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TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO Karen Soares – 2021.1 DEFINIÇÃO Grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Normalmente se caracterizam cedo, antes da criança entrar na escola. São caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Podem variar desde de limitações muito específicas até prejuízos globais em habilidades sociais ou de inteligência. CATEGORIAS DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Déficits em capacidades mentais genéricas, como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e pela experiência. O indivíduo não consegue atingir padrões de independência social e responsabilidade social. Atraso global do desenvolvimento: quando um indivíduo não atinge marcos do desenvolvimento; diagnóstico utilizado em pacientes que estão incapacitados de participar de avaliações sistemáticas de funcionamento intelectual – testes padronizados. Pode ser decorrente de uma lesão adquirida no período do desenvolvimento, por exemplo, TCE grave. Especificar se leve, moderada, grave ou profunda. TRANSTORNO DE COMUNICAÇÃO Transtornos de linguagem, de fala, comunicação social (pragmática) Transtorno da fluência (gagueira): sons ou sílabas repetidas, prolongamento de sons, interrupção de palavras, bloqueio ou palavras pronunciadas com tensão física excessiva. TRANSTORNOS MOTORES Coordenação, movimento estereotipado, transtornos de tique. Transtorno do desenvolvimento da coordenação: déficits na aquisição e execução de habilidades motoras coordenadas, manifestando-se por falta de jeito e lentidão ou imprecisão no desempenho de habilidades motoras. Transtorno de movimento estereotipado: quando o indivíduo apresenta comportamentos motores repetitivos, aparentemente direcionados e sem propósito, como agitas as mãos, balançar o corpo, bater a cabeça, morder-se ou machucar-se; especificar se causam lesão. Transtornos de tique: presença de tiques motores ou vocais, movimentos ou vocalizações repentinas, rápidos, recorrentes, não ritmados e estereotipados. - Diferenciar de transtorno de Tourette (múltiplos tiques motores e vocais, presentes pelo menos um ano e com curso sintomático de remissões e recorrência), transtorno de tique motor ou vocal persistente (crônico), transtorno de tique transitório, transtorno de tique especificado ou não especificado TRANSTORNO ESPECÍFICO DE APRENDIZAGEM Déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar informações com eficiência e precisão. Manifesta-se durante os anos de escolaridade formal, caracterizando-se por dificuldades persistentes e prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura, escrita e/ou matemática. O desempenho individual está afetado e bastante abaixo da média para a idade. Podem manifestar-se apenas quando as demandas de aprendizagem ou procedimentos de avaliação (ex. testes cronometrados) impõem barreias. Apresentação clínica, idade de início, gravidade, associado a alguma condição médica (epilepsia) ou genética (X-frágil, esclerose tuberosa e síndrome de Rett) conhecida ou fator ambiental (PIG, exposição fetal ao álcool). TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) DEFINIÇÃO Transtorno do desenvolvimento neurológico. Déficits persistentes na comunicação social e na interação, incluindo déficits na reciprocidade social Presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividades → bater palmas, caminhar na ponta dos dedos e brincadeiras estranhas. Engloba: autismo infantil, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo do desenvolvimento e o transtorno global do desenvolvimento. Síndrome comportamental, com etiologia orgânica e curso de um transtorno do desenvolvimento. Antigamente entedia-se o autismo como uma psicose. O diagnóstico e intervenção precoce podem altera o prognóstico e suavizar os sintomas. 12 a 24 meses: foram encontradas diferenças entre bebes que mais tarde receberam o diagnóstico de TEA e aqueles que continuarem a desenvolver-se normalmente a respeito da frequência de comportamentos sociais e comunicativos próprios dessa idade (sorriso social, vocalizações dirigidas e olhar no rosto de outras pessoas. O TEA é frequentemente associa a outros transtornos: TDAH, depressão, ansiedade, epilepsia, transtornos genéticos. A síndrome de Asperger e o transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação são diagnosticados como TEA. SÍNDROME DE ASPERGER Diagnóstico mais tardio, pois geralmente não há atraso de linguagem verbal e a cognição é preservada. Problemas na comunicação social. Maior prevalência no sexo masculino. Inteligência próxima da normalidade com déficit