Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacologia aplicada Cardiotônicos ⇒ Os cardiotônicos são fármacos utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca, A digoxina é um medicamento antigo, que é extraído das folhas das plantas Digitalis purpurea e Digitalis lanata e era utilizados para tratar hidropsia cardíaca (o que conhecemos hoje como insuficiência cardíaca). Os cardiotônicos também podem ser chamados de glicosídeos cardíacos ou digitálicos. ⇒ Para entender o mecanismo de ação devemos relembrar brevemente a fisiologia cardíaca. O miócito cardíaco precisa de um potencial de ação para ser excitado e realizar sua função. Na membrana do miócito temos a bomba de Na⁺/K⁺/ATPase, que sempre retira 3 Na⁺ e adiciona 2 K⁺ dentro da célula, sendo extremamente importante na fase de repolarização. ● Quando a bomba de Na⁺/K⁺/ATPase está funcionando ela ativa um contra-transporte (transporte ativo secundário), a bomba de Ca²⁺/Na⁺. Esse contra-transporte repõe o sódio jogado fora pela primeira bomba, mas para isso joga cálcio fora. ● Quanto ao cálcio, é importante lembrar que quanto mais Ca²⁺ livre, maior a força de contração cardíaca, já que é o cálcio que se liga a troponina para que ocorra reação entre as proteínas contráteis. ● Na insuficiência cardíaca o coração não tem força o suficiente para bombear o sangue de forma efetiva. ✓ Mecanismo de ação da Digoxina: A digoxina bloqueia uma parte das bombas de Na⁺/K⁺/ATPase, ligando-se no sítio que seria do potássio. Como a bomba de Na⁺/K⁺/ATPase não funciona, o contra-transporte Ca²⁺/Na⁺ também não funciona, assim há aumento na disponibilidade de cálcio dentro da célula, e quanto mais cálcio, maior interação entre proteínas contráteis e como consequência maior a força de contração. ● A digoxina aumenta a força de contração (pela maior disponibilidade de cálcio), consequentemente há aumento do débito cardíaco e com isso há diminuição do efeito compensatório do SNA simpático e consequentemente há diminuição da resistência periférica, por conta da redução da frequência cardíaca. ● A digoxina também é utilizada em pacientes que têm fibrilação atrial, pois como ela bloqueia as bombas há aumento do atraso na condução do potencial de ação dos átrios para os ventrículos, esse tempo maior pode impedir o processo de fibrilação atrial. ● Em resumo, o efeito que os digitálicos causam são: ➢ Efeito inotrópico positivo = aumenta força de contração ➢ Efeito cronotrópico negativo = diminui frequência cardíaca ➢ Efeito dromotrópico negativo = atraso na condução elétrica ➢ Reduz a automaticidade = propriedade do coração de gerar o próprio estímulo elétrico. ✓ Importante: Na insuficiência cardíaca o SNA simpático tenta compensar o débito diminuído aumentando a FC e força de contração, entretanto a noradrenalina e adrenalina liberadas também atuam no vaso causando vasoconstrição, isso é um problema pois há aumento da resistência periférica. Com o aumento da resistência periférica ocorre diminuição da perfusão em diversos órgãos, quando isso ocorre nos rins, as células mácula densa liberam renina, que na circulação encontra o angiotensinogênio. O angiotensinogênio é quebrado em angiotensina I, que atinge os capilares pulmonares e encontra a enzima conversora de angiotensina (ECA), transformando-a em angiotensina II. Nesse momento a glândula adrenal estimula a liberação de aldosterona, que ao cair no sangue chega aos rins e age aumentando a reabsorção de sódio, como há retenção de soluto também há retenção de água, causando aumento da volemia, aumento do retorno venoso e consequentemente aumento da pré-carga, o que não é ideal na IC. ✓ Efeitos adversos da digoxina: ➔ Psiquiátricos: Delírio, fadiga, confusão e sonhos anormais. ➔ Visuais: Visão embaçada, xantopsia (visão amarelada) e halos ➔ Gastrointestinais: Anorexia, diarreia, vômitos, náuseas e dor abdominal ➔ Respiratórios: Hiperventilação à hipóxia ➔ Cardíacos: Arritmias atópicas, distúrbios de condução, bradicardia sinusal, prolongamento da condução e bloqueio atrioventricular ✓ Importante: A digoxina possui uma janela terapêutica