Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Para a área da Segurança Pública, as situações críticas e os conflitos necessitam de atenção especial do operador, seja pela imprevisibilidade e risco iminente à vida humana que as crises policiais proporcionam, seja pelo número de envolvidos ou diferentes motivações que os conflitos possam abranger. Por isso, os responsáveis pelo processo necessitam escolher os métodos adequados e estar inteiramente focados na resolução do problema. Negociação e gestão de conflitos de segurança é uma obra que apresenta técnicas úteis às instituições policiais e de Segurança Pública para melhor enfrentar essas demandas. Nesse sentido, o leitor é convidado a imergir no tema, estudando conceitos, características e elementos fundamentais do gerenciamento de crises. Marco Antonio da Silva Otávio Lúcio Roncaglio M arco A ntonio da Silva | O távio Lúcio Roncaglio NEGOCIAÇÃO E GESTÃO DE CONFLITOS DE SEGURANÇA Código Logístico 59171 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6581-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 8 1 3 Negociação e gestão de conflitos de segurança Marco Antonio da Silva Otávio Lúcio Roncaglio IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Dan Kosmayer/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S581n Silva, Marco Antonio da Negociação e gestão de conflitos de segurança / Marco Antonio da Silva, Otávio Lúcio Roncaglio. - 1. ed. - Curitiba [PR]: IESDE, 2020. 94 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6581-3 1. Administração de conflitos. 2. Mediação. 3. Negociação. I. Roncaglio, Otávio Lúcio. II. Título. 19-61588 CDU: 347.925 Marco Antonio da Silva Otávio Lúcio Roncaglio Pós-graduado em Psicologia Jurídica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e em Saúde Mental pela Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (UCDB-MS). Graduado em História pelas Faculdades Integradas Espírita (FIES) e Psicologia pela PUCPR. Oficial superior da Polícia Militar do Paraná (PMPR). Atuou durante 11 anos como integrante da Equipe de Negociação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e participou diretamente do atendimento de inúmeras ocorrências críticas. Especializou-se em gerenciamento de crises e negociação em crises em diversas corporações policiais brasileiras e no exterior. É professor das disciplinas relacionadas às crises na Academia Policial Militar do Guatupê, nos cursos de bombeiros militares e, também, em órgãos da área de segurança. Especialista em Gestão Pública pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR) e em Segurança Pública pela Faculdade São Braz (FSB). Bacharel em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Oficial da Polícia Militar do Paraná (PMPR). Especializou- -se em negociação em crises, gerenciamento de crises e controle de distúrbios civis, realizando diversos cursos nas áreas, inclusive em outros países. Atualmente é comandante da Equipe de Negociação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). É instrutor na Academia Policial Militar do Guatupê das disciplinas relacionadas ao gerenciamento de crises. Também atua como docente e palestrante em órgãos públicos estaduais. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Noções de gerenciamento de crises 9 1.1 Definições essenciais da doutrina de gerenciamento de crises 9 1.2 Aspectos doutrinários do processo de gerenciamento de crises 16 1.3 Tipos de crises e de causadores do evento crítico 22 1.4 Alternativas táticas do gerenciamento de crises 30 2 Aspectos doutrinários da negociação policial 35 2.1 Características da negociação 35 2.2 Objetivos e vantagens da negociação 39 2.3 O negociador e a equipe de negociação 43 2.4 Fases do processo e tipos de negociação 47 3 Comunicação e negociação 55 3.1 Requisitos para a comunicação 55 3.2 Rapport 58 3.3 Barreiras à comunicação e formas de contato 65 4 Gestão de conflitos 76 4.1 Características dos conflitos 76 4.2 Métodos de gestão de conflitos 85 4.3 O profissional de Segurança Pública no manejo de conflitos 91 Resolver crises e conflitos não é tarefa fácil. Passamos a vida lidando diariamente com situações conflituosas, tentando encontrar a melhor maneira de administrá-las de acordo com as expectativas que possuímos em relação ao assunto implicado. No entanto, para a área da Segurança Pública, as situações críticas e os conflitos necessitam de atenção especial do operador, seja pela imprevisibilidade e risco iminente à vida humana que as crises policiais proporcionam, seja pelo número de envolvidos ou diferentes motivações que os conflitos possam envolver. Por isso, os envolvidos no processo necessitam escolher os métodos adequados e estar inteiramente focados na resolução do problema. Negociação e gestão de conflitos de segurança é uma obra que apresenta técnicas que as instituições policiais e de Segurança Pública podem usar para melhor enfrentar essas questões. Nesse sentido, convidamos você a imergir no tema, estudando conceitos, características e elementos fundamentais do gerenciamento de crises. Você vai conhecer a figura do negociador policial, bem como os aspectos doutrinários da negociação em crises e seus objetivos, perpassando pelos requisitos de comunicação e pelas dificuldades e barreiras que possam surgir no processo, descobrindo as formas adequadas de manejo e gestão de conflitos. Com o intuito de apenas introduzir o conteúdo, que é vasto e interessante, a obra procura instigá-lo a buscar mais conhecimentos sobre o tema e formular suas próprias questões. Além disso, você será desafiado a responder às atividades que integram e aplicam os assuntos estudados em cada capítulo, o que proporciona um estudo mais aprofundado. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Noções de gerenciamento de crises 9 Neste capítulo apresentaremos algumas noções básicas relativas ao processo de gerenciamento de crises policiais, no qual a atividade de negociação está inserida. É fundamental conhecer os principais conceitos e aspectos relacionados à doutrina de gerenciamento de crises antes da entrada no estudo aprofundado da negociação voltada para a área policial. Como foco principal deste capítulo, você verá, além do estudo das principais definições relacionadas ao assunto, as ocorrências qualificadas como críticas e os tipos de causadores do evento crítico. Outro ponto importante será o estudo das alternativas táticas do gerenciamento de crises, que são importantes ferramentas para a resolução de todo o processo. 1.1 Definições essenciais da doutrina de gerenciamento de crises Vídeo O processo denominado gerenciamento de crises policiais é bastante complexo. Assim, para sua compreensão, é fundamental entender as definições dos principais termos e itens que fazem parte desse contex- to. Há muitos aspectos que integram o processo desde seu princípio, nos anos 1970, nos Estados Unidos. O entendimento claro dos significados de cada termo que compõe o processo dará aos responsáveis pelo gerenciamento do evento crítico condições de conduzi-lo a um desfecho adequado com os meios técni- cos disponíveis. Já a falta de conhecimento desses aspectos poderá gerar Noções de gerenciamento de crises 1 10 Negociação egestão de conflitos de segurança dificuldades e dúvidas durante o atendimento da situação, conduzindo a crise para um eventual desfecho trágico. Para tanto, serão definidos os seguintes termos atrelados à doutri- na: crise policial, gerenciamento de crises, ponto crítico, causador do even- to crítico, refém, vítima e intermediário. 1.1.1 Crise policial A doutrina policial se apropriou da palavra crise para denominar o tipo de ocorrência mais complicada que integra o rol de fatos que tem o dever legal de administrar. É oriunda do latim crisis e do grego krísis, que, entre seus muitos significados, prevalecem para esse contexto, conforme o dicionário on-line Michaelis, os seguintes: “conjuntura des- favorável; situação anormal e grave; conflito, tensão, transtorno” (TRE- VISAN, 2015). De acordo com Salignac (2011, p. 21), o FBI (Federal Bureau of Investigation 1 1 Em português a sigla significa Departamento Federal de Investigação. É uma agência po- licial federal norte-americana, controlada administrativamente pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. ) definiu crise policial como “um evento ou situação crucial, que exige uma resposta especial da Polícia, a fim de assegurar uma solução aceitável”. Esse conceito, estabelecido no princípio dos estudos sobre gerenciamento de crises (GC), ainda é bastante direto e necessário. Analisando cada parte desse conceito, entendemos que “situação crucial” remete a algo perigoso em que há risco de morte aos envolvidos na ocorrência. Já a “resposta especial” da corporação policial envolvida estabelece que os recursos aplicados para a resolução da crise devem partir de grupos policiais especializados, ou seja, treinados e aparelhados para o cumprimento da missão, após as ações técnicas desenvolvidas pelos policiais que primeiro se depararam com o evento crítico. E a atribuição, como se vê, é de exclusividade da corporação policial com responsabilidade territorial na área em que está ocorrendo o fato, não podendo, de modo algum, ser transferida para outros segmentos da sociedade, como político, religioso, imprensa etc. Por fim, a “solução aceitável” indica que a Noções de gerenciamento de crises 11 busca pelo resultado adequado é a tônica do trabalho dos policiais envolvidos na ocorrência. 