na sociabilidade, além de interesses específicos e história família de problemas similares. SÍNDROME DE RETT Parece ocorrer exclusivamente em mulheres Movimentos de mãos de linha média estereotipados (bater ou lavar as mãos) Involução Uma ruptura da interação social pode ser observada durante a fase regressiva da síndrome de Rett (em geral, entre 1 e 4 anos de idade); assim, uma proporção substancial das meninas afetadas pode ter uma apresentação que preenche critérios diagnósticos para transtorno do espectro autista. Depois desse período, no entanto, a maioria dos indivíduos com síndrome de Rett melhora as habilidades de comunicação social, e as características autistas não são mais grande foco de prefoco de preocupação. Consequentemente, o transtorno do espectro autista somente deve ser considerado quando preenchidos todos os critérios diagnósticos. Desenvolvimento normal durante pelo menos 6 meses, seguido por movimento estereotipados das mãos, perda de movimentos intencionais, redução no compromisso social, descoordenação e redução no uso da linguagem. Apresenta condição genética bem estabelecida. Diagnóstico diferencial de TEA. EPIDEMIOLOGIA 1 a 5/8 casos em cada 10.000 crianças. 4:1 (homem: mulher). Estima-se que em 30% dos casos o paciente apresenta déficit intelectual. Maior custo com saúde principalmente devido ao apoio de adultos que não podem funcionar de forma independente. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE FATORES GENÉTICOS Mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao alvo da rapamicina. FATORES IMUNOLÓGICOS Incompatibilidade imunológica. Tecidos neurais embrionários podem ter sido lesionados durante a gestação FATORES PRÉ-NATAIS Idade materna e paterna avançada Hemorragia gestacional materna Diabetes gestacional Bebê primogênito Complicações no cordão umbilical Trauma no nascimento Desconforto fetal PIG Baixo APGAR Malformação congênita Incompatibilidade do grupo sanguíneo ABO ou fator Rh Hiperbilirrubinemia TRANSTORNOS NEUROLÓGICOS COMÓRBIDOS Anormalidades encefalográficas e distúrbios convulsivos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Perturbações no desenvolvimento e uso da linguagem Deficiência intelectual Irritabilidade Instabilidade no humor e no afeto Resposta varias a estímulos sensoriais Hiperatividade e desatenção Habilidades precoces (cálculos, memória, leitura) Insônia Infecções menores (trato respiratório) e sintomas gastrointestinais DIAGNÓSTICO IDADE A idade média de diagnóstico é aos 4,5 anos, entretanto, a partir dos 18 meses já podemos estabelece-lo. Idade de triagem precoce: 18-30 meses. O diagnóstico pode ser preenchido com base em informações retrospectivas, já que os mesmos podem ser mascarados por mecanismos compensatórios. Idade da primeira preocupação; com ou sem perda de habilidades graves estabelecidas; gravidade. FERRAMENTAS Uma série de instrumentos de triagem funcionam bem quando alguém - pai ou profissional - está preocupado queuma criança possa ter TEA, os mais comuns dos quais são a Lista de Verificação Modificada para Autismo em Crianças (M- CHAT) e, menos comumente, a Comunicação e Escalas de comportamento simbólico (CSBS). Diagnóstico precoce → - STAT: observação de 20 minutos para crianças pequenas; - ADOS: cronograma de observação de diagnóstico do autismo – observação de 45 minutos feita por profissional habilitado, dos 12 meses a vida adulta. ESPECIFICADORES Idade da primeira preocupação; com ou sem perda de habilidades graves estabelecidas; gravidade. - Com ou sem comprometimento intelectual concomitante - Com ou sem comprometimento de linguagem concomitante - Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou fator ambiental TRATAMENTO Objetivos: - Melhorar interações sociais e comunicação - Ampliar estratégias de integração escolar - Desenvolver relacionamentos significativos - Aumentar habilidades de uma vida independente a longo prazo Intervenções psicossociais (comportamentais, habilidades sociais, cognitivo-comportamental. Intervenções psicofarmacológicas – se comorbidades psiquiátricas associadas - Irritabilidade: risperidona e aripiprazol (antipsicótico atípico). - Hiperatividade, impulsividade e desatenção: metilfenidato - Comportamento repetitivo e estereotipado: ISRS, AP atípico, estabilizador de humor. Terapia musical, yoga. Treinamento dos pais - Reforço positivo - Moldagem - Punição TDAH DEFINIÇÃO Condição neuropsiquiátrica que afeta pré-escolares, crianças e adolescentes. Níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade, impulsividade. Desatenção e desorganização que envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa. Aparência de não