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2018 miCroBioLoGiA, HiGiene e seGurAnçA Profª. Graciella Chiarelli Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Graciella Chiarelli Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 579 C532m Chiarelli, Graciella Microbiologia, higiene e segurança / Graciella Chiarelli. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 165 p. : il. ISBN 978-85-515-0154-2 1.Microbiologia. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III ApresentAção Este livro didático apresenta um conjunto de informações necessárias para garantir a segurança e qualidade na produção de alimentos, em todos os estágios que permeiam a preparação de alimentos destinada ao consumo de terceiros. A Unidade 1 aborda aspectos sobre as doenças que podem ser transmitidas por alimentos, seus agentes etiológicos, fontes de contaminação e formas de controle da sua multiplicação nos alimentos. Apresenta requisitos de boas práticas quanto à higiene pessoal, uniformização e a adoção de atitudes higiênicas a serem adotadas pelos manipuladores de alimentos. Para controlar o risco de contaminação alimentar, além de atitudes higiênicas dos manipuladores de alimentos, existe uma série de requisitos preconizados pelas boas práticas a ser realizada nos processos de recebimento, pré-preparo, preparo, acondicionamento e distribuição dos alimentos. Estes requisitos serão compreendidos na Unidade 2. Por fim, na Unidade 3, serão estudadas as condições adequadas das áreas externas e internas dos serviços de alimentação, a adequada realização de higienização de uma cozinha e a maneira como avaliar a adequação de boas práticas dos serviços de alimentação. Em âmbito geral, o conhecimento das boas práticas de fabricação é item indispensável na formação de um manipulador de alimentos. Este precisa conhecer e aplicar hábitos higiênico-sanitários na sua prática diária, visto que a produção de um alimento seguro é de responsabilidade do profissional de alimentação. Bons estudos! Profª. Graciella Chiarelli IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS ............................................ 1 TÓPICO 1 – CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA .................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS, DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E SUA CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................. 3 2.1 BACTÉRIAS ..................................................................................................................................... 6 2.2 VÍRUS ............................................................................................................................................... 6 2.3 PARASITAS....................................................................................................................................... 7 2.4 FUNGOS ........................................................................................................................................... 7 3 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA) ............................................................ 8 3.1 DOSE INFECTANTE ....................................................................................................................... 9 3.1.1 Características de agentes causadores de DTA .................................................................. 9 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA ............................................................................. 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19 2 FATORES QUE INFLUENCIAM A MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS E SUAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO ......................................................................................... 19 2.1 FATORES INTRÍNSECOS ............................................................................................................... 20 2.1.1 Acidez ..................................................................................................................................... 20 2.1.2 Atividade de água do alimento ............................................................................................. 21 2.1.3 Composição química do alimento ........................................................................................ 22 2.1.4 Fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento ....................................... 23 2.1.5 Estrutura biológica do alimento ........................................................................................... 23 2.2 FATORES EXTRÍNSECOS .............................................................................................................. 23 2.2.1 Umidade ................................................................................................................................... 23 2.2.2 Oxigênio ................................................................................................................................... 24 2.2.3 Temperatura/tempo ............................................................................................................... 25 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 – MANIPULADORES DE ALIMENTOS ........................................................................ 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS AOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS .................................................................................................................................. 35 2.1 SAÚDE DO MANIPULADOR ....................................................................................................... 36 2.1.1 Capacitação .............................................................................................................................. 37 2.1.2 Lavagem e antissepsia das mãos .......................................................................................... 37 2.1.3 Hábitos higiênicos dos manipuladores ............................................................................... 41 2.1.4 Itens de vestuário utilizados na manipulação de alimentos ............................................ 42 2.1.5 Uso de equipamentos de proteção individual.................................................................... 44 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 46 sumário VIII RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 50 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 51 UNIDADE 2 – REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS ÀS ETAPAS DE AQUISIÇÃO, RECEBIMENTO, PRÉ-PREPARO, PREPARO, CONSERVAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS .................................................................... 53 TÓPICO 1 – BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS ÀS ETAPAS DE PRÉ-PREPARO: AQUISIÇÃO, RECEBIMENTO E ARMAZENAMENTO DOS ALIMENTOS ............................... 55 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 BOAS PRÁTICAS NAS ETAPAS DE AQUISIÇÃO, RECEBIMENTO E ARMAZENAMENTO DOS ALIMENTOS ...................................................................................... 55 2.1 RECEBIMENTO DE MATÉRIAS-PRIMAS E SELEÇÃO DOS FORNECEDORES ................ 58 2.2 RECEBIMENTO ............................................................................................................................... 60 2.3 ARMAZENAMENTO ..................................................................................................................... 63 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 67 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72 TÓPICO 2 – BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS ÀS ETAPAS DE PRÉ-PREPARO E PREPARO DOS ALIMENTOS .......................................................................................................... 73 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 73 2 ETAPAS DE PRÉ-PREPARO E PREPARO DOS ALIMENTOS ................................................... 73 2.1 REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS NAS ETAPAS DE PREPARO DOS ALIMENTOS ....... 79 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 86 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 87 TÓPICO 3 – BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS ÀS ETAPAS DE ACONDICIONAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS ........................................................................... 89 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89 2 BOAS PRÁTICAS NA DISTRIBUIÇÃO E ACONDICIONAMENTO DOS ALIMENTOS ............................................................................................................................... 89 2.1 ESPERA PÓS-COCÇÃO ................................................................................................................. 90 2.2 REAQUECIMENTO ........................................................................................................................ 90 2.3 DISTRIBUIÇÃO .............................................................................................................................. 90 2.4 APROVEITAMENTO DAS SOBRAS ............................................................................................ 