1.1.2 Gerenciamento de crises (GC) É o processo estabelecido para possibilitar o atendimento das ocor- rências policiais críticas, de maneira técnica e integrada por parte de todos os responsáveis pelas ações, visando à resolução aceitável. Salignac (2011, p. 23) menciona que o FBI conceitua GC como “o processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessários à an- tecipação, prevenção e resolução de uma crise”. Esse conceito traduz a complexidade do processo de GC, que não se encerra no momento da resolução do fato. Corroborando com essa ideia, Silva (2016a, p. 65) define gerenciamento de crises policiais como: um sistema amplo, que congrega diversos atores, funções e etapas e estabelece as diretrizes gerais para o atendimento das ocorrências qualificadas como críticas. O foco primordial desse processo sistemático é conduzir a crise ao encerramento ade- quado por meio de um trabalho conjunto e harmonioso de todos os envolvidos, com a utilização de procedimentos técnicos e am- parados pelos ditames legais. O entendimento desse processo, bem como de todas as suas carac- terísticas e especificidades, é fundamental para o desenvolvimento de um trabalho técnico e integrado na busca incessante pela preservação das vidas ameaçadas envolvidas. A gestão de todo o processo de GC é executada por dois elementos essenciais: o gerente da crise e o comandante do Teatro de Opera- ções (cmt. TO). O primeiro, autoridade policial com responsabilidade territorial sobre o local onde ocorre o evento crítico, tem o poder de decisão sobre as ações a serem implementadas. Já o cmt. TO é a figura operacional no processo, responsável pela gestão de todos os recursos humanos e materiais envolvidos no processo. Além disso, com o asses- soramento dos operadores especializados (Equipe de Negociação, Gru- po de Intervenção e Grupo de Atiradores de Precisão Policial), planeja De acordo com o dicionário on-line Michaelis, doutrina é a “instrução ou conhecimento que se adquire por meio de estudo e leitura; erudição, sabedoria, saber” (TREVISAN, 2015). Segundo Valla (2012, p. 3), para a atividade policial militar, dou- trina é “um conjunto de valores, princípios gerais, características, conceitos básicos, concepções táticas, leis, normas, diretrizes, técnicas e processos que tem por finalidade estabelecer as bases para a organização, o preparo e o emprego uniforme das Polícias Militares na preser- vação da ordem pública e nas missões decorrentes da situação de forças auxiliares e reserva do Exército, no âmbito dos respecti- vos estados-membros”. Saiba mais+ 12 Negociação e gestão de conflitos de segurança as ações a serem tomadas no contexto da crise. Por isso, é importante que essa função recaia no comandante das tropas responsáveis pelo apoio especializado na crise. 1.1.3 Primeira intervenção em crises (PIC) Uma das fases do processo de gerenciamento de crises, a PIC “é o conjunto de ações técnicas a ser aplicado pelo policial militar ou equipe de policiais militares que primeiro se deparam com ocorrências críti- cas em andamento” (SILVA, 2016b, p. 57). A doutrina da PIC estabelece procedimentos essenciais para a minimização dos riscos inerentes ao início de toda crise policial e auxilia no processo de seu gerenciamento como um todo. Outras forças de segurança também podem se apro- priar e aplicar as técnicas, que são traduzidas em dez passos (medidas), devidamente funcionais e garantidores da segurança de todos os en- volvidos no processo. De acordo com a doutrina, os dez passos técnicos de primeira inter- venção são: 1) localizar o ponto crítico; 2) conter a crise; 3) isolar a crise; 4) estabelecer contato sem concessões; 5) solicitar apoio de área, incluindo equipes de socorro médico; 6) coletar informações; 7) diminuir o estresse da situação; 8) permanecer em local seguro; 9) manter terceiros afastados; e 10) acionar as equipes especializadas. 1.1.4 Ponto crítico É o local onde se estabeleceu a ocorrência crítica, ou seja, onde o causador do evento crítico (CEC) se encontra, sozinho ou man- Noções de gerenciamento de crises 13 tendo vítimas ou reféns sob ameaça. Para Silva (2016b), é todo o espaço físico controlado pelo CEC, ao qual ele tem acesso e pode modificar sua estrutura. O ponto crítico é a base de todo o processo de gerenciamento de cri- ses, considerando que toda a sua estrutura será montada a partir des- se local. Todos os agentes envolvidos estarão focados no lugar onde as vidas estarão em risco. Com base nessa análise, o conhecimento sobre aspectos estruturais do ponto crítico traz uma enorme vantagem para as autoridades policiais envolvidas. Outro aspecto importante a considerar é que em qualquer lugar pode ocorrer um evento crítico, por exemplo, uma casa, um quarto, um carro, um ônibus, a galeria de uma penitenciária, um avião, um lo- cal aberto, como o meio de uma rua etc. Quanto maior o ponto crítico, maior é a dificuldade para o gerenciamento da crise, na medida em que apresenta desafios às equipes especializadas durante o desenvol- vimento de suas ações. 1.1.5 Causador do evento crítico (CEC) É a denominação técnica dada a toda pessoa que causa um evento crítico, ou seja, sua conduta inicia uma ocorrência qualificada como crí- tica pela doutrina. Identificando o causador, os responsáveis pelo ge- renciamento da crise terão condições de aplicar as medidas adequadas para a resolução da ocorrência da melhor forma possível. Sobre o que conduz a pessoa a ser a geradora de uma crise, Silva (2016b, p. 40) esclarece que a motivação pode ser a mais variada pos- sível, citando como exemplos manter reféns após crimesfrustrados ou para conseguir dinheiro, como no caso da extorsão mediante seques- tro; ameaçar vítimas por questões emocionais ou vingança; agir por algum tipo de perturbação mental ou de cunho terrorista; ou, ainda, tentar cometer suicídio. Basicamente, há quatro tipos de causadores do evento crítico, consi- derando uma evolução recente da doutrina: criminosos, mentalmen- te perturbados, terroristas e presos rebelados, acrescentado pelos doutrinadores. Anteriormente, os presos rebelados estavam inseridos no tipo criminoso, entretanto, possuem características peculiares que 14 Negociação e gestão de conflitos de segurança os diferenciam dos CEC criminosos, que causam crises fora do sistema prisional. Na Seção 1.3.2.2, falaremos especificamente de cada um dos tipos de causadores do evento crítico. 1.1.6 Refém É a pessoa ameaçada e que representa importantes garantias para o causador da crise, entre elas sua vida, sua integridade física, sua liber- dade, além de outros benefícios que surjam durante o gerenciamento do evento. Assim, podemos dizer que o refém pode ser considerado “como um ‘objeto de troca’ para o CEC, e, portanto, é negociável, ou en- tão, ‘trocável’ por outro objeto ou pelo cumprimento de uma exigência sua” (SILVA, 2016b, p. 42). Quanto aos tipos de reféns, a doutrina esta- belece dois: o refém tomado e o refém sequestrado. O refém tomado é aquele capturado pelo causador, geralmente de modo aleatório e no momento do cometimento de um delito frustrado pela ação policial. Um exemplo desse tipo de refém é um criminoso que invade uma lotérica para cometer um roubo e na saída se depara com uma equipe de policiais militares. Visando garantir sua vida e inte- gridade física, o criminoso apanha a pessoa mais próxima e, com uma arma apontada para a cabeça dessa pessoa, exige que os policiais não se aproximem. Nesse caso, o ponto crítico é conhecido. Por outro lado, o refém sequestrado se encontra em local des- conhecido, considerando seu envolvimento em crime de extorsão mediante sequestro. Por exemplo, nesse tipo de ocorrência, crimi- nosos capturam uma pessoa de excelente condição financeira e a le- vam para um cativeiro, exigindo da família dinheiro para a liberação do sequestrado. Tal exigência é chamada de resgate e os policiais precisam investigar o caso para localizar o ponto crítico e libertar a pessoa ameaçada. 1.1.7 Vítima Diferentemente do refém, a vítima está envolvida na ocorrência por questões emocionais, vingança ou em decorrência de transtornos mentais apresentados pelo CEC, conforme esclarece Silva (2016b). Ape- sar da similaridade das ocorrências, ou seja, tanto vítimas quando re- féns são ameaçados pelo CEC, as condições de origem do evento é que os diferenciam. Noções de gerenciamento de crises 15 Salignac (2011) estabeleceu essa diferenciação, salientando que as vítimas são pessoas capturadas e que não têm valor para os causado- res, sendo, antes de tudo, objeto de seu ódio. Conhecer tais diferenças é fundamental para o processo de gerenciamento, pois identificar a pessoa como sendo uma vítima no ponto crítico muda radicalmente os rumos técnicos e táticos de uma negociação. Percebemos, portanto, que vítimas correm mais riscos na crise do que reféns, considerando seu envolvimento passional com o CEC e as tendências vingativas dele. Além disso, causadores que capturam víti- mas são suicidas em potencial, o que manifesta seu alto grau de com- prometimento mental e aumenta o risco para todos no ambiente. 