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CETOACIDOSE DIABÉTICA CONCEITO Complicação metabólica aguda do DM, caracterizada por hiperglicemia, cetose e acidose. É considerada característica específica do DM1, mas pode ocorrer nos pacientes com DM2. • Causada pela intensa deficiência de insulina, absoluta ou relativa, e pelo excesso de hormônios contra-reguladores, principalmente, glucagon, cortisol e catecolaminas. • A deficiência de insulina favorece processos catabólicos, como a glicogenólise, gliconeogênese e a lipólise, além da diminuição da utilização periférica de glicose. • Essas alterações metabólicas desencadeiam hiperglicemia, com cetonemia, glicosúria e diurese osmótico, além de perda hidroeletrolítica, desidratação e diminuição da taxa de filtração glomerular. Fatores desencadeantes 1) Infecções: causa mais comum de CAD (40% dos casos). Principais: IVAS, PNM, ITU. 2) Omissão ou uso inadequado de insulina 3) DM de início recente 4) Abuso de bebidas alcoólicas 5) Gravidez (principalmente na segunda metade de gestação) 6) Cocaína: pode ser a causa de episódios recorrentes de CAD em jovens. 7) IAM: pensar em pacientes idosos, pois pode ter características silenciosas nessa população. 8) Medicações: glicocorticóides, inibidores de protease, tiazídios, betabloqueadores, agentes simpaticomiméticos, antipsicóticos atípicos. 9) Pacientes em uso de Bombas de Infusão contínua de Insulina (obstrução do cateter) Fisiopatologia Consiste na redução de insulina efetiva circulante, com liberação excessiva de hormônios contrarreguladores. Esta alteração causa aumento da síntese hepática e renal de glicose e redução da captação pelos tecidos periféricos sensíveis à insulina. Resulta em hiperglicemia e hiperosmolalidade no meio extracelular. hiperglicemia Ocorre por: • Ativação da gliconeogênese: cortisol reduz síntese proteica e estimula proteólise, resultando na síntese de aminoácidos (Alanina e Glutamina) que, somados aos ácidos graxos livres liberados pelos adipócitos, são substratos para gliconeogênese. • Ativação da glicogenólise • Redução da utilização periférica de insulina nos músculos, fígado e adipócitos. • A diurese osmótica contribui para maior concentração de glicose no sangue. (Urina concentrada em glicose, por osmose, atrai líquidos e eletrólitos, que serão excretados juntamente na urina) CETONEMIA A produção excessiva de ácidos graxos livres pelos adipócitos (lipólise) serão oxidados em corpos cetônicos no fígado (ácido beta-hidroxibutírico, ácido acetoacético e acetona) • Processo estimulado pelo glucagon. • No plasma, corpos cetônicos se transformam em cetoânions (beta-hidroxibutirato e acetoacetato) e H+. Resultando em cetonemia e acidose metabólica. Acidose metabólica Pelo acúmulo de cetoânions (beta- hidroxibutirato e acetoacetato). .Caracterizada pela acidose metabólica com anion-gap elevado (aumento da diferença entre os cátions e ânions na circulação sanguínea). Distúrbios hidroeletrolíticos A hiperglicemia, por osmose, causa saída de fluidos e eletrólitos do meio intra para o extracelular. Esses componentes no meio extracelular serão excretados pela diurese osmótica (urina concentrada de glicose, retém fluidos e eletrólito, além de causar micções excessivas – poliúria). • Resulta em distúrbio hidroeletrolítico, desidratação e glicosúria. • Situação paradoxal: apesar da excreção urinária de K e fosfato, seus níveis séricos estão normais ou elevados. Isso ocorre por: - baixa concentração de insulina predispõe saída de K e fosfato das células. - Hiperosmolaridade extrai água e K das células - Acidose promove entrada de H+ nas células em troca de K. Quadro clínico Possui rápida evolução após os eventos precipitantes. Existe relatos de evolução progressiva e relativamente rápida dos sintomas de DM, principalmente a poliria e polidipsia, nas últimas 24h. Exame físico • Desidratação: mucosa bucal seca, pele fria e seca; extremidades mal persuadidas, olhos fundos, hipotonia dos