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Amanda Wernke - XXXVII 1 Metabolismo de Lipoproteínas e Aterogênese (Resumo Baynes - Capítulo 18) Introdução: As lipoproteínas distribuem o colesterol e os triacilgliceróis (ésteres de glicerol e ácidos graxos, igualmente denominados triglicerídeos: são usados ambos os termos), do intestino e fígado, para os tecidos periféricos. Esses processos estão intimamente ligados com o metabolismo, e anomalias no metabolismo lipídico pode causar aterosclerose, sendo ela a causa de morte mais frequente no mundo hoje (cardiopatia isquêmica e doença cardiovascular, juntas representam 23,6% de todas as mortes mundiais). Os ácidos graxos, em conjunto com a glicose, são os principais substratos energéticos do corpo, sendo que podem ser armazenados no tecido adiposo para fornecer energia nos períodos de jejum. São adsorvidos no trato gastrointestinal pela dieta, mas também são produzidos endogenamente, no fígado e intestino. Os ácidos graxos livres, de cadeia curta são transportados pela albumina, enquanto os de cadeia longa são transportados na forma de triacilgliceróis agrupados em partículas conhecidas como lipoproteínas. Lipoproteínas: São compostas por moléculas hidrofílicas, hidrofóbicas e anfipáticas, uma vez que possuem triacilgliceróis, colesterol, fosfolipídios e proteínas (apolipoproteínas). A camada hidrofóbica fica no núcleo e a hidrofílica forma a camada externa. As lipoproteínas plasmáticas são partículas de diferentes tamanhos e densidades. A primeira classe de lipoproteínas são os quilomicrons, as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), as partículas remanescentes , identicas as partículas de densidade intermediária (IDL), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e as de alta densidade (HDL). As VLDL e as remanescentes são ricas em triacilgliceróis e ricas em colesterol. À medida que o conteúdo de triacilglicerol baixa, a densidade das partículas aumenta e o tamanho diminui. Assim, a densidade vai aumentando dos quilomícrons (os mais leves), VLDL, IDL, LDL até as HDL (mais pesadas). Amanda Wernke - XXXVII 2 Apolipoproteínas: São os componentes proteicos das lipoproteínas. Têm papel tanto estrutural quanto metabólico. São as apolipoproteínas introduzidas na superfície das lipoproteínas que determinam seu destino metabólico através da interação com os receptores. Cada classe de lipoproteínas possui uma classe específica de apolipoproteínas. As apolipoproteínas A (AI e AII) estão presentes nas HDL. A apovAI é uma proteína pequena sintetizada no fígado e no intestino, ela é a principal lipoproteína do HDL. Ela ativa a lecitina: colesterol aciltransferase (LCAT) e tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. É um marcador de HDL. A apovAII é menor que a apo AI e é maioritariamente sintetizada no fígado, contitui um cofator de LCAT e da proteína de transferência de ésteres de colesterol (CETP), e inibe a lipoproteína lipase (LPL). Não é, por rotina, sintetizaa no plasma. A apo A se liga ao receptor scavenger BI. A apolipoproteína B tem duas variantes comuns, apoB100 e a apoB48. A apoB100 controla o metabolismo das LDL, enquando a apoB48 está presente nos quilomicrons. A apoB100 é sintetizada no fígado. Só existe uma apoB por Amanda Wernke - XXXVII 3 lipoprotepina, por isso a medição dela é um bom indicador da soma de partículas VLDL, remanescente e LDL. A apoB100 se liga ao receptor de LDL. A apoB48 é a forma truncada da apoB100, por isso ambas são sintetizadas pelo mesmo gene. A apoB48 é sintetizada pelos eritrocitos e secretada pelo intestino nos quilomicrons. Essa apo não se liga aos receptores de LDL. Sua medição é indicador do número de quilomicrons e quilomicrons remanescentes. A apolipoproteína E está presente em todas as classes de lipoproteínas e liga- se ao receptor de LDL com maior afinidade que apoB100. A apoE estimula a LPL, HTGL e a LCAT. Ela possui três isoformas, a isoforma E2 resulta da substituição de cisteína por arginina e possui menor afinidade pelos receptores. As isoformas E2 e E3 ainda estão associadas a maior