1.1.8 Intermediário No contexto do gerenciamento de uma crise policial, o intermediário é aquela pessoa, escolhida e orientada pelos negociadores, que faz contato verbal com o causador da crise, auxiliando no processo de resolução. Silva (2016b) estabelece que qualquer pessoa pode ser um intermediário na ocorrência e que o seu contato orientado e protegido com o CEC se caracteriza em uma importante ferramenta de barganha, ou seja, de trocas vantajosas para os policiais com o causador. É importante esclarecer que, para ser um intermediário e ajudar as autoridades policiais no gerenciamento da ocorrência, é necessário que a pessoa – solicitada pelo causador, voluntária para o contato ou, ainda, selecionada pelos negociadores – seja relevante para auxiliar no processo. Caso contrário, essa pessoa não deve ser colocada em con- tato, pois pode aumentar a tensão da ocorrência e piorar as condições do ambiente, já perigosos e tensos por natureza. O contato do intermediário com o CEC deve ser breve, protegido e orientado pelos negociadores. Familiares emocionalmente envolvidos com o causador são tidos como péssimos intermediários justamente por sua condição de envolvimento. Pessoas que aparentemente são pi- vôs da situação atual do causador, como alguém que o traiu ou o aban- donou, devem ter o contato vedado, mesmo que ele exija de modo veemente. Pessoas religiosas também não são boas intermediárias, considerando que as crenças são pessoais e a objetividade fica com- prometida quando se trata de religião. Por outro lado, pessoas que não têm vínculos emocionais com o CEC têm sido bons intermediários, por Diferencie refém de vítima no contexto do processo de geren- ciamento de crises policiais. Atividade 1 16 Negociação e gestão de conflitos de segurança exemplo, advogados, diretores de penitenciárias, representantes de órgãos de direitos humanos, juízes etc. Os policiais e as autoridades responsáveis pelo gerenciamento das situações policiais críticas necessitam conhecer a fundo os principais conceitos da doutrina de GC, que foram abordados nessa seção. Enten- der tais definições auxiliará no processo como um todo e minimizará os riscos dessas situações, que, por sua própria natureza, já apresentam um grau de perigo elevadíssimo. 1.2 Aspectos doutrinários do processo de gerenciamento de crisesVídeo Administrar ocorrências policiais críticas pressupõe um conheci- mento amplo sobre os mais variados aspectos da doutrina de GC. En- tendê-los pode fornecer vantagens importantes aos responsáveis pelas ações que visam ao encerramento pacífico e sem mortes. Neste momento, estudaremos três aspectos fundamentais e que têm relação direta com o processo de negociação a ser implementado duran- te o atendimento: as características de uma crise policial; os objetivos do processo de gerenciamento de crises; e os critérios de ação que norteiam o processo decisório para as ações durante a administração da crise. 1.2.1 Características das crises policiais As ocorrências críticas têm particularidades que as diferenciam das demais ocorrências qualificadas como corriqueiras pela atividade po- licial. O estudo de tais características é importante para a antecipação das ações por parte das forças policiais. Já o desconhecimento pode fazer com que as autoridades subestimem tais ocorrências e tenham dificuldades para gerenciá-las quando ocorrerem em seu território. Assim, os doutrinadores estabeleceram as seguintes características: imprevisibilidade, risco iminente à vida, urgência, baixa incidência e complexidade. No Quadro 1, são apresentadas, de maneira resumida, cada uma dessas características. Qual é a importância de conhecer e aplicar os aspectos doutrinários do processo de gerenciamento de crises? Atividade 2 Noções de gerenciamento de crises 17 Quadro 1 Características das crises policiais Imprevisibili- dade Toda crise é imprevisível, não se sabe quando nem onde ocorrerá (SILVA, 2016a). Sabemos, entretanto, que sua eclosão é certa, ou seja, as corporações policiais responsáveis territorialmente precisam se antecipar para ter uma capacidade de resposta adequada. A prepara- ção anterior perpassa pelo treinamento do efetivo regular e especia- lizado, pela aquisição de equipamentos específicos e, também, pela conscientização das autoridades governamentais e dos comandantes da corporação sobre a importância da preparação antecipada para esse tipo de evento, considerandoque toda ocorrência policial pode evoluir para uma situação de crise. Risco iminente à vida A ameaça à vida é o componente essencial do evento crítico, mesmo quando a vida em risco é a do próprio causador da crise, como no caso de um indivíduo suicida (SALIGNAC, 2011). Essa característica serve para alertar as autoridades do perigo imediato que correm as pessoas ameaçadas e envolvidas diretamente na situação, as quais se encontram numa condição arriscada e com ameaça iminente de morte enquanto o evento crítico estiver acontecendo. Assim, o traba- lho dos responsáveis é minimizar os riscos e focar na preservação de todas as vidas envolvidas. Urgência O atendimento a uma crise policial deve ter caráter imediato, ou seja, não se pode perder tempo para atendê-la, considerando a vida das pessoas em risco. Ao ser acionada para verificar uma suposta ocor- rência crítica em andamento, a equipe policial militar não pode des- considerar essa característica, sob pena de inocentes serem mortos pela eventual demora nas ações a serem tomadas. A chegada breve ao local da ocorrência, aliada à tomada das ações técnicas necessá- rias para o caso específico, será o diferencial para a preservação das vidas em risco. Isto posto, entendemos que o caráter urgente das crises as torna ocorrências difíceis de serem atendidas, mas que em nenhum momento devem ser subestimadas. Complexidade As crises policiais não são ocorrências simples de serem resolvidas, isto é, envolvem muitas variáveis que as tornam complexas. Esse pressuposto nos leva ao entendimento de que policiais das tropas regulares não têm as ferramentas adequadas e necessárias para o seu gerenciamento. Considerando essa característica da complexida- de, as equipes regulares devem realizar a primeira intervenção do evento e acionar as equipes especializadas para que, com as ferra- mentas adequadas, atuem diretamente na crise, com o objetivo de encerrar a situação e preservar as vidas envolvidas. Há necessidade de muitos recursos para sua solução (SALIGNAC, 2011). Basicamente, essa característica deixa clara a necessidade de atuação das equipes especializadas e, também, de toda a estrutura montada para o ge- renciamento da ocorrência, conforme o estabelecido pela doutrina. (Continua) 18 Negociação e gestão de conflitos de segurança Baixa incidência As crises policiais ocorrem com uma frequência menor do que as ocorrências policiais corriqueiras. Não deveria ser diferente, consi- derando o altíssimo risco imposto por qualquer crise policial. Como visto, o atendimento a uma crise policial necessita do empenho de uma série de operadores e ferramentas, tornando-se difícil sua reso- lução. Assim, mesmo sendo de baixa incidência, uma crise policial não deve ser subestimada e todo o aparato para seu atendimento deve estar em condições. Portanto, a preparação é fundamental, mesmo para aquela única ocorrência que aconteça em um mês, por exemplo. Um aspecto negativo da baixa incidência pode ser a falta de investi- mentos por parte das autoridades em grupos especializados e em equipamentos para tal. Se a crise não ocorre com regularidade em nosso território, para que investir? Talvez essa seja a pergunta pro- ferida pelas autoridades que necessitam de resultados. Silva (2016a, p. 45) conclui que “uma única crise mal gerenciada pode arruinar, irremediavelmente, a imagem da corporação responsável”. Fonte: Elaborado pelos autores. 1.2.2 Objetivos do processo de gerenciamento de crises As corporações policiais precisam gerenciar as crises de sua compe- tência sem nunca perder de vista os objetivos traçados pela doutrina, os quais são basilares para a busca do tão esperado resultado aceitável. Objetivos, nesse caso, são as metas fundamentais a serem atingidas ao final do trabalho e são três: preservar vidas, aplicar a lei e restabelecer a ordem. Silva (2016a, p. 46) estabelece que “os três objetivos foram es- tabelecidos na mesma ordem apresentada, que é axiológica, de valor”. A seguir são apresentadas explicações sobre cada um dos objetivos. • Preservar vidas: é estabelecido como o objetivo primordial e mais importante de todo o processo de gerenciamento de crises. Considerando que a perda de vidas é irreversível, as autoridades gestoras da crise devem dar prioridade máxima à preservação das vidas, independentemente da condição do envolvido. Nesse momento, a preservação das vidas precede, inclusive, a aplicação da lei, que ocorrerá após o encerramento da ocorrência, mesmo que leve horas ou dias para isso. Portanto, a vida das pessoas ameaçadas pelo causador da crise, dos terceiros – inocentes que Noções de gerenciamento de crises 19 ficam nas proximidades do ponto crítico –, dos policiais que che- gam para atender à ocorrência e, também, dos próprios causado- res devem ser preservadas. Eventualmente, porém, o causador assume um risco de ser neutralizado pelas equipes policiais em detrimento da preservação da vida dos inocentes. Mesmo nesse caso, a lei ampara a ação policial, que preza pela vida dos inocen- tes, invocando o princípio da legítima defesa de terceiros. • Aplicar a lei: a aplicação da lei é outro objetivo que segue a preser- vação das vidas envolvidas. O causador da crise, se for considera- do do tipo criminoso, ou seja, se sua ação estiver enquadrada pela legislação em vigor como crime, deverá ser encaminhado para a delegacia e apresentado à Justiça para responder por seus atos. Tal preceito impede, por exemplo, que os gestores da crise deixem o CEC fugir em troca da liberação de todos os eventuais reféns. Nesse caso, a vida dos inocentes seria preservada, entretanto, a lei não seria aplicada, o que contraria a doutrina estabelecida. Obvia- mente, a fuga do CEC impõe enorme risco às pessoas que estão nas proximidades e a morte de apenas um inocente que nem estava no ponto crítico destruirá a reputação da corporação en- volvida e as condutas serão passíveis de responsabilizações. • Restabelecer a ordem: a eclosão de uma crise torna o ambien- te em torno do ponto crítico altamente desordenado e perigoso. As pessoas que vivem ou trabalham na região precisarão sair de suas casas e dos locais de trabalho por questões óbvias de se- gurança. O trânsito nas ruas, no entorno desse local, precisará ser fechado e desviado para evitar que inocentes se coloquem em risco ao se aproximarem do ponto crítico. A rotina da região será enormemente afetada pela crise instalada e assim perma- necerá até o seu encerramento. Ao final, com os dois primeiros objetivos (preservação das vidas e aplicação da lei) cumpridos, restará o terceiro objetivo, que é o restabelecimento da ordem no local da ocorrência. Desse modo, as autoridades policiais de- verão empregar os esforços para fazer com que a rotina da re- gião volte ao normal o mais breve possível, sempre mantendo a segurança das pessoas afetadas. 