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HISTORIADA FILOSOFIA NICOLA ABBAGNANO VOLUME IV ALBERTO MAGNO. TOMÁS DE AQUINO. BOÉCIO. LÓGICA DO SÉCULO XI I I : RAIMUNDO LÚLIO. POLÉMICA EM TORNO DO TOMISMO. FILOSOFIA DA NATUREZA NO SÉCULO XI I I . ROGÉRIO BACON, MISTICISMO ALEMÃO E D I T O R I A L P R E S E N Ç A PELSTER, Kritische Studien zu Leben und zuden Schrif- ten A. s. d. Gr., 1920. Sobre as relações com Platão: GAUL, in «Beiträge», XII, 1, 1913. Sobre as relações com Maimónides: JOËL, Das Verhältnis A.s d. Gr. zu Moses Maimonides, 1863. § 271 . Sobre a psicologia: SCHNEIDER, in «Bei- träge», IV, 5-6ß, 1903, 1906. comunicado a tradução); o Comentário a Boécio e ao De divinis nominibus do Pseudo-Dionísio; e, finalmente, as suas obras principais: a Swnma de veritate fidei catholicae contra Gentiles (1259-64), o segundo Comentário às Sentenças e a Summa theolo- giae, a sua obra-prima, cujas duas primeiras partes foram escritas em 1265-71, enquanto a terceira, até à questão 90, foi composta entre 1271 e 1273. A morte impediu-o de completar esta obra, cujo Suplemento foi acrescentado por Reginaldo de Piperno. Acrescentem-se ainda as Quaestiones disputatae e quodlibetales, que reflectem especialmente a acti- vidade polémica de S. Tomás contra os averroístas e os teólogos agustinianos. Dos numerosos opúsculos, os mais famosos são o De unitate intellectus contra Averroístas & o De regimine principum. O primeiro, escrito durante a sua segunda estada em Paris (por volta de 1270) é dirigido contra os averroístas latinos (§ 283). Do segundo, só podem ser-lhe atribuídos o livro I e os 4 primeiros capítulos do livro II: p restante é obra de Bartolomeu de Lucca. § 274. RAZÃO E FÉ O sistema tomista baseia-se na determinação rigorosa das relações entre a razão e a revelação. Ao homem, cujo fim último é Deus, o qual excede a compreensão da razão, não basta a investigação filosófica baseada na razão. Mesmo aquelas verdades que a razão pode alcançar sozinha, não é dado a todos alcançá-las, e não está liberto de erros o caminho que a elas conduz. Foi portanto necessário que o homem fosse instruído convenientemente e com mais certeza pela revelação divina. Mas a revelação nem anula nem torna inútil a razão: «a graça não elimina a natureza, antes a aperfeiçoa». A razão natural subordina-se à fé, tal como no campo prático as inclinações naturais se subordinam à caridade. É evidente que a razão não pode demonstrar o que pertence ao âmbito da fé, porque então a fé perderia todo o mérito. Mas pode servir a fé de três modos diferentes. Em primeiro lugar, demonstrando os preâmbulos da fé, ou seja aquelas verdades cuja demonstração é necessária à própria fé. Não se pode crer naquilo que Deus revelou, se não se sabe que Deus existe. A razão natural demonstra que Deus existe, que é uno, que tem as características e os atributos que podem inferir-se da consideração das coisas por ele criadas. Em segundo lugar, a filosofia pode ser utilizada para aclarar as verdades da fé mediante comparações. Em terceiro lugar, pode reba- ter as objecções contra a fé, demonstrando que são falsas ou, pelo menos, que não têm força demons- trativa (In Boet. De trinit., a. 3). Por outro lado, porém, a razão tem a sua própria verdade. Os princípios que lhe são intrínsecos e que são certíssimos sendo impossível pensar que são falsos, foram infundidos pelo próprio Deus, que é o autor da natureza humana. Estes princípios derivam portanto da Sapiência divina e fazem parte dela. A verdade de razão nunca pode ser contrária à verdade revelada: a verdade não pode contradizer a verdade. Quando surge uma contradição, é sinal de que não se trata de uma verdade racional, mas de conclusões falsas ou, pelo menos, não necessárias: a fé é a regra do recto proceder da razão (Contra Gent., I, 7). O princípio aristotélico segundo o qual «todo o conhecimento começa pelos sentidos» é utilizado por S. Tomás para limitar a capacidade e as pre- tensões da razão. A razão humana pode, é certo, elevar-se até Deus, mas sòmente, partindo das coisas sensíveis. «Mediante a razão natural, o homem não pode alcançar o conhecimento de Deus senão através • l i . criaturas. As criaturas conduzem ao conheci- inrnlo de Deus, como o efeito conduz à sua causa, rui lunto, com a razão natural só se pode conhecer ili Deus aquilo que necessàriamente lhe compete enquanto é o princípio de todas as coisas existentes» (V Ih., I, q. 32, a. 1). Das duas demonstrações possíveis à razão, a a priori ou propíer quid, que Imi te da essência de uma causa para descer aos seus eleitos, e a posteriori ou quia, que parte do efeito I IH i a remontar à causa, só a segunda pode ser utilizada para o conhecimento de Deus (lh., 1, q. 2, •i .!). Mas essa, se leva a reconhecer com necessidade ii existência de Deus como causa primeira, nada diz acerca da essência de Deus. Portanto, a força da m/fio não consegue demonstrar a Trindade e a I ncarnação, nem todos os mistérios que com esses se relacionam. Tais mistérios constituem os verda- deiros «artigos de fé» que a razão pode dilucidar o defender, mas não demonstrar; enquanto que a existência de Deus, e tudo o que acerca de Deus n força da razão consegue alcançar e demonstrar, constitui os preâmbulos da fé. Esclarecidos assim os respectivos domínios da fé o da razão, S. Tomás passa a esclarecer os cor- respondentes actos. Aceitando uma definição de Santo Agostinho (De praedest. Sanctorum, 2), S. Tomás define o acto da fé, o crer, como um «pensar com anuência» (cogitare cum assensu) entendendo por «pensar» a «consideração indagadora do inte- lecto e o consentimento da vontade». O pensar que é próprio da fé é um acto intelectual que continua a indagar porque não chegou ainda à perfeição da visão certa. Ora, a anuência não acompanha todos os actos intelectuais desta espécie: o duvidar consiste no não nos inclinarmos nem para o sim nem para o não; o suspeitar consiste em nos inclinarmos para um lado, mas sendo tentados ou movidos por todos os pequenos sinais da outra parte; o opinar na aderência a uma coisa, com receio que a contrária seja verdadeira. «Mas este acto que é o crer, diz S. Tomás (S. th., II, 2, q. 2, a. 1), inclui a adesão firme a uma das partes; no que o crente se assemelha ao que tem ciência ou inteligência; o seu conheci- mento, todavia, não é perfeito como o do que tem uma visão evidente; no que ele se assemelha ao que duvida, suspeita ou opina. E assim, é próprio do crente pensar com anuência». O assentimento implí- cito na fé, se é semelhante pela sua firmeza ao que é implícito na inteligência e na ciência, é diferente pelo seu móbil: dado que não é produzido pelo objecto, mas por uma escolha voluntária que inclina o homem para um lado e não para o outro. Com efeito, o objecto da fé não é «visto» nem pelos sentidos nem pela inteligência, dado que a fé, como disse S. Paulo (Ebrei, XI, 1), é «a prova das coisas que se não vêem» (S. th., II, 2, q. 7, a. 4). Deste modo S. Tomás, embora reconhecendo à fé uma certeza superior à do saber científico, funda essa certeza na vontade, reservando sòmente à ciência a certeza objectiva. § 275. TEORIA DO CONHECIMENTO A teoria tomísta do conhecimento é decalcada sobre a aristotélica. A sua característica mais original é o relevo que nela toma o carácter abstractivo do processo do conhecimento e, consequentemente, a teoria da abstracção. Comentando a passagem do De anima (III, 8, 431b) onde se afirma que «a alma é, de certo modo, todas as coisas» (porque as conhece todas), diz S. Tomás: «Se a alma é todas as coisas, é necessário que ela ou seja as próprias coisas, sensíveis ou inteligíveis — no sentido em que Empédocles afirmou que nós conhecemos a terra com a terra, a água com a água, etc. — ou então seja as espécies das próprias coisas. Porém a alma não é as coisas, porque, por exemplo, na alma não está a pedra mas a espécie da pedra». Ora a espécie (eidos) é a jorina da coisa.Por