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Fonte: Berne, 6ª ed; Molina, 4ª ed; Fisiopatologia Porth, 8ª ed. Andressa Santos Pereira Medicina – UNEB | Turma XIII SÍNTESE Os glicocorticoides (cortisol e corticosterona) são produzidos nas células da zona fasciculada e em algumas células da zona reticular. O processo se dá da seguinte forma: I. Ocorre importação do colesterol do sangue na forma de LDL e HDL → o colesterol livre é esterificado e armazenado nas gotículas de lipídio II. O colesterol armazenado é continuamente transformado em colesterol livre novamente pela hidrolase de éster de colesterol → esse processo aumenta em resposta ao ACTH III. O colesterol é transportado da membrana mitocondrial externa para a membrana mitocondrial interna (etapa limitadora de velocidade), necessitando da proteína reguladora aguda de esteroides (StAR, de steroid acute regulatory). A proteína StAR possui vida curta e é rapidamente ativada pelos hormônios tróficos pituitários. Em pacientes com mutações que inativam a proteína StAR, as células da zona fasciculada tornam-se excessivamente carregadas com lipídios (“lipoide”) porque o colesterol não pode chegar à CYP11A1 dentro da mitocôndria e ser utilizado para a síntese do cortisol. • Sequência da transformação de colesterol em cortisol 1. Colesterol é convertido em pregnenolona por ação da enzima P450scc/CYP11A1; 2. Pregnenolona é convertida em progesterona pela ação da enzima 3β- hidroxiesteroide-desidrogenase; 3. Progesterona é convertida em 17- hidroxiprogesterona pela enzima 17α- hidroxilase; 4. 17-hidroxiprogesterona é convertida em 11-desoxicortisol (DOC) pela enzima 21- hidroxilase; 5. DOC é convertida em cortisol pela enzima 11β-hidroxilase-CYP11B1. TRANSPORTE Principalmente pela globulina ligadora de corticosteroide (CBG), também conhecida como transcortina, que liga cerca de 90% do hormônio circulante e à albumina, que liga de 5% a 7%. E cerca de < 10% circula como fração livre. METABOLISMO E EXCREÇÃO A meia-vida do cortisol circulante é de cerca de 70-90 min. O fígado (papel menor do rim) é o sítio predominante de inativação do hormônio, por meio da conjugação com glicuronida ou sulfato. Formação, secreção, efeitos fisiológicos e correlações clínicas do cortisol Fonte: Berne, 6ª ed; Molina, 4ª ed; Fisiopatologia Porth, 8ª ed. Andressa Santos Pereira Medicina – UNEB | Turma XIII O cortisol é reversivelmente inativado pela conversão em cortisona (11bhidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 - 11β-HSD2), que é expressa principalmente nos túbulos contorcidos distais e nos ductos coletores do rim. A ação da 11β-HSD2 é reversível pela 11 β-HSD1 (cortisona → cortisol). Esta conversão ocorre em tecidos que expressam o receptor glicocorticoide (GR) → fígado, tecido adiposo, SNC e a pele (por isso cremes à base de cortisona podem ser aplicados na pele para parar a inflamação). ARMAZENAMENTO Devido à sua natureza lipofílica, os hormônios esteroides difundem-se facilmente através das membranas celulares e, por isso, apresentam um grande volume de distribuição. Nos tecidos-alvo, esses hormônios são concentrados por um mecanismo de captação, que depende de sua ligação a receptores intracelulares. AÇÕES DO GR O cortisol atua primariamente por meio do receptor glicocorticoide (GR), que regula a transcrição gênica. Na ausência do hormônio, o GR se encontra no citoplasma, em um complexo estável com várias chaperonas. A ligação cortisol-GR promove: 1. Dissociação das proteínas chaperonas; 2. Translocação rápida do complexo cortisol- GR para o núcleo; 3. Dimerização e ligação aos elementos de resposta glicocorticoides (GREs), próximos aos promotores basais de genes regulados pelo cortisol; 4. Recrutamento de proteínas coativadoras e associação de fatores gerais de transcrição levando a aumento da transcrição dos genes- alvo. REGULAÇÃO • Forma aguda e crônica A regulação aguda resulta na rápida produção de esteroides em resposta a uma necessidade imediata e ocorre em poucos minutos após o estímulo → ex: estresse. Ex: CRH agudamente estimula a liberação de ACTH; A regulação crônica requer a síntese das enzimas envolvidas na esteroidogênese para aumentar a capacidade de síntese das células → ex: doença crônica. Ex: CRH cronicamente aumenta a expressão do gene da pró- opiomelanocortina e a proliferação e hipertrofia dos corticotrofos. • Liberação A liberação do cortisol é pulsátil e estimulada diretamente pelo ACTH. O CRH também está sujeito a uma forte regulação rítmica diária do núcleo supra-quiasmático, fazendo com que o nível de cortisol aumente durante o final da madrugada e as primeiras horas da manhã e vá continuamente declinando durante o dia até o anoitecer. Então, a liberação de cortisol é maior durante as primeiras horas de vigília, e os níveis declinam à medida que o dia prossegue. • Eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal O CRH produzido no hipotálamo ativa os corticotropos à produção de ACTH (proteína Gs) na adeno-hipófise. A forma neurogênica de estresse (p. ex., medo), tanto quanto a sistêmica (p. ex., hipoglicemia, hemorragia, citocinas) estimulam a liberação de CRH. O ACTH é sintetizado na forma de um grande precursor, a pró-opiomelanocortina (POMC). A POMC é processada após tradução em vários peptídeos, incluindo o ACTH, a β endorfina e o MSH-α (atua em receptor MC1R). O ACTH estimula se liga a um receptor de melanocortina 2 (MC2R) da membrana plasmática acoplado à proteína Gs nas células adrenocorticais. Ocorre ativação da adenilato-ciclase, aumento do AMPc e ativação da PKA. Fonte: Berne, 6ª ed; Molina, 4ª ed; Fisiopatologia Porth, 8ª ed. Andressa Santos Pereira Medicina – UNEB | Turma XIII A PKA fosforila a enzima hidrolase de éster de colesterol, aumentando a atividade enzimática, com consequente ↑disponibilidade de colesterol para a síntese hormonal. O ACTH também ativa e aumenta a síntese da StAR, por isso ele estimula as duas etapas iniciais e limitadoras de velocidade na síntese dos hormônios esteroides. Como mecanismo de feedback negativo, o cortisol inibe a biossíntese e a secreção do ACTH e do CRH, inibindo tanto a expressão do gene POMC nos corticotrofos quanto a expressão do gene pró-CRH no hipotálamo. As ações tróficas do ACTH sobre a zona fasciculada e a zona reticular ocorrem em um período de semanas ou meses. Este efeito é exemplificado pela atrofia da zona fasciculada em pacientes recebendo níveis terapêuticos (suprafisiológicos) de análogos de glicocorticoides por, no mínimo, 3 semanas. Nessas condições, os corticosteroides exógenos completamente suprimem a produção de ACTH e CRH, desta forma, resultando em atrofia da zona fasciculada e declínio na produção endógena de cortisol. Ao final da terapia, esses pacientes precisam ter uma redução lenta de glicocorticoides exógenos para permitir que o eixo hipotálamo-hipófise- suprarrenal se reestabilize, e a zona fasciculada aumente e produza quantidades adequadas de cortisol. EFEITOS FISIOLÓGICOS Metabolismo glicídico: • Regula a glicose sanguínea → estimula a gliconeogênese e aumenta a glicose sanguínea; • Aumenta a expressão gênica das enzimas gliconeogênicas hepáticas fosfoenolpiruvato carboxicinase (PEPCK), frutose-1,6-bifosfatase e glicose-6-fosfatase; • Diminui a captação de glicose, mediada