Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FASE DE EXPOSIÇÃO Prof. Dr. Samuel Botião Nerilo Intoxicação • FASES DA INTOXICAÇÃO: I – Exposição II – Toxicocinética III – Toxicodinâmica IV – Clínica FONTE – Moraes et al., 1991 FASE 1 - EXPOSIÇÃO • É o contato do toxicante com as superfícies externas ou internas do organismo. Representa a disponibilidade química das substâncias, ou seja, a concentração da substância em condições de ser introduzida no organismo. FASE 1 - EXPOSIÇÃO •Magnitude; •Duração; •Frequência; •Vias de introdução; •Suscetibilidade individual. Aspectos relacionados ao agente químico propriedades físicas e químicas: –Solubilidade; –Pressão de vapor; –Constante de ionização; –Reatividade química; –Estabilidade; –Tamanho da partícula; –Coeficiente de partição; –Estado físico... Aspectos relacionados na interação do agente químico com o organismo Dose ou concentração Determina o tipo e a magnitude da resposta biológica. • Dose → indivíduo ▫ (mg de agente tóxico / kg de peso corpóreo) • Concentração → compartimento (água, solo, ar) ▫ (mg de agente tóxico / m3 de ar; mg de agente tóxico / litro de água, mg de agente tóxico / m3 de solo) ppm (partes por milhão) ou ppb (partes por bilhão). Dose efetiva 50 (DE50) Quantidade de substância (em mg, g ou mL por Kg de peso corporal) que, em condições bem determinadas, produz um determinado efeito na metade de um grupo de animais de certa espécie. Dose letal média (DL50) Concentração efetiva 50 (CE50) e concentração letal 50 (CL50) Quando se estuda a toxicidade de uma substância introduzida no organismo por inalação, considera-se sua concentração no ar e, portanto, fala-se em CE50 e CL50, devendo ser mencionada a duração da exposição do animal ao agente tóxico. Vias ou locais de exposição • Principais: ▫ trato gastrintestinal (ingestão); ▫ pulmões (inalação); ▫ pele (cutânea). Ordem decrescente de eficiência: endovenosa, respiratória, intraperitoneal, subcutânea, intramuscular, intradérmica, oral e cutânea. DURAÇÃO E FREQUÊNCIA DA EXPOSIÇÃO •O tempo e a frequência com que o organismo permanece em contato com o toxicante são importantes na determinação e intensidade do efeito tóxico. Entretanto, em seres humanos, essas condições de exposição não são claramente definidas como nos estudos conduzidos em animais. Porém, os mesmos termos são usados para descrevê-las. EXPOSIÇÃO A CURTO PRAZO ▪Exposição Aguda: até 24 horas ▪ Exposição de curta duração; ▪Uma ou várias exposições; ▪Agente químico é rapidamente absorvido e produz efeito agudo → INTOXICAÇÃO. - Quanto ao n° e persistência de contato entre o AT e o organismo: Fatores relacionados com a exposição EXPOSIÇÃO A MÉDIO PRAZO • Exposição Sobreaguda: após 24 horas a 1 mês • Exposição Subcrônica: 1 a 3 meses - Quanto ao n° e persistência de contato entre o AT e o organismo: Fatores relacionados com a exposição EXPOSIÇÃO A LONGO PRAZO ▪Exposição Crônica: após 3 meses ▪ Exposição a quantidades pequenas ▪ Durante períodos longos ▪ Efeitos podem aparecer de imediato, depois de cada exposição ou produzir efeitos crônicos ❖Efeitos tóxicos das exposições Agudas podem ser ≠ dos efeitos em exposições Repetidas Ex.: Benzeno Exposição Aguda → depressão do SNC Exposição Longo prazo → leucemia - Quanto ao n° e persistência de contato entre o AT e o organismo: Fatores relacionados com a exposição FREQUÊNCIA DA EXPOSIÇÃO •Com relação à frequência, observa-se que, uma simples exposição a um agente tóxico que produz um efeito drástico, pode determinar manifestações de menor intensidade ou não produzir efeitos se a mesma dose ou concentração total for fracionada e o tempo de exposição não for aumentado. FREQUÊNCIA DA EXPOSIÇÃO A redução do efeito provocado pelo aumento da frequência (fracionamento da dose) somente acontecerá se: • a velocidade de eliminação for