conseguinte, «o intelecto é uma potência receptora de todas as formas inteligíveis e o sentido é uma potência receptora de todas as formas sensíveis». Deste modo, o princípio geral do conhecimento é «cognitum est in cognoscente per modum cognoscentis» (o objecto conhecido está no sujeito cognoscente em conformi- dade com a natureza do sujeito cognoscente). O processo através do qual o sujeito cognoscente recebe o objecto é a abstracção. O intelecto humano ocupa uma posição interme- diária entre os sentidos corpóreos, que conhecem a forma unida à matéria das coisas particulares, e os intelectos angélicos, que conhecem a forma separada da matéria. Isto é uma virtude da alma que é forma do corpo: portanto, pode conhecer as formas das coisas só enquanto estão unidas aos corpos e não (como queria Platão) enquanto estão separadas deles. Mas no acto de conhecer, abstrai-as dos corpos; o conhecer é portanto um abstrair a forma da matéria individual, e, assim, extrair o universal do particular, a espécie inteligível das imagens singulares (fan- tasmas). Do mesmo modo que podemos considerar a cor dum fruto, prescindindo do fruto, sem que por tal afirmemos que exista separada do fruto; também podemos conhecer as formas ou espécies universais do homem, do cavalo, da pedra, prescindindo dos princípios individuais a que estão unidas; mas sem pretender que elas existam separadas destes. Por- tanto, a abstracção não falsifica a realidade. Ela não afirma a separação real da forma em relação à matéria individual: permite Cinicamente a consi- deração separada da forma; e tal consideração é o conhecimento intelectual humano. É de notar que esta consideração separa a forma não da matéria t em geral mas da matéria individual; pois, de con- trário, não poderíamos entender que o homem, a pedra ou o cavalo também são constituídos por matéria. «A matéria é dúplice, diz S. Tomás (S. th., I q. 85, a. 1), isto é, comum e signata ou individual; comum, como a carne e os ossos, signata como esta carne e estes ossos. O intelecto abstrai a espécie da coisa natural da matéria sensível individual, mas não da matéria sensível comum. Por exemplo, abstrai a espécie do homem desta carne e destes ossos que não pertencem à natureza da espécie mas fazem parte do indivíduo, e das quais, portanto, podemos prescindir. Mas a espécie do homem não pode ser abstraída pelo intelecto, da carne e dos ossos em geral». Donde resulta que, para S. Tomás, o principium individuationis, o que determina a natureza própria de cada indivíduo e portanto o que o diferencia dos outros, não é a matéria comum (e de facto todos os homens têm carne e ossos, não se diferenciando portanto nesta medida); mas sim a matéria signata ou, como ele também diz (De ente et essentia, 2), a «matéria considerada sobre determinadas dimensões». Assim, um homem é distinto de outro não porque está unido a um determinado corpo, distinto do dos outros homens por dimensões, isto é, pela sua situa- ção no espaço e no tempo. Resulta ainda desta doutrina que o universal não subsiste fora das coisas individuais, mas sòmente nelas é real (Contra Gent., I, 65). De modo que ele é in re (como forma das coisas) e post rem (no intelecto); ante rem, só na mente divina, como princípio ou modelo (ideia) das coisas criadas (In Sent., II, dist. III, q. 2, a. 2). O universal é objecto próprio e directo do inte- lecto. Pelo seu próprio funcionamento, o intelecto humano não pode conhecer directamente as coisas individuais. Com efeito, ele procede abstraindo da matéria individual a espécie inteligível; e a espécie, i)iir c o produto de tal abstracção, é o próprio uni- VIMMII. A coisa individual não pode portanto ser i iiiiluvida pelo intelecto senão indirectamente, por mim espécie de reflexão. Dado que o intelecto •il' liai o universal das imagens particulares e nada I im lo entender senão voltando-se para as próprias liiiiil-ons Cconvertendo se ad phantasmata), ele também directamente conhece as coisas particulares, às i|imÍN as imagens pertencem (S. th., I, q. 86, a. 1). <) intelecto que abstrai as formas da matéria individual é o intelecto agente. O intelecto humano A um intelecto finito, que, ao contrário do intelecto Hiirlico, não conhece em acto todos os inteligíveis, mi r. tem sòmente a potência (ou possibilidade) de os iiuihecer; é, portanto, um intelecto possível. Mas iiiiuo «nada passa da potência ao acto senão por • •Ina do que já está em acto», a possibilidade de i iiiihccer, próprio do nosso intelecto, torna-se conhe- i Inicnto efectivo por acção dum intelecto agente, ii qual faz com que os inteligíveis passem a acto, nlisiraindo-os das condições materiais, e actuando |'.fjundo a comparação aristotélica) como a luz nobre as cores (Ih., I, q. 79, especialmente a. 3). i unira Averróis e seus seguidores, S. Tomás afirma • »licitamente a unidade deste intelecto com a alma humana. Se o intelecto agente estivesse separado do In unem, não seria o homem a entender, mas sim o I«I« tenso intelecto separado a entender o homem e ir. imagens que estão nele: o intelecto deve, portanto, I a/cr parte essencial da alma humana (Ih., I, q. 76, a I; Contra Gent., II, 76). Por isso também o inte- lei lo activo não é um só, mas há tantos intelectos netlvos quantas as almas humanas: contra a tese da unicidade do intelecto, a qual era sustentada pelos iivorroístas, é dirigido o opúsculo famoso de S. Tomás, /»c unitate intellectus contra Averroístas (§ 284). O procedimento abstractivo do intelecto garante •i verdade do conhecimento intelectual, porque garante que a espécie existente no intelecto 6 a própria forma da coisa. Retomando a definição danln por Isaac (§ 245) no seu Liber de defimtionibui, S. Tomás define a verdade como «a adequação do intelecto e da coisa» (5. th., I, q. 16, a. 2; Contra Gent., I, 59; De ver., q. 1, a 1). As coisas naturais, í das quais o nosso intelecto recebe o saber, são a sua medida: já que ele possui a verdade só enquanto se conforma às coisas. Estas são, por sua vez, medidas pelo intelecto divino, no qual subsistem as suas formas do mesmo modo que as formas das coisas artificiais subsistem no intelecto do artífice. «O intelecto divino é medidor, mas não medido; a coisa natural é medidora (em relação ao homem) e medida (em relação a Deus); o nosso intelecto é medido, e não mede as coisas naturais mas sòmente as artificiais» (De ver., q. 1, a. 1). Portanto, Deus é a verdade suprema, enquanto o seu entender é a medida do todo que existe e de qualquer outro entender (S. th., I, q. 16, a. 5). Por isso, a ciência que ele tem das coisas é a causa delas, do mesmo modo que a ciência que o artífice tem a coisa artificial é causa dessa coisa. Em Deus, o ser e o entender coincidem: entender as coisas singnifica, em Deus, comunicar-lhes o ser, desde que ao enten- der se una a vontade criadora (1b„ I, q. 14, a. 9). Isto estabelece uma diferença radical entre o intelecto divino e o humano, entre a ciência divina e a humana. Deus entende todas as coisas mediante a simples inteligência da própria coisa: com um só acto Deus capta (e, querendo, cria) a essência total e completa da coisa, ou antes, de todas as coisas na sua totalidade e plenitude. Pelo contrário, o nosso intelecto não consegue com um só acto o conhecimento perfeito de uma coisa; mas primeiro aipreende-Jihe um qualquer, dos seus elementos, por exemplo, a essência, que é o objecto primeiro e próprio do intelecto, e depois passa a entender a propriedade, os acidentes e todas as disposições ou. comportamentos que são próprios da coisa. Daqui deriva que o conhecimento intelectual humano se desdobra em actos sucessivos, segundo uma sequên- cia temporal; actos de composição ou de divisão, isto é, afirmações ou negações, que exprimem mediante proposições aquilo que o intelecto vai sucessivamente conhecendo da própria coisa. O proceder do intelecto, de uma composição ou divisãoa outras sucessivas composições ou divi- sões, isto