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A_Bíblia_Comentada_a_Luz_da_Doutrina

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A Bíblia
COMENTADA À LUZ DA
Doutrina Católica
 
 
2
STENIO CARNEIRO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Bíblia
COMENTADA À LUZ DA
Doutrina Católica
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2016
 
 
3
C289b Carneiro, Francisco Stenio de Araújo
A Bíblia Comentada à Luz da Doutrina Católica/ Francisco Stenio de Araújo Carneiro. 1ª
ed. Joinville, SC: Clube de Autores Publicações S/A, 2016.
 
ISBN: 978-85-916915-3-1
 
1. Religião. 2. Bíblia. I. Título. 
 
CDU: 22 
__________________________________________________________
 
Catalogação na Fonte: Kelly M. Bernini – CRB-10/1541
Imagem da capa: Calvary of Jesus Christ por Falco
 
 
Copyright © 2016 por Stenio Carneiro
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte
deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem
autorização por escrito do autor.
 
 
4
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
 
O	ANTIGO	TESTAMENTO
 
DEUS CRIA OS CÉUS E A TERRA
A Criação do Mundo
O Sétimo Dia
DEUS CRIA O HOMEM E A MULHER
À Criação para o Homem
Criados à Imagem e Semelhança de Deus
A Felicidade dos Primeiros Homens
A Alma Imortal do Homem
Os Dons Preternaturais
O Livre-Arbítrio
A Graça de Deus e o Estado de Justiça Original
SATANÁS REBELA-SE CONTRA DEUS
A Revolta de Lúcifer
DEUS ESTABELECE LIMITES PARA O HOMEM
A Árvore da Ciência do Bem e do Mal
DEUS CRIA A FAMÍLIA
A Criação da Família
O HOMEM DESOBEDECE A DEUS
Adão e Eva negam a Deus
O Pecado Original
Estamos Abandonados nas Mãos do Demônio?
A PROMESSA DE DEUS
O Primeiro Anúncio da Salvação
A Promessa de Salvação
Porei Ódio entre Ti e a Mulher
Entre a Tua Descendência e a Dela
AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
O Aparecimento da Morte
O Sofrimento e a Dor
5
O HOMEM É EXPULSO DO PARAÍSO
A Expulsão do Paraíso
A Árvore da Vida
A MALDADE CHEGA AO SEU LIMITE
Deus Arrepende-se de Ter Criado o Homem
A ARCA DE NOÉ
O Dilúvio
Noé
A Arca e a Igreja
O SINAL DA PRIMEIRA ALIANÇA
O Arco-íris
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS
A Torre de Babel
A Criação de um Novo Povo
DEUS DIRIGE-SE A ABRÃO
O Início de um Povo
Darei esta Terra à Tua Posteridade
DEUS TESTA A FÉ DE ABRÃO
A Fé de Abrão é Testada
O Nome Abrão Muda para Abraão
Sodoma e Gomorra
O SACRIFÍCIO DE ISAAC
Deus Testa novamente a Fé de Abraão
A ESCRAVIDÃO NO EGITO
Os Hebreus no Egito
DEUS NA SARÇA ARDENTE
Deus se Revela
A LIBERTAÇÃO DO EGITO
Os Hebreus Fogem do Egito
O Cordeiro Oferecido e Jesus Cristo
A Páscoa dos Cristãos
O MANÁ NO DESERTO
O Maná
Maná, Sinal da Eucaristia
MOISÉS RECEBE OS MANDAMENTOS
Cláusulas da Aliança - O Decálogo
Aliança no Monte Sinai
O Decálogo
A ARCA DA ALIANÇA
A Arca da Aliança
6
A Proibição de Fabricação de Imagens
OS HEBREUS ROMPEM A ALIANÇA
O Rompimento da Aliança
OS HEBREUS MURMURAM CONTRA DEUS
Quarenta Anos no Deserto
MOISÉS MORRE E JOSUÉ ASSUME
Josué
A Renovação do Povo Hebreu no Deserto
Moisés Não Entrará na Terra Prometida
OS HEBREUS ENTRAM NA PALESTINA
Deus Expulsa os Habitantes de Canaã
A Tribo de Judá
AS INFIDELIDADES E AS INVASÕES
O Contato com as Nações Pagãs Vizinhas
AS INFIDELIDADES NAS MONARQUIAS
O Pecado do Povo Hebreu ao Pedir um Rei
O Pecado do Rei Saul
O Pecado do Rei Davi
O Pecado do Rei Salomão
A DIVISÃO DO REINO DE ISRAEL
A Divisão do Reino de Israel
O Surgimento dos Profetas
O Profeta Isaías
O REINO DE ISRAEL
O Fim do Reino de Israel
A DEPORTAÇÃO DO POVO DE JUDÁ
A Primeira Deportação
A Segunda Deportação
JERUSALÉM É INVADIDA PELOS VIZINHOS
A Posse da Terra
O Profeta Jeremias
OS HEBREUS EXILADOS ESQUECEM DEUS
A Cultura Babilônica Influência os Hebreus
Os Hebreus Exilados
O Exílio
Ezequiel
CHEGA AO FIM O EXÍLIO DOS HEBREUS
O Rei Ciro
O Retorno à Terra Prometida
NASCE O JUDAÍSMO
7
O Judaísmo e os Fariseus
ALEXANDRE MAGNO E ANTIOCO EPIFANES
Alexandre Magno
Antioco Epifanes IV
A GUERRA DOS MACABEUS
A Revolta dos Macabeus
ROMA INVADE A JUDÉIA
A Invasão Romana
A EXPECTATIVA POR UM MESSIAS
A Expectativa do Povo Hebreu por um Messias
O Conhecimento da Vinda de Jesus Cristo
CONCLUSÃO
O Valor da Fidelidade a Deus
O	NOVO	TESTAMENTO
 
A GENEALOGIA DE JESUS CRISTO
A Genealogia Existente na Bíblia
O ANJO APARECE A MARIA SANTÍSSIMA
São José
A Anunciação da Virgem Maria
Maria Santíssima
A Oração “Ave-Maria” e o Santo Rosário
O Advento
O Nome de Jesus Cristo
O NASCIMENTO DE JESUS CRISTO
O Verbo de Deus
Herodes
O Mistério da Encarnação
Privilégios da Virgem Maria
A Assunção de Nossa Senhora
A Natureza Humana do Filho de Deus
Jesus Cristo, Deus e Homem ao mesmo Tempo
A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade
A INFÂNCIA DE JESUS CRISTO
A Purificação da Virgem Maria
A Circuncisão de Jesus Cristo
Não Existe Mistério na Infância de Jesus Cristo
JOÃO BATISTA ANUNCIA O MESSIAS
São João Batista
O BATISMO DE JESUS CRISTO
8
O Batismo de Jesus Cristo
O Cordeiro de Deus
O Sacramento do Batismo
A Confirmação ou Crisma
A TENTAÇÃO NO DESERTO
A Tentação no Deserto
Não Tentarás o Senhor, Teu Deus
A Quaresma
Jejum e Abstinência
A ESCOLHA DOS APÓSTOLOS
O Reino de Deus
Os Doze Apóstolos
AS BODAS EM CANÁ DA GALILÉIA
A Intercessão da Santíssima Virgem
A Intercessão dos Santos
A CONVERSA COM NICODEMOS
A Verdadeira Adoração
A Serpente de Bronze
A SAMARITANA NO POÇO DE JACÓ
Os Samaritanos
O Espírito Santo
O FIM DO MUNDO
O Pecado
O Purgatório
O Céu
O Inferno
O Limbo
O Juízo Particular
O Fim do Mundo
A Ressurreição da Carne
O Juízo Final
O Suplício Eterno
A Vida Eterna
O SERMÃO DA MONTANHA
A Nova Lei
As Bem-Aventuranças
A ORAÇÃO DO PADRE-NOSSO
A Oração
A Oração do Padre-Nosso
JESUS RESPONDE AO CENTURIÃO
9
A Salvação é para Todos
O PERDÃO DOS PECADOS
A Missão de Jesus Cristo
O ENVIO DOS APÓSTOLOS
O Envio dos Apóstolos
O Reino de Deus na Terra
SÃO JOÃO BATISTA
É Ele o Elias que Devia Voltar
A Responsabilidade pelo Conhecimento
JESUS CRISTO É O SENHOR DO SÁBADO
A Tradição Farisaica
Os Atos de Jesus Condenados pelos Fariseus
O Pecado Contra o Espírito Santo
AS PARÁBOLAS
As Parábolas
A SAGRADA EUCARISTIA
A Compreensão do Sacramento da Eucaristia
A Sagrada Eucaristia
Melquisedec
A IGREJA DE JESUS CRISTO
O Reino de Deus na Terra
A Doutrina Cristã
A Santa Igreja Católica Apostólica Romana
A Igreja Docente e a Igreja Discente
O Vigário de Jesus Cristo na Terra
O Poder das Chaves
A TRANSFIGURAÇÃO
A Transfiguração
A ANTIGA DIGNIDADE DO MATRIMÔNIO
A Antiga Dignidade do Matrimônio
O Matrimônio
O JOVEM RICO
O Jovem Rico
A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO
A Ressurreição de Lázaro
Eu Sou a Ressurreição e a Vida
A CAMINHO DE JERUSALÉM
A Entrada em Jerusalém
A Semana Santa
JESUS CRISTO CRITICA OS FARISEUS
10
Crítica aos Fariseus
OS FALSOS PROFETAS
Cuidado com os Falsos Profetas
A Reencarnação
CONSPIRAÇÃO PARA MATAR JESUS
A Conspiração Contra Jesus Cristo
A CEIA PASCAL
O Sacramento da Eucaristia
A Consagração
A Transubstanciação
A Eficácia do Sacramento da Eucaristia
A VINDA DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo
NO HORTO DAS OLIVEIRAS
Jesus no Horto das Oliveiras
JULGAMENTO DE JESUS CRISTO
O Julgamento de Jesus Cristo
A Negação dos Apóstolos
A MORTE DE JESUS CRISTO NA CRUZ
A Obra de Redenção
A Paixão de Jesus Cristo
O Corpo, a Alma e a Divindade
A Corrupção do Corpo
O Nascimento da Igreja
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
Os Sacrifícios a Deus
O Altar do Sacrifício
Os Sacrifícios no Antigo Testamento
O Sacrifício da Lei Patriarcal
O Sacrifício da Lei Mosaica
O Valor dos Sacrifícios no Antigo Testamento
O Sacrifício do Novo Testamento
O Santo Sacrifício da Missa
A Missa é um Sacrifício
A Missa Tradicional da Santa Igreja
O Sacrifício da Missa
A Celebração do Santo Sacrifício da Missa
O Mesmo Sacrifício da Cruz
JESUS CRISTO DESCE AOS INFERNOS
Jesus Cristo Desceu aos Infernos
11
A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
A Ressurreição de Jesus Cristo
Não Existe Reencarnação
Do Sábado para o Domingo
JESUS APARECE AOS APÓSTOLOS
Apresentação aos Apóstolos
A Ascensão de Jesus Cristo
O Poder de Julgar de Jesus Cristo
O Poder de Perdoar os Pecados
O Arrependimento dos Pecados
Jesus é Rei, Sacerdote e Profeta
PENTECOSTES
Pentecostes
A Descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos
A IGREJA PRIMITIVAApós Pentecostes
BIBLIOGRAFIA
12
APRESENTAÇÃO
 
