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1 Laís Cristina 2021.1 ANEMIAS CARÊNCIAIS _____________________________________________________________________ ANEMIA FERROPRIVA Muito comum Problema de saúde pública – países em desenvolvimento; A maioria das doenças pode cursar com anemia; Não é doença/ diagnóstico – outras doenças cursam com a anemia. Indica anormalidade genética ou adquirida. O ferro é um componente essencial na síntese da hemoglobina, mioglobina e participa de muitas reações como na cadeia respiratória. No citocromo é componente essencial. A quantidade total de Fe no individuo adulto é de cerca de 4 g, sendo menor em mulheres; Cerca de 67% do ferro total está presente na hemoglobina. Na dieta habitual é fornecido ao organismo em média 14 mg/dia, porém apenas 1 – 2 mg são absorvidos, ou seja, 5-10% do ferro ingerido É absorvido nas células epiteliais do intestino delgado, particularmente duodeno e jejuno proximal. O ferro é absorvido na membrana apical do enterócito. O ferro precisa ser convertido da forma férrica 3+ para ferrosa 2+ (enzima redutase férrica). Ele entra na célula a partir do receptor DMT1, todos os ions divalentes entram na célula através deste receptor. Pode ser depositado ligado a ferritina ou pode passar pelo citoplasma da célula para ser transportado para fora pela ferroportina. Depois que o ferro é colocado para fora da célula, deve ser reconvertido de ferro ferroso para ferro férrico para ser transportado para os tecidos pela transferrina. 1. Ferritina: Principal proteína responsável pelo armazenamento do ferro no organismo. A concentração sérica de ferritina é diretamente proporcional à concentração de ferro no organismo. Seus níveis variam de 20 – 200 ng/ml. 2. Transferrina (siderofilina): proteína sintetizada pelo fígado responsável pelo transporte do ferro no plasma. 2 Laís Cristina 2021.1 o O ferro absorvido pela mucosa intestinal só é repassado para a transferrina quando o organismo tem necessidade. Enquanto isto, permanece armazenado na ferritina. Caso o organismo não necessite, ele será eliminado, assim, uma das principais vias de eliminação corpórea de ferro é a via fecal. Como o enterócito sabe o momento de repassar o ferro para transferrina ou retê-lo? A hepcidina é uma proteína produzida pelo fígado responsável por essa regulação. Ela tem a capacidade de ligar-se à ferroportina e inibir o transporte do ferro para o plasma. Em situações em que o corpo está necessitando de ferro, a síntese de hepcidina é inibida. Ex: hipóxia Quando há uma boa quantidade de ferro no organismo ou um estado inflamatório, sua síntese é estimulada. A hepcidina é produzida no fígado a partir de estímulos de origem inflamatória com aumento da IL – 6, função de inibir absorção intestinal de ferro com maior retenção de ferro nos macrófagos. PERDA E GANHO CORPORAL DE FERRO O organismo humano não é capaz de eliminar ativamente o ferro já estocado em seu interior. Por isto, pacientes que fazem muita hemotransfusão, se intoxica pelo ferro, desenvolvendo hemocromatose secundária. Quem protege contra uma intoxicação pelo ferro é a mucosa intestinal. Assim, não é possível sofrer intoxicação pelo ferro proveniente da dieta. Todavia, existem doenças que aumentam a absorção intestinal de ferro, como talassemias, anemia sideroblástica e hemocromatose primária (hereditária) TIPOS DE FERRO ALIMENTAR Existem duas formas de ferro absorvido da dieta: A forma heme, encontrada em alimentos de origem animal e a forma não heme, derivada de alimentos de origem vegetal. 