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Cursos Online EDUCA www.CursosOnlineEDUCA.com.br Acredite no seu potencial, bons estudos! Curso Gratuito Educação Ambiental e Sustentabilidade Carga horária: 40 hs Conteúdo programático: Introdução Princípios básicos da Educação Ambiental Objetivos fundamentais da Educação Ambiental Características da Educação Ambiental O meio ambiente no Ensino Fundamental Conteúdos de meio ambiente para o primeiro e segundo ciclo Educação ambiental no ensino fundamental Meio Ambiente e Sustentabilidade Sustentabilidade Pensamento sistêmico Educação ecológica Meio ambiente e sociedade Conflitos ambientais Água Ecoturismo Referências Introdução Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais Meio Ambiente, a perspectiva ambiental consiste em ver o mundo no qual se evidenciam as interrelações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida (BRASIL, 1997, p. 19). Nos últimos séculos, a industrialização, a mecanização da agricultura o uso intenso de agrotóxicos e a concentração populacional nas cidades fizeram com que a exploração dos recursos naturais se intensificasse muito e adquirissem outras características (BRASIL, 1997, p.19). A demanda global dos recursos naturais deriva de uma formação econômica cuja base é a produção e o consumo em larga escala. A exploração da natureza hoje, e responsável por parte da destruição dos recursos naturais, fazendo com que haja um crescimento sem fim das demandas quantitativas e qualitativas desses recursos (BRASIL, 1997, p.19). Os rápidos avanços tecnológicos viabilizaram formas de produção de bens com consequências indesejáveis que se agravam com igual rapidez, como a exploração dos recursos naturais intensamente, de forma a por em risco a renovabilidade da mesma (BRASIL, 1997, p.19). Como o desenvolvimento provocou efeitos negativos mais graves, começaram a surgir movimentos e manifestações em busca da reflexão sobre o perigo que a humanidade estava correndo por afetar de forma tão violenta o meio ambiente em que viviam (BRASIL, 1997, p. 19). Em vários países, a preocupação com a preservação de espécies surgiu há muitos anos, assim como no Brasil. Contudo, ainda é preocupante a forma como os recursos naturais são tratados no Brasil. Na metade do século XX, juntamente com o conhecimento cientifico da Ecologia juntou-se um movimento ambientalista voltado para a preservação de grandes áreas e ecossistemas até então intocados pelo ser humano (BRASIL, 1997, p.20). Após a Segunda Guerra Mundial, intensificou-se a percepção de que a humanidade estava se encaminhando aceleradamente para o esgotamento ou a inviabilização de recursos indispensáveis a sua própria sobrevivência, e que a vida dependia unicamente do avanço da ciência e da tecnologia (BRASIL, 1997, p.20). É nesse contexto que se iniciam as grandes reuniões mundiais sobre o tema, instituindo-se assim um fórum internacional em que os países, apesar de suas imensas divergências, se veem politicamente obrigados a se posicionar quanto as decisões ambientais de alcance mundial, de forma que os direitos e os interesses de cada nação possam ser minimamente somados em função do interesse maior da humanidade do planeta (BRASIL, 1997, p.21). Assim a questão ambiental, impõe as sociedades à busca de novas formas de pensar e agir, individualmente e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produção de bens, para suprir necessidades humanas, que garantam a sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educação tem um importante papel a desempenhar. A preocupação com a questão ambiental não é algo recente, pois no início da década de 60, os problemas ambientais já mostravam a irracionalidade do modelo econômico, mas ainda não se falava em educação ambiental. Somente em março de 1965, na Inglaterra, colocou-se pela primeira vez a expressão Educação Ambiental, com a recomendação de que ela deveria se tornar uma parte essencial de educação de todos os cidadãos (EFFTING, 2007). Os conceitos de Educação Ambiental estão diretamente relacionados à evolução dos conceitos de meio ambiente, havendo, portanto vários conceitos de Educação Ambiental (EFFTING, 2007). A Educação Ambiental é descrita ao longo dos anos conforme as preocupações com o meio ambiente foram se agravando, estando sempre voltada à orientação de como resolver os problemas que afetavam o meio ambiente, priorizando a interdisciplinaridade e a participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. Muito se tem discutido a respeito do melhor ou mais adequado conceito de Educação Ambiental, mas o que se nota é que todos eles são importantes para delinear a metodologia de trabalho da prática da educação ambiental em todos os seguimentos da sociedade (ALVES E COLESANTI, 2005). Não é tarefa fácil definir a Educação Ambiental, pois há inúmeras definições encontradas em artigos da área (RODRIGUES, 2009). Segundo o Ministério do Meio Ambiente: “Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir individual e coletivamente e resolver problemas ambientais presentes e futuros”. "A Educação Ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas”. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – Conferência Sub-regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária Chosica/Peru 1976). De acordo com o Art. 1º da Lei 9.795/99, entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. No que se refere ao Art. 2º desta mesma lei, a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. De acordo com a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977), “"A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida". (ALVES E COLESANTI, 2005). Princípios básicos da Educação Ambiental Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 4º, são os princípios básicos da Educação Ambiental: I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III – o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as praticas sociais; V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI – a permanente avaliaçãocritica do processo educativo; VIII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. Objetivos fundamentais da Educação Ambiental Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 5º, são os objetivos fundamentais da Educação Ambiental: I – o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II – a garantia de democratização das informações ambientais; III – o estímulo e fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV – o incentivo a participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macroregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Características da Educação Ambiental De acordo Marcatto (2002), a Educação Ambiental tem como principais características ser um processo: • Dinâmico integrativo: processo permanente onde a comunidade toma consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimento que os torna aptos a agir em busca da resolução dos problemas ambientais; • Transformador: objetiva a construção de uma nova visão das relações do ser humano com o seu meio e a adoção de novas posturas individuais e coletivas em relação ao meio ambiente; • Participativo: atua na sensibilização e na conscientização do cidadão, estimulando-o a participar dos processos coletivos; • Abrangente: ultrapassa as atividades internas da escola tradicional e envolve toda a família e a coletividade; • Globalizador: considera o ambiente em seus múltiplos aspectos; • Permanente: envolvido com as questões ambientais continuamente, sem interrupção; • Contextualizador: atua de acordo com a realidade de cada comunidade. Pensar globalmente, agir localmente; • Transversal: as questões ambientais devem permear todos os conteúdos, objetivos e orientações didáticas de todas as disciplinas. O meio ambiente no Ensino Fundamental O termo meio ambiente tem sido utilizado para indicar um espaço em que um ser vive e se desenvolve, e sua interação com o mesmo. A principal função de se trabalhar com o meio ambiente em sala de aula é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global (BRASIL, 1997, p.25). Para se trabalhar o tema meio ambiente é necessária a aquisição de conhecimento e informação por parte da escola para que se possa desenvolver um trabalho adequado junto dos alunos. Isso não quer dizer que os professores deverão saber tudo para que possam desenvolver um trabalho junto dos alunos, mas sim que deverá se dispor a aprender sobre o assunto, constantemente (BRASIL, 1997, p.35 e 36). Os conteúdos de meio ambiente deverão ser integrados ao currículo através da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prática educativa, e ao mesmo tempo, criar uma visão global e abrangente da questão ambiental (BRASIL, 1997, p. 36). A lei Federal n 9.795, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelece que todos tenhamos direito a educação ambiental, e esta é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e nãoformal (MARCATTO, 2002). Conteúdos de meio ambiente para o primeiro e segundo ciclo Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – Meio Ambiente, a questão ambiental no ensino de primeiro grau, centra-se principalmente no desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas, e no domínio de procedimentos, mais do que na aprendizagem de conceitos, uma vez que vários dos conceitos em que o professor se baseara para tratar dos assuntos ambientais pertencem