 
 
Este livro foi elaborado utilizando a Sagrada Escritura e, como base para os
comentários de suas passagens, diversos livros católicos tradicionais, colocando como
destaque o Catecismo Romano, o Catecismo de São Pio X e a Suma Teológica de Santo
Tomás de Aquino.
Ele não foi redigido para ensinar tão somente a Palavra de Deus, mas, sobretudo,
auxiliar na difusão da Doutrina Católica, para que o fiel aumente o amor por sua Igreja.
Para obter esse resultado, o trabalho foi desenvolvido como uma narrativa,
utilizando as principais passagens que compõem o Antigo e o Novo Testamento e
seguindo a ordem cronológica dos fatos históricos, da criação do mundo até à formação
da Igreja. Através dos comentários, procurou-se abordar as questões doutrinárias mais
relevantes relacionadas com as passagens bíblicas e que precisam ser conhecidas e estar
presentes na vida de todo Católico.
No final de cada capítulo, segue uma opção de leitura para ser usada como um
direcionamento ao se buscar a Palavra de Deus.
Por fim, gostaria de sugerir que o leitor, caso venha a gostar do livro, deixe seu
comentário no site onde o adquiriu, assim mais pessoas poderão ter acesso a boa
experiência que teve.
Stenio Carneiro
"Revesti-vos da armadura de Deus, 
para que possais resistir às ciladas do demônio" 
Efésios 6, 11
13
14
O ANTIGO TESTAMENTO
 
15
DEUS CRIA OS CÉUS E A TERRA
A criação do mundo visível e invisível por Deus:
“No princípio, Deus criou os céus e a terra.”
(Gn 1,1)
A CRIAÇÃO DO MUNDO
A Criação é o ato pelo qual Deus deu existência a tudo o que há no mundo: anjos,
homens, animais, plantas e tudo o mais. Sendo assim, antes de Deus ter criado o mundo,
não existia coisa alguma, exceto Ele mesmo, porque só Ele existe necessariamente, e
tudo o mais, em virtude do seu Poder.
Quanto ao poder de Deus, a Sagrada Escritura ensina que Ele tem poder infinito.
O próprio Deus, em Gen 17, 1, declara de Si mesmo como sendo "Todo-Poderoso".
Sendo assim, Ele sabe todas as coisas, e todas as coisas estão igualmente sujeitas ao Seu
poder e soberania.
Por conseguinte, nada se pode pensar ou imaginar que Deus não tenha a virtude
de realizar. Pode, portanto, não só operar prodígios que, por maiores que sejam, não
excedem de maneira absoluta o âmbito de nossas ideias, como por exemplo, fazer voltar
ao nada todas as coisas, ou num ápice tirar do nada outros mundos; mas pode também
fazer coisas muito maiores, que a inteligência humana não chega sequer a suspeitar. Foi,
por saber dessas verdades, que o anjo Gabriel afirmou a Maria Santíssima que "a Deus,
nada é impossível" (Lc 1, 37).
Agora, que ninguém caia no erro de pensar que só a Ele é atribuído o predicado de
Todo-Poderoso, de sorte que não seja também comum ao Filho e ao Espírito Santo.
16
Como afirmamos que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus,
sem por isso reconhecer três deuses, mas a um só Deus; assim também dizemos que o
Pai é todo-poderoso, que o Filho é todo-poderoso e que o Espírito Santo é todo-
poderoso, sem contudo asseverarmos que haja três onipotentes, mas um só onipotente.
Damos ao Pai esse atributo pela especial razão de ser Ele a fonte de tudo quanto existe.
Por conta de sua onipotência divina, Deus não formou o mundo de uma matéria 
preexistente, mas criou-o do nada, sem a tanto ser obrigado por violência estranha ou 
necessidade natural; mas por Sua livre e espontânea vontade. Nenhum outro motivo O 
impeliu a criar o mundo, senão a Sua própria bondade. Queria comunicá-la a todas as 
coisas que criasse. Possuindo por Sua natureza toda a felicidade, Deus não tem falta de 
coisa nenhuma. Logo, Deus não criou o mundo por necessidade nem por ambição, muito 
ao contrário; criou-o por pura benevolência, para comunicar às criaturas parte da sua 
Bondade infinita. Importante mencionar que somente quando aprouve ao seu divino 
querer foi que Deus criou o mundo, podia, por conseqüência, ter deixado de criá-lo.
Apesar de todo esse poder, Deus não pode todavia mentir, nem enganar, nem ser
enganado, nem pecar, nem perecer, nem tampouco ignorar alguma coisa. Isto porque
essas deficiências só podem ocorrer numa natureza cuja operação é imperfeita. Ora,
operando sempre de maneira perfeitíssima, Deus não é capaz de tais coisas.
Observamos todas essas realidades na passagem de Gn 1, 1-25, a qual revela que
a criação do mundo é fruto de um Deus infinitamente poderoso, que fez do nada o céu e
a terra, e todas as coisas que neles estão contidos, para manifestar a sua glória e a sua
grandeza; como também veio de um Deus que é puro amor e bondade, que desejou
comunicar aos seres parte do bem infinito que possui.
Perceba, no entanto, que depois de consumada a obra da Criação, os seres por Ele
criados não podem continuar a subsistir sem o auxílio de Sua potência infinita. Como
tudo só existe graças à onipotência, sabedoria e bondade do Criador, todas as criaturas
recairiam logo em seu nada, se Deus lhes não assistisse continuamente pela Sua
Providência, e não as conservasse pelo mesmo poder que, desde o princípio, empregou
para criá-las.
Ressalte-se aqui que o mundo não foi criado somente por Deus Pai, pois sua
criação teve a participação conjunta das três Pessoas divinas, porque aquilo que uma
Pessoa faz relativamente às criaturas, fazem-no com um só e o mesmo ato também as
outras. É o que nos ensina a passagem de Gn 1, 26: “Então Deus disse: Façamos o
homem à nossa imagem e semelhança”.
Vale lembrar que, comumentemente, é atribuída a criação a Deus Pai porque a
criação é efeito da onipotência divina a qual se atribui particularmente a Deus Pai, como
se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três
Pessoas tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade.
Quanto à existência de Deus Pai, sabemos que Ele é espírito, que está
absolutamente isento de matéria e de qualquer elemento estranho ao seu ser. No entanto,
17
temos ao Senhor como um ser real porque a nossa razão no-lo demonstra, e a fé no-lo
confirma.
Ele é, no sentido mais absoluto e transcendental, o Ser por essência e as restantes
coisas são seres particulares, são tais seres e não o Ser.
Dizer que Ele é o ser por essência significa que existe per se e concentra em si
mesmo todos os modos do ser; é, portanto perfeito e, sendo perfeito, necessariamente há
de ser bom. É, além disso, infinito, condição indispensável para que nenhum ser tenha
ação sobre Ele; se é infinito possui o dom da ubiqüidade (faculdade divina de estar
concomitantemente presente em toda parte). É imutável, porque, se mudasse, havia de
ser em busca de uma perfeição que lhe faltasse. Sendo imutável, é eterno, porque o
tempo é sucessão e toda sucessão revela mudança. Sendo perfeito em grau infinito, não
pode haver mais do que um; se houvesse dois seres infinitamente perfeitos, nada teria
um que o outro não possuísse, não haveria meios de distingui-los e seriam, portanto, um.
Nós O temos como Pai porque, além de termos sido por Ele criados, pela graça,
fomos eleitos filhos adotivos de Deus.
O homem pode, apesar de sua fraqueza, cooperar com a ação divina no governo
do mundo, empenhando-se, como instrumento de Deus, em promover o bem dos seus
semelhantes.
O SÉTIMO DIA
Sobre o número de dias da criação do mundo, o Gênesis ensina que foram
utilizados seis dias para terminá-lo, apesar de que Deus poderia tê-lo criado, se assim O
desejasse, em um só instante.
Revela, também, que no sétimo dia Deus descansou, “abençoou e o consagrou,
porque nesse dia repousara de toda a obra da Criação” (Gn 2, 3). Esse dia, para os
judeus da época de Jesus Cristo, era o sábado, que quer dizer descanso. Anteriormente,
na época de Moisés, Deus havia ordenado que este dia fosse santificado e consagrado a
Ele.
Após a ressurreição de Jesus Cristo, os cristãos passaram a adotar o domingo
como o “primeiro dia da semana” (Mt 28, 1-10) e como o dia do “repouso sagrado”.
Domingo provém do latim “dominica díes”, que quer dizer “dia do Senhor”.Ele
substituiu o sábado, porque foi em dia de domingo que Nosso Senhor Jesus Cristo
ressuscitou.
 