por Glut4, no músculo esquelético e tecido adiposo; • Durante o período interdigestivo (baixa razão insulina-glucagon), o cortisol promove a poupança de glicose potencializando os efeitos das catecolaminas sobre a lipólise, disponibilizando, assim, os AGLs como fonte de energia. Metabolismo lipídico: • Durante o estresse, o cortisol sinergiza com catecolaminas e glucagon para promover uma resposta metabólicalipolítica, gliconeogênica, cetogênica e glicogenolítica, enquanto sinergiza com as catecolaminas para promover uma resposta cardiovascular adequada; • Quando o cortisol está elevado cronicamente, sinergiza com a insulina no contexto de níveis elevados de glicose e hiperinsulinemia (de glicose elevada e intolerância à glicose) promovendo lipogênese e adiposidade troncular (abdominal, visceral). Metabolismo proteico: • Inibe a síntese de proteínas e aumenta a proteólise (contrário ao GH), especialmente no músculo esquelético, deste modo fornecendo uma rica fonte de carbonos para a gliconeogênese hepática. Sistema cardiovascular: Fonte: Berne, 6ª ed; Molina, 4ª ed; Fisiopatologia Porth, 8ª ed. Andressa Santos Pereira Medicina – UNEB | Turma XIII • Tem ações permissivas para as catecolaminas e, assim, contribui para efeitos positivos no débito cardíaco e na pressão sanguínea; • Estimula a síntese de eritropoietina e, assim, aumenta a produção de células vermelhas. Ocorre anemia quando há falta de cortisol e policitemia quando os níveis de cortisol são excessivos. Sistema imune: • O cortisol, juntamente com a epinefrina e a norepinefrina, reprime a produção de citocinas pró inflamatórias e estimulam a produção de citocinas anti-inflamatórias; • Inibe a fosfolipase A2, uma enzima chave na síntese de prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos; • Estabiliza as membranas lisossomais, diminuindo assim a liberação de enzimas proteolíticas que aumentam a formação local de edema; • Inibe a quimiotaxia de leucócitos; • Altos níveis de cortisol diminuem o número de linfócitos T circulantes (principalmente linfócitos T helper) e diminuem sua capacidade de migrar para o local de estímulo antigênico; • Glicocorticoides promovem a atrofia do timo e de outros tecidos linfoides; • Apesar de os corticosteroides inibirem a imunidade mediada por células, a produção humoral não é prejudicada. Sistema reprodutor: • Diminui a função do eixo reprodutor nos níveis hipotalâmico, hipofisário e gonadal. Ossos: • Diminui a absorção intestinal de Ca2+ e a reabsorção renal de Ca2+, com o objetivo de diminuir a [Ca2+] sérica → estímulo positivo para secreção do paratormônio (PTH) → PTH imobiliza o Ca2+ dos ossos por estimular a reabsorção óssea; • Inibe diretamente as funções de formação óssea osteoblástica; • O uso excessivo resultará em perda óssea (osteoporose). Tecido conjuntivo: • Inibe a proliferação fibroblástica e a formação de colágeno; • Na presença de quantidades excessivas de cortisol, a pele afina e é mais facilmente danificada; • O suporte conjuntivo dos capilares é prejudicado, danos capilares aumentam e equimoses são mais frequentes. Sistema renal: • Inibe a secreção e ação do ADH (antagonista do ADH); • Apesar de o cortisol ligar-se ao receptor mineralocorticoide com alta afinidade, esta ação é, normalmente, bloqueada pela inativação do cortisol em cortisona pela enzima 11β-HSD2; • Certos agentes (tais como compostos no alcaçuz negro) inibem a 11β-HSD2 e, assim, aumentam a atividade mineralocorticoide do cortisol; • O cortisol aumenta a TFG tanto por aumentar o débito cardíaco quanto por agir diretamente nos rins (efeito nos MRs). Músculos: • Níveis excessivos podem