às áreas disciplinares (BRASIL, 1997, p. 43). O tema meio ambiente consiste em oferecer aos alunos instrumentos que lhes possibilitem posicionar-se em relação às questões ambientais. Para que isso ocorra, os conteúdos de meio ambiente para os primeiros ciclos foram reunidos em três blocos gerais: os ciclos da natureza; sociedade e meio ambiente e manejo e conservação ambiental. Estes conteúdos referem-se aos dois primeiros ciclos do ensino fundamental (BRASIL, 1997, p.43). Ao longo das oito séries do ensino fundamental, a escola deverá oferecer meios efetivos para cada aluno compreender os fatos naturais e humanos referentes a esta temática, desenvolver suas potencialidades e adotar posturas pessoais e comportamentos sociais que lhe permitam viver numa relação construtiva consigo mesmo, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente sustentável e socialmente justa (BRASIL, 1997, p.43). Educação ambiental no ensino fundamental Segundo a Lei 9.795/99, em seu Art. 9º, entende-se por Educação Ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas englobando: I – educação básica: a) educação infantil; b) educação fundamental e c) ensino médio; II – educação superior; III – educação especial; IV – educação profissional; V – educação de jovens e adultos. De acordo com o Art. 10 da mesma lei, a Educação Ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, e não deverá ser implantada como disciplina no currículo de ensino. No que se refere à Educação Ambiental não- formal, entende-se pela mesma as ações e práticas educativas voltadas a sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e a sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Já a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA é uma proposta programática de promoção da Educação Ambiental em todos os setores da sociedade. Diferente de outras leis, não estabelece regras ou sanções, mas estabelece responsabilidades e obrigações. A Política de Educação Ambiental legaliza a obrigatoriedade de trabalhar o tema ambiental de forma transversal, conforme foi proposto pelos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais. Quanto ao desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental nos diferentes ciclos, os professores entendem que há uma maior facilidade entre a primeira e a quarta séries, por ser um professor ministrando as quatro disciplinas do ensino fundamental, ficando a cargo dos professores de ciências a principal responsabilidade no enfrentamento do desafio da educação ambiental (NOVICKI E MACCARIELLO, 2002). A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS A Educação Ambiental é um tema de grande relevância na atualidade, pois está ligada a interação do homem com o ambiente em que vive e consequentemente as implicações que esta interação causa (GOBARA, AYDOS, SANTOS, PRADO E GALHARDO, 1992). De acordo com Amaral (2001), uma polêmica que se manifestou desde os primórdios da Educação Ambiental, é se ela deveria se constituir e uma nova e autônoma disciplina do currículo escolar ou deveria encaixar-se nas já existentes. Apesar da UNESCO indicar o segundo caminho, sempre houve influencias quantoa outra alternativa. As argumentações baseavam-se em torno das dificuldades que os professores das disciplinas tradicionais teriam caso isso acontecesse. O currículo escolar ainda não oferece através de suas disciplinas, a visão do todo, do curso e do conhecimento, e não favorece a comunicação e o diálogo entre os saberes. De forma clara, as disciplinas e seus conteúdos não se integram ou complementam, dificultando a perspectiva de conjunto e de globalização (SANTOS, 2007). Os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam o tema Educação Ambiental como um tema transversal chamado de Meio Ambiente, convivendo com o bloco de conteúdo ambiente, ainda no currículo de ciências, nos demais blocos temáticos, incluiu conteúdos inegavelmente pertinentes ao ambiente, portanto individualizando- os e fragmentando-os (AMARAL, 2001). Estes temas transversais dizem respeito as grandes questões sociais que afligem a humanidade na era contemporânea, não devendo ser abordados como mais uma disciplina escolar, e sim como um conjunto de temas que aparecem transversalizados, permeando a concepção das diferentes áreas, seus objetivos, conteúdos e orientações didáticas (CUNHA, 2007). Outra controvérsia relativa a este tema, seria a integração do tema meio ambiente com as diferentes disciplinas do ensino fundamental. De acordo com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) o tratamento transversal dessa temática deve considerar que as áreas de Ciências Naturais, História e Geografia são as tradicionais parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos aqui relacionados, pela própria natureza dos seus objetivos de estudo. Faz-se necessário analisar os eixos de sustentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais, tomando sua concepção de Meio Ambiente como referencial para uma melhor compreensão do ensino dessa disciplina e de sua relação com a educação ambiental, de acordo com o que preconizam os PCN’s (CUNHA, 2007). Sabe-se que o ato de educar é uma necessidade de nossa espécie e um fenômeno que deve ser compreendido e analisado para que possa ser eficientemente realizado. O ensino de ciências é uma das formas de ajudar na construção do conhecimento, utilizando recursos e materiais didáticos que permitem aos alunos exercitarem a capacidade de pensar, refletir e tomar decisões, iniciando assim um processo de amadurecimento (RODRIGUES, 2009). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para o Ensino de Ciências, deixa claro que todas as escolas deverão garantir a igualdade de acesso para os alunos a uma base nacional comum, que vise estabelecer a relação entre a educação fundamental e a vida cidadã por meio de articulações entre vários dos seus aspectos como: saúde, sexualidade, vida familiar e social, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura e as linguagens (BRASIL, 1996). O educador em Ciências diariamente é exposto a grandes desafios a fim de exercer sua profissão de forma a transmitir os conhecimentos que os alunos precisam adquirir. Algumas dessas deficiências são agravadas por deficiências em suas licenciaturas, pois a rapidez com que os conceitos se ampliam e surgem novas tecnologias faz com que a formação do professor possa ser considerada ultrapassada poucos anos após sua graduação (LIMA E VASCONCELOS, 2006). Alunos do Ensino Fundamental da rede pública se deparam com metodologias que nem sempre promovem a efetiva construção do conhecimento. Cabe ao educador unificar experiências e estratégias de ensino, para qualificar a educação desenvolvendo novas competências a serem aplicadas nas escolas. Não haverá métodos ideais para ensinar, mas sim haverá alguns métodos potencialmente mais favoráveis do que outros (LIMA E VASCONCELOS, 2006). Não ensinar Ciências nas primeiras idades invocando uma suposta incapacidade intelectual das crianças é uma forma de discriminá-las como sujeitos sociais. Este é um forte argumento para sustentar o dever inevitável da escola de ensino fundamental de divulgar e trabalhar o conhecimento científico (MALAFAIA, E RODRIGUES, 2008). A Educação tradicional ainda é adotada e resiste às novas propostas pedagógicas. Este modelo é caracterizado por concepções de ensino como uma transmissão/transferência de conhecimentos (LIMA E VASCONCELOS, 2006). No Ensino de Ciências, atividades práticas são fundamentais, afinal o desenvolvimento da capacidade investigativa e do pensamento científico são diretamente estimulados pela experimentação. Ensinar Ciências é muito mais que promover a fixação dos termos científicos. O Ensino de Ciências busca privilegiar situações de aprendizagem que possibilitem ao aluno a formação de sua bagagem cognitiva. (VASCONCELOS E SOUTO, 2003). O novo paradigma da Educação acredita ser a Transdiciplinaridade que entende o intercâmbio e as articulações entre as disciplinas. Na transdisciplinaridade há a superação e o desmoronamento de toda e qualquer fronteira que inibe ou reprime, reduzindo e fragmentando o saber isolando o conhecimento em territórios delimitados (SANTOS, 2007). Neste sentido, tornou-se indispensável à ideia de que a educação desenvolvida no ambiente escolar seria incumbida de reorientar nossas formas de relacionamento com o restante da natureza, destacando-se a necessidade do desenvolvimento de uma educação ambiental (MAKNAMARA, 2009). Para enfrentarmos os problemas ambientais em busca de uma sociedade sustentável, é necessário que haja uma articulação entre todos os tipos de intervenção ambiental, incluindo as ações de Educação Ambiental (EFFTING, 2007). A Educação Ambiental é um processo educacional criado ao longo dos anos através de estudos de especialistas, com visão das necessidades do homem e da natureza entrelaçadas em um objetivo comum que é a manutenção da qualidade de vida de todos os seres do planeta. Torna-se importante o desenvolvimento deste processo educacional, visando à reversão ou a minimização dos problemas ambientais (SANTOS, 2007). A Educação Ambiental é uma das ferramentas de orientação para a tomada de consciência dos indivíduos frente aos problemas ambientais, por isto sua prática faz- se importante para solucionar ou mitigar os problemas ambientais que fazem parte do nosso dia-a-dia (ALVES E COLESANTI, 2005). É um dos eixos fundamentais para impulsionar o processo de prevenção da deterioração ambiental, de aproveitamento sustentável de nossos recursos e de reconhecimento do direito do cidadão a um ambiente de qualidade (SANTOS, 2007). O ambiente escolar é um dos locais para a discussão a respeito das problemáticas ambientais, tendo em vista a formação de opinião, a construção de valores e a promoção da mudança de comportamento, fundamentais para que sejam resolvidos ou mitigados os problemas ambientais (ALVES E COLESANTI, 2005). A Educação Ambiental deve ser efetiva no Ensino de Ciências, mais de maneira interdisciplinar, ser agregada em outras disciplinas, pois é na conjugação das diversas disciplinas que compõem o currículo escolar que a discussão ganhará amplitude. A ideia de tema transversal possibilita a discussão e análise do tema meio ambiente em diferentes áreas do conhecimento, permeando todas as disciplinas. É um instrumento importante para se alcançar a sustentabilidade (ALVES E COLESANTI, 2005). A Educação Ambiental é um processo de formação contínua, e deve expandir- se a todo sistema educacional, mas implementar este tipo de educação nas escolas tem se mostrado uma tarefa exaustiva. Existem grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já existentes (EFFTING, 2007). Englobar a Educação Ambiental no currículo escolar implica mudanças nas estruturas profundas do sistema e a maneira como se organizam o ensino e os métodos que imperam no sistema educativoformal, pois a partir do momento que são aceitos novas formas de educar, consequentemente o sistema educativo tradicional estará sendo criticado (SANTOS, 2007). Torna-se evidente que a Educação Ambiental exige um modelo educativo novo, onde as teorias sejam expandidas para todas as disciplinas do âmbito cientifico, buscando a interdisciplinaridade. O propósito desta nova forma de ensinar é o de se construir coletivamente o conhecimento, sem negligenciar o rigor científico. Portanto, a Educação Ambiental deve ser trabalhada dentro do Ensino de Ciências por estar contido neste os temas transversais propostos pelos parâmetros curriculares nacionais, pois tornar a educação ambiental como disciplina específica no currículo escolar, demanda uma reestruturação do sistema de ensino, o que no momento torna- se inviável. A inserção da Educação Ambiental no Ensino de Ciências proporciona uma melhor abordagem do meio ambiente como um todo, e não demanda entendimento deste conteúdo por todos os professores, pois sabe-se que nem todos estão abertos a novas descobertas e desafios. Professores tradicionalistas não veem propósito alguma em aderir em suas disciplinas, temas atuais. Deste modo é respeitável que fiquei a critério de cada professor em sua determinada disciplina, trabalhar temais atuais e importantes. Discutir Ciências e Educação Ambiental não é só debater conceitos e concepções já existentes, é resgatar atitudes, valores e comportamentos, discutir a política, o dia-a-dia e os diversos aspectos relacionados com a vida em si. É despertar a criticidade e a busca por uma melhor qualidade de na vida. Faz-se necessário a ambientalização do Ensino de Ciências tornando explicito a todos os sujeitos envolvidos no processo pedagógico de alfabetização científica que todos os conteúdos de Ciências são ambientais, ou seja, fazem parte de um ambiente, e como tal, pode ajudar a solucionar o atual estado de crise ambiental. Como o Ensino de Ciências constitui uma disciplina escolar em que tradicionalmente são abordados diferentes elementos e fenômenos da natureza, fica claro que esta é uma disciplina que pode contribuir muito para a superação das formas degradantes pelo qual o meio ambiente vem passando (MAKNAMARA, 2009). De forma a despertar no aluno o desejo de trabalhar no sentido de exercer um papel ativo e indispensável na preservação do meio ambiente, é fundamental que este seja instigado por meio de questionamentos que desafiem seu senso crítico e o façam perceber que tudo que o rodeia é o meio ambiente e que ele faz parte do mesmo (OLIVEIRA, OBARA, RODRIGUES, 2007). Sugere-se aos professores, seriam a utilização de oficinas e projetos ambientais oferecidos dentro da escola, como opção de contra-turno. Estas oficinas estimulam professores e alunos no entendimento e na compreensão, em busca de encontrar soluções para a atuação e consequente solução dos problemas ambientais abordados na escola. Este tipo de trabalho estimula o envolvimento da escola nas grandes questões ligadas à realidade dos alunos, proporcionando-lhes a percepção da efetividade educacional, e interagindo entre as diversas disciplinas curriculares. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação Ambiental é um tema polêmico, com um leque muito grande de conceitos e caracterizações, porém, deve ser efetivamente tratada com a relevância e urgência que ela necessita. O problema socioambiental ainda é encarado como um problema de comportamentos individuais e acreditam na sua solução através da mudança de comportamento dos indivíduos em sua relação com o ambiente. O foco principal é a reciclagem do lixo, possuem as lixeiras específicas e fazem a correta separação. É fundamental que os professores compreendam a importância de renovar das relações interdisciplinares dos vários campos do saber, o que requer o compromisso de refletir sempre sobre concepções particulares, atitudes e práticas pedagógicas em sala de aula. Portanto, ressalta-se que deve existir a preocupação em estabelecer, no contexto educativo, a compreensão do respeito à sociedade com enfoque na perspectiva de transformação social e na formação de alunos críticos, humanizados e emancipados. Ressalta-se que é um tema amplo, portanto, fica sugestão de continuidade ou desenvolvimento de novos estudos sobre o tema. A Educação Ambiental é hoje o instrumento mais eficaz para se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação entre o homem e a natureza. É o caminho para que cada indivíduo assuma suas responsabilidades em busca de uma melhor qualidade de vida e redução dos impactos ambientais. Com base na literatura consultada conclui-se que a disciplina de ciências, por se tratar de uma potencial ponte entre as demais disciplinas, consiste em um ambiente ideal para a inserção da educação ambiental, permitindo, por meio dessa interação a extensão da educação ambiental para as demais disciplinas interrelacionadas. Meio Ambiente e Sustentabilidade Neste início de século, as questões ambientais têm tomado o centro das atenções, tornando-se manchete nos jornais, prioridade em programas governamentais e assunto discutido nos principais fóruns internacionais. O mundo tem caminhado, principalmente no último século, em direção a uma crise de sustentabilidade, devida principalmente ao excesso de ambição econômica, que leva as pessoas a procurar resultados financeiros sempre imediatos, não se preocupando se no futuro será possível continuar extraindo lucro pelos mesmos meios. A principal característica desta crise é a devastação do meio ambiente, de onde são retirados os insumos necessários para a sobrevivência e para o crescimento econômico. Como não existe uma real preocupação com a perenização destes recursos, a tendência é de esgotamento dos mesmos, com a provável extinção de várias espécies, devido à exploração excessiva, sem a necessária reposição. É fundamental que a academia volte-se para temas relativos à preservação ambiental, para que a crise não se agrave e haja perspectiva de reverter o atual quadro de destruição em que o mundo natural se encontra, pois é nas universidades que surgem as discussões, o que possibilita a busca de ideias e soluções para os problemas debatidos, e posterior transmissão para a sociedade. Sustentabilidade Tornou-se lugar comum afirmar que o grande desafio para o século XXI é construir e manter sociedades sustentáveis, o que só será possível com um meio ambiente também sustentável. Atualmente, a maioria dos governantes faz questão de sempre falar que sem desenvolvimento sustentável o mundo se tornará inviável, assim como os grandes industriais declaram que estão buscando a sustentabilidade em suas empresas, pois sem isso não existe possibilidade de garantir um futuro para a produção e o comércio mundiais. Mas afinal, o que é “sustentabilidade”? Antes de tudo, temos de pensar no que significa “sustentar”, ou seja, manter, amparar, nutrir, perpetuar. Sustentabilidade, então, seria a capacidade de impedir a queda ou degradação da sociedade ou do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável, por sua vez, é a capacidade de uma sociedade se desenvolver econômica e tecnologicamente, sem, no entanto, comprometer a qualidade de vida das gerações futuras e a capacidade do meio ambiente de se regenerar ou, pelo menos, de evitar uma degradação crítica, irreversível. A Comissão Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento definiu o desenvolvimento sustentável em termos de presente e futuro, desta maneira: “o desenvolvimento sustentável é o que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as suas”. Existem outras definições usadas com frequência: relação entre desenvolvimento social e oportunidade econômica por um lado e exigências do meio ambiente por outro. Melhoramentodas condições de vida para todos, especialmente pobres e carentes, dentro