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PEDIATR I A -Antes da vacina, o Haemophilus influenzae tipo b era o principal agende etiológico, tendo se tornado raro na era pós-vacina -Staphylococcus aureus passou a ser a infecção mais comum em todas as faixas etárias -S. aureus resistente à meticilina representa uma alta proporção (>25%) de isolados de S. aureus na comunidade em diversas áreas dos Estados Unidos e em todo o mundo -Estreptococos do grupo A e Streptococcus pneumoniae (pneumococos) historicamente causam 10% a 20% dos casos -S. pneumoniae é mais provável nos primeiros 2 anos de vida, mas sua frequência vem caindo desde a introdução das vacinas pneumocócicas conjugadas -Kingella kingae é reconhecida como uma etiologia relativamente comum -Em adolescentes sexualmente ativos, gonococos são uma causa comum de artrite séptica e tenossinovite, normalmente de pequenas articulações ou como infecção monoarticular de uma articulação grande (joelho) -Neisseria meningitidis pode causar tanto uma artrite séptica que ocorre nos primeiros dias da doença quanto uma artrite reativa, que é normalmente observada vários dias após o início da antibioticoterapia -Estreptococos do grupo B são uma causa importante de artrite séptica em recém- nascidos -Infecções fúngicas normalmente ocorrem como parte de uma doença multissistêmica disseminada; artrite por Candida pode complicar infecções sistêmicas em recém- nascidos com ou sem cateteres vasculares internos -Infecções virais primárias das articulações são raras, mas a artrite acompanha várias síndromes virais (parvovirose, caxumba, vacinas vivas contra rubéola), sugerindo uma patogênese imunomediada P E DI A T R I A -A artrite séptica é mais comum em crianças pequenas. Metade de todos os casos ocorre até os 2 anos de idade, e três quartos de todos os casos ocorrem até os 5 anos de idade. Adolescentes e recém-nascidos estão sob risco de artrite séptica gonocócica -A maioria das infecções em crianças geralmente saudáveis são de origem hematogênica. Infecções das articulações podem resultar de ferimentos penetrantes ou procedimentos como trauma, artroscopia, cirurgia para implante de prótese articular, injeção intra-articular de esteroides e cirurgia ortopédica, embora isto seja incomum. Pacientes imunocomprometidos e os que são portadores de doença articular reumática também correm maior risco de infecção articular -A artrite séptica ocorre principalmente como resultado de semeadura hematogênica do espaço sinovial. Com menor frequência, os organismos entram no espaço articular por inoculação direta ou extensão de um foco contíguo -A membrana sinovial é altamente vascularizada e não apresenta membrana basal, proporcionando o ambiente ideal para a semeadura hematogênica -A presença de produtos bacterianos (endotoxina ou outras toxinas) dentro do espaço articular estimula a produção de citocinas (fator de necrose tumoral α, interleucina 1) dentro da articulação, desencadeando uma cascata inflamatória. As citocinas estimulam a quimiotaxia dos neutrófilos para dentro do espaço articular, onde enzimas proteolíticas e elastases são liberadas pelos neutrófilos, danificando a cartilagem -A maioria das artrites sépticas é monoarticular. Os sinais e sintomas de artrite séptica dependem da idade do paciente. Os sinais e sintomas iniciais podem ser sutis, especialmente em recém-nascidos. Artrite séptica em recém-nascidos e bebês pequenos geralmente está associada a osteomielite adjacente causada pela disseminação transfisiária da infecção, embora seja possível observar osteomielite contígua a uma articulação infectada em qualquer idade -Bebês mais velhos e crianças podem apresentar febre e dor, com sinais localizados como aumento de volume, eritema e calor na articulação afetada. Com o envolvimento das articulações da pelve e das extremidades inferiores, geralmente se observa claudicação ou recusa a andar -Eritema e edema de pele e do tecido mole sobrejacente ao local da infecção são observados mais cedo na