou hidropônico, composta basicamente por vitaminas, minerais e água. São alimentos cultivados, como: grãos e seus derivados (cevada, milho, aveia, arroz, cen- teio, trigo etc.); açúcar; frutas e seus derivados (sucos, vinhos, doces, compotas etc.); os legu- mes, incluindo feijão, ervilha, lentilha, nozes e outras castanhas; especiarias (ervas aromáticas e ervas medicinais); chás; hortaliças (verduras); cogumelos. Atualmente os vegetais têm sido cultiva- dos nos seguintes sistemas: • monocultura ou produção isolada; • sucessão de culturas; • rotação de culturas; • consorciação de culturas ou policultivo de culturas; • integração lavoura/pecuária/floresta Fonte: Brasil (2012) H i g i e n e e S e g u r a n ç a T odos os alimentos anteriormente classificados devem ser cuidadosamente inspecionados pelo responsável da unidade de alimentação, buscando sempre qualidade em todos os seus aspectos, mas buscar qualidade implica em estabelecer padrões, que se relacionam entre si, objetivando sempre a: Qualidade nutricional: nível adequado de nutrientes (frescor); Qualidade sensorial: sabor, odor, textura, aparência (de- sejáveis); Qualidade comercial: particularidades atrativas (preço, disponibilidade); Qualidade sanitária ou microbiológica: ausência de contaminação. Desta forma, é possível obter inocuidade dos alimentos. Portanto, precisaremos compreender um pouco mais sobre a microbiologia dos alimentos. Em busca da QUALIDADE desses alimen- tos acima citados, todos os profissionais envolvidos com a produção de alimentos, desde o GESTOR em Gastronomia, o CHEF, até o auxiliar de cozinheiro, procuram o MELHOR produto, o mais SEGURO, enfim, o de melhor QUALIDADE. Caso você não tenha familiaridade com este termo: inocuidade, vamos explicar: um alimento inócuo é aquele que não causa danos à saúde do consumidor, ou seja, cujo processo não sofreu contami- nação por micro-organismos patogênicos. 25G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R H i g i e n e e S e g u r a n ç a 27G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Microbiologia é a ciência que estuda os micro-organismos como bactérias, vírus, fungos; podemos também incluir os parasitos microscópicos. Você já ouviu nos noticiários sobre a ocorrência de doenças causadas por alimentos? Muitas vezes ocorrem em forma de surtos, com diversas pessoas acometidas, em creches, escolas, asilos, festas, pela ingestão de maionese, bolo, carne, arroz, salgadinhos. Para que se evitem situações como essas, são dispostas normas de produção e conduta. De acordo com Jucene (2008), todos os órgãos controladores e de inspeção oficial de alimentos, sem exce- ção, preconizam a qualidade sanitária dos alimentos como condição fundamental para sua inocuidade e reconhecem a importância do conhecimento sobre os microrganismos e seu metabolismo para se proceder seu controle nos alimentos e nos ambientes de alimentação. Fundamentos da Microbiologia dos Alimentos H i g i e n e e S e g u r a n ç a Quando discutimos sobre esses aspectos, muitos são os questionamentos: • Por que os alimentos podem representar um perigo para o consumidor? • Todos os micro-organismos são maléfi- cos aos seres vivos? • Existem alimentos mais susceptíveis à contaminação? • Existem alimentos mais susceptíveis ao desenvolvimento e à multiplicação de micro-organismos? Para que você possa compreender essas ocor- rências, é preciso conhecer os agentes con- taminantes, causadores de enfermidades, e como eles representam risco para a saúde pública. O conhecimento dos micro-organismos faz com que tomemos cuidados com alguns alimentos, como no caso dos ovos, porta- dores de Salmonella. O ovo cru, utilizado para molhos de maionese, constitui um grande RISCO, portanto, pode ser substi- tuído pelo leite, que quando batido com óleo e temperos produz um excelente resultado. Vamos classificar os micro-organismos em: Micro-organismos úteis: não são con- taminantes, utilizados como alteradores desejáveis de alimentos. Ex.: leveduras nos fermentados, Lactobacillus nos ali- mentos lácteos fermentados, fungos Penicilium gorgonzola nos queijos, Saccharomyces Cerevisiae nas cer- vejas e pães, Acetobacter no vinagre (FIGUEIREDO, 2003). Micro-organismos Deteriorantes: não são patogênicos, mas causam alterações químicas prejudiciais, resultando na cha- mada deterioração microbiana. A dete- rioração resulta na alteração de cor, odor, sabor, textura e aspecto dos alimentos, comprometendo sua qualidade comer- cial, como Pseudomonas e Aeromonas (FRANCO; LANDGRAF, 2007). Micro-organismos neutros ou da flora normal: bactérias que colonizam comu- mente o nosso organismo, sem causar danos à saúde (neutros), podendo au- xiliar na digestão, competindo com as maléficas, quando ingeridas (benéficas) (SILVA JR., 2014). Podem se tornar in- fectantes quando se multiplicam em alta escala e de forma oportunista invadem o organismo imunocomprometido (fra- gilizado por algum motivo). Micro-organismos maléficos ou pato- gênicos: são contaminantes que, quando 29G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R ingeridos, reproduzem-se e causam enfermidades. Ex.: Streptococcus etc. (não são deteriorantes). Podem causar infecções (infecções diretas - pela in- gestão da bactéria intacta e invasão nos tecidos (Salmonella spp., Shigella spp., Yersinia enterocolitica, Campilobacter jejuni, Brucella) ou toxinfecções, pela ingestão do micro-organismo que pro- duzirá toxinas (Escherichia coli, Vibrio cholerae, Clostridium perfringens), e intoxicações, pela ingestão da toxina pré-formada no alimento (Clostridius botulinum, Stphylococcus aureus, Streptococcus faecalis, Bacillus cereus) (FIGUEIREDO, 2003). Micro-Organismos Contaminantes Os alimentos podem ser facilmente