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1 Saúde da Mulher Hanna Briza DOENÇAS BENIGNAS DA MAMA ANATOMIA DA MAMA A mama feminina repousa na parede torácica anterior, com sua base se estendendo da segunda a sexta costela. Seus limites anatômicos são: superior: segunda ou terceira costela; inferior: sulco ou prega inframamária; medial: borda lateral do externo; lateral: linha axilar média. Cerca de dois terços da mama repousam sobre o músculo peitoral maior, e o restante está em contato com o músculo serrátil anterior e a porção superior do músculo oblíquo abdominal. O tecido mamário frequentemente se estende até a axila, e essa extensão é chamada de cauda de Spence. A mama é composta por pele, tecido subcutâneo e tecido mamário. Existem duas fáscias na mama: a fáscia superficial, logo abaixo da derme (2 a 3 mm) e a fáscia profunda, que se encontra anteriormente à fáscia do músculo peitoral maior. O tecido mamário encontra-se ligado à pele pelos ligamentos suspensórios de Cooper (são faixas fibrosas de tecido conectivo que correm através do parênquima mamário e se inserem perpendicularmente na derme). A contração dos ligamentos suspensórios pode levar a retrações da pele, clinicamente associadas a tumores malignos. Os tecidos mamários são constituídos por elementos epiteliais parenquimatosos e pelo estroma. Componente epitelial (10% a 15% do volume mamário total), volume remanescente (elementos estromais). A mama é composta por 15 a 20 lobos. Os lobos são divididos em lóbulos (20 a 40). Os lóbulos são constituídos de ramificações formadas por glândulas túbulo-alveolares. Cada lobo drena para um ducto lactífero maior. Os ductos lactíferos se dilatam sob a aréola, formando os seios lactíferos, e se abrem através de um estreito orifício para o mamilo. O espaço entre os lobos é preenchido por tecido adiposo. A mama é dividida em quadrantes: superior medial, superior lateral, inferior medial e inferior lateral. A maioria do volume mamário está nos quadrantes laterais, onde também é mais comum os tumores mamários. É importante saber que há variação no tamanho, contorno e densidade da mama entre os indivíduos. A variação do volume mamário é decorrente principalmente da variação do componente adiposo entre os lobos. Complexo areolopapilar A papila está localizada sobre o quarto espaço intercostal de mama não pendular e está rodeada pela aréola pigmentada. Durante a 2 Saúde da Mulher Hanna Briza puberdade, a pigmentação torna-se mais escura e a papila se eleva da superfície. Durante a gravidez, a aréola se alarga e a pigmentação torna-se mais acentuada. A aréola contem glândulas sebáceas e sudoríparas, porém nenhum folículo piloso. Os tubérculos de Morgagni são elevações nodulares formadas pelas aberturas das glândulas de Montgomery na periferia da aréola. Essas glândulas podem secretar leite e representam um estágio intermediário entre as glândulas sudoríparas e mamárias. Feixes de fibras musculares lisas se estendem pela papila, sendo eles responsáveis pela ereção papilar que ocorre com variados estímulos sensoriais. O complexo areolopapilar e o restante da mama são ricamente supridos por inervação sensorial, de grande importância funcional, visto que tal inervação é estimulada pela sucção do recém-nascido, o que inicia os eventos que culminam com a ejeção láctea. Vascularização A mama recebe seu suprimento sanguíneo de três vias arteriais principais: 1) medialmente dos ramos intercostais perfurantes anteriores, que surgem da artéria torácica interna, também conhecida como artéria mamária interna, suprindo a porção medial e central da mama e respondendo por cerca de 60% do suprimento sanguíneo mamário; 2) ramos da artéria torácica lateral originados da artéria axilar e o ramo peitoral da artéria toracoacromial, também ramo da artéria axilar, suprem o quadrante superior lateral da mama e são responsáveis por 30% do suprimento sanguíneo da mama; 3) ramos das artérias intercostais posteriores suprem o tecido mamário restante. O suprimento sanguíneo da pele da mama depende do plexo subdérmico, que está em comunicação com os vasos profundos que suprem o parênquima mamário. A artéria torácica interna é uma importante e constante fornecedora de suprimento sanguíneo para o complexo areolopapilar por meio de seus ramos perfurantes e ramos intercostais anteriores. A drenagem venosa da mama e da parede torácica segue o curso das artérias, com a drenagem venosa seguindo em direção à axila. As veias formam um círculo anastomótico, chamado de circulus venosus ao redor da papila. Finalmente, as veias desse círculo e a drenagem da glândula até vasos se unem nas veias torácicas interna e axilar. As três principais vias de drenagem venosa da mama são: 1) os ramos perfurantes da veia torácica interna (maior plexo venoso que drena a glândula mamária); 2) os ramos perfurantes das veias intercostais posteriores; 3) as tributárias das veias axilares. Inervação sensitiva A inervação sensitiva da mama e da parede torácica anterolateral vem de ramos cutâneos laterais e anteriores originados do segundo ao sexto nervo intercostal. A pele da porção superior da mama é inervada pelos ramos anteriores do nervo supraclavicular originado do plexo cervical. A papila e a aréola recebem inervação dos ramos 3 Saúde da Mulher Hanna Briza cutâneos laterais e anteriores provenientes do segundo ao quinto nervo intercostal, que se unem em um plexo na região subdérmica. Os nervos que