concentração de insulina e glicose no plasma do que a E4. Nas HDL, a apoE em conjunto com a apoAI contribui para a remoção de colesterol das células. A apoE é sintetizada no cérebro , por isso implica no crescimento e reparação do SNC. Os indivíduos com fenótipo E4 tem risco aumentado de desenvolver de forma esporádica a doença de alzheimer. As apolipoproteínas C (CI, CII e CIII) atuam como ativadores e inibidores de enzimas e são extensivamente trocadas entre as diferentes classes de lipoproteínas. Receptores de lipoproteínas: O receptor de LDL é regulado pela concentração intracelular de colesterol. A captação celular de lipoproteínas é mediada pela ligação das apolipoproteínas aos receptores presentes nas membranas celulares. O que permite a celula adquirir colesterol e outros lipídeos. O principal receptor de lipoproteínas é o de LDL. Os receptores scavenger são inespecíficos e não são regulados. Eles podem se ligar a várias moléculas diferentes, estando presentes nas células fagocíticas. Eles não estão sujeitos à regulação por retroalimentação. Os Amanda Wernke - XXXVII 4 receptores scavenger podem ser do tipo A, que tem estrutura de tripla hélice, e ligam-se à LDL modificada, mas não à intecta. Os receptores tipo B captam HDL no fpigado, e existe também o tipo CD36. Enzimas e proteínas de transferência de lipídeos: duas hidrolases, lipoproteína lipase (LDL) e a triglicerídio lipase hepática (HTGL), removem triacilgliceróis das partículas lipoproteicas. A LPL difere os triacilgliceróis dos quilomícrons e VLDL, e libera os ácidos graxos e glicerol para as células. O HTGL atua sobre as partículas já parcialmente diferidas pela LPL e facilita a conversão de IDL em LDL. A lecitina colesterol aciltransferase (LCAT) ´r uma enzima glicoproteica sintetizada no fígado, que se encontra associada à HDL. A LCAT esterifica o colesterol que as HDL adquirem das células. Ela é ativada pela ApoAI. Dentro da célula o colesterol é esterificado pela ACAT, sendo que a ACAT1 está nos macrófagos e a ACAT2 está no intestino e no fígado. Já a CETP facilita a troca de ésteres de colesterol por triacilgliceróis entre HDL, por um lado , e VLDL ou IDL, por outro, cotribuindo para o transporte reverso de colesterol. Vias do metabolismo de lipoproteínas: A via de transporte e a via de fluxo excedente refletem a função de transporte de combustível das lipoproteínas. A função de trensporte é essencial para a distribuição aos tecidos, como triacilgliceróis e colesterol. Os triacilglicerois e os ácidos graxos fazem parte do metabolismo energético do organismo, enquanto o colesterol forma um reservatório extracelular. Os estágios do metabolismo da lipoproteína são: Formação das partículas de lipoproteína. Os quilomicrons são formados no intestino, a VLDL no fígadoe a HDL no fígado e intestino; Tranferência de lipoproteína para a célula periférica e a liberação de triacilgliceróis/ácidos graxos das lipoproteínas para as células. O processo é facilitado pela LPL e pela HTGL, como resultado VLDL e quilomícron diminuem de tamanho e se tornam partículas remanescentes; Ligação das partículas remanescentes aos receptores hepáticos e respectiva captação; Transformação dos remanescentes restantes em LDL, por hidrólise mediada pela HTGL, com subsequente ligação ao receptor ApoB/E e captação celular; Transporte reverso de colesterol, isto é, remoção de colesterol das células pelas partículas HDL. A via do metabolismo dos quilomícros e do VLDL está intimamente relacionada com o ciclo de alimentação-jejum e, consequentemente, com o metabolismo energético. A via do transporte de combustível ainda está intimamente relacionada com o transporte reverso de colesterol, através das trocas de triglicerídeos e ésteres de colesterol com as partículas de HDL. O final da fase de transporte de combustível levaà formação de remanescentes e posteriormente de partículas de LDL, que formam um reservatório extracelular de colesterol. O metabolismo subsequente da LDL é designado via do fluxo excedente. Amanda Wernke - XXXVII 5 Via do transporte de combustível do metabolismo