Referência: A criação do mundo (Gn 1, 1-25).
18
19
DEUS CRIA O HOMEM E A MULHER
No mundo visível, Deus cria o homem e a mulher com tanto amor que os faz à
sua imagem e semelhança. O homem recebe, nesse momento, o dom da liberdade, a
graça da santidade e o estado de justiça original:
“E viu Deus que isto era bom, e (por fim) disse: Façamos o homem à nossa
imagem e semelhança, e presida aos peixes do mar, e às aves do Céu, e aos
animais selváticos, e a toda a terra, e a todos os répteis, que se movem sobre a
terra. E criou Deus o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, varão
e fêmea os criou.”
(Gn 1,26-27)
À CRIAÇÃO PARA O HOMEM
Por pura bondade, Deus formou do limo da terra o corpo do homem, de maneira
que fosse imortal e impassível.
Pelo mesmo motivo, criou e mantém o curso regular do universo em proveito do
homem. Sendo assim, tudo o que existe foi disposto para servir ao homem em todas as
suas necessidades. Fez isso por considerá-lo a criatura mais débil e a que mais necessita
de cuidados espirituais e materiais. Por outro lado, a graça, juntamente com as virtudes e
os dons recebidos, faz do homem o ser mais perfeito da criação na ordem natural,
superior, inclusive, aos anjos, não incluindo a sua natureza.
O homem, em virtude de sua criação, deve reconhecer a Deus como fonte e
princípio de todo o bem, e consagrar-se a Ele como seu fim último.
20
CRIADOS À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
Quando a Bíblia fala da criação do homem e diz que o homem e a mulher foram
criados à “Imagem de Deus”, ela não está dizendo que eles foram feitos à representação
visível de Deus, já que Este é puro espírito, mas afirmando que a natureza e operações
mais elevadas do homem lhe permitem entrever a natureza divina e a vida íntima da
Augusta Trindade e imitam de certo modo a perfeição das pessoas divinas.
Podemos perceber essa “imagem e semelhança” na alma humana, pois as
operações mais perfeitas da nossa alma, entender e amar, têm por objeto a primeira
Verdade e o Bem supremo, que é Deus. No mundo corpóreo, não há, além do homem,
nenhum outro ser feito à imagem e semelhança de Deus, isso porque somente ele possui
natureza espiritual.
Cabe anotar que o Senhor assim agiu, concedendo ao homem ser criado à sua
imagem, porque se apiedou mais do gênero humano do que dos demais seres existentes
na terra, pois via que ele era incapaz, pela lei de sua própria natureza, de subsistir para
sempre.
Sendo assim, considerou Deus que o homem, possuindo uma espécie de sombra
do Verbo, e sendo racional, poderia permanecer na bem-aventurança, vivendo no paraíso
a verdadeira vida, que realmente possuem os santos.
A expressão “Semelhante a Deus” indica que, embora o homem seja “imagem de
Deus”, ele não é Deus e nunca poderá ser.
A FELICIDADE DOS PRIMEIROS HOMENS
O homem foi criado perfeito por Deus. Seu primitivo estado de felicidade
compreendia ciência claríssima e universal, justiça original unida à prática de todas as
virtudes, império absoluto da alma sobre o corpo e domínio sobre todas as criaturas.
Nesse estado, o homem gozava de muita felicidade. Não era, entretanto, a última
e suprema felicidade a que podia aspirar, pois sendo temporal, a ela devia seguir-se outra
mais alta e definitiva. Para atingir o estado de felicidade último e perfeito, deveria ele
contrair méritos no primitivo estado.
Ora, como as únicas fontes de mérito para o homem reduzem-se à amizade com
Deus, à vida da graça e a prática das virtudes sob a inspiração divina do Espírito Santo,
deveria ele, para obter a verdadeira felicidade, concentrar-se em buscar um bem que traz
perfeição diretamente ao espírito, no caso, Deus, Sumo Bem, Soberano e Infinito.
Caso assim agisse, no final de sua existência, seria levado por Deus para o céu e,
em companhia dos anjos, receberia o galardão que haveria de coroar a sua vida, a
felicidade plena.
21
A ALMA IMORTAL DO HOMEM
O homem, apesar de ter sido criado da terra, foi animado por uma alma imortal,
uma alma criada à “imagem e semelhança” de Deus. Isso aconteceu no momento em que
Deus “formou o homem do barro da terra” e “inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida
e este se tornou um ser vivente”, significando que a alma é criada no momento da
concepção do homem, uma alma nova, não uma que foi “reencarnada” como ensinam
muitas falsas doutrinas. Portanto, a doutrina da reencarnação é totalmente anticristã.
A alma é a parte mais nobre do homem porque é substância espiritual, dotada de
inteligência e de vontade, capaz de conhecer a Deus e de possuí-Lo eternamente.
Atente que as plantas e os animais também têm alma, no entanto, a alma das
plantas é exclusivamente vegetativa; a dos animais vegetativa e sensitiva; e a humana,
além destas faculdades, possui a inteligência, que é o que distingue o homem dos demais
seres corpóreos.
Jesus Cristo estabeleceu o destino futuro da nossa alma. Distinta do corpo, ela não
morre com ele; mas comparece perante Deus e recomeça uma vida nova e eterna.
OS DONS PRETERNATURAIS
O homem, no paraíso, estava dotado de todos os dons naturais, aos quais a
bondade divina tinha ajuntado dons sobrenaturais.
Na ordem natural, foi-lhe concedida uma inteligência perfeita, isenta das trevas e
dúvidas da ignorância; sua vontade era norteada para o bem e livre de toda tendência ao
mal; seu coração dirigia-se espontaneamente a Deus e ao que é bom, alheio, por
completo, ao triste peso da concupiscência.
Na ordem sobrenatural, o homem gozava dos Dons Preternaturais: o dom da
liberdade, a graça da santidade, de onde veio à imortalidade, e o estado de justiça
original, que gerava a harmonia com a criação que o rodeava. Por meio desses dons, o
homem usufruía de um estado de graça, harmonia e felicidade que lhe possibilitava
participar da filiação divina. Além disso, Deus lhe acrescentava a promessa de fazê-los
participar da própria ventura, e isto durante a eternidade.
O LIVRE-ARBÍTRIO
No ato da criação, o homem recebe algo digno de alguém agraciado por Deus, o
Livre-Arbítrio de pensar, de praticar atos e até mesmo de discordar e negar a quem lhe
22
deu esse dom. Paralelo a essa liberdade, foi-lhe dada inteligência suficiente para que
pudesse rejeitar o mal e desejar o bem, além de uma consciência superior, que nenhum
outro animal possui, que o alerta quando se afasta da vontade de seu criador. Portanto, a
liberdade humana não reside exclusivamente na vontade, em querer ou não querer, mas
na vontade unida à inteligência. Por conta disso, tem o homem condições de rejeitar o
mal e desejar o bem.
Observe, no entanto, que essa liberdade não é absoluta. Lembre que o governo de
Deus neste mundo, chamado de 'Providência Divina’, estende-se a todas as coisas, tanto
aos seres inanimados como aos atos livres do homem. Assim, os atos livres do homem
estão de tal maneira sujeitos às disposições da Providência Divina, que coisa nenhuma
pode o homem fazer, se Deus a não ordena ou a permite, pois a liberdade não lhe
confere independência a respeito de Deus.
A GRAÇA DE DEUS E O ESTADO DE JUSTIÇA ORIGINAL
Adão e Eva saíram das mãos de Deus inocentes e puros; estado esse que se
chama de Justiça Original.
Sendo assim, Deus não somente presenteou o homem com uma natureza
semelhança a sua, mas concedeu-lhe a Sua graça.
A Graça da Santidade fazia com que os primeiros homens pudessem participar da
vida de Deus, de sua amizade. Pela propagação desta graça, todos os aspectos de suas
vidas eram fortalecidos. 
Além da graça santificante, Deus concedeu aos nossos primeiros pais outros dons
que os ajudavam e que deviam transmitir aos seus descendentes, como a integridade, isto
é, a perfeita sujeição dos sentidos à razão, onde o espírito nada sabia das trevas da
ignorância e a alma estava inclinada para o bem; a imortalidade, pois o homem não havia
de sofrer nem de morrer, sendo que seu corpo, isento do trabalho e das misérias da vida,
devia passar desta existência terrestre para uma vida sem fime sempre feliz; e a
imunidade a todas as dores e misérias terrenas.
O Estado de Justiça Original, recebido de Deus, criava a harmonia entre o homem
e a mulher, com eles mesmos e com toda a criação, gerando uma paz absoluta. Essa
harmonia somente será superada pela glória da nova criação em Jesus Cristo.
 
Referência: A criação do homem e da mulher (Gn 1, 26-31 e 2, 1-8).
23
SATANÁS REBELA-SE CONTRA DEUS
No mundo invisível, Deus cria anjos para servi-Lo. Acontece que o anjo a quem o
Senhor deu o comando sobre todos os demais, rebela-se contra a sua autoridade e
santidade:
“Depois apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, com a
lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. Ela
está grávida, e clama com dores, atormentada para dar a luz.
Foi visto ainda um outro sinal no céu: era um grande Dragão, cor de fogo,
que tinha sete cabeças e dez pontas, e nas suas cabeças sete diademas. A sua
cauda arrasta a terça parte das estrelas do céu, e precipitou-as na terra.
Depois o Dragão parou diante da Mulher, que estava para dar à luz, a fim de
devorar o seu filho, logo que ela o tivesse dado à luz.”
(Ap 12, 1-4)
A REVOLTA DE LÚCIFER
Antes da criação do homem, Deus havia criado os anjos, puros espíritos
destinados a viverem sem que fossem, como a nossa alma, unidos aos corpos. 
O Senhor, cujas obras todas eram boas, os criara na santidade, e eles podiam
perpetuá-la, obedecendo a seu Criador. 
Acontece que os anjos, igualmente aos homens, tiveram que passar por uma
provação.
Ao final desta provação, a maior parte permaneceu fiel e foi confirmado para
sempre no seu estado de perfeição e de felicidade. São os anjos bons que adoram a Deus
24
no céu, cumprem as suas ordens no universo e zelam pela salvação dos homens.
Os demais, entretanto, com Lúcifer à sua frente, cegos pelo orgulho, negaram a
Deus o ato de submissão que Ele lhes pedia.
Deus havia elevado Lúcifer (anjo de luz) acima dos demais anjos para que melhor
O servisse no céu.No entanto, não se contentando em ser o que era e devorado de
ciúmes à vista da ventura do homem e dos seus altos destinos, juntou-se a outros anjos e
atentou contra o Senhor.
Ao arcanjo Miguel foi concedida a missão de travar contra eles uma batalha.
Derrotados, recebem como castigo a expulsão para sempre do Paraíso e a condenação ao
Inferno por toda a eternidade:
 
"Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão.
O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar
no céu para eles." (Ap 12, 7-8).
 
Quando o Demônio viu que seus planos haviam perecido e que seu sonho de ser
Deus definitivamente acabara, ficou possuído de uma grande ira e pensou em vingar-se.
Entretanto, não adiantava enfrentar Deus. Lembrou-se, então, do homem que Deus
havia criado na terra. Imaginou que não existiria mal maior do que transformar este
homem em inimigo de Deus:
 
"Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e
Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos.
Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí habitais.
Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para vós, cheio de grande
ira, sabendo que pouco tempo lhe resta (para perder almas).
O Dragão, vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz
o Menino. Mas à Mulher foram dadas duas asas de grande águia, a fim de voar para o
deserto, para o lugar de seu retiro, onde é alimentada por um tempo, dois tempos e a
metade de um tempo, fora do alcance da cabeça da Serpente. A Serpente vomitou contra
a Mulher um rio de água, para fazê-la submergir. A terra, porém, acudiu à Mulher,
abrindo a boca para engolir o rio que o Dragão vomitara.
Este, então, se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua
descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus."
(Ap 12, 9-18)
 
Os Anjos que se conservaram fiéis a Deus foram confirmados em graça, passando
a gozarem para sempre da vista de Deus no céu, onde estão a amá-Lo, bendizê-Lo e
louvá-Lo eternamente.
 