abrangem a mama comunicam-se livremente e convergem em direção à axila. O nervo intercostobraquial é o ramo cutâneo lateral do segundo nervo intercostal. Esse nervo é encontrado durante a dissecção axilar e sua secção leva à perda de sensibilidade na face medial do braço. Drenagem linfática Mais de 75% da drenagem linfática da mama: linfonodos axilares. Há geralmente 20 a 30 linfonodos na região da axila. Os seis grandes grupos de linfonodos axilares reconhecidos são: 1) grupo da veia axila; 2) grupo mamário externo; 3) grupo escapular; 4) grupo central; 5) grupo supraclavicular; 6) grupo interpeitoral (linfonodos de Rotter localizados entre os músculos peitoral maior e menor). Os grupos de linfonodos são nomeados de acordo com sua relação com o músculo peitoral menor. Linfonodos localizados lateralmente ao músculo peitoral menor são denominados de linfonodos de nível I (grupos veia axilar, mamária externa e escapulares). Linfonodos localizados superficialmente e profundamente ao músculo peitoral menor são chamados de linfonodos do nível II (grupos central e interpeitoral). Linfonodos localizados medialmente ao músculo peitoral menor são chamados de linfonodos de nível III (grupo subclavicular). A mama medialmente é drenada por vasos linfáticos que acompanham os ramos perfurantes da artéria mamária interna e desembocam no grupo paraesternal de linfonodos. Linfáticos superficiais de uma mama podem se comunicar com os da mama oposta, e a parede abdominal anterior. Eles podem ser drenados diretamente para os linfonodos supraclaviculares (cervicais profundos) e seu envolvimento é indicativo de doença avançada. A drenagem linfática dos componentes epitelial e mesenquimal da mama é a via primária da difusão de metástases do câncer de mama para outros sítios. AVALIAÇÃO DA MAMA Inspeção estática: paciente sentada, observa-se volume, formas da mama, presença de abaulamentos, retrações ou lesões de pele e mamilo. Inspeção dinâmica: é possível realizar algumas manobras que estimulam a elevação da mama, como também a contração dos músculos peitorais, buscando identificar a presença de retrações ou acentuações das alterações detectadas na inspeção estática. Palpação: etapa fundamental, muitas vezes é prejudicada pelas características individuais da mama em relação a quantidade de tecidos glandulares e gordurosos. Coma paciente ainda sentada, deve começar pela palpação das axilas e das fossas supraclaviculares à procura de linfonodos (a presença de linfonodos aumentados de tamanho, endurecidos ou fusionados pode sugerir neoplasia maligna com metástases linfonodais). A palpação das 4 Saúde da Mulher Hanna Briza mamas deve ser feita com a paciente em decúbito dorsal com os braços atrás da cabeça. A consistência e a elasticidade dependem do tecido do parênquima glandular e da quantidade de tecido adiposo. A maior parte dos casos de carcinoma mamário se manifesta com formação nodular, circunscrita e endurecida. Além disso, deve estabelecer localização, forma, volume, consistência, mobilidade e sensibilidade. Expressão: deve ser realizada quando há queixa de descarga papilar espontânea como forma de observar características da secreção. Autoexame Auxilia no diagnóstico precoce de CA de mama, já que ela avalia regularmente e passa a conhecer a estrutura da mama podendo notar e sinalizar possível alterações. Recomenda-se que parte dele seja realizado no banho (privacidade e maior sensibilidade com água e sabão). Desenvolver uma rotina para o autoexame é importante: 1 vez ao mês, devendo ser feito 7 dias após o início do ciclo menstrual (antes da menopausa) e qualquer período do mês (depois da menopausa). Escolher uma data fixa ajuda a não esquecer. NÓDULO DE MAMA Uma das queixas mais comuns nos consultórios de mastologia: cerca de 60% das consultas. Na maioria das vezes, trata-se de patologia benigna até a terceira década de vida, mas, após a menopausa, é importante que se diferenciem precocemente nódulos com aspectos suspeitos, pois o câncer de mama pode estar presente em até 30% dos casos. Definido como um tumor presente na glândula mamária, palpável ou não ao exame clínico, podendo ter conteúdo cístico ou sólido. Nas mulheres, os nódulos palpáveis mais comuns são os cistos e os fibroadenomas. Etiologia e Fisiopatologia O parênquima da glândula mamária sofre profundas mudanças durante o desenvolvimento e amadurecimento feminino, sobretudo no período entre a menarca e a menopausa. Inicia-se pela predominância de ductos, lóbulos e do estroma intra e interlobular observados no início da menacme até as alterações fibróticas e formações císticas, atualmente denominadas alterações fibrocísticas das mamas ou alterações funcionais benignas das mamas, comumente abreviadas como AFBM. No fim, após a menopausa, a mama sofre um processo de lipossubstituição em torno de 75% dos casos ou de fibro-substituição, presente nos 25% restantes. A maioria dos nódulos sólidos é decorrente de lesões fibroepiteliais. O mais comum é o fibroadenoma. Sua fisiopatologia pode ser explicada por uma resposta exagerada na mama aos estímulos hormonais fisiológicos após a menarca. Trata- 5 Saúde da Mulher Hanna Briza se de nódulo de crescimento limitado e, em geral, não ultrapassa 2 cm, com tendência à involução após a menopausa. Cerca de 50% dos fibroadenomas contêm outras lesões proliferativas, como adenose esclerosante, adenose, hiperplasia ductal usual e microcalcificações epiteliais. Esses são os