dos limites da capacidade de sustento dos ecossistemas. Equilíbrio dinâmico entre muitos fatores, incluídas as exigências sociais, culturais e econômicas da humanidade e a necessidade imperiosa de proteger o meio ambiente do qual a humanidade faz parte. A visão de um mundo mais equitativo é inerente ao conceito de desenvolvimento sustentável, considerando que a capacidade de satisfação das necessidades não deve ser privilégio de alguns, e sim direito de todos, condição necessária para que a humanidade sobreviva enquanto sociedade. Sem um mínimo de justiça social, a sociedade tende a entrar em crise, pois não se sustenta num cenário de extrema desigualdade, onde seja impossível um convívio social equilibrado. O Relatório Brundtland, encomendado pela ONU, afirma que “A humanidade tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, de atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender às próprias necessidades”. Mas é importante observar que nem sempre potencial se traduz em resultado. Se a humanidade tem essa capacidade, deve desde já compreender que tem de começar imediatamente a tomar providências para evitar um colapso socioambiental, pois no atual ritmo de devastação dos recursos naturais, muito em breve não será mais possível uma recuperação, o que resultará num planeta sem condições de manter os requisitos vitais básicos para os seres humanos. Também temos de levar em consideração que as definições de sustentabilidade se limitam, por enquanto, a exortações morais, não existindo ainda definições objetivas aceitas mundialmente, pois cada povo, cada cultura, tem sua ideia sobre o que seja sustentabilidade, e sua própria lista de prioridades quanto ao desenvolvimento econômico e à proteção ou recuperação ambiental. Quando pensamos em sustentabilidade, logo nos vem à mente uma questão próxima de nós, um problema com o qual convivemos, e que temos nosso próprio jeito de resolver. É difícil pensar na sustentabilidade de um país distante, sobre o qual não temos informações detalhadas, do qual não conhecemos as questões críticas. Desse modo, como realizar a sustentabilidade? Em primeiro lugar, respeitando as características locais, pensando globalmente, mas agindo localmente. Não é plausível solucionar problemas que não conhecemos, que estão distantes de nós. Assim, devemos resolver as questões locais, e a partir daí, ampliar a atuação. Para que seja possível um desenvolvimento sustentável, antes de qualquer coisa devemos considerar as diferenças regionais, pois só são possíveis soluções a partir de problemas reais, que levem em conta as características do local, da cultura, do meio ambiente. Considerando todos esses aspectos, é importante compreender que as comunidades sustentáveis devem ser moldadas a partir dos ecossistemas naturais, pois é deles que extraímos toda a matéria-prima necessária para o desenvolvimento tecnológico e para a produção dos bens necessários ao nosso sustento. Assim, a base para o planejamento de uma economia sustentável deve partir do ecossistema natural local, que, uma vez respeitado, permitirá que a produção se perenize, evitando o colapso resultante do desrespeito às necessidades da natureza, como esgotamento dos recursos naturais e doenças causadas pela poluição, por exemplo. Pensamento sistêmico Só é possível desenvolver um projeto de sociedade sustentável se pensarmos sistemicamente. O pensamento sistêmico é aquele que considera todos os fatores que estejam envolvidos no processo. No caso do desenvolvimento de uma sociedade ecologicamente sustentável, devem ser contemplados inúmeros fatores, como a escassez de alguns recursos, que devem ser importados, a abundância de outros, cujo excedente deve ser aproveitado para captar recursos externos, e não desperdiçado, a capacidade de regeneração do meio ambiente, que não pode se esgotar em pouco tempo, o que inviabilizaria a manutenção da ocupação local, o estabelecimento de regras de convivência e instituições que garantam o respeito a essas regras, a capacidade de absorção de mão-de-obra, pois nenhuma sociedade se sustenta no longo prazo se não houver possibilidade de seus membros se manterem empregados e, por consequência, capazes de consumir, o que permite a sobrevivência da própria economia. O pensamento sistêmico se baseia na compreensão de relações, padrões e contexto. Devem ser consideradas todas as relações entre os agentes envolvidos, os padrões existentes nessas relações e o contexto em que elas ocorrem. Sempre devem ser tomadas como base as características locais. Não faz sentido planejar uma sociedade sustentável no interior da África utilizando o contexto da sociedade norte-americana, pois as características ambientais, culturais e econômicas são totalmente distintas. Nesse sentido, devemos respeitar as limitações e recursos existentes no local para podermos planejar sem ser surpreendidos com resultados totalmente diversos dos esperados. Se forem contemplados os aspectos do ambiente, efetuando o planejamento de acordo com o potencial da localidade, pensando sistemicamente, a probabilidade de cometer equívocos será consideravelmente menor. Para que seja possível pensar o meio ambiente de forma sistêmica, é imprescindível compreender os princípios de organização que os próprios ecossistemas desenvolveram para manter a teia da vida, o que Capra chama de “alfabetização ecológica”. A chamada “Ecologia rasa” é antropocêntrica, ou seja, considera que o ser humano é a razão de ser do meio ambiente, e a natureza existe para servi-lo, tendo ele todo o direito de usufruir dela o quanto quiser, preocupando- se apenas com suas próprias necessidades. O problema deste tipo de pensamento é que não existe perspectiva de longo prazo. Os recursos que hoje são abundantes, em pouco tempo podem escassear e o homem terá de buscar alternativas, o que nem sempre será viável, e neste caso será difícil a sobrevivência da sociedade. O norueguês Arne Naess foi o primeiro a conceituar a chamada “Ecologia profunda”, no início dos anos 1970. A Ecologia profunda considera que o meio ambiente baseia-se em uma rede de fenômenos intrinsecamente interligados, e qualquer abalo em apenas um dos pontos desta rede pode provocar sérios danos a todo o sistema existente. Para compreender esta ideia, basta pensar na cadeia alimentar. Eliminando um dos componentes da cadeia, todos os que dependem dele serão afetados, e o desequilíbrio será inevitável. As redes são o padrão básico de organização de todo ser vivo, tanto externamente quanto internamente. Cada ser vivo é composto de sistemas de órgãos que permitem sua sobrevivência, cada órgão sendo responsável por um aspecto da manutenção do todo. Se um deles falha, coloca a vida do indivíduo em risco. Ou o corpo se adapta, substituindo aquele órgão por outro que supra a sua falta, ou não será possível a sobrevivência. O mesmo ocorre num organismo mais complexo, como o exemplo anterior da cadeia alimentar. A rede das comunidades humanas, por sua vez, tem um elemento fundamental: a comunicação. Segundo Capra, “à medida que as comunicações acontecem em uma rede social, elas acabam produzindo um sistema compartilhado de crenças, explicações e valores – um contexto comum de significados, conhecido como cultura, que é sustentado continuamente por novas comunicações. Através da cultura, os indivíduos adquirem identidades, como membros da rede social. " Não é à toa que a cultura é o conceito básico da antropologia, pois é o elemento que define o ser humano enquanto ser social, e a cultura está intrinsecamente ligada à comunicação, que permite o compartilhamento e a perenização de conhecimentos, hábitos e valores, essenciais para a vida em comunidade. Neste contexto,tanto as redes de relacionamento humano como as redes ecológicas podem ser consideradas redes vivas, uma vez que elas estão em constante transformação e adaptação, conforme as necessidades advindas da situação em que se encontram. A cada momento podemos verificar alterações no ambiente e na vida social, alterações estas provocadas por infinitos e constantes acontecimentos, que têm consequências no funcionamento futuro das redes. As redes vivas, podemos concluir, são redes funcionais, redes de relações entre vários processos que ocorrem nos mais variados níveis, baseados nas comunicações entre os elementos das redes, que estão continuamente interagindo e provocando reações. O pensamento sistêmico, então, muda o enfoque dos objetos, como era a preocupação da Ecologia rasa, para as relações. Estas relações, entretanto, não podem ser mensuradas. Para podermos analisá-las, temos de mapeá-las em busca de padrões, que nos permitirão encontrar semelhanças e diferenças entre as redes existentes, e a partir daí estabelecer correlações entre as mesmas, o que torna possível uma análise sistemática. Existem alguns princípios da ecologia, da sustentabilidade ou da comunidade, a partir dos quais podemos realizar análises sistêmicas das redes, como por exemplo: nenhum ecossistema produz resíduos, já que os resíduos de uma espécie são o alimento de outra. A poluição ocorre quando os resíduos estão acima da capacidade de absorção pelo ambiente. É raro isso ocorrer sem a interferência humana, mas o homem, por sua cultura sedentária, tem a enorme capacidade de concentrar seus resíduos e assim impedir sua absorção pelo ambiente, o que causa desequilíbrio na rede e