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POLÍTICA URBANA E AMBIENTAL Autora: Rosane Biasotto Dados Pessoais Nome: _________________________________________________________ Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: __________________ Endereço: _____________________________________________________ Cidade: _____________________________________ UF: _______________ CEP: ________________ Telefone: _________________________________ E-mail: ________________________________________________________ CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000 INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281- 9090 - www.uniasselvipos.com.br Programa de Pós-Graduação EAD Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Henrique Gaspar Barandier Revisão Gramatical: Profa. Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci 350 B579p Biasatto, Rosane Política urbana e ambiental / Rosane Biasatto. Indaial : Uniasselvi, 2012. 126 p. : il ISBN 978-85-7830-622-9 1. Administração pública; 2. Política. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. PARCERIA ENTRE IBAM E UNIASSELVI No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo, observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas. A institucionalização dos processos de gestão e a profissionalização dos servidores públicos passam a ser instrumentos estratégicos para alavancar condições de melhor execução de atividades e projetos, bem como dos meios de controle necessários para avaliação de resultados da atuação governamental. Inúmeras iniciativas são implementadas para dar consistência a este modelo de gestão governamental que se apoia na valorização da transparência, da participação e do controle social, que não podem existir sem instrumentos adequados e pessoas qualificadas. É neste contexto que se forma a parceria do IBAM com a UNIASSELVI. Aprimorar o sistema de gestão pública, apoiar a formação de profissionais que queiram ser ou já são do quadro do setor público e ampliar a informação para o cidadão sobre como deve funcionar o governo são os propósitos iniciais do MBA em Gestão Pública que passa a integrar o programa de pós-graduação da UNIASSELVI. A equipe de Professores Autores que o compõe se destaca pelo desempenho profissional em projetos da Administração Pública e como docentes universitários. A experiência da UNIASSELVI em processos educacionais em nível superior, aliada à do IBAM, que há 60 anos atua, em nível nacional e internacional, para o aprimoramento da administração pública, é composição de excelência para enriquecer o cenário que se quer alcançar. O IBAM e a UNIASSELVI desejam a todos os participantes uma boa jornada de estudos. Aos que se dirigem ao setor público, que consolidem sua formação; e, aos demais, que ampliem o nível de informação sobre governo e aprendam a articular-se com ele como cidadãos. Paulo Timm Superintendente Geral do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM Prof. Carlos Fabiano Fistarol Pró-Reitor de Pós-Graduação a Distância Grupo UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Rosane Biasotto Arquiteta e urbanista, doutoranda em Planejamento Urbano e Regional - IPPUR/ UFRJ. Mestre em Geografia Urbana - GEO/UFRJ. Atualmente coordena o programa de assessoria aos Planos Locais de Habitação de Interesse Social, na Fundação Bento Rubião. Entre 2001 e 2010 atuou como coordenadora técnica do Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM na Área de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente – DUMA e professora de Escola Nacional de Serviços Urbanos – ENSUR/IBAM. Experiência profissional em planejamento urbano e regulamentação de instrumentos de política urbana, tendo participado, desde 1992, de estudos e pesquisas urbanas e elaboração de planos diretores e legislação urbanística. Professora visitante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Departamento de Urbanismo – FAU/DPUR no período de 2003 e 2004. Foi assessora técnica do Gabinete da Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro entre 1999 e 2001. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 o município na organização do TerriTório ..................................9 CAPÍTULO 2 inTegração daS políTicaS SeToriaiS no TerriTório e o direiTo à cidade .................................................................. 33 CAPÍTULO 3 o eSTaTuTo da cidade e o plano direTor ................................. 57 CAPÍTULO 4 inSTrumenToS TradicionaiS de conTrole do uSo e ocupação do Solo urbano ...................................................... 85 CAPÍTULO 5 incluSão TerriTorial e aceSSo à moradia adequada ............... 109 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): A política urbana no Brasil, desde a década de 80, vem passando por intensas mudanças no seu marco normativo. Essas mudanças nem sempre resultam em transformações de curto prazo nos processos de produção e reprodução social das cidades, porém são referências importantes para a indução de um desenvolvimento urbano sustentável. Para acompanhar essas mudanças é preciso conhecer e compreender o papel do poder público municipal no planejamento e gestão das cidades, desde a promulgação da Constituição Federal de 1998 e a aprovação do Estatuto da Cidade em 2001. O curso propicia uma visão atualizada sobre os temas centrais do planejamento e a gestão do solo urbano no Brasil, organizando de maneira didática as normas que orientam a política urbana e buscando facilitar futuras pesquisas e aprofundamentos que sejam de interesse do aluno. A pesquisa sistemática sobre os processos de reprodução das cidades e o acompanhamento do debate nacional em torno do marco normativo da política urbana são atividades permanentes para aqueles que pretendem atuar no campo do planejamento e gestão urbana. Destacam-se as interfaces que existem entre o planejamento urbano e as políticas públicas setoriais, especialmente de saneamento ambiental, preservação ambiental, cultural e histórica e a mobilidade urbana e o transporte. A integração das políticas setoriais é enfatizada a partir de conceitos e noções básicas que estão articulados sob a ótica do “Direito à Cidade”, considerando, simultaneamente, as dimensões ambiental, social, cultural e econômica. A integração das políticas setoriais no território, portanto, pressupõe um processo contínuo de planejamento e gestão das cidades que propicie o aperfeiçoamento de mecanismos de articulação entre as ações nos três níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal). A expectativa em relação ao desenvolvimento urbano sustentável no país concentra-se na possibilidade de garantir a promoção do acesso à terra e à moradia adequada. O plano diretor é um instrumento privilegiado tanto para induzir a ocupação 8 de áreas vazias ou subutilizadas como para orientar a captura e a redistribuição da valorizaçãofundiária gerada por investimentos públicos e promover a regularização fundiária e a reserva de terras urbanas para a habitação de interesse social. A renovação das práticas de planejamento e gestão em prol de cidades menos desiguais exige que os agentes municipais atuem de maneira mais proativa na condução do crescimento e da expansão das cidades. O desafio, portanto, é dar concretude às diretrizes do Estatuto da Cidade por meio de práticas de gestão renovadas. Entre as questões de maior importância no debate sobre a política urbana destaca-se a promoção e garantia da função social da propriedade e das diretrizes do Estatuto da Cidade que visam à ampliação do acesso à terra urbanizada, sobretudo para as populações socialmente vulneráveis. Observa-se que a eficácia e a eficiência dos instrumentos de planejamento e gestão do solo urbano, embora orientados por um conjunto expressivo de normas federais, dependem fortemente da capacidade dos Municípios de atuarem na indução do desenvolvimento urbano. Os instrumentos tradicionais de controle de uso e ocupação do solo urbano e os novos instrumentos do Estatuto da Cidade são interdependentes e precisam estar associados de maneira coerente para que possam produzir os efeitos desejados. Não há uma maneira única de regulamentar os instrumentos da política urbana, pois dependem das condições políticas, institucionais e culturais locais e regionais. O sucesso de uma política urbana voltada para a promoção da inclusão territorial e do acesso à terra urbanizada e bem localizada para todos envolve os diferentes agentes sociais que atuam na reprodução das cidades. A autora. CAPÍTULO 1 o município na organização do TerriTório A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Compreender o papel do poder público municipal no planejamento e gestão das cidades no período demarcado pela Constituição Federal de 1998 e a aprovação do Estatuto da Cidade. 