ouvir e perda de matérias em níveis inconsistentes. Atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e incapacidades de aguardar. Se sobrepõe a transtornos de externalização: transtorno de oposição desafiante e transtorno de conduta. Até 70% das crianças com TDAH preenchem os critérios de algum TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO COMÓRBIDO, incluindo transtornos da aprendizagem, de ansiedade, do humor, da conduta e por uso de substância EPIDEMIOLOGIA 5 a 8% das crianças em idade escolar. Até 60% dos pacientes permanecem sintomáticos na vida adulta (afeta 2,5% da população adulta) A taxa de incidência em pais e irmãos de crianças com transtorno é 2 a 8 vezes maior que na população em geral. 9:1 (meninos: meninas) Costuma estar associado a transtornos de aprendizagem, ansiedade, humor e comportamento disruptivo. FISIOPATOLOGIA Dopamina e noradrenalina - Por meio de descargas tônicas, despolarizam os neurônios do córtex pré-frontal - Devem estar em equilíbrio Noradrenalina: fortalece o sinal Dopamina: enfraquece o sinal (age como um filtro) ETIOLOGIA FATORES GENÉTICOS 75% de hereditariedade. FATORES NEUROQUÍMICOS Dopamina utilizada em excesso no córtex pré-frontal. Locus ceruleus: neurônios noradrenérgico – epinefrina. Medicamentos: catecolaminas: promovem a liberação e bloqueiam a reabsorção – sistema adrenérgico e dopaminérgico. FATORES NEUROFISIOLÓGICOS Atividade beta significativamente mais elevada ASPECTOS NEUROANATÔMICOS Correlações neuroanatômicas entre os córtices superior e temporal, focalizando a atenção; nas regiões parietal e estriatal externas com funções motoras executivas; no hipocampo com codificação de traços de memória; e no córtex pré-frontal, deslocando-se de um estímulo para outro MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hiperatividade Impulsividade Desatenção DIAGNÓSTICO Diversos sintomas de déficit de atenção e de hiperatividade e impulsividade até os 12 anos. - 6 sintomas - Se 17 anos ou mais necessita de apenas 5 sintomas Presença de sintomas em 2 ou mais ambientes Prejuízo social Especificadores: - Apresentação combinada - Apresentação predominantemente desatenta - Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva Para adolescentes com idade igual ou superior a 17 anos e para adultos, são necessários apenas 5 sintomas de desatenção ou hiperatividade e impulsividade. Há exigência de que vários sintomas estejam presentes antes dos 12 anos de idade Transtorno desafiador opositor - Associados a transtorno de conduta - Vingativa FERRAMENTAS SNAP-IV: teste de triagem TRATAMENTO Psicoterapia Psicoeducação Registro de pensamentos disfuncionais e resolução de problemas Automonitoramento e planejamentos Treinamento parental FARMACOLÓGICO Indicada para iniciar depois de 6 anos. Psicoestimulantes: estimulam a liberação dopaminérgica, especialmente em córtex pré-frontal (região responsável pela atenção, planejamento e controle de impulsos); são uma opção efetiva para 85% dos casos de TDAH. Fazer medicação com tempo restrito, pois pode acabar influenciando no crescimento – parar no final de semana ou durante as férias; continuar por tempo indeterminado. - Metilfenidato (Ritalina 10mg; Ritalina LA 10mg, 20mg, 30mg e 40mg); 8 horas; administrar até 60mg/dia (o ideal é que seja uma dose ao dia); contraindicações de problemas cardíacos.; impendem a recaptação de DA e NA – agem com o mesmo mecanismo de ISRS. - Lisdexanfetamina (Venvanse 30mg, 50mg e 70mg); menor risco de abuso de medicamento; - Atamoxetina Alfa-agonistas: clinidina. Antidepressivos tricíclicos (imipramina) ou dual (Bupropiona) AP de segunda geração: risperidona – se agressividade. REFERÊNCIAS 1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014. 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de Pediatra, Volume 1, Seção 5 – Pediatria do comportamento e desenvolvimento, 2010. 3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento científico de pediatria do desenvolvimento e comportamento - Manual de orientação: Transtorno do espectro do autismo, 2019. 4. Lord C, Elsabbagh M, Baird G, Veenstra-Vanderweele J. Autism spectrum disorder. Lancet. 2018 Aug 11;392(10146):508- 520. doi: 10.1016/S0140-6736(18)31129-2. Epub 2018 Aug 2. PMID: 30078460; PMCID: PMC7398158. 5. SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virginia A.; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria-: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Artmed Editora, 2016. 6. BOARATI, Miguel Angelo; PANTANO, Telma; SCIVOLETTO, Sandra. Psiquiatria da infância e adolescência: cuidado multidisciplinar, 2016.
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