Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................ ................................................ 2 UNIDADE 2 – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA MICROBIOLOGIA .............. 4 2.1 Classificação, nomenclatura e identificação de microrganismos .............. 6 2.2 Métodos de isolamento e caracterização de microrganismos ................ 10 UNIDADE 3 – MICRÓBIOS: BENÉFICOS, DETERIORANTES, PA TOGÊNICOS ......................................................................................................................... 16 3.1 Microrganismos úteis .............................................................................. 19 3.2 Microrganismo deteriorantes .................................................................. 19 3.3 Microrganismos patogênicos .................................................................. 20 3.4 Alimentos como substrato para microrganismos .................................... 20 UNIDADE 4 – DOENÇAS X ALIMENTOS ................... .................................... 24 4.1 Intoxicações, infecções e estatísticas mundiais ...................................... 25 4.2 Causas de doenças de origem alimentar................................................ 29 UNIDADE 5 – MICRORGANISMOS PRESENTES NA ÁGUA ...... .................. 33 5.1 Protozoários e cianobactérias ................................................................. 36 5.2 A qualidade da água das indústrias alimentícias .................................... 46 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 52 2 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO A Microbiologia é um ramo da Biologia que estuda os microrganismos e suas atividades. Preocupa-se basicamente com o formato, fisiologia e a relação recíproca destes com outros seres vivos, além de seus efeitos positivos e negativos sobre o meio ambiente e seres que nele habitam. Quanto à Microbiologia de Alimentos, ela engloba estudos relativos aos microrganismos importantes para garantia da inocuidade dos alimentos, bem como sua vida útil, processamento de produtos tradicionais e desenvolvimento de novos produtos alimentícios, com atributos sensoriais adequados a diferentes públicos consumidores. Destaca-se ainda o desenvolvimento de produtos com alegações funcionais e de promoção da saúde, como os probióticos e prebióticos (SBM, 2016). Segundo Forsythe (2013), a Microbiologia de alimentos é um tópico multidisciplinar e os avanços acontecem de maneira muito rápida, principalmente nesta área. A água, todos sabemos, é um dos elementos fundamentais para a existência/sobrevivência do homem e a conta da água disponível para nós é bem pequena, algo em torno de 97% é salgada, 1,8% está congelada, nos sobrando apenas a fração de 0,8% (esses números são aproximados, certo?!). Nesta pequena fração, ainda temos as águas contaminadas, portanto, a conta raramente nos atente com satisfação. O estudo microbiológico da água nos ajuda a saber o seu nível de pureza ou de contaminação, conhecer os agentes patógenos que nela se encontram, como tratar, enfim, como manter a água de boa qualidade, principalmente quando se trata de usá-la na alimentação. São muitas as bactérias e protozoários que sobrevivem na água, assim como são muitas as doenças, e algumas fatais, provenientes de águas contaminadas. Pois bem, é nessas duas direções da Microbiologia que caminharemos neste módulo e falaremos ainda sobre: microrganismos úteis, deteriorantes e patogênicos; relações entre alimentos e microrganismos; alimentos e doenças; microrganismos presentes na água. 3 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluuindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 4 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 2 – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA MICROBIOLOGIA Microbiologia é o ramo da Biologia dedicado ao estudo dos seres vivos microscópicos, geralmente muito pequenos para serem observados a olho nu. A palavra “Microbiologia” deriva de três palavras gregas: mikros, pequeno; bios, vida; e, logus, ciência. No campo da Microbiologia estão incluídas as bactérias, fungos, vírus, algas microscópicas e protozoários, estudados respectivamente pela Bacteriologia, Micologia, Virologia, Parasitologia ou Protozoologia. Como microrganismos não podem ser vistos a olho nu, apesar de alguns tipos de bactérias, algas e fungos terem sido observados por Leeuwenhoek (1675), foi somente com o desenvolvimento de modernos microscópios ópticos compostos, do microscópio eletrônico e de técnicas especializadas que os pesquisadores tomaram conhecimento do grande número e da variedade de microrganismos. Nosso meio ambiente está repleto de microrganismos, tanto que as bactérias e os fungos degradam resíduos orgânicos como plantas e animais mortos, despejos de esgoto e restos de alimentos, representando o grupo de seres vivos mais amplamente distribuído na Natureza. Calcula-se que em cada indivíduo existem 100 trilhões de microrganismos, que estão distribuídos na pele e mucosas, cabelos, superfícies dos dentes e ao longo do intestino. Cada