chamados fibroadenomas complexos. Algumas variações, como o tumor filoide e o fibroadenoma gigante, apresentam maior celularidade do estroma e normalmente atingem tamanhos maiores. Os cistos mamários são estruturas redondas ou ovoides, preenchidas por líquido. Derivam-se da unidade ducto lobular terminal, acometendo as mulheres entre a quarta década e o início da menopausa. A maioria é subclínica, sendo chamados microcistos. Os cistos complexos correspondem a 5% dessas lesões. O diagnóstico se realiza por meio da ultrassonografia, que identifica a presença de área sólida no seu interior. Nesses casos, é importante o estudo histopatológico para diferenciar as alterações benignas das malignas, raramente presentes. Diagnóstico Primeiramente, a anamnese é de grande importância no diagnóstico do nódulo de mama. A idade (avaliação da incidência dos nódulos conforme a faixa etária), status hormonal, fatores associados (dor, alteração cutânea, linfadenomegalia axilar ou supraclavicular) e utilização de medicamentos (anticoncepcionais, terapia hormonal) devem constar na história clínica. Ainda na anamnese, deve identificar fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de mama, pois essas pacientes necessitarão de propedêutica específica. Lembrando que 80% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama apresentam poucos ou nenhum fator de risco. Portando, diante de um nódulo de mama, a propedêutica mamária engloba três pilares: exame físico, radiológico e cito/histopatológico. O melhor momento para realizar o exame físico das mamas é após a menstruação. O exame físico deve ser completo, incluindo inspeção estática e dinâmica, palpação e avaliação de linfonodos axilares e supraclaviculares. Após a identificação do nódulo, as principais características que devem ser descritas são: consistência, limites, regularidade, tamanho e localização. Em casos de seguimento, essas características devem ser comparadas retrospectivamente. Em se tratando de nódulos palpáveis, a ultrassonografia é mais eficaz quando comparada com a mamografia, apesar de não ter indicação no rastreamento. A ultrassonografia é inócua, obrigatória na diferenciação de lesões sólidas e císticas e geralmente bem tolerada pelas mulheres. Tratamento A etapa inicial do tratamento dos nódulos benignos mamários consiste em explicar às pacientes que eles são decorrentes de 6 Saúde da Mulher Hanna Briza alteração normal do desenvolvimento da mama e que não aumentam o risco para desenvolvimento de câncer de mama. Cistos: Os cistos simples não palpáveis, diagnosticados apenas em ultrassonografia, não devem ser abordados ou acompanhados, e a paciente deve ser tranquilizada. A punção aspirativa com agulha fina é uma opção prática e eficaz nos nódulos palpáveis. Para os cistos simples, a PAAF é ao mesmo tempo diagnóstica e terapêutica. A citologia do líquido não é recomendada e só deve ser solicitada nos casos suspeitos, tais como: cistos com conteúdo hemorrágico e cistos que recidivam em curto espaço de tempo. A exérese cirúrgica deve ser restrita aos casos de cistos complexos (com conteúdo sólido), quando não for possível a realização de biópsia percutânea assistida a vácuo ou quando, após a realização desse procedimento, se observa presença de atipia ou malignidade. Os casos de papiloma, quando sintomáticos, ou com atipia ou ainda que não tenham sido completamente retirados pela biópsia vácuo-assistida, devem ser removidos cirurgicamente. Os cistos com conteúdo espesso, septos finos ou microcistos agrupados têm pouco risco de malignidade e podem ser acompanhados clinicamente. O controle deve ser realizado em seis meses. Nódulos sólidos: Quanto a nódulos com imagem suspeita, todos devem ser submetidos à biópsia percutânea, independentemente da idade. A retirada cirúrgica deve ser determinada de acordo com o resultado da biópsia. Em mulheres com idade abaixo de 30 anos com exame clínico e radiológico sugestivos de alterações benignas, que não causem incômodo clínico, não se recomenda biópsia, mas sim controle clínico e radiológico. A exérese cirúrgica deve ser reservada aos casos sintomáticos, sobretudo nos nódulos maiores que 2 cm. Diante da suspeita de tumor filoide ou fibroadenoma juvenil, recomenda-se a exérese do tumor com obtenção de margens livres, para reduzir o risco de recorrência. DOR MAMÁRIA A dor mamária ou mastalgia é uma das queixas mais comuns nos consultórios de mastologia, acometendo 60% a 70% das mulheres, principalmente em sua idade reprodutiva. O impacto da dor mamária no cotidiano não deve ser subestimado, pois interfere diretamente na vida emocional, social e profissional da mulher.A mastalgia pode trazer angústia e ansiedade, pois é relacionada com câncer de mama. Tal correlação é muito pequena (coexistem em menos de 2% dos casos); no entanto, a cancerofobia é um dos principais motivos pela procura do mastologista. Ela pode piorar o sintoma de dor mamária, portanto o profissional deve atuar na orientação ou tratamento dessas mulheres, melhorando, assim, a qualidade de vida delas. Etiologia e Fisiopatologia A causa da dor mamária não é totalmente conhecida. O componente psicológico da mastalgia deve sempre ser considerado. Algumas situações de estresse podem favorecer o aparecimento do sintoma 7 Saúde da Mulher Hanna Briza (por exemplo, o câncer de mama em pessoas próximas ou a alta exposição da neoplasia mamária nos veículos de mídia). Porém, não se deve considerar