é, de uma proposição a outra, é o raciocínio; e a ciência que assim se vai consti- tuindo por sucessivos e conexos actos de afirmação ou de negação é a ciência discursiva. O conheci- mento humano é, portanto, conhecimento racional, e a ciência humana, oiênoia discursiva: características que não se podem atribuir ao conhecimento e à ciência de Deus, o qual entende tudo e simultanea- mente em si próprio, mediante um acto simples e perfeito de inteligência (Ib., I, q. 14, a. 7, 8, 14; q. 85, a. 5; Contra Geni., I, 57-58). Isto estabelece também uma diferença radical entre a autocons- ciência divina e a humana. Deus não só se conhece a si próprio, mas também a todas as coisas, através da sua essência que é acto puro e perfeito, e por- tanto, perfeitamente inteligível por si mesmo. O anjo, cuja essência é acto, mas não acto puro porque é essência criada, conhece-se a si mesmo por essência, mas não conhece as outras coisas senão através das suas semelhanças. O intelecto humano, pelo contrário, não é acto mas sim potên- cia; só passa a acto através das espécies abstraídas das coisas sensíveis em virtude do intelecto agente: não pode, portanto, conhecer-se senão no acto de fazer esta abstracção. Este conhecimento pode veri- ficar-se de dois modos: singularmente, como quando Sócrates ou Platão têm consciência (percipit) do ter uma alma intelectiva pelo facto de terem cons- ciência de entender; geralmente, como quando con- sideramos a natureza da mente humana com baso na actividade do intelecto. Este segundo conheci» mento depende da luz que o noso intelecto recebe da verdade divina, na qual residem as razões dc todas as coisas; e exige uma investigação diligente e subtil, enquanto que o primeiro é imediato (5. th., I, q. 87, a. 1). A possibilidade do erro está no carácter ratio- cinador do conhecimento humano. O sentido não se engana acerca do objecto que lhe é próprio (por exemplo, a vista acerca das cores), a menos que haja uma perturbação acidental do órgão. O inte- lecto também não pode enganar-se acerca do objecto que lhe é próprio. Ora o objecto próprio do inte- lecto é a essência ou quididade da coisa; não se engana, portanto, acerca da essência, mas pode enganar-se acerca das particularidades que acom- panham a essência e que ele consegue conhecer compondo e dividindo (ou seja) mediante o juízo) ou através do raciocínio. O intelecto pode também incorrer em erro acerca da essência das coisas compostas, ao formular a definição que deve resul- tar de diferentes elementos: isto ocorre quando refere a uma coisa a definição (em si mesma ver- dadeira) de uma outra coisa, por exemplo, a do círculo ao triângulo; ou quando reúne elementos opostos, numa definição que por isso resulta ser falsa, por exemplo, se define o homem como «ani- mal racional alado». No que se refere às coisas simples, em cuja definição não intervém nenhuma composição, o intelecto não pode enganar-se; só pode ser imperfeito, permanecendo na ignorância da sua definição (lb„ I, q. 85, a. 6). § 276. METAFÍSICA No De ente et assentia, que é a sua primeira obra e como que o seu Discuso do método, S. Tomás estabelece o princípio fundamental que, reformando .1 metafísica aristotélica, a adapta às exigências do dogma cristão: a distinção real entre essência e exis- lOncia. Este princípio, de que mostrámos a progres- siva afirmação na filosofia medieval, é aceite por S, Tomás na forma que recebera de Avicena \ Mas este princípio, servira a Avicena para fixar na forma mais rigorosa a necessidade do ser, de todo o ser, inclusivé do ser finito. Com efeito, a dife- rença entre o ser cuja essência implica a existência (l)eus) e o ser cuja essência não implica a existência (o ser finito) consiste, segundo Avicena, em que o primeiro é necessário por si, o segundo é necessá- rio por outro, e, portanto, deriva desse outro (do ser necessário) quanto à sua existência actual. Na interpretação de Avicena, o princípio exclui a cria- ção, implicando somente a derivação causal e necessária das coisas finitas em relação a Deus. Na doutrina tomista, pelo contrário, tem a função de levar a exigência da criação à própria consti- tuição das coisas finitas, e é por isso o princípio reformador que S. Tomás utiliza para adaptar ple- namente o aristotelismo à tarefa da interpretação dogmática. O primeiro resultado deste princípio na doutrina tomista é de separar a distinção entre potência e acto da distinção entre-matéria e forma, conver- T- Met., II, tract. V, 1. De Avicena o principio passou a Maimónides, que o modificou, reduzindo a existência a um simples acidente da essência (Guide des égarés, tradução Munk, p. 230-233). S .Tomás nega que a existência seja um acidente (Quodl., q. 12, a. 5) e retoma o princípio tal como o havia enuciado Avicena. tendo-a numa distinção à parte. Para Aristóteles, potência e acto identificam-se, respectivamente, com matéria e forma: não há potência que não seja matéria, nem acto que não seja forma, e recipro- camente. S. Tomás considera que não só a matéria e a forma, mas também a essência e a existência estão entre si na relação de potência e acto. A essên- cia, que ele também denomina quididade ou natu- reza, compreende não só a forma mas também a matéria das coisas compostas; dado que compreende tudo o que é expresso na definição da coisa. Por exemplo, a essência do homem, que é definido como «animal racional», compreende não sô a «racionalidade» (forma) mas também a «animali- dade» (matéria). A essência, assim entendida, dis- tingue-se do ser ou existência das próprias coisas; podemos entender, por exemplo, o que (quid) é o homem ou a fénix (essência), sem saber se o homem ou a fénix existem (esse) (De e. et ess., 3). Portanto, substâncias como o homem e a fénix estão com- postas por essência (matéria e forma) e existên- cia, separáveis entre si: nelas, a essência e a existência estão entre si como a potência e o acto; a essência está em potência em relação à existência, a existência é o acto da essência; e a união da essência com a existência, isto é, a passagem de potência a acto, requer a intervenção criadora de Deus. Ora, nas substâncias que são forma pura sem matéria (os anjos, como inteligências puras) falta evidentemente a composição de matéria e forma, mas não falta a de essência e existência: também neles, com efeito, a essência é sòmente potência em relação à existência e também a sua existência requer, por isso, o acto criador de Deus. Só em Deus a essência é a própria existência, porque Deus é por essência e, portanto, por definição; portanto, em Deus não há uma essência que seja potência; ele é acto puro (S. th., I, q. 50, a. 2). Por conse- guinte, a essência pode estar na substância, de três modos diferentes. 1.° Na última substância divina a essência é idêntica à existência: por isso Deus é necessário e eterno. 2.° Nas substâncias angélicas, privadas de matéria, a existência é diferente da essência: o seu ser não é, portanto, absoluto, mas sim oriado e finito. 