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DIREITO PENAL IV


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DIREITO PENAL IV
Prof. Geisa Santana
GRADUAÇÃO - DIREITO
Indicações Bibliográficas:
1 – Curso de Direito Penal - Rogério Grego
2 – Curso de Direito Penal – Guilherme Nucci
3 – Tratado de Direito Penal – Cezar Roberto Bitencourt
4 – Curso de Direito Penal Brasileiro – Luiz Regis Prado
AULA 01
· CRIMES PRATICADOS CONTRA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
· CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Para o estudo dos crimes praticados contra a Administração Pública, se faz necessário responder algumas indagações.
“Qual é o conceito de Administração Pública para fins penais?”
 “Quem pode ser considerado funcionário público para fins penais?”
CONCEITOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E FUNCIONÁRIO PÚBLICO 
· Em decorrência da divisão de poderes, podemos considerar que incumbe ao Poder Executivo, precipuamente, a administração pública, seja federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. 
	A Administração Pública possui dois aspectos: material e formal. 
	O sentido material ou funcional tem por objeto a atividade exercida, classificada em quatro espécies: serviço público, atividade de intervenção, atividade de fomento e polícia administrativa.
	O sentido formal ou subjetivo, por sua vez, tem por foco o órgão e agentes que exercem a atividade administrativa. 
CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA FINS PENAIS
· 	A Administração Pública é regida pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
	Legalidade, aqui, significa que o agente público somente pode atuar de acordo com o que estiver previsto em lei. 
	A impessoalidade denota que a conduta do agente público deva ser voltada ao bem comum, independentemente de seus interesses pessoais e convicções e, portanto, dotada de finalidade legal.
	 A moralidade pública, por sua vez, não se confunde com a noção de moral nas relações de natureza privada e relaciona-se à probidade administrativa, ou seja, pautada nas normas, mas também aos valores éticos estabelecidos para o bem comum.
	Em relação à publicidade, parte-se da premissa de que se o bem comum é a finalidade da atuação administrativa, os atos praticados por ela deverão ser de conhecimento da coletividade. 
	Por fim, o princípio da eficiência, que é extremamente controvertido, uma vez que estabelece que a conduta do agente público deva ser a mais eficiente possível. 
· Quando questionamos os conceitos de Administração Pública, dois deles surgem como relevantes para os nossos estudos: um de natureza constitucional e administrativa e outro específico para fins penais. 
O primeiro diz respeito às funções essenciais para o funcionamento do Estado e tem por premissa a divisão de poderes e o respeito ao Estado Democrático de Direito. 
O segundo, específico para fins penais, é muito mais abrangente, e de acordo com Luiz Regis Prado, caracteriza-se como “toda a atividade funcional do Estado, seja subjetivamente (órgãos instituídos para a concreção de seus fins), seja objetivamente (atividade estatal realizada com fins de satisfação do bem comum)” (PRADO: 2010, p. 387 e 388). 
· 
Logo, nos delitos contra a Administração Pública, o agente público atuando isoladamente ou em unidade de desígnios com pessoas estranhas à Administração Pública atua de forma contrária aos referidos princípios e sua conduta pode ser caracterizada como desvio de poder de modo a lesionar a probidade administrativa, na medida em que o interesse particular se sobrepõe ao interesse público. 
· O Conceito de Funcionário Público para fins penais está no art. 327 do CP:
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
       
	§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. 
    
	§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
 
	
A doutrina entende que aqueles que exercem “múnus público”, não são considerados funcionários públicos. Eles exercem encargo público, a exemplo dos inventariantes judiciais e síndicos (administradores) de massa falida, tutores, curadores dativos.
FUNÇÃO PÚBLICA X MÚNUS PÚBLICO
· . 
	CRIMES FUNCIONAIS – crimes praticados por funcionário público.
		- PRÓPRIOS (PUROS) – ausente a condição de funcionário público, a conduta passa a ser um indiferente penal. Ex.: Prevaricação (art. 319 CP)
		- IMPRÓPRIOS (IMPUROS) – faltando a condição de agente público, a conduta não será um indiferente penal, deixará apenas de ser crime funcional, sendo desclassificado para outro delito. Ex. Peculato-furto (art. 312 § 1º CP) / Furto (art. 155 CP)
 
CRIMES FUNCIONAIS
· 	 ANTES DA LEI 13.869/2019
	O conceito de funcionário público, descrito no art. 327 CP é diferente do conceito de autoridade pública, previsto na Lei nº 4.898/1965.
	A Lei 4.898/65, ao regular os crimes praticados por autoridade pública, bem como as condutas ilícitas extrapenais, reconheceu como autoridade pública, em seu art. 5º, quem exerce função pública, de natureza civil ou militar;
	Diferentemente do conceito previsto no Código Penal, que compreende tão somente a função de natureza civil. 
	
FUNCIONÁRIO PÚBLICO X AUTORIDADE PÚBLICA
· 	 APÓS LEI 13.869/2019
	 Art. 2º  É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único.  Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.
· 
O questionamento acerca da incidência do princípio da insignificância visa, em última análise, à exclusão da responsabilidade jurídico-penal mediante o reconhecimento da exclusão da tipicidade da conduta. 
Para a aplicação do princípio da insignificância, consoante o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é indispensável o preenchimento de determinados requisitos: 
	(a) mínima ofensividade da conduta do agente; 
	(b) nenhuma periculosidade social da ação; 
	(c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e 
	(d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES CONTRA A ADM. PÚBLICA
· 
No que concerne aos crimes contra a Administração Pública, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que não há que se cogitar a incidência do referido princípio para fins de exclusão da tipicidade da conduta, ainda que em alguns casos sejam atendidos os requisitos afetos à lesão patrimonial, pois, segundo o melhor entendimento, busca-se tutelar não apenas o erário (patrimônio) público, mas, principalmente, a moralidade e a probidade da Administração Pública no exercício de suas funções.
* Atenção -  Súmula 599 STJ e Crime de Descaminho 
	Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido da possibilidade da aplicação do referido princípio (Habeas Corpus 112.388/SP; 107.638/PE; 107.370/SP; 104.286/SP; 92.634/PE).
· CRIMES EM ESPÉCIE - PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
· CONCURSO DE PESSOAS E A APLICABILIDADE DO ART. 30 CP
Para os crimes praticados contra a Administração Pública, é essencialque o núcleo do tipo seja realizado por algum funcionário no pleno exercício funcional. 
São crimes que admitem o concurso de agentes, coautoria e/ou participação, ainda que particular (crime próprio). Ressalvando-se quando a infração for de mão própria (ou atuação pessoal).
Logo, se qualquer pessoa, tiver a intenção de praticar um crime funcional, desde que tenha conhecimento da circunstância e aproveitar-se da condição do outro por ser funcionário público, ambos responderão por um dos tipos previstos no capítulo.
Aplica-se a regra prevista no art. 30, do Código Penal: 
	“não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”.
Entretanto, se pessoa estranha à função pública, desconhecer a qualidade subjetiva de outrem, haverá exceção pluralística à teoria monista e o funcionário responderá por crime funcional e o particular pela conduta criminosa que se enquadrar sua ação, não sendo imputada a mesma infração penal no tocante à culpabilidade. Ressalta-se que excepcionalmente a teoria pluralista é adotada no Direito Penal brasileiro.
· CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
	Está previsto no § 2º do art. 327 do CP, uma majorante (causa de aumento de pena), caso o funcionário seja ocupante de cargo em comissão ou função de Direção e Assessoramento na administração pública.
* Não incluiu as autarquias – desta forma a majorante não se aplica aos funcionários destas entidades.
* Maioria da doutrina e STF – entendem que a majorante também é aplicada aos agentes políticos, detentores de cargo eletivo (prefeitos, governadores, etc.) por entender que se trata de uma interpretação lógica do artigo. (Inq. 1769-PA)
· PECULATO
	
O Peculato pode ser praticado de diversas maneiras: 
	a) Peculato-apropriação e Peculato-desvio (art. 312 CP)
	b) Peculato-furto (art. 312 § 1ºCP)
	c) Peculato-culposo (art. 312 § 3º CP)
	d) Peculato mediante erro de outrem (art. 313 CP)
	Art. 312 – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
	Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Por ser um crime funcional, é necessário que o agente seja funcionário público. Trata-se, portanto, de crime próprio (pois se exige do sujeito ativo uma qualidade especial). Nada impede, todavia, que haja concurso de pessoas com um particular, desde que este saiba da condição de funcionário público do agente.
EXEMPLO: José, servidor público, solicita auxílio de Maria, sua esposa, para se apropriar de bens públicos dos quais tem a posse em razão do cargo. 
Neste caso, ambos responderão pelo crime de peculato, pois a condição de servidor público de José irá se comunicar com sua comparsa, Maria.
O dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel apropriado ou desviado pode ser público ou particular, desde que o agente tenha a posse em razão da função.
O sujeito passivo será sempre o Estado, embora possa ser também o particular, caso se trate de bem particular o objeto material do crime.
PECULATO-FURTO
O peculato-furto (também chamado de peculato impróprio) caracteriza-se não pela apropriação ou desvio de um bem que fora confiado ao agente em razão do cargo, mas pela subtração de um bem que estava sob guarda da administração, mas do qual o agente não tinha a posse.
	