consequentes problemas em seu funcionamento normal. A matéria circula continuamente pela teia da vida, sempre se transformando e sendo reaproveitada em outro estágio da rede, o que permite a continuidade da mesma. A energia que sustenta estes ciclos ecológicos vem do Sol, e toda transformação de matéria depende desta fonte de energia. Um dos graves problemas que a humanidade vem enfrentando, e que se agrava paulatinamente, é a capacidade do meio ambiente conservar e filtrar essa energia, o que vem causando desequilíbrios aparentemente irreversíveis, que podem comprometer a vida no planeta. A diversidade assegura a resiliência, pois quanto maior a variedade de espécies, maior a chance de adaptação aos problemas enfrentados, pois haverá maior probabilidade de surgimento de indivíduos capazes de suportar condições adversas e consequentemente garantir a preservação. Como resultado, o meio ambiente pode se recuperar dos danos eventualmente sofridos. E finalmente, é importante lembrar, a vida, desde seu início há três bilhões de anos, não conquistou o planeta pela força, e sim através de cooperação, parcerias e trabalho em rede. O contraponto a esta tradição é o ser humano, que insiste em desrespeitar as leis naturais, buscando exclusivamente sua própria satisfação, sem se preocupar com a preservação do mundo que o sustenta. Platão já observou, séculos atrás, que “os homens constroem como se fossem viver para sempre e comem como se fossem morrer amanhã.” Da Grécia clássica até os dias de hoje, essa afirmação só tem se confirmado e agravado, como consequência do desenvolvimento tecnológico e da acumulação de capital. Apenas no final do século XX o ser humano se deu conta de que seu estilo de vida não é sustentável, e existirá um limite para a expansão de seu domínio sobre a natureza. É possível que o quadro já seja irreversível, tal o nível de degradação do meio ambiente, então torna-se mister tomar atitudes para reduzir o comprometimento dos recursos naturais, garantindo pelo menos uma sobrevida que permita que as próximas gerações tomem atitudes corretivas, evitando o colapso do meio ambiente global. Educação ecológica Até aqui, vimos dois conceitos fundamentais para que o homem possa continuar a usufruir do planeta durante um período de tempo razoável: sustentabilidade e pensamento sistêmico. Mas nada disso pode ser alcançado sem a pedra fundamental, que é a educação. Não é possível atingir o objetivo de uma sociedade econômica e ecologicamente sustentável sem um nível avançado de consciência ambiental difundido por toda a população. Se a quantidade de pessoas esclarecidas permanecer por muito tempo diminuta como é hoje, e a maioria esmagadora da sociedade continuar na total ignorância a respeito das questões ambientais mais básicas, não teremos a menor perspectiva de reduzir os impactos ambientais negativos, quanto mais de avançar na mitigação dos danos já causados ao ambiente. O principal meio para atingirmos essa difusão da consciência ambiental é a educação, que deve se dar em todos os níveis, a fim de alcançar todas as estratificações sociais e etárias, em todas as partes do planeta, de modo que sejam viabilizadas ações de espectro amplo, com ampla participação, sem o que dificilmente serão auferidos resultados satisfatórios no processo de recuperação e preservação do ambiente. A educação ambiental, no entanto, não deve se limitar apenas ao período escolar formal tradicional, e sim ser estendida por toda a vida, pois todos nós, mesmo após concluirmos o ensino formal, devemos acompanhar as mudanças ambientais e nos preparar para suas consequências. Assim, o processo educacional deve ser contínuo, iniciando-se em casa, desde a mais tenra idade, e prosseguindo durante todas as fases da vida, tanto na escola como na comunidade, já que as questões ecológicas mudam de acordo com a época e os tipos de problemas e relações do ser humano com o meio ambiente, e a educação deve, consequentemente, acompanhar pari passu todas essas alterações. Assim, é tarefa de toda a sociedade contribuir para o desenvolvimento educacional de seus membros. Os pais, em casa, devem preparar o filho para os conceitos básicos relativos ao meio ambiente, mostrando como respeitar a natureza, evitando poluir o ambiente e desperdiçar recursos importantes, como alimentos e água. A educação fundamental é o alicerce de toda a educação e do aprendizado futuro. A meta da educação formal deve ser suscitar crianças contentes consigo mesmas e com as demais, que se entusiasmem com o ensino e que desenvolvam mentes inquisitivas, que comecem a acumular um acervo de conhecimentos sobre o mundo e adotem um enfoque para buscar um conhecimento que possam usar e desenvolver ao longo da vida. Concomitantemente, durante o processo educacional, a criança deve aprender a fazer, a saber, a ser e a viver juntamente com os outros, pois no futuro viverá em sociedade, interagindo com outras pessoas, de diferentes opiniões e formações, e terá de compartilhar suas experiências e conhecimentos, assim como também aprenderá com aqueles com quem mantiver contato. Uma das provas mais exigentes da educação para o desenvolvimento é ajudar as pessoas a compreenderem e adaptarem-se às mudanças que ocorrem em uma velocidade ainda antinatural para todas as culturas. No século XX, os avanços tecnológicos e suas consequências ambientais foram superiores aos de toda a história da humanidade, o que gerou uma crise sem precedentes, e nenhuma cultura estava preparada para isso, já que sempre houve a crença de que a natureza por si só resolveria todos os problemas, considerando que sempre ocorreu desta forma. Só muito recentemente, após muitos alertas de entidades ambientalistas, os governos perceberam a gravidade da situação, e passaram a pensar a respeito, mas a convicção necessária para tomar atitudes efetivas quanto à questão ambiental ainda se encontra muito aquém do necessário, inclusive no que tange à educação, pois, mesmo onde existe um projeto formal de inserção da educação ambiental no currículo escolar, a prática ainda não apresentou resultados convincentes, o que, em se tratando de tematão significativo, é preocupante, devido às prováveis consequências futuras. Segundo a ONU, em todo o mundo, mais de cem milhões de crianças entre seis e onze anos de idade nunca foram à escola, e dezenas de milhões retiram-se poucos meses ou poucos anos após ingressarem no ensino formal. Existem atualmente cerca de oitenta e oito milhões de adultos analfabetos, a maioria dos quais nunca frequentou uma escola. O acesso à educação é condição sine qua non para uma participação eficaz em todos os níveis da vida do mundo moderno. Neste sentido, é necessário proporcionar meios de progressão aos menos favorecidos, através da educação, para que estes possam acompanhar o restante da sociedade em sua evolução, contribuindo também no processo. Caso contrário, haverá uma multidão de excluídos que, por não compreenderem a importância do meio ambiente para a vida no planeta, não contribuirão para sua preservação, além de, por falta de informação, tornarem-se agentes da degradação ambiental que, por sua quantidade, têm um potencial destrutivo avassalador. Observe-se a quantidade de favelas que ocupam áreas de preservação, que devastam as florestas, poluem o ambiente, contribuem para o desmoronamento dos morros e contaminação dos rios e do solo, geram enorme perda de energia elétrica ao furtar da rede, entre inúmeros outros fatores. Para que o processo de educação ambiental tenha realmente sucesso, é essencial que haja uma inter-relação entre quase todas as disciplinas do currículo, pois a consciência ambiental não pode ficar restrita a uma disciplina específica, já que o tema permeia todas as áreas do conhecimento, e é responsabilidade de todo o sistema educacional trabalhar para que ocorra uma progressão na conscientização da população quanto à temática ecológica. Então, a coordenação pedagógica e os professores devem estar sempre em contato uns com os outros, a fim de trabalharem conjuntamente os temas ligados à ecologia, de forma que os alunos percebam a relação entre as matérias e, fundamentalmente, a importância desta interligação, tomando consciência de um mundo integrado, passando a pensar sistemicamente, e não mais de forma fragmentada. Isso é o que chamamos de “interdisciplinaridade”, termo tão em voga no meio acadêmico atualmente, que tem como objetivo um currículo integrado que valorize o conhecimento contextual, permitindo que sejam elaborados projetos em conjunto por professores de várias disciplinas, mostrando a relação entre as diferentes áreas e como o meio ambiente está integrado em tudo o que diz respeito ao conhecimento e à vida na Terra. Um dos objetivos primordiais dos currículos deve ser o desenvolvimento da cidadania, destacando virtudes morais, motivação e ética, além de capacidade para trabalhar com outros, respeitando as diferenças de cultura e pensamento. Estudos de caráter biofísico e geofísico também são pré-requisitos necessários, mas insuficientes, para compreender o desenvolvimento social. É importantíssimo também focar as ciências humanas e sociais para o desenvolvimento sustentável, solucionando problemas locais na relação homem/meio ambiente. Sem este tipo de enfoque, dificilmente será possível obter resultados eficientes em termos de educação para um futuro sustentável. A