93 2.5 RESFRIAMENTO ............................................................................................................................. 94 2.6 PORCIONAMENTO ....................................................................................................................... 95 2.7 TRANSPORTE DE ALIMENTOS PREPARADOS ...................................................................... 99 RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................101 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102 UNIDADE 3 – BOAS PRÁTICAS NAS CONDIÇÕES ESTRUTURAIS, NA HIGIENE AMBIENTAL E DE UTENSÍLIOS E NO CONTROLE DO LIXO, PRAGAS E QUALIDADE DA ÁGUA DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO ......................103 TÓPICO 1 – CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DAS ÁREAS EXTERNAS E INTERNAS DOS SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO ................................................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 PLANEJAMENTO FÍSICO E FUNCIONAL DE UM SERVIÇO DE ALIMENTAÇÃO ........105 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................117 IX RESUMO DO TÓPICO 1 .....................................................................................................................120 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................121 TÓPICO 2 – PROCEDIMENTOS DE HIGIENE AMBIENTAL E DE UTENSÍLIOS, CUIDADOS NECESSÁRIOS NO CONTROLE DO LIXO, PRAGAS E QUALIDADE DA ÁGUA DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO ..........................123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123 2 HIGIENE AMBIENTAL, CUIDADOS COM O LIXO, PRAGAS E QUALIDADE DA ÁGUA .............................................................................................................................................123 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 2 .....................................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139TÓPICO 3 – PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRONIZADOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE ESTABELECIMENTOS .............................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRONIZADOS E FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO .................................................................................................................................141 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................155 RESUMO DO TÓPICO 3 .....................................................................................................................158 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................161 X 1 UNIDADE 1 NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer os perigos químicos, físicos e biológicos, que podem contaminar os alimentos e causar doenças transmitidas por alimentos; • identificar os principais fatores que influenciam na multiplicação dos mi- crorganismos que contaminam os alimentos; • prevenir contaminações alimentares através da aplicação de normas de hi- giene dos manipuladores. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA TÓPICO 2 – MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA TÓPICO 3 – MANIPULADORES DE ALIMENTOS 2 3 TÓPICO 1UNIDADE 1 CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 1 INTRODUÇÃO Alimentos saudáveis e seguros são extremamente importantes para a manutenção da saúde e bem-estar. Com o processo de industrialização e inserção das mulheres no mercado de trabalho, a dinâmica da alimentação sofreu algumas mudanças, o hábito de se alimentar fora de casa incentivou um crescente movimento em bares, restaurantes e padarias, os quais precisam se adequar para produzir um alimento seguro para o consumidor. Produzir um alimento seguro, que não ofereça risco à saúde do consumidor, é um dos objetivos de um serviço de alimentação, e para que isso seja possível é necessário conhecer quais os agentes causadores de doenças transmitidas por alimentos e como eles contaminam os alimentos. O gastrônomo é um profissional que trabalha diretamente com a produção de alimentos e está exposto a vários agentes de contaminação, é imprescindível que você, acadêmico, compreenda como identificar perigos, manipulações inadequadas e alimentos de risco. 2 MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS, DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E SUA CLASSIFICAÇÃO Os alimentos podem ser contaminados em diferentes momentos da manipulação, por uma substância ou microrganismo indesejável, o manipulador de alimentos deve conhecer os contaminantes microbiológicos para saber como evitá-los. A contaminação dos alimentos ocorre devido à presença de microrganismos (bactérias, fungos, vírus, parasitas). Qualquer material, objeto, substância, microrganismo ou elemento presente em um alimento, e que não faça parte de sua composição, pode ser considerado um contaminante alimentar. UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 4 FIGURA 1 – CONSCIENTIZAÇÃO Você sabia que milhares de pessoas ficam doentes por comerem alimentos contaminados? Sim. É por isso que temos que cumprir as regras da vigilância sanitária! Que bom que vocês se preocupam com a higiene no preparo dos alimentos. Assim podemos comer com mais tranquilidade. FONTE: ANVISA (2004, p. 5) Nos mais diferentes serviços de alimentação, garantir qualidade e segurança alimentar ao alimento é uma tarefa difícil. Vamos conhecer quais são as medidas de segurança. A crescente industrialização está provocando diversas mudanças no setor alimentício, tanto na produção quanto na comercialização. Até meados dos anos noventa, o conceito de segurança alimentar estava relacionado com a disponibilidade e acesso aos alimentos. O conceito de segurança alimentar, como conhecemos hoje, surgiu após alguns acontecimentos sanitários ocorridos no final da década de noventa, alguns contaminantes químicos e bactérias foram encontrados nos mais diversos alimentos. A partir destes acontecimentos, aumentou a preocupação com a qualidade sanitária dos alimentos (SILVA; AMARAL, 2004). Segurança alimentar, higiene, qualidade e confiabilidade dos produtos passam a ser itens primordiais para o consumidor. Atualmente, o consumidor está preocupado em saber de onde vem o alimento consumido e como é produzido, os anseios deste novo consumidor devem ser levados em consideração pelo produtor de alimentos. “Mais do que nunca, compreender o consumidor é reconhecida como uma necessidade vital não apenas para as empresas, mas para toda a organização que se assuma como orientada para o mercado” (VIEIRA, 2004, p. 3). Hoje em dia, no Brasil, qualquer produto colocado no mercado que não está em conformidade com as normas de segurança e higiene, a exemplo do uso indevido de aditivos químicos no leite ou nas carnes, vira um assunto de muita repercussão e preocupação com a saúde da população. TÓPICO 1 | CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 5 O controle sanitário dos alimentos faz-se através de um conjunto de normas e técnicas utilizadas para verificar se os produtos alimentícios estão sendo produzidos, manipulados e distribuídos de acordo com as Boas Práticas (BP), no Brasil esse conjunto de normas técnicas é elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Quando este conjunto de normas e técnicas não é aplicado, microrganismos patogênicos podem causar doenças, como infecções e intoxicações de origem alimentar (HOFFMANN, 2001). Os perigos microbiológicos são as principais causas de contaminação dos alimentos e os manipuladores são os grandes responsáveis por esta contaminação (SOUZA, 2006). Afinal, o que são os perigos? A International Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF) definiu o conceito de perigo como qualquer contaminação por substância ou crescimento de bactéria, toxinas e enzimas em alimentos, que possa afetar sua qualidade (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). Os três principais perigos que podem contaminar os alimentos são: perigos microbiológicos (micróbios e parasitas), perigos físicos (objetos físicos) e perigos químicos (substâncias tóxicas), conforme ilustrado na figura a seguir: FIGURA 2 – PERIGOS MICROBIOLÓGICOS E PERIGOS QUÍMICOS FONTE: ANVISA (2004, p. 7) UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 6 Os perigos físicos representam qualquer objeto físico que possa colocar em risco a saúde do consumidor, a exemplo de: pedras, plástico, metal, parafuso ou parte de algum equipamento, madeira, fragmento de vidro (PEREIRA et al., 2013). Os perigos químicos podem estar naturalmente presente nos alimentos, tais como as micotoxinas, histamina, toxinas das plantas, algas ou moluscos, espécies de cogumelos tóxicos, ou serem introduzidos por engano ou excesso no processamento dos alimentos, como pesticidas, alguns metais pesados, medicamentos veterinários, nitritos, produtos químicos para lubrificação, agentes de limpeza, tintas e revestimentos, entre outros (AFONSO, 2008, p. 28). Os perigos biológicos e perigos microbiológicos incluem bactérias, fungos, vírus, parasitas e toxinas microbianas (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). A seguir, serão descritos cada um dos perigos biológicos mais conhecidos. 