25
Referência: A batalha do apocalipse (Ap 12, 1-18).
26
DEUS ESTABELECE LIMITES PARA O HOMEM
Deus, sabendo das más intenções de Lúcifer, adverte o homem de que deve
sempre obedecê-Lo:
“Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e colocou-o no jardim do Eden,
para que o cultivasse e guardasse.E deu-lhe este preceito, dizendo: Come de
todas as árvores do paraíso, mas não comas do fruto da árvore da ciência do
bem e do mal, porque, no dia em que dele comeres, morrerás
indubitavelmente.”
(Gn 2, 15-17)
A ÁRVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL
Deus colocou o homem no paraíso em perfeito estado de inocência, graça e
felicidade, isento, portanto, da morte e de todas as misérias da alma e do corpo.
O Senhor, entretanto, usando do seu direito de soberano, colocou uma condição
para a conservação desta ventura terrena e desta felicidade sobrenatural: queria um ato
de submissão e dependência do homem.
Assim, permitiu-lhe que comesse de todos os frutos do Paraíso terrestre,
proibindo-lhe apenas que experimentasse o fruto da árvore que estava no meio do
jardim.
A intenção de Deus era dar um preceito ao homem para que este soubesse que
tem um mestre. Seria um preceito ligado a uma coisa sensível, porque o homem possuía
sentidos; e fácil de seguir, pois Deus queria que a vida lhe corresse agradável, enquanto
se conservasse inocente.
27
Ora, o homem era por natureza corruptível, mas pela graça da participação do
Verbo havia escapado desta condição natural. Caso permanecesse na virtude e
continuado bom, o prêmio para ele seria o aumento de graça e de felicidade. Teria, por
conseguinte, sempre no paraíso vida isenta de tristeza, dor, preocupações, além da
imortalidade prometida no céu.
No entanto, em caso de desobediência, ele e seus descendentes, decairiam daquela
perfeição e experimentariam o mal, tanto espiritual como corporal. Deixariam, portanto,
de viver no paraíso, sendo dali expulsos para ficarem doravante sujeitos à morte e à
corrupção (do corpo). Com efeito, devido à presença do Verbo a corrupção natural não
os podia tocar. É o que afirma o livro da Sabedoria: “Deus criou o homem para a
incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria eternidade; é por inveja do diabo que a
morte entrou no mundo” (Sb 2, 23-24).
A passagem de Gn 2, 16, revela a preocupação de Deus com o futuro do homem.
Mostra, simbolicamente, o que ele não deve fazer: “não comam do fruto da árvore da
ciência do bem e do mal” e, de maneira clara, a conseqüência caso o faça: “no dia em
que dele comerem, morrerás indubitavelmente”.
Isso significa dizer que, se o homem decidir comer do “fruto da árvore” (ou seja,
se “desobedecer a Deus”), perderá a “graça da santidade” e, com isso, o “dom da
imortalidade”, passando a morrer.
A expressão “árvore da ciência do bem e do mal” significa o LIMITE que o
homem deve respeitar para sua própria felicidade porque, como ser criado por Deus, não
tem condições de discernir sozinho o que é bom e o que é mal. A partir da observação
desse Limite é que o homem evitará o mal em sua vida.
 
Referência: O Limite do homem (Gn 2, 9-17).
28
DEUS CRIA A FAMÍLIA
Após criar o homem e a mulher, Deus origina a instituição ao redor da qual toda a
humanidade se desenvolverá: a Família:
“Disse mais o Senhor Deus: 
Não é bom que o homem esteja só: façamos-lhe um adjutório semelhante a
ele. Mandou, pois, o Senhor Deus um profundo sono a Adão, e enquanto
ele estava dormindo, tirou uma das suas costelas, e pôs carne no lugar dela. E
da costela, que tinha tirado de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher, e a
levou a Adão. E Adão disse: eis aqui agora o osso de meus ossos e a carne da
minha carne; ela se chamará Virago, porque do varão foi tomada. Por isso
deixará o homem seu pai e a sua mãe, e se unirá a sua mulher, e os dois serão
uma só carne.”
(Gn 2, 18; 2, 21-25)
A CRIAÇÃO DA FAMÍLIA
Ao terminar de formar Adão, Deus decidiu associar-lheuma companheira e
consorte. Para tanto, “infundiu-lhe um profundo sono; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe
uma costela, da qual formou a mulher, que apresentou a Adão. Este a recebeu com
alegria e a chamou Eva”. Neste momento, Deus instituiu a Família.
Formada como reflexo da Santíssima Trindade, a Família não é uma comunhão
meramente material e formal, mas uma aliança de amor, o que a capacita a resistir a toda
e qualquer maldade vinda do demônio. Portanto, através da família, o homem terá um
meio seguro para alcançar o Reino do céu. Perceba que a família foi um projeto querido
29
pelo coração de Deus desde o início da criação.
Para perpetuá-la, Deus institui o Matrimônio. Ele representa não apenas a simples
união entre um homem e uma mulher, mas uma “aliança” entre os dois e Deus, por isso
mesmo, indissolúvel.
Na Família criada por Deus, o interesse de um dos membros não deve se
sobressair sobre o interesse dos demais. Essa percepção, por parte dos membros, é que
faz com que o adultério, as discussões, o egoísmo, enfim, o mal, que possa prejudicar a
família, seja evitado.
No momento de sua celebração, Deus abençoa seus integrantes, fazendo com que
um sirva de “ajuda adequada” (Gn 2, 18) ao outro e que os dois, transformados em
“uma só carne” (Gn 2, 23), participem de sua natureza criadora através da fecundidade
do casal: “Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a.” (Gn 1, 28).
Em Gn 2, 22, encontramos uma verdade que não pode ser esquecida: “o Senhor
Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem”, ou seja, Deus fez a mulher para
o homem. Ele não fez um homem para coabitar com outro homem ou uma mulher para
ser esposa de outra. Da mesma forma, ensina o Catecismo Romano: “os fiéis devem
saber, antes de tudo, que o Matrimônio foi instituído por Deus. Está escrito no Gênesis:
'Criou-os como homem e mulher; e Deus os abençoou, e disse: Crescei, e multiplicai-
vos'.” (MARTINS, p. 377). Sendo assim, qualquer situação, além da ordem divina, está
fora da vontade de Deus e deve ser rejeitada.
 
Referência: Deus cria a Família (Gn 2, 18-25).
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O HOMEM DESOBEDECE A DEUS
Satanás, ao chegar a terra, procura induzir o homem ao pecado. Este, estimulado
pelo Espírito do Mal, que lhe apareceu sob a forma de serpente, então inofensiva,
revolta-se contra Deus. Nesse momento, o pecado original toma forma:
“Mas a serpente era o mais astuto de todos os animais da terra que o Senhor
Deus tinha feito. E ela disse à mulher: por que vos mandou Deus que não
comêsseis de toda a árvore do paraíso?
Respondeu-lhe a mulher: nós comemos do fruto das árvores, que estão no
paraíso, mas do fruto da árvore, que está no meio do paraíso, Deus nos
mandou que não comêssemos, e nem a tocássemos, não suceda que
MORRAMOS.
Porém a serpente disse à mulher: vós de nenhum modo morrereis; mas Deus
sabe que, em qualquer dia que comerdes dele, se abrirão os vossos olhos, e
sereis como DEUSES, conhecendo o bem e o mal.
Viu, pois, a mulher que (o fruto) da árvore era bom para comer, formoso aos
olhos e desejável para alcançar a sabedoria, e tirou do fruto dela, e comeu: e
deu a seu marido, que também comeu.”
(Gn 3, 1-7)
ADÃO E EVA NEGAM A DEUS
Satanás, cheio de revolta, vendo que não podia atingir a Deus, dirige-se a terra e
passa a mentir para o homem. Fala-lhe que Deus não é bom, que não é fiel e que não é o
único a discernir sobre o que é bom e o que é mal, que ele próprio tem a capacidade de
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fazê-lo, que pode ser igual a Deus. Estava, na realidade, reproduzindo na terra o que se
havia passado com ele mesmo no céu quando desejou ser Deus.
Quando o homem recebeu o dom da liberdade, adquiriu, entre outras coisas, a
capacidade de repelir a satanás e seus aliados. Esses são poderosos pelo fato de serem
puro espírito, mas, como criaturas, não são capazes de influírem na vida do homem que
não os deseja.
O homem, mesmo sabendo disso, ao ser tentado pelo Diabo não o rejeita,
deixando morrer em seu coração a confiança em Deus. Prefere a si mesmo em vez de
seu Criador. Assim, ao invés de querer, por intermédio de Deus, participar de sua
natureza divina, aceita a sugestão do demônio de que, pelas suas próprias forças,
chegaria ao mesmo propósito.
Então, munido do dom da liberdade, o homem decide desobedecer a Deus na
esperança de tornar-se igual a Ele, conhecedor e determinador do bem e do mal. 
Deste modo, Eva colheu a fruta proibida e comeu. Em seguida, levou-a a seu
marido que dela também comeu, instigado pelo exemplo da sua companheira. 
Imediatamente, abriram-se-lhes os olhos; foram esconder-se depois de terem
encoberto o corpo com folhagem na esperança de ocultarem a vergonha e o pecado.
Observa-se, com essa decisão, que a raiz do pecado, sem dúvida, foi a soberba do
homem. A partir desse momento, o homem, longe da graça da santidade, não mais
poderá atingir a perfeição a que foi destinado. Todo pecado, de então em diante, passará
a ser uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em seu amor.
O PECADO ORIGINAL
Pecado original é a mancha do pecado que se transmite a todos os homens devido
a queda de nossos primeiros pais. Essa mancha sobreveio com a perda dos dons
preternaturais.
Ora, Deus pôde retirar os dons prometidos porque ao conferir ao gênero humano,
em Adão, a graça santificante e os outros dons preternaturais, o fez com a condição de
que ele não Lhe desobedecesse. Com a desobediência, os dons foram retirados.
Importante anotar que Adão desobedeceu na qualidade de cabeça e pai do gênero
humano, o que acabou por tornar todos os homens rebeldes a Deus. Essa qualidade é
comprovada em At 17, 26, ao lermos que “de um só fez toda a raça humana”.
Lembre-se que Adão havia recebido os dons de Deus não exclusivamente para si,
mas para todos os seus descendentes. Da mesma forma, ao pecarem, transmitem a todos
o pecado e, consequentemente, suas implicações, no caso, a privação da graça, a perda
do Paraíso, a ignorância, a inclinação para o mal, a morte e todas as demais misérias.
Observe, entretanto, que apesar de todos estes motivos de pecado é preciso sustentar
que o homem é livre quando executa atos morais e que jamais peca por necessidade.
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Na Sagrada Escritura, em Rm 5, 12, encontramos São Paulo fazendo referência
ao pecado original na passagem: “Por isso, como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano, porque
todos pecaram”.
Observe que todos os homens contraem o pecado original, exceto a Santíssima
Virgem que dele foi preservada por Deus, com singular privilégio, devido aos
merecimentos de Jesus Cristo.
Diante do que foi exposto, percebe-se que o pecado original não tem nada a ver
com relação sexual. Não é devido a esse ato biológico que se transmite o pecado original,
pois mesmo a criança que se origina de meios não naturais já nasce com o mesmo.
Por último, vale salientar que quem não acredita no pecado original não pode
dizer-se cristão, pois não acredita no mistério de Jesus Cristo, na Salvação por Ele
conquistada. Como disse João Batista a respeito de Cristo: “Eis o Cordeiro de Deus que
veio retirar o pecado do mundo”.
ESTAMOS ABANDONADOS NAS MÃOS DO DEMÔNIO?
Dizemos que o demônio é maligno porque nos promove uma guerra sem tréguas e
nutre contra nós um ódio de morte.
Apesar do grande poder e obstinação do demônio, e seu ódio mortal contra o
gênero humano, ele não pode tentar-nos e importunar-nos com a força ou pelo tempo
que ele queira, pois toda a sua influência é regulada pela vontade e permissão de Deus.
 Quando Deus permite a tentação, Ele nunca deixa que ela seja maior do que a 
nossa capacidade de repeli-la. É o que percebemos ao ler I Cor 10, 13: “Não tendes sido
provados além do que é humanamente suportável. Deus é fiel, e não permitirá que sejais
provados acima de vossas forças”.
Sendo assim, com piedade e pureza de intenção, devemos pedir a Deus que não
permita sermos tentados além do que podem as nossas forças, e nos faça, antes, tirar
alento da própria tentação, para que,resistindo com firmeza, fortaleçamos as nossas
virtudes e aumentemos os nossos merecimentos para fazer-nos dignos de alcançar, algum
dia, a graça suprema da visão beatífica.
 