muito estreita, por isso preconiza-se que a digoxina seja recomendada em casos mais severos e arrastados de IC, tentando antes dela utilizar fármacos que auxiliem nas compensações da IC. ● Uma das coisas a ser monitorada antes e durante a administração de digoxina é o potássio do paciente, uma vez que a digoxina se liga no sítio de ligação do potássio. Em uma hipocalemia, por exemplo, haverá mais sítios de ligação para a digoxina, aumentando os efeitos tóxicos. ● Da mesma forma, a recíproca é verdadeira, uma maneira de reverter um intoxicação por digitálicos é aumentando os índices de potássio. ✓ Aspectos farmacocinéticos da digoxina: ● A administração ocorre por via oral ou por via endovenosa em situações de emergência. ● A digoxina é uma molécula polar e sua excreção ocorre principalmente pelos rins. A meia-vida é de aproximadamente 36 horas em pacientes com função renal preservada e é mais longa em pacientes com insuficiência renal (nos casos de insuficiência renal é necessário diminuir a dose). ● Como já supracitado, o índice terapêutico da digoxina é muito estreito (1 a 2,6 nmol/ℓ). ● Importante: Cerca de 10% da população possui a Eubacterium na microbiota, e essa bactéria degrada a digoxina, portanto os portadores de Eubacterium são tolerantes ao fármaco. ✓ Intoxicação por digitálicos: Como o índice terapêutico é muito estreito, devemos sempre estar atentos a possíveis quadros de intoxicação por digitálicos, especialmente em idosos (representam 20% dos casos). Manifestações comuns da intoxicação são: ● Taquicardias supraventriculares paroxísticas e não paroxísticas ● Bradicardia com bloqueio atrioventricular ● Bloqueio sinoatrial ● Taquicardia e fibrilação ventricular ● Extra-sístoles ● Inversão da onda T e aumento do intervalo PR ● Náuseas, vômitos e diarreia ● Cefaléia, astenia muscular, nevralgias, desorientação, confusão mental, delírios e alucinações ● Xantopsia (visão amarelada), diplopia (visão dupla), halos visuais ✓ Num caso de intoxicação por digitálicos deve-se imediatamente suspender a medicação e administrar sais de potássio e anti-arrítmicos. Em alguns pacientes pode ser necessário o implante de marcapasso temporário. ● OBS: Alguns grandes centros médicos já possuem anticorpos antidigoxina para tratamento de intoxicação por digitálicos. ⇒ Dobutamina: Agonista ẞ1 seletivo que tem efeito inotrópico positivo (↑ força de contração). É comumente utilizado em pacientes com bradicardia, parada ou IC aguda. É um fármaco menos potente que a digoxina. Seu uso é restrito ao ambiente hospitalar. ✓ Mecanismo de ação da dobutamina: Na membrana das células cardíacas temos receptores ẞ1-adrenérgicos que são acoplados à proteína G. A dobutamina se liga nesses receptores e ativa a proteína G, que ativa a enzima adenilato-ciclase, que converte ATP em AMPc. O AMPc ativa uma proteína quinase que fosforila outras proteínas, mas principalmente canais lentos de Ca²⁺ voltagem-sensíveis, que uma vez fosforilados se abrem por mais tempo e permitem maior entrada de Ca²⁺ , dessa forma há maior interação entre as proteínas contráteis e consequentemente maior força de contração. ⇒ Sacubitril + Valsartana: Para entender o mecanismo de ação dessa associação devemos lembrar que a aldosterona liberada na circulação por conta dos mecanismos compensatórios da IC piora o quadro pois faz remodelamento cardíaco patológico: 1) Morte de miócitos 2) Hipertrofia 3) Fibrose ✓ Mecanismo de ação da associação sacubitril + valsartana: A valsartana é um fármaco da classe dos bloqueadores de receptores de angiotensina, esse fármaco impede que a angiotensina II se ligue nesses receptores e estimule a liberação de aldosterona. O sacubitril foi pensado pelos pesquisadores para inibir a enzima neprilisina, enzima que degrada peptídeo natriurético atrial, bradicinina e substância P, que são vasodilatadores que impedem o remodelamento cardíaco patológico. O sacubitril, ao inibir a neprilisina, permite que essassubstâncias vasodilatadoras atuem por mais tempo, protegendo o coração contra o remodelamento. Resumo feito por: Vinicius José Perri Dias
Compartilhar