a dor mamária como um problema apenas de ordem emocional. Pode ser dividida em: cíclica (relacionada com o ciclo menstrual) ou acíclica (sem interferência com o ciclo). Cíclica: não tem fisiopatologia totalmente conhecida, porém entende-se que pode estar relacionada com um desequilíbrio na relação estrogênio/progesterona no final da segunda fase do ciclo menstrual. Esse desequilíbrio atua em nível central (sistema dopaminérgico), podendo acarretar secreção aumentada de prolactina, o que aumenta a sensibilidade do tecido mamário. Já a acíclica pode estar relacionada a diversas causas: hipertrofia mamária, macrocistos, nódulos de grande dimensão, cirurgia mamária prévia, ectasia ductal, mastites, trauma, medicamentos, entre outras. A dor extramamária se caracteriza por dor referida devida às afecções em outras estruturas que se relacionam anatomicamente com as mamas (dor muscular, costocondrite (síndrome de Tietze), neurite intercostal, bursite escapular, herpes-zóster, fibromialgia, dor torácica atípica (pulmonar, cardíaca, gástrica) e trauma). Diagnóstico É clínico e de fácil execução. A história clínica e o exame físico são fundamentais e geralmente suficientes para classificar a dor e orientar o tratamento. É importante salientar que a paciente com mastalgia também pode ter outras doenças mamárias associadas, por isso o rastreamento do câncer nunca deve ser abandonado. A anamnese deve avaliar o início, a duração, a localização, a intensidade, os fatores desencadeantes, atenuantes, agravantes ou associados e, principalmente, sua relação com o ciclo menstrual. Deve-se incluir uma avaliação psicológica sucinta, principalmente do estado de humor e da presença de dores de origem psicossomática. A ingestão de medicamentos ou estimulantes também deve ser questionada. Durante o exame físico, atentar para: existência de sinais flogísticos na pele, nódulos ou espessamentos, descarga papilar, retração do mamilo, presença de dor focal e presença de linfonodomegalias. A parede torácica deve ser examinada cuidadosamente, com palpação dos arcos costais e articulações, com o intuito de excluir as causas extramamárias, principalmente osteocondrite. Exames de imagem: pouca validade e ficam restritos às pacientes com necessidade de rastreamento ou com suspeita de lesões focais, porém a exclusão de neoplasia mamária é essencial na investigação da mastalgia. Nos casos de suspeita de dor extramamária, exames específicos podem ser necessários para avaliar outros órgãos. Quadro Clínico Mastalgia cíclica: dor frequentemente associada a ingurgitamento mamário com início nos dias que antecedem a menstruação e 8 Saúde da Mulher Hanna Briza desaparece após o fluxo menstrual. Em parte dos casos, tem maior duração, podendo se prolongar, excepcionalmente, durante todo o ciclo. É mais comum nos quadrantes superiores laterais (QSL), tende a ser bilateral e difusa, geralmente em pontada e de manifestação aguda. Mastalgia acíclica: costuma ser mais intensa e geralmente é unilateral, com desconforto usualmente localizado em um ponto da mama, podendo irradiar para axila, braço, ombro e mão. Tratamento ➢ Não medicamentoso A orientação verbal é o principal tratamento da mastalgia, após a exclusão da presença de neoplasia. A tranquilização da paciente com a simples informação sobre o caráter autolimitado do sintoma e a ausência de relação, em geral, com o câncer de mama melhora ou resolve 85% a 90% dos casos. Algumas medidas comportamentais são relatadas como benéficas e inofensivas, porém não apresentam eficácia comprovada. São elas: uso de sutiã esportivo, dieta livre de gorduras, exercícios físicos e redução da ansiedade (técnicas de relaxamento, acupuntura). ➢ Medicamentoso Como as pacientes apresentam altas taxas de resposta à orientação verbal, qualquer medicamento, até mesmo o placebo, aparenta ter taxas de sucesso bastante elevadas. Infelizmente, esses fármacos são amplamente usados na prática clínica, acarretando custo e risco desnecessário. Diuréticos, dieta livre de xantinas, progestágenos, derivados do óleo de prímula e polivitamínicos são exemplos. Na revisão sistemática sobre manejo da mastalgia, publicada em 2013 concluiu-se que as vitaminas (E, B1 e B6) não são superiores ao placebo, portanto não devem ser prescritas no tratamento da dor mamária. Da mesma forma, os derivados do ácido gamalinoleico/ óleo de prímula não demonstraram benefício no tratamento da mastalgia e sua ação é praticamente igual à do placebo. Drogas como os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e analgésicos têm eficácia no tratamento da dor, mas apresentam alto risco de efeitos colaterais com o uso prolongado. No entanto, podem ser empregadas em casos agudos. Os AINEs na forma de gel apresentam resultados satisfatórios e menos efeitos colaterais, podendo ser uma alternativa para a dor de origem osteomuscular. Medicações ansiolíticas ou antidepressivos apresentam efeito global na melhora da dor, além de tratar quadros que poderiam exacerbá-la. Infelizmente, ainda não há estudos randomizados avaliando a resposta da mastalgia a essas medicações. O tratamento farmacológico preferencial na mastalgia cíclica consiste no bloqueio hormonal. Os inibidores de estrogênio e de prolactina atuam na melhora do quadro, mesmo na ausência de níveis elevados desses hormônios. Em metanálise recente, foram avaliados todos os estudos placebo-controlados das quatro drogas mais utilizadas no 9 Saúde da Mulher