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Resenha do texto: Discutindo a reforma das polícias no Brasil (Cláudio Beato Filho e Ludmila Ribeiro)

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Universidade de Brasília  
Período: 0 / 2019
Joana Carolina de Paula Silveira de Matos     15/0038038  
    
Rexto: Discutindo a reforma das polícias no Brasil
Tem se discutido a dificuldade em se criar mecanismos eficazes de controle na atividade policial. No texto de Cláudio Beato Filho e Ludmila Ribeiro, os autores analisam propostas de reforma a modo de pensar as possibilidades de mudança de modelo. Publicado em 2016 trouxe uma temática já fortemente discutida no ano anterior dentro da Câmara dos deputados, que era qual a melhor forma a se adotar se tratando de uma atuação mais eficiente e questionando também a viabilidade de adotar um ciclo completo. Neste modelo uma mesma instituição é responsável pelo processo investigativo. 
Os modelos de manutenção de ordem e mecanismos de controle merecem uma atenção especial por serem importantes na compreensão de como a socialização está acontecendo. O fenômeno da violência faz com que cada vez mais se busque entender como se chegou a este estado e como se pode resolver a crise de segurança em que nos encontramos. Este texto é um entre os que apontam os erros e possíveis soluções. 
Os autores apontam três argumentos para explicar a necessidade destas reformas, que seriam a segmentação das atividades e subnotificação dos delitos, a discricionariedade das polícias nas investigações e a ausência da credibilidade dos policiais na nossa sociedade. Argumentam também que adotar um ciclo completo não é capaz de resolver o problema e argumentam também que as mudanças de práticas podem ser progressivas, então o ciclo completo não deveria ser a única alternativa. A intenção no texto é apresentar algumas alternativas de curto, médio e longo prazo. Usam os termos “fraturas horizontais”, “fraturas verticais” e “ fratura de legitimidade”. 
Em um país com 27 polícias militares e 27 polícias civis como instituições responsáveis pelo controle do crime, sendo de ciclo incompleto, e ainda uma Polícia federal de ciclo completo. Um dos pontos trazidos pelos autores é há uma debilidade na articulação entre os órgãos de justiça e que não se há um “critério de racionalidade técnica” (p,180). A quantidade de resolução e esclarecimento de crimes graves acaba sendo muito baixa e isso causa descredibilidade. Muitas das tarefas não são concluídas. O processo é longo e feito por organizações que pouco se comunicam, então da prática do crime até a responsabilização há várias etapas e não há cooperação entre quem é responsável por cada fase. 
Outro aspecto importante de ser levantado é como ocorrem os procedimentos e da construção de verdades. A legalidade dos documentos produzidos, o método de se obter relatos e a forma que se interpreta as falas dos indivíduos nos registros de testemunhos são coisas importantes a serem observadas pela sua relevância dentro dos processos e pela sua legitimidade. A forma de obtenção dessas falas não pode e não deve ter sido fruto de tortura ou outras ilegalidades. Isto cria as tais fraturas verticais, que além de levarem muito tempo, contribuem com a impunidade. 
Esta demora e ineficiência abaixam o grau de confiança da população na polícia e faz com que diminuam as ocorrências também. A polícia é uma instituição importante e que em nome do Estado possui o uso legítimo da força, mas sua forma de atuação faz com que a população questione esse monopólio e não creia que eles possam solucionar as questões de criminalidade. A taxa de vitimização da população deixa clara essa descrença. Em alguns locais inclusive se possui medo da própria violência vinda da polícia, que em teoria deveria proteger os cidadãos. Surgem em alguns meios demandas por segurança privada ou até mesmo demanda por penas mais rigorosas, ignorando por vezes os direitos humanos. 