3 Compor um panorama recente da legislação federal que fundamenta o planejamento e a gestão do solo urbano. 11 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 conTexTualização A compreensão do papel do Município após a promulgação da Constituição Federal em 1988 (CF/88) e a aprovação da Lei Federal nº 10.257, de 2001, denominada Estatuto da Cidade, é essencial para iniciarmos o estudo sobre a política urbana no Brasil. A Constituição Federal de 1988 representa um marco histórico na reconstrução da democracia brasileira e no fortalecimento da autonomia Municipal, sobretudo na política urbana fundamentada pelos princípios da função social da cidade e da propriedade. O Estatuto da Cidade, baseado nesses princípios constitucionais, estabelece as diretrizes e cria os instrumentos que visam na sua origem à promoção do “Direito à Cidade” e do “Direito à Moradia Digna” como estratégias de enfrentamento das desigualdades sociais e territoriais que caracterizam as cidades brasileiras contemporâneas. evolução daS cidadeS e doS marcoS normaTivoS da políTica urbana Embora o planejamento e o controle do uso do solo urbano, tradicionalmente, tenham sido atribuições dos Municípios Brasileiros, é com a CF/88 e com o Estatuto da Cidade que esse papel é reforçado. É a primeira vez no Brasil que uma constituição traz um capítulo específico sobre a Política Urbana (artigos 182 e 183), resultado de um movimento nacional pela “Reforma Urbana” que ganha expressão com a abertura política do país. A formação do “Movimento Nacional de Reforma Urbana” envolveu movimentos sociais existentes na época e diversos atores sociais ligados aos sindicatos, às ONGs e às organizações acadêmicas, dentre outras entidades atuantes no campo da política urbana. O debate em torno da reforma urbana cresce diante dos problemas urbanos que se intensificaram no país a partir da década de 70. Nesse período, ganharam expressão as reivindicações sociais e as propostas de soluções que apontam para a construção de um novo marco normativo da política urbana que visa a reverter o padrão de desigualdades sociais que estão na raiz da urbanização das cidades brasileiras. 12 Política Urbana e Ambiental A urbanização no Brasil se intensificara na década de 30, como uma das faces do processo de industrialização. Nas décadas de 40 e 50, as taxas de crescimento da população urbana atingiram seus níveis mais elevados e, na década de 60, a população urbana ultrapassou os 50% de habitantes do país. Essa urbanização acelerada que acompanha a industrialização, em determinadas regiões do país, sobretudo na região sudeste, gerou uma rede urbana complexa. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, a população residente do país está distribuída em 27 Unidades da Federação e 5.565 Municípios. Tabela 1 - Evolução do número de municípios por região do país Evolução do número de Municípios por região do país (de 1960 a 2010) 1960 1970 1980 1991 2000 2010 Brasil 2.766 3.952 3.991 4.491 5.507 5.565 Região Norte 153 195 203 298 449 449 Região Nordeste 903 1.376 1.375 1.509 1.787 1.794 Região Sudeste 1.085 1.410 1.410 1.432 1.666 1.668 Região Sul 414 717 719 873 1.159 1.188 Região Centro-Oeste 211 254 284 379 446 466 Fonte: Sinopse do número de Municípios, censo do IBGE 2010 Tabela 2 - Distribuição da população e percentual por região do país, em 2010 Grandes Regiões do país 2010 % BRASIL 190.755.799 100 Região Sudeste 80.364.410 42,13 Região Nordeste 53.081.950 27,83 Região Sul 27.386.891 14,36 Região Norte 15.864.454 8,32 Região Centro-Oeste 14.058.094 7,37 Fonte: Sinopse do número de Municípios, censo do IBGE 2010 A formação dessa distribuição da população no país e concentração nas grandes cidades da região sudeste (42% da população do país), entretanto, não se deu de maneira planejada e não foi acompanhada de infraestrutura adequada nas áreas urbanas que atraíram as populações que se deslocavam das áreas rurais em busca de novas oportunidades de trabalho. O resultado são cidades desiguais: tanto pela deficiência do saneamento básico como pela insuficiência dos serviços de transportes que afetam, especialmente, as periferias dos grandes centros, onde predomina o número de moradias em assentamentos urbanos precários. A urbanização no Brasil se intensificara na década de 30, como uma das faces do processo de industrialização. Nas décadas de 40 e 50, as taxas de crescimento da população urbana atingiram seus níveis mais elevados e, na década de 60, a população urbana ultrapassou os 50% de habitantes do país. 13 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 A precariedade dos assentamentos urbanos evidencia-se pela infraestrutura inadequada, irregularidade urbanística e fundiária e carência de equipamentos sociais e urbanos (escolas, creches, postos de saúde, hospitais, praças, etc.) para o atendimento das demandas da população urbana, especialmente das populações mais pobres. Observa-se que o alto grau de irregularidade urbanística e fundiária dos assentamentos precários que estão nas periferias urbanas não é um fenômeno que ocorre apenas no Brasil, mas atinge a maioria das cidades da América Latina. A tabela 3, a seguir, sobre a evolução da população brasileira por situação de domicílio rural e urbano, segundo os censos demográficos do IBGE, demonstra que em 2010 cerca de 84% da população moram nas cidades. Tabela 3 - População nos Censos Demográficos por situação do domicílio Ano Situação do domicílio Total População urbana em relação à População Total Urbana Rural 1940 41.236.315 31% 12.880.182 28.356.133 1950 51.944.397 36% 18.782.891 33.161.506 1960 70.992.343 45% 32.004.817 38.987.526 1970 94.508.583 56% 52.904.744 41.603.839 1980 121.150.573 68% 82.013.375 39.137.198 1991 146.917.459 75% 110.875.826 36.041.633 2000 169.590.693 81% 137.755.550 31.835.143 2010 190.755.799 84% 160.925.79229.830.007 Fonte: Tabela 1288 - População nos Censos Demográficos por situação do domicílio, IBGE Para saber mais sobre os resultados dos censos demográficos, visite o site www.ibge.gov.br. FaSeS da políTica urbana É possível compreender a evolução dos marcos normativos da política urbana que orientam a ação dos Municípios no planejamento e gestão urbana demarcando três fases: http://WWW.ibge.gov.br 14 Política Urbana e Ambiental Quadro 1 – Fases da política urbana Fase I: Pré-Constituinte Tem início no final da década 70, marcado pelos debates em torno do crescimento “desordenado”, sobretudo das grandes ci- dades, e início dos anos 80, com o processo de abertura política, até a promulgação da CF/88. Fase II Pré-Estatuto Da Cidade Começa com a promulgação da CF/88 e vai até 2001, com a aprovação do Estatuto da Cidade. As cidades com mais de 20 mil habitantes começam a elaborar seus planos diretores, baseados nos princípios constitucionais da função social da cidade e da propriedade urbana. Fase III Pós-Estatuto da Cidade Tem início em 2001 e se estende até os dias atuais, com a reconstrução da política habitacional do país. Novos planos diretores são elaborados, iniciando-se uma fase de retomada do debate sobre os desafios do planejamento e gestão das cidades. Fonte: A autora. Vejamos alguns aspectos relevantes que caracterizam as três fases, relacionando essas fases com o conjunto respectivo de normas federais. a) Fase I: Pré-Constituinte Nesse período, o principal marco normativo da política urbana, em escala nacional, é a Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano, ainda vigente. Essa norma nacional estabelece condições para a expansão das cidades que buscavam resguardar espaços públicos de circulação, áreas para usos institucionais e de lazer, e a garantia de infraestrutura urbana necessária à qualidade de vida das cidades. A aprovação da Lei de Parcelamento do Solo Urbano, em 1979, entretanto, não foi suficiente para conter o crescimento e o adensamento desordenado das cidades. Os Municípios, nessa época, além de contar com a Lei de Parcelamento do Solo Urbano, buscavam controlar a dinâmica de crescimento das cidades por meio de leis municipais que classificavam de maneira muito simples os usos urbanos, sem ter instrumentos capazes de interferir nos processos de especulação imobiliária e retenção de imóveis vazios em áreas infraestruturadas, que já estavam em discussão nos meios técnicos e acadêmicos. Na Fase Pré- Constituinte o principal marco normativo da política urbana, em escala nacional, foi a Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano. 15 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 Quadro 2 - Fase I: Pré-Constituinte Fase I: Pré-Constituinte Ano Lei Federal Conteúdo básico 1979 Lei Federal n° 6766/79, de 19/12/1979 Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências. 