grama de fezes humanas contém cerca de 10 milhões de bactérias (JORGE, 2010). A princípio, os microrganismos foram considerados apenas como objetos de especulação, com pouco significado. Entretanto, com a contribuição de vários pesquisadores, a visão e a importância dos microrganismos mudou rapidamente. Antony Van Leewenhoek (1632-1723) foi o primeiro homem a observar microrganismos. Durante cinquenta anos, em Delft, na Holanda, Leewenhoek realizou observações com ajuda de um microscópio rudimentar com aumentos calculados entre cinquenta a trezentas vezes. Com esses instrumentos, o pesquisador realizou notáveis observações e descrições das formas microscópicasde vida. Entre suas observações, podem ser encontradas descrições de protozoários, formas básicas de bactérias, fungos e algas. 5 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Em 17 de setembro de 1683, Leewenhoek relatou observações de microrganismos encontrados em sua cavidade bucal, com precisão de detalhes, descrevendo formas e movimentos, o que é aceito até os dias atuais. Novas observações de microrganismos bucais (superfície de dentes e língua) foram relatadas em cartas redigidas entre 1697 e 1708. Observações de muitas outras descobertas do mundo microbiano foram relatadas e enviadas à Royal Society of London, considerada principal instituição científica da época. O francês Louis Pasteur (1822-1896) foi o primeiro cientista a atribuir uma função biológica para os microrganismos. As contribuições de Pasteur foram responsáveis por medidas mais eficazes na prevenção de doenças infecciosas e na compreensão dos aspectos básicos da vida dos microrganismos. Pasteur relatou importantes descobertas nas fermentações microbianas, pasteurização de produtos e alimentos e desenvolvimento de importantes vacinas efetivas frente a doenças como carbúnculo e raiva. O pesquisador contribuiu para a queda da teoria da geração espontânea, para o desenvolvimento de métodos de controle de microrganismos, assim como na relação entre esses microrganismos e doenças humanas e de animais. Robert Kock (1843-1910), médico alemão, demonstrou de maneira direta o significado etiológico das bactérias como agentes de doença infecciosa, o que foi confirmado posteriormente por Pasteur e outros cientistas. Kock estabeleceu uma sequência definida de etapas experimentais para demonstrar e comprovar que determinado microrganismo era, de fato, agente etiológico de determinada doença. A base teórica dessas etapas foi, na verdade, proposta por Jacob Henle, em 1840. Entretanto, com os experimentos de Kock comprovando correlação entre Bacillus anthracis e o carbúnculo, a teoria microbiana de doenças foi confirmada (JORGE, 2010). As etapas do Postulado de Koch são as seguintes: a) O agente etiológico deve ser encontrado em todos os casos da doença. b) O microrganismo deve ser isolado do hospedeiro e crescer em cultura pura. c) A cultura pura do microrganismo suspeito deve reproduzir a doença específica após sua inoculação em animal suscetível. 6 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. d) O mesmo microrganismo deve ser novamente isolado do hospedeiro infectado. Joseph Lister (1827-1912), médico inglês, impressionado com os trabalhos de Pasteur sobre microrganismos, concluiu que a infecção cirúrgica, muito comum na época, deveria ser de origem microbiana. Lister estabeleceu uma série de procedimentos visando prevenção de acesso de microrganismos aos ferimentos após atos cirúrgicos, como esterilização de instrumentais e aplicação de antissépticos nos ferimentos. Os processos de Lister foram inicialmente recebidos com críticas pela medicina da época, mas posteriormente provaram ser um meio eficaz para prevenir infecção cirúrgica, estabelecendo-se, assim, a assepsia em atos cirúrgicos utilizada atualmente. Guarde... Os microrganismos (MO) têm sido utilizados pelo homem em diferentes processos e de diferentes maneiras, sendo que muitas substâncias e de considerável valor econômico são produtos do metabolismo microbiano. Os microrganismos desempenham papéis muito importantes, dependo do tipo de interação existente com o alimento e seus nutrientes, e podem ser classificados em três grupos distintos, através de suas propriedades morfológicas e fisiológicas. Mais recentemente, novos critérios têm sido introduzidos relativos às suas características bioquímicas e genéticas (COSTA, 2011). 2.1 Classificação, nomenclatura e identificação de microrganismos A unidade fundamental dos seres vivos é a célula. Considerando-se a estrutura celular, os microrganismos podem ser divididos em procarióticos e eucarióticos. Células procarióticas não apresentam membrana nuclear separando citoplasma e núcleo e não apresentam organelas celulares delimitadas por membranas. As células eucarióticas diferenciam-se por seu tamanho maior, presença de núcleo definido e organelas celulares envolvidas por membrana. A tabela a seguir apresenta as características dos principais grupos de microrganismos estudados pela Microbiologia. 7 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Características dos principais grupos de microrgani smos estudados em Microbiologia. 