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METODOLOGIA DO ENSINO DA LINGUAGEM Letícia Finkenauer Michaela Carvalho da Silva Propostas didático - -metodológicas do ensino-aprendizagem dos conteúdos da língua portuguesa Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: n Reconhecer a importância da oralidade, da leitura e da escrita dentro e fora da sala de aula. n Defi nir a leitura e a produção de textos como peças-chave no ensino de língua. n Discutir estratégias e métodos para o desenvolvimento do conteúdo programático com o auxílio de textos. Introdução O ensino de leitura e escrita na escola não se resume somente aos pri- meiros anos escolares. Essa é uma tarefa que deve ser continuada durante todos os anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Práticas como o desenvolvimento dos conteúdos programáticos por meio do uso de textos de vários gêneros e tipos são algumas das mais indicadas atual- mente. Você sabe como desenvolver as atividades de língua portuguesa a partir de textos? De que maneira se pode, ao mesmo tempo, trabalhar o ensino da língua e incentivar a leitura? Neste texto, você verá a importância de se trabalhar a língua falada, a leitura e a escrita contextualizadas e interligadas. Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 138 07/03/2017 14:12:19 O papel da oralidade, da leitura e da escrita dentro e fora da sala de aula Primeiramente, é importante que você faça uma breve refl exão sobre a função e a importância da oralidade, da leitura e da escrita no contexto geral da sociedade. A fala e a escrita são modalidades de uso da mesma língua, contudo apre- sentam características próprias. É fundamental você perceber as diferenças entre fala e escrita para entender como esse conhecimento implica no processo de ensino e aprendizagem. De forma geral, não é pertinente a comparação entre a língua falada e a escrita, não existindo uma melhor ou pior do que a outra. Enquanto a língua falada carrega marcas da individualidade do falante, a escrita é baseada nas regras da norma culta e se propõe a ser mais formal, tendendo a padronizar as manifestações. São modalidades diferentes e cada uma se destina a um determinado objetivo de uso. Tanto a oralidade quanto a escrita são fundamentais. São duas maneiras de as pessoas organizarem os seus discursos, praticarem as suas interações no dia a dia, sem que uma seja mais importante que a outra. Cada uma tem o seu lugar, são práticas discursivas que não concorrem, não competem entre si. Lembre-se de que as crianças iniciam o contato com a língua falada logo após o nascimento. Elas vão acumulando informações sobre o funcionamento dela até co- meçarem a produzir os primeiros sons, que se transformam em palavras completas e, mais tarde, em proposições. A fala é uma realidade cotidiana e a criança inicia a sua produção muito antes de aprender a escrever. Em função disso, a oralidade é peça-chave na comunicação infantil, uma vez que ainda é a principal forma pela qual a criança se expressa. Além da função de comunicação, a língua falada desempenha o papel de promotora de identificação social, sendo, por isso, fundamental a valorização das variações linguísticas. Essa função permite ao indivíduo desenvolver o sentimento de pertencimento, se identificando como parte integrante de determinado grupo social. No entanto, é importante você ter em mente que as manifestações da língua falada são próprias dessa modalidade. Não é possível 139Propostas didático-metodológicas do ensino-aprendizagem dos conteúdos ... Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 139 07/03/2017 14:12:19 transpô-las para a língua escrita sem fazer as respectivas modificações, ou seja, sem mostrar ao aluno que a fala pode se apresentar de uma determinada maneira, mas a escrita deve obedecer a regras e normas diferentes. Já a língua escrita se configura em uma modalidade com a qual a criança vai estabelecendo contato desde cedo, seja por meio da televisão, de brinque- dos pedagógicos ou de livros e materiais infantis escritos. Com a entrada na escola e o início do processo de alfabetização, a criança começa a perceber uma crescente importância dessa modalidade no seu contexto diário. Isso pode se apresentar por meio da leitura de revistas em quadrinhos, do rótulo de algum alimento ou de orientações de jogos eletrônicos. Você deve ter percebido que, com o advento de inúmeras tecnologias, como o com- putador, o videogame e os celulares, as crianças vêm iniciando o seu contato com a língua escrita cada vez mais cedo. Isso confere à escola o papel fundamental da alfabetização, mas não mais o de iniciar a criança no contato com as letras e os números. O texto como instrumento de trabalho A escola é considerada uma das entidades mais infl uentes na formação de uma pessoa. Nela e, implicitamente, nos livros que utiliza é possível criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso efi caz da linguagem, de modo a satisfazer as necessidades de relacionamento no ambiente social em que se vive. Apesar disso, você deve saber que a participação da família no processo de aquisição da leitura e da