3 Laís Cristina 2021.1 A forma heme (30%) é melhor absorvida do que a forma não heme (10%) O heme é liberado das proteínas animais através da ação da pepsina, sendo em seguida absorvido no duodeno. PRINCIPAIS SINTOMAS E SINAIS RELACIONADOS A ANEMIA Astenia, insônia, palpitações, cefaleia Palidez cutaneaomucosa Em pacientes cardiopatas ou pneumopatas, a anemia pode desencadear angina, insuficiência cardíaca, dispneia e rebaixamento da consciência; Glossite Queilite angular Unhas quebradiças e coiloniquia (unhas em colher) Perversão do apetite, vontade de comer alimentos de baixo valor nutricional como amido, gelo, terra (parorexia) PRINCIPAIS FATORES RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA DE FERRO Fisiológico: Crescimento; menstruação, gestação, lactação. Nutricionais: Dieta não balanceada; vegetarianos; desnutridos Patológicos: Perda de sangue; distúrbios de absorção; parasitose; medicamentos (AAS, AINH); gastrectomia; distúrbio da coagulação. Investigar na história: Ciclos menstruais Número de absorventes/mês utilizados pela mulher (> 15 suspeita de aumento do fluxo, > 20 confirmação) Perda de coágulos Perda de sangue noturna Sangramento intestinal Alterações de hábito intestinal – neoplasia de cólon Diarreia, distensão ou desconforto abdominal – doença celíaca; intolerância a lactose (enteropatias que acometem o jejuno proximal e o duodeno) Sangramento Gestações múltiplas (A mulher tem uma perda de ferro elevada por dia, cerca de 4 mg/dia, devido ao aumento da massa de hemácias, perda para o feto e perda sanguínea no parto) Gastrectomia (A gastrectomia subtotal com anastomose a Bilroth II, quando trânsito digestivo bypassa o duodeno, importante sitio de absorção do ferro. A gastrectomia também predispõe à má absorção do ferro devido a hipocloridria pois perde a acidez gástrica necessária para a conversão do ferro férrico em ferroso) Hipertensão portal Vermes causadores de anemia ferropriva: Necatur americanos e Ancylostoma duodenale Uso de aspirina ou anti inflamatório Procurar massas abdominais (miomas, tumores gástricos) Hemorroida é a principal causa em homens e idosos, seguido de ulcera péptica e câncer de cólon. 4 Laís Cristina 2021.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL VCM E HCM baixos RDW aumentados Ferro sérico baixo (obs. pode estar baixo na anemia da doença crônica também) Ferritina baixa (confirma o diagnóstico) Transferrina elevada (organismo tenta captar mais ferro) Receptor solúvel de transferrina (na prática não é um exame disponível) Poiquilocitose (hemácias de diferentes formas) VALORES REFERÊNCIA Ferro sérico: 60 – 150 mcg/dl Transferrina sérica: 200 – 400 mg/dl Ferritina sérica: 20 – 200 ng/ml DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Talassemia Anemia de doença crônica INVESTIGAÇÃO DE CAUSAS Origem do sangramento Endoscopia e colonoscopia ou enema opaco: tumores TGI, úlcera duodenal e gástricas, angiodisplasia, colite, divertículos. Capsula endoscópica: investigação do intestino delgado. TRATAMENTO Identificar as causas Orientação nutricional Reposição de ferro o Via oral preferencialmente; Uma vez ao dia antes da refeição (o PH ácido do estomago é importante para a absorção do ferro) Consumo de carnes em geral (principal fonte de ferro) Utilização de sais ferrosos o Suco de fruta com vitamina C o Não misturar leite ou chá na mesma refeição 5 Laís Cristina 2021.1 o Evitar chocolate como sobremesa o Evitar cereais integrais FASES E DURAÇÃO DO TRATAMENTO 1ª FASE – correção da anemia ( 1 a 3 meses) 2ª FASE – reposição dos estoques de ferro (2 – 8 meses) 100 – 200 mg de ferro elementar ao dia em 2 a 3 tomadas ( 3 a 4 comprimidos da rede básica) Por 4 – 6 meses após normalização do hemograma Aumento do reticulócitos em 7 – 10 dias Normalização do hemograma em 2 – 3 meses Uso de ferro parenteral: sem resposta ou intolerantes ao ferro oral (sacarato de hidróxido de ferro e carboximaltose) CAUSAS DE FALHA NO TRATAMENTO Continuidade da perda de sangue Medicamento usado inadequadamente Dose coexistente (doença inflamatória/infecciosa) Diagnóstico incorreto (ADC, doença renal) Deficiências nutricionais combinadas _____________________________________________________________________ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Distúrbio ocasionado por bloqueio na síntese do DNA, que se caracteriza por um estado em que a divisão celular se torna mais lenta, a despeito do crescimento citoplasmático. Ocorre uma anormalidade