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Constitucionalidade da Vaquejada

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FACULDADE ESTÁCIO - POLO CASTANHAL
MONIQUI CEREJA FERREIRA
VAQUEJADA
PARAGOMINAS-PA
INTRODUÇÃO
	O presente trabalho entra em um tema bastante discutido, sobre a constitucionalidade ou não da vaquejada, em primeiro momento falarei sobre o que seria os maus-tratos aos animais de acordo com a lei 9.605 de 1998, e o que caracterizaria o crime. Logo depois, contarei um pouco sobre a história e origem da vaquejada e como ficou popularmente conhecida, e sobre o famoso pegada de boi e também sobre a discordância dos órgãos sobre o tema, onde o Ministério da Agricultura regulamenta tal esporte, enquanto o Conselho Federal de Medicina Veterinária crítica o mesmo regulamento. E por fim, coloco minha opinião contrária a prática deste esporte. 
O QUE É MAUS-TRATOS: 
Antes de adentrar no assunto, devemos tratar sobre o que seria maus-tratos aos animais. De acordo com a lei 9.605 de 1998, no artigo 32, “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”, várias condutas podem caracterizar os crimes descrito, tais como abandono, ferir, mutilar, envenenar, manter em locais pequenos sem a circulação e sem higiene, não abrigar do sol, chuva ou frio, não alimentar, não dá água, negar assistência veterinária, dentre outros. 
UM POUCO DA HISTÓRIA DA VAQUEJADA:
A vaquejada surgiu no sertão nordestino, entre os séculos XVII e XVIII, neste tempo as fazendas não tinham cerca e o gado ficava solto em meio a vegetação, quando terminava a estação das chuvas os vaqueiros tinham que apanhar os bois que estavam fora do território da fazenda. 
E esse festejo do meio do ano ficou conhecido como “festa de apartação”, além de recuperar o gado os vaqueiros faziam a seleção daqueles que iriam ser vendidos, os que iriam ser ferrados e os que seriam castrados. A perseguição e derrubada dos bois pela cauda começou a ser chamada de pegada de boi, os vaqueiros que conseguiam fazer tal feito eram respeitados e reverenciados na Caatinga. 
Hoje, existe o protetor de cauda que reduz lesões em bovinos durante a competição, era usado na engenharia civil e acabou sendo adaptado para a vaquejada, dois irmãos desenvolveram e aperfeiçoaram o método.
Com o crescimento desta atividade acabou virando festividade e se espalhando para diversas partes do Brasil, até virá um esporte, e com isso, vieram as críticas de maus-tratos, já que vários animais se machucavam e alguns acabavam até mesmo perdendo o rabo. 
A DISCORDÂNCIA DOS ORGÃOS SOBRE O TEMA: 
 O Ministério da Agricultura publicou uma portaria na qual considera o Regulamento Geral da Vaquejada da Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAG) adequado para garantir o bem-estar animal. O principal ponto é que proibi o uso de chicotes ou qualquer outro objeto que possa causar danos ao animal e determina a presença de médicos veterinários de prontidão nos eventos, com equipamentos e medicamentos adequado. 
O STF considerou inconstitucional a prática de vaquejada, porém, o Congresso Nacional promulgou a emenda constitucional nº 96, que autoriza a prática da vaquejada no país, esta emenda acrescentou um parágrafo ao artigo 225 da constituição federal, que determina que as práticas culturais não são consideradas cruéis. 
 § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária se manifesta contrário às práticas realizadas para entretenimento que resultam em sofrimento para o animal, a entidade diz que “Sofrimento se refere a questões físicas tais como ferimentos, contusões ou fraturas, e a questões psicológicas, como imposição de situações que gerem medo, angústia ou pavor, entre outros sentimentos negativos”. 
O conselho apoia-se na Instrução Normativa 03/2000 do próprio Ministério da Agricultura, que considera inadequados atos como arrastar, acuar, excitar, maltratar, espancar, agredir ou erguer animais pelas patas, chifres, pelos ou cauda na hora do abate. E o ponto central da vaquejada é erguer o animal pela cauda, além que a queda do animal pode resultar em várias lesões de órgãos dos animais, afirma o Conselho. 
DIREITO A CULTURA X DIREITO DOS ANIMAIS:
Com o passar do tempo os animais acabaram ganhando mais atenção no âmbito jurídico, não somente os animais, mas como o meio ambiente em geral, pois fazem parte da manutenção da vida humana. 