conta- minados por micro-organismos, também denominados de contaminantes bioló- gicos, durante todas as etapas de proces- samento, principalmente na manipulação e processamento. Vamos nos aprofundar nas concepções de cada um desses contaminantes biológicos, pois conhecendo-os melhor, poderemos controlá-los com maior eficácia. Após ter sido contaminado, se o alimento oferecer condições para que os micro-or- ganismos se multipliquem, estes podem alterar as características físicas e químicas dos alimentos, podendo causar a sua de- terioração, com possibilidade de serem patogênicos. H i g i e n e e S e g u r a n ç a São micro-organismos unicelulares microscópicos que apresentam grande capacidade de multiplicação e, principalmente, matéria orgânica. Característica: preferem alimentos com elevado teor de água e ricos em proteí- nas (cárneos, pescados, moluscos, ovos, leite, queijo etc.), menos ácidos e mais alcalinos. Multiplicação: binária (dividem-se em duas a cada 15 minutos). Potencial hidrogeniônico: pH 4,5 a 8,5 mais alcalinos. Atividade deágua (Aa): acima de 0,82. Temperatura de conforto para multiplicação: de 28 a 45o C. Tolerância ao Oxigênio: aeróbicas, anaeróbicas ou facultativas: sobrevivem e multiplicam-se em alimentos ou ambientes com diversos níveis de O2. Produção de toxina à multiplicação: de ação “gastroentérica e alergênica” (FORSYTHE et al., 2002). Bactérias Fungos São conhecidos como bolores e leveduras. Característica: preferem se multiplicar em alimentos não muito hidratados, frescos, ricos em carboidratos (grãos, massas, frutas e doces). Multiplicação: a cada 20 minutos. Potencial Hidrogeniônico: pH de 2,5 a 9,5. Atividade de Água (Aa): em média 0,65. Temperatura de conforto para a multiplicação: de 10 a 26o C. Produção de toxina: de ação “alergênica e cancerígena” em quem consome (SILVA JR., 2014). 31G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Característica: não possuem vida própria, só crescem em células vivas de animais ou vegetais, contaminam e são veiculados por alimentos. Ex.: Adenovirus (hepatite), Rotavirus. Multiplicação: intracelular e não se multiplicam em alimentos, mas contaminam água, alimento, ar, mãos, superfícies. Vírus São fatores que afetam a multiplicação microbiana de forma muito efetiva, podendo inibir o desenvolvimento das células ou mesmo inativá-las (TONDO; BARTZ, 2011). a. Fatores Intrínsecos: inerentes ao alimento (SILVA JR., 2014). • Atividade de Água (Aa): teor de umidade interna • Potencial de óxi-redução e tensão de O2 • Potencial Hidrogeniônico (pH) • Composição nutricional do alimento • Concentração de sais • Substâncias intrínsecas inibidoras da ação dos microrganismos: • Lacteína e fator anti-coliforme (leite fresco) • Lisozima e avidina (clara de ovo pH 9-10) • Ácido benzóico (vegetais) • Eugenol (cravo) • Alicina (alho) • Aldeído cianâmico (canela) • Isotiocianato de alil (mostarda) • Isotimol (orégano) Fatores que Interferem no Metabolismo do Micro-Organismo H i g i e n e e S e g u r a n ç a No Gráfico 1, é possível constatar alguns alimentos que causaram maior número de surtos nos últimos anos, o que os torna mais críticos em decorrência da sua constituição intrínseca. O uso de especiarias além de conferir melhor sabor, aroma, cor ao alimento, seus princípios ativos e óleos essenciais preservam o alimento, pois interferem na sobrevivência e multiplicação de bactérias, fungos e parasitas. Gráfico 1: Número de surtos por DVA de acordo com o tipo de alimento. Fonte: Brasil (2013, p. 12) Alimentos mistos Ovos e produtos a base de ovos Doces e sobremesas Água Carne bovina in natura, processados e miúdos Leite e derivados Carne de frango, processados e miúdos Inconclusivo Carne suína in natura, processados e miúdos Cereais, farináceos e prod a base de cereais Inconsistência Hortaliças Pescados, frutos do mar e processados Especiarias, molhos industriais e similares Bebidas não alcoólicas Frutas, produtos de frutas e similares Gelados comestíveis Edulcorantes Produtos alimentícios para uso especial Produtos a base de soja Gorduras, óleos e emulsões Bebidas alcoólicas 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 1.529 806 440 492 337 224 257 208 150 281 110 85 60 42 28 18 7 4 1 1 0 345 33G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R b. Fatores extrínsecos: externos, impostos ao alimento (FIGUEIREDO, 2003). • Temperatura: alta ou baixa • Umidade Relativa do Ar (URA) • Gás ambiente (CO2 e O3) • Irradiação ionizante derivada do Cobalto (Co 60) • Substâncias extrínsecas inibidoras da ação dos micro-organismos: • Propionato ou ácido sórbico: em pães; • Dióxido de enxofre: conservantes em POV (FAVERO, 2011); • Ácido benzoico: em vegetais como amendoim; • Nitratos e nitritos: bacteriostáticos: mantém cor vermelha das carnes. Agora que já foram enumerados esses fatores, vamos especificá-los um pouco mais, tanto os intrínsecos (internos) quanto os extrínsecos (externos). 1. Umidade: Atividade aquosa (Aa) (SILVA JR., 2014). Denominada pela regra geral como Aw (do inglês: Activity of Water). É o “grau aquoso”, molecular, do alimento, classificado em escala de zero a 1. Para entender melhor, observe o quadro abaixo: Alimento Atividade de água Água 1 Leite líquido 0,99 (muito perecível) Leite condensado 0,83-0,90 (± perecível) Leite em pó 0,60 (pouco perecível) Casca de pão 0,60 2. Potencial hidrogeniônico (pH) Parâmetro para aferir a acides e a alcalinidade. Os micro-organismos deteriorantes podem se multiplicar em situações de pH na faixa de 1 a 11 (TONDO; BARTZ, 2011). http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesa H i g i e n e e S e g u r a n ç a • Fungos: preferem ambientes mais ácidos do que as bactérias. (pH ideal = 5,5 das frutas e hortaliças). • Bactérias: algumas preferem ambientes mais alcalinos, a maioria proli- fera em pH quase neutro. (pH ideal = 6-7 das carnes, aves, peixes, leite, feijão etc.). PH CLASSE ALIMENTOS > 4,5 Pouco ácidos Leite, carnes, grãos pescados, alguns vegetais. 