· Art. 312 (…) 
	§ 1º – Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Neste crime o agente não possui a posse do bem, praticando verdadeiro furto, que, em razão das circunstâncias (ser o agente funcionário público e valer-se desta condição para subtrair o bem), caracteriza-se como o crime de peculato-furto.
	
· PECULATO-CULPOSO
	Art. 312 (…)
	 § 2º – Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
	Pena – detenção, de três meses a um ano.
Essa modalidade culposa se verifica quando o agente, sem ter a intenção de participar do crime praticado por outra pessoa, acaba, em razão do seu descuido, colaborando para isso. 
· EXEMPLO: José, funcionário público, ao final do expediente, deixa o notebook pertencente ao órgão sobre a mesa, e não tranca a porta.
	 Paulo, outro funcionário, que trabalha no mesmo órgão, se aproveita da facilidade encontrada (porta aberta) e subtrai o notebook. 
	Neste caso, Paulo praticou o crime de peculato-furto, e José responderá pelo crime de peculato culposo.
· O CP, em seu art. 312, §3º, estabelece ainda que, no caso do crime culposo, se o agente reparar o dano antes de proferida a sentença irrecorrível, estará extinta a punibilidade (o Estado não mais poderá punir o infrator). 
Caso o agente repare o dano após a sentença irrecorrível, a pena será reduzida pela metade.
ATENÇÃO! O peculato culposo é o único crime culposo dentre os crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral (arts. 312 a 327 do CP).
· CONCUSSÃO
	Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
	Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Trata-se também de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público. No entanto, é plenamente possível o concurso de pessoas, respondendo também o particular pelo crime, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente.
· 	ATENÇÃO! O crime pode ser praticado ainda que o agente esteja fora da função (ex.: licenciado, afastado, de férias, etc.) ou até mesmo antes de assumi-la (ex.: já foi empossado, mas ainda não entrou em exercício), mas desde que a conduta se dê em razão da função.
A conduta tipificada é a de exigir vantagem indevida em razão da função. Vejam que o agente não pode, simplesmente, pedir ou solicitar vantagem indevida. A Lei determina que deve haver uma “exigência” de vantagem indevida.  Assim, deve o agente possuir o poder de fazer cumprir o mal que ameaça realizar em caso de não recebimento da vantagem exigida.
· 	CUIDADO! Entende-se que a “grave ameaça” não é elemento deste delito. Assim, se o agente exige R$ 10.000,00 da vítima, sob a ameaça de matar seu filho, estará praticando, na verdade, o delito de extorsão. 
	A concussão só resta caracterizada quando o agente intimida a vítima amparado nos poderes inerentes ao seu cargo. Ex.: Policial Rodoviário exige R$ 1.000,00 da vítima, alegando que se não receber o dinheiro irá lavrar uma multa contra ela. 
· 	O crime só é punível na forma dolosa, não havendo forma culposa.
	Consuma-se o referido delito no momento em que o agente efetivamente pratica a conduta de exigir a vantagem indevida, pouco importando se chega a recebê-la.  
	Assim, trata-se de crime formal, não se exigindo a ocorrência do resultado naturalístico, que é considerado mero exaurimento do delito (etapa posterior ao delito e que não tem relevância para a consumação).
· EXCESSO DE EXAÇÃO
Art. 316 (...)
	§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:        
        Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.         
        § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
        Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
· 	O crime e excesso de exação, prevê uma espécie de concussão, só que específica em relação à exigência de tributo ou contribuição social indevida.
	O CP exige que o agente saiba que está cobrando tributo ou contribuição social indevida, ou, ainda, que este ao menos deva saber que é indevida.
	Estabelece também como conduta punível, exigir o tributo ou contribuição social devida, mas mediante utilização de meio de cobrança vexatório ou gravoso, não autorizado por lei. 
· 	Admite-se a tentativa,sempre que a conduta puder ser fracionada em mais de um ato. Por exemplo, como na exigência indevida por escrito. 
	O § 2º estabelece uma qualificadora, no caso do agente que, além de exigir indevidamente o tributo ou contribuição social, desviá-lo dos cofres da administração pública, em proveito próprio ou de terceiros. 
· CORRUPÇÃO PASSIVA
	Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
	Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
§ 1º – A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
· 	Da mesma forma que na concussão, trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público. 
	No entanto, é plenamente possível o concurso de pessoas, respondendo também o particular pelo crime, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente.
ATENÇÃO! Da mesma forma que na concussão, o crime pode ser praticado ainda que o agente esteja fora da função (ex.: licenciado, afastado, de férias, etc.) ou até mesmo antes de assumi-la (ex.: já foi empossado, mas ainda não entrou em exercício), mas desde que a conduta se dê em razão da função.
	
A conduta tipificada é a de solicitar, receber ou aceitar promessa do recebimento de vantagem indevida. 
	
	Aqui, portanto, o agente não exige a vantagem indevida, mas solicita a vantagem, recebe a vantagem ou apenas aceita promessa de vantagem indevida.
· 		Nas modalidades de “aceitar promessa de vantagem indevida” e “solicitar vantagem indevida” trata-se de crime formal, pois não se exige o efetivo recebimento da vantagem para a consumação do crime. 
	Na modalidade de “receber vantagem indevida”, o crime é material, exigindo-se o efetivo recebimento da vantagem.
	 Em todos esses casos não se exige que o funcionário público efetivamente pratique ou deixe de praticar o ato em razão da vantagem ou promessa de vantagem recebida. Porém, se tal ocorrer, incidirá a causa de aumento de pena prevista no § 1° do art. 317, aumentando-se a pena em 1/3. 
· 	Por fim, temos ainda uma forma “privilegiada” do crime. 
	É a hipótese do “favor”, aquela conduta do funcionário que cede a pedidos de amigos, conhecidos ou mesmo de estranhos, para que faça ou deixe de fazer algo ao qual estava obrigado, sem que vise ao recebimento de qualquer vantagem ou à satisfação de interesse próprio. 
· 	Art. 317 (…) 
	§ 2º – Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
	Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
	Aqui, portanto, o agente público apenas cede a pedido ou influência de alguém, sem visar a obtenção de vantagem indevida.
AULA 02
CRIMES PRATICADOS CONTRA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO II
FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO 
			Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334/334-A):
        		Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.  
Aqui se pune a conduta do agente que deveria evitar a prática do contrabando ou descaminho, mas não o faz, facilitando-a.
CRIMES EM ESPÉCIE - PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
	Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público, exigindo-se, ainda, que seja o funcionário público que tinha o dever funcional de evitar a prática do contrabando ou descaminho.  
Exceção à Teoria Monista – Art. 29 CP
Funcionário Público – responde pelo art. 318 CP
Particular – responde pelo art. 334 ou 334-A CP
	Se, o funcionário público que facilitar a prática do contrabando ou descaminho não tiver a obrigação de evitá-la, responde como partícipe do crime praticado pelo particular, e não pelo crime do art. 318 do CP.
ATENÇÃO! … É possível o concurso de pessoas, respondendo também o particular (ou funcionário público que não tenha o dever de evitar o crime) pelo crime do art. 318, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente.
	Consuma-se com a efetiva facilitação para o crime, ainda que este último (contrabando ou descaminho) não venha a se consumar. 
	 Admite-se a tentativa quando a conduta do agente na facilitação for ativa (ação), pois se pode fracionar a execução do crime em vários atos. 
PREVARICAÇÃO
	Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
        Art. 319-A.  Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:       
        Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
	Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público. 
	É possível o concurso de pessoas, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente. 	
	A conduta é retardar ou deixar de praticar ato de ofício, ou, ainda, praticá-lo contra disposição expressa da lei. 
	Consuma-se com a efetiva realização da conduta. 
	