O direito ambiental sendo um direito difuso, optou por adotar na nossa constituição o antropocentrismo alargado, porque considerou o meio ambiente como direito de todos, fornecendo-lhe o caráter de macro bem, “o homem precisa proteger para se proteger”. Lembrando que temos duas teorias sobre a relação do homem com a natureza, o biocentrismo, todas as formas de vidas são igualmente importante, não sendo o humano como centro da existência, e o antropocentrismo, onde o homem é o centro do universo, de tudo, sendo ele rodeado por todas as outras coisas. 
A vaquejada simboliza a cultura do povo nordestino, porém, existe violência física e psicológica na prática deste, fazendo com que apareça o questionamento: qual direito prevalece? Direito a cultura ou Direito dos animais?
O direito a cultura, protege os bens de valor histórico e artístico, pois são esses direitos que permitem o respeito à dignidade, a partir do reconhecimento da identidade do indivíduo e o aproveitamento das suas qualidades. Já o direito dos animais deixa claro, que o homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se do direito de exterminar os outros animais, ou, de explorá-los, violando esse direito. 
A cultura não pode ser usada como justificativa para os maus-tratos aos animais, e o estado não pode promover tal ato, e sim de coibir as práticas que se disfarce de entretenimento ou cultura para promover o mal. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há bastante tempo o ser humano usa animais para o seu entretenimento, disfarçado de esporte, podemos citar, hipismo, rodeios, agility, entre outros. E em todos os esportes acontecem maus-tratos aos animais, seja o sofrimento físico ou psicológico. 
Quando a Constituição defende o animal e proíbe qualquer maus-tratos contra o mesmo, reconheceu que o animal é um ser que tem capacidade de sentir, não tem como dizer sobre vaquejada sem a violência e os maus-tratos, então, não adianta a lei estabelecer o bem estar do animal se a atividade ainda é praticada. 
Nenhuma regulamentação seria capaz de evitar um “dano menor” ao animal, pois, o ato de pegar o boi pelo rabo e jogá-lo ao chão, já se configura violência física, além da psicológica que o mesmo sofre, o medo, a ansiedade o desespero, eles se sentem perseguidos por um predador, com o seu maior medo, o de perder a vida, e ainda mais sem a mínima chance de fugir. 
E ainda que o sofrimento físico pudesse ser evitado, o sofrimento psicológico continuaria ali, o desespero de fugir, confirma o sofrimento emocional do animal. A justificativa de que é apenas parte de uma cultura não pode e não deve ser usada, se fosse assim, as mulheres que vivem em sociedades machistas não poderiam de nenhuma forma tentar se libertar disso e nem os homens poderiam mudar seus pensamentos, visto que, a sua cultura é desta forma.
A prática da vaquejada deve ser considerada inconstitucional, a diversidade cultural não pode servir como escudo ou pretextos para as práticas de atrocidades contra os animais, seja na vaquejada ou em qualquer outro esporte que envolva animais e os maus-tratos aos mesmo. 
REFERÊNCIAS 
· ARTIGO 225, Constituição Federal. Do meio ambiente. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_26.06.2019/art_225_.asp#:~:text=225.,as%20presentes%20e%20futuras%20gera%C3%A7%C3%B5es.· CHAVES, Fabio. Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) se posiciona oficialmente contra as vaquejadas, 2016. Disponível em: https://www.vista-se.com.br/conselho-federal-de-medicina-veterinaria-cfmv-se-posiciona-oficialmente-contra-as-vaquejadas/
· FERREIRA E NETO. Tutela penal dos animais e direito à cultura: Análise a partir da ADIn 4.893. Ano: 2018 pag. 01 a 12. Disponível em: http://sou.undb.edu.br/public/publicacoes/tutela-penal-dos-animais-e-direito-a-cultura-daniel-lima-e-jose-muniz1.pdf 
· LEI, 9.605. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
· RODEOWEST. Conheça a história da vaquejada. Ano: 2018. Disponível em: https://blog.rodeowest.com.br/curiosidades-rodeio/conheca-historia-da-vaquejada/
· TOKARNIA, Mariana. Regulamento da Vaquejada garante bem-estar animal, diz Ministério da Agricultura. Site: Agência Brasil, 2017. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-08/regulamento-da-vaquejada-garante-bem-estar-animal-diz-ministerio-da
· UOL. Esportes que envolvem crueldade contra animais e esportes que envolvem crueldade contra as pessoas. Ano: 2011. Disponível em: http://direito.folha.uol.com.br/blog/esportes-que-envolvem-crueldade-contra-animais-e-esportes-que-envolvem-crueldade-contra-pessoas#:~:text=Os%20animais%20est%C3%A3o%20envolvidos%20em,os%20tratem%20como%20'esportes'.

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