4,0 - 4,5 Ácidos Frutas e hortaliças < 4,0 Muito ácidos Sucos de frutas, refrigerantes. Quadro 1: Classificação dos alimentos de acordo com a classe (pH) Fonte: Franco e Landgraf (2007) 3. Nutrientes Os nutrientes que já são conhecidos por você: açúcares, gorduras, proteínas, vitaminas (lipossolúveis e hidrossolúveis), sais minerais (Ca, P, K, Fe, Se, Zn, Mn, Mg etc.), que fazem parte do alimento, conferem um efeito anabolizante ao agente, favorecendo seu desenvolvimento. Nos casos das produções com produtos cárneos, como há riqueza de proteínas, há consequentemente aumento da ação do agente bacteriano. Esta sequência demonstra de maneira simplificada a atividade dos micro-organismos: Quanto + nutrientes > atividade dos micro-organismos > multiplicação > deterioração . 35G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R 4. Tolerância ao Oxigênio Aeróbios: só sobrevivem em alimentos e ambientes aerados. Ex.: Pseudomonas, Aeromonas (bactérias das peixarias, câmaras frias). Anaeróbios: não suportam o oxigênio, sobrevivendo apenas em anaerobiose, vácuo. Ex.: Clostridium (bactéria dos enlatados, palmito, sardinha). Facultativos: preferem a presença de oxigênio, mas sobrevivem na quase total ausência de O2. Ex.: a grande maioria das bactérias (Salmonella, Escherichia coli). Temperatura Esse fator extrínseco determina a qualidade do alimento devido à eliminação do micro- -organismo (calor) ou a paralização do seu crescimento (frio). • Temperaturas altas Observe que no Quadro 2, pode ser constatado o binômio de Temperatura e Tempo em situações inversamente proporcionais, ou seja, quanto mais alta for a temperatura empregada para combater um micro-organismo, menor tempo será necessário para eliminá-lo, no caso de este não realizar esporulação, que são mecanismos de proteção física submetidos a condições extremas. TEMPERATURA TEMPO 74 Poucos segundos (5) 70 Poucos minutos (2) 66 Alguns minutos (10) 65 Alguns minutos (15) 60 Vários minutos (30) 55 Algumas horas (4) 52 Várias horas (12) < 50 Não há morte do MO Quadro 2: Quadro dos Binômios de Temperaturas (ºC) e Tempo, para eliminação de micro-orga- nismos não esporulados. Fonte: Silva Jr. (2014) H i g i e n e e S e g u r a n ç a Observe que as temperaturas são inversamente proporcionais ao tempo necessário. • Temperaturas baixas Inibem o crescimento do micro-organismo patogênico, porém não ocorre efeito letal. • Refrigeração duradoura ou congelamento é letal a alguns micro-organis- mos apenas; • Refrigeração média indicada: 4 ºC; • Congelamento adequado: -18 ºC; • Descongelamento: 3 a 4 ºC. Agora que já foram conhecidos os comportamentos dos micro-organismos em relação às temperaturas, deve-se compreender por fim que esses mesmos podem suportar situações de extremo frio e de extremo calor durante o preparo dos alimentos em uma Unidade de Alimentação e Nutrição– UAN. No Quadro 3, serão apresentadas as classificações dos micro-organismos (Mo), de acordo com a temperatura de conforto das respectivas bactérias. Tipo de Mo Temperatura Agentes microbianos Psicrófilos 12 a 20ºC Salmonella, Clostridium, Corynebacterium, Proteus, Streptococcus, Escherichia coli, Aeromonas, Aspergyllus, Listeria Psicotróficos 20 a 30ºC Enterobacter, Yersinia, Pseudomonas, Aeromonas Mesófilos 30 a 55ºC Coliformes fecais, Streptococcus lactis, Staphylococcus Termófilos 55 a 90ºC Lactobacillus thermophyllus, Clostridium e Bacillus cereus Quadro 3: Classificação dos micro-organismos quanto às faixas de temperatura de sobrevivência Fonte: Figueiredo (2003) Desta forma, já é possível observar que: • há bactérias que sobrevivem em temperaturas extremas; • algumas bactérias suportam grandes variações de temperatura, aparecendo em outras classificações também e indicando a ocorrência de adaptação aos ambientes e alimentos, favorecendo assim a sua disseminação, independente do ambiente, facilitando a contaminação dos alimentos, mesmo refrigerados. 37G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R A Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - RDC no 12, de 2 de janeiro de 2001, dispõe sobre o Regulamento Técnico dos Padrões Microbiológicos para Alimentos e acrescenta ainda que existe a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimen- tos, com o intuito de proteger a saúde da população e regulamenta padrões micro- biológicos para alimentos (BRASIL, 2001). Conheça mais sobre esta resolução por meio do link disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/ wps/wcm/connect/a47bab8047458b909541d- 53fbc4c6735/RDC_12_2001.pdf?MOD=AJPE- RES>. Acesso em: 29 dez. 2014. H i g i e n e e S e g u r a n ç a 39G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Podem também ser conhecidas como Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), Enfermidades Transmitidas por Alimentos (ETA) ou Veiculadas por Alimentos, todas as intoxicações, infecções, toxinfecções de origem alimentar. Mas qual é a diferença entre elas? Doenças Veiculadas por Alimentos H i g i e n e e S e g u r a n ç a Segundo Silva Jr. (2014), os sintomas nas pessoas afetadas podem diferir também. Exemplo: Micro-organismo no alimento → Multiplicação no alimento Toxina → Vômito Micro-organismo no alimento → Multiplicação no intestino Toxina → Diarreia Segundo o Manual Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos (BRASIL, 2010b), as DVAs podem ser causadas por: Bactérias: Salmonella spp, Shigella spp, Escherichia coli etc. Toxinas: produzidas pelas bactérias Staphylococcus aureus, Clostridium spp, Bacillus cereus, Escherichia coli, Vibrio spp etc. Vírus: Rotavírus, Noravirus, Adenovirus etc. Parasitos: Protozoários como Toxoplasma gondii, Entamoeba histolytica, Giardia lam- blia, Cryptosporidium parvum etc. e Helmintos como Ascaris, Ancylostoma, Taenia. Substâncias tóxicas: metais pesados, agrotóxicos, aditivos conservantes etc. INTOXICAÇÕES alimentares são causadas pela ingestão de alimentos contendo toxi- nas microbianas (já formadas no alimento), INFECÇÕES são causadas pela ingestão de alimentos contendo micro-organismos vivos (viáveis) e TOXINFECÇÕES ocorrem quando micro-organismos (Mo) ingeridos com alimentos produzem as toxinas dentro do indivíduo (TONDO; ARTZ, 2011). 