	Admite-se a tentativa quando a conduta do agente puder ser fracionada, como na hipótese de praticá-lo contra disposição expressa da lei.
	 Na hipótese, por exemplo, de deixar de praticar, por não poder se fracionar a conduta, não cabe a tentativa. 
 CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA X PREVARICAÇÃO
 (Favorzinho Gratuito) (Satisfação de Interesse Próprio)
Este crime não deve ser confundido com a corrupção passiva privilegiada, na qual o agente deixa de praticar ato de ofício ou pratica ato indevido atendendo a pedido de terceiros. 
Aqui, o agente faz por conta próprio, para satisfazer interesse próprio. 
 	Existe, ainda, uma modalidade específica de prevaricação - art. 319-A, inserido recentemente pela Lei 11.466/07.
	Nessa hipótese, o crime não é o de prevaricação comum, mas sim a espécie própria de prevaricação - chamada pela Doutrina de prevaricação imprópria.
	Diferentemente da prevaricação comum (ou própria), não se exige dolo específico (finalidade especial de agir). 
Atenção! 
	A Doutrina não admite, ainda, a tentativa nesta hipótese, pois a lei prevê apenas uma conduta omissiva própria, não havendo possibilidade de fracionamento da conduta. 
 	
	Também não se deve confundir o crime de prevaricação com o crime de condescendência criminosa – art. 320 CP.
 
	Nesse crime, o agente também deixa de fazer algo a que estava obrigado em razão da função, mas o faz por indulgência (sentimento de pena, de comiseração). 
CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA 	
	Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: 
	Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 
	 
		Se o chefe deixa de responsabilizar o subordinado por outro motivo que não seja a indulgência (medo, frouxidão, negligência, pouco caso, etc.), o crime pode ser o de prevaricação ou o de corrupção passiva privilegiada, a depender do caso. 
	
	O tipo penal exige que o agente seja hierarquicamente superior ao outro funcionário , aquele que cometeu a falta funcional. 
	
		Existe certa divergência doutrinária quanto a isso, mas a posição predominante é de que, de fato, o agente deve ser hierarquicamente superior. 
	É impossível a tentativa no crime de condescendência criminosa, pois se trata de crime omissivo puro. 
CRIMES EM ESPÉCIE - PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
ADVOCACIA ADMINISTRATIVA
	Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesseprivado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:
       	 Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
        
	Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
       	 Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
CRIMES EM ESPÉCIE - PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
	Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público. 
	É possível o concurso de pessoas, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente.
	A conduta é patrocinar interesse privado perante a administração pública. 	O agente deve se valer das facilidades que a sua condição de funcionário público lhe proporciona.
	 Entende-se, ainda, que o agente deve praticar a conduta em prol de um terceiro.
	
	Consuma-se com a efetiva realização da conduta. 
	
	Admite-se a tentativa quando a conduta do agente puder ser fracionada, como na hipótese da prática da conduta mediante correspondência ou outro ato escrito que não tenha chegado ao conhecimento do destinatário. 
No entanto, alguns entendem que nesse caso o crime foi consumado. 
	
	A lei prevê - § único - ainda, uma espécie de qualificadora, ao estabelecer que, se o interesse patrocinado não é legítimo, a pena será mais grave. 
Interesse legítimo - Crime de advocacia administrativa na forma simples 
Interesse ilegítimo - Crime de advocacia administrativa na forma qualificada. 
ABANDONO DE FUNÇÃO
	  Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
       	 Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
       
 	§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
       	 Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
      
  	§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
        	Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
CRIMES EM ESPÉCIE - PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
	Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público. 
	Aqui a Doutrina entende que o conceito de funcionário público é restrito , só podendo ser praticado este crime pelo ocupante de cargo público.
	 É plenamente possível o concurso de pessoas, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente.
	A conduta é abandonar o cargo. 
	A definição do que seria abandono do cargo (por quantos dias, em que situações, etc.), dever ser extraída do estatuto ao qual o servidor esteja vinculado. 
	No entanto, a Doutrina entende que o exercício do direito de Greve não pode ensejar este crime. 
	Parte da Doutrina entende, ainda, que pode ocorrer o abandono se o servidor, ainda que compareça à repartição, se recuse a trabalhar. 
	 O CP estabeleceu, ainda, duas qualificadoras, previstas nos §§ 1° e 2°, quando do fato resultar algum prejuízo à administração pública e quando o fato ocorrer em faixa de fronteira: 
	§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
	 Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
	§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: 
	Pena - detenção, de um a três anos, e multa. 
Entende-se por faixa de fronteira a extensão de 150 km de largura ao longo das fronteiras terrestres, nos termos do art. 20, § 2° da Constituição. 
EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO
	Aqui, trata-se de hipótese na qual o agente está para se tornar servidor público, ou já deixou de sê-lo, e mesmo assim exerce as funções às quais está impedido de exercer, seja porque ainda não tomou posse, seja porque já foi desligado do serviço público. 
	Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: 
	Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 
	Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público. Contudo, é bom frisar que na modalidade de exercício ilegalmente antecipado antes da posse (mas depois da nomeação) e na modalidade de exercício prolongado após exoneração (ou demissão), o sujeito não é mais funcionário público, embora esteja direta ou indiretamente ligado à administração.
 Se o agente não possui qualquer vínculo, comete o crime de usurpação de função pública, previsto no art. 328 do CP. É plenamente possível o concurso de pessoas, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente. 
VIOLAÇÃO DE SIGILO PROFISSIONAL
	Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
	 Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. 
	Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário público que possua o dever de manter a informação em sigilo.
	É plenamente possível o concurso de pessoas, desde que este particular tenha conhecimento da condição de funcionário público do agente 
	A conduta é revelar ou facilitar a revelação de fato sigiloso que o agente tenha tomado conhecimento em razão do cargo. 
	É indiferente se o fato é revelado a um particular ou a outro servidor público. 	É imprescindível, porém, que o fato tenha sido levado ao conhecimento do agente em razão da sua função pública. 
	Se a revelação do segredo se der em relação à operação ou serviço prestado por instituição financeira, estaremos diante de crime contra o sistema financeiro nacional, previsto no art. 18 da Lei 7.492/864. 
FUNCIONÁRIO PÚBLICO
        Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
        § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.      
        § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.  
AULA 03
· CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
· CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR – PARTE I
· 	Estes crimes, são crimes que possuem a administração pública como sujeito passivo, sempre, podendo haver, ainda, casos em que, eventualmente, algum particular também seja sujeito passivo do crime.
	Aqui, os crimes são comuns, ou seja, podem ser praticados par qualquer pessoa.
CRIMES EM ESPÉCIE - PRATICADOS POR PARTICULAR
· USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA
 	Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
        	Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
        
	Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
        	Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
· 	Aqui, diferentemente do que ocorre no crime de exercício funcional ilegal, o agente não possui qualquer vínculo com a administração pública ou, caso possua, suas funções são absolutamente estranhas à função usurpada. 
Atenção! O funcionário púlico que exerce função no qual não fora investido comete este crime, pois nesse caso é considerado particular, já que a conduta não guarda qualquer relação com sua função pública.
	É necessário que o agente pratique atos inerentes à função. 
	Não basta que apenas se apresente a terceiros como funcionário público.
	A consumação se dá quando o agente pratica qualquer ato inerente à função, e a tentativa é plenamente possível, uma vez que se pode fracionar o iter criminis do delito.
· O § único estabelece, ainda, uma forma qualificada do delito:
	Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem : 
	Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
	A Doutrina entende que esta “vantagem” pode ser de qualquer
natureza, não necessariamente uma vantagem financeira, podendo ser, inclusive, um favor sexual, etc.
· RESISTÊNCIA
	Art. 329 - Opor-seà execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
        Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
        § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
        Pena - reclusão, de um a três anos.
        § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
· 	A conduta punida é a resistência comissiva (ação) , ou seja, aquela na qual o agente pratica uma conduta, qual seja, o emprego de violência ou ameaça ao funcionário que irá executar o ato legal.
	Entende-se, ainda, que essa violência deve ser contra o funcionário público, não contra coisas (chutar a viatura da polícia, por exemplo).
	Aquele que resiste à prisão em razão de estar sendo preso em flagrante por crime que exige a violência ou grave ameaça para sua caracterização, não responde por este crime, considerando-se a violência aqui empregada como mero desdobramento do crime principal (posição Doutrinária). 
· 	O ato deve ser legal, ou seja, deve estar fundamentado na Lei ou em decisão judicial. Assim, a decisão judicial injusta pode ser ato legal. 
	Não pode o particular se rebelar contra ela desta maneira, pois o meio próprio para isso é a via recursal. Entretanto, se a prisão, por exemplo, decorre de uma sentença que não a determinou, ou a determinou em face de outra pessoa, o ato de prisão é ilegal, e a resistência está amparada por uma causa de exclusão da ilicitude (ou da tipicidade, para alguns).
· 	E se o particular resistir à prisão em flagrante executada por um particular (atitude permitida pelo art. 301 do CPP)? 
	Nesse caso, não pratica o crime em questão, pois o particular não é considerado funcionário público, não podendo ser realizada analogia in malam partem. 
· 	A tentativa sempre será possível quando a resistência puder se dar mediante fracionamento da conduta. E o caso da resistência mediante ameaça via carta.
Se o ato não é executado, há a figura do crime qualificado, nos termos do § 1º:
	§ 1º - Se o ato, em razõo da resistência, não se executa : 
	Pena - reclusão, de um a três anos.
· 	Além disso, o agente responde não só pelo crime de resistência, mas responde de maneira autônoma pela violência ou ameaça:
	§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
· DESOBEDIÊNCIA
	Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
        	Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Aqui o agente deixa de fazer algo que Ihe fora determinado ou faz algo cuja abstenção lhe fora imposta mediante ordem de funcionário público competente. Trata-se, portanto, de crime omissivo ou comissivo, a depender da conduta do agente.
· 	Esse crime não se configura quando o réu desobedece a ordem que possa Ihe incriminar, pois não está obrigado a contribuir para sua incriminação.”
	A tentativa só será admitida nas hipóteses de desobediência mediante atitude comissiva (ação).
	Diversas Leis Especiais preveem tipos penais que criminalizam condutas especÍficas de desobediência. Nesses casos, aplica-se a legislação especial, aplicando-se este artigo do CP apenas quando não houver lei específica tipificando a conduta.
· DESACATO
	Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
        Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
É inegável que haverá o crime quando o desacato partir de um particular. 
Mas e se quem cometer o desacato for funcionário público? Três correntes existem:
· 1 - Não é possível — A lei determina que somente o extraneus (particular) pode cometer este delito, pois ele se encontra no capítulo dos crimes praticados por particular;
2 - É possível, desde que o funcionário desacate seu superior hierárquico — Para esta corrente, se entre os funcionários não há relação hierárquica, não há o crime em questão;
3 - É possível, em qualquer caso — Essa é a predominante, e entende que o funcionário público que desacata outro funcionário público, é, neste momento, apenas mais um particular, devendo responder pelo crime. Exige-se, apenas, que o infrator não esteja no exercício de suas funções. 
· 	O conceito de “desacatar” pode ser definido como a falta de respeito, a humilhação, com gestos ou palavras, vias de fato, até mesmo agressões físicas, etc.
	Entretanto, isto não significa que a mera crítica ao exercício da função pelo servidor seja considerada desacato, desde que seja realiza de maneira condizente com os padrões de respeito e urbanidade.
· Não se exige que o funcionário esteja na repartição ou no horário de trabalho, mas sim que o desacato ocorra em razão da função exercida pelo servidor.
EXEMPLO: Se o particular desacata um Delegado de Polícia no domingo à tarde, quando este estava na praia, em razão de ter sido preso por ele meses antes, pratica o crime de desacato. 
No entanto, se um particular ofende o mesmo Delegado, dentro da Delegacia, no horário do expediente, mas em razão de uma rixa particular (venda de um carro defeituoso, por exemplo), não há desacato, pois a ofensa se dirige ao homem, à pessoa, e não à figura do funcionário público, podendo ser o agente responsabilizado pelo crime de injúria.
	Parte da Doutrina entende que o agente deve ter a intenção de ofender a administração pública e a honra subjetiva do funcionário, e que esta intenção não se coaduna com estado de exaltação ou ânimo.
	 No entanto, para a maioria da Doutrina e da Jurisprudência, o fato de o agente estar exaltado ou irritado não descaracteriza o crime.
· Considera-se o crime formal, pois basta que a ofensa exista, ainda que o resultado não ocorra (ainda que o funcionário público não se sinta ofendido ou menosprezado pela conduta).
Quanto à tentativa, há divergência. 
Parte entende incabível pois, exigindo-se que o funcionário público esteja presente no momento do desacato, é inviável a tentativa, por se tratar de crime unissubsistente (praticado mediante um único ato). 
· Outra parcela entende cabível a tentativa, embora de difícil caracterização.
	Por fim, exige-se que o ato seja praticado na presença do funcionário público”. Além disso, entende-se que se o ofendido já não é mais funcionário público (demitido, aposentado, etc.), o crime de desacato não se caracteriza, ainda que praticado em razão da função anteriormente exercida pelo funcionário.”
· Há decisão do STJ reconhecendo a descriminalização do crime de desacato. 
Isso mesmo. 
Sustentou o STJ, nessa decisão, que a criminalização da conduta de desacato atenta contra o art. 13 do Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos), ao colocar os funcionários públicos em posição superior à dos demais cidadãos no que toca à crítica à sua atuação funcional.
· Assim, para a Quinta Turma do STJ, a criminalização do desacato é uma afronta à liberdade de expressão e pensamento. 
Isso não autoriza, contudo, que sejam proferidas agressões verbais ao funcionário público, o que pode caracterizar outros delitos (como o crime de injúria, por exemplo).
Esta, porém, é uma decisão que ainda não representa uma posição consolidada da Corte. Inclusive, sequer foi decisão tomada pelo Plenário. Assim, não podemos considerar, a inda, como “jurisprudência do STJ”.
AULA 04
· CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
· CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR – PARTE II
· TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
 	Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: 
        Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
        Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. 
       
Esta é a conduta do “malandro" que pretende obter vantagem em face de um particular, sobo argumento de que poderá influenciar na prática de determinado ato por um servidor público. 
	E uma espécie de “estelionato”, pois o agente promete usar uma influência que não possui.
A Doutrina entende que o particular que paga ao agente para a suposta intermediação NÃO É SUJEITO ATIVO, mas sujeito PASSIVO do delito, pois, embora sua conduta seja imoral, não é penalmente relevante, tendo sido ele também lesado pela conduta do agente, que o enganou.
· Na verdade, entende-se que aquele que paga pelo suposto tráfico de influência é um corruptor putativo, pois imagina que está corrompendo a administração pública, no entanto, essa possibilidade não existe, face à ausência de influência do agente que recebe a vantagem.
	Se a influência do agente for REAL, tanto ele quanto aquele que
paga por esta são considerados CORRUPTORES ATIVOS (art. 333 do CP).
· 	O crime se consuma quando o agente solicita, cobra ou exige a vantagem do terceiro.
	Assim, a obtenção da vantagem é mero exaurimento, sendo dispensável para a consumação do crime. 
	
