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Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social III web aula 2 O debate teórico do Serviço Social nas décadas de 1980-1990 e a construção do projeto ético político do Serviço Ssocial brasileiro. Estamos iniciando a webaula 02 da disciplina de Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social III, que nos apresentará conceitos e reflexões no decorrer deste processo de graduação do Serviço Social. Vamos abordar os temas sobre as mudanças ocorridas na contemporaneidade no contexto profissional; contextualizar as principais teses sobre o Serviço Social brasileiro no pós-reconceituação; apresentar o processo de construção do Projeto Ético Político da profissão no Brasil e apontar alguns desafios atuais para a consolidação do Projeto Ético Político. No Brasil, o debate colocado frente à profissão, na relação entre Serviço Social e Política Social, cresceu e aprofundou-se nas últimas décadas do século 20 e no início do século 21. A partir da década de 1980, as mudanças nos sistemas de Proteção Social no Brasil foram acentuadas, principalmente com a mobilização de segmentos da sociedade civil em busca de ampliar e garantir direitos nas diferentes políticas públicas. Com todas as alterações de conjuntura e da significativa produção de conhecimento sobre Política Social, constituiu-se para a categoria profissional uma referência na consolidação do Serviço Social. Iamamoto (2004, p.11) destacou que o serviço Social deve atuar “na transversalidade das múltiplas expressões da questão social, na defesa dos direitos sociais e humanos e das políticas públicas que os materializam”. Com a produção de conhecimento sobre Política Social, em termos de excelência teórico-metodológica, o aprofundamento da discussão dos processos sociais tornaram-se referência para a intervenção profissional. A partir do entendimento do “por que fazer” e do “como fazer”, o conhecimento avançou em direção ao “para que fazer”. As proposições provenientes deste processo constituíram as bases de um projeto profissional para os assistentes sociais brasileiros, indo de encontro com a proposta do Projeto Ético-Político Profissional. Vislumbrou-se um Projeto Ético-político Profissional a partir da equidade e justiça social, assegurando a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e às políticas sociais e também à gestão democrática. O Estado de Direito, em 1985, trouxe um novo rigor à profissão com a Constituição, em 1988, contemplando as lutas pelos direitos sociais e com valores éticos e a garantia da proteção social universal como responsabilidade do Estado. O exercício profissional do Assistente Social, como em épocas anteriores, ocorreu considerando os valores reais, a igualdade no acesso aos direitos, a participação democrática e a proteção universal, com referência do Estado nas políticas sociais. Os assistentes sociais enfrentam alguns desafios com a autonomia e a especificidade profissional para o enfrentamento dos dilemas do debate sobre a prática profissional no Serviço Social e as conjunturas apresentadas. Em 1983 aconteceu o movimento Diretas Já, foi um movimento político e ideológico que movimentou vários setores da sociedade, com a ocupação de ruas contra o regime militar. Com a eleição de Tancredo Neves e José Sarney, foi a expressão de maior oposição burguesa composta por liberais, unidos com a representação civil. Em 1985, Sarney apareceu em uma conjuntura política de ascensão ideológica das reivindicações por democracia. Com a evolução dos direitos de cidadania começavam a surgir benefícios que os trabalhadores podiam receber por meio das políticas de direitos sociais, promovidas pelo Estado e decorrentes da dilatação da cidadania. O Estado, ao estabelecer por meio de leis a garantia dos padrões mínimos de bem-estar social, admite uma ação liberal em relação à pobreza, garantindo condições para participar, mas deixando incólume a estrutura de classes. O mínimo de bem-estar passou a fazer parte da noção mais ampla de cidadania, adjudicando a ela um direito pleno que procurava diminuir a desigualdade entre os cidadãos, tendo como objetivo oferecer os elementos necessários ao bem-estar social. É nas contradições presentes nas lutas de classes que o profissional do serviço social manifesta o direcionamento de suas ações e se faz imperativo estar alerta para o fortalecimento do trabalho frente à relação da produção capitalista. Fonte: Disponível em: No Brasil, a partir da década de 1980, alargou-se um modelo econômico localizado na valorização do capital financeiro, afetando diretamente a população carente, com a carência de políticas sociais efetivas e eficazes. Este foi o modelo neoliberal que reduziu o papel do Estado Brasileiro no enfrentamento das diferentes expressões da questão social e na redução das desigualdades. Na nossa realidade, esses resultados adquiriram características determinadas pelas condições objetivas de um país de industrialização tardia, mas que não se desobriga dos agravos da globalização mundial. Quando as correlações de força se manifestam, devemos observar a relação entre Estado e sociedade perante a ocasião histórico político e econômico. A procura pela emancipação humana, durante toda a trajetória, deu-se através do seu método com referencial social e político, apontando para contextualizar a extensão política de uma sociedade e, em cada modo de produção da história, apontar suas contradições e elucidações das transformações sociais. Segundo Marx, o termo capital constitui uma relação social, sendo que o modo de produção constituiria no capitalismo, chegando do