educação é essencial para que as pessoas possam usar seus valores éticos a serviço de opções conscientes e éticas. A interdisciplinaridade depende em primeiro lugar da atitude dos educadores e pesquisadores, dos quais depende a eficiência do processo de integração entre as disciplinas e inserção dos temas ambientais nos currículos, de forma integrada e organizada. A luta por uma educação ambiental que considere comunidade, política e transformação, preservação dos meios naturais, que incorpore aspirações dos grupos, que consubstancie lutas efetivas em direção à diversidade, em todos os níveis e todos os tipos de vida no planeta, considerando os universos social, cultural e natural é, indiscutivelmente, a luta por uma nova educação. Não podemos, portanto, nos ater ao estilo de ensino tradicional, em que o professor, onipotente, “permite” que os alunos bebam de sua sabedoria passivamente. A participação dos alunos é fator significativo no desenvolvimento das aulas, por exemplo, e devemos repensar a educação, concebendo formas de aumentar o interesse dos alunos e a eficiência da transmissão dos conceitos. A Conferência Mundial sobre Educação para todos optou por definir a educação em termos de resultados educativos, e não em termos de níveis de instrução, uma vez que os critérios para determinar níveis de instrução podem variar de país para país, além de poderem ser manipulados por governos interessados apenas em autopromoção, sem uma real preocupação com o desenvolvimento educacional de sua população. Já os resultados educativos podem ser aferidos segundo critérios definidos pelo conjunto das nações representadas na ONU, o que permite uma melhor avaliação dos progressos e uniformização das análises. Para os adultos, a educação ambiental focada na sustentabilidade é a chave para estabelecer e reforçar o regime democrático, para um desenvolvimento ao mesmo tempo sustentável e humano, e para uma paz fundada no respeito mútuo e na justiça social. “Ensinar esse saber ecológico, que também corresponde à sabedoria dos antigos, será o papel mais importante da educação no século XXI. A alfabetização ecológica deve se tornar um requisito essencial para políticos, empresários e profissionais de todos os ramos, e deveria ser uma preocupação central da educação em todos os níveis do ensino fundamental e médio até as universidades e os cursos de educação continuada e treinamento de profissionais.” A educação é, em síntese, a melhor esperança e o meio mais eficaz que a humanidade tem para alcançar o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, devemos pensar uma pedagogia centrada na compreensão da vida, experiência de aprendizagem no mundo real que supere a alienação da natureza e reacenda o senso de participação, elaborando um currículo que ensine os princípios básicos de ecologia, além de fomentar o desejo de aprender sempre mais, com o intuito de auxiliar na preservação do planeta para que seja aproveitado pelas gerações vindouras. Esta pedagogia deve privilegiar o ecocentrismo e percepção sistêmica da vida. Existe um consenso entre os mais importantes teóricos da educação, entre eles Jean Piaget, Maria Montessori e Rudolf Steiner, quanto ao desenvolvimento das funções cognitivas na criança em processo de crescimento, tanto físico quanto mental. Parte desse consenso é o reconhecimento de que um ambiente de aprendizagem rico, multissensorial é essencial para o pleno desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Quanto à educação ambiental propriamente dita, voltada para o pensamento sistêmico, deve haver uma tentativa de incentivar a busca de significados, procurar dar sentido às experiências. Busca de significados é busca de padrões, e essa é a base do pensamento sistêmico, é o que permite a compreensão do todo e a avaliação dos progressos obtidos ou dos objetivos não alcançados. É fundamental procurar relacionar fenômenos físicos e seus desdobramentos, relações de causa e efeito, realizar experiências que exemplifiquem essas relações. E também deve ser destacada a necessidade de novos saberes para apreender processos sociais que se complexificam conforme o crescimento das populações e riscos ambientais que se intensificam de acordo com o desenvolvimento econômico. A educação ambiental deve, desta forma, passar a ter um caráter formativo, em substituição ao tradicional, informativo, que prioriza o acúmulo de informações, sem perceber que a compreensão do todo é que leva ao desenvolvimento e à apreensão do conhecimento, que depende de todo um processo de acúmulo de experiências, de implicações de causa e efeito,além da interiorização de valores ligados à preocupação com o futuro da humanidade e do meio ambiente. Hoje, a interdisciplinaridade peca pela precariedade e pelo simplismo Um conceito essencial a ser trabalhado com os alunos é a cooperação, que virá concomitante ao desenvolvimento do pensamento sistêmico, pois a criança perceberá que a cooperação resulta em maior facilidade e eficiência na busca de objetivos comuns. Assim, será natural chegar a conceitos como ética, moral e valores, compreendendo a importância da formação do comportamento através de valores ambientalmente e socialmente corretos. Os alunos devem aprender a ter preocupação com questões graves, que representem obstáculos para a construção plena da cidadania, ferindo a dignidade das pessoas e diminuindo, assim, seu nível de qualidade de vida, como o uso indiscriminado dos recursos naturais, a competição extremada visando apenas o lucro pessoal, entre outras. Nas sociedades democráticas, as atividades encaminhadas para o desenvolvimento sustentável dependem, em última instância, do surgimento do interesse público, da compreensão e do apoio da população. Isso é decorrência da educação, o que significa que é necessária a criação de um círculo virtuoso, em que a educação promova essa conscientização, que servirá de estímulo para a continuidade do processo educacional, com o envolvimento da população e a consequente difusão da temática da sustentabilidade. Talvez o maior problema encontrado pelas pessoas que promovem o desenvolvimento sustentável consista em convencer não apenas os que se opõem a suas ideias, mas também aqueles que simplesmente “não querem saber”, que representam fatia significativa da população mundial. Em geral, os ambientalistas são considerados “ecochatos”, que estão mais preocupados com o mico- leãodourado e com as samambaias que com a fome e a miséria. O grande desafio é demonstrar que todos os temas estão interligados, e a sobrevivência da humanidade e a possibilidade de uma justiça social dependem inteiramente da conservação da biodiversidade e da preservação do meio ambiente. Assim como a biodiversidade, o respeito à diversidade cultural e ideológica é essencial para que possamos almejar um mundo economicamente sustentável, porquanto só a diversidade de ideias e opiniões, assim como de referências, pode permitir o surgimento de avanços na área do conhecimento. Neste sentido, é fundamental a troca de experiências entre as diferentes correntes de pensamento, provenientes de variadas culturas e lugares do mundo. A consciência ambiental deve ser fundamentada tendo em vista os 5 “E’s”: ecologia, economia, espiritualidade, ética e educação. É imprescindível compreender que estes cinco aspectos estão intrinsecamente ligados, e um não pode se sustentar sem os outros. Devemos pensar esses fatores sistemicamente, percebendo sua inter- relação e as consequências de sua interação. O habitante de um mundo eminentemente capitalista se preocupa, em primeiro lugar, com a economia, que permitirá o avanço tecnológico que terá como efeito um maior conforto pessoal. Mas esse conforto não será completo e sustentável se não for estendido à maioria da população, pois num quadro de injustiça social os menos abastados tendem a se revoltar e impedir que os privilegiados usufruam de seu conforto pessoal, através de revoltas populares ou aumento nos índices de criminalidade, por exemplo. Para que as riquezas produzidas pela economia sejam permanentes, ou pelo menos durem por um longo tempo, é necessário que a ecologia seja respeitada, já que os recursos para que a economia funcione vêm da natureza, e se estes se esgotarem, a economia entrará em crise. O respeito à ecologia está ligado a uma ética ambiental, que norteará os passos dos agentes no sentido de aproveitar ao máximo os recursos, causando o menor impacto negativo possível. Para que essa ética possa ser difundida, aprimorada e consolidada, o meio mais eficaz é a educação. E, por fim, a espiritualidade é um fator que facilita uma introspecção, através da qual a consciência ambiental pode se instalar no ser humano, permitindo uma maior compreensão desta relação entre os vários enfoques que devemos dar ao ambiente em que vivemos. Além das disciplinas teóricas do currículo escolar, as artes também são um instrumento muito eficaz para desenvolver e refinar a capacidade natural de uma criança de reconhecer e expressar padrões. Com elas podemos ensinar o pensamento sistêmico, além de reforçar a dimensão emocional, cada vez mais reconhecida como componente essencial do processo de aprendizagem. Ao propor à criança a realização de uma obra artística, fomentamos uma série de estímulos, tanto visuais como intelectuais, que em conjunto possibilitarão o planejamento de um objeto, e a