Referência: O pecado original (Gn 3, 1-13).
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A PROMESSA DE DEUS
Vendo que o homem caíra na tentação, Deus, cheio de compaixão, não o
abandona, mas promete-lhe uma salvação:
“E o Senhor Deus disse à serpente: pois que fizeste isto, és maldita entre todos
os animais e bestas da terra: andarás de rastos sobre o teu peito, e comerás
terra todos os dias da tua vida.
Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a posteridade
dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar.”
(Gn 3, 14-15)
O PRIMEIRO ANÚNCIO DA SALVAÇÃO
Esse é o primeiro anúncio que a bíblia nos traz da vinda de Jesus Cristo e de sua
vitória sobre o demônio. Ela nos dá um curtíssimo relato de como as coisas ocorrerão e
quais as pessoas que estarão envolvidas.
Identificamos, em seu conteúdo, dois pontos: o primeiro é a promessa de Deus de
que o Mal seria vencido definitivamente; o segundo é que, se de uma mulher surgiu o
pecado, de outra nasceria aquele que venceria o demônio e tiraria o pecado do mundo.
A PROMESSA DE SALVAÇÃO
O pecado desencadeou contra o homem toda a sua força, trazendo contra ele o
veredicto divino que pesava sobre a transgressão do mandamento.
Por conseguinte, o homem ficou privado dos dons que havia recebido, como, por
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exemplo, a graça santificante com as virtudes sobrenaturais infusas e dos dons do
Espírito Santo; além disso, foi-lhe retirado o privilégio da integridade vinculado aos dons
sobrenaturais.
Observe que o privilégio da integridade tinha grande importância na vida do
homem, pois produzia a subordinação perfeita dos sentidos à razão, e do corpo à alma.
Através desse dom, o homem conseguia com que as faculdades afetivas não
experimentassem nenhum movimento desordenado.
Enfim, com a falta dos dons, o homem se viu em total desespero. Nada podia
levantar o gênero humano e reintegrá-lo ao estado primitivo, nem as forças humanas,
nem as forças angélicas.
A razão do homem não poder, por si mesmo, reconciliar-se com Deus é porque tal
empresa excedia os méritos e esforços da simples criatura, ainda que fosse a mais
perfeita. A salvação só podia vir de um Deus feito homem. 
Sendo assim, o homem não tinha como salvar-se, se Deus não usasse para com
ele de misericórdia.
Então, uma vez que o homem havia decaído de tão alta dignidade que teria Deus
de fazer? Deixar perecer algo que tinha participado da Sua imagem? Guardar silêncio e
ignorar o homem que foi enganado pelo demônio, sabendo que tal erro causaria a sua
ruína e perda? 
Pois bem, vendo a situação de ruína e desgraça em que o homem encontrava-se,
Deus não desamparou Adão e sua descendência em tão desventurada sorte. Ao lado da
justiça que pune, surge a misericórdia a perdoar, a prometer salvação.
A misericórdia de que Deus usou para com a humanidade foi prometer logo a
Adão um Redentor divino, ou Messias, enviá-Lo depois a seu tempo para libertar os
homens da escravidão do demônio e do pecado e merecer-lhe a glória.
Tal fato, no entanto, não podia acontecer sem a destruição da morte e da
corrupção (do corpo). Por conseguinte, convinha que o Redentor assumisse um corpo
mortal a fim de aniquilar em si a morte. Para tamanho empreendimento, Deus somente
poderia contar com a Imagem Dele próprio.
Ora, a Escritura ensina, em Jo 14, 9, que o Filho é a imagem do Pai: “Quem vê o
Filho, vê o Pai”. Caberia, portanto, ao Filho de Deus vir a terra assumir a fraqueza de
nossa carne, destruir a infinita malícia do pecado, e pelo Seu Sangue reconciliar-nos com
Deus.
A promessa de um redentor foi sendo repetida por Deus durante todo o Antigo
Testamento, inicialmente aos primeiros Patriarcas e, por meio dos Profetas, ao povo
hebreu.
A Providência irá conceder aos Patriarcas longuíssima vida para que ensinem a
seus descendentes a Religião revelada e para que, velando sobre a fiel tradição das
divinas promessas, perpetuem a fé no futuro Messias.
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POREI ÓDIO ENTRE TI E A MULHER
No mesmo instante que condenava o gênero humano, imediatamente após o
pecado, Deus fez nascer a esperança de resgate, pelas (próprias) palavras com que
anunciou ao demônio a dura derrota que lhe resultaria da libertação dos homens: "Porei
ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu
lhe ferirás o calcanhar".
A “mulher” citada no texto é Maria Santíssima, mãe de Jesus Cristo, que
despontará como uma nova Eva. Ela nascerá sem o pecado original e, durante sua vida,
não cometerá o pecado da desobediência, já que acolherá, plenamente, o chamado de
Deus com um “sim”. Ao contrário de Eva, que fez a própria vontade, Maria Santíssima
cumprirá a vontade de Deus.
ENTRE A TUA DESCENDÊNCIA E A DELA
A descendência da mulher de que fala a passagem de Gn 3, 15, “entre a tua
descendência e a (descendência) dela” (de Maria Santíssima), é Jesus Cristo.
Encontramos no livro do Apocalipse, em Ap 12, 4-5, uma referência a mesma
Mulher vista no Gênesis e a sua descendência direta (seu filho Jesus Cristo):
 
"Esse Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que,
quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho. Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele
que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado
para junto de Deus e do seu trono".
 
Referência: O primeiro anúncio da Salvação (Gn 3, 14-15).
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AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
Em seguida aparecem as conseqüências do pecado da desobediência de Adão e
Eva, entre elas, a Morte:
“Disse também à mulher: multiplicarei os teus trabalhos, e (especialmente os
de) teus partos. Darás à luz com dor os filhos, e desejarás com ardor a teu
marido, que te dominará.
E disse a Adão: porque destes ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da
árvore, de que eu te tinha ordenado que não comesses, a terra será maldita
por tua causa: tirarás dela o sustento com trabalhos penosos todos os dias da
tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra.
Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra, de que foste
tomado, porque tu és pó, e em pó te hás de tornar.”
(Gn 3, 16-19)
O APARECIMENTO DA MORTE
Deus não apenas havia feito o homem do nada, mas também lhe tinha
graciosamente concedido a Sua própria vida pela graça do Verbo. 
O homem, entretanto, achando-se senhor de suas ações, decidiu desprezar e
transgredir a ordem de Deus, excluindo-O de sua vida.
O Senhor que presenciara a desobediência, inicialmente, amaldiçoou a serpente,
primeiro autor da desgraça; depois, sentenciou contra os culpados o devido castigo. 
Foram, então, duramente acusados e condenados por aquela terrível sentença: "A
terra será maldita por causa de tua obra. Com sacrifício tirarás dela o teu sustento, todos
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os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás ervas da terra”
(Gn 3, 17-18). Por fim, recebem o castigo anunciado para o caso de desobediência,
aparece a figura da morte no mundo: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até
que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Gn 3,19).
Observe que seria incoerente que a palavra de Deus mentisse no caso de que,
promulgada com toda certeza a lei de morte para o homem transgressor do preceito, este
não morresse após a transgressão, mas ficasse sem efeito a sentença divina. Deus não
seria verdadeiro se após ter declarado que haveríamos de morrer, de fato não
morrêssemos. Portanto, como a sentença havia sido promulgada, ela, certamente, seria
executada.
Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava à imortalidade.
É, portanto, com o pecado que ele passou a ter os dias de sua vida contados. Vê-se,
desta forma, que Deus não criou a morte, ela entrou no mundo por causa do pecado. E o
assassino do homem, aquele que o fez pecar, foi exatamente o demônio. Por isso, Jesus
Cristo, em Jo 8, 44, chama odemônio de “homicida desde o princípio”, pois ele
realmente “matou” o homem, fê-lo experimentar a morte.
Perceba que o que aconteceu com nossos primeiros pais foi que a desobediência
ao mandamento os reconduziu ao seu estado natural, e assim como haviam passado do
nada ao ser, era justo que doravante fossem sujeitos no decurso do tempo à corrupção,
voltando ao nada. Por isso, uma vez que antes nada eram por natureza, e a presença e a
filantropia do Verbo os chamaram à vida, conseqüentemente, quando alheios a vontade
de Deus, os homens foram privados do ser, e voltaram ao nada.
Agora, se tivessem correspondido ao desejo daquele que os criou, teriam
diminuído a força da corrupção natural e se conservado incorruptível, conforme assevera
a Sabedoria: "O respeito das leis é garantia de incorruptibilidade” (Sb 6, 18).
O SOFRIMENTO E A DOR
Deus também havia criado o homem isento do sofrimento e da dor. Isso acontecia
porque a alma, por especial privilégio, protegia o corpo contra todo o mal e ela por sua
vez de coisa alguma podia receber dano, enquanto a vontade permanecesse submissa a
Deus.
Devido a queda do homem, Deus, para Se desagravar da ofensa, os pune com
toda a sorte de sofrimentos interiores e exteriores. Aparecem, então, o sofrimento e a
dor, como pode ser visto em Gn 3,16: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à
luz com dores”.
Deduz-se, do que foi dito nos parágrafos anteriores, que a morte e as outras
misérias corporais são efeitos do próprio pecado.
Observe que, apesar de tão graves sinais da cólera e vingança divina, transparece,
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como um clarão, o amor que Deus tem aos homens. Pois dizem as Escrituras: “Deus
Nosso Senhor fez para Adão e sua mulher umas túnicas de peles, e assim os cobriu” (Gn
3, 21). Nesse simples fato vai a maior prova de que Deus jamais haveria de abandonar
os homens.
Somente na volta triunfante de Jesus Cristo, quando o pecado for definitivamente
derrotado, é que a morte será vencida. Assim ensina São Paulo, em I Cor 15, 26, quando
diz que “o último inimigo a ser vencido será a morte”.
 