1983 Projeto de Lei Federal n° 775/83 Anteprojeto da Lei Federal do Desenvolvimento Urbano, que inclui entre suas propostas vários ins- trumentos que iriam estabelecer um maior controle sobre a terra urbana. Fonte: A autora. Para saber mais sobre o parcelamento do solo urbano, consulte o Capítulo 3 da Lei Federal n° 6766/79, de 19 de dezembro de 1979. b) Fase II: Pós-Constituinte Após a CF/88 esse cenário muda com a inclusão do capítulo específico sobre a política urbana, fruto da mobilização nacional em torno dos problemas urbanos e ambientais emergentes, sobretudo nas grandes cidades. Nessa fase pós-constituinte, muitos Municípios começam a elaborar planos diretores aprovados por leis municipais, que buscam criar novos instrumentos de indução do desenvolvimento urbano. Esses planos diretores elaborados na década de 90, da fase pós- constituinte, incorporam instrumentos previstos no Anteprojeto de Lei de 1983, que não chegou a ser aprovado. Dentre os instrumentos que estavam na agenda do debate da política urbana no início da década de 80, um é incorporado ao art. 183 do Capítulo da Política Urbana, na CF/88, o que trata da obrigação de uso de imóveis subutilizados, sob pena de aumento do valor do IPTU. Outros instrumentos discutidos nas décadas anteriores e inspirados em experiências internacionais e nacionais foram também incorporados aos Planos Diretores elaborados na fase pós-constituição, tais como: solo criado (utilizado Na Fase Pós- Constituição destacam-se a obrigação de elaborar Planos Diretores Municipais e a discussão nacional para a regulamentação de novos instrumentos da política urbana. 16 Política Urbana e Ambiental na França) e as zonas de especial interesse social (aplicados, originalmente, em Belo Horizonte e Recife) para a regularização urbanística e fundiária de favelas e assentamentos precários. O solo criado é instrumento inspirado na experiência francesa e foi incorporado no Brasil para controlar os processos de valorização do solo urbano e capturar parte dessa valorização para o benefício da coletividade. Nesse período, houve também, no Brasil, a primeira revisão da Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano, em 1999, e a Emenda Constitucional n° 26, de 2000, que incluiu o Direito à Moradia entre os direitos sociais definidos no artigo 6° da Constituição. Foi uma fase de muita inovação no planejamento urbano do Brasil e de muita crítica aos instrumentos urbanísticos tradicionais, entretanto, é uma fase de muita controvérsia em torno da legitimidade política e jurídica desses novos instrumentos, já que a Constituição não havia sido devidamente regulamentada. Iniciou-se então uma mobilização nacional para que houvesse a regulamentação dos artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988. Assim começou a ser construído o Estatuto da Cidade, Lei Federal aprovada em 2001, 13 anos depois da promulgação da CF/88. O quadro a seguir apresenta as principais normas referentes a essa segunda fase. Quadro 3 – Normas referentes à segunda fase: Pós-Constituinte Fase II: Pós-Constituinte Ano Lei Federal Conteúdo básico 1988 Constituição Federal do Brasil, promulgada em 05/10/1988 Estabelece a autonomia Municipal e orienta a política urbana no Título V, Capítulo II, artigos 182 e 183. 1999 Lei Federal n° 9.785/99, de 29/01/1999 Altera o Decreto-Lei nº 3.365, de 21/06/1941 (desapropria- ção por utilidade pública) e as Leis nº 6.015, de 31/12/1973 (registros públicos) e nº 6.766, de 19/12/1979 (parcelamento do solo urbano). 2000 Emenda Constitucional n° 26, de 14/02/2000 Altera o artigo 6° da Constituição, incluindo, entre os direitos sociais, o Direito à Moradia. Fonte: A autora. 17 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 Sobre a evolução dos marcos normativos da política urbana veja também “O Estatuto da Cidade: comentado” = The City Statute of Brazil: a commentary / organizadores: Celso Santos Carvalho, Ana Claudia Rossbach. – São Paulo: Ministério das Cidades: Aliança das Cidades, 2010. http://www.citiesalliance.org/ca/node/1948 c) Fase III: Pós-Estatuto da Cidade A aprovação do Estatuto da Cidade é o principal marco da política urbana no Brasil depois da CF/88. Estabelece um conjunto de diretrizes da política urbana e orienta os Municípios para a elaboração de seus planos diretores e a regulamentação dos instrumentos da política urbana, conforme os princípios da função social da cidade e da função social da propriedade urbana. No quadro a seguir, ficam demonstrados os principais avanços após 2001, com significativa renovação do marco jurídico nacional. Além do Estatuto da Cidade, destacam-se também nesse período: a criação do Ministério das Cidades, a institucionalização do sistema de Conferências Nacionais das Cidades, ambos em 2003, e a criação, em 2005, do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, composto por um Fundo e um Conselho específicos. O Estatuto da Cidade estabelece um conjunto de diretrizese princípios da política urbana e orienta os Municípios para a elaboração de seus planos diretores e a regulamentação de instrumentos. 18 Política Urbana e Ambiental Quadro 4 – Fase III: Pós-Estatuto da Cidade FASE III: Pós-Estatuto da Cidade Ano Lei Federal Conteúdo básico 2001 Lei Federal n°10.257, de 10/07/2001 Estatuto da Cidade Regulamenta os art.182 e art.183 da C F/88, estabe- lece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Medida Provisória n°2.220, de 04/09/2001 Dispõe sobre a concessão de uso especial de que trata o § 1º do art. 183 da CF/88, cria o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano - CNDU e dá outras providências. 2003 A Medida Provisória nº103 de 01/01/2003, art. 31, conver- tida na Lei nº 10.683/03 de 28/05/2003 Transforma a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano - SEDU, em Ministério das Cidades. Transfere o Conselho Nacional de Trânsito e o Departamento Nacional de Trânsito do Ministério da Justiça, e o Con- selho Nacional de Desenvolvimento Urbano da Presi- dência da República, alterando sua denominação para Conselho das Cidades. Cria o cargo de Ministro de Estado das Cidades. O Decreto nº 4665 de 03/04/2003 aprova a estrutura regimental desse Ministério. 2005 Lei Federal n° 11.124, de 16/06/2005 Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. 2006 Decreto Federal n° 5.796, de 06/06/2006 Regulamenta a Lei nº 11.124, de 16/06/2005, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social - SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. 2007 Lei Federal n°11.445, de 05/01/2007 Lei de Saneamento Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nº 6.766, de 19/12/1979, nº 8.036, de 11/05/1990, nº8.666, de 21/06/1993, nº8.987, de 13/02/1995; revoga a Lei nº 6.528, de 11/05/1978; e dá outras providências. 19 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 FASE III: Pós-Estatuto da Cidade Ano Lei Federal Conteúdo básico 2008 Lei Federal n° 11.188, de 24/12/2008 Assegura às famílias de baixa renda assistência técni- ca pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social e altera a Lei nº 11.124, de 16/06/2005. 2009 Lei Federal nº 11.977, de 7/07/2009 Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas; altera o Decreto-Lei nº 3.365, de 21/06/1941, as Leis nº 4.380, de 21/08/1964, nº 6.015, de 31/12/1973, nº 8.036, de 11/05/1990, e nº 10.257, de 10/07/2001, e a Medida Provisória nº 2.197- 43, de 24/08/2001; e dá outras providências. 2011 Lei nº 12.424, de 16/06/2011 Altera a Lei nº 11.977, de 7/07/2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, as Leis nº 10.188, de 12/02/2001, nº 6.015, de 31/12/1973, nº 6.766, de 19/12/1979, nº 4.591, de 16/12/1964, nº 8.212, de 24/07/1991, e nº 10.406, de 10/01/2002 - Código Civil; revoga dispositi- vos da Medida Provisória nº 2.197-43, de 24/08/2001; e dá outras providências. Fonte: Sítio da Presidência da República Federativa do Brasil, 2011. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/legislacao/legislacao-por-assunto/ cidades-imoveis-e-habitacao-teste#content>. Acesso em: 16 dez. 201. A seleção desse conjunto de normas federais que orientam a política urbana e têm impacto direto sobre a organização do território não constitui as únicas regras que devem ser seguidas pelos Municípios. Outras matérias de interesse local são regidas por outros conjuntos de normas, porém nos quadros anteriores apresentamos aquelas que exercem maior influência sobre os conteúdos tratados na legislação urbanística dos municípios brasileiros. Como as normas federais tratam de assuntos gerais, ou seja, regras comuns, cabe aos Municípios estabelecer os critérios e os parâmetros mais adequados ao seu contexto e às suas singularidades locais. A história não é linear, menos ainda a dinâmica de reprodução das cidades. Mas, para sistematizar alguns aspectos sobre a renovação dos instrumentos de planejamento e gestão das cidades, optamos por destacar essas três fases. 20 Política Urbana e Ambiental Quadro 5 - Sistematizar de alguns aspectos sobre os instrumentos de planejamento e gestão das cidades FASE I – Pré-constituinte • Da fase I temos como norma nacional para planejar a expansão das cidades a Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano, ainda em vigor (Lei Federal n°6766/79). FASE II – Pós-Constituição de 1988 • Continua vigente a Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano (Lei Federal n°6766/79, acrescida da nova redação dada pela Lei Federal n° 9.785/99). • No CF/88 o Capítulo II, art.182 e art.183, define como princípio da política urbana a função social da cidade e da propriedade urbana. • Nessa Constituição estão definidos nossos direitos e deveres, atribuições e competências dos Municípios na execução da política urbana. FASE III – Pós-Estatuto da Cidade • Lei Federal de Parcelamento do Solo Urbano, ainda em vigor (Lei Federal n°6766/79) e nova redação dada pela Lei Federal n° 9.785/99, de 29/01/1999. • O Capítulo II (artigos 182 e 183) da Constituição Federal de 1988. • Aprovação do Estatuto da Cidade: diretrizes da política urbana e instrumentos que podem ser utilizados pelos Municípios, de acordo com suas especificidades e singularidades locais. • Nesta fase são aprovadas normas federais que orientam a política habitacional e de saneamento. Essas normas têm forte influência sobre a organização do território, portanto, sobre o planejamento e a gestão do solo urbano. • A gestão democrática das cidades também é foco de uma série de normas federais que estabelecem, nesta fase, novos canais de participação e controle social sobre a implementação da política urbana. Fonte: A autora. 21 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 Fi gu ra 1 - Fa se s da P ol íti ca U rb an a Fo nt e: A a ut or a. 22 Política Urbana e Ambiental Você pode e deve recorrer às referências legais apresentadas neste capítulo, assim como recorrer a outras referências, sempre que for preciso. O planejamento urbano é uma atividade que nos remete permanentemente à consulta de normas federais. Nunca esgotamos as possibilidades de encontrar uma nova interpretação ou uma lei que seja pertinente às questões urbanas. Muitas vezes, para tratar de assuntos específicos alguns detalhes das normas em vigor são irrelevantes, mas para outras abordagens tornam-se essenciais. As leis em si mesmas não são capazes de resolver os problemas urbanos sem que haja uma gestão urbana orientada para a promoção de cidades socialmente mais justas. Por isso, após a aprovação do Estatuto da Cidade, há um reforço sobre a criação de mecanismos de participação e controle social no processo de implementação da política urbana. Atividade de Estudos: 1) Em que fase (I, II e III) foram criadas normas federais que têm forte influência sobre o planejamento e a gestão do solo urbano? Indique qual o principal marco normativo que fundamenta os princípios para a atuação do Município na política Urbana. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 23 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 o que diz a conSTiTuição Federal de 1988 Sobre auTonomia municipal A Constituição Federal, promulgada no dia 05 de outubro de 1988, é um marco definitivo para a superação da ditadura militar, consolidando um novo regime político democrático. A autonomia Municipal (política, administrativa, financeira, legislativa) está fundamentada no artigo 29 da CF/88. Entre as competências e atribuições do Município, destaca-se o seu papel exclusivo na regulação do uso e ocupação do solo urbano. Isso quer dizer, na prática, que a definição do que pode ser construído nas cidades e as atividades que podem ser instaladas nas áreas urbanas devem atender aos dispositivos legais municipais. Compete aos Municípios, de acordo com o artigo 30, da CF/88: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. O Município, assumindo a condução das questões de interesse local, incorpora atribuições que têm forte influência sobre a reprodução do território, conforme o artigo 30. Outros dispositivos reforçam ainda mais a autonomia Municipal na CF/88 que por esse motivo foi apelidada de “constituição municipalista”. 24 Política Urbana e Ambiental Para saber mais sobre as atribuições e competências do Município, leia o “Manual do Prefeito”. Coord. técnica Marcos Flávio R. Gonçalves. – 13 ed. revista e atualizada. Rio de Janeiro: IBAM, 2009. A descentralização administrativa e política a partir do fortalecimento da autonomia municipal que se consolidou com a CF/88, segundo Maricato (2010, p. 06): [...] se deu como reação à centralização autoritária da política urbana exercida pelo governo ditatorial no período anterior, entre 1964 e 1985. Com base nas diretrizes federais sobre o desenvolvimento urbano e sobre a propriedade privada da terra e imóveis, o planejamento e a gestão urbana, bem como a resolução de grande parte dos conflitos fundiários, foram remetidos para a esfera municipal. a Função Social da cidade e a Função Social da propriedade urbana A função social da cidade e a função social da propriedade urbana são princípios que devem fundamentar o plano diretor, definido como o instrumento básico da política urbana, de acordo com o artigo 182 da CF/88. A elaboração do plano diretor é uma atribuição do poder público local e deve ser aprovado por lei municipal. Destaca-se que a propriedade urbana cumpre sua função social “quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor”. (CF/88, § 2º, art. 182). Segundo Maricato (2010, p. 07): Em que pese a abordagem holística composta por diferentes aspectos, o tema central do EC é a função social da propriedade. Em síntese, a lei pretende definir como regular a propriedade urbana de modo que os negócios que a envolvem não constituam obstáculo ao direito à moradia para a maior parte da população, visando, com isso, combater a segregação, a exclusão territorial, a cidade desumana, desigual e ambientalmente predatória. O EC trata, portanto de uma utopia universal: o controle da propriedade fundiária No art. 182 da CF/88 está definido o plano diretor como o instrumento básico da política urbana e obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. 25 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 urbana e a gestão democrática das cidades para que todos tenham o direito à moradia e à cidade. A ideia que está por trás desses dispositivos é a de proporcionar uma atuação mais eficaz na regulação do solo urbano, com maior controle sobre o preço da terra e, desse modo, maior capacidade de recuperar para a coletividade parte dos investimentos públicos que, historicamente, são apropriados, privadamente, atendendo exclusivamente aos interesses individuais. A Política de Desenvolvimento Urbano executada pelo Poder Público Municipal tem por objetivo “ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes” (CF/88, art.182). O Plano Diretor é definido como o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, sendo obrigatório para cidades que possuam mais de 20 mil habitantes. Para enfrentar a especulação imobiliária observada nas cidades que cresceram e se expandiram em direção às periferias, deixando importantes vazios dotados de infraestrutura e, portanto, aptos a receber moradias com melhores condições de acesso aos bens e serviços das cidades, a CF/88 no art.182, § 4, prevê a obrigação de parcelar, edificar e utilizar imóveis urbanos subutilizados, sob pena do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU progressivo no tempo. Outro dispositivo importante que visa a atender demandas da sociedade por moradia digna e inclusão social de parcela significativa da população é o reconhecimento da posse da terra para fins de moradia por usucapião, em condições mais favoráveis à população de baixa renda. De acordo com o art. 183 da CF/88: [...] aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Artigos 182 e 183, referentes ao Capítulo II, da Política Urbana, Título V incluído na Constituição Federal de 1988: CAPÍTULO II DA POLÍTICA URBANA 26 Política Urbana e Ambiental Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específicapara área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. 