20 Negociação e gestão de conflitos de segurança 1.2.3 Critérios de ação para o gerenciamento de crises São princípios norteadores para auxiliar os gestores da ocorrência crítica. Segundo Silva (2016a), para direcionar e facilitar o processo deci- sório no curso de uma crise, os doutrinadores de GC criaram os chama- dos critérios de ação, que servem como referenciais e orientam a tomada das decisões em ocorrências dessa natureza. Basicamente, uma respos- ta positiva a todos os critérios estabelecidos pela doutrina possibilita a implementação de determinada ação planejada durante o evento. Estudaremos, a seguir, cada um dos três critérios previstos pela doutrina: necessidade, validade do risco e aceitabilidade. O primeiro critério a ser respondido para possibilitar a tomada da ação planeja- da é o da necessidade, isto é, a resposta precisa indicar que a ação a ser tomada é extremamente necessária naquele momento para o con- texto da ocorrência. Salignac (2011, p. 25), esclarece que “o critério da necessidade indica que toda ação somente deve ser realizada quando for indispensável”. Porexemplo, uma ação tática para o resgate de re- féns em ambiente confinado e planejada pelo grupo de intervenção (GI), não será necessária se o CEC estiver colaborativo e mantendo uma negociação com os operadores especialistas. Entretanto, a análise mu- dará de figura se o CEC deixar de colaborar e cortar o contato com os negociadores. Nesse momento, poderá ser necessária a intervenção tática para se resguardar a vida dos inocentes. É importante lembrar que a implementação dessa ou de qualquer outra ação na crise preci- sará passar pelos próximos outros dois critérios. Aliada ao critério da necessidade, a validade do risco é outro pon- to importante a ser analisado, merecendo atenção dos gestores da cri- se. Basicamente, uma ação poderá ser implementada se “valer o risco”, ou seja, quando a preservação das vidas superar qualquer perigo ou ameaça gerados pela ação necessária a ser tomada para a resolução do evento. Salignac (2011, p. 25) aponta que o critério da validade do risco “preconiza que toda e qualquer ação tem que levar em conta se os riscos dela advindos são compensados pelos resultados obtidos”. Por exemplo, apesar do risco aumentado durante uma invasão tática pelo grupo de intervenção para o resgate dos reféns em uma crise em que o CEC parou de responder e deu indícios de que matará os reféns, trata-se de um risco calculado e justificado. Por outro lado, citando um exemplo de um CEC suicida armado que exige a presença da pessoa que aparentemente Noções de gerenciamento de crises 21 é a pivô de sua situação desesperadora para falar com ele, nesse caso temos um risco que não pode ser testado, pois o CEC poderá tomar uma atitude violenta quando vir essa pessoa, bem como cometer suicídio na frente dela, para deixá-la viver com a culpa de sua morte. O critério da aceitabilidade tem três dimensões: legal, moral e éti- ca. Portanto, o questionamento a ser feito a respeito desse importante critério é se a decisão a ser tomada é aceitável sob os pontos de vista legal, moral ou ético. A Figura 1, a seguir, explica essas dimensões. Figura 1 Dimensões do critério da aceitabilidade A aceitabilidade legal indica que todas as ações a serem tomadas na crise devem estar amparadas pelas normas legais vigentes, não se justificando burlar a lei sob o pretexto de resolução do evento, por mais difícil e complicado que seja. A aceitabilidade moral impõe que as ações a serem realizadas necessitam estar ancoradas nos pressupostos da moralidade e nos bons costumes. Um exemplo prático que fere esse princípio é a troca de reféns. Justamente pela questão moral envolvida, que nos faz questionar: se uma vida é mais importante que outra. Por isso, essa prática é vedada durante o gerenciamento de uma crise policial. A aceitabilidade ética, baseada no respeito às regras preestabelecidas pela doutrina de gerenciamento de crises, dita que os gestores do evento crítico não podem praticar ações que causem constrangimento ao seu grupo policial nem as exigir de seus subordinados (SALIGNAC, 2011). Um exemplo clássico para esse critério é determinar que um policial disfarçado seja trocado por um refém, com a missão de dominar o CEC quando tiver uma chance no interior do ponto crítico. Tão arriscada quanto contrária aos protocolos de procedimentos policiais, tal ação fere o princípio da aceitabilidade ética, não podendo ser utilizada. Quem a utilizar, assume o risco do resultado trágico. AceitabilidadeAceitabilidade Fonte: Elaborada pelos autores. 22 Negociação e gestão de conflitos de segurança Desse modo, os critérios de ação são norteadores fundamentais para que os gestores decidam correta e tecnicamente durante a atua- ção em uma ocorrência crítica. Todos os critérios precisam ser avalia- dos criteriosamente para cada ação pensada e planejada, e, caso sejam respondidos positivamente, a ação poderá ser implementada. 1.3 Tipos de crises e de causadores do evento críticoVídeo A doutrina de gerenciamento de crises permite fazer qualificações tipológicas de crises e causadores do evento crítico com o intuito de tornar seu entendimento mais acessível e, também, de auxiliar os ope- radores que atuam na crise com informações específicas sobre os tipos envolvidos. Longe de impor rótulos aos causadores e às ocorrências que causam, a tipologia, nesse aspecto, tem o objetivo de facilitar o tra- balho dos gestores do evento crítico. Primeiramente, estudaremos os tipos de crises estabelecidos pela doutrina e, depois, as características dos causadores das crises. 1.3.1 Tipos de crises De acordo com Silva (2016a), são as ocorrências policiais qualificadas como críticas pela doutrina atual de GC que necessitam de todo o apa- rato de gerenciamento para sua resolução. A Figura 2 mostra os princi- pais tipos de crises. Figura 2 Tipos de crises Roubos ou outros crimes frustrados com tomadas de reféns Ocorrência crítica que se estabelece quando o criminoso tem sua prática de roubo, ou outro tipo de crime, interrompida por policiais militares ou outros integrantes de forças de segurança e, acuado, toma reféns para garantir sua integridade física. Diante disso, os reféns se tornam escudos humanos para garantir a vida, a integridade física, além de outros benefícios para o causador. (Continua) Cu be 29 /S hu tte rs to ck Noções de gerenciamento de crises 23 Cu be 29 /S hu tte rs to ck Extorsões mediante sequestro Tipo de crise causada por quadrilha organizada, que sequestra uma pessoa de notório poder financeiro, deixando-a em cativeiro e fazendo exigência de resgate para a família. Essa pessoa é chamada de refém sequestrado, e o ponto crítico não é conhecido, sendo necessárias investigações para sua localização e ações policiais visando a libertação. O crime está tipificado no artigo 159 do Código Penal brasileiro. Rebeliões com reféns em estabelecimentos prisionais, unidades de internação, cadeias públicas e delegacias Tipo de crise observada em locais de concentração de presos, sejam condenados, provisórios ou apreendidos, como os menores infratores em unidades de internação. Presos rebelados, quando conseguem tomar reféns, principalmente agentes penitenciários, iniciam um evento crítico, sendo necessárias ações policiais técnicas estabelecidas pela doutrina de gerenciamento de crises para encerrá-la. Cu be 29 /S hu tte rs to ck Cu be 29 /S hu tte rs to ck Mentalmente perturbados, barricados ou não, com tomada de vítimas, reféns ou sozinhos Sozinho ou ameaçando outras pessoas, o mentalmente perturbado apresenta alterações comportamentais que infligem grandes riscos a ele próprio e a quem está a sua volta. Ele faz reféns quando, por exemplo, sob influência de drogas (daí a perturbação mental), é flagrado na prática de um delito. Apesar do crime, a conduta alterada está caracterizada. Mais comum, entretanto, é o caso do perturbado que ameaça uma vítima, por uma questão emocional, e o CEC decide matar essa pessoa que considera ser sua desafeta. Por fim, o mentalmente perturbado sozinho, barricado ou em lugar aberto (em uma rua, por exemplo), é aquele que, motivado por sua perturbação, age de maneira descontrolada e perigosa, cabendo a intervenção policial técnica. (Continua) M ag ic le af /S hu tte rs to ck Criminosos sozinhos e barricados contra a ação da polícia Indivíduos em fuga após prática delituosa invadem locais sem pessoas, para se esconder e se proteger contra a ação dos policiais que estão em seu encalço. Esse é o cenário básico nesse tipo de ocorrência: apesar de não haver reféns no ponto crítico, os CECs se encontram armados e barricados, caracterizando, assim, a ocorrência crítica, com todas as suas especificidades e gravidade inerentes. 