41G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R A Organização Mundial de Saúde (OMS) define doença transmitida por alimento (DTA) como “uma doença de natureza infecciosa ou tóxica causada pelo consumo de alimento ou água” existindo mais de 250 doenças, sendo a maioria causada por bactérias e suas toxinas, vírus e parasitos. Milhões de pessoas contraem pelo menos uma vez ao ano alguma doença de origem alimentar e os sintomas variam dependendo do agente, desde vômito, diarreia, dores, febre, com o período de incubação (da ingestão até os primeiros sintomas), que pode durar horas, dias ou semanas, em média de 24 a 72 horas após a contaminação (BEZERRA, 2010). Observe agora as ocorrências de DVAs em percentuais nas diversas regiões do Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2014), a cada ano, mais de dois milhões de pessoas morrem por doenças diarreicas no mundo e no Brasil; as DVAs causam mais de 8 mil mortes anuais (WHO, 2014). Região Sul Região Sudeste Região Centro-Oeste Região Nordeste Região Norte 39,8% 38,9%5,9% 11,9% 3,5% Gráfico 2: Distribuição das DVAs de acordo com as regiões do Brasil. Fonte: Brasil (2013, p. 10) H i g i e n e e S e g u r a n ç a Nos países em desenvolvimento, apesar dos avanços tecnológicos e controle da qualidade dos alimentos, a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos é significante e vem aumentando nos últimos anos (FRANCO; LANDGRAF, 2007). Pesquisadores e profissionais da saúde têm relatado ocorrências constantes e, de acordo com o Sistema de Vigilância Epidemiológica em Doenças Transmitidas por Alimentos, muitos dados são analisados e quantificados. Welker et al. (2010) analisaram 186 surtos de doenças veiculadas por alimentos, nova- mente a Salmonella sp. foi o principal micro- -organismo identificado (37%). Ao avaliarem os alimentos relacionados, verificaram que os produtos cárneos foram os principais envolvidos nos surtos investigados. Esse dado acima notificado está de acordo com as estatísticas do Sistema de Vigilância em Saúde - SVS, registradas na Tabela 1. 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012* 2013* Total % Salmonella spp. 140 206 218 139 155 161 111 119 108 77 35 28 28 0 1.525 39,39 S. aureus 35 96 89 51 60 103 46 50 53 65 41 38 36 0 763 19,71 B. cereus 6 23 29 21 24 34 40 19 29 25 15 22 8 0 295 7,62 E. coli 14 44 33 31 41 65 43 20 27 38 28 50 46 0 480 12,40 Campylobacter spp. 0 1 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0,08 C. perfringens 9 14 19 8 21 30 18 12 11 12 19 15 10 0 198 5,11 C. botulinum 0 1 1 0 0 1 6 0 0 1 1 0 0 0 11 0,28 Shigella spp. 7 22 17 10 7 9 1 1 0 4 1 4 6 0 89 2,30 V. cholerae 01 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,05 V. parahaemolyticus 0 0 0 2 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 4 0,10 Cryptosporidium spp. 0 6 1 4 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 13 0,34 Rotavírus 2 38 24 27 38 33 2 4 4 1 3 12 4 0 192 4,96 Norovírus 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 6 9 8 0 24 0,62 Hepatite A 46 71 38 19 7 37 4 5 2 1 3 1 2 0 236 6,10 Enterobacter spp. 0 1 0 0 3 1 0 0 0 0 0 0 1 0 6 0,15 T. gondii 0 1 0 0 1 2 0 0 0 1 0 0 0 0 5 0,13 Giardia 1 4 3 2 1 1 0 2 6 0 0 1 1 0 22 0,57 T. cruzi 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 2 0 0 4 0,10 Inconsistência 5 12 15 15 4 7 2 15 8 15 8 6 21 0 133 1,52 Inconclusivo 3 22 12 8 7 26 11 18 116 77 54 194 143 0 691 7,90 Ignorado 155 303 300 265 258 399 275 413 270 280 272 383 468 9 4.050 46,31 Total de agentes identificados 262 528 472 316 358 479 272 232 240 226 153 184 150 0 3.872 44,27 Total geral 425 865 799 604 627 911 560 678 634 598 487 767 782 9 8.746 100 Tabela 1: Principais agentes responsáveis pelos surtos de DVAs no Brasil de 2000 a 2013. Fonte: Brasil (2013, p. 10) 43G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Dando continuidade ao estudo sobre as DVAs, serão incluídos dados explicativos sobre as en- fermidades mais ocorrentes. Principais doenças alimentares São enfermidades manifestadas após a in- gestão de alimentos contaminados, cuja gra- vidade depende do tipo de micro-organismo, da resistência do indivíduo e da quantida- de do micro-organismo ingerido, porém os casos mais graves são sempre constatados em mulheres grávidas, recém-nascidos, crian- ças, idosos, enfermos, pós-operados, enfim, indivíduos com imunidade comprometida (resistência baixa). Porém, todos nós, “comensais” ou consumi- dores de alimentos, também estamos sujeitos a estas enfermidades que serão explicadas a seguir: Salmoneloses: Toxinfecção das mais ocorrentes. Os principais agentes: S. typhimuriume S. enteritidis causam cólicas abdominais, vômito, diarreia, calafrios, febre e cefaleia (dor de cabeça), de 12 a 36 horas após ser ingerida, os sintomas duram de 1 a 3 dias de evolução. Os principais alimentos en- volvidos são os POAs - lácteos (leite, queijos cremosos, sorvetes), cárneos (bovina, suína e de aves), ovos (pudim, gemada, licores e maio- neses), sendo observados surtos por peixe, ca- marão, rã, cerveja, coco, molhos