	No entanto, parte da Doutrina entende que, por haver no núcleo do tipo também o verbo “obter", nessa última modalidade, o crime seria material."
· 
	Se, por fim, o agente diz que parte da vantagem se destina ao funcionário público que deverá praticar o ato, em razão dessa conduta contribuir ainda mais para o descrédito da moralidade administrativa, sua pena é aumentada, nos termos do § único do artigo 332 do CP. 
· 	Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da funçào : 
	Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
	Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. 
· CORRUPÇÃO ATIVA
 	  Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
        Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
· Este crime pode ser cometido de duas formas diferentes (é, portanto, crime de ação múltipla): OFERECER OU PROMETER vantagem indevida a funcionório público.
O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se que o agente possua a finalidade especial de agir consistente no objetivo de fazer com que, mediante a vantagem oferecida ou prometida, o funcionário público aja de tal ou qual maneira.
· Aqui, não se pune a corrupção subsequente. 
O que seria isto? 
	Vejam que - se exige que a promessa ou oferecimento seja anterior à prática do ato - não havendo o crime se o ato já fora praticado pelo funcionório público.
	Note-se que a existência da corrupção ativa independe da passiva, e vice-versa. 
	Assim, pode acontecer de o agente oferecer ou prometer a vantagem e funcionório não a aceitar. Neste caso, haverá apenas corrupção ativa.
      
· ATENÇÃO!
	Se o funcionário público solicita a vantagem indevida e o particular a fornece (paga uma quantia, por exemplo), o partícular NÃO comete o crime de corrupção ativa, eis que o tipo somente prevê os verbos de OFERECER e PROMETER vantagem indevida, que pressupõem que o particular tome a iniciativa.
       
· A Doutrina entende que o mero pedido de favor, o famoso “jeitinho”, não configura o crime de corrupção ativa.
O § único estabelece, ainda, que se em razão da vantagem oferecida ou prometida o funcionário público age da maneira que não deveria, a pena é aumentada:
	Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
· Existe, ainda, a figura da corrupção ativa em transação comercial, à qual se aplicam as mesmas regras, inclusive no que tange à causa de aumento de pena. Está prevista no art. 337-B do CP, e seu § único:
Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. 
· Por fim, existe uma última modalidade de corrupção ativa especial prevista no CP, que é a corrupção ativa de testemunha, perito, tradutor, contador ou intérprete, que é um crime contra a administração da Justiça.
	Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação : 
	Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
	Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. 
· Nesse caso, a única diferença em relação ao crime de corrupção ativa comum é que a causa de aumento da pena ocorre não quando o funcionório público age da maneira que não deveria, mas quando a corrupção ocorre no bojo de processo em que seja parte a administração pública direta ou indireta.
 
· DESCAMINHO
 	Art. 334.  Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
	Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
	§ 1o  Incorre na mesma pena quem:  
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;  
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;  
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;        
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.  
§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.  
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.  
· CONTRABANDO
	Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: 
	Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.  
	§ 1o Incorre na mesma pena quem:  
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; 
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente;  
· III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;  
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; 
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.  
	§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.  
	§ 3o A pena aplica-seem dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. 
 Existem, aqui, dois crimes distintos, cada um correspondente a um TIPO PENAL distinto. 
	A figura do descaminho ocorre quando o agente ilude, no todo em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, saída ou consumo da mercadoria.
	O segundo crime é a conduta de importar ou exportar mercadoria proibida. Esta é a conduta do CONTRABANDO.
     No caso do contrabando, a mercadoria é ilícita, ou seja, a sua importação ou exportação, por si só, é vedada. 
	No caso do descaminho, a importação, exportação ou consumo não são ilícitos. 
	O que se pune, no descaminho, é a burla ao sistema tributário.
· Entretanto, estas são figuras típicas genéricas. 
	Assim, o contrabando de substância entorpecente configura hipótese específica de contrabando, prevista no art. 40, I da Lei 11.343/05 (Tráfico internacional de Drogas). 
	Havendo lei específica, aplica-se esta, e não o CP.
· Ambos são crimes comuns (descaminho e contrabando) , ou seja, podem ser praticados por qualquer pessoa. 
	Se algum funcionário público, valendo-se da função, concorrer para a prática do delito, não responde por este, mas pelo crime do art. 318 do CP (facilitação de contrabando ou descaminho), em verdadeira exceção à teoria monísta do concurso de pessoas.
· 	O STF possui algumas decisões no sentido de que a mera omissão em declaração ao fisco, acerca da quantidade de mercadoria, configura o crime de descaminho.
	A consumação de cada um dos delitos ocorre em momento diferente. 
	O contrabando se consuma quando a mercadoria ilícita ultrapassa a barreira alfandegória, sendo liberada pelas autoridades. Se o crime é praticado por via clandestina, exige-se, somente, que o agente ultrapasse a fronteira do país.
· O descaminho, por sua vez, irá se consumar com a liberação na alfândega, sem o pagamento dos impostos devidos. Trata-se de crime FORMAL.
	Admite-se a tentativa em ambos os crimes.
· 	Em relação ao DESCAMINHO, a Jurisprudência entende, ainda, que em se tratando de prejuízo inferior a ao patamar estabelecido pela Fazenda Nacional como irrelevante para fins de execução fiscal, temos hipótese de aplicação do PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA de forma a afastar a tipicidade do fato, ou seja, o fato seria atípico (por ausência de lesividade social apta a justificar a tutela penal), já que por esse valor a Fazenda sequer promove a execução fiscal, de modo que não faz	sentido aplicar o Direito Penal se não se aplica o Direito Administrativo.
AULA 05
· CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
· CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA
 	Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: 
        Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
        Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. 
Busca-se tutelar o regular desenvolvimento das atividades POLICIAIS E ADMINISTRATIVAS (correlatas à Justiça), de forma a não serem prejudicadas por indivíduos que pretendem “avacalhar” o sistema, por motivos egoísticos (só para prejudicar alguém). 
	Protege-se, subsidiariamente, a honra da pessoa ofendida.
EO agente responde só pelo último (DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA), pois ele absolve o crime de calúnia.
	É necessário que haja a efetiva prática de algum ato pela autoridade, ou seja, é necessário que ela adote alguma providência, ainda que não instaure o inquérito policial ou qualquer outro procedimento.
     ntão o agente responde por calúnia e por denunciação caluniosa? Não!
A Doutrina majoritária entende que no caso de se tratar de crime de ação penal privada, ou pública condicionada, somente a própria “vítima” poderia praticar o crime, eis que sua manifestação seria indispensável ao início das investigações.
	 Isso deve ser analisado com cuidado, pois a conduta típica não se dirige somente a atividades policiais, mas também administrativas. 
	No mais, é pacífico que, como regra, se trata de CRIME COMUM.
A consumação é CONTROVERTIDA.
 	Doutrina minoritária entende que é necessária a instauração do Inquérito Policial. 
	A Doutrina majoritária entende que o crime se consuma quando a autoridade toma alguma providência, ainda que não instaure o Inquérito. 
	Na Jurisprudência, o entendimento é o mesmo.
     Mas, e no caso de dar causa à instauração de processo penal?
	 É necessário que o agente SAIBA que o denunciado é inocente, não bastando que ele tenha dúvidas (até porque o processo serve para esclarecer fatos obscuros). 
	O crime, nesse caso, se consuma com o RECEBIMENTO DA AÇÃO PENAL (que pode ser a ofertada pelo membro do MP ou pelo particular ofendido).
Também se insere na conduta proibida, provocar a instauração de investigação administrativa e inquérito civil. 
	A investigação administrativa é o procedimento administrativo mediante o qual a administração busca reunir informações acerca de fato que possa gerar punição ao servidor. 
	Neste caso, o fato, além de poder gerar punição ao servidor, deve ser CRIME. Assim, se o denunciante dá causa à instauração de investigação administrativa imputando falsamente a alguém a Mas, e o que seria o Inquérito Civil?
	É uma modalidade investigativa, que fica a cargo do MP, e é instaurado para angariar informações a fim de subsidiar futura Ação Civil Pública. 
	Nesse caso, como a ação civil pública pode versar sobre fatos que constituam, ou não, crime, deve-se analisar, no caso concreto, se o fato imputado é crime.
	Da mesma forma, pune-se a conduta do agente que dá causa à instauração de ação de improbidade administrativa contra alguémprática de infração funcional que não é crime, não pratica o crime em tela.
sabendo de sua inocência. 
	Nesse caso vocês também devem ter MUITO CUIDADO! 
	Nem todos os atos que importam em Improbidade Administrativa são considerados crimes. 
	Dessa forma, somente responderá POR ESTE CRIME, o indivíduo que der causa à ação de improbidade, imputando a outra pessoa, fato definido também como CRIME.
	A TENTATIVA É SEMPRE PUNÍVEL
	
	O crime não se configura se o fato criminoso que o agente imputa à outra pessoa já não é mais considerado crime (houve abolitio criminis), ou se já foi extinta a punibilidade. 
	 Não se pune a denunciação caluniosa contra os mortos (pois, nesse caso, já estaria extinta a punibilidade em relação ao fato falsamente imputado ao morto).
O elemento subjetivo é o dolo, não admitindo a forma culposa.
	