morfológica nos núcleos dos progenitores eritroides no interior da MO. Os eritroblastos que desenvolvem essa alteração nuclear são chamados de megaloblastos. Estes megaloblastos são reconhecidos como células defeituosas pelos macrófagos da MO, e sendo destruídos no interior da própria medula, caracterizando o fenômeno de eritropoiese ineficaz. Carência de B12 e ácido fólico – frequente em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos; Termo anemia é impróprio – alterações em outras linhagens hematopoeticas e outros tecidos. Cursam com macrocitose (VCM > 100 fl) 6 Laís Cristina 2021.1 Distúrbios da produção de DNA: interferência na proliferação celular Levam a assincronismo na maturação e na divisão celulares INTERRELAÇÕES METABÓLICAS ENTRE VITAMINA B12 E FOLATOS A vitamina B12 é necessária para a manutenção do folato no meio intracelular através da conversão do monoglutamato em poliglutamato Para a síntese de RNA não é necessário a formação do aminoácido timidina, mas para a síntese de DNA sim. A vitamina B12 atua como cofator na conversão da homocisteína em metionina. A síntese do RNA continua ocorrendo no citoplasma, assim, a célula fica sem sincronismo de maturação. Assim, muitas vezes essas células são destruídas dentro da MO. ÁCIDO FÓLICO Principais fontes: vegetais frescos (mais importante), fígado, aveia e algumas frutas Necessidade mínima diária de 50-200 mg Durante a gravidez, hemólise ou lactação necessita aumentar para 200 – 800 mg. Absorvido no duodeno e jejuno proximal através das enzimas chamadas carboxipeptidases O folato é reservado no fígado, secretado pela bile para ser reabsorvido no jejuno (ciclo entero – hepático), e excretado pela urina O estoque de folato dura pouco (como maioria das vitaminas hidrossolúveis) Os sinais clínicos iniciam-se cerca de 4 – 5 meses após início das perdas VITAMINA B12 (COBALAMINA) Não são encontradas em plantas, apenas em compostos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios. A necessidade mínima diária é de 2,5 mg/dia (2,5 unidades/dia) 7 Laís Cristina 2021.1 Seu estoque corporal é duradouro, caso sua absorção esteja prejudicada, são necessários 3 – 6 anos para haver sinais clínicos. E 10 – 15 anos para sinais clínicos devido a dieta pobre em cobalamina. Devido sua alta disponibilidade em alimentos de origem animal, sua principal causa de redução é devido a problemas absortivos. A ação do ácido clorídrico e da pepsina no estômago são fundamentais para a separação da vitamina B12 da proteína. No estômago, a vitamina B12 liga-se ao fator intrínseco produzido pelas células parietais do fundo e corpo gástrico, sendo resistentes à degradação proteolítica, prossegue até o íleo distal onde serão absorvidos. O fator intrínseco serve para evitar a degradação da vitamina B12 e guia-la até o local de absorção. PRINCIPAIS CAUSAS Deficiência de B12 Veganismo (deficiência na ingestão) Gastrectomia (problema na produção do fator intrínseco e acloridria) Idosos com atrofia gástrica Pancreatite crônica Anemia perniciosa (individuo produz anticorpo anti célula parietal ou fator intrínseco) Metformina Bactérias jejunais Deficiência de folato Dieta inadequada Dialise Gravidez Anticonvulsivantes e barbitúricos Álcool (por ter alto valor calórico, o alcoolatra geralmente consome pouco alimento, além disto, o álcool dificulta a absorção e recirculação do folato através do ciclo entero hepático) Síndromes desabsortivas no jejuno proximal como doença celíaca e espru tropical Doenças crônicas predispõem à carência de ácido fólico por aumentarem a utilização desta vitamina. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Tríade clássica: fraqueza, dor na língua e parestesias (reduz da mielinização dos nervos) Manifestações hematológicas: proporcionais à intensidade da anemia. Astenia Anemia, leucopenia e plaquetopenia; Reticulócitos normais ou baixos Alterações citomorfológicas no sangue e na MO Alterações em epitélios: glossite, queilite angular, diarreia. Esplenomegalia Hiperpigmentação da pele 8 Laís Cristina 2021.1 Infertilidade (devido a síntese de DNA inadequada comprometendo a formação das células endometriais) Manifestações neurológicas: degeneração do cordão posterior da medula espinhal Parestesias em pés Comprometimento de pernas e tronco Distúrbios motores Redução da sensibilidade vibratória (mais precoce) Quadros avançados: sensibilidade postural, marcha atáxica e sinal de Romberg. Deficiência de folatos está associada a defeitos do tubo neural em crianças e doenças vasculares e câncer em adultos. Manifestações psiquiátricas: folato associado a depressão; . Vitamina B12: déficit de memória, disfunção cognitiva e demência. Hoje pouco comuns são alucinações, paranoias, esquizofrenia. Existe uma relação inversa entre o quadro neurológico e a anemia (quando a anemia é muito predominante, o quadro neurológico é menor) OBS. APENAS REDUÇÃO DA VITAMINA B12 ASSOCIA-SE A SINTOMAS NEUROLÓGICOS. DIAGNÓSTICO Quadro clínico: hematológico, neurológico, TGI e psiquiátrico Duração dos sintomas Doenças autoimunes: anemia perniciosa Exame físico: palidez, icterícia, hiperpigmentação das dobras da pele e leitos ungueais, sinais de ICC. Alterações no sangue periférico: anemia macrocitica, leucopenia, plaquetopenia, reticulócitos normais ou baixos; Alterações na MO: hipercelular, hiperplasia eritróide, eritroblastos volumosos, metamielócitos grandes, ferro medular aumentado, sideroblastos. Aumento da bilirrubina; LDH Folato sérico: pode ter resultados falso positivos e falso negativos Vitamina B12: valores de normalidade muito amplos, sensibilidade limitada Pesquisa de metabólicos: homocisteína e ácido metilmalônico – alto custos O organismo possui estoque de ácido fólico de 3-4 meses (parecido com o ferro), enquanto a vitamina B12 tem estoque para 4-5 anos. Assim, sintomas precoces podem indicar mais deficiência de folatos que de vitamina B12. Quais alterações no sangue periférico mais sugere anemia megaloblástica? Além da macrocitose, há a hipersegmentação do núcleo dos neutrófilos – como a alteração básica da anemia megaloblástica é nuclear e nem as hemácias, nem 9 Laís Cristina 2021.1 as plaquetas tem núcleos, no sangue periférico o melhor achado são estes neutrófilos. Neutrófilos hipersegmentados – quase patognomônico da anemia megaloblástica TESTES DIAGNÓSTICOS ADICIONAIS Endoscopia digestiva alta Pesquisa de anticorpos anti célula parietal e antifator intrinseco Teste de Schilling – em desuso (dose de vitamina B12 marcado com dose radioativa) TRATAMENTO Carência de B12: anemia perniciosa o tratamento será por toda a vida 1 mg diário, intramuscular, por 2 semanas 1 mg semanal ate normalização do quadro hematológico 1 mg mensal Deficiência de folato: correção da dieta e evitar cozimento exagerado dos alimentos Comprimidos de 5 mg/dia Se piora sintomas neurológicos atenção para deficiência de B12 não diagnosticada Tratamento continuado em pacientes com anemias hemolíticas crônicas e em diálise. 10 Laís Cristina 2021.1 CAUSAS DE FALHA NO TRATAMENTO Erro diagnóstico (mielodisplasia provoca quadro parecido) Associação com deficiência de ferro Associação com hemoglobinopatia Associação com anemia de doença crônica INDICAÇÃO DE PROFILAXIA Crianças com mães com anemia perniciosa Lactentes sem aleitamento materno e com intolerância a leite de vaca o Dose recomendada de 50 micrograma/dia Vegetarianos Gastrectomia O folato deve ser usado em todas as mulheres pré/durante a gravidez. o A dose recomendada é de 400 microgramas/ dia de folato, não se deve ultrapassar a dosagem de 1 mg/dia, pois esta quantidade pode mascarar uma deficiência de B12. Paciente em tratamento de psoríase reumatoide. TESTES TERAPEUTICOS Realizado quando há dúvida diagnóstica Quadros multifatorias como álcool, quadros graves que não permitem esperar exames Não se dispões de exames Ocorre melhora rápida com pico de reticulócitos e queda dos níveis de LDH. Avaliação da MO se não há respostas.
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