das lipoproteínas: Os quilomícrons transportam os lipídios da dieta. Pois após uma refeição contendo lipídios, é ativada a via que envolve a formação de quilomícrons. Os triglicerídeos presentes nos alimentos são quebrados pelas lipases pancreáticas e são absorvidos como monoacilgliceróis, ácidos graxos livres e glicerol livre. As células intestinais voltam a sintetizar os triacilgliceróis que, juntamente com os fosfolipídeos e colesterol, combinam-se com a apoB48 para formar os quilomícrons. Estes são secretados na linfa e alcançam o plasma através do ducto toráxico. A principal apolipoproteína é a apoB48. Os quilomícrons também contém apoA, C e E. Após alcançarem os tecidos periféricos, seus triacilgliceróis são hidrolisados pela LPL, e os ácidos graxos entram nas células. O que resta são os quilomícrons remanescentes. Esses adquirem ésteres de colesterol das HDL, alterando o tamanho da particula e expondo a apoE na sua superfície, que medeia a ligação do remanescente ao receptor apoB/E e à LRP no fígado. A meia vida dos quilomícrons no plasma é de aproximadamente 1 hora, ele geralmente aparece no plasma apenas após a refeição contendo gordura (plasma fica com aparência leitosa).Hoje existem evidências de que a lipemia pós-prandial pode ter um papel na aterogênese. E tirando os períodos de jejum, os triglicerídeos tem sido relacionados com as doenças cardiovasculares. Já os VLDL’s transportam os trigliceróis endógenos, produzidos pelo fígado. Essa lipoproteína é produzida no jejum e no período pós-prandial. São formadas em redor da apoB100, a apoB100 não utilizada é degradada pela ubiquitina. Após ser secretada no plasma a VLDL capta ésteres de colesterol e apolipoproteínas (apoC e apoE) da HDL. Nos tecidos periféricos, seus triacilgliceróis são hidrolisados pela LPL, de forma análoga aos quilomícrons, o que gera VLDL remanescente, ou IDL. Na VLDL sua comformação não permite a ligação com receptores de apoB/E, mas a sua nova conformação Amanda Wernke - XXXVII 6 remanescente, permite. Pois isso, as partículas remanescentes são captadas pelo fígado e posteriormente hidrolisadas por outra enzima, a HTGL, ao remover praticamente a totalidade dos triacilgliceróis às transformando em LDL. Devido à perda de triacilgliceróis as partículas remanescentes são relativamente ricas em colesterol. Seu tamanho reduzido facilita a penetração no endotélio vascular, e ambas as caravterísticas as tornam aterogênicas. A VLDL enriquecida com ésteres de colesterol originam as LDL, pequenas e densas, altamente aterogênicas. Quando as VLDL são sujeitas á ação do HTGL a remoção dos triglicerídios reduz seu tamanho e forma a LDL que é profundamente aterogênica. A presença de LDL pode se manifestar por hiperapobetalipoproteínemia, ou seja, pelo aumento da concentração plasmática de apoB100 com concentrações de colesterol relativamente normais. Isso está relacionado ao aumento de risco de CVD. Via do fluxo excedente do metabolismo lipídico: As partpiculas de LDL são captadas pela mesma via das partículas remanescentes. As LDL são pobres em triacilgliceróis e ricas em colesterol. Elas são pequenas o suficiente para penetrar nas paredes vasculares. Elas contêm apenas a apolipoproteína B100 e são as principais transportadoras de coelsterol no plasma. Permanecem mais tempo no plasma e são captadas pelo fígado (80%) ou células periféricas a partir dos receptores apoB/E. A síntese de colesterol intracelular e sua captação celular são interdependentes. A maioria das células produz seu próprio colesterol conforme suas necessidades. Mas quando a concentração diminui muito, elas podem adiquiri-los por via extracelular, pelas lipoproteínas. O colesterol livre liberado é um regulador de retroalimentação negativa de sua próprias síntese. Esse processo é mediado por uma família de fatores de transcrição denominados proteínas de ligação a elemento regulador de esteróides (SREBPs). Esses regulam os genes que codificam enzimas responsáveis pela síntese de coelsterol, e o gene que codifica o receptor apoB/E. A depleção dos esteróides hepáticos aumenta os níveos