3." Nas substâncias compostas de matéria e forma o ser é-lhes acrescentado do exterior e é, portanto, criado e finito. Estas últimas substâncias, dado que incluem matéria que é o prin- cípio de individuação, multiplicam-se em vários indivíduos: o que não acontece nas substâncias angélicas, as quais carecem de matéria. Com esta reforma radical da metafísica aristo- télica, S. Tomás faz com que a própria constituição das substâncias finitas exija a criação divina. Aristóteles, identificando com a forma a existência cm acto, estabelece que onde há forma há reali- dade em acto, e que por isso a forma é por si mesma indestrutível e incriável, portanto, necessá- ria e eterna como Deus. Garante assim a eternidade da estrutura formal do universo (géneros, espécies, formas e, duma maneira geral, substâncias). Do seu universo é excluída a criação, assim como toda a intervençãoactiva de Deus na constituição das coi- sas. E precisamente por isto, o seu sistema parecia (e era) irredutlvelmente contrário ao cristianismo, e pouco adequado para lhe exprimir as verdades fun- damentais. A reforma tomista altera radicalmente a metafísica aristotélica, transformando-a de estudo do ser necessário em estudo do ser criado. Por consequência, o termo «ser» aplicado à cria- tura tem um significado não idêntico, mas só semelhante ou correspondente ao ser de Deus. É este o princípio da analogicidade do ser que S. To- más extrai de Aristóteles, mas ao qual dá um valor completamente diferente. Evidentemente que Aris- tóteles havia distinguido vários significados do ser, mas só em relação às várias categorias, e os tinha referido todos ao único significado fundamental que é o de substância (ousia), o ser enquanto ser, o objecto da metafísica (§ 72). Por isso, não distin- guia, nem podia distinguir, entre o ser de Deus e o ser das outras coisas; por exemplo, Deus e a mente são substâncias precisamente no mesmo sen- tido (Et. Nic., I, 4, 1096 a). Por sua vez, S. Tomás, em virtude da distinção real entre essência e exis- tência, distinguiria o ser das criaturas, separável da essência e, portanto criado, do ser de Deus, idên- tico à essência e, portanto, necessário. Estes dois significados do ser não são unívocos, isto é, idên- ticos, mas também não são equívocos, isto é, sim- plesmente diferentes; são análogos, isto é, seme- lhantes, porém de proporções diferentes. Só Deus é ser por essência, as criaturas têm o ser por par- ticipação; as criaturas enquanto são, são semelhan- tes a Deus, que é o primeiro princípio universal de todo o ser, mas Deus não é semelhante a elas: esta relação é a analogia (S. th., I, q. 4, a. 3). A relação analógica estende-se a todos os predicados que se atribuem ao mesmo tempo a Deus e às criaturas; porque é evidente que na Causa agente devem subsistir de modo indivisível e simples aqueles caracteres que nos efeitos são divididos e múltiplos; do mesmo modo que o sol na unidade da sua força produz no mundo terreno formas múltiplas e diferentes. Por exemplo, o termo «sapiente» referido ao homem significa uma per- feição distinta da essência e da existência, do homem, enquanto que referido a Deus significa uma perfeição que é idêntica à sua essência e ao seu ser. Por isso, referido ao homem, faz com- preender aquilo que quer significar; referido a Deus, deixa fora de si a coisa significada, a qual trans- cende os limites do entendimento humano (S. th., I, q 13, a. 5). A analogicidade do ser torna evidente- mente impossível uma única ciência do ser, como o era a filosofia primeira de Aristóteles. A ciência que trata das substâncias criadas e serve de prin- cípios evidentes à razão humana é a metafísica. Mas a ciência que trata do Ser necessário, a teo- logia, tem uma certeza superior e utiliza princípios que procedem directamente da revelação divina; é por isso superior em dignidade a todas as outras ciências (inclusivé a metafísica) que lhe são subor- dinadas e servas (lb., I, q. 1, a. 5). Dado que o ser de todas as coisas (excepto Deus) é sempre um ser criado, a criação, se é verdade de fé como início das coisas no tempo, é além disso verdade demonstrada como produção das coisas do nada e como derivação, de Deus, de todo o ser. De facto, e tal como vimos, Deus é o único ser que é tal pela sua própria essência, isto é, que existe necessàriamente e por si mesmo: as outras coisas obtêm dele o seu ser, por participação; tal como o ferro se torna ardente pelo fogo. Também a matéria-prima é criada. E todas as coisas do mundo formam uma hierarquia ordenada segundo a sua maior ou menor participação no ser de Deus. Deus é o termo e o fim supremo desta hierarquia. Nele residem as ideias, ou seja, as formas exempla- res das coisas criadas, formas que, porém, não estão separadas da própria sapiência divina: logo, deve dizer-se que Deus é o único exmplar de tudo (lb., I, q. 44, aa. 1, 2, 4, 3). A separação entre o ser criado e o ser eterno de Deus, própria de uma tal metafísica, permite que S. Tomás salve a absoluta transcendência de Deus em relação ao mundo e torne impossível qual- quer forma de panteísmo que queira identificar de algum modo o ser de Deus com o ser do mundo. S. Tomás alude explicitamente, para as refutar, as duas formas de panteísmo aparecidas nos finais do século XII. A primeira é a de Amalrico de Bene (§ 219) o qual considera Deus como «o princípio formal de todas as coisas», ou seja, a essência ou natureza de todos os seres criados. A segunda é a de David de Dinant (§ 219) que identificou Deus com a matéria-prima. Contra esta forma de panteísmo, assim como contra a de origem estóica (mas que S. Tomás conhecia por meio duma tese de Terêncio Varrão citada por Santo Agostinho, De civ. Dei, VII, 6) segundo a qual Deus é a alma do mundo, S. Tomás opõe o princípio de que Deus não pode ser de nenhum modo um ele- mento componente das coisas do mundo. Como causa eficiente, Deus não se identifica nem com a forma nem com a matéria das coisas de que é causa; o seu ser e a sua acção são absolutamente primeiros, isto é, transcendentes, em relação a tais coisas (S. th., I, q. 3, a. 8). § 277. AS PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS A distinção metodológica feita por Aristóteles (An. post., I, 2) entre o que é primeiro «por si» ou «por natureza» e o que é primeiro «para nós», foi seguida e sempre respeitada por S. Tomás. Ora se Deus é primeiro na ordem do ser, não o é na ordem dos conhecimentos humanos, os quais come- çam pelos sentidos. É portanto necessário uma demonstração da existência de Deus; e deve partir daquilo que é primeiro para nós, isto é, dos efeitos sensíveis, e ser a posteriori (demonstratio quia). Recusa, portanto, explicitamente a prova ontoló- gica de Santo Anselmo: ainda que se entenda Deus como «aquilo sobre o qual não se pode pensar nada de maior», não se segue que ele exista na realidade (in rerum natura) e não só no intelecto. S. Tomás enumera cinco vias para passar dos efeitos sensíveis até à existência de Deus. Estas vias já expostas na Summa contra Gentiles (I, 12, 13) encontram a sua formulação clássica na Summa theologiae (I, q. 2, a. 3. A primeira via é a prova cosmológica, extraída da Física (VIII, 1) e da Metafísica (XII, 7) de Aristóteles. Parte do princípio de que «tudo o que se move é movido por outro». Ora se o que o move também por sua vez se move, é preciso que seja movido por outra coisa; e esta por outra. Mas é impossível continuar até ao infinito; porque então não haveria um primeiro motor nem os outros se moveriam, como, por exemplo, o pau não se move se não é movido pela mão. Por conseguinte, é necessário chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum outro; e todos consideram esse motor como sendo Deus. Este argumento tinha sido retomado pela primeira vez na escolástica latina por Abelardo de Bath (§ 215); depois, insis- tiram nele Maimónides e Alberto Magno. A segunda via é a prova causal. Na série das causas eficientes não podemos remontar até ao infinito, porque então não haveria uma causa pri- meira e, portanto, nem uma causa última nem causas intermediárias: deve, por conseguinte, haver uma causa eficiente primeira, que é Deus. Esta prova, extraída de Aristóteles (Met., II, 2) tinha recebido de Avicena uma nova exposição. A terceira via é extraída da relação entre possí- vel e necessário. As coisas possíveis existem sòmente em virtude das coisas necessárias: mas estas têm a causa da sua necessidade ou em si ou em outro. As que têm a causa noutro, remetem a esse outro, e dado que não é possível continuar até ao infinito, é preciso chegar a algo que seja necessário por si e seja causa da necessidade daquilo que é necessá- rio por outro; c isso é Deus. Esta prova é extraída de Avicena. A quarta via é a dos graus. Encontra-se nas coisas mais ou menos de verdade, de bem ede todas as outras perfeições: por conseguinte, também haverá o máximo grau de tais