criança poderá perceber todas as dimensões que compõem o mesmo, assim como os efeitos de seu resultado. A execução de uma horta escolar também é um projeto perfeito para experimentar o pensamento sistêmico e os princípios da ecologia em ação. Com ela, podemos compreender os ciclos biológicos, visualizando como os nutrientes circulam pelo ambiente, passando pelos estágios de plantio, cultivo, colheita, compostagem e reciclagem, e a cada etapa apreender todos os fatores envolvidos, como qualidade e quantidade de terra, adubo e água necessárias, como os limites de cada elemento, e como qualquer um destes componentes pode significar risco à vida, se utilizado em excesso. O enfoque da educação ambiental deve privilegiar problemas locais, de acordo com a máxima “pensar globalmente, agir localmente”, com o intuito de aproximar os educandos de sua realidade, apresentando a eles uma forma de pensar e solucionar seus problemas mais familiares. Nesse sentido, há uma maior possibilidade tanto de interesse por parte dos alunos como de surgirem soluções apropriadas e exequíveis, uma vez que existe uma chance real de o aluno executar uma ação e verificar suas consequências, coisa improvável em caso de questões que envolvam países distantes ou mesmo o mundo inteiro. Segundo o “Levantamento Nacional de Projetos de Educação Ambiental” dos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação e Cultura, apresentado durante a I Conferência Nacional de Educação Ambiental, realizada em Brasília, em setembro de 1997, os temas mais abordados foram locais, enquanto questões metodológicas, avaliação de projetos entre outros temas mais complexos e/ou elaborados foram pouco citados, o que confirma o argumento acima. Ao executar um projeto de educação ambiental, devemos sempre considerar que há envolvimento de interesses, por parte do governo local, das empresas envolvidas e mesmo da comunidade. Estes interesses se mostram comumente conflitivos, principalmente quando se trata de utilização de recursos naturais ou de intervenções que impactem no meio ambiente. Assim, antes da implantação de um projeto nesse sentido, temos de pensar nas estratégias de aplicação das ações educacionais, de forma que atendam à expectativa do público alvo, sem afrontar os interesses das partes envolvidas. Mais à frente, falaremos sobre negociação de conflitos, e essa questão ficará mais clara. Outro ponto muito importante é a complexidade das mensagens. A forma de um projeto educacional deve ser condizente com a realidade do público a que se destina. Não é possível utilizar o mesmo discurso numa sala de aula de pré-primário num bairro de classe média-alta e numa favela. As realidades são muito diferentes, assim como as referências a que as crianças têm acesso. Do mesmo modo, não podemos repetir em uma conferência de empresários a mensagem utilizada com uma associação de bairro ou com um grupo de pescadores. Cada público tem suas próprias referências, de acordo com seu ambiente e suas experiências, e é primordial respeitar essas características. Esse respeito é básicopara que o educador possa ter sucesso no processo de comunicação, que é o início do desenvolvimento educacional. Talvez fosse recomendável fazer uma consulta à população quanto à possibilidade de uma reforma curricular no sentido de priorizar a educação ambiental, repensando toda a estrutura curricular vigente, mas isso só teria efeito satisfatório num cenário em que a população estivesse suficientemente informada a respeito. É ilusório acreditar que em países com baixo nível educacional, como o Brasil, os cidadãos tenham preparo e informação que possibilitem a tomada de decisões a respeito de temas importantes e complexos como a questão da educação ambiental. Em países com essas características, o poder público deve ter consciência e introduzir esta temática nos parâmetros curriculares sem o preciosismo de procurar o referendo do povo. Não se trata de impor autoritariamente um programa de ensino homogeneizador, mas de priorizar questões mais amplas, que demonstrem a importância do pensamento sistêmico, respeitando as peculiaridades de cada grupo social. No Brasil, devido à urgência social, o meio ambiente é sugerido como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ministério da Educação e Cultura, mas trata-se apenas de proposta, os professores não estão obrigados a aceitar, e os temas transversais ainda não são satisfatoriamente valorizados pelo professorado, em parte por causa da falta de formação e informação, em parte pelo comodismo de grande parte dos professores, que preferem continuar com suas aulas tradicionais, que demandam menos trabalho para o preparo, dispendendo, assim, menos tempo e esforço intelectual. Por esses motivos, os governantes devem fomentar o aperfeiçoamento dos professores, oferecendo cursos e bolsas de estudos para que estes estejam sempre em desenvolvimento, tomando contato com as novidades de suas áreas e aprendendo a inovar em suas aulas, além de conhecer novas pessoas e trocar experiências, o que sempre contribui para o autodesenvolvimento e para o crescimento individual, e como consequência, o professor volta para a sala de aula com um novo ânimo para repassar aquilo que aprendeu no curso. Algumas questões que devem ser pensadas pelos educadores ambientais e por seus alunos, e que podem nortear o trabalho educacional no sentido de buscar a participação coletiva: O que cada um entende por educação? O que entende por ser humano? O que entende por cidadania? O que entende por meio ambiente? O que entende por educação ambiental? O que entende por autoconhecimento? O que julga importante para que o ser humano desenvolva a educação ambiental? O que cabe a cada um fazer pela educação ambiental? Atividades práticas devem ser desenvolvidas em paralelo ao ensino teórico, para que haja uma potencialização do aprendizado, pois quando um aluno tem experiências práticas, ocorre um outro nível de compreensão, e isso permite que absorva com maior eficiência e rapidez o que acabou de conhecer. Um bom sinal para a perspectiva de avanços na educação ambiental, e consequente desenvolvimento da conscientização popular, é o fato de, recentemente, muitos órgãos públicos virem desenvolvendo projetos de educação ambiental no Brasil. Além do Estado, várias empresas e escolas estão criando setores e/ou passando a apoiar projetos, surgiram inúmeras ONG’s ambientalistas, multiplicaram- se as iniciativas particulares, alguns financiamentos começam a exigir como contrapartida desenvolvimento de projetos com temática ambiental, e a responsabilidade social e ambiental vem tomando espaço importante dentro das organizações, que percebem que este tipo de atitude pode ser utilizada como propaganda de suas empresas, como consequência do aumento de pessoas preocupadas com este tipo de questão. Um outro aspecto é o crescimento do número de consumidores conscientes, que selecionam os produtos e serviços que irão utilizar de acordo com os selos de responsabilidade social e ambiental. Então, as certificações passam a ter importância no sentido em que o consumidor passa a exigir mudanças na atitude das empresas. “Hoje não seria exagero falar-se em milhares de experiências de educação ambiental em todo o país, atestando a riqueza e diversidade de ações voltadas à proteção do meio ambiente, à melhoria da qualidade de vida, à preservação das espécies e ecossistemas, e à participação dos indivíduos no planejamento e gestão de seus espaços e de seu futuro. (...) Como reforçar estas experiências e a partir delas influenciar na elaboração de políticas públicas?” Além das ações governamentais, entidades privadas também têm se envolvido crescentemente no sentido de incentivar projetos de educação ambiental. A Second Nature, de Boston, por exemplo, é uma organização educacional que colabora com muitas instituições de ensino para tornar a educação para a sustentabilidade parte fundamental na vida universitária. No Brasil, este tipo de incentivo ainda é incipiente, pois as organizações privadas não têm a estrutura necessária para implementar grandes projetos. Entretanto, muitas organizações não governamentais têm se prontificado a dar um suporte aos estudantes, além de realizar projetos em convênios com as universidades. Pensar o ambiente ecologicamente sustentável, atualmente, nos mostra que a “verdade” científica é insuficiente, agora se trata de viver a “aventura do conhecimento”, ou seja, procurar um ousar permanente, que não permita acomodação, que esteja sempre instigando a ampliar e melhorar o conhecimento, já que a natureza e o avanço tecnológico não param de mudar continuamente, e a ciência ambiental deve acompanhar a evolução. É muito importante, quando se estiver pensando a elaboração de um projeto, que anteriormente à apresentação, seja efetuada uma pesquisa, que contenha informação a respeito do projeto, fundamentação técnica, vise um desenvolvimento permanente, preveja aprofundamento durante a execução, além de cruzar temas, o que enriquece o projeto, ao mesmo tempo em que abre a possibilidade de integração com outros projetos, já existentes ou que venham a ser formulados. Existem atualmente diversas correntes do pensamento em educação ambiental, sendo que as principais serão brevemente apresentadas a seguir, ressalvando que não existe uma mais correta que outra, ou mais preocupada com