1. Para comparação, a célula vermelha do sangue tem o diâmetro de 7 mm. 2. As células dos helmintos dividem-se por mitose, entretanto, alguns organismos dividem-se por ciclos sexuais complexos. Figura 01: Características dos principais grupos de microrganismos estudados em Microbiologia. Fonte: Baseado em Levinson & Jawetz (1998, p. 12 apud JORGE, 2010, p. 9). Os procariotos são representados pelas bactérias, pertencem ao reino Monera, normalmente obtêm nutrientes somente por absorção e não podem ingerir alimentos ou realizar fotossíntese. Os microrganismos eucarióticos, incluídos no reino Protista, compreendem protozoários, algas e fungos (incluídos no reino Fungi). Os eucariotos e os procariotos são considerados organismos porque contêm todas as enzimas indispensáveis à sua reprodução, bem como mecanismos necessários para produção de energia metabólica. Outro grupo de microrganismos, os vírus, dependem de células hospedeiras para o desempenho de suas funções vitais. 8 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Taxonomia de microrganismos é a ciência que tem por objetivo ordenar a grande diversidade biológica desses seres vivos. Qualquer estudo taxonômico é sistemático e depende de dados acurados que caracterizam os microrganismos sob investigação. A taxonomia abrange três áreas inter-relacionadas: a classificação, a nomenclatura e a identificação. A importância da taxonomia permite: • organizar grandes quantidades de informação; • fazer uma previsão das características de um determinado microrganismo isolado; • criar grupos com nomes precisos, o que facilita a comunicação científica. Enfim: a taxonomia é essencial para a identificação correta dos organismos. a) Classificação A classificação consiste no arranjo ordenado dos microrganismos com características semelhantes, separando-os daqueles com características divergentes, em grupos denominados taxa (singular táxon). A classificação dos microrganismos é feita pela observação de dados morfológicos, bioquímicos, biológicos, genéticos e ecológicos. O sistema de classificaçãobiológica está baseado na hierarquia taxonômica, que permite ordenar grupos de seres vivos em categorias ou posições: a) Espécie: abrange um grupo de microrganismos afins. b) Gênero: agrupa as espécies similares. c) Família: constituída de gêneros relacionados. d) Ordem: conjunto de famílias com características comuns. e) Classe: conjunto de ordens relacionadas. f) Divisão: reunião de classes relacionadas. g) Reino: reúne todos os organismos em uma determinada hierarquia. b) Nomenclatura Designa nomes aos grupos taxonômicos de acordo com preceitos estabelecidos em normas internacionais. A nomenclatura dos microrganismos, com exceção dos vírus, utiliza o sistema binomial estabelecido por Linnaeus, comum a todos os seres vivos. 9 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. O nome do microrganismo consiste de duas palavras: a primeira determina o gênero e a segunda a espécie. O nome do gênero deve ser escrito com a primeira letra em maiúsculo e da espécie em minúsculo. As duas palavras devem ser diferenciadas do texto, em itálico ou grifadas. Exemplo: Staphylococcus aureus Staphylococcus aureus (gênero) (espécie) (gênero) (espécie) Aceita-se que o nome do gênero seja abreviado, com a primeira letra grafada em maiúsculo, seguido de ponto, espaço e a palavra que designa a espécie. Na primeira vez que o nome do microrganismo aparecer em um texto, deve-se escrever o nome do gênero por extenso. Exemplo: S. aureus ou S. aureus Quando o gênero é seguido pela palavra “species” ou “spp.”, a palavra que designa o gênero é italizada ou sublinhada. Para a palavra species ou spp. é mais usual que não seja grifada ou italizada. Staphylococcus species ou Staphylococcus spp. Staphylococcus species ou Staphylococcus spp. O nome de subespécie consiste em uma palavra em itálico ou grifada, após o nome da espécie seguida da abreviatura ss. Exemplo: Salmonella enterica ss. enterica Quando o nome do microrganismo for referido como grupo, não se escreve com maiúsculo, itálico ou grifado. Palavras que designam grupos sorológicos ou nomes de grupos também não são italizadas ou grifadas. Exemplos: Os estafilococos são microrganismos Gram-positivos. A cepa isolada constituiu-se de Streptococcus pyogenes beta hemolítico do grupo A. Bactérias com características similares são agrupadas em famílias. Apesar de usualmente em taxonomia o nome de família ser italizado, a norma clássica de nomenclatura recomenda que não deve ser grifada ou italizada. A primeira letra da palavra que designa família deve ser em letra maiúscula. Exemplo: A bactéria Escherichia coli pertence à família Enterobacteriaceae. 10 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. c) Identificação É o processo de identificar a qual grupo taxonômico pertence um determinado isolado. 