perfeições e será ele a causa dos graus menores, como o fogo, que é màximamente quente, é a causa de todas as coisas quentes. Ora a causa do ser, da bondade e de todas as perfeições é Deus. Esta prova, de origem platónica, é extraída de Aristóteles (Met., II, 1). A quinta via é a que se infere do governo das coisas. As coisas naturais, privadas de inteligência, estão todavia dirigidas para um fim; e isto não seria possível se não fossem governadas por um Ser dotado de Inteligência, como a flecha não pode dirigir-se ao alvo senão por obra do arqueiro. Por conseguinte, há um Ser inteligente que ordena todas as coisas naturais para um fim; e este Ser é Deus. Nesta prova que é a mais antiga e venerável de todas, a exposição tomista segue, provàvelmente, S. João Damasceno e Averróis. O primeiro destes argumentos, o cosmológico, linha sido utilizado por Aristóteles para demonstrar não só a existência de Deus como primeiro motor, mas a existência de tantos intelectos motores quan- tas são as órbitas dos céus (§ 78). Para S. Tomás, pelo contrário, o primeiro motor é um só e é Deus; e só para Deus é válida a prova. Quanto ao movi- mento dos céus, parece, com efeito, supor uma substância inteligente que o produza, porque, ao contrário dos outros movimentos naturais, não tende para um só ponto, no qual deva cessar; mas é muito possível oue seja produzido directamente por Deus. De qualquer modo, sc quisermos admitir, como fizeram vários filósofos e santos, inteligên- cias angélicas como motores dos céus, temos de notar que não estão unidas aos céus como as almas dos animais e das plantas estão unidas aos corpos (que são formas dos próprios corpos): mas estão unidas aos céus só com o fim de os mover, para lhes transmitir o impulso (per conlactum virtutis |,V. th., I, q. 70, a. 3]). S. Tomás chega por isso à existência das inteligências angélicas, separadas dos corpos, não através da consideração do movi- mento dos céus (dado que pode ser directamente produzido por Deus), mas através da consideração da perfeição do mundo, a qual requer a existência de algumas criaturas incorpóreas. Efectivamente, estas criaturas são, no mundo, as mais semelhantes a Deus, que é puro espírito, e através delas o mundo, que é efeito de Deus, se assimila màxima- mente à sua Causa (Ib„ I, q. 50, a. 1). § 278. TEOLOGIA Os dogmas fundamentais do cristianismo, a trin- dade, a encarnação, a criação são, segundo S. To- más, artigos de fé, não susceptíveis de tratamento demonstrativo; perante eles, a tarefa da razão limi- ta-se, primeiro, a esclarecê-los e depois a resolver as objecções. Os esclarecimentos de S. Tomás têm uma tal lucidez e elegância dialéctica, que consti- tuem uma das partes mais importantes de todo o seu sistema. Acerca do dogma da Trindade, a dificuldade consiste em entender de que modo a unidade da substância divina se concilia com a trindade das pessoas. Para mostrar como se conciliam, S. Tomás serve-se do conceito de relação. A relação, por um lado, constitui as pessoas divinas na sua distin- ção; por outro lado, identifica-se com a única essência divina. Com efeito, as pessoas divinas são constituídas pelas suas relações de origem: o Pai pela paternidade, isto é, pela relação com o Filho; o Filho pela filiação ou geração, isto é, pela rela- ção com o Pai; o Espírito Santo pelo amor, isto é, pela relação recíproca de Pai e Filho. Ora estas relações em Deus não são acidentais (nada pode haver de aoidental em Deus) mas reais; subsistem realmente na essência divina. Por conseguinte, a própria essência divina na sua unidade, implicando a relação, implica a diversidade das pessoas (S. th., I, q. 27-32, e em especial q. 29, a. 4 c). Segundo S. Tomás, basta este esclarecimento para mostrar que «o que a fé revela não é impossível». Isto é tudo quanto deve fazer-se nestes assuntos; nos quais toda a tentativa de demonstração é mais nociva que meritória, porque induz os incrédulos a supo- rem que os cristãos se baseiam, para crer, em razões carentes de valor necessário (Ih., I, q. 32, a. 1). Quanto à encarnação a dificuldade consiste em poder entender a presença, na única pessoa de Cristo, de duas naturezas, a divina e a humana. A Igreja condenara já, no século V, duas interpre- tações opostas deste dogma, interpretação às quais S. Tomás reduz todas as outras para as refutar. A heresia de Êutiques (§ 154), insistindo sobre a unidade da pessoa de Cristo, reduzia as duas natu- rezas a uma só: a divina. A heresia de Nestório (§ 154), pelo contrário, insistindo sobre a dualidade de naturezas, admitia em Cristo duas pessoas sirmrl- tâneamente coexistentes, sendo a pessoa humana como que instrumento ou revestimento da divina. A distinção real entre essência e existência nas criaturas, e a sua unidade em Deus, fornecem a S. Tomás a chave da interpretação. A essência ou natureza divina identifica-se com o ser de Deus; Portanto, Cristo, que tem uma natureza divina, é Deus, subsiste como Deus, isto é, como pessoa divina; é, portanto, uma só pessoa, a divina. Por outro lado, dado que a natureza humana é sepa- rável da existência, ele pode perfeitamente assumir a natureza humana (que é alma racional e corpo) sem ser uma pessoa humana (Contra Gent., IV, 49). Assim se compreende como a natureza humana pôde ser assumida por Cristo, que, revestindo-se dela, a enobreceu, elevou e tornou novamente digna da graça divina (S. th., III, q. 2, a. 5-6). Quanto à criação, para S. Tomás, ela só é artigo de fé no sentido de início no tempo, não o sendo no sentido de produção a partir do nada. Pode admitir-se, diz ele, que o mundo tenha sido produzido do nada e, por conseguinte, falar de cria- ção sem admitir que ela venha depois do nada; assim fez Avicena na sua Metafísica (IX, 4). Pode dizer-se que se houvesse um pé impresso no pó da eternidade, ninguém duvidaria que a pegada fora produzida pelo pé; mas com isso não se admitiria um início no tempo da própria pegada (Santo Agostinho, De civ. Dei, XI, 4). Do mesmo modo, os argumentos que se podem aduzir em favor de um início do mundo no tempo não levam a con- clusões necessárias. Por outro lado, também não concluem necessária men te os que pretendem de- monstrar a eternidade do mundo. Dentre estes últi- mos, o mais famoso dos aristotélicos, era o que baseava na eternidade da matéria-prima. Se o mundo começou a existir com a criação, quer dizer que antes da criação podia existir, isto é, que era uma possibilidade. Mas toda a possibilidade é matéria, que depois passa a acto ao receber a forma. Antes da criação, existia portanto a matéria do mundo. Porém, não pode haver matéria sem forma; e maté- ria e forma, em conjunto, constituem o mundo; por conseguinte, admitindo a criação no tempo, o mundo existiria antes de começar a existir, o que é impossível. A este argumento responde S. Tomás que antes da criação o mundo era possível só porque D>us podia criá-lo e porque a sua criação não era impossível; não se pode daqui deduzir a existência de uma matéria. Aos outros argumen- tos tambéin tirados de Aristóteles, segundo os quais os céus s^o formados por uma substância incriá- vel e incorruptível e que, portanto, são eternos, responde Tomás que a incriabilidade e a incor- ruptibilida-je dos céus e, portanto, do mundo, se entende pbr rnodum naturalem, isto é, em relação aos processos naturais de formação das coisas, e não em rtjlação à criação. De modo que os argu- mentos que tendem a demonstrar a eternidade do mundo tainbém não têm valor necessário. A con- clusão é que se não pode demonstrar nem o início no tempo nem a eternidade do mundo; e isto deixa livrt, 0 caminho para crer na criação no tempo: id credere maxime expedit (S. th., I, q. 46, a. 1-2). § 279. PSICOLOGIA Segunda s. Tomás, a natureza do homem é constituída por alma e corpo. O homem não é só alma; o cc)rpofaz também parte da sua essência, visto que ele além de entender, sente, e o sentir não é umít operação da alma sòzinha. A