o meio ambiente que as demais. As diferenças de visão são o que anteriormente destacamos como a diversidade de opinião que permite o avanço nas teorias, e que só contribui para a sustentabilidade e o desenvolvimento do pensamento ecológico. Uma das principais correntes é a chamada “conservacionista” que está presente principalmente em países economicamente desenvolvidos, que prioriza a divulgação de impactos ambientais causados pelo atual modelo de desenvolvimento, demonstrando que a utilização excessiva e desenfreada de recursos naturais terá como resultado o colapso dos ecossistemas, e consequentemente dos meios de produção, o que levará à insustentabilidade da economia e à incapacidade da sociedade de se perpetuar. Outra corrente, designada “educação ao ar livre”, é formada principalmente pelos naturalistas, escoteiros, grupos de espeleologia, montanhismo, caminhadas, acampamento etc., e procuram incentivar o turismo ecológico, através do qual acreditam que será possível conscientizar boa parte da população, principalmente os chamados “formadores de opinião”, aqueles que têm condições financeiras de viajar para países distantes, onde os ecossistemas estão bem melhor conservados que em seus países de origem, e retornar passando suas experiências, multiplicando esse novo saber através do fazer cotidiano, individual e social, possibilitando significativas mudanças em seu ambiente, a partir da percepção pessoal. A corrente denominada “gestão ambiental” pauta-se pela resistência a regimes autoritários,embates contra a poluição e as mazelas de um sistema predador do ambiente e do ser humano. Está presente em muitos países do hemisfério Sul, onde é ainda incipiente a conscientização ambiental, países em que é alto o índice de analfabetismo e, consequentemente, baixo o nível de consciência social e ambiental da população. Os adeptos desta corrente visam conscientizar a população do país através de ações locais, e acreditam que as mudanças são possíveis a partir do momento em que haja participação popular, já que a pressão da população é arma importante contra governantes ilegítimos e autoritários, bem como contra empresários mais preocupados em auferir lucros a qualquer custo, sem se preocupar com os riscos ambientais provocados por suas indústrias, mesmo porque geralmente suas matrizes se encontram em países distantes, e caso os recursos se esgotem num lugar, poderão ser buscados em outros países. A última corrente que será aqui apresentada tem duas denominações: “economia ecológica” ou “ecodesenvolvimento”, baseada na geração e difusão de tecnologias alternativas. Esta corrente é formada por grandes empresários e intelectuais conscientes da situação em que se encontra o planeta, e que sabem de seu papel para viabilizar o desenvolvimento sustentável e sociedades sustentáveis. No Brasil, ocorrem algumas dificuldades no processo de desenvolvimento da educação em função das dimensões e diversidade do país, e da falta de tradição de comunicação entre educadores. Isso prejudica a troca de experiências e informações entre as escolas e entidades, que poderiam se aperfeiçoar utilizando experiências alheias. Não se trata de homogeneizar o ensino em todo o país, pois este tipo de educação tende a afastar o interesse do aluno e a se distanciar da realidade local, mas de permitir que, através da troca de informações e experiências, possam surgir novas ideias, que permitirão um melhor aproveitamento do ensino ecológico. A educação ambiental deve ser um instrumento para esse objetivo, evitando ações isoladas, desencontradas, que possam fragilizar as propostas e ações. A seguir, são sugeridos alguns temas e objetivos que devem ser considerados no processo de educação ambiental: Biológicos: proteger, conservar e preservar espécies, ecossistemas e o planeta como um todo; conservar a biodiversidade e o clima; detectar as causas da degradação da natureza, incluindo a espécie humana como parte desta; estabelecer as bases corretas para a conservação e utilização dos recursos naturais. Espirituais/culturais: promover o autoconhecimento e o conhecimento do Universo, através do resgate dos valores, sentimentos e tradições e da reconstrução de referências espaciais e temporais que possibilitem uma nova ética fundamentada em valores como verdade, amor, paz, integridade, confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade sincrônica e diacrônica, iniciativa, cooperação, pluralismo, ética, criatividade, afetividade, resistência, participação, igualdade, espiritualidade, diversidade cultural, felicidade e sabedoria, visão global e holística. Políticos: desenvolver uma cultura de procedimentos democráticos; estimular a cidadania e a participação popular; estimular a formação e aprimoramento de organizações, o diálogo na diversidade e a autogestão política. Econômicos: contribuir para a melhoria da qualidade de vida através da geração de empregos nas atividades “ambientais”, não alienantes e não exploradoras do próximo; caminhar em direção à autogestão de seu trabalho, de seus recursos e de seus conhecimentos, como indivíduos e como grupos/comunidades. Debate entre pontos de vista. Fabio Cascino, ao propor uma reflexão sobre os currículos, levanta com muita propriedade a questão da espiritualidade, da importância da paz tanto interior como exterior para que o ser humano tenha condições de lutar por um mundo mais equilibrado. E afirma que “não lutar por esses romantismos pode significar aceitar a barbárie”, pois a mentalidade competitiva do capitalismo, ao ignorar a importância dos valores espirituais, acaba relegando o bem-estar psicológico das pessoas a um plano inferior. Meio ambiente e sociedade No contexto apresentado, fica claro que o homem é o agente de soluções e realizações, tanto quanto das destruições e degradações do meio ambiente. Assim, depende do próprio ser humano conscientizar-se desse fato e tomar as devidas providências para que seja modificada sua atitude em relação às questões ecológicas, possibilitando a tão almejada sustentabilidade. Ademais, não é possível resolver os problemas do meio ambiente a menos que os problemas sociais e econômicos que assolam a humanidade sejam enfrentados seriamente por toda a sociedade organizada, incluídos aí os governos, as grandes corporações e as organizações não governamentais. É essencial, nesta conjuntura, perceber a importância da cultura e do conhecimento como alimentos do crescimento, da liberdade e do desenvolvimento social; valores como humanismo, fraternidade e respeito devem ser adotados como direitos universais, no intuito de contribuir para uma maior coesão da sociedade, em busca de um mundo mais justo socialmente, em que a economia tenha como objetivo o desenvolvimento de toda a sociedade, e não o enriquecimento de alguns privilegiados. Outro aspecto importante é o respeito à diversidade de culturas e etnias, pois, como visto anteriormente, são as diferenças que permitem o aprendizado e o crescimento, através das trocas de experiências e do surgimento de ideias novas e diferentes. Respeitar culturas e modificá-las na medida do necessário, sempre levando em consideração suas particularidades e seu próprio tempo de mudança, para que não haja alterações profundas em um período curto, o que pode gerar traumas e resistências, além da descaracterização daquela cultura. O respeito aos demais seres vivos também deve ser desenvolvido, compreendendo, ao pensar sistemicamente, o porquê de ser e coexistir na natureza, o que, como visto anteriormente, é imprescindível para a continuidade do equilíbrio ecológico, fundamental para que seja possível um desenvolvimento sustentável. Caso contrário, ocorrendo desequilíbrios significativos, dificilmente o ambiente e seus recursos poderão ser aproveitados no longo prazo, lembrando que é da natureza que provêm as matérias primas e recursos naturais utilizados em nosso dia a dia, sem os quais teríamos de alterar de forma importante os nossos hábitos diários, substituindo os produtos consumidos por outros, nem sempre apropriados para os mesmos fins. Outro modo importante de perenizar os recursos naturais é a reciclagem e utilização consciente de materiais e insumos, como forma de preservação e respeito à vida. À medida que reaproveitamos os resíduos dispensados, deixamos de utilizar uma parcela de recursos naturais, que ficará mais tempo no meio ambiente, podendo ter seu uso adiado, além de reduzir a degradação do ambiente ao diminuir a quantidade de lixo, que poderá ser dispensada posteriormente, após reutilização por mais um período. A sociedade tem um sério problema com a geração de energia, da qual toda a produção industrial e o conforto doméstico dependem. Nesse sentido, é essencial desenvolver formas de energia que sejam sustentáveis, levando em conta que as formas de geração de energia mais utilizadas hoje em dia são, além de rapidamente esgotáveis, extremamente poluentes, o que prejudica em muito a sustentabilidade do planeta. Desenvolvendo alternativas sustentáveis, que poluam em menor escala e que tenham menor risco de se esgotar, estaremos contribuindo para uma melhor qualidade de vida, ao reduzir a poluição atmosférica ao mesmo tempo em que ampliamos a vida útil dos recursos energéticos, e reduzimos os riscos de crises na geração de energia. A comunidade, para que haja
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