de SREBPs e, consequentemente, a spintese de coelsterol e a expressão do receptor apoB/E. Já a concentração intracelular aumentada de coelsterol inibe a via de SREBP, reduzindo a síntese de colesterol e a expressão do receptor. Via do tarnsporte reverso de colesterol: As partpiculas de HDL transportam colesterol das células periféricas para o figado, isso as torna antiaterogênicas, Amanda Wernke - XXXVII 7 pois esse processo alivia a carga de colesterol. Uma alta concentração de HDL está relacionada com a longevidade, e uma baixa concentração de HDL-C (e apoAI) está associada a risco aumentado de CVD. As HDL são sintetizadas no fígado e no intestino. Suas apolipoproteínas principais são as apoAI e a apoAII.Também contém apoC e apoE. Elas também são capazes de trocar seus componentem com outras lipoproteínas ricas em triglicerídeos. As HDL são formadas como partículas discóides pobres em lipídeos que contém principalmente apoAI. São construídas principalmente a partir do excesso de fosfolipídeos perdido das VLDL, durante a hidrólise pela LPL. As partículas remanescentes aceitam o colesterol das células através da Amanda Wernke - XXXVII 8 ação de uma proteína de membrana conhecida como ABCA1, que usa ATP como fonte de energia e é controlador limitante da taxa de efluxo do colesterol livre ApoAI. O ABCG1 transfere colesterol das células para partículas de HDL maduras. Outros conhecidos como ABCG5 e ABCG8 estão presentes nas membranas apicais dos hepatócitos onde controlam o movimento do colesterol para a bílis. O coelsterol livre adquidido pela HDL é esterificado pela LCAT, formando o HDL3. Seguidamente, através da ação da CETP, são transferidos alguns ésteres de colesterol para as lipoproteínas ricas em triglicerídios, em troca destes mesmos triglicerídios, formando o HDL2. A transerência mediada por CETP reinsere o colesterol na via de transporte de combustível, canalizando-o de volta ao fígado. Isto é importante porque esse processo de troca parece ser a principal via de transporte reverso de coelsterol em seres humanos. O colesterol restante na HDL2 é transportado para o fígado. Lá o HDL2 se liga aos recetores scavenger classe B e transfere o colesterol para a membrana celular. Essa transferência reduz novamente seu tamanho e ele volta a ser HDL nascente. O HDL possui outras propriedades aterogênicas, pois ativam a oxido nítrico sintase endotelial promovendo a produção de óxido nítríco. Possui propriedade anti-inflamatória e ações de limpeza de radicais livres (espécies reativas de oxigênio, ROS), promovem a integrudade da camada endotelial e previnem aadesão de células ao endotélio, a agregação plaquetária e a trombose. Dislipidemias: são defeitos no metabolismo das lipoproteínas, podem ser chamadas também de hiperlipidemias. A classificação original que divide em tipo de I a V foi baseada no comportamento eletroforético das lipoproteínas. Atualmente essa classificação foi suplementada com a genética. Outra classificação divide a dislipidemias em hipercolesteromia, hipertriglicerimia e dislipidemia. Amanda Wernke - XXXVII 9 Patologias que afetam o transporte de combustível: o fluxo aumentado no transporte de combustível ocorre na obesidade e no diabete mellitus. Isso ocorre devido ao aumento da síntese de VLDL. A dislipidemia diabética afeta também a via de transporte reverso de colesterol, um padrão frequentemente encontrado no diabetes inclui um aumento da concentração plasmática de triglicerídeos combinado com umadiminuição do HDL-C. A via do fluxo excedente geralmente não está alterada no diabetes. LDL se mantém normal. Contudo no diabetes os LDLs são formados como moléculas mais pequenas e densas, que podem ser mais aterogênicas. A perda de peso diminui a atividade dessa via. A combinação de VLDL remanescente aumentada (hipertriglicemia ligeira), LDL aumentada e HDL baixa é referida como “tríade aterogênica”. Amanda Wernke - XXXVII 10 Outra condição que aumenta a VLDL é o uso de álcool. Mas em contraste com o diabetes, ao mesmo tempo que aumenta VLDL aumenta HDL. O aumento de LDL levá à hipertrigliceridemia