artrite séptica do que na osteomielite, pois a sinóvia infectada saliente é normalmente mais superficial, enquanto a metáfise está localizada mais profundamente. Artrite séptica do quadril é uma exceção devido à localização profunda da articulação do quadril -Articulações da extremidade inferior constituem 75% de todos os casos de artrite séptica. As articulações dos cotovelos, punhos e ombros estão envolvidas em aproximadamente 25% dos casos, e articulações pequenas não são infectadas comumente. Infecções supurativas do quadril, ombro, cotovelo e tornozelo em bebês mais velhos e crianças podem estar associadas a osteomielite adjacente do fêmur proximal, úmero proximal, rádio proximal e tíbia distal porque a metáfise se estende intra-articularmente. -As enzimas proteolíticas liberadas pelas células sinoviais e condrócitos também contribuem para a destruição da cartilagem e sinóvia. A hialuronidase bacteriana decompõe o ácido hialurônico no líquido sinovial, tornando-o menos viscoso e reduzindo sua capacidade de lubrificar e proteger a cartilagem articular -Podem ocorrer danos na cartilagem por meio do aumento da fricção, principalmente nas articulações de sustentação de peso. O aumento da pressão dentro do espaço articular pelo acúmulo de material purulento pode comprometer o suprimento vascular e induzir à necrose da cartilagem por pressão. A destruição sinovial e da cartilagem resulta de uma combinação de enzimas proteolíticas e fatores mecânicos -Hemoculturas devem ser realizadas em todos os casos suspeitos de artrite séptica. A aspiração do líquido articular para coloração de Gram e cultura quando o histórico e os achados físicos indicam artrite séptica continuam sendo a técnica diagnóstica definitiva, oferecendo o material ideal para cultura a fim de confirmar o diagnóstico. -A aspiração de pus articular oferece o melhor material para cultura bacteriológica da infecção. Se houver suspeita de gonococos, culturas cervicais, anais e de garganta também devem ser obtidas. Além da imediata inoculação em meio sólido, a inoculação do espécime em frascos de cultura sanguínea pode aumentar a recuperação de K. kingae. A reação em cadeia da polimerase parece ser o método mais sensível para detectar K. kingae no líquido articular -A análise do líquido sinovial para contagem diferencial de células, proteína e glicose tem utilidade limitada, pois doenças inflamatórias não infecciosas, como febre reumática e artrite idiopática juvenil, também podem causar reação exuberante com aumento de células e proteínas e redução da glicose. Porém, contagens >50.000-100.000 células/mm 3 geralmente indicam um processo infeccioso. Características de artrite séptica no líquido sinovial podem sugerir infecção, mas não são suficientemente específicas para excluir infecção. Quando a aspiração articular é negativa, deve-se excluir piomiosite, principalmente dos músculos pélvicos, por meio do exame de ressonância magnética (RM) -As contagens diferenciais de leucócitos, velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C reativa (PCR) são geralmente elevadas em crianças com infecções articulares, mas não são específicas e podem não ser úteis para distinguir infecções de outros processos inflamatórios. A contagem de leucócitos e a VHS podem ser normais durante os primeiros dias de infecção, e resultados normais de exames não impedem o diagnóstico de artrite séptica. Monitorar VHS e PCR elevadas pode ser valioso para avaliar a resposta à terapia ou para identificar complicações. Em um estudo de artrite séptica por S. aureus , fatores de risco para um ponto de osteomielite contígua à artrite séptica incluíam uma PCR > 10 mg/dL no momento da admissão, hemoculturas positivas ou mais de 2 dias de febre após a admissão. obturador), deslocamento lateral ou obliteração das linhas adiposas do glúteo e elevação da linha de Shenton com arco ampliado. -A ultrassonografia é especialmente útil para detectar derrame articular e acúmulo de líquido nas regiões de tecidos moles e subperiosteais. É