pressuposto de dominação do processo de produção pelo capital não apenas de uma permuta monetária. No conjunto das contradições da sociedade capitalista, com a produção coletiva de riqueza e a retenção do lucro sempre estiveram em poucas mãos, o que lançou, ao longo da história, uma população com necessidades e demandas de sobrevivência, acarretando a produção da pobreza, com baixos salários, mercado de trabalho informal e circunstâncias de subordinação, alienação e exploração. Netto (2001) assegurava que a pobreza não se restringia ao fenômeno do pauperismo, mas sim da inclusão da massa operária na esfera política frente a toda a exploração do trabalho pelo capital, pronunciando que: “[...] a pobreza acentuada e generalizada no primeiro terço do século XIX – o pauperismo – aparecia como nova precisamente porque ela se produzia pelas mesmas condições que propiciavam os supostos, no plano imediato, da sua redução e, no limite, da sua supressão” (NETTO, 2001, p. 43). A questão social, neste contexto, aparece como expressão das contradições sócio-políticas da época, em que os operários realizavam protestos contra as dificuldades e condições de vida, tornando-se intimidação às instituições e forças de poder da burguesia. O significativo avanço da desigualdade social no Brasil ocorreu por causa da grande concentração de renda e vem se acentuando ao longo dos anos, pois a ideologia neoliberal introduziu acontecimentos no cenário atual que dificilmente serão sanados em período curto. Os neoliberais sustentavam a ideia de que a intervenção do Estado seria pouco econômica e pouco produtiva, indicando um processo de falta de estímulo do capital aos investimentos, assim como os trabalhadores a trabalharem. Mudanças ocorreriam a partir da construção de um Estado forte e capaz de garantir a expansão do mercado e da livre economia através da acumulação de capital, privatização, desregulamentação da economia, flexibilização trabalhista, ou seja, da reconstrução do mercado e também da competição edo individualismo. O grande beneficiário da política neoliberal sempre foi a Burguesia Brasileira, sendo intensa a priorização do governo em proteger o capital à custa da exploração do trabalhador e da redução de direitos sociais. Esta conjuntura constitui um campo amplo de desafios para o Serviço Social no dia a dia profissional, especialmente no processo de execução e consolidação da política de assistência social inserida enquanto direito social. O desafio do serviço social vislumbra a ampliação do mercado de trabalho dos assistentes sociais, contando com uma maior legalidade dos serviços sociais na discussão do poder e do agravamento da questão social. A atualização da prática profissional frente aos desafios postos pela conjuntura neoliberal são emergentes, desde o repensar a intervenção profissional e as suas dimensões ético-político, teórico-metodológica e técnico operativa. Um dos desafios mais significativos para o assistente social seria o de tornar o Projeto Ético-Político como uma referência efetiva para o exercício profissional, considerando uma análise politizada de realidade e conjuntura, vislumbrando um posicionamento crítico frente à ofensiva neoliberal que leva a sociedade na busca do aprofundamento das tendências de barbárie, em função das intensas mudanças. Os projetos societários são projetos coletivos e se constituem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade; são projetos de classe, ainda que refratem mais ou menos fortemente determinações de natureza culturais, de gênero, étnicas entre outras. Considerando os principais componentes do projeto ético político profissional do serviço social, destacamos a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social de nº 8.662/1993, que determina as competências e atribuições privativas do assistente social nos artigos 4 e 5 que dispõem sobre o exercício profissional. Também o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais, os Princípios fundamentais, tendo a Liberdade como valor ético central, a Defesa intransigente dos Direitos Humanos, a Cidadania, a Equidade e a Justiça Social. Saiba mais Projeto profissional X Projeto ético político “Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relação com os usuários e seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas” (NETTO, 1999, p. 95). Iamamoto (2002) esclarece que a identidade das equipes profissionais em torno de coordenadas comuns não dilui as particularidades profissionais, visto que o assistente social, mesmo compartilhando o trabalho com os outros profissionais, dispõe de olhares particulares na interpretação dos mesmos processos sociais e de uma competência marcada para a efetivação das ações profissionais. Com o entendimento de enfrentamento das situações de pobreza a partir da politização das pessoas é que se permite refletir sobre a justiça social. Os questionamentos apresentados pela inquietação da categoria estabelecem um reposicionamento profissional frente ao contexto da Ditadura Militar e expedem aos assistentes sociais a uma renovação e novas perspectivas da atuação profissional. O Movimento de Reconceituação apresentou disparidades, como a construção das críticas e questionamentos das diferentes realidades sociais, e as propostas de atuação tradicionais, remetendo no Brasil, a discussão no centro da Ditadura Militar em que a categoria profissional se mobilizou para novas concepções e redefinições da prática profissional. Ao finalizar esta webaula sugerimos a busca de outras leituras e a realização de discussões reflexivas sobre o tema estudado.
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