e temperos de salada, bolo e sobremesa com cremes, gelatina em pó, manteiga de amendoim, chocolate em pó e suco de laranja. Multiplicam-se preferen- cialmente a 37ºC e morrem a 70o C, de acordo com Germano e Germano (2008). Colibacilose: É a enfermidade causada pela Escherichia coli 0157: H7, que é uma bactéria intestinal e ocor- rente no mundo todo. O Sistema de Vigilância em Saúde notificou surto ocorrido na Alemanha em 2011, em que 22 pessoas vieram a óbito por colibacilose, após ingestão de vegetais contaminados, e confir- mou que mais de 2.200 pessoas em 12 países já apresentaram sintomas de infecções intestinais Contaminação de Hambúrguer por E. coli da rede de fast food Jack in the Box causou um surto que ficou na história da Segurança Alimentar dos EUA, ocorreu em 1993, com 700 pessoas acometidas e 4 mortes. H i g i e n e e S e g u r a n ç a provocadas pela bactéria, porém, os casos re- gistrados fora da Alemanha são de pessoas que moram ou viajaram ao país (BRASIL, 2012). Segundo o Manual Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos (2010b), a colibacilose apre- senta diversas formas clínicas, com caracte- rísticas clínicas dependentes da cepa (tipo) de Escherichia coli. Essa doença causada pela * E. coli (O157:H7) é a mais letal de todas, e tem causado muitas mortes devido à doença hemorrágica renal e é ainda inexistente no Brasil. Estafilococose: Toxinfecção causada pelo Staphylococcus aureus. É uma bactéria de fácil destruição, mas sua toxina pode resistir à ebulição durante 30 Formas clínicas Período de Incubação (PI) Sintomas / sinais clínicos Fonte de infecção e alimentos envolvidos Entero patogênica 5 - 48 horas dores abdominais, vômito, diarreia, cefaleia, mialgia Água e alimentos com contaminação fecal. Entero hemorrágica O157 H7 * 1 a 10 dias diarreia líquida, com sangue, dor abdominal intensa, sangue na urina, nefrite Hambúrguer, leite cru, embutidos crus, alface e água. Entero invasiva 12 h - 3 dias dor abdominal intensa, diarreia aquosa, com muco e sangue, tenesmo Salada e outros alimentos não higienizados e água. Entero toxigênica 12 h - 3 dias dor abdominal intensa, diarreia profusa, vômito, prostração, febre leve Saladas e outros alimentos sem tratamento adequado, queijos frescos e água. Quadro 4: Formas clínicas da colibacilose, PI , sintomas e fontes de infecção. Fonte: Brasil (2010) minutos a 4 horas. A maior fonte de infecção é o corpo humano de indivíduos sadios, sua pele, nariz, mãos, garganta, axilas, virilhas e umbigo, principalmente em lesões inflamadas e infeccionadas com pus, espinhas, terçóis e outros focos (EVANGELISTA, 2008); ocorrem náuseas, vômito, cólicas e diarreia, não havendo febre, após 1 a 6 horas da ingestão, e os sintomas perduram de 24 a 48 horas. Os principais ali- mentos envolvidos são os POA e seus derivados (GERMANO; GERMANO, 2008). Clostridioses: • Botulismo: intoxicação alimentar, pois as toxinas se formam no alimento antes de ser ingerido (FIGUEIREDO, 2003). O agente é o Clostridium botulinum, bactéria anaeróbia, presente no solo 45G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R (terra e água) contaminado por material fecal, em forma de esporos (mecanis- mo de resistência ao ar). É considerado um perigo em alimentos enlatados pela presença de vácuo, onde se multipli- ca. Alimentos envolvidos em surtos: salada de batata, carne com queijo, cebola com creme amanteigado, alho preparado comercialmente, escabeche, compotas e principalmente “palmito”, podendo causar a “doença do bebê azul”, recém-nascido que morre pela ingestão de mel contaminado. Período de incubação: de 12 a 72 horas, quando surgem náuseas, cólicas, visão dupla, ausência de febre, vertigem, dificuldade de deglutir e falar, asfixia por paralisia dos músculos e morte. Os esporos so- brevivem à cocção até 100ºC por 50 mi- nutos e sua toxina é inativada a 100ºC durante 10 minutos (SILVA JR., 2014). • Enterite por Clostridium perfringens: toxinfecção provocada pela formação de toxinas produzidas no intestino, quando o micro-organismo se multi- plica, esporula ou morre no interior do organismo (FIGUEIREDO, 2003). É encontrada no solo (terra e água), conteúdo intestinal, hortaliças e temperos. Os alimentos envolvidos em surtos são a carne de aves, assada ou cozida, feijão e legumes cozidos, molho de carne. É bactéria formadora de esporos, que sobrevivem à cocção e reaquecimento, no interior do ali- mento, e em ebulição sobrevive até 9 horas e morre em 20 minutos a 100ºC. O período de incubação é de 8 a 22 horas após a ingestão, predominando diarreia e cólicas abdominais sem febre (SILVA JR., 2014). Toxinfecção por Bacillus cereus: Doença aguda com período de incubação de 8 a 16 horas, com casos superagudos intesti- nais após 30 minutos a 5 horas da ingestão, surgindo náuseas e vômito, diarreia e dores abdominais que perduram de 12 a 24 horas. Fonte de infecção: solo, poeira, água, contami- nados com esporos. Alimentos envolvidos: POA e POV principalmente o arroz (GERMANO; GERMANO, 2008). Shigelose: Toxinfecção causada pela Shigella disenterae, produz doença semelhante à salmonelose, porém a ação da toxina (Shiga) causa efeitos intestinais (fezes com muco, pus e sangue, vômito) e neurológicos. Inicia com mal-estar e febre, após período de incubação de 12 a 72 horas (EVANGELISTA, 1999). Fontes de infec- ção: intestino, mãos, água, esgoto, hortaliças contaminadas com dejetos humanos (SILVA JR., 2014). H i g i e n e e S e g u r a n ç a Estreptococose: Bactérias termorresistente, o Streptococcus habita as regiões genital, inguinal e perianal, causando foliculite pustular (acne) rígida, que se torna flu- tuante com o passar do tempo, geralmente acom- panhada de sinais inflamatórios, como