Referência: O aparecimento da morte (Gn 3, 16-22).
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O HOMEM É EXPULSO DO PARAÍSO
De imediato, surge outra conseqüência do pecado: o homem fica completamente
afastado da presença de Deus:
“O Senhor Deus expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden
querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da
árvore da vida.”
(Gn 3, 21-24)
A EXPULSÃO DO PARAÍSO
Enquanto contraía méritos para ser levado à glória, o homem habitava num jardim
de delícias, expressamente preparado por Deus, chamado Paraíso terreal.
Após algum tempo de provas e méritos no primitivo estado, receberia o galardão
que haveria de coroar a sua felicidade, qual seja, o céu da glória, em companhia dos
anjos, para onde seria levado por Deus.
No entanto, preferiu romper com a aliança que havia feito com seu criador e
passou a desobedecê-Lo na vã esperança de tornar-se igual a Ele.
Com isso, o homem perdeu a graça e a amizade de Deus; deixou de possuir o
direito a bem-aventurança eterna que havia de ser sua recompensa; suas faculdades
foram entibiadas; seu espírito passou a conhecer a ignorância e sua vontade propendeu
para o mal; foi desfeito a qualidade de filho de Deus e perdido a herança do Paraíso.
Sem poder mais viver na presença Divina, o homem foi desterrado daquele lugar
de delícias, lançado fora dali para que ganhasse o pão entre inumeráveis trabalhos e
fadigas, conforme se lê nas Escrituras: “um Querubim se postou à entrada do Paraíso,
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brandindo uma espada de fogo, para lhes tirar toda esperança de lá tornarem”.
Portanto, a expulsão do paraíso aconteceu devido o homem ter ofendido a Deus
infinitamente bom e digno por Si mesmo de ser amado. Sendo assim, a impossibilidade
de o homem morar no paraíso junto com seu criador foi ocasionada por ele próprio.
Jesus Cristo, na cruz, restituirá a Glória perdida com o pecado e libertará os
espíritos cativos, dando-lhes a oportunidade de, novamente, serem chamados de “filhos”
e poderem ficar na presença de Deus Pai.
Após a expulsão de Adão e Eva do paraíso, a Sagrada Escritura passa a contar,
através das histórias de seus descendentes, os desdobramentos resultantes do pecado
destes dois personagens. Um desses exemplos é a história de Caim que mata seu irmão
Abel. A intenção do autor sagrado é mostrar o que o pecado da desobediência levou a
maldade para dentro do coração do homem.
Importante comentar que Abel, o justo que é morto apesar da sua inocência, é
figura de Jesus Cristo, o Messias que haveria de morrer crucificado, sob os golpes de um
ódio cego e violento, pelos Judeus, seus irmãos.
A ÁRVORE DA VIDA
Em Gn 3, 19, observamos que é da natureza do homem ser pó, ou seja, ser
mortal. Mais adiante, em Gn 3, 22, encontramos o indício de que Deus havia concedido
ao homem, quanto a sua vida mortal, um dom além do natural, o dom da imortalidade.
Esse indício encontra-se de forma simbólica na expressão “Árvore da vida”, à qual o
homem perdeu o acesso quando de sua queda:
 
“E o Senhor Deus disse: Eis que o homem se tornou como um de nós,
conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e
tome também do fruto da Árvore da vida, e o coma, e viva eternamente“.
 
O homem somente obterá, novamente, o acesso à “Árvore da vida”, à Vida
Eterna, no final dos tempos, mas esta será alcançada não mais através de um dom
preternatural, como o da “imortalidade”, mas do dom da “ressurreição”.
O termo “morrer” significa não mais participar da vida bem-aventurada de Deus.
Isso aconteceu no momento em que o homem perdeu o acesso à “Árvore da vida” (Gn
3, 22).
 
Referência: O homem é expulso do paraíso (Gn 3, 23-24).
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A MALDADE CHEGA AO SEU LIMITE
O homem, entregue aos seus próprios pensamentos, é completamente dominado
pelo pecado que o leva ao sofrimento e à insatisfação. A maldade humana generaliza-se e
logo toda a criação perde o equilíbrio:
“O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os
pensamentos do seu coração estavam continuamente voltados para o mal.
O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração
ferido de íntima dor.”
(Gn 6, 5-6 )
DEUS ARREPENDE-SE DE TER CRIADO O HOMEM
Desde o início dos tempos, Deus infundiu nas criaturas o instinto de seu próprio
bem, de sorte que elas por uma propensão natural estão sempre a buscá-Lo.
Acontece que, com o pecado original, enquanto as criaturas irracionais
conservaram seu pendor natural, e até hoje continuam na bondade primitiva de sua
criação, o pobre gênero humano abandonou o bom caminho; pois não só deixou a perder
os dons da justiça original, com que Deus o dotara e enobrecera, além das exigências da
natureza humana, mas também suprimiu o apreciável gosto pela virtude, que é inato em
seu coração.
Afora isto, a atitude do homem também levou ao desfazimento do estado de
integridade e justiça original, o que rompeu com a harmonia entre homem e mulher, e
entre eles e toda a criação.
A conseqüência disto tudo foi que os descendentes de Adão começaram a se
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perverter e, em pouco tempo, toda terra se encheu de vícios e pecados.
A maldade, no entanto, não se deteve em certos limites, mas cresceu tanto que
ultrapassou qualquer medida, superando toda espécie de iniqüidade. Além do mais, não
se limitou a um só pecado, mas novos delitos foram sendo inventados. Difundiram-se
adultérios e roubos e toda a terra se encheu de morticínios e rapinas. Cidades guerreavam
entre si, nações se insurgiam contra nações, a terra estava dilacerada por rebeliões e
batalhas. Nem mesmo se abstinham do que é contra a natureza, conforme afirma o
Apóstolo: “Suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza;
igualmente os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns
para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo em si
mesmos a paga de sua aberração” (Rm 1, 26-27).
Quanto a tudo isso, diz a Escritura que “todos se transviarame se corromperam
sem exceção. Não há quem faça o bem, não aparece um sequer.” (Sl 52, 4). Realmente,
todos, individualmente e em comum, cometiam toda espécie de pecados.
Com a maldade dominando o homem, ninguém passou a achar mais gosto nas
coisas da salvação, todos se inclinaram para o mal e se deixaram dominar pelas más
tendências, como à cólera, o ódio, à soberba, à ambição, e todas as demais espécies de
maldades. O resultado de tudo isso é um assustador aumento do sofrimento e da
insatisfação.
Diante da escolha do homem pelo mal, Deus sofre profundamente, chegando, de
certa maneira, a arrepender-se de tê-lo criado, como diz a Escritura: “O Senhor
arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de íntima dor”.
(Gn 6, 6).
Apesar de sua tristeza, Deus, na sua justiça, não se esqueceu de ter misericórdia
para com o homem. Lembrando que tinha prometido a Eva um Messias que havia de
salvar os homens, conservou a vida de um justo em meio aquele turbulento período. Noé
será herdeiro da posteridade donde sairá o Salvador esperado.
 