Hanna Briza tratamento da dor mamária: tamoxifeno, danazol, bromoergocriptina e os derivados do óleo de prímula (fitoterápicos com alta concentração de ácido gamalinoleico). Embora não existam estudos com boa metodologia, algumas conclusões foram obtidas. Os resultados indicaram que apenas os derivados do óleo de prímula não demonstraram eficácia no tratamento da mastalgia. Os outros fármacos apresentaram resultados positivos no alívio dos sintomas. Entre eles, o tamoxifeno apresentou menos efeitos colaterais, por isso é o tratamento de escolha, na dose de 10 mg ao dia, por via oral, por três a seis meses. FLUXOS PAPILARES Descarga ou derrame papilar. Representam a exteriorização espontânea de material fluido pela papila mamária fora do ciclo gravídico-puerperal. Quando a saída de material se dá pela expressão mamária, induzida, é denominada de secreção. A secreção láctea é denominada de galactorreia e a não láctea, telorreia. 5% a 10% das queixas no ambulatório de mastologia. 90% a 95% têm origem benigna. Mais comum no menacme, quando em pacientes idosas, a probabilidade de origem neoplásica aumenta. Etiologia e Fisiopatologia Os mecanismos causadores dos fluxos papilares são próprios da glândula mamária, intra e extraductais, ou por fatores extramamários, relacionados ao controle da produção láctea (galactorreia). São eles: ➢ Intraductais: inerentes à parede interna do ducto: Proliferações epiteliais (papilomas, adenomas, hiperplasias etc.); Infecções intraductais (galactoforites);Neoplasia intraductal com necrose; ➢ Extraductais: patologias que possam romper parcialmente a parede do ducto ganhando a sua luz e exteriorizando-se: Neoplasias malignas; Infecções; Outras patologias; ➢ Galactorreia: secreção de coloração clara (láctea) ocasionada por fatores não mamários, em geral por alterações que causem hiperprolactinemia. Alguns pacientes podem apresentar galactorreia sem aumento de níveis de prolactina detectáveis. A causa mais comum de aumento dos níveis de prolactina é a utilização de fármacos supressores da dopamina. Outras patologias podem ocasionar aumento da prolactina, tais como: lesões de sistema nervoso central (SNC), lesões em parede torácica e algumas doenças sistêmicas. O derrame papilar pode ser classificado ainda em fisiológico, pseudoderrame e patológico. 10 Saúde da Mulher Hanna Briza Fisiológico: até 2/3 das mulheres não lactantes podem apresentar pequena quantidade de secreção, principalmente após estimulação excessiva do mamilo. Corresponde à secreção apócrina e normalmente não espontânea, com coloração escura e multiductal. Não está associado a patologias malignas; uma vez diagnosticado, não há terapêutica específica, além de orientações. Pseudoderrame: caracterizado por alterações como mamilos invertidos, infecção da glândula mamária, eczemas e maceração da pele, que podem produzir secreção similar a um derrame papilar. Patológicos: associados a lesões proliferativas ou carcinomas. Caracterizam-se por serem uniductais, espontâneos, unilaterais, aquosos ou sanguíneos. Diagnóstico Anamnese e exame físico cuidadoso merecem atenção na propedêutica dos fluxos papilares. Na história clínica, são importantes a idade, sexo, uso de medicações, história familiar, uso de terapia hormonal, presença de patologia mamária pregressa, manipulação excessiva do mamilo ou traumas. Da mesma forma, é fundamental definir as características da descarga papilar, fato que determina os casos que devem ser investigados. • Lateralidade (uni ou bilateral); • Número de orifícios (único ou múltiplos); • Aparecimento (espontâneo ou provocado à expressão); • Aspecto macroscópico (lácteo, purulento, multicolorido, esverdeado, marrom ou amarelado, viscoso, cristalino, seroso, hemorrágico). No exame físico, é importante visualizar a secreção sobre uma gaze branca. A palpação deve ser orientada no sentido de promover a saída da secreção e estabelecer a localização ou segmento mamário que está originando o derrame (“ponto de gatilho”). As características do fluxo que apresentam suspeitas ao exame físico são: • Unilateral; • Espontâneo; • Uniductal; • Hemorrágico, sero-hemorrágico, cristalino, seroaquoso; • Presença de tumoração associada; • Pacientes idosas; • Sexo masculino. Não existe benefício na realização de citologia oncótica, obtida por esfregaço do fluxo ou por lavagem e aspiração ductal, uma vez que diversos estudos mostraram que a sensibilidade desse método é muito baixa (varia entre 6% e 17%). 11 Saúde da Mulher Hanna Briza A mamografia e a ultrassonografia possuem baixa sensibilidade no diagnóstico das descargas papilares, porém sua realização é mandatória para avaliar possíveis lesões concomitantes. A primeira deve sempre ser solicitada no rastreio do câncer de mama. A ultrassonografia complementa a mamografia, permitindo elucidar lesões sólidas/císticas, detectar algumas lesões intraductais, tais como ectasia ductal, papiloma e abscessos, além de guiar possíveis biópsias percutâneas. A ressonância magnética das mamas vem sendo utilizada de forma progressiva, nos últimos anos, na propedêutica do fluxo papilar. Embora tenha papel relevante na diferenciação entre lesões benignas e malignas, as taxas de falso-positivo e a limitação na realização de biópsias dificultam a realização desse exame. A ductografia consiste na cateterização do ducto e injeção de contraste hidrossolúvel, com realização de mamografias sequenciais para avaliar a árvore