27 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 § 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. Fonte: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 12 dez. 2011. A CF/88, sem dúvida, é o principal marco legal na construção do Direito à Cidade e o Direito à Moradia, por isso, cada conceito nela incluído representa um reforço de conquistas sociais mais amplas. A consolidação, por exemplo, do Direito à Moradia na CF/88 foi ainda mais reforçada, de acordo com a chamada competência reformadora exercida pelo Congresso Nacional, em 2000, pela Emenda Constitucional nº 26, de 14 de fevereiro de 2000. Essa emenda, que alterou a redação do artigo 6º da CF/88, ampliou o rol dos conhecidos direitos sociais com a inclusão do Direito à Moradia. Em 2010, o artigo 6º da Constituição que trata dos direitos sociais foi mais uma vez ampliado, com a inclusão do direito a alimentação, passando a vigorar com a seguinte redação, de acordo com a Emenda Constitucional nº 64 de 2010: Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Atividade de Estudos: 1) A partir do estudo deste capítulo, defina “função social da Cidade”. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 28 Política Urbana e Ambiental geSTão democráTica daS cidadeS Após a CF/88 que avançou, significativamente, na construção dos princípios da política urbana do país, veio a aprovação, em 2001, do Estatuto da Cidade. A expectativa com a aprovação do Estatuto da Cidade, sobretudo entre planejadores e urbanistas engajados no Movimento Nacional pela Reforma Urbana, é refletida no artigo publicado no Correio da Cidadania, logo após a aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001: Dentre os aspectos mais importantes do Estatuto, está a gestão democrática das cidades, oficializando, por exemplo, a obrigatoriedade do orçamento participativo. Mas o aspecto mais esperado talvez esteja na regulamentação de instrumentos legislativos que permitem garantir a função social da propriedade, dando ao Poder Público a possibilidade de resgatar para o benefício da sociedade a valorização provocada por seus próprios investimentos em infraestrutura urbana, e de frear a retenção especulativa e imóveis vazios em áreas urbanas. (ERMÍNIA; FERREIRA. 2001). A partir do Estatuto da Cidade e, mais fortemente, com a criação do Ministério das Cidades em 2003, inicia-se no país a retomada do plano diretor como principal instrumento da política urbana, atendendo ao disposto no artigo 182 da CF/88, buscando enfatizar uma quebra no paradigma do planejamento urbano tradicional. O plano diretor pós-Estatuto da Cidade deixa de ser visto como uma peça exclusivamente técnica, assumindo um caráter político, central para o estabelecimento de prioridades, integração das políticas públicas setoriais e garantia da função social da propriedade. Para saber mais sobre os Planos Diretores Pós-Estatuto da Cidade, consulte: “Os Planos Diretores Municipais Pós-Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas / Orlando Alves dos Santos Junior, Daniel Montandon (orgs.) – Rio de Janeiro: Letra Capital: Observatório das Cidades: IPPUR/UFRJ, 2011. Destaca-se, nesse contexto, a “Campanha Nacional Plano Diretor Participativo: Cidade de Todos, por meio da reforma urbana”, iniciada em maio de 2005 pelo Ministério das Cidades e pelo Conselho das Cidades. As iniciativas do Ministério das Cidades reforçaram a ampliação da participação de diferentes agentes sociais no processo, disponibilizando, paralelamente, recursos financeiros 29 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 para as Prefeituras criarem condições técnicas e institucionais suficientes para a elaboração dos seus respectivos planos diretores participativos. De acordo com documentos oficiais do Ministério das Cidades, foram mobilizados recursos financeiros, além de ações da Secretaria Nacional de Programas Urbanos na Campanha para Formação dos Núcleos Regionais; houve a produção e distribuição do Kit da Campanha; o cadastro de profissionais habilitados ao assessoramento de Municípios; um Banco de Experiências e a formação da Rede Plano Diretor Participativo. A regulamentação do Conselho Nacional das Cidades, em 2004, três anos após a sua criação em 2001, propiciou a aprovação de três Resoluções com o objetivo de orientar os municípios na implementação do Estatuto da Cidade: • Resolução nº 15, que cria a Campanha Nacional para difusão do plano diretor; • Resolução nº 25, que indica os critérios que enquadram os municípios na obrigação constitucional e regulamenta o processo participativo, e • Resolução nº 34, que busca um detalhamento dos conteúdos mínimos do Plano Diretor Participativo, já previsto no próprio Estatuto da Cidade. A mobilização nacional em torno dos planos diretores é também atribuída ao próprio Estatuto da Cidade, que fixa um prazo limite para os municípios elaborarem seus planos diretores: Art. 50. Os Municípios que estejam enquadrados na obrigação prevista nos incisos I e II do caput do artigo 41 desta Lei que não tenham Plano Diretor aprovado na data de entrada em vigor desta Lei deverão aprová-lo até 30 de junho de 2008. (Estatuto da Cidade, Capítulo V). Como podemos verificar, a construção dos marcos jurídicos da política urbana no país é um processo histórico, fruto de uma série de debates e discussões que articulam diferentes agentes sociais em uma arena política complexa, requerendo, permanentemente, aperfeiçoamentos e correções de rumo. Reconhecer essa dinâmica é essencial para que possamos estar aptos a avaliar criticamente as decisões e os pactos sociais que são inerentes ao processo de planejamento e gestão das cidades. Reforçamos aqui que o Estatuto da Cidade reafirma o papel autônomo do Município na condução do planejamento e da gestão das cidades, de acordo com o que diz a CF/88. Estabelece princípios e uma série de diretrizes comuns a serem observadas por todos os Municípios, mas remete para os Municípios as principais definições e prioridadesO Estatuto da Cidade estabelece princípios e diretrizes comuns a serem observadas por todos os Municípios. Mas o Município deve desempenhar um papel de protagonista na condução da política urbana. 30 Política Urbana e Ambiental a serem assumidas na condução da política urbana por meio de um processo democrático e participativo. O Município, portanto, deve desempenhar um papel de protagonista na condução do planejamento e gestão do solo urbano. O Estatuto da Cidade orienta, também, que os Municípios implementem a política urbana, a partir de um processo democrático e participativo, garantindo maior controle social sobre decisões de governo que irão afetar, diretamente, o cotidiano dos cidadãos. Atividade de Estudos: 1) Em sua opinião, quais são os principais avanços da política urbana desde a promulgação da Constituição Federal? Justifique. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ algumaS conSideraçõeS Recomendamos que as normas gerais abordadas neste capítulo (leis, decretos, resoluções ou emendas constitucionais) sejam organizadas e arquivadas por assunto e por ano. Essa organização facilitará a sua pesquisa sempre que for necessário recorrer aos conteúdos aqui estudados. Desse modo, construímos um acervo de pesquisa permanente, elementar para aqueles que pretendem atuar no campo do planejamento e gestão de cidades. 