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Terceira Avaliação de Teoria da Literatura II Larissa de S. P. Bianchi Danielle B. Marchetti Terceira Avaliação de Teoria da Literatura II Docente: Anita Moraes A dupla deve debater e responder as questões abaixo (mínimo de 1 lauda e máximo de 2 laudas por resposta). A entrega das respostas deve ser feita pelo classroom até o dia 22/04. Bom trabalho! 1) Em A história da literatura como provocação à teoria literária (1967), Hans Robert Jauss atribui uma função emancipatória à literatura. Desenvolva uma discussão acerca dessa função, explicando-a e destacando a primazia dada pelo autor à instância da recepção. Não deixe de abordar as considerações de Jauss sobre valor estético e horizonte de expectativas. Jauss defende que a literatura tem a função social de questionar os valores instituídos na sociedade, nossos hábitos mentais e comportamentais. Essa seria a sua “função emancipatória”, pois pretende-se, por meio da literatura, emancipar o homem de suas visões, crenças e regras religiosas e sociais. Exatamente por isso que se almeja a produção de estranhamento, enquanto processo de desautomatização da percepção que acontece no momento de recepção da obra, tendo em vista que a literatura não emancipa por apresentar uma realidade social. E sim, porque ela questiona esses valores já estabelecidos a partir da produção de novas formas de percepção, nos possibilitando, assim, experimentar a realidade de maneiras diferentes da usual. Para Jauss, o estudo histórico da literatura só será possível por meio do que ele chama de “estética da recepção”, pois existe entre esses dois elementos um abismo difícil de superar. A história e a estética, ou seja, o estudo da literatura a partir de fatores externos (estudo de contexto) e a partir de fatores internos (estudo do texto), encontram-se, então, não muito bem integradas, visto que tanto as escolas marxista e formalista aparentemente apresentaram falhas em suas tentativas de superar esse abismo. Assim, o estudo da recepção se explica devido ao fato de que os livros são feitos para um destinatário, um público. O que implica que o processo criativo apenas se concluirá quando acontecer a interpretação do leitor. Portanto, é através do estudo da recepção que se permite a conclusão da leitura e uma melhor integração entre literatura e história, visto que a recepção da obra depende principalmente de sua atualização através de releituras e que é por meio desse processo de atualização e ressignificação do horizonte que se apresenta a história da literatura. Desta maneira, percebe-se que a recepção, e seu efeito junto ao público destinatário, assume um papel imprescindível tanto para o caráter estético das obras literárias, como para a função social que ela possa desempenhar. O conceito de “horizonte de expectativas”, para Jauss, se trata de todas as expectativas que um leitor cria sobre determinada obra ao se deparar com ela. Estas expectativas surgem devido a conhecimentos prévios do leitor, seja de mundo ou devido a conhecimentos estético-literários (conhecimento sobre o estilo do autor, do gênero da obra, do contexto histórico-literário, etc). Além disso, pode também ser influenciado pela opinião de outras pessoas. A quebra dessas expectativas, ou seja, quando elas não correspondem ao que acontece, de fato, na obra, pode ter valor positivo ou negativo para o leitor. Porém, para Jauss, ela será sempre positiva, pois é ela que promove as inovações estético-literárias e gera, necessariamente, uma mudança do horizonte. Já o “valor estético” se define por meio do conceito de “distância estética”, que corresponde justamente a distância entre o que você esperava e o que a obra realmente é. Visto isso, o autor conclui que quanto maior a distância, maior valor estético terá a obra, posto que é a partir da destruição das expectativas que se dá a sua renovação. Jauss ainda se aprofunda ao dizer que uma obra que atende completamente às expectativas do leitor se enquadraria entre a chamada “arte culinária” porque não provocaria uma mudança de horizontes. E é justamente essa provocação que é a finalidade da arte, que é emancipatória. A “arte culinária”, então, serviria apenas ao propósito de atender as expectativas marcadas pela tendência dominante do gosto de um público histórico-cultural específico. Ademais, quando uma obra se torna um clássico, surge o risco de ela tornar-se também muito familiar para o público e, assim, não quebrar mais expectativas. O que significaria, automaticamente, a perda de sua “força de obra de arte”, de provocar mudanças. Sendo assim, Jauss considera importante sempre relê-la, para que a obra se mantenha viva. O que reforça a importância que a propagação e atualização da obra pelas gerações futuras tem para a estética da recepção, pois elas a retomam e ressignificam com base em novos acontecimentos e períodos históricos, criando também novos horizontes de expectativas. Sendo assim, uma obra que frustra a expectativa do leitor, que foge daquilo que já é normal e comum para o público, e que promove uma mudança no horizonte será aquela considerada a de maior valor estético, e será também aquela que cumpre com sua função emancipatória. 