ductal, observando falhas de enchimento ou bloqueio, o que pode ser útil em lesões periféricas. No entanto, é pouco utilizado devido ao desconforto da técnica, pouco específico e, principalmente, pelo advento e evolução da técnica de ultrassom, especialmente quando realizado por profissional experiente. A ductoscopia caracteriza-se pelo uso de um microendoscópio de fibra ótica inserido no ducto que possibilita visualização direta do epitélio ductal mamário, biópsia e análise citológica e histológica, tendo alto poder preditivo positivo, mas com baixa sensibilidade, além de ser doloroso. Tratamento É avaliado a partir das características do fluxo. A maioria dos derrames fisiológicos necessitará apenas de orientação e tranquilização; os purulentos são tratados com antibioticoterapia, e nos suspeitos o tratamento cirúrgico está indicado. Alguns pacientes com fluxos não suspeitos (multiductais, bilaterais), por exemplo, nos casos de ectasia ductal, podem necessitar de cirurgia devido ao desconforto excessivo ocasionado pelo derrame contínuo. Na presença de galactorreia, a anamnese abordará o uso de medicamentos que possam ter relação causal. No caso de adenomas de hipófise, avaliar a necessidade de tratamento medicamentoso ou cirúrgico. Nos casos cirúrgicos, na paciente que ainda deseja amamentar, realiza-se uma ressecção seletiva do ducto acometido, orientado pelo “ponto de gatilho”; enquanto em mulheres sem desejo de amamentação ou pós-menopáusicas, a ressecção seletiva pode ser substituída pela ressecção dos ductos principais, com retirada em forma de cone invertido da árvore ductal. PROCESSOS INFLAMATÓRIOS DA MAMA Mastites: são infecções que se instalam no tecido mamário. A complexidade desse tema está na realização do diagnóstico diferencial entre as diversas mastites, especialmente com os tipos de 12 Saúde da Mulher Hanna Briza baixa incidência. Além disso, pode ocorrer confusão de diagnóstico entre processos infecciosos e neoplasia maligna, principalmente nos casos de carcinoma inflamatório, levando a atraso no tratamento. A incidência de mastites está relacionada à qualidade do atendimento básico de saúde, pois dependem de fatores higiênicos, de saneamento e dietéticos da população. Podem ser encontradas em qualquer faixa etária e em todas as fases da vida da mulher, mas são mais comuns entre 18 e 50 anos. São classificadas em: • Aguda: a principal representante é a mastite puerperal, com evolução clínica com duração inferior a 30 dias e caracteriza- se pela infecção do parênquima mamário no puerpério; • Crônicas: caracterizadas por tempo de evolução maior que 30 dias ou pela recorrência após o tratamento. De evolução lenta, podem ou não ser precedidas por infecção aguda. Mais comum em mulheres jovens (30 a 40 anos), dificilmente ocorrem em mulheres na pós-menopausa. Classificadas em infecciosas (existe um agente infeccioso identificado) e não infecciosas. Etiologia e Fisiopatologia Aguda (puerperal ou lactacional) Ocorre no período de amamentação, sendo mais comum da segunda a quinta semana do puerpério. Acometa mais as primigestas e após cesarianas eletivas. A principal porta de entrada dos germes da pele são fissuras nas papilas decorrentes da amamentação. A estase láctea e a prática de má higiene com o complexo areolopapilar (CAP) são fatores predisponentes. Geralmente, são mamilos planos ou umbilicados, de pele fina e pouca elasticidade. Os germes mais relacionados à infecção são o Staphylococcus aureus e o Staphylococcus epidermidis, e espécies de Streptococcus. Bactérias como a Escherichia coli, a Pseudomonas aeruginosa e o Proteus Mirabillis também podem ser responsáveis pelo quadro. Crônicas infecciosas: • Abscesso subareolar crônico recidivante (ASCR) Caracterizado por infecção recorrentee crônica da região subareolar, associado fortemente com tabagismo, diabetes e obesidade. Doença comum em mulheres jovens, de patogênese não bem estabelecida e que se desenvolve fora do ciclo grávido-puerperal; • Mastite tuberculosa Mulheres com história pessoal ou familiar de tratamento para tuberculose. Reativação do bacilo com infecção na mama; • Mastite por micobactérias Processos infecciosos nas mamas de evolução extremamente lenta. Ocorrem com maior frequência em pacientes com HIV positivo com CD4 menor que 50/mm3; 13 Saúde da Mulher Hanna Briza • Mastite viral Processos infecciosos mamários podem também ser ocasionados por vírus, especificamente por herpes simples ou herpes-zóster. Geralmente associada com herpes genital e/ou oral. Maior frequência em pacientes com alguma imunodeficiência, especialmente em mulheres com HIV positivo ou em uso crônico de corticosteroides ou em tratamento quimioterápico; • Mastite luética ou sífilis mamária Complicação inflamatória rara observada em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico ou lúpus discoide. Crônicas não infecciosas: • Mastite periductal Afeta mulheres não lactantes durante sua vida reprodutiva. Também chamada de mastite plasmocitária. Etiologia: relacionada a infecção bacteriana e tabagismo. Maior frequência em mulheres multíparas que amamentaram; • Mastite granulomatosa idiopática Condição crônica rara na qual se observa processo inflamatório com alterações granulomatosas que ocorrem em torno dos lóbulos e ductos mamários, na ausência de infecção específica, trauma, corpo estranho ou evidência de sarcoidose. Um fenômeno autoimune tem sido sugerido, mas não foi provado. Não há relação