31 O MunicípiO na OrganizaçãO dO TerriTóriO Capítulo 1 O conjunto de normas que orienta a Política Urbana deve ser continuamente atualizado e enriquecido. Nos próximos capítulos analisaremos as interfaces que existem entre o planejamento urbano e as políticas públicas setoriais, especialmente de saneamento ambiental, preservação ambiental, habitação e mobilidade urbana e transporte. Neste capítulo nos concentramos em identificar dispositivos legais que estão na Constituição Federal de 88 e na legislação federal que fundamentam a ação dos Municípios no planejamento e na gestão democrática das cidades. Com relação ao Estatuto da Cidade e aos Planos Diretores elaborados a partir de 2001, estudaremos mais um pouco nos capítulos 3 e 4. As Legislações consultadas para a elaboração deste capítulo são apresentadas a seguir. Caso queira aprofundar seus estudos, sugerimos que pesquise cada uma destas leis, que são: Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Projeto de Lei Federal n° 775/83. Constituição Federal da República do Brasil, 1988. Lei Federal n° 9.785/99, de 29 de janeiro de 1999. Emenda Constitucional n° 26, de 14 de fevereiro de 2000. Estatuto da Cidade. Lei Federal 10.257, de 10 de julho de 2001. Medida Provisória n° 2.220/01, de 4 de setembro de 2001. Lei nº 10.683/03, de 28 de maio de 2003. Lei Federal n° 11.124/05, de 16 de junho de 2005. Decreto Federal n° 5.796/06, de 06 de junho de 2006. Lei Federal n° 11. 445/07, de 05 de janeiro de 2007 - Lei de Saneamento. Lei Federal n° 11.188/08, de 24 de dezembro de 2008. Lei nº 11.977/09, de 7 de julho de 2009. Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011. reFerênciaS BIASOTTO, R.; SANTOS, A. et al. Desenvolvimento Urbano e Gestão Municipal: Plano Diretor em Municípios de Pequeno Porte. IBAM: Rio de Janeiro, 1994. 32 Política Urbana e Ambiental BRASIL. Constituição Federal da República do Brasil, 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6766.htm>. Acesso em: 15 dez. 2011. ERMÍNIA, Ferreira; WHITAKER, João Sette. Estatuto da Cidade: essa lei vai pegar?” Artigo publicado no Correio da Cidadania, nº 252, semana de 7 a 14 de julho de 2001. GONÇALVES, Marcos Flávio R. (Coord.). Manual do Prefeito. 13 ed. revista, aum. e atual. Rio de Janeiro: IBAM, 2009. MARICATO, Ermínia. O Estatuto da Cidade Periférica. In: CARVALHO, Celso Santos; ROSSBACH, Ana Claudia (Orgs.). O Estatuto da Cidade: comentado. São Paulo: Ministério das Cidades, 2010. RESENDE, Vera. Rediscutindo a política urbana, a propósito do estatuto da cidade. Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense - UFF. Disponível em: <http://www.uff.br/lacta/publicacoes/ rediscutindoapoliticaurbana.htm#_edn7>. Acesso em: 15 dez. 2011. SILVA JUNIOR, Orlando Alves; MONTANDON, Daniel (Orgs.). Os Planos Diretores Municipais Pós-Estatuto da Cidade: balanço crítico e perspectivas. Rio de Janeiro: Letra Capital: Observatório das Cidades: IPPUR/UFRJ, 2011. 33 CAPÍTULO 2 inTegração daS políTicaS SeToriaiS no TerriTório e o direiTo à cidade A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Enunciar conceitos e noções básicas que articulam as políticas setoriais no território. 3 Discutir as interfaces das políticas setoriais na organização das cidades, sob a ótica do Direito à Cidade. 35 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 conTexTualização A integração de políticas públicas setoriais é um dos desafios para a promoção do desenvolvimento urbano sustentável que visa à garantia do Direito à Cidade e à Moradia Digna. A sustentabilidade social, ambiental e econômica nas cidades por meio de políticas públicas integradas no território requer a instalação de sistemas de mobilidade e transportes públicos coletivos, a universalização dos serviços de saneamento ambiental, a proteção do patrimônio ambiental, cultural e histórico e uma política habitacional de interesse social. Esses pressupostos estão na agenda urbana, desde o final da década de 80, como estratégia de enfrentamento dos processos de segregação territorial e exclusão social que caracterizam o padrão de urbanização das cidades brasileiras. A adoção de políticas públicas buscando a sustentabilidade urbana implica, portanto, repensar o modelo de desenvolvimento, repensar o desenvolvimento das relações sociais e econômicas na cidade e o papel do direito como propulsor do direito à cidade sustentável. Trata-se, portanto, de gestão sustentável do espaço urbano, tendo em vista estratégias de inclusão social, equidade no acesso aos recursos ambientais e a realização da justiça ambiental. (SILVA, 2011, p. 7). Destacamos, nessa perspectiva: • a articulação e a complementaridade das ações entre os entes federados na organização do território das cidades através da provisão de infraestrutura e de serviços urbanos; • o fortalecimento institucional na perspectiva de garantir o controle social na execução de políticas públicas; • a formação de parcerias entre os setores público e privado para suprir as carências existentes nas cidades e pactuar mecanismos que assegurem a própria melhoria da qualidade urbana; • a priorização de ações que contribuam para o aumento da inclusão social, da qualidade de vida e da solidariedade nas cidades. É importante, portanto, que os Municípios façam seus planos setoriais em consonância com o plano diretor para orientar políticas complementares ao desenvolvimento urbano sustentável que, muitas vezes, estão sob a responsabilidade dos Estados e da União. As noções e conceitos apresentados neste capítulo enfatizam visões e abordagens que ampliam a compreensão sobre as principais interfaces que 36 Política Urbana e Ambiental existem entreas políticas públicas setoriais e o planejamento e a gestão do solo urbano. Estão em foco: • mobilidade urbana e transporte; • saneamento ambiental; • proteção e preservação do Patrimônio Ambiental, Cultural e Histórico. mobilidade urbana e o TranSporTe O conceito de mobilidade urbana expressa uma visão ampliada sobre as necessidades de deslocamentos nas cidades. Esses deslocamentos, tradicionalmente, eram vistos apenas sob a ótica dos meios de transporte rodoviário, com especial ênfase na racionalidade funcional do sistema viário, sem expressar com maior profundidade as especificidades e as necessidades diferenciadas das pessoas e seus movimentos cotidianos, incluindo os deslocamentos mais comuns entre a moradia, o trabalho e o lazer. O diagnóstico sobre os problemas urbanos que são comuns na maioria das cidades brasileiras demonstra a falta de integração entre os processos de crescimento e de expansão urbana e a qualidade dos meios de transporte e as formas de deslocamentos nas cidades. Esse ciclo vicioso pode ser sintetizado na figura a seguir: Figura 2 – Ciclo vicioso dos problemas urbanos Fonte: IBAM (2006). 37 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 A integração da mobilidade e da acessibilidade na política de desenvolvimento urbano permite superar visões que, historicamente, privilegiaram o trânsito e a circulação dos automóveis nas cidades. Essas visões que privilegiam a circulação de veículos, entretanto, estão associadas à dinâmica de crescimento e expansão das grandes metrópoles. Atualmente, a qualidade do desenvolvimento urbano inclui o atendimento às demandas dos usuários mais frágeis dos sistemas de transportes urbanos, como as crianças, as pessoas com deficiência e os idosos. Além disso, os parâmetros utilizados na política nacional de mobilidade e transporte urbano já consideram as especificidades de deslocamento das cidades médias e pequenas, onde as pessoas se locomovem, muitas vezes, sem condições de segurança, a pé, sobre lombos de animais e, quase sempre, em vias inadequadas. Essa concepção de mobilidade urbana e acessibilidade que busca promover maior qualidade às diferentes maneiras de movimentação das pessoas no espaço urbano, em prol de um modelo de desenvolvimento mais justo e inclusivo, tem gerado a necessidade de reformulação tanto dos espaços públicos como dos equipamentos de transporte, dos meios de comunicação e de circulação e distribuição de objetos e de pessoas nas cidades. A mobilidade e a acessibilidade centradas nas pessoas são princípios fundamentais na política de desenvolvimento urbano sustentável, essenciais para a promoção de cidades mais justas. O transporte público coletivo de qualidade e as soluções de mobilidade baseadas nos meios não motorizados, como as bicicletas, têm sido valorizadas e priorizadas em substituição aos meios de transportes individuais que ainda prevalecem, sobretudo nas grandes cidades. Cresce, também, no planejamento e gestão das cidades, a adesão às premissas do desenho urbano universal e rotas acessíveis que proporcionem melhores condições de mobilidade para as pessoas com qualquer tipo de restrição, especialmente idosos e pessoas com deficiência. O desenho urbano universal implica a eliminação de barreiras das áreas públicas e dos meios de transporte. A maximização e a complementaridade entre as atividades urbanas devem A mobilidade e a acessibilidade centradas nas pessoas são princípios fundamentais na política de desenvolvimento urbano sustentável, essenciais para a promoção de cidades mais justas. 