24 Negociação e gestão de conflitos de segurança Movimentos sociais ou grupos sociais específicos com tomada de reféns ou vítimas Quando os denominados movimentos sociais, de qualquer natureza, durante a prática de suas atividades reivindicatóriastomam pessoas como reféns ou vítimas, produzem crises que requerem o atendimento especializado previsto pela doutrina de GC. Nos grupos sociais específicos estão os indígenas, que eventualmente fazem pessoas como reféns para conseguir resposta às suas causas. Em qualquer crise que envolva indígenas, a Polícia Federal e a Funai (Fundação Nacional do Índio) devem ser contatadas para gerenciar a ocorrência, contando com o apoio das forças policiais locais. Le re m y/ Sh ut te rs to ck Le re m y/ Sh ut te rs to ck Tentativas de suicídio Tipo de crise causada por pessoa mentalmente perturbada e encontrada no ensaio para a própria morte. As corporações policiais precisam investir em treinamento dos negociadores policiais para esse tipo crise, considerando sua gravidade e a necessidade de se acolher o suicida, pessoa que sofre intensamente e que precisa de ajuda para sair da condição de risco em que se encontra. Diversos fatores podem ser considerados para culminar com o ato autodestrutivo de uma pessoa, sendo fundamental o estudo de tais fatores para o entendimento dos problemas que ela enfrenta. Quanto aos meios para a consecução do ato fatal, são os mais diversos possíveis, entre eles: armas de fogo, armas brancas, cordas, fogo, gás, substâncias tóxicas, ingestão de medicamentos controlados, quedas de locais altos etc. Quanto à corporação que deve gerenciar a crise, o entendimento técnico é que à Polícia Militar cabe atender às crises em que os suicidas estejam portando armas de qualquer tipo, incluindo objetos que sirvam como uma, e ao Corpo de Bombeiros àquelas crises em que o causador se encontra desarmado. (Continua) Ocorrências que envolvem artefatos explosivos A utilização de explosivos por causadores de crises torna as ocorrências mais destrutivas, aumentando exponencialmente seu risco, que já é elevado. Além das equipes especializadas tradicionais para o atendimento da ocorrência, ainda há a necessidade da presença dos técnicos explosivistas policiais da corporação, munidos com seus equipamentos específicos para o apoio. Outra modalidade de crise com explosivos é aquela em que os artefatos são encontrados após o uso por criminosos ou deixados com o objetivo de causar danos em outras pessoas, como no caso de vingança. Em todas as ocorrências críticas envolvendo explosivos, os policiais primeiros interventores devem se ater a todas as cautelas de segurança que o caso requer e acionar os especialistas na atividade, visando minimizar os riscos causados por esse tipo de crise. Di gi ta l B az aa r/ Sh ut te rs to ck Noções de gerenciamento de crises 25 Ações terroristas (atentados ou tomadas de reféns ou vítimas) Quando agem motivados por questões ideológicas, políticas, religiosas, separatistas etc., os terroristas causam um tipo de crise dos mais difíceis de serem gerenciados. Terroristas também tomam reféns quando querem obter vantagens em troca deles, como dinheiro para o grupo, libertação de colegas presos etc. Já o assassinato de vítimas serve aos terroristas como meio para demonstrar que não estão brincando e para exigir suas reivindicações das autoridades confrontadas, geralmente na busca pelo poder ou afirmação religiosa radical. Para o FBI, terrorismo é “o uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, uma população civil, ou qualquer segmento dela, em apoio a objetivos políticos ou sociais” (WHITTAKER, 2005, p. 18). Le re m y/ Sh ut te rs to ck Ocorrências envolvendo atiradores ativos Tipo de crise breve em que mentalmente perturbados ou terroristas invadem locais públicos ou privados na posse de armas de fogo e atiram em alvos aleatórios com o intuito de causar a morte do maior número de pessoas. Bastante comum nos Estados Unidos e outros países, essa é uma ocorrência que vem ganhando notoriedade no Brasil, obrigando as forças policiais a se prepararem e a conscientizarem a comunidade local sobre como se defender quando eclodir esse tipo de crise. Os locais mais visados são escolas, universidades, casas de shows, igrejas, locais de transporte público etc. Além das motivações terroristas, atiradores ativos também agem por questões pessoais, como vingança contra a prática de bullying no estabelecimento de ensino que frequentam, por exemplo. (Continua) Le re m y/ Sh ut te rs to ck Tomada de aeronaves por criminosos, terroristas ou mentalmente perturbados As regras de segurança, aumentadas após os atentados de 11 de setembro de 2001, dificultaram enormemente a tomada de aeronaves em todo o mundo. Entretanto, essa é uma crise que não pode ser subestimada, podendo ser causada por indivíduos criminosos, terroristas ou, ainda, mentalmente perturbados. Caso ocorra, medidas efetivas das autoridades precisam ser tomadas rapidamente. No Brasil, de acordo com as normas federais, a responsabilidade de atuação nesse tipo de crise é da Polícia Federal, conforme a Instrução Normativa n. 13/2005, segundo Silva (2016a). Ah a- So ft/ Sh ut te rs to ck 26 Negociação e gestão de conflitos de segurança Al ex ey B lo go od f/ Sh ut te rs to ck Acidentes de grandes proporções Enquadram-se aqui desastres de dimensões imensas, naturais ou provocados pelo homem, que necessitam de um atendimento coordenado e controlado das autoridades de defesa civil, bombeiros e integrantes das forças de segurança pública. Uma ferramenta muito importante para o gerenciamento desse tipo de evento emergencial é o chamado Sistema de Comando de Incidentes (SCI), elaborado pelos norte-americanos para o atendimento dos incêndios florestais no estado da Califórnia na década de 1970. Tal metodologia se mostrou eficiente e foi amplamente difundida em outros países, chegando inclusive ao Brasil. Exemplos desse tipo de crise: queda de aeronaves comerciais, rompimento de barragens de rejeitos de minério, acidentes com produtos radioativos, incêndios florestais, enchentes etc. Fonte: Elaborada pelos autores. Como verificado na Figura 2, as ocorrências críticas apresentam peculiaridades, mas que, em sua essência, são episódios complexos e difíceis de serem gerenciados. As autoridades responsáveis pelas res- postas a tais ocorrências precisam investir em grupos especializados, tanto humana quanto materialmente, além de se engajar em sua pre- venção e, em caso de eclosão, empenhar todos os esforços para solu- cioná-la de maneira técnica e adequada. 1.3.2 Tipos de causadores do evento crítico Considerando a necessidade imperiosa do estudo aprofundado de cada tipo de causador, a doutrina estabeleceu várias categorias espe- cíficas, cada uma com suas características mais relevantes. O objetivo da análise tipológica é entender as características e as nuances de cada indivíduo causador, visando aplicar as medidas cabíveis e necessárias para fazê-lo desistir da ideia de continuar promovendo a crise e mini- mizando os altos riscos aos envolvidos. A seguir, há um estudo básico sobre cada um dos tipos. 1.3.2.1 Criminoso É o tipo de causador motivado por sua conduta delituosa, ou seja, a prática criminosa o leva a originar um evento caracterizado como crítico. O roubo é o tipo de crime mais comum verificado, momento Di vu lg aç ão MCMAINS, M. J.; MULLINS, W. C. Crisis negotiations: managing critical inci- dents and hostage situa- tions in law enforcement and corrections. 5. ed. Waltham: Anderson Pu- blishing, 2014. Esse livro, original em in- glês, traz toda a doutrina de negociação em crises pelas mãos de dois es- pecialistas norte-ameri- canos. A obra se baseia em anos de pesquisa e na experiência prática dos dois autores para explicar conceitos e técnicas ne- cessárias para o negocia- dor aplicar os princípios da negociação em crises. Livro Noções de gerenciamento de crises 27 em que o CEC é flagrado por forças de segurança no local do ato e, não conseguindo fugir, toma pessoas como reféns, ameaçando-as comarmas, com o intuito de garantir sua vida, sua integridade físi- ca, sua liberdade, valores ou a obtenção de qualquer outra vantagem para si (SILVA, 2016a). O processo de negociação com um indivíduo do tipo criminoso se dará com enfoque na garantia de sua vida, considerando que se ele tomou pessoas ou se barricou sozinho para se proteger da ação po- licial, quer continuar vivendo. Silva (2016a) esclarece que, em geral, os criminosos prezam por suas vidas (daí o motivo de usarem reféns como “escudos” ou se barricarem), o que, em tese, torna o processo de negociação menos difícil. Para Salignac (2011, p. 139), nesse tipo de crise “o ganho de tempo produzirá resultados não só na diminuição das expectativas do provocador como no estabelecimento do bom relacio- namento com o negociador”. Além de crimes frustrados em locais conhecidos, os causadores cri- minosos também provocam o tipo de crise denominada extorsão me- diante sequestro, já estudada na Seção 1.3.1. Nesse caso, o ponto crítico é desconhecido, ou seja, as autoridades não sabem qual o paradeiro do refém, que foi levado para um cativeiro, sendo mantido incomunicável até que a família efetue o pagamento do resgate. 1.3.2.2 Terroristas Diferentemente dos causadores criminosos, os terroristas agem por fanatismo político, religioso, ideológico ou social, intenções separa- tistas, entre outros motivos. Silva (2016a) diz que os terroristas atuam com o intuito de intimidar, coagir e desestabilizar o Estado constituí- do, afetando comportamentos pela instauração do medo. Esse tipo de causador, além da prática de atentados violentos em locais públicos, contra pessoas comuns ou agentes públicos, toma reféns, exigindo das autoridades, por exemplo, dinheiro para o grupo ou a libertação de colegas presos. Quando os terroristas ameaçam vítimas, o intuito é demonstrar poder e pressionar as autoridades contrárias. Invariavel- mente, a divulgação dos assassinatos dessas vítimas em transmissões televisivas provoca o pânico e o terror na sociedade, objetivos desse tipo de causador. 