Referência: A maldade humana (Gn 6, 1-7).
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A ARCA DE NOÉ
Deus manifesta seu descontentamento através do dilúvio. Esforça-se, entretanto,
em salvar a Noé e sua família, pequeno grupo que, livremente, procura seguir seus
ensinamentos. O dilúvio será a resposta de Deus aos homens que buscam a maldade e a
Arca de Noé a resposta aos que procuram segui-lo:
“E disse: ‘Exterminarei da superfície da terra o homem que criei porque me
arrependo de tê-lo criado’.
Noé, entretanto, encontrou graça aos olhos do Senhor. Noé era um homem
justo e perfeito no meio dos homens de sua geração.
Então Deus disse a Noé: ‘Faze para ti uma arca de madeira resinosa. Eis que
vou fazer cair o dilúvio sobre toda a terra. Tudo que está sobre a terra
morrerá’.”
(Gn 6, 8-17; 7, 1-4)
O DILÚVIO
Diante de tanta corrupção, Deus decide castigar o gênero humano com um dilúvio
universal.
O Senhor vinha avisando sobre o castigo desde Henoch, isto é, durante quase mil
anos adiava sua decisão na esperança dos homens abandonarem o mau caminho; mas o
abuso das graças fatalmente acarreta a punição: desta feita, veio terrível e deixou uma
lembrança imorredoura.
Assim, durante quarenta dias e quarenta noites chove tanto que as águas cobrem
os montes mais altos. Morrem afogados todos os homens, salvando-se apenas Noé e sua
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família.
Noé foi salvo devido a sua estrita obediência, pois havia acatado a ordem de Deus,
recebida muito antes do dilúvio, para que começasse a fabricar sua Arca.
O relato do dilúvio tem o objetivo de mostrar a extensão destruidora do pecado de
Adão na vida dos homens. Para o autor sagrado, a corrupção da humanidade aumentou
de tal forma que Deus se utilizou das coisas inanimadas como instrumento à Justiça
divina para castigar o pecado, fazendo padecer o pecador as conseqüências de sua culpa.
Sendo assim, o dilúvio aconteceu porque o pecado dos homens chegou a tal limite
que Deus, assim como aconteceu em Sodoma e Gomorra, precisou intervir. Com efeito,
não poderia Deus, por ser justo e puro, apesar de ser amor e misericórdia, deixar o mal
imperar de forma absoluta.
O Dilúvio foi um grande acontecimento que purificou e renovou a terra. A Igreja o
considera figura do batismo de Jesus Cristo, que hoje lava os nossos pecados.
Observe que o antigo uso dos sacrifícios outra vez posto em vigor por Noé ao sair
da arca e aceito solenemente por Deus, destaca os animais puros, figura de Jesus Cristo,
como os únicos a serem admitidos nos holocaustos: 
“E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas
as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar" (Gn 8, 20). 
Diz a Sagrada escritura que Deus ficou muito satisfeito com a piedade do seu
servo e manifestou-lhe que tinha por agradável este sacrifício: "O Senhor respirou um
agradável odor". (Gn 8, 21).
Com relação à questão dos sacrifícios é importante fazer algumas considerações:
Após a queda, não havia nenhum meio possível do homem voltar a reconciliar-se
com Deus que não fosse pela mediação do Redentor, o qual lhe havia sido prometido por
uma misericórdia completamente gratuita.
Sendo assim, todas as práticas do culto e da moral realizadas pelo homem teriam
que se apoiar nos méritos futuros do Messias e só obteriam valor por sua união com eles.
Devido a isso, o culto depois da queda passou a revestir um caráter
excepcionalmente novo; veio a ser, ao mesmo tempo, expiatório e representativo.
Era expiatório no sentido de que o homem culpado não poderia mais contentar-se
em dar, como tributo a Deus, uma simples homenagem de adoração, louvor e
agradecimento, como acontecia nos dias da sua inocência; mas, doravante, como
expiação acrescentaria a oferta dos produtos da terra, e já que, segundo explica o
Apóstolo São Paulo, não há expiação sem efusão de sangue (Hb 9, 22), haveria de
oferecer animais em sacrifício.
Através do sacrifício expiatório, o homem confessa que é pecador e reconhece que
não tem mais direito a vida; e para externar esta disposição, derrama o sangue de uma
vítima em lugar do próprio sangue.
O culto da religião primitiva também era representativo. Com efeito, o sangue das
vítimas imoladas, por si mesmo, não era apto a satisfazer a justiça de Deus. Da mesma
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forma, o Senhor não queria o sangue do homem, o qual, aliás, não teria nenhum valor
para Ele. Mas aceita os sacrifícios que Lhe eram ofertados porque representam e
anunciam o único sacrifício que devia expiar o pecado cometido, isto é, a imolação de
Nosso Senhor Jesus Cristo no Calvário.
NOÉ
Em meio a toda aquela corrupção, surge um homem justo, da família de Seth,
ardente de amor por Deus e desejoso de escutar e cumprir suas ordens. Seu entusiasmo
e zelo chegam à presença do Senhor que, por causa de sua fidelidade, decide dar uma
nova chance à humanidade.
A misericórdia divina para com a humanidade se manifesta através de uma aliança
entre Deus e Noé, representando todos os homens.
Encontramos essa verdade em Eclo 44, 17-19: “Noé foi julgado justo e perfeito, e
no tempo da ira tornou-se o elo de reconciliação. Por isso foram deixados alguns na
terra, quando veio o dilúvio. Ele foi o depositário das alianças feitas com o mundo, a fim
de que ninguém doravante fosse destruído por dilúvio”.
Noé, salvando a humanidade da destruição, pressagiava o futuro Redentor que
purificaria do pecado toda a raça humana, preservando-a da morte eterna.
Ele será o exemplo de homem que o mundo, repleto de pecado, precisará se
espelhar até a vinda de Jesus.
Perceba que, por causa de Noé, homem justo, Deus salvou sua família e os
animais. Lembre-se que, para a Sagrada Escritura, homem justo é aquele que tem uma
vida íntegra e reta diante de Deus, ou seja, que obedece a Sua vontade. Sejamos,
portanto, justos diante Deus e assim, Ele, em sua infinita misericórdia, poderá nos salvar
e também as nossas famílias da morte.
Por fim, vale lembrar que depois do dilúvio, Cam, um dos filhos de Noé, veio a
 desrespeitá-lo. Este, então, pronunciou contra ele uma pena gravíssima, sua
descendência seria reduzida a condição de escravidão, e a seus irmãos, Sem e Jafet, deu
uma bênção como prêmio pela compaixão demonstrada:
"Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e
apareceu nu no meio de sua tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai, saiu
e foi contá-lo aos seus irmãos. Mas, Sem e Jafet, tomando uma capa, puseram-na sobre
os seus ombros e foram cobrir a nudez de seu pai, andando de costas; e não viram a
nudez de seu pai, pois que tinham os seus rostos voltados. Quando Noé despertou de sua
embriaguez, soube o que lhe tinha feito o seu filho mais novo. Disse Noé:
'Abençoado seja Sem pelo Senhor, meu Deus, Canaã seja seu escravo. Deus
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engrandeça Jafet e encontre morada nas tendas de Sem e seja Canaã escravo deles.'"
(Gn 9, 20-24).
Este primado de Sem somente pode ser entendido em sentido messiânico; isto é,
será de Sem que descenderá a estirpe destinada ao domínioespiritual do mundo, como
portadora da salvação.
A ARCA E A IGREJA
A Arca, onde a família de Noé se estabeleceu para fugir do dilúvio, é figura da
Igreja, que acolhe a todos para levá-los a salvação eterna. A relação é a seguinte: assim
como ninguém sobreviveu fora da Arca de Noé, ninguém se salva fora da Igreja.
Sendo assim, fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana, ninguém pode salvar-
se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé.
Nesse sentido escreve São Jerônimo ao Papa Dâmaso: "Estou a falar com quem
sucedeu ao Pescador, com o Discípulo da Cruz. Nenhum chefe supremo reconheço
senão a Cristo; por isso me ponho em comunhão com vossa Santidade, isto é, com a
cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja. Quem comer o
Cordeiro fora desta casa, não pertence ao povo eleito. Quem se não recolher na Arca de
Noé, há de perecer por ocasião do Dilúvio" (MARTINS, p. 170).
Portanto, podemos afirmar que para salvar os homens, Noé construiu a Arca,
Jesus Cristo, a sua Igreja.
 
Referência: Noé, o dilúvio e a Arca (Gn 6-8).
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O SINAL DA PRIMEIRA ALIANÇA
Depois do Dilúvio, cheio de compaixão, Deus faz uma primeira aliança com a
nova humanidade. Como sinal desse pacto, Deus faz aparecer o arco-íris no céu:
“Deus disse a Noé: ‘Eis o sinal da aliança, que Eu faço convosco e com todos
os animais viventes, que estão convosco, por todas as gerações futuras: Porei
o meu Arco nas nuvens, e ele será o sinal da aliança entre mim e a terra’.”
(Gn 9, 12-13)
O ARCO-ÍRIS
Segundo as Escrituras, o Arco-íris no céu é um ato de amor, onde Deus demonstra
seu desejo de esquecer o pecado da humanidade ao desistir de destruir o mundo.
Este sinal chancela a primeira aliança de Deus com o homem após seu pecado,
tendo como propósito prepará-lo para sua futura redenção:
 
"Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco
aparecerá nas nuvens, e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo
de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura.” (Gn
9,14-16).
 
Noé foi o protagonista dessa primeira Aliança. Sua importância é tão grande que
permaneceu em vigor durante todo o tempo das nações até à proclamação do Evangelho:
 
“Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: Este é o sinal da aliança que faço entre
mim e todas as criaturas que estão na terra." (Gn 9, 17).
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Seu fundamento consiste na observância, pelo homem, dos primeiros
mandamentos divinos. Tais exigências tinham por objetivo preparar a humanidade para a
vinda do Redentor:
 
“Deus abençoou Noé e seus filhos e disse-lhes:
Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Toda a ave do céu, tudo o que se
arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar: eles vos são entregues nas mãos. Tudo o
que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva
verde. Somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue. Eu pedirei conta
de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal; e ao homem (que matar) o
seu irmão, pedirei conta da alma do homem.” (Gn 9, 1-7).
 
Referência: A nova humanidade e a Aliança com Deus (Gn 9).
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A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS
Ocorre que, como o dilúvio não libertou os homens do pecado, os descendentes
de Noé voltam a pecar e, mais uma vez, se afastam de Deus:
“Depois disseram: ‘Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo
cimo atinja os Céus.”
(Gn 11, 4)
A TORRE DE BABEL
Após o dilúvio, a humanidade volta a mostrar sua natureza ferida pelo pecado
original. Muito embora houvesse conservado o desejo do bem, era atraída pelo mal e
sujeita ao erro. 
Por conta disto, a resposta dos descendentes de Noé à Aliança de Deus é idêntica
à que levou nossos primeiros pais ao pecado: orgulhosos, continuam desejosos de
tornarem-se iguais a Deus. 
Essa posição soberba do homem de desejar construir, isolado de Deus, o próprio
caminho é vista, simbolicamente, na Torre de Babel. 
Sua história é a seguinte: Durante muitos anos os descendentes de Noé habitaram
numa mesma região, na planície de Senaar. Acontece que com o tempo foram
multiplicando-se de tal forma que ficaram sem condições de viverem juntos, precisando
de novas terras. Disseram, então, entre si: “Vinde, façamos para nós uma cidade e uma
torre, cujo cimo chegue até ao céu, e tornemos célebre o nosso nome, antes que nos
espalhemos por toda a terra” (Gn 11, 4).
Babel quer dizer “confusão”, pois Deus, ofendido com o orgulho dos homens em
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quererem construir uma torre que chegasse ao céu, desceu e confundiu suas línguas, de
maneira que os soberbos edificadores, não se entendendo uns aos outros, tiveram de
dispersar-se sem levar adiante seu ambicioso projeto. Observe que até aquele momento
os homens falavam uma só e mesma língua.
Em Pentecostes, após a efusão do Espírito Santo, encontraremos o surgimento de
homens totalmente dispostos a obedecer e realizar a vontade Deus, exatamente o
contrário da atitude soberba que tiveram os homens que edificaram a Torre de Babel.
Por isso, em Pentecostes, as diferentes raças e línguas não serão obstáculos para que os
povos de outras nações venham a compreender o louvor que os apóstolos farão subir ao
céu como ato de adoração a Deus.
A CRIAÇÃO DE UM NOVO POVO
Os homens, ao separarem-se, levaram por toda a parte as tradições dos
acontecimentos anteriores e a promessa de um Salvador; e acima de tudo, a idéia de um
Deus criador e único.
Porém, à medida que o tempo ia passando, os homens esqueciam as sãs tradições
que tinham recebido dos antepassados. A soberba os levava a não mais acreditarem em
Deus e em suas promessas; até chegar ao ponto do culto supremo ser rebaixado às
criaturas e negado ao Senhor. 
Sendo assim, o homem passou a adorar os próprios objetos que fazia. Pensava
que podia prender o espírito divino e encerrá-lo nas estatuas que criasse.
A idolatria, dessa forma, passou a cobrir a terra. Tudo era Deus, menos o próprio
Deus, e o mundo, que Deus criara para manifestar a sua onipotência, parecia ter se
tornado um templo de ídolos.
Impurezas imagináveis foram introduzidas nos sacrifícios. O homem culpado
passou a julgou que não poderia mais satisfazer sua divindade com as vitimas ordinárias.
Passou, então, a derramar o sangue humano com o dos animais. Esse processo cresceu
tanto que chegou ao ponto dos pais imolarem seus próprios filhos. 
Finalmente, o homem foi divinizando as próprias paixões; excluindo o remorso de
seu coração, passou a cometer crimes horrorosos contra a sua natureza.
Deus viu que a maldade cresceu assustadoramente na humanidade e que esta
chegou ao extremo de perder o conhecimento do verdadeiro Deus, ao entregar-se à
idolatria.
Então, a fim de conservar na terra a verdadeira religião, Deus decide escolher um
povo e tomar a seu cargo o governá-lo com especial providência, preservando-o da
corrupção geral. 
A este povo, Deus ensinará, desde a sua origem, a tê-lO como único e verdadeiro
Deus. 
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Para conduzi-lo nesta jornada, Deus se revelará como nunca havia feito, e para
alguns de seus membros, falará face a face, como a um amigo bem próximo, tudo por
conta do amor que tais homens demonstrarão. Apesar das fraquezas que, porventura,
alguns venham a ter, nunca deixarão de existir homens em seu meio cujos corações
coloquem o Senhor acima de todas as coisas.
Será a partir deste pequeno rebanho que nascerá o Filho de Deus.
 