rubor, calor, dor, além de sintomas gerais, como febre, mal-estar e calafrios (KASHIWABARA, 2014). Yersiniose: Infecção intestinal causada pela Yersinia ente- rocolitica, proveniente de POA, principalmente carne suína. Período de incubação de 12 a 72 horas, surgindo diarreia, náuseas, febre baixa, dor de cabeça, podendo ser confundida com apendicite. Multiplica-se mesmo em tempe- raturas de refrigeração, em faixa de 3 a 43º C (SILVA JR., 2014). Vibriose: Enterite causada pelo Vibrio Parahaemolyticus, proveniente da água do mar, contaminação cruzada com frutos do mar crus, peixes, mo- luscos mal cozidos, os sintomas são de leves até infecção generalizada, levando à morte. O Vibrio Cholerae é o causador da cólera, uma doença pandêmica que já causou muitas mortes no mundo e está retornando nos nossos litorais (GERMANO; GERMANO, 2008). Listeriose: Doença intestinal e neurológica causada pela Listeria Monocitogenes, uma bactéria que prefe- re ambientes frios e pode se multiplicar em câ- maras frias e contaminar os alimentos. Fontes de infecção: solo, água, esgoto, vegetais, lixos, que contaminam alimentos de origem animal, mas principalmente o ambiente de processa- mento, como pisos, bancadas, geladeiras, equi- pamentos em geral. Tem levado a meningite e encefalites após breve quadro de diarreia, dor articular, prostração. Multiplicam-se a 0oC, portanto, presentes em 64% dos alimentos refrigerados. 47G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R É importante não se esquecer das outras DVAs ou DTAs! Existem muitasoutras doenças que você certamente já ouviu falar. Você conhece: • A Leptospirose (doença do rato), que causa lesão renal, urina escura, febre e dor na pan- turrilha, levando à morte? • E a Hepatite A, causada por vírus transmitido via manipulador, utensílios, alimentos como frutos do mar? • A Rotavirose, pelo Rotavirus, que causa sin- tomas intestinais e respiratórios? • As infecções por protozoários, como a Giardíase, que leva a dores estomacais e fezes gordurosas; a Toxoplasmose (doença do gato), que além do intestino, pode afetar o cérebro e o globo ocular (olho); e não po- deria faltar a parasitose Complexo Teníase/ Cisticercose, cuja Taenia causa má absorção, obstrução intestinal, e os Cysticercus produ- zem alterações neurológicas, cegueira, parali- sia, convulsão e morte por neurocisticercose. A partir da suspeita de ocorrência de um surto de DTA, é determinante realizar um planeja- mento conjunto das ações de melhoria das prá- ticas rotineiras na UAN, das estruturas físicas, com o objetivo de identificar os fatores de risco aos quais o alimento foi exposto, apontar pontos críticos, bem como avaliar as boas práticas de produção anteriormente adotadas, visando à sua reorientação. E esses são os temas de nossa próxima uni- dade. Até lá, meu(inha) caro(a)! H i g i e n e e S e g u r a n ç a co ns id er aç õe s fi na is E stamos concluindo a primeira unidade de estudo desta disciplina. Foi possí- vel abranger os elementos básicos, em conteúdos capazes de introduzi-lo(a) à ciência da Segurança de Alimentos. Um dos objetivos da segunda parte desta unidade foi demonstrar a consequência REAL do resultado da ingestão de alimentos compro- metidos, pois só quem já adoeceu devido a uma enfermidade de origem alimentar ou quem já presenciou esse problema é quem pode avaliar os efeitos indesejáveis (a curto, médio ou a longo prazo) no organismo afetado. É de extrema importância conscientizá-lo(a) de que os conhecimentos prévios sobre os ali- mentos e a noção sobre os micro-organismos e seus fatores determinantes são a base para es- tabelecer a implementação de projetos e progra- mas de gestão em uma unidade de alimentação e nutrição (UAN). Conhecendo os alimentos em sua complexi- dade, compreendemos que precisamos de uma plasticidade nas nossas ações rotineiras, pode- mos muitas vezes necessitar de intervenções mais imediatas ou planejadas a médio prazo. Todas as formas de prevenção de situações de riscos sempre devem ser consideradas em um estabelecimento alimentício e principalmente neste contexto, pois o alimento é a unidade da gastronomia e saber reconhecer desde as características gerais de cada alimento até as particularidades inerentes ao que consideramos nossa matéria-prima torna a gastronomia uma ciência mais comprometida com a busca de qua- lidade e o profissional gastrônomo um agente que promove prazer e saúde aos consumidores dos alimentos que elaboram. A gastronomia é uma arte e quando esta se fundamenta em bases científicas, o resultado esperado é sempre o melhor, e esse é o diferen- cial entre o gestor em gastronomia e os “outros” profissionais da área, porque passam a trabalhar com sensibilidade e responsabilidade, buscando ampliar cada vez mais o seu conhecimento. Nas próximas unidades serão apresentadas as formas de identificar, controlar ou de erradi- car situações de risco na produção de alimentos. Até lá! Sucesso! 