gerar fraqueza muscular e dor; • A fraqueza pode ser resultado da proteólise excessiva que o cortisol induz; • Altos níveis de cortisol podem resultar em hipocalemia (ações mineralocorticoides: excreções de K+ e H+), que podem produzir fraqueza muscular por hiperpolarizar e estabilizar a membrana celular muscular e, assim, tornar sua estimulação mais difícil. Fonte: Berne, 6ª ed; Molina, 4ª ed; Fisiopatologia Porth, 8ª ed. Andressa Santos Pereira Medicina – UNEB | Turma XIII CORRELAÇÕES CLÍNICAS Insuficiência corticoadrenal primária: • Deficiência dos hormônios do córtex adrenal e níveis elevados do ACTH (falta do feedback negativo). É um distúrbio metabólico crônico (terapia de reposição hormonal para toda a vida). • Todas as camadas do córtex adrenal são destruídas. • A autoimunidade é a causa mais frequente, mas pode ser decorrente de tuberculose e mais raramente por carcinoma metastático e infecções. • As principais manifestações só ocorrem quando 90% da glândula está destruída. • Deficiência de mineralocorticoides → perdas aumentadas de Na, Cl e H2O, juntamente com ↓excreção de K+ → hiponatremia, hipovolemia, ↓DC e hiperpotassemia → desidratação, fraqueza e fadiga. • Deficiência de glicocorticoides → baixa tolerância ao estresse, hipoglicemia, letargia, fraqueza, febre e sintomas TGI (anorexia, náusea, vômitos e perda de peso). • Hiperpigmentação → níveis elevados de ACTH. Pode haver escurecimento de pele e mucosas. Provavelmente pela liberação de MSH-α proveniente da POMC; ocorre hiperpigmentação em mais de 90% dos indivíduos com doença de Addison, e a sua presença ajuda a diferenciar as formas primária e secundária de insuficiência suprarrenal. • A ausência de andrógenos não é tão notada nos homens (produção testicular), as mulheres podem ter escassez de pelos axilares e púbicos. • O agente farmacêutico deve ter atividade mineralo e glicocorticoide. Em geral, se escolhe a hidrocortisona. • A reposição de DHEAS também pode ser útil em pacientes do sexo feminino. Excesso de hormônios glicocorticoides: • Quatro formas importantes Produção excessiva de ACTH por tumor hipofisário → Doença de Cushing. Síndrome de Cusing ectópica → tumor não hipofisário → carcinoma de pulmão de pequenas células (podem secretar ACTH ou, raramente, CRH). Tumor suprarrenal benigno ou maligno → Síndrome de Cushing não dependente de ACTH. Síndrome de Cushing iatrogênica → terapia prolongada (não dependente de ACTH). Fonte: Berne, 6ª ed; Molina, 4ª ed; Fisiopatologia Porth, 8ª ed. Andressa Santos Pereira Medicina – UNEB | Turma XIII Os níveis de ACTH devem estar normais ou elevados na síndrome de Cushing dependente de ACTH (doença de Cushing e ACTH ectópico) e baixos na síndrome de Cushing não dependente de ACTH (tumores suprarrenais). • Manifestações clínicas • Alteração do metabolismo lipídico → depósito de gordura peculiar → abdome protruso, coxins adiposos subclaviculares, corcova de búfalo nas costas e face em lua cheia. • Fraqueza muscular → extremidades finas (degradação das proteínas e desgaste muscular). • Afinamento da pele → aparência de pergaminho → estrias purpúreas ou marcas de distensão nas mamas, coxas e abdomes. • Osteoporose → destruição das proteínas ósseas e alterações no metabolismo de cálcio. • Cálculos renais → alterações do metabolismo de cálcio. • DM clinicamente franco em aprox 20% dos pacientes. • ↑ das funções mineralocorticoides → Hipocalemia, hipernatremia, hipervolemia (HAS). • Suscetibilidade à infecção. • Úlceras e sangramentos gástricos. • ↑Andrógenos → hirsutismo, acne leve e irregularidades menstruais.
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