2.1 BACTÉRIAS As bactérias encontram-se no meio ambiente, deste modo, elas podem estar presentes nas matéria-primas principais, vegetais ou animais, utilizadas na produção de produtos alimentares, ou ainda nos manipuladoresde alimentos. As bactérias preferem alimentos ricos em água e proteínas (Ex.: carne, aves, peixes, moluscos, ovos, leite, queijo etc.) (SILVA JR., 2014). As bactérias patogênicas são responsáveis pela maioria dos surtos e casos de doenças transmitidas por alimentos (DTA). As bactérias são seres vivos não visíveis a olho nu, que em condições adequadas, se multiplicam rapidamente nos alimentos (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 2.2 VÍRUS Os vírus podem ser veiculados através dos alimentos, água ou outras fontes. Eles necessitam de uma célula viva para se reproduzirem, por isso não se multiplicam em alimentos, utilizam os alimentos como veículo para alcançar seu hospedeiro. Segundo Franco e Landgraf (2008), entre os vírus, cuja presença em alimentos pode estar associada à ocorrência de doenças, como gastroenterites, nos consumidores encontram-se: • Vírus da hepatite A. • Os vírus (tipo) Norwalk. • O rotavírus. • Os astrovírus. • Os calicivírus. • Os adenovírus entéricos. TÓPICO 1 | CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 7 2.3 PARASITAS Os parasitas têm, em geral, animais hospedeiros específicos e podem incluir o homem no seu ciclo de vida. Eles utilizam o hospedeiro para sua sobrevivência (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). FIGURA 3 – CICLO DE CONTAMINAÇÃO DE UM PARASITA Os parasitas causadores de giardíase, toxoplasmose, teníase, ascaridíane (lombriga) etc., vivem em hospedeiros, animais específicos, como porco, bovino etc. Ao consumir frutas, carnes malpassadas, hortaliças e água, que possam estar contaminadas, a pessoa pode ser infectada. A pessoa infectada pode contaminar outras pessoas, animais ou alimentos que tiverem contato com fezes contaminadas, dando início a um novo ciclo de contaminação. FONTE: A autora 2.4 FUNGOS Os fungos são divididos em bolores e leveduras, eles preferem multiplicar- se em alimentos mais secos, que tenham quantidades maiores de açúcar, como frutas e doces em geral. Segundo Silva Jr. (2014), quando colocados em alimentos ou bebidas, eles transformam e modificam sua função sem causar doença, sendo utilizados na produção de: Alimentos: • Leite + Bactérias = Iogurte • Iogurte + Bactérias = Queijo • Carne + Bactérias = Maturação • Massa + Leveduras = Pão UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 8 Bebidas: • Uva/Suco + Leveduras = Vinho • Vinho + Bactérias = Vinagre • Arroz + Leveduras = Saquê • Malte + Leveduras = Cerveja Entretanto, alguns fungos podem produzir substâncias tóxicas (micotoxinas), que são prejudiciais ao homem e aos animais. Estas substâncias já são consideradas perigos químicos devido a sua natureza química (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). Agora, conheceremos os perigos que podem contaminar os alimentos, veremos o que eles podem causar com as chamadas doenças transmitidas por alimentos. 3 DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA) As doenças transmitidas por alimentos podem ser causadas por "fatores de natureza química, física e biológica, que em quantidades suficientes e com capacidade para se manterem no curso da cadeia alimentar podem causar agravo à saúde" (BRASIL, 2010, p. 99). Alimentos contaminados não têm uma aparência definida, podem apresentar odor e sabor normais e, como o consumidor não está devidamente esclarecido ou consciente dos perigos envolvidos, não consegue identificar um alimento contaminado somente pelas suas características físicas ou organolépticas (FORSYTHE, 2000). FIGURA 4 – ALIMENTO COM APARÊNCIA NORMAL FONTE: Disponível em: <http://adjuconsultoria.blogspot.com.br/2015/04/seguranca-alimentar- o-que-e-isso.html>. Acesso em: 27 nov. 2017 Como os microrganismos não são visíveis a olho nu e nem sempre modificam a cor, odor ou sabor dos alimentos contaminados, é muito difícil determinar se um alimento está contaminado somente pela aparência. TÓPICO 1 | CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 9 De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (ABERC, 2013), as doenças transmitidas pelos alimentos podem ser assim classificadas: • Toxinose: ingestão de toxinas bacterianas pré-formadas nos alimentos, decorrente da multiplicação microbiana com produção de toxina no alimento. Exemplo de algumas bactérias toxinogênicas: o Staphylococcus aureus. o Clostridium botulinum. o Bacillus cereus emético. • Infecção: ingestão de microrganismos patogênicos que se multiplicam no trato gastrointestinal, produzindo toxinas ou agressão ao epitélio. Exemplo de alguns microrganismos infectantes: o Bacillus cereus clássico. o Clostridiun perfringens. o Salmonella sp. o Escherichia coli patogênica. 3.1 DOSE INFECTANTE A dose infectante consiste no número de microrganismos capaz de desencadear uma doença. O nível da dose infectante mínima é muito difícil de determinar, pois varia de pessoa para pessoa, depende das condições fisiológicas de cada um, como: imunidade, estado nutricional, nível de estresse, flora intestinal e grau de acidez gástrica. Ainda existem os grupos especiais de risco, que são as crianças, os idosos, as gestantes e os imunodeprimidos, que podem adoecer com uma dose infectante menor do que o necessário para causar doença em um adulto saudável (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 3.1.1 Características de agentes causadores de DTA Staphylococcus aureus (toxinose): • Proveniente do nariz, região orofaríngea e mãos de manipuladores. • Período de incubação (aparecimento dos primeiros sintomas após o consumo): 1 a 6 horas. • Sintomas: vômitos, cólicas, mal-estar, dores musculares, raras diarreias, sem febre. • Como ocorre: através do consumo de alimentos contaminados por manipuladores, que apresentaram condições adequadas para a proliferação destes microrganismos (ABERC, 2013). UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 10 Bacillus cereus emético (toxinose): • Proveniente do solo, água, vegetais, grãos e farinhas. • Período de incubação: 1 a 6 horas. • Sintomas: vômitos, cólicas, mal-estar, raras diarreias, sem febre. • Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos, como arroz, carnes, verduras, pudins etc., armazenados em condições inadequadas de temperatura por algumas horas (FRANCO; LANDGRAF, 2008; SILVA JR., 2014). Clostridium botulinum (toxinose): • Proveniente do solo, água, vegetais, aves e pescados. • Período de incubação: 8 a 36 horas. • Sintomas: visão dupla, dificuldade de falar, deglutir, respirar, mucosa da boca ressecada, insuficiência respiratória e morte. • Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos mantidos em anaerobiose e deixados por várias horas em temperatura inadequada, como: carnes, embutidos não refrigerados, enlatados malprocessados e conservas caseiras de vegetais e pescados (ABERC, 2013). Bacillus cereus clássico (infecção): • Proveniente do solo, água, vegetais, grãos e farinhas. • Período de incubação: 8 a 16 horas. • Sintomas: cólicas, diarreia, raros vômitos, sem febre. • Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos, armazenados em condições inadequadas de temperatura por algumas horas (SILVA JR., 2014). Clostridiun perfringens (infecção): • Proveniente do solo, água e vegetais. • Período de incubação: 8 a 16 horas. • Sintomas: cólicas, diarreia, raros vômitos, sem febre. • Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos ou refogados que mantém condições de anaerobiose, armazenados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (ABERC, 2013). Escherichia coli patogênica (infecção): • Proveniente das fezes do homem ou de animais de sangue quente. • Período de incubação: 8 a 16 horas. • Sintomas: cólicas, diarreia, raros vômitos, sem febre. • Como ocorre: através do consumo de alimentos contaminados no ambiente ou na manipulação, que foram cozidos e deixados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (SILVA JR., 2014). TÓPICO 1 | CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 11 Salmonella sp (infecção): • Proveniente de carnes, aves, produtos lácteos, frutos do mar, gema de ovo, hortaliças plantadas em locais adubados comfezes e também manipuladores que possam estar contaminados. • Período de incubação: 12 a 72 horas. • Sintomas: cólicas, diarreia, vômitos e febre. • Como ocorre: através do consumo de alimentos malcozidos, deixados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (ABERC, 2013). Os sintomas mais comuns entre as toxinoses e infecções são: cólicas, diarreia e vômitos. No entanto, existem microrganismos que podem causar contaminações alimentares mais graves. Para saber mais sobre esses microrganismos, você pode assistir ao vídeo disponível no link <https://www.youtube.com/watch?v=EGxcUKef_yA>. Os sintomas apresentados pelo portador de DTA dependerá do agente causador envolvido e pode variar de um leve desconforto intestinal até quadros mais sérios, podendo ocasionar desidratação grave, diarreia sanguinolenta e insuficiência renal aguda (BRASIL, 2016). A figura a seguir apresenta alguns exemplos de perigos que têm classificação de risco alta, ou seja, que podem causar efeitos graves para a saúde, obrigando ao internamento para reverter a situação, podendo, inclusivamente, provocar a morte. QUADRO 1 – PERIGOS COM CLASSIFICAÇÃO ALTA Classificação Exemplos Alta Biológico: toxina do Clostridium botulinum, Salmonella