49G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R at iv id ad es d e es tu do1. Os alimentos podem ser classificados em relação à tolerância ao oxigênio pre- sente no meio ou no alimento em que se encontra. Considerando um alimento enlatado, (exemplo: palmito em conserva), fechado hermeticamente desde a sua fabricação e constadamente proveniente de um lote de produtos contaminados por micro-organismos patogênicos “anaeróbios”, ou seja, que não sobrevivem ao contato com o oxigênio, ao abrir a lata, imediatamente ocorre a entrada de ar, porém, na presença de O2, todos os micro-organismos morreram. Responda de forma discursiva: a. Podemos ingerir o alimento normalmente? b. Justifique a sua resposta. c. Identifique um micro-organismo que apresenta essa condição de anaerobiose. H i g i e n e e S e g u r a n ç a at iv id ad es d e es tu do 2. Estudos sobre a microbiologia dos alimentos têm sido constantes, tendo evoluído muito nos últimos anos, e comprovam que alguns alimentos possuem características que favorecem o desenvolvimento e multiplicação de micro-organismos, intensificando os riscos do surgimento de doenças de origem alimentar. Considerando as afirmativas abaixo, assinale a alternativa correta: I. Os fungos preferem os alimentos ricos em carboidratos para se de- senvolver, então, cremes doces, massas, como pães, bolos, doces de frutas são susceptíveis ao crescimento de bolores e leveduras. II. As bactérias preferem os alimentos ricos em proteínas, portanto, as carnes e derivados, produtos lácteos e ovos favorecem a sua multi- plicação, devido a sua composição. III. Os Produtos de Origem Animal (POA) são mais seguros do que os Produtos de Origem Vegetal (POV) quanto à multiplicação de bac- térias, devido a sua constituição hídrico/lipídica/proteica, ou seja, com água, gordura e proteína respectivamente. IV. Os vírus não possuem vida própria, não sendo possível sua multi- plicação no alimento nem no ambiente e materiais, porém, ele pode contaminar tudo com o que estiver em contato, inclusive a água. a. I, II e III estão corretas; b. I, II, III e IV estão corretas; c. I, II e IV estão corretas; d. II, III e IV estão corretas; e. III e IV estão corretas. 51G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R m at er ia l c om pl em en ta r HIGIENE E VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE ALIMENTOS Autores: Pedro Manuel Leal Germano e Maria Izabel Simões Germano Editora: Manole, 4ª edição Ano: 2014 Sinopse: constitui uma obra de referência que não pode faltar na biblioteca de estudantes e profissionais que se preocupam com a segurança alimentar. Seu conteúdo abrange as patologias transmitidas pelos alimentos, a qualidade das matérias-primas, os procedimentos para garantir a segurança dos alimentos, assim como algumas das ferramentas mais importantes para assegurar sua inocuidade. A presente edição, revisada e atualizada, tanto em relação à legislação como às referências técnico-científicas, buscou incorporar os temas mais atuais de interesse para seu público. Edição saúde Dr. Bactéria e os perigos da contaminação dos alimentos <http://www.youtube.com/watch?v=zzOSljLklqU>. Documentário que descreve um caso hipotético de salmonelose A história do corpo humano - Salmonella 1ª parte: <http://www.youtube.com/watch?v=uYvYnl5YvQY> 2ª Parte: <http://www.youtube.com/watch?v=zWfAq5Z2i-c> H i g i e n e e S e g u r a n ç a m at er ia l c om pl em en ta r MICROBIOLOGIA E SISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA DE ALIMENTOS Autor(res): Eduardo Cesar Tondo e Sabrina Bartz Edição: 2014 Sinopse: de forma clara e objetiva, este livro aborda aspectos importantes da Microbiologia e sua relação com os principais sistemas de gestão da segurança de alimen- tos. No primeiro capítulo, há uma coletânea de perguntas e respostas práticas e cientificamente embasadas sobre micro-organismos, microbiologia, produção de alimentos e sistemas de gestão da segurança de alimentos. Essas questões foram selecionadas pelos autores por serem fre- quentemente levantadas em aulas, capacitações, cursos, consultorias ou por serem importantes em pesquisas científicas nacionais e internacionais. Em seguida, são analisadas as principais características dos sistemas de gestão possíveis de serem implementados em serviços de alimentação e indústrias de alimentos. No último capítulo, um modelo descritivo é apresentado a fim de auxiliar em- presasna identificação das suas fases atuais e no plane- jamento de ações futuras para a melhoria de sistemas de qualidade e segurança. O livro é direcionado a todos os estudantes e/ou profissionais que se dedicam à produção de alimentos seguros e de qualidade, os quais acreditam na redução e prevenção das Doenças Transmitidas por Alimentos. http://www.editorasulina.com.br/autor_det_2.php?id=435 http://www.editorasulina.com.br/autor_det_2.php?id=436 53G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R le it ur a co m pl em en ta r Mary Mallon, também conhecida como Maria Tifóide, nasceu na Irlanda do Norte em 1869 e emigrou sozinha para os Estados Unidos em 1883, foi o primeiro caso de pessoa aparentemente saudável a ser identificada como portadora de febre tifóide nos Estados Unidos. Seu organismo conseguiu deter os efeitos nocivos da bactéria que causa a doença, mas continuou capaz de transmitir a doença para outras pessoas. Maria se tornou famosa por sua obstinação em negar que ela era a cau- sadora da aparição da enfermidade, negando-se a deixar de trabalhar e com isto continuou a propagar as bactérias mortais. Na falta de qualificações profissionais, trabalhou como empregada do- méstica nas vizinhanças de Nova Iorque, exercendo a função de cozinheira entre 1900 e 1907, período em que contaminou dezenas de pessoas. Quando sua situação foi constatada pelas autoridades sanitárias, pron- tamente foi isolada por um período de 3 anos em um hospital. Para Maria ser liberada, impuseram como condição que não voltasse a manipular alimentos. Entretanto, em 1915 trocou de nome para Mari Brown e voltou a trabalhar como cozinheira em um hospital, reiniciando a difusão da doença. Deixou 25 infectados e dois mortos. Por conta disso, Mary foi confinada numa “quarentena” que durou o resto de sua vida. Ainda assim Maria conseguiu emprego no hospital onde estava recolhida, primeiro como assistente e logo depois como técnica de laboratório. Maria Tifóide A mulher mais perigosa da América Salmonella typhi http://www.cives.ufrj.br/informacao/ftifoide/ft-iv.html H i g i e n e e S e g u r a n ç a le it ur