Referência: A Torre de Babel (Gn 11, 1-9).
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DEUS DIRIGE-SE A ABRÃO
Deus, a fim de iniciar seu povo, dirige-se pessoalmente a um homem, Abrão, não
mais à humanidade inteira, para com ele fazer aliança e preparar o bem de todos:
“O Senhor disse a Abrão: ‘Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai, vai
para a terra que Eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; todas as famílias
da terra serão benditas em ti.’
Tomou Sarai, sua mulher, e Ló, filho de seu irmão, assim como todos os
bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã, e partiram
para a terra de Canaã.
O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe:'Darei esta terra à tua posteridade'.”
(Gn 12,1-7)
O INÍCIO DE UM POVO
Deus sempre teve na terra adoradores verdadeiros a quem Ele salvou da
corrupção e do erro por efeito da sua graça. Estes justos foram santificados pela fé no
Messias prometido e pelas obras que praticavam com o auxilio da sua graça.
Entre esses justos encontramos um homem da Caldéia, de nome Abrão. Deus o
escolheu para torná-lo o predecessor de um novo povo que desenvolverá os alicerces da
verdadeira Aliança.
Abrão e sua esposa, Sarai, moravam ao norte da Mesopotâmia. Abrão era
descendente dos antigos Patriarcas pela linhagem de Heber. Por isso, o povo que se
originará dele será chamado Povo hebreu.
Deus ordena-lhe que saia de sua terra e caminhe para a terra de Canaã, chamada
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também Palestina, prometendo-lhe que o faria cabeça de um grande povo e que de sua
descendência nasceria o Messias.
O apelo de Deus é exigente: Abrão deve deixar seu modo de vida pagão e confiar
unicamente em Deus. Poderia ele recusar, mas aceita a obscuridade da fé.
Saiu, então, Abrão de sua terra e foi para Canaã, conforme Deus lhe ordenara.
Ao povo que nascerá do sim de Abrão será cobrado o fundamento da Aliança
aceito por seu Patriarca, qual seja, ter o Senhor como único Deus.
Observe que Deus escolheu criar uma nova nação e não utilizar uma das já
existentes na terra. Sua intenção era provocar o estímulo das nações, para que estas,
vendo a felicidade dos israelitas, convertessem-se ao culto do Deus verdadeiro.
Tempos depois, no Monte Sinai, Deus fará com este povo uma “Aliança”:
"Agora, pois, se obedecerdes à minha voz, e guardardes minha aliança, sereis o
meu povo particular entre todos os povos. Toda a terra é minha, mas vós me sereis um
reino de sacerdotes e uma nação consagrada." (Ex 19, 5-6)
No alto da cruz, Jesus Cristo fará com este mesmo povo uma “Nova Aliança”. A
partir dela, surgirá um “novo povo”, a “Igreja”, corpo místico de Cristo, do qual surgirá
um “novo reino de sacerdotes e uma nova nação consagrada”.
DAREI ESTA TERRA À TUA POSTERIDADE
Esta posteridade mencionada no texto e na qual recairão as promessas feitas a
Abraão, será Jesus Cristo. É o que nos fala São Paulo em Gal 3, 16: “Ora, as promessas
foram feitas a Abraão e à sua Descendência. Não diz: aos seus descendentes, como se
fossem muitos, mas fala de um só: e à tua descendência, isto é, a Cristo”.
 
Referência: A escolha de Abrão (Gn 12-14).
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DEUS TESTA A FÉ DE ABRÃO
Devido a grandeza da missão de Abrão, Deus precisou testar sua fé, e, para tanto,
não lhe concedeu, durante muitos anos, a graça de ter filhos:
“A palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão, nesses termos: Nada
temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande’.
Abrão respondeu: ‘Vós não me destes posteridade, e é um escravo que será o
meu herdeiro’.
Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida nesses termos: ‘Não é ele que será
o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas entranhas’.
Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça.”
(Gn 15, 1-6)
A FÉ DE ABRÃO É TESTADA
Deus testa a fé de Abrão de uma forma muito concreta. No início, quando Deus
lhe apareceu, prometeu-lhe uma numerosa posteridade. Esta era a grande promessa. No
entanto, o tempo passou e Sarai não lhe deu filhos.
Apesar disso, Abrão não deixou de acreditar em Deus, mesmo vendo-se com
quase 100 anos e Sarai, sua mulher, com 90. Acreditava que, para aquele que tudo criou,
nada pudesse ser impossível.
Por isso, Deus “prometeu que ele cresceria como o pó da terra. Prometeu-lhe que
exaltaria sua raça como as estrelas, e que seu quinhão de herança se estenderia de um
mar a outro: desde o rio até as extremidades da terra. Ele fez o mesmo com Isaac, por
causa de seu pai, Abraão" (Eclo 44, 22-24).
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Neste momento, Deus ordena que Abrão praticasse a circuncisão e usasse este
mesmo costume para com todos os filhos que nascessem de seu sangue.
O NOME ABRÃO MUDA PARA ABRAÃO
Quando Abrão aceita fazer a aliança com Deus, Este modifica seu nome de Abrão
(um pai elevado) para Abraão (o pai de uma multidão) (Gn 17, 5). A intenção de Deus
foi mudar a missão de Abraão, que deixou de ser o patriarca de sua família, para ser o
pai do povo de Deus. Isso também ocorrerá com Sarai, sua esposa estéril, que terá seu
nome mudado para Sara (mãe das nações), agora uma mulher fértil.
Essa atitude de Deus, de modificar o nome, é observada na Sagrada Escritura
quando Ele deseja mudar a missão de alguém. É, por exemplo, o caso da mudança do
nome de Jacó para Israel, que passou a ter como missão desenvolver o povo de Deus
(Gn 32, 28: “Teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel, porque lutaste com
Deus e com os homens, e venceste.”).
Também encontramos isso acontecer quando Jesus Cristo muda o nome de Simão
para Pedro (Jo 1, 42: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Kepha.”, em
português Cefas, que quer dizer pedra). Em Mt 16, 18, Jesus explica o porquê dessa
mudança: “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as
portas do inferno não prevalecerão contra ela.”. Portanto, Jesus está dando uma nova
missão a Pedro. Será sobre a fé e o testemunho de Pedro que Cristo construirá a sua
Igreja. Como pastor do rebanho, terá por missão defender a fé de todo desfalecimento e
de consolidar nela os outros apóstolos. Pedro viria a ser o primeiro Bispo de Roma e a
sucessão Papal prova que sua missão foi bem sucedida.
SODOMA E GOMORRA
Em Gn 18, 20, Deus fala a Abraão que "é imenso o clamor que se eleva de
Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande". Anuncia, nesse momento, seu
plano de castigar Sodoma devido seus habitantes serem “perversos, e grandes pecadores
diante do Senhor” (Gn 13, 13).
Abraão, apesar de saber como Sodoma estava se comportando, intercede pelo
povo sodomita. Deus se compraz com os sentimentos de Abraão e diz que se
encontrasse pelo menos dez pessoas justas, ela não seria destruída. No entanto, não
existindo o número definido, acabou a cidade por ser aniquilada.
A epístola de Judas, em Jd 1, 7, traz uma forte luz sobre o pecado dos habitantes
de Sodoma e Gomorra: “Da mesma forma Sodoma, Gomorra e as cidades
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circunvizinhas, que praticaram as mesmas impurezas e se entregaram a vícios contra a
natureza, jazem lá como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno”.
Para o autor sagrado é preciso fugir absolutamente da ociosidade. Conforme se lê
nas profecias de Ezequiel, foi o ócio que embruteceu os habitantes de Sodoma e os
precipitou naquele imundíssimo crime da mais abjeta devassidão:
 
"O crime da tua irmã Sodoma era este: opulência, glutoneria, indolência,
ociosidade; eis como vivia ela, assim como suas filhas, sem tomar pela mão o miserável e
o indigente. Tornaram-se arrogantes e, sob os meus olhos, se entregaram à abominação;
por isso Eu as fiz desaparecer." (Ez 16, 49-50)
 
A passagem em que Deus aniquila as cidades de Sodoma e Gomorra (Gn 18-19)
mostra o quanto Deus abomina as perversões sexuais. Este tipo de maldade expande-se
pelo mundo de forma violenta, numa afronta direta ao plano de Deus para com a
humanidade. São Pedro, em II Pd 2, 6, explica que Deus “condenou à destruição e
reduziu à cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra para servir de exemplo para os ímpios
do porvir”. Isso nos faz pensar: até quando Deus terá paciência com este mundo?
 
Referência: A aliança com Deus e a intercessão por Sodoma (Gn 15-20).
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O SACRIFÍCIO DE ISAAC
Enfim, chega o dia em que a promessa é cumprida e Sara concebe. Deus, então,
decide provar Abraão uma segunda vez, pedindo-lhe o sacrifício de Isaac:
“Sara concebeu e, apesar de sua velhice, deu à luz um filho a Abraão, no
tempo fixado por Deus.
Depois disto, Deus provou a Abraão. Deus disse:‘Toma teu filho; teu único
filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás
em holocausto’.
No dia seguinte, tomou consigo Isaac e partiu.
Quando chegaram ao lugar, Abraão edificou um altar; Amarrou Isaac e o pôs
Isaac sobre o altar. Depois, estendendo a mão, tomou

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