extrema. Pois a via de transporte de combustível também se torna sobrecarregada se a hidrólise dos quilomícrons ou da VLDL for insuficiente. Isso também ocorre no diabetes pois a falta de insulina inibe LDL, contribuindo para a hipertrigliceridemia. A deficiência de LDL é um disturbio raro que resulta em concentrações altas de triglicerídios. O comprometimento do metabolismo das partículas remanescentes leva à disbetalipoproteinemia familiar, que é uma condição rara, que afeta a última etapa do transporte de combustível, a captação remanescente. É causada pela mutação da apolipoproteína “condutora” das partículas remanescentes, a apoE (presença do fenótipo E2/E2) que diminui a ligação ao receptor apoB/E. Essa dislipidemia é associada à doença cardiovascular prematura e era previamente conhecida como hiperlipidemia tipo III. Patologias que afetam a via do fluxo excedente: A concentração elevada de LDL-C pode ser resultado de sua sobreprodução ou de deficiente captação celular. As anomalias desse fluxo levam à hipercolesteromias, sendo a mais importante a hipercolesteromia familiar (FH). Ela se caracteriza por um defeito do receptor apoB/E, devido a mutações nos genes relevantes, e isso não permite a captação de LDL. Pacientes com FH tem níveis elevados de LDL e alguns apresentam xantomas tendinosos (depósito de ésteres de colesterol no tendão de Aquiles e tendões das mãos). Está associada à VCD prematura e história familiar de doença coronária precoce. A deficiencia de apolipoproteína B familiar (FDB) é causada por mutação na molécula apoB100 que impede sua ligação ao receptor. Um aumento de LDL pode ser secundário à sintese aumentada de VLDL, e consequente transformação aumentada dos remanescentes em LDL. Isso ocorre na dislipidemia combinada familiar. A ingestão de gorduras saturadas na dieta também afeta a concentração de LDL. Uma dieta pobre em gordura pode reduzir a LDL e a concentração plasmática de colesterol. A maioria das hipercolesterolemias ligeiras a moderadas são poligênicas. Amanda Wernke - XXXVII 11 Amanda Wernke - XXXVII 12 Patologias que afetam o transporte reverso de colesterol: várias mutações raras podem causar a diminuição da concentração de HDL, como a mutação dos genes que codificam ApoA1, o transportador ABCA1 e o LCAT. Pacientes com deficiência na ApoA1 se apresentam com HDL plasmático baixo acompanhado por xatelasmas, opacidade da córnea e ateriosclerose. Os heterozigotos ocorrem em 1% da população. Desenvolvem amiloidose. Os indivíduos cim mutação no ABCA1, além do HDL plasmático, têm amigdalas grandes e coloração alaranjada, hepatoesplenomegalia, neuropatia periférica e trombocitopenia. Esse quadro é conhecido como doença de Tangier. A deficiência de LCAT é conhecida como doença do olho de peixe. É caracterizada por deficiência de HDL e também opacidade da córnea, nefropatia e anemia hemolítica. Em contraste, a deficiência de CETP leva à concentrações altas de HDL. Amanda Wernke - XXXVII 13 Aterosclerose, aterogênese e aterotrombose: A aterosclerose é um processo que leva ao esteritamento ou à oclusão completa súbita do lúmen arterial. O estreitamento se deve a placas ateroscleróticas de crescimento lento, enquanto a oclusão completa súbita é causado por um trombo que se forma na placa que sofreu ruptura. A oclusão completa pode causar infarto agudo do miocardio (se o bloqueio for em uma coronária), acidente vascular encefálico (se ocorrer em alguma artéria que irriga o cérebro), ou doença vascular periférica (bloqueio na artéria do membro inferior, que causa claudicação intermitente). O desenvolvimento da placa aterosclerótica é designada aterogênese. O termo aterotrombose também é utilizado para relacionar o crescimento da placa à coagulação. A aterogênese envolve transporte e deposição de lipídios na camada subendotelial da artéria, isso ocorre em lesão epitelial associada com uma reação inflamatória. Isso leva à uma remodelação da parede da artéria, incluindo a formação de novos vasos (angiogênese). A trombose é importante na maturação e desestabilização da placa. Amanda Wernke - XXXVII 14 Papel do endotélio vascular: o endotélio normal de uma artéria saldável tem propriedades anticoagulantes e antiadesivas, no caso, repele as células em circulação no plasma. As camadas da parede da artéria são a camada subendotelial (intima), média e externa (adventícia). As substâncias podem penetrar no endotélio através das junções comunicantes entre as células ou através das próprias células. O endotélio controla a capacidade dos vasos sanguíneos de dilatar e de contrair e, assim, de regular o fluxo sanguíneo em tecidos e órgãos. O óxido nítrico é a substância vasodilatadora mais importante. É sintetizada a partir da arginina pela NO siintaseendotelial (eNOS). A atividade da eNOS é controlada pela concentração intracelular de cálcio. O NO sinaliza através da guanilato ciclase e do GMP cíclico. A diminuição dele contribui para a hipertensão arterial. A disfunção endotelial, a deposição lipídica e a reação inflamatória na parede vascular são os processos-chave na aterogênse. E a disfunção endotelial precede a formação de lesões ateroscleróticas, pois a aterogênse inicia por lesão endotelial, mas a lesão é mais funcional do que estrutural, pois o endotélio muda de um fenótipo antiaterogênico para um inflamatório pró- aterogênico ao perder a capacidade de repelir as células e admitir cpelulas inflamatórias na parede vascular. Também se torna mais permeável a lipoproteínas que se depositam na camada íntima, mais tarde há lesão completa das células endoteliais. Amanda Wernke - XXXVII 15 A adesão das células no endotélio é mediada por moléculas de adesão presentes em sua superfície. As selectinas medeiam as interações iniciais com células circulares. A molécula de adesão celular 1 (VCAM1) promove a adesão dos monócitos e linfócitos T. As células aderentes são subsequentemente Amanda Wernke - XXXVII 16 estimuladas pela proteína quimioatraente de monócito 1 (MCP1) a atravessar i endotélioe se depositar na íntima. Esse processo ainda é facilitado pela MMP9. A produção do NO diminui e provoca vasoconstrição. Normalmente o NO reduz a adesão de monócitos e a migração e proliferação de VSCM, então, estes processos se intensificam na sua ausência. A adesão das moléculs no endotélio é estimulada pelos fatores de risco cardiovasculares, como hipercolesterolemia, hipertensão, componentes da fumaça do cigarro, dieta rica em gorduras poli-insaturadas, diabetes melitus e obesidade. A ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona tem efeito pró-aterogênico. Pois a angiotensina II aumenta a expressão de VCAM 1 e MCP 1. Os monócitos migram para a íntima atraídos pela citocina quimioatraente CCL2 e se transformam em macrófagos residentes, sob influência do interferon-γ, TNF-α, fator estimulador de colônia de granulócitos-macrófagos e MCSF-1. Alguns desses macrófagos produzem citocinas como a IL-1β, IL-6 e TNF-α. Outros expressam scavenger que se tornam ativos na endocitose das LDL oxidadas. Os lipídios entram na camada subendotelial da parede da artéria (íntima). As lipoproteínas remanescentes e LDL são as principais pois são as menores, portanto, sãoas mais aterogênicas. No plasma essas lipoproteínas estão protegidas da oxidação pela vitamina C e o β-caroteno, mas na íntima elas ficam desprotegidas e propensas à oxidação. Assim, os macrófagos se carregam de lipídios oxidados e tomam a aparência de células espumosas. Conglomerados dessas células são encontradas nas paredes arteriais e conhecidas como estrias lipidicas. No processo de morte, as células espumosas liberam lipídios que se juntam na íntima. E esses conglumerados tornam-se centros de placas ateroscleróticas maduras. Amanda Wernke - XXXVII 17 As células musculares lisas vasculares em migração alteram a estrutura da parede vascular. A secreção de fatores de crescimento por células endoteliais e macrófagos ativa as VSMC presentes na média aterial, e sob a influência do PDGF e do TGFβ, as VSMC tivadas também sintetizam matriz extracelular, particularmente colágeno, que se deposita na célula em crescimento. Todo esse processo rompe a estrutura da parede arterial: uma placa recém-formada pode se projetar no lúmen da artéria, obstruindo o fluxo sanguíneo. A inflamação é fundamental para a aterogênese. A saída de monócitos e linfócitos T do plasma e sua ativação na íntima fazem parte da resposta inflamatória. Normalmente essa resposta é iniciada por um antígeno ou trauma. Curiosamente, não foi identificado qualquer antígeno capaz de iniciar a aterogênese. Os antígenos podem ser agentes infecciosos ou moléculas modificadas produzidas por espécies reativas de oxigênio. As LDL oxidadas são antígenos candidatos que podem ser responsáveis pela estimulação inflamatória. A imunidade inata participa da aterogênese pelas moléculas com receptor scavenger A e glicoproteínas de membrana CD36. Já a imunidade adaptativa, as células T predominantemente a CD4 estão presentes nas lesões ateroscleróticas e anticorpos circulantes do tipo IgM e IgG contra LDL modificadas. Há formação também de novos vasos que facilitam a hemorragia dentro da placa. As adipocinas secretadas pelo tecido adiposo também podem contribuir para o ambiente aterogênico. A adiponectina é sensibilizadora da insulina e tem ações anti-inflamatória, então ela diminui triglicerídeos plasmáticos e aumenta a HDL. Na obesidade a produção de adiponectina está diminuida desinibindo os processos pró-aterogênicos. As plaquetas contribuem para a inflamação ao secretar quimiocinas, citocinas, fatores de crescimento e moléculas de adesão. Elas se ligam às células circulantes, e esses aglomerados aumentam a ativação leucocitária, adesão e migração celular. A síntese de prostaglandinas é catalizada pela COX, sendo que a COX1 nas plaquetas é inibida pela aspirina, o que diminui a produção de tromoxano A2 pró-trombótico, sendo respons´´avel pelo efeito cardioprotetor. As prostaglandinas pró-infamatótrias e as prostaglandinas E2 contribuem para o processo inflamatório. Os leucotrienios contribuem para o recrutamento de linfócitos para s lesões ateroscleróticas. A atividade inflamatória desestabiliza a placa, tornando-a propensa a ruptura. Os macrófagos presentes na placa produzem MMPs que degradam a matriz, e as células T secretam IFN e citocinas pró-inflamatórias que induzem os macrófagos a liberar MMPs e inibem a síntese de colágeno pela VSMC, o que enfraquece ainda mais a capa da placa. A trombina continua sendo produzida e a criação de trombos no interior da placa contribui para sua instabilidade e aceleram o crescimento da placa. A formação de um grande trombo na superfície da placa pode obstruir a passagem do sangue e o fornecimento de oxigênio, levando à necrose tecidual. Amanda Wernke - XXXVII 18 Avaliação do risco cardiovascular: é a probabilidade de um evento clínico ocorrer em um prazo de tempo definido. No caso é a probabilidade de uma pessoa sofrer/morrer um infarto ou AVE em um período de tempo definido no futuro. Alguns fatores aumentam esses risco, entre eles, os mais fortemente relacionados, está a concentração de colesterol LDL (relação direta). Enquanto o HDL tem uma relação inversamente proporcional. Amanda Wernke - XXXVII 19 Segundo o Painel Americano de Educação e Tratamento de Colesterol em Adultos, o nível de colesterol desejado é inferior a 5,2 mmol/L (200mg/dL) e o nível ótimo de LDL é inferior a 2,6 mmol/L (100mg/dL). O risco aumenta quando o colesterol total é superior a 5,2 mmol/dL (200mg/dL), parece não haver um valor mínimo para o colesterol do qual o risco se manifeste igual. As concentrações plasmáticas de lipídios são um componente essencial na avaliação do risco cardiovascular. Então a concentração de colesterol deve ser atingida com tratamento deve ser menor em pessoas com maior risco de eventos cardiovasculares, como os que já possuem doença relacionada com aterosclerose, diabetes ou doença renal.Nesses casos recomenda-se uma diminuição do LDL abaixo de 2,6 mmol/L e atpe abaixo de 1,8mmol/L (70 mg/dL). Uma concentração baixa de HDL significa risco aumentado. Uma concentração inferior a 1 mmol/L ou (40mg/dL) em homens e 1,2 mmol/L (77mg/dL) em mulheres. Por outro lado, uma concentração acima de 1,6 parece