globos oculares, turgor diminuído, taquicardia, hipotensão, hipotonia muscular, agitação e até choque. • Respiração de Kussmaul: rápida, profunda. Hiperventilação em resposta à acidose. na pediatria CETOACIDOSE DIABÉTICA Diagnóstico Critério diagnóstico • Hiperglicemia > 200mg/dL • pH sangue venoso < 7,3 ou bicarbonato sérico < 15mmol/L • Cetonemia • Cetonúria Diferenciais: cetoacidose de jejum, cetoacidose alcoólica, acidose láctica. Confirmada a CAD, o paciente pediátrico deve ser monitorizado. Crianças com CAD grave (duração mais prolongada de sintomas, choque e depressão do sensório) ou aquelas c/ risco de edema cerebral (< 5 anos, acidose grave, pCO2 baixo e ureia elevada) devem ser admitidas em UTI. • 2 acessos venosos periféricos são necessários (evitar acesso venoso profundo pelo risco de trombose) • Se inconsciente/obnubilado: obter VA segura e SNG p/ esvaziamento gástrico. • IOT deve ser evitada • Choque hipovolêmico: oferecer O2 • ATB indicado se história de febre. Iniciar após culturas. Reposição de líquidos Primeira fase: expansão volêmica • Paciente em depleção volumétrica acentuada, mas sem choque, iniciar com SF 0,9% IV - 10 a 20 ml/Kg em 1 a 2 horas. Repetir até melhorar perfusão tissular. • Casos com choque: fazer rápida expansão SF 0,9% 20ml/Kg em bolus. Segunda fase: repor perdas hídricas e manutenção. • Em CAD leve, pode não precisar de expansão, indo diretamente para a segunda fase. • .Deve-se fornecer a necessidade hídrica diária (NHD) e estimar as perdas e repor em 48h. NHD (Holliday Segar): a) até 10kg de peso -> 100ml/kg/dia b) 11 a 20kg de peso -> 1.000ml + (50ml/kg de peso que exceder 10kg) no dia. c) 21 a 45kg de peso -> 1.500ml + (20ml/kg do peso que exceder 20kg) no dia. d) Acima de 45kg de peso -> 2.000ml/dia • .Cálculo de perdas de acordo com o grau de desidratação, tendendo a subestimá-las para repor em 24h: a) Leve (3 a 5% do peso) -> 30 a 50ml/Kg b) Moderada (5 a 7% do peso) -> 50 a 70ml/kg c) Grave (não ultrapassar 10% do peso) -> 80-100 ml/Kg. • O volume total calculado para 24 horas (NHD + perdas) é dividido em 3 partes, sendo 1/3 infundido nas primeiras 6h, 1/3 nas 6h seguintes e 1/3 nas últimas 12 horas do dia. • Não ultrapassar volume máximo de 4 litros/m2 /dia. Inicialmente, deve-se utilizar soluções isotônicas (SF 0,9% ou RL) por 4 a 6h. A glicose deve ser adicionada quando glicemia entre 250-300 mg/dL, na proporção 1:1 de SF e SG 5% (solução glicofisiológica. Quando glicemia < 120 -> substituir para SG 5%, para tentar manter glicemia > 120 mg/dL. Adicionar Na para manter osmolaridade em 150 mOsm/L. • Hálito cetônico (maçã podre) • Náuseas e vômitos • Dor abdominal (pode simular abdome agudo; presente em desidratação intensa, dificultando e tornando doloroso o deslizamento dos folhetos da pleura e do peritônio; pode ter defesa muscular abdominal local ou geral) • Temperatura: eutérmico ou leve hipotermia, mesmo com processo infecioso. Decorre da vasodilatação que acompanha a acidose metabólica. • Consciência: variada até o coma. Paciente com elevação da osmolaridade plasmática (> 320mOsm/Kg) e/ou glicemia muito elevada tem maior risco de coma. • Evolução neurológica na DM1 é bem tardia para o coma. Laboratório • Glicose • Fósforo • Ur/Cr (sua redução reflete depleção do volume intravascular) • Eletrólitos: cálculo de ânion-gap (Normal 8-10 mEq/L3. [Na+ - (Cl- + HCO3-)] • Na+ abaixo do normal, em decorrência do movimento osmótico para o meio extracelular, somado às perdas através da urina e vômitos. • K+ e PO43-: normal ou elevado (situação paradoxal). • EAS • Cetonúria e cetonemia: pesquisa de corpos cetônicos na urina e sangue pela reação do nitroprussiato, que reage apenas com acetoacetato e cetona (não identifica o beta-hidroxibutirato, portanto, seu resultado negativo não exclui CAD). • Gasometria • Hemograma (leucocitose - que pode traduzir apenas a intensa atividadeadrenocortical - característico da CAD e não indica infecção). • Eletrocardiograma (para avaliar sinais de tipo ou hipercalcemia, pelas alterações da onda T. • Se necessário: RX tórax, cultura sangue e urina Tratamento na pediatria insulinoterapia Iniciar após término da expansão volêmica, ao final da primeira hora de tratamento, e se K > 3,3 mEq/L pelo risco de arritmias associadas à hipopotassemia. Objetiva diminuir a glicemia na velocidade de 40 a 90mg/dL/h. • Iniciada com dose em bolus de 0,15 UI IV de insulina regular. Manutenção 0,1 UI/kg/h IV, IM ou SC de insulina regular. . - Injeção inicial em bolus não deve ser feita em crianças. Prefere-se fazer infusão contínua 0,1 UI/kg/h de insulina regular.. - Deve-se saturar o equipo com 50ml da solução, desprezando este volume e repetindo o procedimento a cada troca de solução, que deve ser de 6/6h. • A velocidade de infusão deve ser diminuída para 0,05 a 0,1 U/ Kg/h, quando a glicemia atingir 250-300 mg/dL e inicia adição de SG de 5-15%. • Glicemia deve ser aferida de hora em hora. • A suspensão da insulina IV deve ser depois da administração de 10U de insulina regular SC e esperar 1h para desligar a bomba de infusão. Bicarbonato de sódio • Seu uso não é mais indicado na CAD, independentemente dos níveis de pH. • A terapia pode causar acidose paradoxal no SNC e hipocalcemia grave. Também aumenta o risco de edema cerebral. . • Deve ser administrada a 1/2 da dose calculada pela fórmula: Base-Excess x Peso x 0,3 • Uso indicado apenas na parada cardíaca. fosfato CETOACIDOSE DIABÉTICA Complicações • Hipoglicemia (por uso inadequado de insulina) • Hipopotassemia (por uso inadequado de insulina e/ou bicarbonato de Na) • Hiperglicemia: por interrupção de insulina sem cobertura correta de insulina SC. Efeito Somogyi: hipoglicemia no meio da madrugada, seguida de hiperglicemia compensatória, resultante da liberação dos hormônios contrarreguladores Fenômeno do Alvorecer: redução da sensibilidade à insulina entre 5-8 horas da manhã. Desencadeada pela liberação de GH antes do início do sono. • Hipoxemia • Edema agudo de pulmão: por infusão excessiva de fluidos. Raro. Pode evoluir para herniação de tronco cerebral e PCR. Tratamento: Manitol 20% EV 0,5 a 1,0g/kg em 10-15 minutos. Prevenção: correção lenta e gradual da hiperglicemia que consequentemente corrigirá a osmolaridade. • Hipercloremia: pela infusão excessiva de fluidos. Potássio • Sua reposição deve ser guiada pelo valor de K sérico e pela função renal. Repor assim que reestabelecer diurese. a. Se K > 6mEq/L —> aguardar queda para repor. b. Se K > ou igual a 4,5 —> repor 20 mEq/L de solução c. Se K < 4,5 —> repor 40mEq/L de solução • A reposição deve ser iniciada se K sérico < 5mEq/L, diante de fluxo urinário adequado. Deve ser feita entre 20-30 mEq/L de NaCl 0,9% em uma hora. • K deve ser dosado entre 2/2 e 4/4 horas. • Não é indicado repor, pelo risco de hipocalcemia. Valores podem normalizar com a normalização do pH e aumento da utilização periférica da glicose. • Apenas em extrema hipofosfatemia, com manifestações graves (ICC, insuficiência respiratória aguda, outras condições associadas a hipóxia). E nos casos de jejum há mais de 48h após o tratamento. • Adm fosfato se < 1,0 mg/dL, na velocidade de até 1,5 mEq/kg IV em 24 horas. Reversão da CAd Deve ser considerada quando paciente estiver hidratado, a glicemia atingir < 250mg/dl, bicarbonato sérico > 18mEq/L e pH venoso > 7,3.. • Insulina SC deve ser iniciada se paciente apto a se alimentar por VO e não for necessária hidratação venosa. • Pacientes em uso de insulina IV devem receber 30 minutos antes da suspensão a insulina SC, sob forma de NPH: 0,5 U/Kg/ dia, sendo 2/3 da dose total administrada SC, 30 minutos antes do café da manhã, mais 1/3 30 minutos antes do jantar, com insulina regular 0,1 U/kg/dia SC. • O paciente deve ser orientado para que, após sua alta, continue a aderência ao tratamento e ficar atento à sintomatologia de possível nova descompensação. na pediatria
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