maior do que a de absorção, de forma que os processos de biotransformação e/ou eliminação ocorram no intervalo entre duas exposições; • o efeito tóxico causado pela substância for parcial ou totalmente revertido antes da exposição seguinte. Exemplos de toxicidade classificada de acordo com a duração da exposição e local de ação: EXPOSIÇÃO LOCAL EFEITO SUBSTÂNCIA Aguda Local Corrosão de pele Metilamina Injúria pulmonar Cloreto de hidrogênio Sistêmico Hemólise Arsina Misto Injúria pulmonar e metemoglobinemia Óxidos de nitrogênio Sobreaguda Local Sensibilização dérmica Etilenodiamina Ulceração do septo nasal Cromatos Sistêmico Neurotoxicidade Acrilamida Injúria hepática Arsênio Misto Irritação respiratória e neurocomportamental Piridina Crônica Local Bronquite Dióxido sulfúrico Sistêmico Leucemia Benzeno Misto Enfisema e injúria renal Cádmio Pneumonite e neurotoxicidade Manganês FONTE – Ballantyne et al., 1999, modificado Exemplos de classificação de toxicidade de acordo com o tempo de desenvolvimento ou duração do efeito. DURAÇÃO DO EFEITO EFEITO SUBSTÂNCIA Persistente Injúria testicular Dibromocloropropano Mesotelioma pleural Asbesto Transitória Narcose Solventes orgânicos Irritação sensorial Acetaldeído Cumulativa Fibrose hepática Etanol Latente Edema pulmonar Fosgênio Neuropatia periférica Organofosforados Fibrose pulmonar Paraquat FONTE – Ballantyne et al., 1999, modificado Suscetibilidade individual EXPOSIÇÕES IGUAIS RESPOSTAS IGUAIS RESPOSTAS DIFERENTES FONTE – Moraes et al., 1991 TOXICOCINÉTICA • Estudo da relação entre a quantidade de um agente tóxico que atua sobre o organismo e a concentração dele no plasma, relacionando os processos de absorção, distribuição e eliminação do agente, em função do tempo. Xenobiótico livre Xenobiótico ligado Sangue Absorção Excreção Biotransformação Local de ação ligado↔ livre Tecidos de depósito ligado↔ livre Esquema relacionando as fases da toxicocinética. (Fonte: Oga, 2008) Produto de biotransformação A passagem de xenobióticos pelas membranas é dependente de: ➢Fatores relacionados à membrana biológica ➢Estrutura da membrana ➢Espessura da membrana ➢Área da membrana ➢Mecanismos de Transporte Fatores relacionados com a ABSORÇÃO ➢Fatores relacionados ao toxicante ➢Dimensão/forma; ➢Solubilidade; ➢Semelhança estrutural com moléculas endógenas; ➢Carga e polaridade; ➢Grau de ionização. A passagem de xenobióticos pelas membranas é dependente de: Fatores relacionados com a ABSORÇÃO MEMBRANA CELULAR •Espessura variável (7 a 9 nm); •Dupla camada de fosfolipídios; •Proteínas inseridas. Mecanismos de transporte através das membranas biológicas • Transporte passivo: dependente de gradiente de concentração e características físico-químicas do agente. –Difusão lipídica • Moléculas hidrofóbicas, geralmente maiores que 600 daltons – Filtração (difusão paracelular) • Moléculas polares, hidrossolúveis (poros) Mecanismos de transporte através das membranas biológicas • Transporte ativo: consumo de energia, contra gradiente de concentração e presença de proteínas carregadoras de moléculas, as quais apresentam seletividade, podendo ser saturáveis. MDR – Multidrug Resistant Proteins ou glicoproteína P PROTEÇÃO versus TOXICIDADE Mecanismos de transporte através das membranas biológicas • Pinocitose: passagem de partículas líquidas através de células, por mecanismo semelhante à fagocitose, que é a ingestão de partículas sólidas por células especiais. Fagocitose por macrófagos → remoção de material particulado dos alvéolos. Mecanismos de transporte através das membranas biológicas • Difusão facilitada: substância transportada por carregador, sem contudo haver consumo de energia. A favor do gradiente de concentração. –Ex.: transporte de glicose Absorção •Via respiratória, pulmonar ou inalatória; •Via cutânea; •Via oral, digestiva ou trato gastrintestinal. VIA CUTÂNEA Pele Tec.cutâneo 1,70m2 e 10% peso corpóreo 5 regiões 1ª camada: epiderme estrato córneo queratina tec. conjuntivo2ª camada: derme vasos sanguíneos folículos pilosos glândulas sudor. 