	 A Doutrina majoritária entende que não cabe dolo eventual neste crime, apenas dolo direto, pois quando a lei diz que o agente deve “saber que o ofendido é inocente”, exclui a possibilidade de dolo eventual, pois se o camarada sabe que o denunciado é inocente, age com dolo direto.
O artigo prevê, ainda, a forma majorada (§1°), que estabelece o aumento de pena de 1/6 se o agente se vale de anonimato ou nome falso. 
	Há, ainda, uma causa de diminuição de pena (§2°), no caso de o fato denunciado não ser crime, MAS SER CONTRAVENÇÃO PENAL (a pena é diminuída pela metade).
	A ação penal é pública incondicionada.
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME
		Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe nâo se ter verificado:
		Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Neste crime, o bem jurídico tutelado é o mesmo do anterior, com a exceção de que não se individualiza o infrator, mas se comunica um crime que NÃO OCORREU.
	O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (CRIME COMUM ), sendo sujeito passivo o Estado, que sofre prejuízo no desenvolvimento de suas atividades.
	Neste crime, o bem jurídico tutelado é o mesmo do anterior, com a exceção de que não se individualiza o infrator, mas se comunica um crime que NÃO OCORREU.
	O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (CRIME COMUM ), sendo sujeito passivoo Estado, que sofre prejuízo no desenvolvimento de suas atividades.
Parte da Doutrina entende que se o crime comunicado for de ação penal privada, somente o suposto ofendido é que poderia cometer o
Crime.
	
	A conduta incriminada é a de dar causa (provocar) a ação da autoridade, comunicando crime ou contravenção que o agente SABE QUE NÃO OCORREU. Vejam que, aqui, o FATO NÃO OCORREU.
	Diversamente do crime anterior, aqui o agente não aponta um culpado, não individualiza um suposto infrator.
A Doutrina majoritária entende que a comunicação falsa perante policiais militares, não configura o delito em questão, eis que os policiais militares não são autoridade para estes fins (instauração de investigação).
 O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de comunicar à autoridade a ocorrência falsa de um crime. 
 Boa parte da Doutrina entende, ainda, que deve haver a especial finalidade de agir, consistente na INTENÇÃO DE VER A AUTORIDADE “SE MEXER” E PRATICAR ALGUM ATO INVESTIGATÓRIO.
O crime se consuma no momento em que a autoridade, em razão da comunicação falsa, pratica algum ato, não sendo necessária a instauração do Inquérito. 
	
	Admite-se a tentativa.
	A ação penal é pública incondicionada.
AUTOACUSAÇÃO FALSA DE CRIME
	
	Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
	Pena - defençâo, de três meses a dois anos, ou multa.
O sujeito ativo aqui pode ser qualquer pessoa (CRIME COMUM). 
	Não pratica o crime, entretanto, quem ASSUME SOZINHO A PRÁTICA DE UM CRIIME DO QUAL PARTICIPOU! 
	O sujeito passivo é o Estado.
	Aqui o objeto NÃO PODE SER CONTRAVENÇÃO PENAL!
A conduta punida é a de autoacusar-se (incriminar a si próprio) falsamente, PERANTE A AUTORIDADE COMPETENTE (autoridade policial, MP ou Judiciário). 
	É crime de ação livre, ou seja, pode ser praticado por qualquer meio.
	O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de se autoacusar. 
	Pouco importa o motivo! Ainda que o motivo seja nobre (evitar a punição de um filho, por exemplo), haverá o crime.
Não há necessidade de que seja espontâneo! 
	Comete o crime, por exemplo, aquele que, em sede de interrogatório (policial ou judicial) confessa crime que não cometeu. Se a confissão se deu sob coação, há inexigibilidade de conduta diversa, que exclui a CULPABILIDADE, logo, NÃO HÁ CRIME.
	O crime se consuma no momento em que A AUTORIDADE TOMA CONHECIMENTO DA AUTOACUSAÇÃO FALSA, pouco importando se toma qualquer providência. A tentativa é admissível.
	A ação penal é pública incondicionada.
FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA
	Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
        Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.  
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
        § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
O sujeito ativo aqui somente pode ser a testemunha, o perito, a contador, o tradutor ou o intérprete. Assim, o crime é PRÓPRIO . 
	O sujeito passivo é o Estado.
	A Doutrina majoritária entende que a vítima não pode ser sujeito ativo deste delito, pois não é “testemunha”. Ela não presta depoimento, e sim “declarações”.
	Se a testemunha proferir falso testemunho com a intenção de não produzir prova contra si (pois a verdade poderia gerar um futuro processo contra ela), também não estará praticando crime.
Mais do que um crime próprio, aqui temos um CRIME DE MÃO PRÓPRIA, ou seja, além de só poder ser praticado por aquela pessoa que possui a condição especial, ele NÃO ADMITE COAUTORIA, nem execuçao por intermédio de outra pessoa. 
	O próprio perito, intérprete, testemunha, etc. é quem deve praticar a conduta.
	Embora existam vozes na Doutrina defendendo tese contrária, a regra Doutrinária é:
 * No crime de falso testemunho só cabe PARTICIPAÇÃO (alguém induz, instiga ou auxilia testemunha a não falar a verdade).
	Atenção – decisão isolada do STF admitindo coautoria (HC 75037 – Advogado coautor no crime de falso testemunho)
	* No crime de falsa perícia, cabe tanto a coautoria quanto a participação (Ex.: Perícia realizada por dois peritos que, em conluio, decidem elaborar laudo falso).
Testemunha sem compromisso de dizer a verdade (Informante) comete o crime?
	* Há divergência, mas a doutrina entende que sim, pois o CP não distingue testemunha compromissada e não compromissada para fins de aplicação deste tipo penal.
	O tipo objetivo é DE AÇÃO MÚLTIPLA (ou plurinuclear), pois pode ser praticado de diversas formas:
* Negando a verdade,que Ihe fora perguntada objetivamente.
Ex.: Fulano matou cicrano?;
	* Fazendo afirmação falsa 
Ex. : O que você sabe sobre o crime? Resposta: Eu sei que fulano não matou cicrano, pois estava comigo na hora;
	* Calando-se 
Ex.: Pode ser deixando de falar ou sendo evasivo, lacônico. Não sei, não lembro, não estou me recordando.
CUIDADO! Pode ocorrer de a afirmação falsa decorrer de uma percepção errada da realidade. 
	Assim, imaginem que uma testemunha diga que viu o cidadão A estuprar a cidadã B. Agora imagine que, na verdade, ela tenha se enganado, pois no momento o cidadão A estava se engalfinhando com a cidadã B por causa de um pão-de-mel .
	Nesse caso não há falso testemunho, pois não há dolo.
Nesse caso não há crime, pois não há intenção de prestar falso testemunho, e o crime não admite modalidade culposa. O crime só é punido a título doloso.
	O crime se consuma no momento em que o agente faz a declaração ou perícia falsa, pouco importando se dessa afirmação falsa sobrevém algum resultado (sentença condenatória ou absolutória com base nela). Assim, o crime se consuma mesmo que o testemunho ou a perícia não fundamentem a convicção do Juiz.
CUIDADO! Ainda que o processo seja todo anulado por algum vício (incompetência absoluta, por exemplo), o crime permanece!
	A tentativa só é admitida, pela maioria da Doutrina, no caso de falsa perícia, pois no caso de falso testemunho, em razão da oralidade, não pode haver fracionamento do ato.
 O §1 o prevê causa de aumento de pena nas seguintes hipóteses:
	Crime cometido mediante suborno.
	Praticado com vistas (dolo específico) a obter prova que deva produzir efeitos em processo civil em que seja parte a administração direta ou indireta.
	Praticado com vistas a obter prova que deva produzir efeitos em processo criminal.
O § 2º prevê uma hipótese de extinção da punibilidade, que ocorrerá caso o agente se retrate da declaração falsa antes da sentença.
	Sentença definitiva? Não. 
	A maioria da Doutrina entende que a retratação, para gerar a extinção da punibilidade, deve ocorrer antes da sentença recorrível.
Entretanto, tem crescido o entendimento de que a retratação, a qualquer momento,  antes  do  trânsito  em  julgado,  seria causa de extinção da punibilidade.
	E se a crime foi praticado em concurso (participação  ou coautoria), a retratação de um se estende aos demais?
	 A Doutrina sempre entendeu que não, por ser circunstância pessoal, mas vem crescendo na Doutrina  (tendo, inclusive, decisão do STJ nesse sentido) o entendimento de que se comunica. 
Além disso, a retratação deve ocorrer no processo em que fora prestado o falso testemunho ou falsa perícia, e não no eventual futuro processo que será instaurado para punir o infrator.
	A ação penal é pública incondicionada.
FAVORECIMENTO PESSOAL
	Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão:
        Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
        § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
        Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
        § 2º - Se quempresta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
	