28 Negociação e gestão de conflitos de segurança Segundo Salignac (2011), a busca de visibilidade pelos terroristas é tentada por meio de ações ousadas e organizadas, que demandam grande logística, sendo que a captura de pessoas garante imediata re- percussão e acesso à mídia, já que a publicidade dos atos é prioritária nesses casos. Em resumo, os terroristas agem fundamentados na vio- lência, provocando assassinatos, sequestros, explosões e incêndios em locais públicos, além da captura de reféns ou vítimas. Ainda segundo Salignac (2011), a escolha dos alvos pelos terroristas perpassa pelas se- guintes propriedades: seu valor simbólico, seu valor propagandístico, a possibilidade de êxito da ação e, também, a vulnerabilidade do alvo. 1.3.2.3 Mentalmente perturbados Os causadores da crise denominados mentalmente perturbados são os que apresentam condutas comportamentais alteradas e perigosas, motivadas pela perturbação mental que lhes afeta. Diversos fatores podem abalar mentalmente uma pessoa, tornando o gerenciamento da crise com esse tipo de CEC complicado e de difícil resolução, consi- derando o contato confuso, nervoso e de cunho emocional. Constante- mente, mas não em todos os casos, dadas suas características, as crises que envolvem indivíduos mentalmente perturbados terminam com a ação pontual dos grupos de intervenção. Silva (2016a) apresentou um estudo sobre os fatores encontrados em pessoas mentalmente perturbadas que causam ocorrências críti- cas. A conclusão foi de que são três as condições: presença de trans- tornos mentais, abalos emocionais súbitos e abuso de drogas lícitas ou ilícitas. Vejamos cada um deles: • Presença de transtornos mentais: a condição mental mórbida conduz o CEC a originar uma crise, como um suicida em um qua- dro depressivo. Tal crise precisa de todo o aparato do GC para a solução aceitável. Os distúrbios mais comuns são a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, transtornos de personalidade etc. Cabe salientar que nem todo mentalmente perturbado pos- sui algum transtorno mental, como veremos nos fatores a seguir. • Abalos emocionais súbitos: a alteração mental nesse caso se dá em virtude de o CEC ter presenciado ou tomado conhecimen- to de alguma situação traumática ou inesperada que o afete Noções de gerenciamento de crises 29 enormemente. Com base nessa constatação, o causador pode agir com intenções vingativas contra desafetos ou com violência contra si mesmo, dando origem ao evento crítico. São exemplos de fatos geradores de abalos emocionais regularmente verifi- cados em crises: separações amorosas conflituosas; perdas de emprego; flagrantes de traições conjugais; questões envolven- do dívidas monetárias etc. • Abuso de drogas lícitas ou ilícitas: sem caracterizar transtor- no (caso contrário estaria no primeiro fator estudado), o abuso de drogas pode afetar grandemente a condição mental de um indivíduo e fazê-lo causar uma ocorrência crítica. Como as dro- gas alteram o comportamento e podem distorcer o pensamento, complicam o trabalho dos gestores do evento. De acordo com Salignac (2011), a negociação com pessoas porta- doras de distúrbios mentais ou comportamentais exige, além do do- mínio das técnicas adequadas, doses extras de paciência e percepção dos limites negociais, pois não é incomum, em diversos desses casos, o encerramento por meio de uma intervenção tática. 1.3.2.4 Presos rebelados Separar a figura do preso rebelado daquela dos criminosos co- muns apresenta importante vantagem para a caracterização do tipo de causador, a começar pela condição em que ambos se en- contram. O criminoso está em liberdade e é encontrado na prática criminosa, enquanto o preso já está encarcerado, por vezes conde- nado por vários delitos e na presença de outros detentos. As exi- gências de ambos também costumam ser diversas, logo, o estudo separadamente é necessário. Uma crise com presos rebelados costuma ser violenta e não são ra- ras as vezes em que termina com mortos e feridos. Os líderes da rebe- lião desafiam as autoridades gestoras da crise e exigem ações pontuais que os favoreçam, em troca da libertação de reféns ou vítimas que se encontram ameaçados no ponto crítico. Salignac (2011) pontua as prin- cipais exigências de causadores presos rebelados aos negociadores, os quais precisam estar atentos às demandas: melhoria das condições de 30 Negociação e gestão de conflitos de segurança vida na prisão; melhoria da qualidade das refeições; maior flexibilidade nos horários de visita; protesto contra maus-tratos; corrupção dos ad- ministradores ou carcereiros; e cumprimento de medidas jurídicas em favor dos prisioneiros. Roncaglio (2017, p. 24) conceitua os causadores do evento crítico pre- sos rebelados como “indivíduos que geram crises em virtude das espe- cificidades da vida em cárcere, podendo ou não apresentar alterações comportamentais e/ou adotar ações com características terroristas”. Em resumo, presos rebelados são causadores difíceis, exigindo dos negociadores muita paciência e dos gestores articulações com os admi- nistradores do estabelecimento prisional, considerando que qualquer ação a ser implementada deve passar pela ciência dessas autoridades, evitando-se assim conflitos institucionais. 1.4 Alternativas táticas do gerenciamento de crisesVídeo A doutrina atual de gerenciamento de crises estabelece opções de atuação dos policiais para a resolução do evento crítico. São as tecnica- mente chamadas alternativas táticas do GC, ferramentas indispensáveis, nas quais autoridades policiais e governamentais precisam investir para não serem surpreendidas no momento do fato. A falta de inves- timentos em grupos policiais especiais, tanto humanos quanto mate- riais, podem trazer resultados nefastos à corporação policial envolvida, como constantemente verificado na imprensa. São quatro alternativas previstas pela doutrina, asquais estudare- mos individualmente a seguir: negociação, técnicas não letais, tiro de comprometimento e invasão tática. 1.4.1 Negociação É a primeira alternativa a ser considerada no processo de geren- ciamento e a que impõe menor risco aos envolvidos (SILVA, 2016a), considerando o uso do diálogo e do poder de convencimento para a conclusão sem mortes no ponto crítico. Tal alternativa deve ser aplica- da por especialistas, conforme esclarece Silva (2016a, p. 199): Noções de gerenciamento de crises 31 por ser uma atividade extremamente complexa e especializa- da, a negociação pressupõe policiais devidamente treinados e experientes. Ademais, dada sua complexidade, o trabalho deve ser realizado em equipe, em que cada integrante tem uma mis- são predefinida e de caráter fundamental. Portanto, a doutrina considera altamente condenável o emprego de pessoas não po- liciais, autoridades ou não, ou de policiais despreparados direta- mente nas negociações. As corporações policiais que investem em equipes de negociadores possuem vantagens incomensuráveis em relação àquelas que não in- vestem. Os resultados positivos e as estatísticas são claras e objetivas. Entretanto, caso não haja condições de se negociar com o CEC, o que pode ocorrer por diversos fatores motivados pelas condições do pró- prio causador, outras alternativas podem ser consideradas e, com o planejamento adequado, implementadas. Apesar da utilização das ou- tras três alternativas, os negociadores ainda apresentam um papel fun- damental no contexto, realizando, por exemplo, a negociação tática, em que preparam o terreno para a aplicação da alternativa escolhida, auxiliando os operadores táticos em suas ações. 1.4.2 Técnicas não letais Alternativa tática a ser aplicada pelos operadores integrantes do GI, após esgotadas as possibilidades de negociação no contexto do geren- ciamento. Nessa alternativa, o enfoque é na manutenção da vida do causador, bem como na eliminação do risco que ele proporciona. Ao sair vivo da crise, o CEC será levado para a delegacia e apresentado à Justiça para responder por seus atos em caso de cometimento de crime ou para tratamento médico psiquiátrico em caso de a motivação ter sido perturbação mental. Segundo Silva (2016a), há várias técnicas não letais relacionadas pela doutrina e passíveis de serem utilizadas: imobilizações táticas; uso de instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPO), como agen- tes químicos (gás lacrimogêneo, gás pimenta e outros); dispositivos eletrônicos, comumente chamados de armas de choque; munições de impacto controlado (MIC), como elastômero (borracha); entre outras. Durante uma crise, é fundamental que os operadores do GI treinem e tenham várias técnicas à disposição para utilizar aquela que melhor se enquadra na resolução do caso específico. Explique por que a aplicação técnica da alternativa tática negociação é fundamental para os rumos da ocorrência crítica. Atividade 3 Assista ao vídeo Os negocia- dores da polícia de Nova York, publicado pelo canal Marco Antonio Silva, para saber mais sobre o trabalho da equipe de negociações de reféns (Hostage Negotiations Team – HNT) do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD), os criadores da doutrina nos anos 1970. O documentário clássico, de 1999, cujo título original é Talk to me: hostage negotiators of the NYPD, mostra como os negociadores lidam com situações críticas. Talk to me (“Fale comigo”, em tradução literal) é o lema da HNT. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?