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Débora Pimenta - Famed XIII CETOACIDOSE DIABÉTICA CETOACIDOSE DIABÉTICA: conjunto de alterações clínico-laboratoriais decorrentes da insuficiente ação insulínica e do aumento da produção de hormônios contrarreguladores da insulina em resposta a alguma situação de estresse. EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: esquema de insulinoterapia inadequado para as necessidades do paciente, falta de adesão ao esquema terapêutico proposto, distúrbios psicológicos e psiquiátricos, negligência. Quadro comum em casos de primodiagnóstico, em torno de 25%. 10% dos casos: não adesão ao tratamento, infecções (↑ metabolismo e sua demanda), estresse (↑cortisol e glicemia), medicações açucaradas. 1.Acidose metabólica: pH <7,35 e BIC <18. Se Ânion Gap (AG) normal a causa é por perda de bicarbonato. Se o AG aumentado é devido produção de ácidos. Na cetoacidose diabética, fala-se em AG aumentado. AG = Na - (Cl+BIC) 2.Cetonemia: corpos cetônicos no sangue e urina, presentes também no jejum prolongado. Ocorre hálito cetônico 3.Diabético: glicemia >140 em jejum e ≥200 sem jejum. 4.Desidratação: poliúria com glicose na urina, pode levar à vômitos, o que piora a desidratação. 5.Alcalose respiratória: paciente taquipneia como mecanismo compensatório. FISIOPATOLOGIA: Diabetes mellitus tipo I: insulinemia por dias/semanas. Resulta da combinação da deficiência de insulina e a ação aumentada dos hormônios contrarreguladores da insulina (glucagon, catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento). A elevação desses é causada por alguma intercorrência aguda capaz de gerar estresse, como infecções, traumas ou alterações emocionais; a própria hiperglicemia, por causar diurese osmótica e hipovolemia, é capaz de estimular a secreção de hormônios contrarreguladores. Aumento da glicemia sanguínea, ocorre glicosúria, o que leva à poliúria. Simultaneamente, há diminuição da glicose dentro das células, assim, o organismo utiliza proteínas e lipídios para produzir ATP, ocorre formação de corpos cetônicos e ácidos, que aumentam o AG. QUADRO CLÍNICO: Poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. Noctúria, anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal. Febre se infecção. Desidratação, taquipneia, hálito cetônico, rebaixamento de consciência (torpor e coma em casos mais graves), hiperventilação (respiração de Kussmaul). DIAGNÓSTICO: Acidose metabólica + corpos cetônicos + aumento da glicemia EXAMES COMPLEMENTARES - 1.Glicemia capilar: no aparelho pode aparecer “high” sem o valor, por isso é importante fazer a glicemia sérica para documentar o valor. Acompanhamento depois com a glicemia capilar de hora em hora. 2.Gasometria arterial: avalia pH (<7,3) e BIC (<15 mEq/L), causa mais dor que a gasometria venosa, é importante colher ela pelo menos uma vez quando não se tem diagnóstico concluído ainda para diferenciar de outras causas, como causas respiratórias. A gasometria venosa colhe mais vezes de 2/2h ou 4/4h, a depender do caso. Mostra acidose metabólica. 3.Ionograma: ● Sódio: se aumentado tem tendência a acidose, nesse caso, não oferecer apenas SF 0,9%, adicionar água bidestilada, pois quando aumenta sódio, aumenta glicose e aumenta a osmolaridade. Se diminuído, pode ser pela poliúria. Quando a cetoacidose é tratada, o valor tende a normalizar. VR: 135-145 mEq/L. Sódio também pode se encontrar dentro dos valores normais pois ocorre o equilíbrio da acidose e da poliúria. ● Potássio: pode estar aumentado pela acidose e diminuído pela poliúria. VR: 3,5 - 4,5. Hipo/hipercalemia podem gerar arritmias cardíacas. Durante o tratamento da cetoacidose, tem tendência à hipocalemia. ● Cloro: Envolvido no cálculo de AG. 4.Corpos cetônicos: no sangue ou na urina. CLASSIFICAÇÃO: Leve pH < 7,3. Moderada pH <7,2. Grave pH <7,1. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: DM descompensada com glicemia alta. Débora Pimenta - Famed XIII TRATAMENTO: A (via aérea), C (circulatório - identificar choque), D (integridade neurológica do paciente). Oxigenoterapia apenas se necessário com baixa saturação ou taquipneia acentuada. Monitorização cardíaca pelas alterações do potássio, essas levam a alteração da onda T. Potássio aumentado onda T apiculada, diminuído onda T achatada. Dois acessos venosos são necessários. Suspender dieta para não aumentar a glicemia e pelo torpor do paciente. Sonda vesical: questionável. Estabilidade hemodinâmica: observar pela desidratação, realizar soroterapia de expansão. Glicemia capilar 1/1h. Gasometria venosa de 2/2h ou 4/4h, a depender do caso. Sódio, potássio, ureia, creatinina, cálcio, fósforo e hemograma. A presença de cetose é caracterizada a partir da realização da reação plasmática ou urinária com nitroprussiato de sódio. 1ª FASE DO TRATAMENTO: hidratação em caso do paciente desidratado com soroterapia de expansão com SR 0,9% ou ringer lactato. 20 mL/Kg por 30- 60 minutos, pode fazer até 3 vezes ou até paciente hidratar. 2ª FASE DO TRATAMENTO: com o paciente hidratado. Soroterapia de manutenção com SF 0,9% e KCl 10%. Na cetoacidose, o resultado dessa conta é multiplicado por 1.5x a 2x. Introduzir soro glicosado isotônico 5% quando a glicemia estiver entre 250 - 300 mg/dL. Quando feito o diagnóstico, iniciar insulina regular EV 0,1 UI/Kg/h. SF 0,9% 100 mL + insulina na velocidade de 10mL/h→ colocar no outro acesso venoso disponível. Se queda do potássio, faz outra bolsa de SF 0,9% + KCl em até 4h. Com o tratamento (hidratação + insulina), a glicose deve cair 50-100 mg/dL. COMPLICAÇÕES: se a glicemia cair rápido, ocorre queda rápida da osmolaridade, tem risco de edema em órgãos, principalmente cerebral e assim ter crise convulsiva, coma e óbito. Pode assim, diminuir a velocidade da infusão de insulina ou aumentar o soro glicosado. Se a glicemia não diminuir o suficiente, pode aumentar a velocidade de infusão da insulina ou diminuir a velocidade de soro glicosado. QUANDO REINICIAR DIETA ORAL: pH >7,2 + pct consciente. Monitorar dieta pelo risco de aumento da glicemia. QUANDO SUSPENDER INSULINA REGULAR EV: pH normal e ausência de cetoanemia. Reduzir pela metade a infusão de insulina EV 20 a 30 minutos, suspende e inicia o esquema de insulina NPH subcutânea (SC) na dose de 0,5-1UI/Kg/dia com ⅔ de manhã e ⅓ de noite, se necessário correções com insulina regular SC. GLICEMIA NORMAL E pH ALTERADO: não suspende insulina EV, pode aumentar a velocidade do soro glicosado ou pedir para paciente ingerir algum alimento. Referência Bibliográfica: 1.Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. Ed. Manole. 4ª edição. Seção 4, c. 7. Cetoacidose diabética. São Paulo, 2017.
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