	Sujeito passivo é o Estado.
	O crime não se verifica quando o próprio autor do crime ajuda um comparsa a fugir, eis que é necessário que aquele que presta o auxílio não tenha participado da conduta criminosa, na medida em que o fato de fugir ou auxiliar na fuga do comparsa é inerente à prática criminosa.
É necessário que o auxílio seja prestado após a prática do delito, e, ainda, não tenha sido previamente acordado entre o favorecedor e o favorecido. Caso contrário, o favorecedor pode ser considerado partícipe do delito praticado. 
COMBINAÇÃO PRÉVIA = CONCURSO DE AGENTES (responde pelo delito praticado)
SEM COMBINAÇÃO PRÉVIA = FAVORECIMENTO PESSOAL
O favorecimento deve ser, ainda, CONCRETO, ou seja, o auxílio prestado deve ter sido eficaz para a subtração do infrator às autoridades.
	O elemento subjetivo exigido é o dolo, a intenção de colaborar, auxiliar o infrator na sua empreitada. Assim, pode ocorrer na forma direta ou na forma eventual.
EX.: 
Imagine que Ricardo bata à porta de José, e, com uma bolsa de dinheiro na mão, sangrando no braço e com uma pistola na cintura, Ihe peça para ficar algumas horas em sua casa, já que são conhecidos de longa data. 
José até pode não saber (efetivamente) que Ricardo acaba de cometer um latrocínio. Entretanto, convenhamos, ele, no mínimo, assumiu o risco de estar ajudando um criminoso. 
Não se admite a forma culposa.
Não é necessário que o favorecedor saiba exatamente que crime acabara de cometer o favorecido, desde que saiba ou possa imaginar que ele acaba de cometer um crime.
	O delito se consuma com a efetiva prestação do auxílio e a obtenção de êxito na ocultação do favorecido. Assim, se o favorecedor	fornece sua casa para	o criminoso, mas a polícia	o vê entrando e o prende, não há crime consumado, mas tentado (art. 14, II do CP).
Parte minoritária da Doutrina, entende que a obtenção de êxito na ocultação é dispensável para a consumação do delito.
	O §1° prevê a forma privilegiada do crime, que ocorre quando o agente presta auxílio a quem acaba de cometer crime que não é apenado com reclusão (pena mais branda, pois o crime anteriormente cometido é, em tese, menos grave).
O §2º traz a chamada "escusa absolutória". 
	O que é isso? 
A escusa absolutória é uma causa de isenção de pena que ocorre, neste caso, quando o agente (o favorecedor) é ascendente, descendente, irmão ou cônjuge o favorecido.
	A ação penal é pública incondicionada.
FAVORECIMENTO REAL
 	Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:
        Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
O delito aqui previsto é um pouco diferente do anterior. 
	Enquanto no crime de favorecimento pessoal o agente ajuda o criminoso a se esconder, nesse crime o agente ajuda o criminoso a tornar seguro o proveito do crime.
		Favorecimento PESSOAL = PESSOA
		Favorecimento REAL = Nes (Do latim = COISA)
Aqui também se exige que o favorecimento seja posterior ao crime (até porque fala em "proveito do crime" = crime já aconteceu). 
	Além disso, não deve ter havido prévio acordo. Se tiver havido este acordo, o favorecedor responde como participe do delito cometido.
	Também é necessário que o agente não ADQUIRA PARA SI O PRODUTO. Nesse caso, o crime seria o de RECEPTAÇÃO.
Não se exige (tanto aqui como no anterior) que o crime praticado pelo favorecido tenha sido objeto de processo criminal e tenha transitado em julgado a sentença penal condenatória. Basta que fique comprovada a materialidade e a autoria do primeiro.
	O elemento subjetivo é o dolo, acrescido da especial finalidade de agir, consistente na intenção de tornar seguro o proveito do crime.
A consumação se dá com a prestação do auxílio, ainda que a pretensão não seja alcançada (o proveito do crime não se torne seguro). 
	A tentativa é plenamente possível.
	AQUI NÃO SE APLICA A ESCUSA ABSOLUTÓRIA prevista no § 2º do artigo anterior. Ou seja, ainda que o favorecimento seja prestado a algum parente próximo, o crime permanece!
	A ação penal é pública incondicionada.
AULAS 06
LEI DE CRIMES HEDIONDOS – LEI 8072/90
LEIS PENAIS SIMBÓLICAS
	- O Direito Penal Simbólico, consiste na utilização do Direito Penal como instrumento demagógico;
x
	- Alta taxa de criminalidade;
LEI 8.072/90 – LEI DE CRIMES HEDIONDOS
	
	Instrumentos de ataque às estatísticas penais ideologias e/ou métodos que primam essencialmente por uma atmosfera social “limpa”
		
			- Teoria das Janelas Quebradas
			- Direito Penal do Inimigo
LEI 8.072/90 – LEI DE CRIMES HEDIONDOS
	Discurso penal demagogo   x    Violência e barbárie
	E há inúmeras demonstrações desse fenômeno:
	- concepções científicas esteadas em proposições teóricas relevantes;
	- mídia sensacionalista e outros meios de comunicação;
	- Tribunais;
	- Academia jurídica.
	CONCEPÇÃO RESTRITIVA DA FORÇA DO DIREITO PENAL
	- direito penal NÃO deve ter o realce de resolução de graves problemas sócio culturais;	
	- reforçam assim a necessidade de seu caráter mínimo;
 X
	DISCURSO EM PROL DO DIREITO PENAL MÁXIMO
	- movimento de lei e ordem (law and order)
	- Tolerância zero (Zero Tolerance)
TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS (Broken Windows Theory)
	