Fica claro que uma mudança é necessária, mas são raras as reformas no âmbito das polícias. Geralmente só se modifica e reestrutura questões de justiça em momentos de crises institucionais graves. A corrupção sistêmica e a cultura dentro das polícias são aspectos centrais dentro das reformas, sendo necessária mais transparência e denúncias de desvios destes profissionais. Utilizando outros países da América Latina os autores usam exemplos de reformas que tocavam nestes pontos. A prevenção e o controle da criminalidade aparecem como pontos centrais, assim como a valorização das polícias, mudando a visão do cidadão quanto a eles. 
Como mudanças sugestão de mudanças surgem pautas como a unificação, desmilitarização, formação integrada, aumento da participação da população, universidades, etc. Seria importante um foco em prevenção, não na repressão, apesar de esta ser uma ferramenta comum de controle. A habilidade de resolver problemas e um caráter mais humanitário poderia ser útil para o aumento da eficácia e na construção de uma sociedade mais segura, mas a cultura dos policiais brasileiros segue com um caráter mais reativo. Índices como apreensão de armas e número de prisões são valorizados mesmo com os níveis de criminalidade seguindo altos. Poderia fazer parte da solução uma formação mais adequada e voltada para os direitos humanos. 
O texto cita também o saber prático, que molda a rotina de serviços destes policiais, que por sua vez precisam de mecanismos melhores de avaliação e de outros índices de eficácia. Os crimes praticados pelos próprios policiais deveriam ser tratados com mais rigor. Uma mudança estrutural é precisa e deve seguir critérios de racionalidade, visando uma aproximação com a comunidade. 
Num contexto de desigualdade e de racismo dentro de uma população é de extrema importância questionar quem controla e quem regula, assim como para que fins e com quais meios. Quando uma instituição que representa tanto é descredibilizada precisamos entender por que ainda não foram feitas mudanças. Uma possível reflexão é que esta atuação está funcionando para alguém e que há algum interesse em que as estruturas permaneçam como estão. Estudam-se várias possíveis reformas, como no texto citado, mas seguimos sem aplicar várias delas. Há propostas de alto, baixo e médio impacto, propostas factíveis. 
A formação que os policiais têm não é casual nem é o processo de sujeição criminal, então para quem estaria atuando esta polícia senão para as demandas da população? Pra que se demora tanto tempo até que haja as reformas? O problema está enraizado em vários níveis, desde uma sociabilidade violenta até os modos de controlar por meio da repressão. A sensação de impunidade transpassada pela ineficiência do sistema de justiça também encoraja o surgimento de “justiceiros” ou até mesmo de uma legitimização do controle vindo por facções. 
Lima e Sinhoretto (2015) enfatizam que no Brasil houveram mudanças sociais e econômicas que nem o Judiciário e nem as polícias conseguiram acompanhar. As “deficiências do modelo” causam disputas corporativistas e nesta conjuntura de colapso a própria democracia é afetada. Seguem morrendo policiais, “bandidos” e “cidadãos de bem” enquanto ocorrem estes debates urgentes. Neste texto já se fala de políticas de segurança pública num sentido mais amplo, não apenas da atuação da polícia, mas é relevante refletir como há uma crise abrangente. A população como um todo deveria também estar engajada e pensando, participando das tomadas de decisão e conselhos, pois segurança pública é responsabilidade de todos apesar de a polícia ser o braço armado do Estado e que está legitimidade seja importante. 
As noções de justiça de senso comum se diferencia dentro das classes sociais assim como o tratamento que eles recebem diante dessa justiça, então um conhecimento acerca do funcionamento e dos processos é fundamental. Um exemplo desse desconhecimento e da busca por soluções rápidas e não racionalizadas é que parte da população definiu seus votos na eleição de 2018 baseando-se numa proposta de facilitar o armamento da população por não acharem que a atuação da polícia tem bastado e pelo sentimento de vitimização que foi alimentado. 
 Referências
BEATO FILHO, C. C; RIBEIRO, L. Discutindo a reformadas polícias no Brasil. Civitas, Porto Alegre, v.16, n.4, p 56-68, 2016 
LIMA, R; SINHORETTO, J.; BUENO, S. A gestão da vida e da segurança pública no Brasil. Sociedade e Estado (UnB. Impresso), v. 30, p. 123-144, 2015.

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