- v=PS_Kw2ntyiM. Acesso em: 2 nov. 2019. Vídeo 32 Negociação e gestão de conflitos de segurança 1.4.3 Tiro de comprometimento Alternativa importante ao contexto do gerenciamento que deve ser executada pelo atirador de precisão policial (comumente conhecido como sniper policial), integrante de um grupo altamente treinado e pos- suidor de armas específicas e equipamentos especialmente prepara- dos para a missão. Os operadores dessa alternativa necessitam passar por intenso treinamento, considerando que o disparo, se necessário e autorizado pelo gerente da crise, precisa ter 100% de eficácia. O erro pode comprometer toda a situação e expor ainda mais risco à vida de inocentes, por isso ele não é admitido. A neutralização total do risco que o CEC representa, dependendo do contexto, pode ser letal ou não letal (como um tiro antimaterial na arma de um suicida, por exemplo). Por ser uma alternativa complexa, o tiro é o último recurso dos atiradores de precisão. De acordo com Silva (2016a), antes disso, eles possuem outras missões importantes, como observar e coletar informações acerca do ponto crítico e apoiar os ope- radores táticos com cobertura de fogo, em um momento em que uma eventual invasão tática seja autorizada e realizada. 1.4.4 Invasão tática Alternativa derradeira a ser considerada em um evento crítico e que impõe maior risco às pessoas ameaçadas pelo causador, incluindo aos policiais que participam da ação. Deve ser aplicada pelo GI e utilizada em ocorrências críticas cujo ponto crítico é confinado, ou seja, é pre- ciso transpor obstáculos para se ter acesso ao ambiente e partir para a necessária ação de neutralização do CEC, de modo letal ou não. De acordo com Silva (2016a, p. 205), para que uma invasão tática seja implementada, os policiais in- tegrantes do grupo de intervenção precisam estar devidamente treinados e equipados para os procedimentos. É uma ação extre- mamente arriscada e complexa, cujo risco pode ser minimizado caso os operadores estejam plenamente capacitados. Noções de gerenciamento de crises 33 Assim como as demais ações desempenhadas durante o GC para a solução do evento crítico, uma invasão tática precisa passar pelo crivo dos critérios de ação, a fim de que seja autorizada pelos gestores. Por ser muito arriscada, sua realização por amadores ou pessoas não trei- nadas e sem armamentos e equipamentos específicos não é possível. Por fim, é necessário ressaltar que as alternativas táticas aqui es- tudadas podem ser aplicadas individualmente ou de maneira combi- nada, momento em que os operadores das três equipes responsáveis (Equipe de Negociação, Grupo de Intervenção e Grupo de Atiradores de Precisão Policial) se ajudam mutuamente na busca pelo tão esperado resultado satisfatório da ocorrência policial crítica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Gerenciar crises policiais é uma atividade extremamente complexa. Todos os aspectos doutrinários esmiuçados neste capítulo representam norteadores ao trabalho policial em campo – local onde a crise está ocor- rendo. Logo, conhecer e estudar a teoria minimizará os riscos inerentes à atividade na prática e auxiliará os gestores do evento no atendimento técnico que os inocentes merecem. REFERÊNCIAS RONCAGLIO, O. L. O gerenciamento de crises em estabelecimentos prisionais e a especificidade do causador do evento crítico preso rebelado. Curitiba: FSB, 2017. SALIGNAC, A. O. Negociação em crises: atuação policial na busca da solução para eventos críticos. São Paulo: Ícone, 2011. SILVA. M. A. Gerenciamento de crises policiais. Curitiba: InterSaberes, 2016a. SILVA. M. A. Primeira intervenção em crises policiais: teoria e prática. 2. ed. Curitiba: AVM, 2016b. TREVISAN, R. (coord.). Michaelis. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/ busca/portugues-brasileiro/crise/. Acesso em: 12 nov. 2019. TREVISAN, R. (coord.). Michaelis. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/ busca/portugues-brasileiro/doutrina/. Acesso em: 12 dez. 2019. VALLA, W. O. Doutrina de emprego de Polícia Militar e Bombeiro Militar. 3. ed. Curitiba: AVM, 2012. WHITTAKER, D. J. Terrorismo: um retrato. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2005. 34 Negociação e gestão de conflitos de segurança GABARITO 1. Refém e vítima são pessoas ameaçadas naocorrência crítica. Entretanto, são diferentes em sua essência, tornando necessário o entendimento de suas particularidades. Refém é uma pessoa tomada como garantia de vida pelo CEC, no momento em que é flagrado em uma eventual prática delituosa. É praticamente um escudo do causador, que garante a ele sua integridade física, sua liberdade (até então não foi preso) e, também, outros benefícios, logo é “trocável” por algo. Já a vítima é a pessoa envolvida na ocorrência por questões emocionais e ao CEC só interessa para cumprir seu desejo de vingança, como a morte da vítima, por exemplo. Esse tipo de pessoa corre muito mais risco de morrer no ponto crítico, considerando seu envolvimento com o causador, não sendo vista por ele como um objeto de troca. 2. Gerenciar crises com técnica e com todos os meios adequados minimiza os riscos já inerentes a esse tipo de ocorrência policial. O gerenciamento de crises é um processo sistemático que auxilia os operadores envolvidos na busca de sua solução aceitável, ou seja, com todas as vidas preservadas. Logo, conhecer todas as particularidades desse processo, entender os conceitos relativos e, principalmente, aplicar os procedimentos já amplamente testados e utilizados em situações reais trará uma vantagem muito grande aos envolvidos. 3. A negociação é fundamental na ocorrência e precisa ser a primeira a ser tentada durante a gestão da crise. O processo negocial é técnico e somente deverá ser aplicado por profissionais especialistas, treinados, experientes e integrantes de uma equipe completa. Os especialistas utilizam técnicas de convencimento e persuasão para fazer o CEC sair da situação e liberar os inocentes no ponto crítico. O encerramento da ocorrência com diálogo é o princípio fundamental dessa alternativa tática. Dessa forma, a negociação tem o poder de preservar todas as vidas na crise apenas com o uso da conversa. Além disso, minimiza os riscos para todos os envolvidos, evita as questões judiciais posteriores e, principalmente, salva vidas. Caso seja necessário, os negociadores auxiliam os operadores táticos durante a consecução de suas ações. Aspectos doutrinários da negociação policial 35 Negociar significa fazer um negócio, ajustar ou celebrar um contrato ou um acordo. Esse ajuste deve ser celebrado entre agentes, entre partes que precisam acordar em determinado ponto para que a negociação seja efetiva. Sendo assim, no que se refere à negociação em crises policiais, as partes envolvidas são o negociador (assessorado por uma equipe de profissionais) e a pessoa que deu causa a uma crise, o causador do evento crítico (CEC). Para alcançar esse acordo proveitoso durante uma situação em que a tensão é constante, o negociador precisa lançar mão de técnicas adequadas para tal. A empatia, a persuasão, a barganha e o convencimento devem ser colocados em prática em busca da resolução do evento crítico. O negociador precisa ter sempre em mente que o processo negocial numa crise jamais deve se assemelhar a uma competição, e sim se constituir num processo conjunto de tomada de decisões em busca do consenso entre as partes. Em uma negociação, tão importante quanto ouvir o que foi dito, é interpretar o que não é falado. Aspectos doutrinários da negociação policial 2 2.1 Características da negociação Vídeo O conceito de negociação em crises mais disseminado pelas institui- ções policiais é “toda ação que objetiva conseguir um intercâmbio, uma transação na qual as partes estão dispostas a ceder algo para conseguir um acordo proveitoso para ambos” (OLIVEIRA, 2008, p. 11). Ao longo do tempo, a negociação em crises passou por alterações no seu modo de condução. Podemos dizer que o objetivo final – a re- solução pacífica da crise – permaneceu intacto, porém a forma como se alcança isso sofreu considerável evolução. 36 Negociação e gestão de conflitos de segurança De acordo com Silva, Silva e Roncaglio (2020, no prelo), no passado tudo era permitido para que uma crise fosse encerrada sem a neces- sidade do uso da força. Falsas promessas, ameaças, blefes, mentiras e truques eram usados de modo demasiado e até inconsequente para afastar o CEC de seu intento. A concepção ganhar-perder, em que a Polícia ganhava e o causador perdia, imperava. Com essa postura, a Polícia enganava o causador direcionando para o desfecho da situação, fazendo-o acreditar que um acordo estava sen- do firmado. Com esse causador seria impossível negociar novamente em outra situação, pois a palavra do negociador seria posta em xeque. Durante uma crise em que uma mentira foi dita, caso descoberta, se- ria muito difícil para o negociador contornar a situação e retomar a negociação. Talvez algumas pessoas pensem que seria praticamente impossível que um CEC gerasse outra crise e se deparasse com a mesma equipe de negociação. No entanto, há casos que provam o contrário, como os exemplos a seguir. No ano de 2014, no estado do Paraná, foram registradas pela Equipe de Negociação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), da Polícia Militar do Paraná (PMPR), 28 crises em estabelecimentos prisionais, onde presos se rebelavam e tomavam reféns. Essa equipe identificou o mesmo detento envolvido diretamente na crise em três ocasiões distintas. Na primeira delas, esse detento foi o líder da rebelião e mantinha contato com o negociador. Na segunda, foi um dos CECs, ficava em segundo plano e não mantinha o contato direto com a equipe de negociação. Na última situação, o mesmo indivíduo foi um dos reféns tomados durante a crise por ser desafeto dos líderes da rebelião. Em outro exemplo, agora no ano de 2019, uma mulher, abalada pelo término do relacionamento amoroso, gerou uma ocorrência de tentativa de suicídio. Na semana seguinte, ela se evadiu do hospital em que estava internada e causou outra crise. Nas duas oportunidades, a Equipe de Negociação do BOPE/PMPR negociou com a CEC. Para Garbelini (2016), a negociação deve ser usada para resolver situações em que as partes apresentem interesses opostos, buscando um acordo satisfatório para ambos, ainda que todas as