2) Estabeleça paralelos entre os textos “Fictício e imaginário”, de Wolfgang Iser, e “Persona e sujeito ficcional”, de Luiz Costa Lima. Destaque, em sua discussão, os efeitos de ultrapassagem, deslocamento e transgressão que os autores atribuem à experiência literária. Não deixe de abordar as noções de realidade (associada a “campos de referência extratextuais” [p. 68] e “mundos referenciais” [p. 74]), de fictício e de imaginário, de Iser, e a noção de persona (associada à “janela do papel” [p. 52]), de Luiz Costa Lima. Em seu texto “Fictício e imaginário”, Wolfgang Iser discursa sobre os dois termos e como experiencias previas ou a falta delas podem fazer com que um texto seja interpretado de diferentes maneiras. Ele comenta também que “a teoria do efeito estético destinava-se inicialmente a estabelecer em que medida leitores de textos literários estariam engajados numa atividade mediante a qual esse make-believe que é literatura, chegava a realizar-se plenamente”. (ISER, 1999, p.65,) O ato de ler, mesmo que como entretenimento adiciona conhecimento ao leitor. A literatura mescla o fictício e o imaginário constituindo uma “interação paradigmática” entre ambos, diferentemente da vida real, a mentira na obra literária não tem o objetivo de enganar, a obra “ultrapassa o mundo real que a incorpora” (ISER, 1999, p.68) nos levando “além dos limites da situação em que nos achamos ou além dos limites do que somos” (ISER, 1999, p.66) A ficção para Iser, ao fazer uso da imaginação, da mentira, não está fazendo-o com nenhum valor negativo e sim com o intuito de contar histórias, nos fazer viajar por épocas e mundos que por mais parecidos com o nosso não deixam de ser uma mentira. Iser então, segue para pontuar três atos discerníveis em todo texto literário: seleção, combinação e auto-evidenciacao ou autodesnudamento (ISER, 1999, p.68). “A seleção estabelece um espaço de jogo entre os campos de referência e suas distorções no texto. A combinação cria outro espaço de jogo entre os segmentos textuais interagentes” e o autodesnudamento seria a aceitação que o mundo presente na obra é independente ao nosso mundo. Iser intitula o mundo expresso em um texto literário como “realidade virtual”, compreendendo a um “nada”, o fictício faz o imaginário “desdobrar-se como contraposição de operações simultâneas de decomposição e “possibilitação” que Heidgger chama jenes Gegenwendige e considera a base constitutiva da obra de arte” (ISER, 1999, p.74). Luiz Costa Lima em seu texto “Persona e sujeito ficcional” discursa sobre os valores impostos por cada ser humano, ele comenta que “O homem [...] biologicamente é imaturo; necessita por isso compensar sua deficiência com armas de que não veio geneticamente provido.” (COSTA LIMA, 1991, p.42) sendo essas o que defina a “persona” de cada homem. Ele então trata de comparar persona reale persona imaginaria, repensada com funcionabilidade literária , comentando inclusive sobre Kafka “o escritor tcheco é aquele cuja obra mais perto se manteve da própria persona”(pg54) e como as obras literárias são capazes de expressar memorialismo, como elas criticam/representam a sua época e como são a expressão escrita de seus autores. Costa Lima ainda continua a tratar de persona e como essa máscara se concretiza pela assunção de papeis, cada pessoa assume um papel e este permitem a persona se socializar “dotados de certo perfil; com direito pois a um tratamento diferenciado" (COSTA LIMA, 1991, p.43). O autor continua a ideia de papel e persona e indica que a persona é mutável a partir de fatores externos e o papel não qualifica uma mentira, visto que a essência do homem se dá através da língua e “fazer-nos homens pela linguagem significa fazer-se pelo outro, [...] que modela nossa persona” (COSTA LIMA, 1991, p.47). Criando um paralelo entre o Texto de Costa Lima e o de Iser, podemos ver que os dois autores fizeram menção a ideia de verdadeiro e de mentira/engano, Iser ao comentar do fictício e imaginário menciona que a literatura mente ao criar mundos, mas que isso não torna as histórias menos verdadeiras assim como Lima comenta que ao assumir um papel perante a sociedade não estamos mentindo ou suprimindo nosso verdadeiro rosto mas sim que este ato nos torna seres humanos. Na experiencia literária temos os efeitos de ultrapassagem, deslocamento e transgressão. Que representam a intertextualidade quando um texto cita outro já existente, como é o caso da literatura, que cita o próprio mundo em que vivemos e as experiências dos autores, a capacidade de textos previamente lidos serem retomados quando fazemos a leitura de outro, ou até mesmo quando ao ler um texto podendo este ser um romance popular, este ser capaz de trazer novos conhecimentos, trazendo um exemplo pessoal, ao ler a série de livros Outlander pude aprender um pouco mais sobre a história da Escócia. Costa Lima ainda comenta que “ao pensar-se a obra ficcional como repetição ou imitação, oblitera-se porém a própria mudança do espaço implicada no lugar que ela ocupa. O ficcional desvia-se da persona do seu próprio agente, seu autor, possibilitando que ele se veja a distância.” (COSTA LIMA, p.51) Comentando, portanto, a obra de ficção como deslocamento da persona do autor em referência ao texto criado por ele, o autor portanto “descola-se” de seu papel e se torna seu próprio “voyeur”. A obra ficcional para Iser, se trata de uma criação do autor, a “realidade virtual” como comentada anteriormente é então, a persona do autor viajando pelo seu próprio mundo imaginário. Lima ainda faz uma alusão a uma janela, pela qual o mundo vê nossa persona e nós vemos o mundo “cada um de nós cria uma janela pela qual entra em contato com o mundo, i.e., o encontra e deixa-se encontrar” e a partir dessa janela somos capazes de interpretar o mundo, e filtrando o que não entra em seu campo de visão “assim sendo, o mundo da persona é antes um mundo sonhado do que visto” (COSTA LIMA, p. 53). O que criando um paralelo com a obra de Iser, o mundo do autor se torna realidade para sua persona que o visualiza pela sua “janela” e faz então o viajante, uma obra literária. Referencias Bibliograficas: ISER, Wolfgang. “O fictício e o imaginário”, In CASTRO ROCHA, João Cezar de (Org.). Teoria da ficção. Rio de Janeiro: Eduerj: 1999. JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. 78p. COSTA LIMA, Luiz. “Persona e sujeito ficcional”. In Pensando nos trópicos. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
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