	A denominada “Teoria das Janelas Quebradas”, oriunda da tradução livre – surge nos Estados Unidos em 1982, quando a revista The Atlahntic Monthly publicou um estudo de Q. Wilson e George Kelling, os quais buscavam demonstrar o nexo causal entre a sociedade desordeira e o cometimento de crimes.
	A aludida teoria, a par de suas intersecções com demais ciências sociais – além da forte influência da psicologia –, situa-se dentro da Criminologia, ciência dedicada ao estudo do fenômeno criminal.
	O estudo entabulado pelos norte-americanos supracitados consistiu na verificação da seguinte hipótese:
	 Haveria relação direta entre a desordem social e os indicadores de criminalidade? 
	As pessoas são induzidas ao crime quando defronte a um ambiente que não inspira comportamentos salutares? 
	Tendo essas indagações como ponto de partida, realizaram o cientista-político James Q. Wilson e o psicólogo George Kelling, no ano de 1982, experiências criminológicas ancoradas nos estudos de psicologia social do Prof. Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford (EUA), publicados em 1969.
	       O Prof. Philip Zimbardo, junto com a sua equipe, abandonou dois carros idênticos, mesma marca, modelo e cor em duas ruas distintas. 
	 Deixou um no Bronx, uma zona pobre e problemática de Nova York e o outro em Palo Alto, uma das afluentes zonas calmas da Califórnia. 
	Dois carros idênticos abandonados na rua, dois bairros com populações muito diferentes – dada a diversidade de rendas – e uma equipe de especialistas em psicologia social para estudar o comportamento das pessoas em cada local.
	 Descobriu-se que o carro abandonado no Bronx – região pobre de Nova York – começou a ser vandalizado em poucas horas. Ele perdeu as rodas, motor, espelhos, rádio etc. Levaram tudo que podia ser aproveitado, e o que não era, foi destruído. 
	Ao revés, o carro abandonado em Palo Alto, no mesmo período, permaneceu intacto.
	Surpresos com aquele resultado tão díspar e objetivando estudar a relação entre ordem e criminalidade, os pesquisadores resolveram quebrar um vidro do carro estacionado na cidade de Palo Alto.
	 Para espanto de todos, após o dano provocado ao veículo, o carro teve o mesmo destino do parado no Bronx: depredação total.
	A partir desse fenômeno social, chegaram à seguinte indagação: por que o vidro quebrado no carro abandonado em um bairro supostamente seguro é capaz de iniciar uma desenfreada ação criminosa?
	Com base nos resultados obtidos, James Q. Wilson e George Kelling bradaram a principal tese de que altos índices de criminalidade não são consectários da pobreza, mas sim da ideiade abandono refletida nas ruas. 
	O comportamento cumulativo de destruição leva à intuição humana de que não há regramento vigente e que há uma indiferença aos bens sociais, o que leva, inevitavelmente, a uma violência irracional.
	A Teoria das Janelas Quebradas, dessa forma, mesmo que de um ponto de vista criminológico, conclui que o crime é maior em áreas onde a negligência, a sujeira, a desordem e o abuso são maiores.
	Em síntese, essa teoria expressa que, caso a população e as autoridades públicas não se preocupem com os pequenos atos de marginalidade – com aspecto de inofensividade – como o ato de quebrar a janela de um prédio, há o induzimento das pessoas a acreditar que naquele local ninguém se importa com a desordem pública, o que levaria fatalmente à prática de delitos mais graves. 
	 Os delitos de maior gravidade, por consequência, surgiriam em decorrência da não reprimenda aos atos de desordem e aos pequenos delitos.
	A tese desenvolve o raciocínio de que, onde não é demonstrado zelo pelas regras, há uma natural degradação social; a falta de zelo gera o sentimento de que tanto faz, criando o sentimento de que o “eu” é somente o importante, de que a sociedade estruturada se perdeu. 
	Importante notar que a teoria não diz que qualquer um irá vandalizar algo só porque já está desleixado; sempre haverá os que possuem tendência a fazê-lo e aqueles que não o farão em nenhuma circunstância.  
	O cerne da questão é que o sentimento de abandono desperta o sentimento de impunidade naqueles que são capazes de vandalizar e cometer crimes e – e aqui reside a maior preocupação – engendra e/ou estimula a sensação de impotência naqueles que se pautam pelo espírito da boa vizinhança e boa-fé social. 
	Como produto da Teoria das Janelas Quebradas, implantou-se em Nova York – mas não de forma equivalente ao ventilado pela referida teoria – a Política de “Tolerância Zero” (Zero tolerance), em um movimento de Lei e Ordem (Law and Order), inspirado pelo direito penal máximo.
	Em 1994, o então prefeito de Nova York, Rudolph W. Giuliani, ex-promotor de justiça, encabeçou a política de tolerância zero, que determinava punições automáticas para qualquer tipo de infração, especialmente o uso de drogas ilícitas. 
		O escopo foi eliminar por completo as condutas criminosas da região de Manhattan. Durante seu mandato, Giuliani reduziu pela metade as taxas de criminalidade de Nova York. Uma das armas foi reprimir de forma imediata e com rigor qualquer conduta violadora da norma penal.
	 A despeito do grande sucesso midiático das medidas implementadas, formou-se uma crítica especializada, guiada por Ric Curtis e Travis Wendel, que criticou os pontos sensíveis do programa, apegado em demasia a números e míope aos demais indicadores sociais. 
		- Não existe evidência, que o mercado de drogas tenha sido eliminado – mas sim uma re-figuração do comércio para driblar as táticas hostis de policiamento;
		- Perseguição desvairada apenas de grupos isolados –marginalizados;
	A expressão “tolerância zero” quer dizer exatamente o que dela se abstrai, quer dizer, é solução autoritária e repressiva. Inserida nessa classificação, pode se servir ao bel-prazer da autoridade que está no poder, o que implica riscos ao seio social, na medida em que pode servir a fins escusos. 	
	A Teoria das Janelas Quebradas definiu um novo marco no estudo da criminalidade ao apontar que a relação de causalidade entre a criminalidade e outros fatores sociais, tais como a pobreza ou a "segregação racial" é menos importante do que a relação entre a desordem e a criminalidade. 
	 DIREITO PENAL DO INIMIGO
	O chamado Direito Penal do Inimigo é construção doutrinária do filósofo e jurista alemão Günther Jakobs, o qual paulatinamente ganhou corpo entre os estudiosos da disciplina criminal, ora recebendo elogios, ora sendo alvo de severas críticas. 
	Para o público leigo, principalmente aos que já sentiram ou sentem o efeito deletério da criminalidade, a teoria de Jakobs assume vistosidade e brilho, podendo parecer, à primeira vista, uma solução quase que perfeita. 
	Em resumo, essa teoria tem como escopo cindir o Direito Penal de acordo com o sujeito que sofre a reprimenda penal. Haveria duas categorias: os delinqüentes e os criminosos.
	Os primeiros seriam aqueles que, eventualmente, infringem a lei penal, mas que não a “abusa”; os segundos, por sua vez, seriam aqueles tidos como “inimigos do Estado”, haja vista que não sabem conviver em sociedade senão cometendo crimes e pondo em risco a paz social. 
	Para estes, diferentemente dos delinquentes “comuns”, a mão do Estado seria mais pesada, cabendo a eles um tratamento mais rígido e diferenciado.
	Os chamados inimigos, por ostentarem tal condição, têm suprimido as garantias processuais dispostas em uma carta de direitos. 
	Não sendo capazes de adaptar-se às regras da sociedade, devem ser afastados do convívio social, ficando sob a guarda do Estado, perdendo o status de cidadão.
LEI 8072/90- 25 DE JULHO DE 1990
Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII CRFB/88
	Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
	XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;  
ORIGEM HISTÓRICA DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS
	A configuração de determinado crime enquanto hediondo têm de ser abordada do ponto de vista dos valores fundamentais investidos na base do ordenamento jurídico do território em que atua.
  Isto porque, tais delitos são tidos como condutas delituosas de extrema gravidade, que causam sentimentos de repugnância, são sádicos, cruéis, horríveis, asquerosos à interpretação do homem médio.
Lei de Crimes Hediondos, que teve seu trâmite em caráter de urgência após a repercussão popular e comoção social instalada pelo sequestro do empresário Abílio Diniz, no ano de 1989, bem como do publicitário Roberto Medina, em 1990, de forma que foi aprovada apenas após 15 dias do sequestro deste último.
   É flagrante a ansiedade do Poder Público em tramar meios para estancar o furor desvairado, ou, pelo menos, até estes trágicos acontecimentos caírem no esquecimento popular.
	CRIMES HEDIONDOS – Art. 1º da Lei 8.072/90
	CRIMES EQUIPARADOS À HEDIONDOS – Art. 2º da Lei 8.072/90 (prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo) 
VEDAÇÃO À INDULGÊNCIA SOBERANA (anistia, graça ou indulto) - Art. 2º, I Lei 8.072/90 
REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS – ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS
Art. 2º (...) 
§ 1º - Diante da inconstitucionalidade do “integralmente fechado” – tornou-se possível a progressão de regime.
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida em regime fechado (STF – ARE 1.052.700 - violação a individualização da pena)
Súmula Vinculante 26
Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Lei 11.464/2007 (28.03.2007)
§ 1o  A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.  (STF – declarado inconstitucional de forma incidental, pelo Pleno do STF no HC 111.840 e declarou o reconhecimento de repercussão geral – ARE 1.052.700)
* Logo o regime inicial para cumprimento de pena, em crimes hediondos ou equiparados à hediondo, deve seguir as regras do art. 33 § 2º do CP.

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