Typhi, S. Paratyphi A e B, Shigella dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Vibrio vulnificus, Brucella melitensis, Clostridium perfringens tipo C, vírus da hepatite A e E, Listeria monocytogenes (em alguns pacientes), Escherichia coli 0157:H7, Trichinella spiralis, Taenia solium (em alguns casos). Químico: contaminação directa de alimentos por substâncias químicas proibidas ou determinados metais, como mercúrio, ou aditivos químicos que podem causar uma intoxicação grave em número elevado ou que podem causar danos a grupos de consumidores mais sensíveis. Físico: objectos estranhos e fragmentos não desejados que podem causar lesão ou dano ao consumidor, como pedras, vidros, agulhas, metais e objectos cortantes e perfurantes, constituindo um risco à vida do consumidor. FONTE: Baptista e Venâncio (2003, p. 17) DICAS UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 12 As doenças transmitidas por alimentos podem causar surtos, definido pelo Ministério da Saúde como "episódio em que duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sinais/sintomas após ingerir alimentos e/ou água da mesma origem” (BRASIL, 2016, p. 5). No país, desde 1999 faz-se um controle e vigilância dos surtos, por isso a importância da notificação quando há casos de doenças transmitidas por alimentos. Essa notificação permite a investigação do estabelecimento e/ou produto causador do surto e a elaboração de estatísticas, tornando possível o conhecimento do perfil epidemiológico dos surtos causados por DTA no Brasil. Segundo estatísticas, no ano de 2016 o Brasil apresentou 543 surtos com 9907 pessoas doentes, número menor de surtos e doentes se comparados aos dados do ano anterior. Em um período histórico de 2007 a 2017, homens e mulheres na faixa etária de 20 a 49 anos foram os mais acometidos com DTA no Brasil. O principais locais de ocorrência dos surtos foram residências, restaurantes e padarias (BRASIL, 2016). A figura a seguir apresenta os principais alimentos envolvidos em surtos de DTA no Brasil, o que oferece uma ideia dos alimentos que são potencialmente mais perigosos, embora façam parte dessa estatística alimentos que não foram identificados pelos doentes. FIGURA 6 – PROPORÇÃO DOS ALIMENTOS INCRIMINADOS NOS SURTOS DE DTA NO BRASIL (2007 A 2017) Ignorado Leite e derivados 57,1% 2,8% 6,3% 8,6% 6,2% 3,7% 9,3% 2,0% 1,6% 2,1% Inconclusivo Alimentos mistos Ovos e produtos à base de ovos Carne bovina e derivados Cereais, farináceos e produtos derivados Outros Doces e sobremesas Água FONTE: Brasil (2016, p. 13) A Australian New Zealand Food Autorithy (ANZFA, 2001) define como alimentos potencialmente perigosos aqueles que necessitam de controle de temperatura para minimizar o crescimento de microrganismos que possam estar no alimento, ou previnir a formação de toxinas no alimento. A organização ainda classifica alimentos, segundo termos de risco para a saúde, em alto, médio e baixo. TÓPICO 1 | CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 13 Segundo a ANZFA (2001), alimentos de risco alto são alimentos que suportam o crescimento de microrganismos patogênicos e produção de toxinas, como: • carne; • carne de aves; • salsichas frescas; • salames; • peixes; • ostras; • leite; • arroz cozido; • lasanha; • ovos. Para a ANZFA (2001), alimentos de médio risco são alimentos que podem conter microrganismos patogênicos, mas geralmente não suportam o seu crescimento, o que pode estar relacionado às características do próprio alimento, devido a sua natureza ou ao seu processamento, tais como: • frutas; • vegetais; • sucos de laranja; • carnes enlatadas; • leites pasteurizados; • produtos lácteos; • produtos de confeitaria à base de leite. Os alimentos de baixo risco são aqueles alimentos que não suportam o crescimento microbiano e que a presença de microrganismos é improvável (ANZFA, 2001), são eles: • cereais; • farinhas; • produtos de panificação; • refrigerantes; • produtos de confeitaria à base de açúcar; • bebidas alcoólicas; • óleos e gorduras. Para complementar um pouco mais este assunto, leia: FRANCO, B. D. G. de M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Ed. Atheneu, 2008. 182p. DICAS UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 14 A seguir trazemos, como contribuição ao nosso estudo, um artigo que relata os sete casos de contaminação de repercussão mundial. 7 casos de contaminação de alimentos que deram o que falar 1 Noma e a falta de água quente As 63 pessoas que passaram mal após comerem no restaurante Noma, considerado o melhor do mundo pela revista Restaurant, não foram as primeiras, nem serão as últimas a sofrer com alimentos contaminados. Seja por deslizes durante o preparo em restaurantes ou falhas no processo industrial dos alimentos, várias empresas já mancharam sua reputação pelo mesmo motivo que hoje o Noma vê sua hegemonia como melhor do mundo ameaçada. No caso do Noma, essencialmente, o incidente aconteceu por falta de medidas mais rígidas de higiene e falhas na cultura de contaminação. Por ora, o estabelecimento prometeu reembolso às vítimas ou outra refeição no local. 2 Ketchup Heinz com pelo de rato Em fevereiro passado, a Proteste (associação de defesa do consumidor) encontrou três pelos de rato em uma amostra de ketchup da Heinz durante testes de qualidade. Em comunicado, a associação afirmou que o material encontrado indica problemas “graves de higiene, além da falta de cuidados mínimos para a fabricação ou acondicionamento”. Como resposta, a H. J. Heinz Company disse que não teve a oportunidade para validar a precisão do teste e tinha razões para questioná-lo. 3 Funcionário do Burger King pisando em alface No ano passado, um funcionário do Burger King em Ohio, nos Estados Unidos, postou na internet uma fotografia em que aparece pisando em potes com alface dentro. As imagens tinham a seguinte legenda: "Esta é a alface que vocês comem no Burger King". Os funcionários foram demitidos. 4 Rato em salgadinho Em outubro de 2011, uma dona de casa de Joinville (SC) encontrou um filhote de rato morto dentro de um pacote de salgadinho da Elma Chips, da Pepsico. No ano passado, um estudante também encontrou um camundongo morto dentro do pacote lacrado de um salgadinho de soja da marca Jasmine. As duas empresas negaram contaminação do processo de fabricação. IMPORTANT E https://exame.abril.com.br/topicos/noma https://exame.abril.com.br/topicos/restaurantes https://exame.abril.com.br/gestao/noticias/proteste-encontra-pelo-de-rato-em-catchup-heinz https://exame.abril.com.br/marketing/noticias/funcionario-do-burger-king-publica-foto-pisando-em-alfaces https://exame.abril.com.br/marketing/noticias/funcionario-do-burger-king-publica-foto-pisando-em-alfaces https://exame.abril.com.br/marketing/noticias/dona-de-casa-reclama-de-rato-em-baconzitosTÓPICO 1 | CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA 15 5 Toddynho com detergente Em 2011, ao menos 39 pessoas de 15 cidades do Rio Grande do Sul passaram mal após ingerirem achocolatado Toddynho contendo detergente. Análises laboratoriais indicaram que cerca de 80 unidades de 200 ml possuíam um pH muito alto para um alimento. No ano passado, a justiça decidiu que a Pepsico deveria pagar R$ 420 mil em indenização às vítimas. 6 Alimentos vencidos na cozinha de hotéis Em 2011, os chefs dos hotéis Intercontinental e Grand Hyatt, em São Paulo, foram detidos pela polícia por falhas na higiene e manutenção dos alimentos. Nos dois locais, a vigilância sanitária encontrou alimentos vencidos e sem informações de origem. Para se ter uma ideia, no Grand Hyatt, cem quilos de alimentos foram apreendidos – o prazo de validade de alguns deles datava de 2008. Na mesma época, a polícia também apreendeu 200 quilos de alimentos estragados nos hotéis Marriott, Sofitel Rio e Pestana Rio, na cidade do Rio de Janeiro. 7 A pior contaminação no melhor restaurante do mundo O caso mais semelhante com o que ocorreu em fevereiro no Noma aconteceu também em um restaurante premiado. Em 2009, 240 pessoas tiveram problemas gastrointestinais após comerem no restaurante inglês Fat Duck, considerado o melhor do mundo em 2005. De acordo com estudo publicado em 2011, esta foi a pior contaminação do tipo em um único estabelecimento. Apesar do incidente, o restaurante permanece na lista dos melhores restaurantes do mundo da Restaurant. FONTE: ABRANTES, T. 7 Casos de contaminação de alimentos que deram o que falar. Rev. Exame, 2013. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/7-casos-de-contaminacao- de-alimentos-que-deram-o-que-falar/>. Acesso em: 27 nov. 2017. https://exame.abril.com.br/negocios/noticias/caso-toddynho-custara-r-420-mi-de-indenizacao-a-pepsico-2 https://exame.abril.com.br/gestao/noticias/chefe-de-cozinha-do-hotel-intercontinental-e-preso-em-sao-paulo https://exame.abril.com.br/brasil/noticias/policia-acha-alimentos-estragados-em-hoteis-de-luxo-do-rio-e-prende-nutricionistas https://exame.abril.com.br/brasil/noticias/policia-acha-alimentos-estragados-em-hoteis-de-luxo-do-rio-e-prende-nutricionistas http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2011/dec/05/fat-duck-restaurant-noroviris-outbreak 16 Neste tópico, você aprendeu que: • Os alimentos podem ser contaminados em diferentes momentos da manipulação, por uma substância ou microrganismo indesejável. • Os três principais perigos que podem contaminar os alimentos são: perigos biológicos, perigos físicos e perigos químicos. • Os perigos físicos podem representar qualquer objeto físico que possa colocar em risco a saúde do consumidor. • Os perigos químicos podem estar naturalmente presentes nos alimentos, como é o caso das toxinas das plantas, ou serem introduzidos por engano ou excesso no processamento dos alimentos, como pesticidas, alguns metais pesados e medicamentos veterinários. • Os perigos biológicos e perigos microbiológicos incluem bactérias, fungos, vírus, parasitas e toxinas microbianas. • As bactérias patogênicas são responsáveis pela maioria dos surtos e casos de doenças transmitidas por alimentos (DTA). • As doenças transmitidas por alimentos (DTA) são causadas por perigos físicos, químicos ou biológicos que penetram no organismo humano através da ingestão de água ou alimentos contaminados. • Segundo estatísticas, no ano de 2016 o Brasil apresentou 543 surtos com 9907 pessoas doentes (BRASIL, 2016). RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 Identifique as principais diferenças entre os agentes etiológicos: vírus, bactérias, fungos e parasitas. 2 Aponte procedimentos para o preparo de refeições que podem ser adotadas por um manipulador de alimentos para prevenir as doenças transmitidas por alimentos. AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O manipulador de alimentos precisa conhecer os principais fatores de multiplicação dos microrganismos para conseguir evitá-los e manipular os alimentos de forma segura. Infelizmente, muitos manipuladores de alimentos não apresentam conhecimento sobre multiplicação microbiana e pontuam suas práticas de manipulação de alimentos em conhecimentos obtidos de outros colaboradores ou em conhecimentos empíricos. Quando se adota uma prática não fundamentada, as atividades desenvolvidas como manipulador de alimentos podem não ser assertivas. A multiplicação microbiana depende de alguns fatores relacionados aos alimentos ou não, como condições intrínsecas ou extrínsecas, que podem permitir ou favorecer o crescimento de microrganismos. O manipulador de alimento é o principal responsável pelo controle de dois fatores imprescindíveis para a multiplicação dos microrganismos: o tempo de exposição dos alimentos e a temperatura, e tempo dos tratamentos térmicos empregados em alimentos. 2 FATORES QUE INFLUENCIAM A MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS E SUAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO Os microrganismos são seres vivos muito pequenos, mas que realizam todas as atividades que os outros seres vivos realizam, necessitam de alimentos para sobreviver, de oxigênio, de água etc. Por isso, em condições adequadas, ou seja, em ambientes ou alimentos que fornecem suas condições vitais, eles têm mais facilidade de reprodução. Em condições adequadas, uma célula (bactéria) pode se multiplicar em duas células idênticas, cada célula, em seguida, continua a se multiplicar. Segundo Baptista e Venâncio (2003), as condições ideais, ou fatores intrínsecos e extrínsecos que favorecem o crescimento dos microrganismos são: • Fatores intrínsecos – relacionados a características do próprio alimento: o acidez; o atividade de água do alimento; o composição química do alimento; o fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento; o estrutura biológica do alimento. UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 20 • Fatores extrínsecos – relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra: o umidade; o composição gasosa do ambiente (oxigênio); o temperatura/tempo. Alguns fatores de multiplicação podem ser controlados pelos manipuladores de alimentos, aprenderemos mais sobre esses fatores e como controlá-los. 2.1 FATORES INTRÍNSECOS Alguns fatores podem favorecer ou dificultar o crescimento dos microrganismos, são os chamados fatores intrínsecos, que estão diretamente relacionados aos aspectos dos próprios alimentos, como o nível de acidez do alimento, composição química do alimento, fatores antimicrobianos naturalmente presentes nos alimentos e sua estrutura biológica. 2.1.1 Acidez A maioria dos microrganismos tem dificuldade de se reproduzir em alimentos ácidos, como conservas, sucos ácidos, molhos de tomate, refrigerantes, frutas ácidas. Geralmente, os fungos, bolores e leveduras (fermentos) multiplicam-se nesse tipo de alimento e podem estragá-lo. Já os alimentos considerados pouco ácidos (leites, carnes, pescados, aves, feijão) são os preferidos pelos microrganismos, especialmente pelas bactérias. Por isso, estragam mais rapidamente (SILVA JR., 2014). A indústria de alimentos sabe trabalhar muito bem com o efeito da acidez sobre os microrganismos, assim consegue preservar os alimentos por mais tempo. No caso dos alimentos fermentados, os microrganismos responsáveis pela fermentação produzem ácidos, o que acidifica o alimento, como é o caso de leites, iogurtes, carnes e vegetais. “A indústria ainda utiliza acidulantes como ácido cítrico, láctico, acético e outros, para, com isso, evitar o risco de deterioração ou atenuar os tratamentos térmicos, como no caso de picles, chucrute, champignon e palmitos” (HOFFMANN, 2001, p. 25). Acidulantes são substâncias adicionadas a alimentos que têm a função de intensificar o gosto ácido destes. Elas agem aumentando a acidez, reduzindo o crescimento microbiológico nos alimentos. NOTA TÓPICO 2 | MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA 21 No quadro a seguir serão apresentados os alimentosconsiderados pouco ácidos, ácidos e muito ácidos. QUADRO 2 – CLASSE DE ACIDEZ DOS ALIMENTOS Classe Exemplos Pouco ácidos Leite Manteiga Creme de leite Alface Milho Batata Melão Aves Pescados Carne bovina Presunto Peixes e frutos do mar Ácidos Beterraba Berinjela Figo Uva Muito ácidos Refrigerantes Azeitona Maçã Limão Laranja FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) 2.1.2 Atividade de água do alimento Assim como todo o ser vivo, os microrganismos também necessitam de água para sobreviver e se reproduzir. As bactérias preferem alimentos com alta atividade de água para a sua multiplicação, já os fungos precisam de menos água para se multiplicarem, por isso eles têm mais afinidade por alimentos secos ou mesmo por objetos (GERMANO; GERMANO, 2011). O parâmetro que mede a disponibilidade de água de um alimento denomina-se atividade de água. Os microrganismos necessitam de água na forma disponível, livre, para a sua sobrevivência. A adição de sais, de açúcar e de outras substâncias pode provocar a redução do valor de atividade de água de um alimento, assim como a secagem ou desidratação, logo, alimentos com bastante açúcar ou sal, como doces, charque, peixes secos e os salgados não têm muita água disponível para a multiplicação dos microrganismos. Alimentos com baixa atividade de água são menos susceptíveis à deterioração, mas podem apresentar mofo na sua superfície. Quanto mais água livre tiver o alimento, mais perecível e melhor para as bactérias, principalmente (FRANCO; LANDGRAF, 2008). O quadro a seguir apresenta os valores de atividade de água, conhecidos de alguns alimentos: UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 22 QUADRO 3 – VALORES DE ATIVIDADE DE ÁGUA DOS ALIMENTOS MAIS COMUNS Alimentos Atividade de água Leite Peixe Carne fresca Vegetais em salmoura Fruta em calda leve Alimentos perecíveis, alta quantidade de água livre. Leite condensado Queijo cheddar Linguiça fermentada Carne seca Presunto cru Bacon Alimentos de média perecibilidade. Farinhas Cereais Nozes Vegetais secos Leite e ovos em pó Gelatinas Geleias Peixes salgados Chocolate Macarrão Biscoitos Alimentos pouco perecíveis, não existe mais água livre. FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) 2.1.3 Composição química do alimento Para que a multiplicação microbiana seja possível, os microrganismos precisam se alimentar. De acordo com Jay (2005), os seguintes nutrientes devem estar disponíveis: • água; • fonte de energia; • fonte de nitrogênio; • vitaminas e sais minerais. Como fonte de energia, os microrganismos podem utilizar açúcares, álcoois e aminoácidos. Alguns microrganismos podem utilizar carboidratos complexos transformando-os em açúcares. Poucos microrganismos são capazes de utilizar gorduras como fonte de energia. Como fonte de nitrogênio, os microrganismos utilizam os aminoácidos (proteínas) presentes nos alimentos. Estes também necessitam de pequenas quantidades de vitaminas e minerais, as vitaminas atuam diretamente no crescimento dos microrganismos, sendo as mais importantes as vitaminas do complexo B, naturalmente presentes na maioria dos alimentos (FRANCO; LANDGRAF, 2008). TÓPICO 2 | MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA 23 2.1.4 Fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento Os alimentos apresentam constituintes antimicrobianos que podem retardar ou mesmo impedir a multiplicação de alguns microrganismos. Alguns condimentos contêm fatores antimicrobianos, representados por óleos essenciais constituintes desses alimentos, tais como o cravo, o alho, canela, mostarda e orégano. O ovo, em especial a clara, também contém diversos agentes antimicrobianos, outros alimentos como o leite bovino, frutas que contêm ácidos orgânicos e óleos essenciais também apresentam esse fator (JAY, 2005). 