altamente sensível na detecção de derrame articular,especialmente na articulação do quadril, em que radiografias simples são normais em mais de 50% dos casos de artrite séptica do quadril. A ultrassonografia pode servir de auxílio na realização de aspirações de quadril. -Imagens de ressonância magnética e tomografia computadorizada podem ser úteis para confirmar a presença de líquido articular em pacientes com suspeita de infecções de osteoartrite. A ressonância magnética pode ser útil para excluir osteomielite adjacente. -Comparadas a radiografias, as imagens de radionuclídeos são mais sensíveis em fornecer evidências do diagnóstico de artrite séptica; uma varredura pode ser positiva em um prazo de 2 dias da manifestação dos sintomas. Imagens trifásicas com metilenodifosfonato marcado com tecnécio 99 mostram captação simétrica em ambos os lados da articulação, limitada às estruturas ósseas adjacentes à articulação. Imagens de radionuclídeos também são úteis para avaliar a articulação sacroilíaca. -Estudos radiográficos desempenham um papel crucial na avaliação da artrite séptica. Radiografias convencionais, ultrassonografia (US), tomografia computadorizada (TC), imagens de ressonância magnética e estudos com radionuclídeos contribuem para a determinação do diagnóstico -Radiografias simples de artrite séptica podem demonstrar expansão da cápsula articular, edema de tecido mole e obliteração de linhas adiposas normais. Radiografias simples do quadril podem demonstrar deslocamento medial do músculo obturador para a pelve (sinal do -O tratamento ideal da artrite séptica requer cooperação entre pediatras, cirurgiões ortopédicos e radiologistas para que o paciente seja beneficiado. -Antibioticoterapia: A antibioticoterapia empírica inicial é baseada no conhecimento dos prováveis patógenos bacterianos nas diversas idades, nos resultados da coloração Gram de materiais aspirados e em considerações adicionais. *Em recém-nascidos, uma penicilina antiesta- filocócica, como nafcilina ou oxacilina (150-200 mg/kg por 24 horas divididos a cada 6 horas por via intravenosa), e uma cefalosporina de amplo espectro, como a cefotaxima (150-225 mg/kg por 24 horas divididos a cada 8 horas por via intravenosa), oferecem proteção contra S. aureus, estreptococos do grupo B e bacilos Gram-negativos. Se houver preocupações quanto à presença de S. aureus resistente à meticilina, receita-se vancomicina no lugar de nafcilina ou oxacilina. Se o recém-nascido for um bebê prematuro pequeno ou se tiver um cateter vascular central, a possibilidade de bactérias nosocomiais (S. aureus, bacilos entéricos Gram-negativos ou Pseudomonas aeruginosa) ou fungos (Candida) deve ser considerada. *Em bebês mais velhos e crianças com artrite séptica, a terapia empírica para cobrir S. aureus , estreptococos e K. kingae inclui cefazolina (100-150 mg/kg por 24 horas divididos a cada 8 horas) ou nafcilina (150-200 mg/kg por 24 horas divididos a cada 6 horas). * Em áreas onde se observa resistência à meticilina em ≥ 10% das cepas de S. aureus resistentes à meticilina adquirida na comunidade (CA-MRSA), sugere-se a inclusão de um antibiótico que seja eficaz contra isolados de CA-MRSA. Clindamicina (40 mg/kg divididos a cada 8 horas) e vancomicina (15 mg/kg a cada 6 horas, por via IV) são alternativas quando do tratamento de infecções por CA-MRSA. Em pacientes imunocomprometidos geralmente se inicia com -Artrite reativa subsequente a uma série de infecções bacterianas (gastrintestinais ou genitais) e parasitárias, faringite estreptocócica ou hepatite viral podem lembrar artrite séptica aguda -O diagnóstico diferencial de artrite séptica depende da articulação ou articulações envolvidas e da idade do paciente. -No quadril, sinovite tóxica, piomiosite, doença de Legg-Calvé-Perthes, deslizamento da epífise femoral capital, abscesso do músculo psoas e osteomielite proximal femoral, pélvica ou vertebral, além de discite, devem ser considerados. -No joelho, osteomielite femoral distal ou tibial