3ª camada: hipoderme (lipídeos) Tecido subcutâneo ❖ Absorção transfolicular - lipo e hidrossolúveis - ionizadas ou não - gases, vapores - ácida ou básica - metais EPIDERME - Stratum corneum ▪ Bases, ácidos e agentes corrosivos aumentam a permeabilidade ▪ Xenobióticos movem-se por difusão passiva ▪ compostos polares ( difundem-se através da camada hidratada de queratina) ▪ compostos apolares (difundem-se através dos lipídios) - DIFUSÃO PASSIVA - viscosidade, PM - volatilidade - estrato córneo ❖ Absorção transepidérmica VIA CUTÂNEA: Após contato da SQ com o Tecido Cutâneo pode ocorrer: ▪ epiderme → barreira efetiva; ▪ irritação local; ▪ penetração (reação com proteínas) → reação alérgica; ▪ difusão → corrente sanguínea → efeito sistêmico Fatores que influem na absorção cutânea: ❖ligados ao organismo - idade, peso - superfície corpórea, espessura - volume de água corpóreo - integridade - fluxo sanguíneo - pilosidade - sudorese ❖Ligados ao Agente tóxico: - volatilidade - viscosidade - grau de ionização - tamanho molecular - coeficiente de partição óleo/água - capacidade de ligação aos constituintes da pele ❖Ligados a presença de outras substâncias na pele: - vasoconstritores - veículos - agentes tensoativos - solventes orgânicos ❖ tempo e temperatura VIA RESPIRATÓRIA: 90% das Intoxicações Ocupacionais ❖ facilidade de introdução 5-6 litros/min (repouso) 30 litros/min (atividade) ❖ extensão da área pulmonar (90m2 e 400 milhões de alvéolos); ❖ permeabilidade e vascularização. TOXICANTE INALADO RETENÇÃO NAS VIAS AÉREAS SUPERIORES ABSORÇÃO CIRCULAÇÃO SISTÊMICA VIA RESPIRATÓRIA: Entrada de agentes tóxicos depende: forma ➢ Características físicas das partículas tamanho densidade ➢Morfologia do Trato respiratório volume ➢ Características ventilatórias fluxo velocidade ➢ Temperatura ambiente http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.expancel.com/All_languages/product/picts/gula.jpg&imgrefurl=http://www.expancel.com/spanish/product/main.htm&h=254&w=200&sz=27&hl=pt-BR&start=6&tbnid=Tn-bSJuzhbzIOM:&tbnh=111&tbnw=87&prev=/images?q=part%C3%ADculas&svnum=10&hl=pt-BR&sa=G Morfologia do Trato respiratório: Retenção e/ou remoção de material particulado ➢ Impacto (nasofaringe) ➢ Sedimentação (região traqueobrônquica) ➢ Difusão (alvéolos) ➢ Coeficiente de partição ar alveolar/sangue > 5µm - poeiras, névoas- remoção por assopro, espirro, limpeza. 2 a 5 µm- poeiras, névoas- remoção com secreções e fagocitose por macrófagos. < 1 µm- fumos, fumaça- absorção sistêmica, pelo sistema linfático, fagocitose por macrófagos remoção com o muco, por movimentos ciliares Gases (CO, NO2, SO2) e substâncias voláteis: •hidrossolúveis ou reativos- retidos na mucosa nasal- formaldeído; •lipossolúveis absorvidos pelos alvéolos. Gases e Vapores Absorção: depende do coeficiente de partição entre o sangue e o gás ❖Coeficiente baixo (ex.: etileno - 0,14): pequena porcentagem de gás dos pulmões será transferida para o sangue • Velocidade de transferência depende do fluxo sanguíneo ❖Coeficiente alto (ex.: clorofórmio - 15): a maior parte do gás é transferido para o sangue durante cada ciclo respiratório e pouco permanece nos alvéolos antes da próxima respiração • Velocidade de transferência depende da respiração (frequência respiratória) VIA RESPIRATÓRIA: Fonte: http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mII.digs.htm (modificado) SANGUE RINS URINA PULMÕES AR EXALADO GLÂNDULAS SALIVA LEITE SUOR VIA ORAL: Trato gastrointestinal INGESTÃODIFUSÃO/FILTRAÇÃO http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mII.digs.htm Fatores que influenciam a absorção GI: • grau de dissociação da substância: predomínio de formas não-ionizadas ou ionizadas; • grau de lipossolubilidade; • solubilidade do toxicante no pH do TGI; • capacidade de produzir vômito e irritação; • estabilidade em enzimas digestivas e na flora intestinal; Fatores que influenciam a absorção GI: • plenitude, vacuidade, mobilidade e secreções do TGI; • propriedades físicas (peso molecular); • veículo e tipo de formulação do composto; • presença de outras substâncias químicas que possam interagir com o agente tóxico; • ciclo entero-hepático ou efeito de 1ª passagem. •Solubilidade Grupamentos funcionais que conferem hidro ou lipossolubilidade às substâncias químicas: Hidrossolubilidade Lipossolubilidade OH alquílicos (CH3 CH3CH2 etc.) COOH fenílicos NH2 naftílicos SH halogênios (Cl, F, Br, I etc.) C = 0 acetil (CH3COO-) Grau de ionização IONIZADAS NÃO IONIZADAS LIPOSSOLÚVEL DIFUSÃO PELAS MEMBRANAS INCAPACIDADE pH do meio pKa toxicante Equação de Henderson-Hasselbach • Para ácidos: pKa – pH = log [moléculas] [íons] • Para bases: pH - pKa = log [moléculas] [íons] CALCULE Porção não ionizada (%) pH Ác. Benzóico (pKa=4) Anilina (pKa=5) 2 3 5 7 CALCULE Porção não ionizada (%) pH Ác. Benzóico (pKa=4) Anilina (pKa=5) 2 99,0 0,1 3 90,0 1,0 5 10,0 50,0 7 0,1 99,0 TOXICOCINÉTICA 1.Fatores relacionados com a substância química 2.Absorção e transporte através de membranas biológicas 3.Vias de introdução de substâncias químicas 4.Distribuição/Acumulação de agentes tóxicos 5.Processos de Biotransformação 6.Vias de Eliminação de toxicantes ABSORÇÃO Plasma (gases, vapores e íons (livres ou ligados) DISTRIBUIÇÃO Eritrócitos (Pb) e (COHb) ❖ órgãos mais irrigados (cérebro, vísceras); ❖ órgãos menos irrigados (ossos, dentes, unhas e cabelos); ❖ equilíbrio entre fração armazenada (inativa) e fração livre (ativa) DISTRIBUIÇÃO E SÍTIOS DE ARMAZENAMENTO Distribuição • Fatores que afetam a distribuição – Fatores ligados à substância: (lipossolubilidade e grau de ionização). – Fatores ligados ao organismo: (fluxo sanguíneo, conteúdo de água ou lipídio de órgãos e tecidos, biotransformação do agente tóxico, integridade do órgão). Principais locais de armazenamento: ❖ Proteínas plasmáticas (função de transporte) ❖ albumina (caráter ácido) ❖ lipoproteínas (caráter básico) ❖ α-glicoproteína (hormônios e metais) ✓ AT livre AT ligado - fração livre => ativa e distribuída aos tecidos - fração ligada => reservatório (inerte) ❖ Grau de ligação protéica depende de: ❖ afinidade entre AT e proteínas plasmáticas; ❖ concentração sanguínea do AT; ❖ concentração das proteínas sanguíneas. Principais locais de armazenamento: ❖ Depósitos celulares de substâncias ❖ Proteínas ❖ Fosfolipídeos ❖ Nucleoproteínas ❖ Tecido adiposo => dissolução física na gordura neutra ❖ Baixa vascularização e baixa taxa de biotransformação Ex: DDT ❖ Outros sítios ❖ Ossos (reação de troca de íons cálcio por íons toxicantes Ex: tetraciclinas e Pb). ❖ Cabelos e unhas (conteúdo em queratina => quelação de cátions metálicos (Pb e Hg) ❖ Leite => substâncias lipossolúveis ❖ Materno (intoxicação do bebê) ❖ de vaca (contaminação humana) ➢ CÉREBRO afinidade por células do SNC lipossolubilidade do AT difusão passiva, facilitada, filtração ➢ PLACENTA lipossolubilidade do AT peso molecular circulação metabolismo placentário Barreiras Hematoencefálica e Placentária Presença de trasportes ativos de absorção e efluxo que protegem seletivamente, por exemplo, protegendo o feto da ação de alguns quimioterápicos e praguicidas. ➢ OGA, S. Fundamentos de toxicologia. Atheneu Editora Ltda, São Paulo, 4ª edição, 2014. ➢ LARINI, L. Toxicologia. Editora Manole Ltda, São Paulo, 2ª edição, 1987. ➢ KLAASSEN, C. D. Fundamentos em toxicologia de Casarett & Doull. 2ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2012 BIBLIOGRAFIA
Compartilhar