escrita (e, posteriormente, na formação do aluno leitor) é importantíssima. De acordo com Teberosky e Colomer (2003, negritos do autor), Ambos os conhecimentos (os elaborados pela criança e aqueles transmiti- dos pelos adultos e assimilados pela criança) parecem estar influenciados pelas condições do ambiente, desenvolvendo-se melhor se o ambiente alfabetizador é rico em materiais escritos e em interações e práticas de leitura. (...) Nas famílias onde ocorre o que denominamos práticas de leitura, os adultos contribuem para o desenvolvimento do conhecimento sobre a escrita e sobre a linguagem escrita. Metodologia do ensino da linguagem140 Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 140 07/03/2017 14:12:19 Em outras palavras, se o ambiente é propício e incentivador da leitura e da escrita, o aluno terá mais subsídios para uma alfabetização mais eficiente e para o desenvolvimento do hábito e do gosto pela leitura. Muitas vezes, somente o ambiente escolar e o trabalho desenvolvido pelos professores não são suficientes para que o aluno desperte seu interesse pela leitura e desenvolva sua habilidade da escrita. O exemplo aprendido em casa é fundamental para que ele internalize a importância e a função da língua escrita na sua vida escolar, acadêmica e cotidiana. Dessa forma, para Santomauro (2009), As situações didáticas essenciais para o Ensino Fundamental passaram a ser: ler e ouvir a leitura do docente, escrever, produzir textos oralmente para um educador escriba (quando o aluno ainda não compreende o sistema) e fazer atividades para desenvolver a linguagem oral, além de enfrentar situações de análise e reflexão sobre a língua e a sistematização de suas características e normas. É importante você lembrar que o processo de aquisição da escrita e da leitura é contínuo, passando pela fase inicial de alfabetização e prosseguindo no decorrer de todos os anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Com a aquisição de conhecimentos básicos, a criança vai adquirindo outros mais complexos e desenvolvendo a habilidade de argumentação. Nesse ponto é que a leitura se faz de extrema importância, pois, por meio dela, o aluno poderá consolidar conhecimentos já adquiridos, adquirir outros e aprender a organizar as ideias para transportá-las para o texto escrito. A leitura de histórias em voz alta para as crianças pequenas auxilia no desenvolvimento do vocabulário, na compreensão de conceitos e no conhecimento da linguagem escrita dos livros. Para Teberosky e Colomer (2003), “As leituras em voz alta para crianças pequenas, nas quais elas escutam, olham, perguntam e respondem, são um meio para que entendam as funções e a estrutura da linguagem escrita e podem vir a ser, também, uma ponte entre a linguagem oral e a linguagem escrita.”. Já com as crianças maiores e com os adolescentes, é interessante explorar os materiaisimpressos do tipo urbano e doméstico, como jornais, revistas, panfletos, rótulos de produtos, bulas de remédios, entre outros. 141Propostas didático-metodológicas do ensino-aprendizagem dos conteúdos ... Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 141 07/03/2017 14:12:19 A falta do hábito de leitura entre a maioria dos alunos do terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio ainda é o fator que mais contribui para a dificuldade para produzir textos escritos. Aprendendo língua portuguesa com e por meio do texto Você conhecerá aqui alguns tópicos sobre os conteúdos programáticos de língua portuguesa para os Ensino Fundamental e Médio. Também se fami- liarizará com questões práticas sobre como inserir o texto no cotidiano da sala de aula. Inserir o trabalho com os tipos e gêneros textuais na rotina de atividades do ensino de língua portuguesa pode ser muito prazeroso e trazer ótimos resultados. Com essa estratégia, é possível aproximar os conteúdos estudados em sala de aula da vida cotidiana do aluno, fazendo com que esses conteúdos ganhem sentido e tornando a sala de aula um espaço de troca de vivências, experiências e de formação de opiniões. Veja alguns tópicos e definições sobre os conteúdos que podem ser desen- volvidos com base nos textos. A definição de gênero textual remete à sua inserção na vida social dos indivíduos (cotidiana, científica, escolar, religiosa, jornalística, entre outras). O gênero textual tem a sua constituição baseada em situações comunicativas que apresentam atribuições de funções que se cumprem na vida cotidiana. É a carta pessoal, a receita culinária, o inquérito policial, a biografia, a resenha e o memorando, entre outras. Os fatores determinantes do gênero textual estão situados além dos aspectos linguís- ticos, sendo eles o estilo, o conteúdo, o canal, a composição e a função. Podem ser compostos por mais de um tipo textual, como em um contrato de locação imobiliária, que traz a descrição do imóvel e a exposição das cláusulas do contrato. Metodologia do ensino da linguagem142 Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 142 07/03/2017 14:12:20 Para o trabalho em sala de aula, é possível se utilizar dos vários gêneros textuais para a identificação da finalidade da