fornecer lguma proteção contra a doença coronariana. Vale lembrar que o risco associado às concentrações plasmáticas dos “peincipais” lipídios podem ser modificadas por outros fatores, como o aumento plasmático de Lp, fibrinogênio e porteína C-reativa. Os riscos de CVD global é calculado usando calculadores de risco baseados na população. No caso o risco do evento baseado no fator de risco. O cálculo de risco pe a base para medidas preventivas e tratamentos farmacológicos. O mais ulilizado é o algorítimo de Framingham que é baseado na idade, presença de diabetes, tabagismo, pressão arterial sistólica e concentrações de colesterol Amanda Wernke - XXXVII 20 total e HDL. Relaciona-se com a população entre 34 e 74 anos sem doenças cardiovasculares de base e envolve até 12 anos de seguimento. Nesse algorítimo não entra o histórico familiar de doença cardiovascular precoce. Fármacos usados no tratamento de dislipidemias: A prevenção eficaz necessita de uma abordagem que combine modificações no estilo de vida (cessação tabágica, dieta e exercício físico regular) com o tratamento farmacológico de dislipidemia, hipertensão e diabetes. A concentração de LDL pode diminuir em até 15% com dieta consistente pobre em colesterol. Quando as medidas de mudança de estilo de vida não corrigem as alterações, deve-se recorrer ao tratamento farmacológico. Existem diversas classes de fármacos que reduzem a concentração plasmática de colesterol. Amanda Wernke - XXXVII 21 As estatinas, sinvastatina, pravastatina, atorvastatina e a resuvastatina inibem a HMG-Coa redutase (são inibidores competitivos), que é a enzima limitante na síntese de colesterol. As estatinas reduzem primeitamente o LDL plasmático, a diminuição da enzima diminui a concentração intracelular de colesterol. Essa dimunuição, através dos fatores de transcrição SREBP, aumenta a expressão de receptores de LDL na membrana celular. Este aumento leva a uma captação plasmática de colesterol. O tratamento comestatinas reduz o colesterol plasmático em 30-60% e diminui o risco de doenças cardiovasculares futuras em 20-30%. Elas também reduzem os fatores inflamatórios na parede. Os fibratos atuam através dos fatores de transcrição PPARα. Os fibratos são agonistas do fator de transcrição PPARα. Estimulam a atividade de LPL, reduzindo a concentração plasmátoca de triglicerídios e aumentando a concentração de colesterol HDL. Seu efeito sbre o LDL e o colesterol total é menos pronunciado. Amanda Wernke - XXXVII 22 Os inibidores da absorção intestinal se ligam aos ácidos biliares e inibem o transportador de colesterol. Os inibidores de absorção intestinal de colesterol incluem fármacos mais antigos, as resinas de ligação e ácidos biliares, que raramente são usadas atualmente.Essas resinas reduzem as concentrações plasmáticas de colesterol ao interromper a reciclagem de colesterol a partir do intestino e aumentando sua excreção. Um novo farmaco, o ezetimibe, inibe o transportador intestinal de colesterol, a proteína 1 do tipo NPC1L1, na borda da escova intestinal e reduz o colesterol total em até 20%. Os ácidos graxos omega-3 diminuem a concentração plasmática de triglicerídios. Uma redução significariva na concentração plasmática de triglicerídios pode ser atingida por tratamento com ácidos graxos omega-3. Curiosamente, as preparações de óleo de peixe são também antiarrítmicas, particularmente em pacientes que já sofreram infarto do miocárdio. Os antioxidantes ainda estão sendo estudados, como a vitamina E e o probucol, que inibem o desenvolvimento de aterosclerose. Estudos mostram que indivíduos que tomam antioxidantes como a vitamina E, C e o β-caroteno tem menor risco de doenças cardiovasculares, mas estudos clínicos não confirmam o benefício preventivo. Um explicação é que se trata de antioxidantes naturais contidos em frutas ou suas combinações protetoras, e não substâncias puras. Biossíntese do Colesterol e Esteróides (Casos Clínicos Baynes – capítulo 17) Amanda Wernke - XXXVII 23 Amanda Wernke - XXXVII 24 Amanda Wernke - XXXVII 25
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