proximal, artrite idiopática juvenil pauciarticular e irradiação da dor do quadril devem ser consideradas. Dor nos joelhos ou coxas pode ser irradiada dos quadris. -Outras condições, como trauma, celulite, piomiosite, doença falciforme, hemofilia e púrpura de Henoch-Schönlein, podem imitar artrite purulenta. Quando há envolvimento de várias articulações, doença do soro, doença colagenovascular, febre reumática e púrpura de Henoch-Schönlein devem ser consideradas. A artrite é uma das manifestações extraintestinais de doença inflamatória intestinal. terapia de combinação, como vancomicina e ceftazidima, ou com penicilinas de espectro ampliado e inibidores de β-lactamase com um aminoglicosídeo. *Quando o patógeno é identificado, são feitas as devidas adaptações nos antibióticos, conforme a necessidade. Se o patógeno não for identificado e a condição do paciente estiver melhorando, continua-se a terapia com o antibiótico inicialmente selecionado. Se o patógeno não for identificado e a condição do paciente não estiver melhorando, uma nova aspiração de material ou a possibilidade de uma condição não infecciosa devem ser consideradas. *A duração da antibioticoterapia é individualizada dependendo do organismo isolado e do curso clínico. O período de 10 a 14 dias é normalmente adequado para estreptococos, S. pneumoniae e K. kingae; podem ser necessários períodos mais longos de terapia em casos de infecções por S. aureus e bacilos Gram-negativos. A normalização da VHS e PCR, além de exames normais, dão respaldo para a suspensão da antibioticoterapia. Em determinados pacientes, obter uma radiografia simples da articulação antes de encerrar a terapia pode fornecer evidências (normalmente novo osso periosteal) de um local contíguo anteriormente negligenciado de osteomielite que provavelmente prolongaria o tratamento com antibióticos. Antibióticos orais podem ser usados para encerrar a terapia uma vez que o paciente esteja afebril por 48 a 72 horas e esteja claramente melhorando. -Terapia cirúrgica: A infecção dos quadris é geralmente considerada uma emergência cirúrgica devido à vulnerabilidade do suprimento de sangue para a cabeça do fêmur. Para outras articulações que não o quadril, aspirações diárias de líquido sinovial podem ser necessárias. Geralmente, 1 ou 2 aspirações subsequentes são suficientes. Se continuar havendo acúmulo de líquido após 4 a 5 dias, será necessário realizar artrotomia ou artroscopia assistida por vídeo. No momento da cirurgia, a articulação é irrigada com solução salina estéril. Não são instilados antibióticos porque eles são irritantes para o tecido sinovial, e são obtidas quantidades adequadas de antibiótico no líquido articular por meio da administração sistêmica. -Quando o pus é drenado e a devida terapia com antibióticos é instaurada, a melhora dos sinais e sintomas é rápida. Se não houver melhora ou se houver piora em até 72 horas, será necessário rever a adequação da antibioticoterapia, a necessidade de intervenção cirúrgica e a precisão do diagnóstico. Reagentes de fase aguda podem ser úteis como monitores. Falhas de qualquer um desses reagentes de fase aguda em seguir o curso normal devem levantar suspeitas quanto à adequação da terapia. Recorrência da doença e desenvolvimento de infecção crônica após o tratamento ocorrem em <10% dos pacientes. -Como as crianças estão em um estado dinâmico de crescimento, as sequelas de infecções esqueléticas podem não ser aparentes por meses ou anos; portanto, o acompanhamento em longo prazo é necessário, com atenção intensiva a uma série de movimentos de articulações e comprimentos de membros. Embora não existam dados concretos sobre o impacto do tratamento tardio sobre o resultado, aparentemente o início de terapia médica ou cirúrgica no prazo de 1 semana da manifestação dos sintomas oferece um prognóstico melhor do que o tratamento tardio. Referência: , K. Nelson - Tratado de Pediatria Grupo GEN, 2017. Capítulo 685: artrite séptica
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