expectativas não sejam contempladas. Atualmente, as instituições policiais que dispõem de equipes de negociação comprometidas com a atuação técnica em crises policiais Aspectos doutrinários da negociação policial 37 se alicerçam na concepção ganhar-ganhar, em que Polícia e causador saem ganhando. Para isso, alguma das partes, ou ambas, precisa ce- der. Durante a negociação técnica (ver item 2.4.2.1), não existe espaço para truques, ou seja, a verdade é o principal pilar em que o negociador se apoia em todas as suas ações. Muitas vezes, a verdade não é o que o CEC gostaria de ouvir, contudo, por meio de técnicas e ferramentas adequadas o negociador consegue expor os motivos daquela informa- ção e prosseguir com a negociação. Desse modo, sempre será possível negociar novamente com o causador, seja na mesma ocorrência ou em outra futura, pois a palavra empenhada, principal recurso do negocia- dor, não foi comprometida. A principal característica da negociação é a pacificidade, e é impor- tante distingui-la de passividade, porque, ao contrário do que talvez pareça, o negociador deve manter-se ativo, utilizando todos os recur- sos necessários para manter diálogo com o CEC, focando na resolução aceitável da ocorrência. O único “armamento” disponível ao negociador durante uma crise é a palavra, sendo assim, a alternativa tática que mais se aproxima do prin- cipal objetivo do gerenciamento de crises (GC) é a negociação. Os riscos aos envolvidos no evento se minimizam ao extremo quando a negocia- ção é colocada em prática (SILVA, M. A.; SILVA, L. F.; RONCAGLIO, 2020 no prelo). Vimos anteriormente que empatia, persuasão e barganha se fazem presentes numa negociação. Mas essa empatia deve estar relacionada a quê? Qual item ou exigência o negociador deve barganhar? A respos- ta para esses questionamentos reside nas necessidades do CEC duran- te a crise.Costuma-se afirmar que as “necessidades insatisfeitas são o motor principal do processo negocial” (SILVA, L. F., 2005, p. 30). Nesse momento, é muito importante saber identificá-las de maneira eficaz. Necessário é aquilo que é indispensável, essencial. Portanto, tam- bém é essencial que o negociador saiba perceber as necessidades do causador, que algumas vezes são abertamente faladas, mas, em ou- tras, podem estar camufladas em discursos e/ou atitudes, cabendo a esse profissional extraí-las do contexto. Recorremos, então, à hierar- quia das necessidades de Maslow, que pode ser visualizada como uma pirâmide (Figura 1). Discorra sobre a concepção ganhar-ganhar na evolução da doutrina de negociação em crises. Atividade 1 38 Negociação e gestão de conflitos de segurança Figura 1 Pirâmide de Maslow Necessidades secundárias Necessidades primárias Realização do próprio potencial e autodesenvolvimento contínuo. Es tim a Autodepreciação, autoconfiança, necessidade de aprovação social e de respeito, status, prestígio e consideração. Au to rr ea liz aç ão De se gu ra nç a Estabilidade, busca de proteção contra ameaça ou privação e fuga do perigo. Surgem no comportamento quando as necessidades fisiológicas estão relativamente satisfeitas. Fis io ló gi ca s Necessidades de alimentação (fome e sede), de sono e repouso (cansaço), de abrigo (frio ou calor), desejo sexual etc., relacionadas com a sobrevivência do indivíduo e com a preservação da espécie. So cia is Necessidade de associação, participação, aceitação por parte dos companheiros, troca de amizade, afeto e amor. Fonte: Elaborada pelos autores com base em Chiavenato, 2003, p. 329-331. Criada pelo psicólogo estadunidense Abraham Harold Maslow, essa pirâmide representa hierarquicamente as necessidades huma- nas, estando em sua base, ou próximo dela, aquelas que são essen- ciais, indispensáveis para a sobrevivência (necessidades primárias). No outro extremo, no topo da pirâmide, estão as variáveis relacio- nadas à estima e à realização pessoal, o que consideramos desejos (necessidades secundárias). Ao identificar as reais necessidades do CEC, o negociador deve di- recionar as negociações para aquilo de que o CEC realmente precisa, distinguindo-as e afastando-as dos desejos manifestados por ele. Agin- do assim, a probabilidade de barganhar algo de grande valia (libertação de reféns ou até mesmo a rendição do CEC) é muito grande, uma vez Aspectos doutrinários da negociação policial 39 que o causador terá aquilo que é imprescindível para sua vida. Para esclarecer, apresentaremos dois exemplos. Imagine que a preocupação do causador é com segurança, algo que está muito pró- ximo da base piramidal, ou seja, ele precisa estar seguro para sobreviver, seu temor relaciona-se diretamente com sua integridade física. Por mais que realize outras exi- gências (desejos), o negociador percebe e consegue fazer com que o causador tam- bém perceba que sua maior necessidade é segurança. Com a propositura de maneira compreensível ao CEC, a tendência de um acordo satisfatório para ambos é grande. Da mesma forma, se o indivíduo que está inserido numa crise há várias horas numa sala sem nenhum tipo de recurso, passará a exigir alimentação e água, ou seja, ne- cessidades vitais. Com certeza a entrega de algum desses itens (após avaliação dos critérios de ação) permitirá ao negociador estabelecer uma troca considerável que trará benefícios para o gerenciamento do evento crítico. Corroborando com esses exemplos, cabe destacar a importância do ponto crítico. Sabemos que ponto crítico é o espaço físico dominado pelo causador, portanto, quanto menor for esse espaço, quanto menos recursos estiverem disponíveis no local, maiores serão as chances de o negociador realizar importantes trocas ou até acordar o desfecho da situação sem conceder um item sequer, pois é natural que o CEC apre- sente suas reais necessidades antes, do que se estivesse em um espaço maior, com alimentação, banheiro e comunicação, por exemplo. Logo, podemos afirmar que o tamanho do ponto crítico, bem como os recursos existentes nele, interferem diretamente na duração de uma crise. 2.2 Objetivos e vantagens da negociação 2.2.1 Objetivos da negociação Durante o contato com o CEC, a equipe de negociação visa ganhar tempo, abrandar as exigências expostas pelo causador, coletar o máxi- mo de informações, além de proporcionar suporte tático ao grupo de intervenção e grupo de atiradores de precisão, como veremos adiante. Vídeo 40 Negociação e gestão de conflitos de segurança Essas informações são valiosas, considerando que não existem in- formações rasas ou pobres, porém devem ser filtradas devido à menor confiabilidade dessas fontes. Já as informações que derivam do interior do ponto crítico são trazidas pela observação dos atiradores de pre- cisão (posicionados em locais estratégicos), por pessoas egressas do ponto crítico (reféns ou vítimas libertas), pelo próprio causador durante os contatos com o negociador e, ainda, pela observação dos integran- tes da equipe de negociação. Portanto, a negociação se revela como uma confiável fonte para coleta de informações. 2.2.1.5 Proporcionar suporte tático Partindo dos objetivos anteriormente citados, é possível proporcionar suporte tático ao grupo de intervenção e ao grupo de atiradores de preci- são, que adaptarão suas ações, constantemente, à medida que o tempo vai passando e as informações vão se acumulando durante a crise. A negociação (1998), diri- gido por F. Gary Gray, é um filme policial, de his- tória ficcional, que apre- senta vários aspectos do processo de negociação policial aplicados em ocorrências críticas. É possível identificar ele- mentos da negociação estudados nesse capí- tulo, como barganha, ganho de tempo, coleta de informações e a con- cepção ganhar-ganhar. É importante assistir com senso crítico, conside- rando se tratar de uma obra hollywoodiana. Filme Di vu lg aç ão 2.2.1.1 Solucionar a crise Chegar a uma solução pacífica para a crise é o que se busca por meio da negociação, sendo este o principal objetivo. No entanto, num evento crítico os fins não justificam os meios, basta lembrarmos o en- tendimento da concepção ganhar-ganhar. Negociação policial em cri- ses não é um jogo em que tudo é possível, mesmo que o objetivo seja o desfecho não violento da ocorrência. É necessário preparo, estudo, dedicação e atenção às técnicas para que o caminhar, do início ao término da negociação, seja profissional e transcorra com fluidez. A negociação é um processo na maioria das vezes lento, porém efi- caz. Ele apresenta, além da solução da crise, objetivos secundários que subsidiam as decisões do gerente da crise, o preparo para atuação do grupo de intervenção e grupo de atiradores de precisão, além de corro- borar com o próprio contato do negociador com o CEC. 2.2.1.2 Ganhar tempo Salignac (2011) enfatiza a importância de se ganhar tempo. É neces- sário ganhar todo tempo possível durante uma crise. Da extensão do tempo conquistado pelo negociador derivam todos os fatores prepon- derantes no gerenciamento de uma crise. 2.2.1.3 Abrandar as exigências À medida que a negociação flui, o negociador consegue identificar as necessidades verdadeiras do causador, pode abrandar suas exigên- cias e, consequentemente, diminuir suas expectativas por algo que seja inviável de ser concedido. 2.2.1.4 Coletar informações Durante o transcorrer de uma crise, as informações advêm de duas formas: de fora do ponto crítico ou de dentro do ponto crítico; sendo as fontes externas de informação o solicitante da ocorrência, parentes das pessoas inseridas no evento, terceiros que perceberam o início da crise (testemunhas), redes sociais etc. Aspectos doutrinários da negociação policial 41 Essas informações são valiosas, considerando que não existem in- formações rasas ou pobres, porém devem ser filtradas devido à menor confiabilidade dessas fontes.
Compartilhar