alma é (segundo a doutrina de Aristóteles) o acto do corpo: é a forma, 0 princpio vital que faz com que o homem conheça e se mova: como tal é substân- cia, isto é, subsiste por sua conta. S .Tomás rejeita a doutrina do neoplatonismo judaico-muçulmano aceite pelo,s franciscanos, segundo a qual a alma é composta por matéria e forma. Não há uma maté- ria da alniq; se houvesse, estaria fora da aüma que é pura foritna. Nem o intelecto poderia conhecer a forma pur^ das coisas, se tivesse em si matéria: nesse caso, conheceria as coisas na sua materiali- ilude, isto é, na sua individualidade, e o universal i'apar-se-lhe-ia (S. th., I, q. 45, a. 4). No homem só subsiste a forma intelectiva da ti (ma, a qual desempenha também as funções sen- ultiva e vegetativa. Duma maneira geral, a forma Mi|>crior pode sempre desempenhar as funções das formas inferiores; e assim, nos animais, a alma sen- sitiva desempenha também a função vegetativa, enquanto que nas plantas só subsisite a alma vege- tativa. S. Tomás rejeita deste modo o princípio estabelecido por Avicena, e seguido pelo agustinia- nlimo, segundo o qual num composto permanecem us formas dos vários elementos que o compõem; o que, por isso, na alma humana subsistem também iis outras formas em conjunto com a forma intelec- tiva. Segundo S. Tomás, formas diversas só podem coexistir em diversas partes do espaço; porém, assim ficam justapostas, e não fundidas; não cons- tituem um verdadeiro composto, o qual resulta sempre da fusão dos seus elementos. Por conse- quência há uma única forma na alma humana, a forma superior intelectiva que também desempenha as funções inferiores. Como forma pura, a alma é imortal. A matéria pode corromper-se, porque a forma (que é acto, isto é, existência) pode separar-se dela. Mas é impos- sível que a forma se separe de si própria; e é portanto impossível que se corrompa. Neste argu- mento tamista reaparece a prova platónica do Fedon, segundo a qual a alma, tendo em si a própria ideia da vida, não pode morrer. Por outro lado, segundo S. Tomás, mesmo admitindo a alma humana como sendo composta de matéria e forma, é também necessário admitir a sua incorruptibili- dade. De facto, só pode corromper-se o que tenha um contrário; ora a alma intelectiva não tem con- trários, porque o próprio conhecimento dos contrá- rios constitui na alma humana uma única ciência. Finalmente, o próprio desejo que a alma humana tem de existir é um índice (signum) de imortalidade. O intelecto que conhece o ser absolutamente, deseja naturalmente ser sempre; e um desejo natural não pode ser vão (S. th., q. 75, a. 6). Mas como é possível que a alma conserve, após a separação do corpo, a individualidade que lhe vem precisa- mente do corpo? S. Tomás responde que a alma intelectiva está unida ao corpo pelo seu próprio ser (esse); destruído o corpo, este ser permanece, pre- cisamente como era na sua união com o corpo, individual e particular (lb., I, q. 76, a. 2 a 2 um). A persistência da individualidade na alma separada permitirá ainda que, no dia da ressurreição dos corpos, todas as almas retomem a matéria nas dimensões determinadas que lhes eram próprias reconstituindo assim o próprio corpo (De natura materiae, 7; Quodl., XI, a. 5). § 280. ÉTICA I Da quinta prova da existência de Deus resulta que Deus ordena todas as coisas para o seu fim supremo, que é Ele mesmo, enquanto Sumo Bem. O governo divino do mundo que ordena o mundo para o seu fim é a providência. Todas as coisas, inclusivé o homem, estão sujeitas à providência divina. Mas isto não implica que tudo aconteça necessàriamente e que o desígnio providencial exclua a liberdade do homem. Aquele desígnio não só estabelece que as coisas sucedem, mas ainda o modo como elas sucedem. Por isso ordena prè- viamente as causas necessárias para as coisas que devem suceder necessàriamente, e as causas con- tingentes para as coisas que devem suceder con- tingentemente. Deste modo, a acção livre do homem faz parte da providência divina (S. th., I, q. 22, a. 4). E a liberdade do homem também não é ii ihiliidii pela predestinação à beatitude eterna. Com I . suas forças naturais o homem não pode alcan- i.iii esta beatitude que consiste na visão de Deus, o deve ser portanto guiado pelo próprio Deus. Mas I I I I I I isto Deus não obriga, com necessidade, o homem: porque faz parte da predestinação, que é um aspecto da providência, que o homem atinja livremente a beatitude para a qual Deus livremente ii escolheu (Ib., I, q. 23, a. 6). Providência e pre- destinação pressupõem a pré-ciência divina, com a qual Deus prevê os futuros contingentes, isto é, ii.s acções cuja causa é a liberdade humana. A pré- clência divina é certa e infalível, porque até as loisas futuras estão nela presentes; pelo que vê de- scnvolverem-se em acto aquelas acções livres que, não sendo enquanto tais determinadas necessària- menite pelas suas causas, são imprevisíveis para o homem. Em Deus, que é a própria eternidade, todo o tempo está presente e estão portanto também pre- sentes as acções futuras dos homens. Ele vê-as, mas ao vê-las não lhes tolhe a liberdade, como não lha tolhe o que assiste no momento em que elas se cumprem (Ib., I, q. 14, a. 13). Por conseguinte, a vontade humana é um livre arbítrio que não é eliminado nem diminuído pelo ordenamento finalista do mundo nem pela pré- -ciência divina, nem sequer pela graça que é uma ajuda extraordinária de Deus, gratuitamente con- cedida. «Deus, diz S. Tomás (Ib., I, 2, q. 113, a. 3), move todas as coisas no modo que é próprio de cada uma delas. Assim, no mundo natural, move dum modo os corpos leves, doutro modo os corpos pesados, segundo a sua diferente natureza. Por isso move o homem para a justiça segundo a condição própria da natureza humana. Pela sua própria na- tureza, o homem tem livre arbítrio. E, enquanto tem livre arbítrio, a tendência para a justiça não é produzida por Deus independentemente desse livre arbítrio: e Deus infunde o dom da graça justificante de modo a mover, em conjunto com ele, o livre arbítrio a aceitar o dom da graça». A presença do mal no mundo deve-se ao livre arbítrio do homem. S. Tomás admite a doutrina platónico-agustiniana da não-substancialidade do mal: o mal não é senão ausência de bem. Ora tudo o que existe é bem, e é bem no grau e na medida em que existe; mas dado que a ordem do mundo requer também a realidade dos graus inferiores do ser e do bem, os quais parecem (e são) deficien- tes e, portanto, maus em relação aos graus supe- riores, pode dizer-se que a própria ordem do mundo requer o mal. O mal é de duas espécies: pena e culpa. A pena é deficiência da forma (realidade ou acto) ou de uma das suas partes, necessária para a integridade de uma coisa: por exemplo, a cegueira é a falta de vista. A culpa é a deficiência de uma acção, que não foi feita ou não foi feita do modo devido. Dado que no mundo tudo está sujeito à providência divina, o mal, como ausência ou deficiência de integridade, é sempre pena. Mas o mal maior é a culpa, que a providência tenta eliminar ou corrigir com a pena (Ib., I, q. 48, a. 5-6). Ora a culpa (o pecado) é o acto humano de escolha deliberada do mal, isto é, a actuação dis- cordante com a ordem da razão e com a lei divina (11, 1, q. 21, a. 1). O homem é dotado da capaci- dade de distinguir o bem e de tender para ele. Com efeito, tal como há nele a disposição (habitus) natural para entender os princípios especulativos, dos quais dependem todas as ciências, também nele existe a disposição (habitus) natural para entender princípios práticos, dos quais dependem todas as boas acções. Este habitus natural prático é a sin- dérese, que nos dirige para o bem e nos afasta do mal; o acto que deriva desta disposição, e que consiste no aplicar os princípios gerais da acção ulima acção particular, é a consciência (S. th., I, q. 79. a. 12-13). As virtudes estão baseadas neste habitus geral do intelecto prático. A este propósito, S. Tomás «clara o carácter de indeterminação e de liberdade que são próprios do habitus. As potências (ou fa- culdades) naturais estão determinadas a agir dum único modo: não têm possibilidade de escolha nem liberdade, agem dum modo constante e infalível. Pelo contrário, as potências racionais, que são pró- prias do homem, não estão determinadas num só .sentido; podem agir em vários sentidos, segundo a •sua livre escolha; e por isso a escolha que fazem do sentido em que agem produz uma disposição constante, mas não necessária nem infalível, que é o habitus (II, 1, q. 55, a. 1). Neste sentido, as vir- tudes são habitus, disposições práticas para viver rectamente e para fugir do mal. S. Tomás aceita a distinção de Aristóteles entre as virtudes inte- lectuais e as virtudes morais; destas últimas, as principais ou cardeais, a que todas as outras se reduzem, são: justiça, temperança prudência e for- taleza. As virtudes intelectuais e morais são virtu- des humanas: conduzem à felicidade que o homem pode conseguir nesta vida com as suas própria forças naturais. Mas estas virtudes não bastam para conseguir a beatitude eterna: são necessárias as vir- tudes teologais, directamente infundidas por Deus no Homem: fé, esperança e caridade. § 281. POLÍTICA O fundamento da teoria política de S. Tomás é a teoria do direito natural, uma das maiores heran- ças que o estoicismo deixou ao mundo antigo e moderno e que, na época de S. Tomás, era con- siderada como fundamento do próprio direito canó- nico. Segundo S. Tomás, há uma lei eterna, isto é, uma razão que governa todo o universo e que existe na mente divina; a lei natural, que existe no homem, é um reflexo ou uma «participação» dessa lei eterna (S. th., II, 1, q. 91, a. 1-2). Esta lei natural concretiza-se em três inclinações fun- damentais: 1.* — a inclinação para o bem natural, que o homem tem em comum com qualquer subs- tância, a qual, enquanto tal, deseja a sua própria conservação; 2." — a inclinação especial para deter- minados actos, que são os que a natureza ensinou a todos os animais, como a união do macho e da fêmea, a educação dos filhos e outros semelhantes; 3.* — a inclinação para o bem segundo a natureza racional que é própria do homem, como o é a incli- nação para conhecer a verdade, a de viver em sociedade, etc. (S. th., II ,1, q. 94, a. 2). Além desta lei eterna, que é para o homem lei natural, existem duas outras espécies de leis: a humana, «inventada pelos homens e pela qual se dispõem de modo particular as coisas a que a lei natural já se refere» (lb„ II, 1, q. 91, a. 3); e a divina, que é necessária para dirigir o homem aos fins sobrenaturais (lb„ a. 4). S. Tomás afirma, de acordo com a teoria do direito natural, que não é lei aquela que não é justa, e que, portanto, «da lei natural, que é a primeira regra da razão, devem ser derivadas todas as leis humanas» (Ib„ q. 95, a. 2). Segundo S. Tomás, pertence à colectividade ditar as leis. «A lei, diz ele (II, 1, q. 90, a. 3), tem como o seu fim primeiro e fundamental o dirigir para o bem comum. Ora ordenar algo com vista ao bem comum é próprio de toda a colectividade (multi- tudo) ou de quem faz as vezes de toda a colecti- vidade. Estabelecer as leis pertence portanto a toda a colectividade ou à pessoa pública que cuida de toda a colectividade; porque em todas as coisas só pode dirigir para um fim aquele a quem pertence o próprio fim». Deste modo, S. Tomás afirmou explicitamente a origem popular das leis. Todavia considera que entre as formas de governo enun- ciadas por Aristóteles, a melhor é a monarquia: como aquela que melhor garante a ordem e a uni- dade do estado, e a mais parecida com o próprio governo divino do mundo (De regimine princ., I, 2). Mas embora o estado possa dirigir os homens para a virtude, não pode, pelo contrário, dirigi-los para a fruição de Deus que é o seu fim último. Um tal governo espiritual pertence só àquele rei, que não só é homem mas também é Deus, isto é, a Cristo. E como o fim menos alto se subordina ao fim mais alto e supremo, assim o governo civil se deve subordinar ao governo religioso que é próprio de Cristo, e que por Cristo foi confiado não aos reis terrenos mas ao papa. «A ele, como ao próprio Senhor Jesus Cristo, devem estar sujeitos todos os reis do povo cristão. Pois àquele a quem pertence velar pelo fim último devem estar sujeitos aqueles aos quais pertence velar pelos fins subordinados; estes devem estar sob o comando daquele» (De reg. princ., I, 14). § 282. ESTÉTICA Ocasionalmente, S. Tomás expôs também um núcleo de doutrinas estéticas, extraídas do Pseudo- -Dionísio, e também com inspiração neoplatónica. O belo, segundo S. Tomás, é um aspecto do bem. É idêntico ao bem, enquanto o bem é aquilo que todos desejam e, portanto, o fim; também o belo é desejado e, portanto, tem valor de fim. Mas o que se deseja do belo é a visão (aspectus) ou a consciência: ao contrário do bem, o belo está por- tanto em relação com a faculdade cognoscitiva. Por isso a beleza só se refere aos sentidos que têm maior valor cognoscitivo, ou seja, a vista e o ou- vido, que servem a razão; chamamos belas às coisas visíveis e aos sons, mas não aos sabores e aos odores. O que agrada, na beleza, não é o objecto mas a apreensão (appreliensio) do objecto (3. th., I, q. 5, a. 4; II, 1, q. 27, a. 1). Seguindo o Pseudo-Dionísio (De div. nom., cap. 4, 7), S. Tomás atribui ao belo três característi- cas ou condições fundamentais: a integridade ou perfeição, porque o que é reduzido ou incompleto é feio; a proporção ou congruência das partes; a clareza. Estas características encontram-se não só nas coisas sensíveis, mas também nas espirituais; as quais, portanto, também têm a sua beleza. Se chamamos belo a um corpo quando os seus mem- bros são proporcionados e tem a cor devida, tam- bém chamamos belo a um discurso ou a uma acção que é bem proporcionada e tem a clareza espiri- tual da razão. E é bela a virtude porque modera, com a razão, as acções humanas (S. th., II, 2, q. 2, a. 1). Finalmente, chamamos bela a uma imagem se ela representa perfeitamente o seu objecto, mesmo que ele seja feio. E neste sentido, S. Tomás,, se- guindo Santo Agostinho (De trín., VI, 10), vê a beleza perfeita no Verbo de Deus que é a imagem perfeita do Pai (S. th., I, q. 39, a. 8). NOTA BIBLIOGRÁFICA § 273. As antigas biografias de S. Tomás (Pe- dro Calo, Guilherme de Tocco, Bernardo Guidone) foram novamente editadas por PRUMMER, Fontes vitae 5. Thomae Aquinatis, Toulose, 1911 e ss.; BARTOLOMEO DA LUCCA, História ecclesiástica novct, XXII, 20-24, 39, X X m , 8-15. A edição completa da obra de S. Tomás apareceu pela primeira vez em Roma, por ordem do papa Pio V, 1570-1571, 18 voJ. in-folio. Foram posteriormente publicadas numerosas edições, das quais a última, por ordem de Leão XIII, foi edi- tada em Roma a partir de 1882, D a s obras principais são numerosíssimas as edições parciais e as tradu- ções em todas as l ínguas do mundo. Para a bibliografia: MANDONNET-DESTREZ, Biblio- graphie Thomiste, Kain, 1921; 2.