comunicação. Para que serve uma carta? Qual é a sua finalidade comunicativa? Qual é a sua estrutura? Qual é a finalidade comunicativa de uma resenha de livro? Que tipo de linguagem ela deve apresentar? A finalidade pela qual fazemos uma comu- nicação deve ser sempre clara para o aluno, assim como o público para o qual ele escreve as suas produções. O texto será lido por quem? O que quero ou preciso comunicar? A tipologia textual tem como base textos com sequências linguísticas (enunciados) que se apresentam no interior de um gênero textual. São a narra- ção, a argumentação, a exposição, a descrição e a injunção, entre outros. Seus fatores determinantes são aspectos de natureza linguística, como a ortografia, a concordância, a regência, a acentuação e a pontuação, entre outras. Uma das práticas mais indicadas para o desenvolvimento dos conteúdos de língua portuguesa consiste em trabalhar os conteúdos formais (considerando os Ensino Fundamental e Médio) utilizando os gêneros textuais como estratégia de prática pedagógica. A essa estratégia é possível acrescentar o trabalho com aspectos linguísticos do texto e questões relacionadas à gramaticalidade, à coesão e à coe- rência textual. Uma das estratégias que pode ser utilizada é a retextualização, ou seja, a transformação de um texto oral em um texto escrito. A retextualização com- preende aspectos linguísticos, textuais e discursivos, sendo eles: a idealização (eliminação, completude e regularização), a reformulação (acréscimo, subs- tituição e reordenação) e a adaptação (tratamento da sequência dos termos). Compreende também aspectos cognitivos, ou seja, a compreensão (inferência, inversão e generalização). Ela ainda pode ser utilizada para desenvolver conteúdos conceituais, como pontuação, objetividade, concisão, regência e concordância. As atividades envolvendo os conteúdos conceituais podem partir do próprio texto. Esse texto pode ser escolhido pelo professor e apresentado aos alunos. Pode ser de algum autor consagrado ou consistir nas produções dos próprios alunos. É possível explorar, durante a correção em grupo de textos previamente produzidos pelos alunos, conteúdos como pontuação, acentuação, ortografia, sintaxe, regência e concordância. Dessa forma, ao mesmo tempo em que se 143Propostas didático-metodológicas do ensino-aprendizagem dos conteúdos ... Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 143 07/03/2017 14:12:20 discute com os alunos os conteúdos obrigatórios, fica claro que também eles podem ser autores. Para um trabalho com os anos mais avançados, é possível escolher leituras com a participação dos alunos. Essas leituras precisam ser ade- quadas à faixa etária, ao nível cognitivo e aos conteúdos abordados para serem lidas fora do ambiente escolar, mas com o acompanhamento em sala de aula. Os adolescentes podem ser incentivados a fazer a leitura em casa e você pode oferecer a eles um tempo hábil para o cumprimento da tarefa. Mas é interessante que a leitura seja acompanhada em sala de aula por meio de discussões sobre o tema. Após o término dessa leitura, você deve proceder a uma atividade de síntese. Nela, pode propor atividades de discussão sobre o assunto, resumos ou resenhas, criação de história em quadrinhos ou releitura da obra, assim como atividades de exploração dos conteúdos obrigatórios. Você deve saber, porém, que qualquer que seja o tipo de atividade ou de texto escolhido, é importante explorar ao máximo o material. Isso deve ser sempre feito de acordo com o nível cognitivo dos alunos, não se limitando àquele trazido pelo livro didático. O livro didático se constitui em um excelente instrumento de trabalho, mas não deve ser a fonte única de conhecimento. Existem muitos outros textos à disposição em outras fontes que podem servir como material para ser explorado em sala de aula. Metodologia do ensino da linguagem144 Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 144 07/03/2017 14:12:20 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: língua por- tuguesa. Brasília, DF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/portugues.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâ- metros Curriculares Nacionais: Ensino Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portu- gues.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2017. SANTOMAURO, B. O que ensinar em Língua Portuguesa. São Paulo: Nova Escola, 2009. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/303/o-que-ensinar-em-lingua- -portuguesa>. Acesso em: 30 jan. 2017. TEBEROSKY, A.; COLOMER, T. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003. Leituras recomendadas COLOMER, T.; CAMPS, A. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002. ROSÁRIO, R. P. C. Metodologia do ensino da língua portuguesa. [S.l.]: Artigos.com, 2016. Disponível em: <http://www.artigos.com/artigos-academicos/19738-metodologia- -do-ensino-da-lingua-portuguesa>. Acesso em: 30 jan. 2017. Metodologia do ensino da linguagem145 Metodologia_do_ensino_U4_C04.indd 146 07/03/2017 14:12:20 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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