2.1.5 Estrutura biológica do alimento Alguns alimentos possuem uma cobertura natural que se constitui uma excelente barreira física contra a entrada de microrganismos e posterior dano causado pela ação deles. A casca das frutas, das nozes, do ovo, por exemplo, forma uma importante barreira contra os microrganismos. De modo geral, esses revestimentos têm baixa atividade de água, poucos nutrientes e frequentemente contêm compostos antimicrobianos. Uma vez quebrada ou rompida a película do alimento, os microrganismos têm acesso ao interior do alimento, rico em nutrientes. Um exemplo disso são as frutas ou vegetais que têm sua película lesionada, estas estão sujeitas à deterioração com maior rapidez (GERMANO; GERMANO, 2011). 2.2 FATORES EXTRÍNSECOS O ambiente onde o alimento se encontra pode auxiliar no aparecimento ou crescimento de microrganismos. Dentre as característica do ambiente existem alguns fatores, chamados de fatores extrínsecos, que podem determinar a contaminação de um alimento. São eles: a umidade, quantidade de oxigênio do ambiente e a temperatura do ambiente. 2.2.1 Umidade Quando a umidade relativa do ambiente (ar) em torno do alimento é superior à atividade de água do alimento, a superfície do alimento pode ficar susceptível à ação de microrganismos. Quando a umidade relativa do ar, em torno do alimento, for menor que a sua atividade de água, o alimento perderá umidade provocando o ressecamento de sua superfície, o que constitui uma barreira contra a multiplicação de microrganismos. Alimentos que sofrem deterioração por fungos e bactérias em sua superfície devem ser armazenados em condições de baixa umidade (JAY, 2005). UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 24 A indústria faz utilização de alguns métodos de conservação para driblar a umidade relativa e aumentar o tempo de validade dos alimentos, como a utilização de atmosfera modificada, que diz respeito à utilização de gases de conservação, com possibilidade de retardar o crescimento de microrganismos na superfície do alimento, sem modificar a umidade do meio. 2.2.2 Oxigênio A presença ou ausência de oxigênio favorece a multiplicação de alguns microrganismos, a composição gasosa do ambiente pode determinar quais os tipos de microrganismos crescem em alguns tipos de alimentos. O quadro a seguir apresenta a classificação de alguns microrganismos que dependem ou não de oxigênio para se multiplicarem. QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS SEGUNDO PRESENÇA DE OXIGÊNIO Classificação Microrganismos Aeróbios = necessitam de oxigênio para se reproduzirem. Bolores e a maioria das leveduras. Anaeróbios = não necessitam de oxigênio livre para se reproduzirem. Leveduras fermentativas. Facultativos = independe da existência ou não de oxigênio para se reproduzirem. Maioria dos patógenos em alimentos. FONTE: Adaptado de Germano e Germano (2011) Modificações na composição gasosa dos alimentos são capazes de causar alterações na microbiota que se multiplica em determinado alimento. Sabendo disso, a indústria alimentícia utiliza alguns procedimentos para modificar a atmosfera dos alimentos, por exemplo, pode-se utilizar embalagens impermeáveis ao oxigênio, uso de vácuo, em que se retira o oxigênio do alimento, atmosfera modificada com gases, em que o oxigênio é, total ou parcialmente, substituído por outros gases. Esses recursos são utilizados na produção de queijos, vegetais, produtos cárneos e outros, a fim de evitar também os mofos superficiais. No caso dos enlatados e conservas, o ambiente anaeróbio favorece a multiplicação de bactérias esporuladas, anaeróbias ou facultativas (HOFFMANN, 2001). A formação de esporos ocorre quando alguns gêneros de bactérias estão em ambiente que ameaçam a sua sobrevivência. O esporo é uma camada que envolve a bactéria e a protege contra a ação de alguns agentes físicos e químicos. NOTA TÓPICO 2 | MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA 25 2.2.3 Temperatura/tempo O fator temperatura e a possibilidade da diminuição de tempo de exposição do alimento são meios mais eficazes que os profissionais de cozinha podem utilizar para combater os microrganismos. O manipulador pode controlar a temperatura doalimento na cocção, refrigeração ou congelamento. Os microrganismos podem se desenvolver em temperaturas variadas de 2 a 70 °C, contudo já se constatou multiplicação a temperaturas extremas como -35 °C ou próximas a 100 °C (GERMANO; GERMANO, 2011). No geral, os microrganismos apresentam maior facilidade de reprodução em temperaturas ambientes, o que configura uma zona de perigo (Figura 6). FIGURA 6 – TEMPERATURA DE MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS FONTE: ANVISA (2004, p. 11) UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 26 Como ilustrado na figura anterior, na temperatura acima de 60 °C os microrganismos morrem, essa temperatura é empregada na cocção de alimentos. Na zona de temperatura que fica abaixo de 60 °C e acima de 10 °C, os microrganismos se reproduzem, essa geralmente é a temperatura ambiente das cozinhas, por isso a cozinha é um ambiente ideal para a multiplicação de microrganismos, além da temperatura, esse ambiente ainda dispõe de nutriente, oxigênio e água. Abaixo de 10 °C os microrganismos dormem, diminuindo sua capacidade de reprodução, essas condições de temperatura são atingidas em refrigeradores e freezers. A correta cocção dos alimentos consegue inativar a maioria dos microrganismos patogênicos. O correto cozimento do alimento é aquele que o atinge por completo até o seu centro geométrico. Para assegurar que os alimentos atingiram temperaturas seguras pelo tempo estimado, é necessário conhecer a relação de tempo e temperaturas capazes de eliminar os microrganismos patogênicos não esporulados, apresentados no Quadro 5 (SCHILLING, 1995). QUADRO 5 – RELAÇÃO DE TEMPO E TEMPERATURA NA ELIMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS Temperatura °C no centro geométrico do alimento Tempo 74 Poucos segundos (5) 70 Poucos minutos (2) 66 Alguns minutos (10) 65 Alguns minutos (15) 60 Vários minutos (30) 55 Algumas horas (4) 52 Várias horas (12) <50 Não há morte de patógenos FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) Para o profissional de gastronomia, é imprescindível conhecer o tempo mínimo necessário de exposição de um alimento ao calor para destruir os microrganismos patogênicos. Sabe-se que algumas técnicas culinárias aplicam temperaturas baixas por algumas horas, e outras não permitem o cozimento até o centro geométrico do alimento ou não trabalham com temperaturas altas. Essas preparações que utilizam técnicas diferenciadas podem representar um ponto crítico para o serviço de alimentação. É necessário saber identificar essas técnicas e aplicar os demais métodos de segurança alimentar. Os outros fatores extrínsecos e intrínsecos também exercem fundamental importância na multiplicação dos microrganismos. Os microrganismos se reproduzem com muita facilidade se encontram condições ideais, principalmente de tempo e temperatura. Alimentos expostos na faixa de temperatura que constitui a zona de perigo, abaixo de 60 °C e acima de 10 °C, necessitam de apenas poucas horas para serem contaminados. TÓPICO 2 | MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA 27 A figura, a seguir, ilustra como os microrganismos podem se reproduzir com facilidade se deixarmos os alimentos expostos em temperatura ambiente por algumas horas. FIGURA 8 – VELOCIDADE DE MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS EM TEMPERATURA AMBIENTE FONTE: ANVISA (2004, p. 12) As temperaturas baixas também podem ser utilizadas para a manutenção dos alimentos, sem ocorrer multiplicação rápida dos microrganismos. Na refrigeração ou no congelamento, alguns patógenos podem morrer, mas nem todos são eliminados. Em temperaturas abaixo de 28 °C, os microrganismos psicotrópicos se multiplicam, alterando os alimentos. As temperaturas baixas são as mais indicadas para armazenar alimentos, sendo considerado, ainda hoje, o ideal de 4 °C para a maioria dos alimentos. É bem provável que, futuramente, o congelamento seja o recurso mais utilizado (-18 °C). Um dos grandes problemas, quando se utiliza alimentos ou matérias-primas cruas congeladas, é o descongelamento (SILVA, 2014). Usa-se o termo microrganismos psicotrópicos para classificar algumas bactérias que são capazes de se multiplicar em baixas temperaturas. Também existem as bactérias mesófilas, que se multiplicam em temperatura ambiente, e as termófilas, que se multiplicam em temperatura um pouco mais alta. NOTA UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 28 QUADRO 6 – INTERVALO DE TEMPERATURA E TEMPO DE EXPOSIÇÃO NECESSÁRIOS PARA A MULTIPLICAÇÃO DE MICRORGANISMOS E PRODUÇÃO DE TOXINAS EM ALIMENTOS Condições Potenciais de Risco Temperaturado Produto Tempo Máximo Acumulado de Exposição Crescimento e formação de toxinas de Bacilus cereus 4 - 6 °C 7 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21°C 5 dias 17 horas** 6 horas* 3 horas* Crescimento de Campylobacter jejuni 30 - 34 °CAcima de 34°C 48 horas 12 horas Germinação, crescimento e formação de toxinas pelo Clostridium botulinum Tipo A, e proteolítico B e F 10 - 21 °C Acima de 21 °C 11 horas** 2 horas* Germinação, crescimento e formação de toxinas pelo Clostridium botulinum Tipo E, e não proteolítico B e F 3.3 - 5 °C 6 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 7 dias > 2 dias 11 horas 6 horas Crescimento Clostridium perfringens 10 - 12 °C 13 - 14 °C 15-21 °C Acima de 21 °C 