38 Política Urbana e Ambiental ser consideradas no planejamento do uso e ocupação do solo, visando à maior proximidade entre o trabalho e as moradias, já que as grandes distâncias a serem percorridas nas cidades geram, muitas vezes, maiores custos e tempo de deslocamentos. A mobilidade urbana corresponde às diferentes respostas dadas por indivíduos e agentes econômicos às suas necessidades de deslocamento, consideradas as dimensões do espaço urbano e a complexidade das atividades nele desenvolvidas. Face à mobilidade, os indivíduos podem ser pedestres, ciclistas, usuários de transportes coletivos ou motoristas. Podem utilizar-se do seu esforço direto (deslocamento a pé) ou recorrer aos meios de transporte não motorizados (bicicletas, carroças, cavalos) e motorizados (coletivos e individuais). (BRASIL, 2004, p-13). As políticas de mobilidade urbana e de acessibilidade fundamentam-se, portanto, no direito das “pessoas” e não na prioridade da circulação de veículos, pois o objetivo maior é o cidadão e as suas necessidades de deslocamentos cotidianos. A integração entre o desenvolvimento das cidades e a política de mobilidade urbana e acessibilidade segue os seguintes princípios: • Direito ao acesso universal, seguro, equânime e democrático ao espaço da cidade. • Participação e controle social das políticas de mobilidade urbana. • Direito à informação sobre a mobilidade urbana. • Universalização do acesso ao transporte público. • Acessibilidade aos meios de transporte das pessoas com necessidades especiais. • Políticas públicas de transporte e trânsito integradas ao desenvolvimento urbano e preservação ambiental. • Prioridade para o deslocamento das pessoas e não de veículos motorizados • Segurança no trânsito. • Valorização e integração dos diferentes modos de transporte, incluindo meios alternativos, não motorizados. • Qualidade dos espaços públicos e rotas acessíveis para a garantia da acessibilidade universal. Destacamos as seguintes estratégias para a promoção da mobilidade urbana 39 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 e acessibilidade, conforme a publicação “A mobilidade urbana no planejamento da cidade” (IBAM, 2005), em consonância com a literatura especializada sobre o tema: • Planejamento integrado de transporte, e uso e ocupação do solo urbano; • Melhorias das condições do transporte coletivo urbano; • Promoção da circulação não motorizada; • Uso racional do automóvel; • Qualificação dos espaços públicos e dos diferentes modos de transporte coletivo para a promoção da acessibilidade. Atividade de Estudos: Vamos fazer um exercício baseado na sua experiência cotidiana de deslocamento e avaliar a qualidade da mobilidade urbana e da acessibilidade da sua cidade. Faça uma reflexão sobre o número de vezes que você precisa sair de casa (para realizar atividades de trabalho, lazer ou satisfazer qualquer outra necessidade). Uma vez por dia, mais de duas vezes por dia, uma vez por semana, só nos fins de semana? Pense nos trajetos que você costuma percorrer e avalie, com base nos princípios e conceitos que apresentamos nessa seção, se a sua cidade oferece condições e meios de mobilidade urbana e acessibilidade (adequados, inadequados ou são insuficientes para atender as suas necessidades)? Justifique! Para facilitar a sua justificativa, utilize os questionamentos abaixo para orientar a sua resposta. Os espaços públicos e as calçadas da minha cidade podem ser avaliados como: ( ) Adequados ( ) Inadequados ( ) Insuficientes para minhas necessidades Os meios de transportes que estão disponíveis são: ( ) Adequados ( ) Inadequados ( ) Insuficientes para minhas necessidades 40 Política Urbana e Ambiental O tempo e o recurso financeiro de que preciso dispor para me deslocar entre a minha casa e a área central da minha cidade são: ( ) Adequados ( ) Inadequados ( ) Insuficientes para minhas necessidades ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ SaneamenTo ambienTal O conceito de saneamento ambiental expressa uma visão integrada sobre a qualidade de vida urbana. Tradicionalmente, os serviços de saneamento básico abrangiam apenas o abastecimento de água e o esgotamento sanitário (coleta e tratamento), entretanto, a compreensão sobre a importância do saneamento básico na qualidade de vida nas cidades fez com que esse conceito fosse ampliado. A dimensão ambiental associada ao saneamento básico passou a incluir como requisito essencial ao desenvolvimento urbano e ambiental sustentável, além da água e do esgoto, a drenagem e o destino final dos resíduos sólidos (lixo). Esse conceito de saneamento básico ampliado envolve a dimensão ambiental, enfatizando a necessidade de integração dos sistemas de abastecimento de água, da coleta e tratamento do esgoto, da drenagem e do destino final dos resíduos sólidos. Os planos diretores devem compatibilizar o crescimento urbano e as densidades previstas para a ocupação do solo junto com as redes dos serviços de saneamento básico, implantadas ou previstas. O conceito de saneamento ambiental expressa uma visão integrada sobre a qualidade de vida urbana. 41 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 No planejamento das cidades é preciso reservar áreas públicas, tanto para as caixas-d’água, estações elevatórias e de tratamento de água e esgoto como para a implantação de aterros sanitários e soluções alternativas que possam mitigar impactos ambientais gerados pelo destino final dos resíduos sólidos nas cidades. A limpeza urbana de maneira geral, incluindo o tratamento dos resíduos sólidos, assumiu um papel de destaque nas políticas urbanas e ambientais. Integrada aos demais componentes do saneamento básico, reforça o combate da veiculação de doenças e, nesse sentido, à promoção da saúde pública. A dimensão ambiental associada à promoção do saneamento ambiental inclui, portanto, entre outras vinculações, a prevenção da contaminação de cursos d’água e lençóis freáticos, além das questões sociais relacionadas aos catadores, ou pressões causadas pela localização de determinadas atividades econômicas. Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos é, em síntese, o envolvimento de diferentes órgãos da administração pública e da sociedade civil com o propósito de realizar a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e a disposição final do lixo, elevando assim a qualidade de vida da população e promovendo o asseio da cidade, levando em consideração as características das fontes de produção, o volume e os tipos de resíduos – para a eles ser dado tratamento diferenciado e disposição final técnica e ambientalmente corretas –, as características sociais, culturais e econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e urbanísticas locais. (IBAM, 2001, p. 8). A drenagem abrange as redes de coleta das águas pluviais, mais a manutenção de áreas para absorção de águas da chuva, de maneira a evitar as enchentes. Na regulação do uso e ocupação do solo urbano recomenda-se a incorporação de “taxas de permeabilidade dos terrenos” com o objetivo de contribuir para melhor absorção das águas das chuvas. A relação do saneamento ambiental e o uso do solo têm impactos diretos na qualidade de vida urbana, comprometendo não apenas as condições ambientais da cidade, mas também a promoção da saúde pública. Isso significa dizer, portanto, que os investimentos feitos na universalização do saneamento básico estão diretamente relacionados à diminuição de gastos futuros, com a mitigação dos efeitos gerados por desastres ambientais e com a manutenção do próprio sistema de saúde pública. 