comprovada com amamentação, paridade e contraceptivo oral ou uso de hormônios; • Síndrome de Mondor Caracteriza-se pela tromboflebite das veias superficiais da mama (veia toracoepigástrica e/ou suas tributárias). A doença é autolimitada e de fisiopatologia ainda não totalmente conhecida. Acomete com maior frequência mulheres com mamas volumosas e pendulares e após trauma, inclusive cirúrgico; • Sarcoidose mamária Caracterizada por granulomas epitelioides não caseosos, sendo a sua etiologia desconhecida. A mama é envolvida em menos de 1% dos casos. Na maioria dos casos, outros órgãos já estão envolvidos, embora o envolvimento da mama possa ser o local inicial da doença. Quadro Clínico Aguda (puerperal ou lactacional) Clinicamente se apresenta como edema, eritema e aumento da temperatura da mama. Quando houver área de flutuação, suspeitar sempre de abscesso associado com a mastite. Podem ocorrer sintomas sistêmicos como febre alta, anorexia, náuseas e vômitos. As formas mais comuns de apresentação, ocasionadas pelos estafilococos, geralmente culminam com a formação de abscessos multiloculados e com grande quantidade de pus. As mastites 14 Saúde da Mulher Hanna Briza estreptocócicas evoluem como celulites, enquanto os anaeróbios podem produzir grandes áreas de necrose tecidual, principalmente em pacientes com imunodepressão ou diabetes. Crônicas infecciosas Abscesso subareolar crônico recidivante (ASCR): normalmente são unilaterais, mas podem ser bilaterais. Inicia-se como inflamação de uma área subareolar bem localizada, que evolui para a formação de um pequeno abscesso, que tende a drenar espontaneamente com a formação de uma fístula que depois cicatriza. Repete-se clinicamente várias vezes, com intervalos de meses a anos, de onde deriva a denominação de crônico e recidivante. No local do abscesso, forma- se uma cavidade que se reabre a cada ativação do processo infeccioso; Mastite tuberculosa: manifesta-se por meio de vários abscessos de evolução lenta ou múltiplas fístulas periféricas, com histórico pessoal ou familiar de tratamento para tuberculose. Linfonodos axilares palpáveis podem ser encontrados; Mastite por micobactérias: processos infecciosos nas mamas de evolução extremamente lenta; Mastite viral: observam-se lesões na pele da mama com vesículas dolorosas e recorrentes. A duração do processo infeccioso costuma ser autolimitado, com resolução em 7 a 10 dias. O herpes-zóster (varicelazóster) ocasiona erupções cutâneas com vesículas, muito dolorosas, seguindo a linha de um dermátomo sobre a mama. Na história da doença, costumam ocorrer sintomas sistêmicos de febre, mal-estar e exantema, 24 a 48 horas antes do surgimento das lesões cutâneas; Mastite luética ou sífilis mamária: apresenta-se primeiramente como lesões cutâneas no complexo areolomamilar, causadas pela inoculação do treponema (cancro duro). Na forma secundária, ocorrem lesões cutâneas maculosas que evoluem para pápulas, e na forma terciária há nódulo endurecido que amolece, sofrendo ulceração ou fistulização. Crônicas não infecciosas Mastite periductal: clinicamente, apresenta-se com mastalgia acíclica unilateral, secreção mamilar (coloração verde-escura ou serosa), retração do mamilo, massa subareolar com ou sem inflamação da mama sobrejacente e até fístula mamilar. Pode parecer outras doenças graves, incluindo carcinoma de mama; Mastite granulomatosa idiopática: a variabilidade na apresentação clínica e a duração dos sintomas refletem a heterogeneidade dessa entidade. Uma característica marcante dessa patologia inflamatória é o acometimento lobular, permitindo diferenciá-la da sarcoidose. As manifestações locais dessa patologia podem parecer lesões malignas, especialmente quando associada a massa firme irregular ou quando apresenta retração do mamilo. O processo é mais difuso, 15 Saúde da Mulher Hanna Briza e a quantidade de pus é mínima e sempre presente em múltiplos pequenos lóculos que se comunicam através de pequenos canais; Síndrome de Mondor: apresenta-se como cordão fibroso e doloroso no subcutâneo que corresponde ao trajeto venoso comprometido. Pode ser causa de mastalgia acíclica unilateral; Sarcoidose mamária: pode apresentar-se como uma massa não dolorosa e móvel, com bordas lisas ou irregulares. Por outro lado, pode apresentar-se como um linfonodo intramamário ou um granuloma. Diagnóstico Aguda (puerperal ou lactacional) Diagnóstico de mastite é clínico. Rotinas laboratoriais e outros procedimentos de diagnóstico não são usualmente necessários. A realização de ultrassonografia mamária pode ser útil na avaliação de abscessos mamários, quantificando a extensão da coleção purulenta. Crônicas infecciosas Abscesso subareolar crônico recidivante (ASCR): além da anamnese e exame físico, a mamografia tem papel importante na exclusão de malignidade, porém apresenta menor sensibilidade, podendo ser negativa principalmente em pacientes mais jovens (devido à densidade do parênquima mamário). A ultrassonografia é o método de imagem mais utilizado para detecção dos abscessos subareolares, inclusive para guiar a drenagem deles. A ressonância da mama é pouco usada; Mastite tuberculosa: no diagnóstico, deve-se realizar prova tuberculínica e radiografia de tórax com o objetivo de avaliar foco primário pulmonar. O diagnóstico definitivo de tuberculose é obtido por meio de biópsia da lesão identificando granulomas caseosos. A cultura pode identificar o bacilo álcool ácido resistente (BAAR); Mastite por micobactérias: o diagnóstico pode ser feito por hemocultura e/ou cultura de material retirado da mama (tecido ou secreções), que identifica micobactérias atípicas; Mastite viral: diagnóstico clínico com a visualização das lesões na pele da mama com vesículas; Mastite luética ou sífilis mamária: o diagnóstico laboratorial é baseado em antígenos treponêmicos (VDRL e FTA-ABS) e/ou presença do treponema em microscopia de campo escuro. O diagnóstico diferencial é feito com doença de Paget. Crônicas não infecciosas Mastite periductal: para diagnóstico diferencial, é fundamentala realização de mamografia e ultrassonografia mamária. A citologia do derrame papilar pode ser realizada, porém é importante lembrar que a ausência de células neoplásicas malignas não exclui 16 Saúde da Mulher Hanna Briza definitivamente carcinoma mamário. A realização de biópsia e cultura do material retirado da mama é importante no diagnóstico diferencial; Mastite granulomatosa idiopática: os achados em exames de imagem da mama, geralmente, são inespecíficos; Síndrome de Mondor: diagnóstico basicamente clínico; Sarcoidose: na mamografia, a lesão pode aparecer bem definida ou espiculada. Pode ter uma massa única ou lesões múltiplas. Na ultrassonografia, uma massa hipoecoica pode mostrar margens indistintas que não podem ser diferenciadas de lesões malignas. O diagnóstico histológico confirma granuloma não caseoso; com PPD negativo e teste de Kveim positivo. Tratamento Aguda (puerperal ou lactacional) O tratamento consiste em manter a amamentação, ordenha manual delicada das mamas (evitar ingurgitamento mamário), uso de sutiã ou faixas para sustentar adequadamente as mamas, uso de analgésicos, antitérmicos e antibióticos. Os analgésicos e antitérmicos mais indicados durante a amamentação são o paracetamol e a dipirona. Os antibióticos utilizados podem ser inicialmente administrados por via oral. Se houver piora clínica (maior área mamária acometida pelos sintomas infecciosos, febre ou áreas de flutuação), iniciar o uso de antibiótico por via endovenosa. Na presença de abscesso mamário, a drenagem cirúrgica é obrigatória. A secreção purulenta drenada do abscesso deve ser encaminhada para cultura e antibiograma. Com o resultado do antibiograma, pode-se adequar o antibiótico testado. Crônicas infecciosas Abscesso subareolar crônico recidivante (ASCR): nos casos iniciais, o tratamento com antibióticos (com cobertura para aeróbicos e anaeróbicos) via oral tem boa resposta. Quando ocorre formação de fístula, o tratamento cirúrgico com ressecção do sistema ductal envolvido pode ser feito. O tecido ressecado deve ser enviado para estudo histológico a fim de afastar neoplasia mamária e outros tipos infecciosos. É recomendado abandonar o tabagismo para o sucesso do tratamento. Se a paciente já apresenta prole constituída, recomenda-se, além da retirada do sistema ductal envolvido, a exérese dos outros ductos principais para diminuir o risco de recidiva; Mastite tuberculosa: o tratamento é com tuberculostáticos e acompanhamento do infectologista; Mastite por micobactérias: o tratamento geralmente é por meio da associação de claritromicina, etambutol e rifabutina por seis meses; Mastite viral: no caso do herpes simples, recomenda-se o uso de aciclovir 400 mg via oral de 8 em 8 horas, por cinco a sete dias, o que pode abreviar os sintomas. No herpes-zóster, recomenda-se aciclovir via oral para os casos mais leves e via endovenosa nas formas graves. Usar analgésicos potentes com codeína na fase aguda, ou 17 Saúde da Mulher Hanna Briza até bloqueio anestésico do nervo acometido para controlar a dor. Curativos com antissépticos são úteis na prevenção de infecções bacterianas secundárias; Mastite luética ou sífilis primária: o tratamento é realizado com penicilina G benzatina 2,4 milhões intramuscular (1,2 milhão em cada nádega), repetido em sete dias (total de 4,8 milhões). Crônicas não infecciosas Mastite periductal: antibióticos eficazes contra os organismos isolados na cultura devem ser utilizados durante o quadro infeccioso. Há indicação de cirurgia para a correção das fístulas mamilares ou nos casos de derrame papilar espontâneo que clinicamente incomodam a paciente. Importante lembrar as mulheres no menacme com desejo de ter filhos de que a exérese dos ductos pode dificultar uma futura amamentação; Mastite granulomatosa idiopática: não há consenso sobre o melhor tratamento. A excisão ampla de toda a massa inflamatória não é indicada e pode ser impossibilitada devido ao pobre resultado estético, especialmente quando a doença envolve mais do que um quadrante. O tratamento deve ser adaptado para cada caso de acordo com a apresentação clínica. Pode-se usar corticoterapia em altas doses como 60 mg por dia (0,8 mg/kg por dia na primeira semana, com redução gradual até completar oito semanas) ou metotrexato. Embora apresentem altas taxas de recidiva registradas na literatura (até 50%), ainda não está estabelecido por quanto tempo essas pacientes necessitam ser acompanhadas, já que o tempo de recorrência é desconhecido; Síndrome de Mondor: tratamento de modo conservador, prescrevendo-se anti-inflamatórios e analgésicos para alívio da dor. Antibióticos e anticoagulantes não estão indicados; Sarcoidose mamária: tratamento é clínico e dirigido aos sintomas sistêmicos da doença. A ressecção total da lesão mamária não é necessária.
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