21 dias 1 dia 6 horas* 2 horas* Crescimento de esporos patogênicos de Escherinchia coli 7 - 10 °C 11 - 21 °C Acima de 21 °C 14 dias 6 horas 3 horas Crescimento da Listeria monocitogenes - 04. - 5 °C 6 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 7 dias 2 dias 12 horas** 3 horas* Crescimento de espécies Salmonella 5.2 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 14 dias 6 horas 3 horas Crescimento de espécies Shigella 6.1 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 14 dias* 12 horas* 3 horas* Crescimento e formação de toxinas por Staphylococcus aureus 7 10 °C 11 21 °C Acima de 21 °C 14 dias 12 horas* 3 horas FONTE: Baptista e Venâncio (2003, p. 51) Segundo Silva Jr. (2014), os microrganismos chegam até os alimentos através das fontes de contaminação a seguir: • manipulador de alimentos; • animais de estimação; • pragas (roedores, insetos); • pássaros; • solo; • água; TÓPICO 2 | MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA 29 • ar; • utensílios; • plantas; • ambientes de manipulação. Você pode visualizar esses meios de contaminação por meio da ilustração que segue: FIGURA 10 – FONTES DE CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS FONTE: Disponível em: <https://www.resumoescolar.com.br/biologia/contaminacao-dos- alimentos/>. Acesso em: 28 nov. 2017. O ideal é que os microrganismos não tenham acesso aos alimentos, porém é impossível garantir isso. Alguns métodos de conservação se apresentam bastante eficazes no auxílio ao controle do crescimento de microrganismos, conforme afirmam Franco e Landgraf (2008) e Schilling (1995): • através do uso de métodos mecânicos para a remoção de microrganismos (filtragem, por exemplo); • através da manutenção em condições atmosféricas desfavoráveis à multiplicação microbiana; • através do uso de temperaturas elevadas; • através do uso de baixas temperaturas; • através da remoção de água do alimento, desidratação ou secagem; • através do uso de conservadores químicos; • através do aumento da acidez do alimento; Meios de Contaminação Boca Nariz PeleAnimais Alimentos VestuárioUtensílios Feridas Espirro Garganta TOSSIR Ar Higiene Pessoal Mãos Sanitários UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 30 • através da adição de sais; • através da manutenção de um ambiente limpo e adequado para a produção de alimentos; • através da manutenção dos alimentos em temperatura segura; • através da combinação de dois ou mais métodos citados, processo frequentemente utilizado pelas indústrias. Visto que os manipuladores de alimentos representam uma fonte de contaminação aos alimentos, no próximo tópico veremos quais os princípios de higiene e boas práticas devem ser adotados pelos manipuladores para prevenir uma contaminação alimentar. Para complementar o seu estudo, você pode ler: CRISPIM, G. J. B.; OLIVEIRA, V. M.Principais Bactérias de Interesse Médico Encontrados em Molhos e Condimentos de Lanchonetes Tipo Fast Food. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, v. 18, n. 3, 2014 Na sequência, trazemos um artigo que trata sobre os processos de tecnologia no ramo alimentícios, o qual irá acrescentar nosso aprendizado. Tecnologia de Alimentos Os processos chamados de convencionais ou tradicionais de conservação de alimentos são aqueles que vêm sendo empregados e aprimorados ao longo da história da humanidade, desde que o homem começou a desenvolver procedimentos e técnicas que permitissem armazená-los para consumi-los em períodos de escassez e de forma mais racional. São exemplos de processos a secagem, o aquecimento, o resfriamento, a acidificação, a salga, a adição de açúcar ou de substâncias que evitam a deterioração. Esses processos baseiam- se na manipulação das características do próprio alimento, ou do ambiente (ou interior da embalagem) no qual o alimento está situado ou inserido. Esses procedimentos visam evitar ocorrências que podem deteriorar o alimento, como a ação de certos agentes (micro-organismos e enzimas) e a ocorrência de processos químicos (como rancificação de gorduras e de pigmentos e aromas) e físicos (como aglomeração de produtos em pó). DICAS IMPORTANT E TÓPICO 2 | MULTIPLICAÇÃO MICROBIANA 31 Assim, no caso de secagem, por exemplo, o processo visa retirar a água do alimento que seria necessária para os processos de deterioração. Micro-organismos e enzimas precisam de água livre para atuarem, não podendo atuar normalmente em alimentos secos. De modo similar, a adição de sal ou de açúcar faz com que a água presente se ligue a tais compostos, não estando disponível para ação dos micro-organismos e enzimas. O aquecimento visa à inativação dos micro- organismos e enzimas que não suportam temperaturas elevadas, e o resfriamento em reduzir a temperatura abaixo daquela necessária para que esses agentes possam atuar. A acidificação, por sua vez, se baseia no fato de que a maior parte dos micro-organismos nocivos ao homem não podem atuar em condições ácidas, assim como aqueles não nocivos, mas que normalmente causam deterioração dos alimentos. Outro fator que pode causar a deterioração dos alimentos são os processos oxidativos, que necessitam de oxigênio presente no ar ou nos tecidos do alimento. Assim, também é bastante utilizada há algum tempo a técnica de remoção do ar gerando vácuo no interior de embalagens, para evitar a oxidação. Os processos convencionais, muitas vezes, combinam diferentes técnicas para assegurar maior conservação dos produtos. Assim, no caso de produtos refrigerados e congelados, muitas vezes os produtos são imersos em água fervente e posteriormente resfriados antes de serem congelados e armazenados sob refrigeração ou em câmaras. Do mesmo modo, produtos acidificados, como palmito em conserva ou picles, são também tratados em banhos térmicos por certo tempo para assegurar a conservação. Assim, pode-se concluir que o calor é a base de grande parte dos processos convencionais de conservação de alimentos. O calor é bastante efetivo para inativar micro-organismos e enzimas e permite a conservação dos alimentos, mas quando utilizado com muita intensidade (em processos que empregam temperaturas elevadas ou que o produto é aquecido por longo período), pode ocasionar alterações indesejáveis ao produto. Essas alterações podem relacionar-se à diminuição do valor nutricional, por exemplo, pela destruição de certas vitaminas que são sensíveis ao calor, como a vitamina C, ou pode estar relacionada com alterações indesejáveis no sabor ou cor do produto, nas chamadas características sensoriais. Assim, o calor excessivo pode originar gosto cozido ou amargo no produto, bem como perda de coloração característica e surgimento de cor indesejável (como no produto dito queimado ou excessivamente torrado). A forma que a indústria de alimentos tem encontrado para evitar tais ocorrências é principalmente planejar os processos com base nos conhecimentos técnico-científicos para garantir ao máximo a preservação do produto e evitar perda de qualidade. Mais recentemente, novas tecnologias têm sido pesquisadas, principalmente as que não utilizam, ou utilizam de forma bastante reduzida, o calor. Essas tecnologias empregam outros princípios para conservação dos alimentos, diferentes dos processos convencionais e são conhecidas também como tecnologias não térmicas, incluindo-se aquelas que utilizam o calor, UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 32 porém de forma reduzida ou otimizada, ou ainda combinando-o com outros processos tecnológicos, evitando assim os efeitos adversos já mencionados. Incluem-se nas tecnologias não convencionais, por exemplo, a tecnologia de alta pressão, que consiste em submeter o alimento a pressões bastante elevadas; ou passar o produto através de campos elétricos; ou ainda aplicar certos tipos de radiações ao alimento, como radiação ionizante (também denominada irradiação), radiação de luz ultravioleta, aquecimento ôhmico, processos de separação utilizando membranas e os processos combinados. Algumas dessas tecnologias têm sido investigadas há bastante tempo, como a irradiação, que vem sendo estudada há mais de 60 anos, já sendo bastante empregada industrialmente em vários países. Outras, como os campos elétricos pulsantes, ou pulsos elétricos, têm sido estudadas cientificamente há bem menos tempo e têm aplicação industrial limitada ou inexistente. Os métodos combinados se valem da utilização conjunta de métodos de conservação de alimentos tradicionais ou não convencionais que resultam em um efeito sinergístico, ou seja, que possibilitem a sua complementaridade e o aumento da eficiência conjunta na preservação dos alimentos em relação aos efeitos individuais simplesmente somados de cada método. Esse conceito contempla o princípio dos obstáculos ou barreiras em que cada método contribui com uma barreira ou obstáculo ao processo deteriorativo. Atuando de maneira conjunta, o efeito global é otimizado, preservando as características sensoriais e nutricionais dos produtos, reduzindo o custo do processo, os impactos ambientais, possíveis implicações negativas em relação à saúde do consumidor e alcançando a vida útil desejada do produto. Outras tecnologias não convencionais contemplam a aplicação de bacteriocinas, embalagens inteligentes, atmosfera modificada e controlada e uso de redutores de atividade de água. A Embrapa vem pesquisando tecnologias não convencionais de conservação de alimentos, como a alta pressão, irradiação, separação por membranas, aplicadas a diferentes produtos, com resultados e perspectivas promissoras de novas aplicações. FONTE: ROSENTHAL, A; DELIZA, R; TORREZAN, R. Agência Embrapa de Informação Tecnológica. EMBRAPA. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/tecnologia_de_ alimentos/arvore/CONT000fid5sgie02wyiv80z4s473595o3r2.html>. Acesso em: 30 nov. 2017. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os microrganismos são seres vivos muito pequenos, mas que realizam todas as atividades que os outros seres vivos realizam. Necessitam de alimentos para sobreviver, de oxigênio, de água etc. • As condições ideais que favorecem o crescimento dos microrganismos são divididas em fatores intrínsecos (relacionados a características do próprio alimento) e extrínsecos (relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra). • A maioria dos microrganismos tem dificuldade de se reproduzir em alimentos ácidos. • As bactérias preferem alimentos com alta atividade de água para a sua multiplicação, já os fungos precisam de menos água para se multiplicarem. • A presença ou ausência de oxigênio favorece a multiplicação de alguns microrganismos, a composição gasosa do ambiente pode determinar quais os tipos de microrganismos crescem em alguns tipos de alimentos. • O fator temperatura e a possibilidadeda diminuição de tempo de exposição do alimento são meios mais eficazes que os profissionais de cozinha podem utilizar para combater os microrganismos. • Os microrganismos chegam ao alimento através de múltiplas fontes de contaminação. 34 1 Quais atitudes os manipuladores de alimentos podem adotar para controlar os fatores de multiplicação dos microrganismos? 2 Cite três métodos de conservação que podem ser utilizados na preparação dos alimentos. AUTOATIVIDADE 35 TÓPICO 3 MANIPULADORES DE ALIMENTOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Atualmente, mais do que a preocupação com a saúde na escolha de alimentos saudáveis, ainda é fundamental considerar que, além de oferecer substâncias benéficas, os alimentos devem ser totalmente livres de agentes que possam causar doenças alimentares. O manipulador de alimentos é o profissional que produz diretamente todos os alimentos de um serviço de alimentação. Este profissional recebe, higieniza, prepara, distribui e armazena os alimentos. Para garantir processos executados de forma segura, o manipulador de alimentos deve seguir requisitos de boas práticas quanto a sua higiene pessoal, uniformização e a adoção de atitudes higiênicas. 2 REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS AOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS Os requisitos de boas práticas delimitam regras de higiene, saúde, uniformização e atitudes de segurança alimentar a serem seguidas pelos manipuladores de alimentos. Um manipulador de alimentos precisa conhecer os requisitos de boas práticas e os procedimentos necessários para a manipulação segura de um alimento. Os requisitos de higiene e boas práticas são apresentados através de resoluções, portarias e leis. A seguir, apresentaremos parte de algumas legislações e o que elas estabelecem, acompanhadas de texto explicativo. Todas as pessoas que trabalham com alimentação são consideradas “MANIPULADORES DE ALIMENTOS”, ou seja, é quem produz, coleta, transporta, recebe, lava, descasca, prepara e distribui o alimento. Os manipuladores de alimentos são as pessoas que trabalham nas cozinhas, copas e estoques de gêneros alimentícios. NOTA 36 UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS 2.1 SAÚDE DO MANIPULADOR Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: A constatação ou suspeita de que o manipulador apresenta alguma enfermidade ou problema de saúde que possa resultar na transmissão de perigos aos alimentos ou mesmo que sejam portadores ou sãos, deve ser impedido de entrar em qualquer área de manipulação ou operação com alimentos se existir a probabilidade da contaminação destes. Qualquer pessoa na situação acima deve comunicar imediatamente a direção do estabelecimento, de sua condição de saúde (Referente ao item 7.2). A direção tomará as medidas necessárias para que não se permita a ninguém que se saiba ou suspeite que padece ou é vetor de uma enfermidade suscetível de transmissão aos alimentos, ou que apresentem feridas infectadas, infecções cutâneas, chagas ou diarreias, trabalhar em qualquer área de manipulação de alimentos com microrganismos patógenos, até que obtenha alta médica. Toda pessoa que se encontre nestas condições deve comunicar imediatamente a direção do estabelecimento (Referente ao item 7.3). Ninguém que apresente feridas pode manipular alimentos ou superfícies que entrem em contato com alimentos até que se determine sua reincorporação por determinação profissional (Referente ao item 7.4) (BRASIL, 1997, p. 6). Segundo Rosa e Monteiro (2014), diante do exposto pela legislação, não podem manipular alimentos os colaboradores que apresentam: • lesões de pele; • lesões de mucosas e unhas; • feridas ou cortes nas mãos e braços; • diarreias; • infecções pulmonares, bucais; • resfriados fortes; • doenças infectocontagiosas. Referente à saúde dos manipuladores de alimentos, a Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, estabelece: As pessoas que mantêm contato com alimentos devem submeter-se aos exames médicos e laboratoriais que avaliem a sua condição de saúde antes do início de sua atividade e/ou periodicamente, após o início das mesmas. O exame médico e laboratorial dos manipuladores deve ser exigido também em outras ocasiões em que houver indicação, por razões clínicas ou epidemiológicas (Referente ao item 7.2) (BRASIL, 1997, p. 6). Conforme a Lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1977, os colaboradores devem fazer exames médicos periódicos para assegurar que se encontram em condições de saúde adequada para manipular alimentos. Os exames médicos devem ser realizados na admissão, periodicamente (anualmente), na demissão, no retorno ao trabalho e na mudança de função. Estes compreendem exames laboratoriais como: hemograma, coprocultura e coproparasitológico. TÓPICO 3 | MANIPULADORES DE ALIMENTOS 37 Ainda é importante salientar que todo o serviço de alimentação deve ter o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), determinado pelo Ministério do Trabalho através da Norma regulamentadora NR-7, de 29 de dezembro de 1994. Coprocultura é o exame bacteriológico das fezes humanas, muito utilizado em casos de gastroenterite adulta. 2.1.1 Capacitação É importante que os colaboradores de alimentos recebam treinamentos periódicos, que abordem temas como: contaminantes de alimentos, doenças transmitidas por alimentos e boas práticas na manipulação de alimentos. A capacitação permite conscientizar o colaborador de sua responsabilidade em suas atribuições para alcançar a produção de um alimento seguro. Geralmente este é um ponto negligenciado pelo serviço de alimentação, principalmente no que se refere a colaboradores novos, pois mesmo com a urgência para o preenchimento da vaga, um treinamento prévio fará com que o novo colaborador aplique os requisitos de boas práticas já no início das suas atividades. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: A direção do estabelecimento deve tomar providências para que todas as pessoas que manipulem alimentos recebam instrução adequada e contínua em matéria higiênica sanitária, na manipulação dos alimentos e higiene pessoal, com vistas a adotar as precauções necessárias para evitar a contaminação dos alimentos. Tal capacitação deve abranger todas as partes pertinentes deste regulamento (Referente ao item 7.1) (BRASIL, 1997, p. 5). 2.1.2 Lavagem e antissepsia das mãos Higienizar as mãos deve ser entendida como uma tarefa bem mais complexa e importante para os manipuladores de alimentos. A higiene correta das mãos dos colaboradores é fundamental para impedir que os microrganismos presentes naturalmente na pele dos manipuladores contaminem os alimentos, ou mesmo na prevenção de contaminação cruzada. Por isso, esta é uma etapa importante na manipulação dos alimentos e a higiene das mãos deve ser realizada com produtos destinados à atividade, respeitando os passos necessários para a completa higiene, caso contrário, será apenas uma lavagem das mãos e não uma higienização completa. NOTA 38 UNIDADE 1 | NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS A contaminação cruzada é a transferência de microrganismos de um alimento contaminado, normalmente cru, ou gênero de alimento para outro gênero alimentício, através de utensílios, bancadas ou pelas mãos dos colaboradores. FIGURA 10 – MICRORGANISMOS NATURALMENTE PRESENTES NO CORPO DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS FONTE: Disponível em: <https://assqualidade.wordpress.com/2014/02/17/ quantidades-de-bacterias-no-corpo-humano/>. Acesso em: 30 nov. 2017. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: Toda pessoa que trabalhe numa área de manipulação de alimentos deve, enquanto em serviço, lavar as mãos de maneira frequente e cuidadosa com um agente de limpeza autorizado e com água corrente potável fria ou fria e quente. Esta pessoa deve lavar as mãos antes do início dos trabalhos, imediatamente após o uso do sanitário, após a manipulação de material contaminado
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