42 Política Urbana e Ambiental LEGISLAÇÃO As diretrizes nacionais para o saneamento básico no Brasil foram estabelecidas pela Lei Federal n°11.445/2007 e regulamentadas pelo Decreto n° 7.217/2010 (de 21 de junho de 2010), publicado no Diário Oficial da União. De acordo com o artigo 2º, os serviços públicos de saneamento básico devem ser prestados com base nos seguintes princípios fundamentais: I - universalização do acesso; II - integralidade, compreendida como o conjunto de todas as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico, propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando a eficácia das ações e resultados; III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente; IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado; V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais; VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social, voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante; VII - eficiência e sustentabilidade econômica; VIII - utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas; IX - transparência das ações, baseada em sistemas de informações e processos decisórios institucionalizados; X - controle social; XI - segurança, qualidade e regularidade; XII - integração das infraestruturas e serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos. 43 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 Fonte: BRASIL. Lei n. 11.445, de 5 de Janeiro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/lei/l11445.htm>. (Acesso em: 23 nov. 2011). O Decreto n° 7.217/2010, que regulamenta a Lei Federal de Saneamento Básico n°11.445/2007, estabelece normas para a adequada prestação dos serviços, fixa condições e metas, além de prevenir e reprimir o abuso do poder econômico, garantindo as prerrogativas e competências dos órgãos integrantes do sistema nacional. As tarifas cobradas pelos serviços de saneamento prestados devem também assegurar o equilíbrio econômico-financeiro, induzindo a eficiência e eficácia das prestadoras dos serviços. Atividade de Estudos: 1) Indique os componentes dos sistemas de saneamento básico ampliado, considerando sua dimensão ambiental, e estabeleça pelo menos duas relações entre a integração desses sistemas e o planejamento do uso e ocupação do solo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 44 Política Urbana e Ambiental proTeção do paTrimônio ambienTal, culTural e HiSTórico As diretrizes e as regras da política nacional de proteção do patrimônio ambiental, cultural e histórico são instituídas porum conjunto extenso de normas específicas. Algumas dessas normas têm impacto direto sobre a regulação do uso e da ocupação do solo urbano, pois geram tratamentos diferenciados de determinadas parcelas do território urbano. Nesta seção, serão abordados aspectos relacionados à política nacional de proteção do patrimônio ambiental, cultural e histórico, colocando em relevo aqueles que mantêm forte ligação com os instrumentos da política urbana que serão abordados nos capítulos seguintes. a) Patrimônio Ambiental A integração das políticas urbana e ambiental, apesar de ser um tema amplamente debatido no campo do planejamento e gestão das cidades, figura ainda como um desafio para a promoção do chamado “desenvolvimento sustentável”. A ocupação de áreas ambientalmente frágeis ou protegidas como reserva de mananciais de abastecimento de água está na pauta da política urbana e da política ambiental. O instrumento do zoneamento, que figura como um dos instrumentos tradicionais do planejamento urbano, tem sido renovado a partir de critérios ambientais. A incorporação das bacias hidrográficas como unidade territorial de planejamento do uso e ocupação do solo está cada vez mais presente na fundamentação dos instrumentos da política urbana, mesmo quando não são tomadas, diretamente, pelo zoneamento tradicional das cidades. Remanescentes florestais e outros valores ambientais singulares, tais como dunas, formações rochosas ou corpos hídricos (córregos e rios) que cruzam as áreas urbanas têm despontado como elementos estratégicos para a preservação da biodiversidade que compõe os diferentes ecossistemas brasileiros. Nesse sentido, tornam-se referências territoriais que condicionam o crescimento e a expansão das cidades. A ocupação urbana em Áreas de Preservação Permanentes (APP) vem assumindo também a centralidade dos processos de planejamento e gestão do solo urbano e tem requerido soluções alternativas que conjuguem o Direito à Cidade, à Moradia e à Proteção Ambiental. 45 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 Os processos desiguais de apropriação e uso dos territórios têm sido concebidos como conflitos passíveis de mediação e negociação. A noção de sustentabilidade, embora disseminada amplamente no campo da política urbana, está cercada de polêmicas e controvérsias. No campo ambiental brasileiro, incluindo as políticas públicas e as abordagens sociológicas, segundo Acselrad (2004), muitas vezes, na defesa da sustentabilidade, não são consideradas as desigualdades no acesso aos recursos territoriais, assim como a má distribuição dos riscos e das cargas de poluição industrial na sociedade contemporânea. É preciso, por isso, levar em conta, na abordagem dos conflitos ambientais, os processos políticos e simbólicos que estão envolvidos na construção da noção de sustentabilidade ambiental. As categorias de “Unidade de Conservação da Natureza” (UCs), definidas na Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representam no campo da política ambiental brasileira o reconhecimento de características naturais relevantes, que merecem regras de planejamento e de gestão excepcionais para a garantia dos seus atributos ambientais. As Unidades de Conservação da Natureza têm forte influência sobre os processos de planejamento e gestão do solo urbano. As UCs devem ser criadas por lei e “precedidas de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento” (artigo 22, Lei Federal n° 9.985/2000). As UCs são classificadas em dois grupos: • 1º grupo - definido como unidade de proteção integral. Essa unidade admite apenas o uso indireto dos recursos naturais. • 2º grupo - denominado de unidades de uso sustentável. Essa unidade admite usos que sejam compatíveis com a conservação da natureza, ou seja: o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. A tabela 1 apresenta as categorias de enquadramentos das unidades de conservação, nos dois grupos definidos na Lei Federal n° 9.985/2000, que cria o SNUC. 46 Política Urbana e Ambiental Quadro 6 - Categorias de enquadramento das Unidades de Conservação da Natureza UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL 1 - Estação Ecológica 1 - Área de Proteção Ambiental 2 - Reserva Biológica 2 - Área de Relevante Interesse Ecológico 3 - Parque Nacional 3 - Floresta Nacional 4 - Monumento Natural 4 - Reserva Extrativista 5 - Refúgio de Vida Silvestre 5 - Reserva de Fauna 6 - Reserva de Desenvolvimento Sustentável 7 - Reserva Particular do Patrimônio Natural Fonte: A autora. OBJETIVOS E CARACTERÍSTICAS DAS “UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL” 1 - Estação Ecológica O objetivo da instalação de uma Estação Ecológica é a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites deverão ser desapropriadas. A visitação para fins de educação depende de plano de manejo ou regulamento específico. 2 - Reserva Biológica A Reserva Biológica é destinada à preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica. Admite- se a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. A Reserva Biológica é de posse e de domínio públicos (as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas). 3 - Parque Nacional O Parque Natural tem por objetivo a preservação de ecossistemas 47 inTegraçãO das pOlíTicas seTOriais nO TerriTóriO e O direiTO à cidade Capítulo 2 naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. É uma unidade de conservação e posse e domínio públicos (as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas). 4 - Monumento Natural Preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. A visitação pública depende do Plano de Manejo do órgão responsável e das normas previstas em regulamento. Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada. 5 - Refúgio de Vida Silvestre A criação de uma unidade de conservação da categoria Refúgio da Vida Silvestre visa proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. Pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada. OBJETIVOS E CARACTERÍSTICAS DAS “UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL” 1 – Área de Proteção Ambiental A Área de Proteção Ambiental é a unidade de conservação que 48 Política Urbana e Ambiental melhor se adapta ao meio urbano. É uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada
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