a co m pl em en ta r Converteu-se em celebridade, em diversas oca- siões era entrevistada por jornalistas que eram orientados a não aceitar nada que viesse das mãos dela. Faleceu aos 68 anos, vítima de pneu- monia. A autópsia revelou que ela continuava uma potencial irradiadora da febre tifóide. À época, a atitude do poder público e da sociedade em relação a Mary foi tida como uma manifestação do preconceito contra os imigran- tes, especialmente os irlandeses. No entanto, o desenrolar dos fatos comprovou que ela era, sim, responsável por contaminar outras pessoas, mesmo que não intencionalmente. Desde então, “Maria Tifóide” (em inglês, Typhoid Mary) é um termo usado para designar aquele que, aparentemente saudável, é capaz de transmitir doenças aos demais, especialmente quando se recusa a fazer exames ou a tomar uma atitude para minimizar o risco de propa- gação de doenças graves. Sabe-se hoje que 2 a 5% das pessoas curadas continuam eternos transmissores. Leia mais em: Maria Tifóide - A mulher mais perigosa da América - Metamorfose Digital <http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=2503#ixzz3IdVgzKe1>. Unidades de Alimentação e Nutrição - UAN JUSSARA MARIA LEITE OLIVEIRA LEONARDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Configurações e Instalações • Equipamentos e Utensílios • Higiene dos materiais • Conhecer os ambientes de alimentação e suas particularidades. • Avaliar as medidas de adequação dos locais de produção de alimentos e que favoreçam a identificação dos fatores de riscos estruturais em ambientes alimentícios internos e externos. • Compreender os fundamentos básicos da Higiene Ambiental. • Determinar as técnicas de higienização mais indicadas para a edificação e para os materiais da cozinha. • Assimilar os produtos químicos preconizados e permitidos em Unidades de Alimentação e Nutrição, de acordo com a legislação atual, os princípios ativos e seus mecanismos de ação. Plano de Estudo Objetivos de Aprendizagem IntroduçãoIntrodução Nesta unidade, serão apresentadas particularidades importantes para o funcionamento dos ambientes de alimentação e as ações para sua higiene. Agora que você já conhece as características dos alimentos, os micro-organismos que pro- movem as alterações e as enfermidades veiculadas por eles, será possível compreender a im- portância do ambiente de alimentação para se promover “Segurança Alimentar”. Todo alimento necessita ser produzido em “local adequado”, tanto em cozinhas industriais quanto em fábricas (indústrias) de alimentos, incluindo áreas internas e externas do estabelecimento. No entanto, o conceito de produção adequada é bem mais amplo. É fundamental que o alimento seja transportado adequadamente, que seja obtido a partir de matérias-primas prove- nientes de locais controlados, em edificações e estruturas físicas submetidas às ações de manu- tenção e reparação em todas as salas de processamento da matéria-prima, com equipamentos adequados, enfim, que estejam de acordo com os padrões das normas técnicas estabelecidas em legislações atuais. Outro ambiente a ser avaliado é o veículo que transporta tanto a matéria-prima para as produções na cozinha quanto o produto elaborado a ser distribuído. Os meios transportadores precisam passar por inspeções rotineiras para sua manutenção e adequação quanto à integridade, temperatura e outros fatores importantes. Com relação ao local de manutenção dos alimentos, em armazenamento a quente ou a frio, as estruturas de calor, refrigeração ou congelamento são as principais a serem fiscalizadas, e o conhecimento dos itens exigidos deve estar dentro das situações de “conformidade”; este é um dos elementos mais importantes para atingir a qualidade dos alimentos produzidos. É importante lembrar que essas exigências devem ser seguidas, caso contrário, o estabeleci- mento poderá ser autuado. Todas as medidas de higiene e produtos específicos também seguem preconizações oficiais e devem ser utilizados e, ao mesmo tempo, fiscalizados com rigor. 57 H i g i e n e e S e g u r a n ç a 59G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R Os alimentos devem ser produzidos em locais adequados, esse é um dos dez princípios básicos preconizados pela Organização Mundial de Saúde – OMS para se produzir um ALIMENTO SEGURO. Configurações e Instalações H i g i e n e e S e g u r a n ç a V ocê, profissional da alimentação, deve concordar com a seguinte questão: Todas as unidades de produção e serviços de alimentação que querem se manter no mercado, atuando dentro da legalidade, deverão considerar sempre a questão da “adequação ambiental”. É importante considerar que as edificações e cada um de seus ambientes devem ser cons- truídos de acordo com projetos arquitetônicos proporcionais ao tipo de atividade a ser desen- volvida na área específica, volume de alimento produzido, equipamentos utilizados, número de pessoas envolvidas neste trabalho, que fa- voreçam as operações de produção e higiene (limpeza e desinfecção) do local. O dimensionamento da edificação deve ser compatível com todas as operações realizadas em um estabelecimento (TONDO; BARTZ, 2011). Aspectos físicos preconizados para os Estabelecimentos Alimentícios Caro(a) aluno(a), os nossos estudos estarão sempre fundamentados nas Boas Práticas (BP), tanto em indústrias de alimentos quanto nos serviços de alimentação, e incluem também a busca da adequação dos elementos físicos da edificação às atividades de produção ou de pre- paro de alimentos. Pela própria definição determinada pela legislação vigente da Vigilância Sanitária, a edi- ficação é a área ou local onde são desenvolvidas Toda a extensão do local deve facilitar o fluxo de pessoas
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