* edição completada por Chenu, Paris, 1960; «Bullettln Thomiste», 1924 e ss. Sobre a autenticidade das obras de S. Tomás: MANDONNET, Les écrits authentiques de St. Thomas, Paris, 1922; GRABMANN, in «Beiträge», XXH, 1-2, 1931. SERTILLANGES, St. Th. d'A., 3 vol . , Par i s , 1910; GILSON, St. Th. d'A., Par i s , 1925; ROUGIER, La scolas- tique et le thomisme, Paris, 1925; MARITAIN, Le do- teur angélique, Paris, 1934; GRABMANN, Thomas von Aquin, Monaco, 1935; CHENU, Introduction à l'étude de St. Th. d'A., M o n t r e a l - P a r i s , 1950; D'ARCY, St. Th. d'A., D u b l i n - L o n d r e s , 1953; CRESSON, St. Th. d'A., P a r i s , 1 9 5 7 ' . § 274. Sobre a relação entre razão e fé: LABER- THONNIÈRE, St.Thomas et le rapport entre la science et la foi, In «Annales de phll. chrétienne», 1909, p. 599-621; LEFEBURE, L'acte de foi d'après la doctrine de St. Thomas d'A., Paris 1905, 2.' ed., 1924; GILSON, Études de phil. médiévale, p. 30 e ss.; CHENU, St. Th. d'A., et la théologie, Paris, 1959. § 275. Sobre a teoria do conhecimento: PRANTL, Gesch. d. Log., III, p. 107-119; LANNA, La teoria delia conoscenza in S. Tommaso, Florença, 1913. Sobre a teoria da abstracção: BLANCH, Mélange thomiste, p. 237-251. EM g e r a l : ROUSSELOT, L'intellectualisme de St. Th., Paris, 1908, nova ed. 1924 ; PEIFER, The Concept in Thomism, New York, 1952; DUPONCHEL, Hypothèses pour l'interprétation de l'axiomatique thomiste, Paris, 1 9 5 3 . § 276. Sobre a distinção entre essência e existên- Ictia: DUHEM, Système du monde, V, p. 468 e ss.; GRABMANN, Doctrina S. Thomae de distinctione reali inter essentiam et esse ex documentis ineditis saec. XIII I l lustratur, Roma, 1924; ROUGIER, op. cit. Sobre a analoglcidade do seu e a noção de participação: BLANCH, In «Revue des Sciences phll. et théol.», 1921, p. 169-193, e in « R e v u e d ePhi los .» , 1923, p. 248-271; GARRIGOU-LAGRANGE, Dieu, son existence et sa nature, 4.« ed., Paris, 1924, p. 200 e ss., etc.; LANDRY, in «Revue néoscolastique». 1922, p. 257 - 280, 454 - 464; DE M U N N Y N K , ib. , 1 9 2 3 , p. 1 2 9 - 1 5 5 ; FABRO, La nozione metafísica di partecipazione secondo S. Tommaso d'Aquino, Turim, 1950 2; ANDERSON, An Introduction to the Metaphysics of S. Th., Chicago, 1953; J^LUBER- TANS, St. Th. A. on Analogy, Chicago, 1960. § 277. Sobre as provas da existência de Deus e as sueis fontes: BAEUMKER, in «Beiträge», m, 2, p. 302 e ss., 310, 324 e ss., 332-334; GRUNWALD, Geschichte der Gottesbeweise in Mittelalters, in «Beiträge», VI, 3, p. 133-161. Sobre a teoria dos anjos: DUHEM, op. cit., p. 539 e ss. § 278. Sobre a teologia: GARRIGOU-LAGRANGE, op. cit.; SERTILLANGES, in «Revue de Sciences phil. et théol.», 1907, p. 239-251; GEYER, in «Philosophisches J a h r b u c h » , 1 9 2 4 , p . 3 3 8 - 3 5 9 . § 279. Para a psicologia, os textos fundamentais são: Contda Gent., II, 56-90; Quaestio disp. de an. e Summa theol., I, q. 75-89, 118-119. DOMET DE VORGES, La perception et la psychologie thomiste, Paris, 1892; FABRO, Percezione e pensiero, II, Milão, 1941; HART, The Thomistic Concept of Mental Faculty, Washington, 1930. § 280. Sobre a liberdade: VERWEYEN, Das Problem der Willensfreiheit in der Scholastik, 1909, p. 692-713; GILSON, St. Thomas d'A. («Les moralistes chrétiens. Textes et commentaires»), Paris, 1924; LAPORTE, in «Revue de Mét. et de Mor.», 1931, 1932, 1934. § 281. Sobre a política: BAUMANN, Die Staatslehre d. h. Th. v. Aquino, Leipzig, 1909; ZEILLER, L'idée de l'état dans Saint Thomas, Paris, 1910; MICHEL, La notion thomiste de bien commum, Paris, 1932; COTTA, Il concetto di legge nella «Summa Theologiae» di S. Tommaso d'Aquino, Turim, 1955; GILBY, The Political Thought of Th. A., Chicago, 1958. § 282. Sobre a estética: DE WULF, in «Revue n é o - s c o l a s t i q u e » , 1 8 9 5 , p . 1 8 8 - 2 0 5 , 3 4 1 - 3 5 7 ; 1 8 9 6 , p . 117-142; recolhidos in Stüdes historiques sur l'esthéti- que de St. Th. d'A., Lovaina, 1896; VALENSISE, Dell'es- tetica secondo i principii deli'Angélico Dottore, Roma, 1903; MARITAIN, in «Revue des Jenues», 1920; DE MUNNYNK, in San Tommaso, Milão, 1923, p. 228-246; Eco, Il problema estetico in Tommaso d'Aquino, Turim, 1 9 5 6 . O AVERROÍSMO LATINO § 283. CARACTERÍSTICAS DO AVERROÍSMO LATINO A primeira consequência da introdução do aris- totelismo na escolástica cristã foi a plena delimitação dos campos respectivos da razão e da fé. A razão é o domínio das verdades demonstradas, e por isso, o das demonstrações necessárias e dos princípios evidentes que as fundamentam; a fé é o domínio das verdades reveladas, privadas de necessidade demons- trativa e de evidência imediata. Esta distinção é sòlidamente mantida em toda a história posterior do aristotelismo escolástico, ou melhor de toda a escolástica. Mas a obra de S. Tomás não se tinha limitado ao reconhecimento desta distinção: antes havia pretendido ultrapassá-la, estabelecendo entre- tanto a impossibilidade de qualquer oposição entre os dois termos. «Pois que só o falso é oposto ao verdadeiro, dizia S. Tomás, como é evidente pelas suas respectivas definições, é impossível que a ver- dade da fé seja contrária aos princípios que a razão X X I V — O M I S T I C I S M O A L E M A O . . . § 328. Característica do mlBtlolMnn aliemão § 329. Mestre Dietrich § 330. Mestre Eckhart § 331. A mística alemã Nota bibliográfica Este livro acabou de se imprimir em Julho de 1978 para a EDITORIAL PRESENÇA, LDA. na Empresa Oráfica Feirense, Lda Vila da Feira Tiragem 3 000 exemplares Nicola HISTÓRIA • • í B L l O T E C A j HEG. <MQMg>Q I O a ï A J o I T R A D U Ç Ã O D E : JOSÉ GARCIA ABREU Abbagnano DA FILOSOFIA 2ª EDIÇÃO VOLUME IV EDITORIAL PRESENÇA HISTORIA DA FILOSOFIA Ao apresentar a tradução portuguesa desta HISTORIA DA FILO- SOFIA do Professor Nicola Abbagnano, da Universidade de Turim, teve a EDITORIAL PRESENÇA como propósito prestar um contributo cultural, na medida em que esta obra constitui Ine- gavelmente urri dos panoramas mais vastos e exaustivos da história do pensamento humano ao longo dos séculos. O carácter eminentemente pedagógico do texto, o seu estilo claro e acessível, a ausência de toda a interpretação tendenciosa e a constante referência às fontes, fazem com que esta "obra seja tão útil a professores como a estudantes e bem assim a todos aqueles que se interessam pela cultura. 1." V O L . : E S C O L A J Ó N I C A , E S C O L A P I T A G Ó R I C A , E S C O L A E L E A T I C A , E M P É D O C L E S , A N A X Á G O R A S , O S A T O M I S T A S , A S O F I S T I C A , S Ó C R A T E S , P L A T Ã O , A R I S T Ó T E L E S 2 . ° V O L . : E S C O L A P E R I P A T É T I C A , E S T O I C I S M O , E P I C U R I S M O , C E P T I - C I S M O , E C L E C T I S M O , N E O P L A T O N I S M O , I P A T R L S T I C A , S . A G O S T I N H O 3 . " V O L . : F I L O S O F I A E C O L A S T I C A , A N S E L M O D E A O S T A , A B E L A R D O E S C O L A D E C H A R T R E S , M I S T I C I S M O , F I L O S O F I A A R A B E E J U D A I C A 4 . ° V O L . : A L B E R T O M A G N O , T O M A S D E A Q U I N O , A V E R R O Í S M O L A - T I N O , D U N S E S C O T O , G U I L H E R M E D E O C C A M , M I S T I C I S M O A L E M Ã O 5 . ° V O L . : R E N A S C I M E N T O E H U M A N I S M O , R E N A S C I M E N T O E P O L I T I C A , R E N A S C I M E N T O E R E F O R M A , O R I G E N S D A C I Ê N C I A 6 . " V O L . : F I L O S O F I A M O D E R N A , D E S C A R T E S , H O B B E S , P A S C A L , E S P I - N O S A 7 . ° V O L . : B E R K E L E Y , H U M E , O I L U M I N I S M O I N G L Ê S , - F R A N C Ê S , I T A L I A N O E A L E M Ã O , K A N T 8 . ° V O L . : F I L O S O F I A D O R O M A N T I S M O , F I C H T E , S C H E L L I N G , H E G E L , S C H O P E N H A U E R 9 . " V O L . : F I C H T E , S C H E L L I N G , H E G E L , S C H O P E N H A U E R , A P O L Ê M I C A C O N T R A O I D E A L I S M O 1 0 . " V O L . : K I E R R E G A A R D , M A R X , O R E T O R N O R O M Â N T I C O A T R A D I - Ç Ã O , O P O S I T I V I S M O S O C I A L 1 1 . " V O L . : O P O S I T I V I S M O E V O L U C I O N I S T A , N I E T Z S C H E , O E S P I R I T U A - L I S M O , A F I L O S O F I A D A A C Ç Ã O 1 2 . " V O L . : B E R G S O N , O I D E A L I S M O A N G L O - A M E R I C A N O E I T A L I A N O , O N E O C R I T I C I S M O . O H I S T O R I C I S M O 1 3 . ° V O L . : P R A G M A T I S M O , R E A L I S M O E N A T U R A L I S M O , A F I L O S O F I A D A S C I Ê N C I A S , B E R T R A N D R U S S E L 1 4 . " V O L . : F E N O M E N O L O G I A , EX I S T E N C I A L I S M O , T E O R I A D A I N F O R K Ç Ã O E C I B E R N É T I C A , E S T R U T U R A L I S M O , U T O P I A N E G A T I V A E D I T O R I A L P R E S E N Ç i R U A A U G U S T O G I L , 3 5 - A — L I S B O A
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