2.2 Métodos de isolamento e caracterização de micro rganismos Na natureza, os microrganismos existem em culturas mistas. Antes de identificar espécies individuais de uma população microbiana mista, é necessário isolar as diferentes espécies em cultura pura. O isolamento de um microrganismo é a obtenção de sua cultura pura, separando-o de outros que se encontrem no mesmo material. A seguir, procede-se a uma série de observações e testes laboratoriais com a finalidade de proceder à identificação do microrganismo, na tentativa de enquadrá-lo em grupo, gênero e, se possível, espécie (JORGE, 2010). a) O que é uma cultura pura e como obtê-la? Cultura Pura é a obtenção in vitro de uma população contendo 106 a 109 bactérias idênticas. A obtenção de uma cultura pura de determinado microrganismo propicia o estudo de características microscópicas, coloniais, bioquímicas e sorológicas do referido microrganismo. Quando se deseja isolar uma bactéria que cresce facilmente em meio de cultura, o material coletado é semeado em meio sólido adequado, de maneira a obter colônias isoladas. Após o desenvolvimento da cultura, “pescam-se” as colônias de bactérias que se deseja isolar, transferindo-as para tubos contendo meio apropriado, onde irão desenvolver culturas puras do microrganismo em questão. Quando, porém, o material contém poucas bactérias daquelas que se deseja isolar e a contaminação é abundante, podem-se utilizar, de acordo com características próprias do microrganismo desejado, os seguintes recursos: aquecimento do material; ação de álcalis ou ácidos fortes; meios enriquecidos e seletivos; e inoculação em animal sensível. Com a finalidade de manter os microrganismos vivos e com suas características em cultura pura de laboratório, os seguintes recursos podem ser utilizados: 11 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � repique frequente – transferência de um inóculo da bactéria para novo meio de cultura. Tem a finalidade de renovar nutrientes e impedir acumulação de produtos tóxicos decorrentes do metabolismo bacteriano no meio de cultura. A frequência de repique depende do microrganismo que se deseja manter e do meio de cultura utilizado; � congelamento – uma suspensão espessa de células jovens é misturada a um meio “protetor”, como leite desnatado, sangue ou soro, e é rapidamente congelado em banho de dióxido de carbono sólido (gelo seco), nitrogênio líquido ou álcool (-78°C), sendo mantida a mesma temperatura numa caixa de gelo seco ou num refrigerador mecânico; � liofilização – consiste em desidratar a cultura congelada em alto vácuo, para retirada de água. Há necessidade de equipamento especializado (liofilizador). Culturas liofilizadas podem ser armazenadas por longo tempo, à temperatura ambiente, ou preferivelmente em refrigerador comum. A contagem e identificação de bactérias e fungos visam o cálculo do número de microrganismo em determinado local. É frequentemente utilizada quando se deseja inocular em animais ou em meios de cultura número conhecido de microrganismos. O cálculo pode ser obtido por: � contagem direta – feita diretamente no microscópio, em câmaras especiais de contagem (semelhantes às câmaras para contagem de células sanguíneas). Contam-se os microrganismos vivos e mortos. Pode-se, nesta técnica, utilizar corantes vitais (Azul de Toluidina), os quais irão corar as células mortas; � contagem de viáveis – informa somente o número de células capazes de se multiplicar, para dar origem a uma colônia, quando a suspensão é semeada na superfície de meio sólido, geralmente em placas de Petri, ou inoculada em profundidade (pour-plate); � padronização nos graus de turvação – é calculado o número aproximado de microrganismos de acordo com a quantidade de turvação que produz em meio líquido. O cálculo do número de microrganismos é dado por comparação com uma escala padrão (Escala de McFarlane), ou, mais precisamente, através do espectrofotômetro. 12 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitosautorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Para microrganismos aeróbios, após a semeadura, as placas ou tubos com meio de cultura são mantidos em estufa a 37°C em presença de oxigênio do ar atmosférico. Quando se deseja obter teor de CO2 de aproximadamente 10%, utiliza- se o método da vela; nesse método, as placas semeadas são colocadas em um recipiente com tampa (por exemplo, uma lata, onde se acende uma vela). A tampa é, então, colocada e o recipiente vedado com fita crepe ou parafina. Quando a vela em seu interior se apagar, obtém-se um teor de CO2 de aproximadamente 10%. Para o isolamento de anaeróbios, pode-se utilizar os seguintes métodos: � jarras e câmaras de anaerobiose – são recipientes hermeticamente fechados, nos quais se consegue anaerobiose com uso de bomba de vácuo e/ou misturas gasosas (Nitrogênio, CO2 e H). Uma alternativa a esse método é o uso de misturas químicas que absorvem O2, colocadas dentro da jarra (por exemplo, o sistema GAS-PAK); � meios redutores – meios de cultura com substâncias capazes de absorver o oxigênio ou gerar H2 e CO2. Por exemplo, o meio de tioglicolato. De acordo com a sistemática bacteriana para identificar as bactérias, procura-se observar características importantes para sua comparação e separação das demais. Na realidade, há uma observação sequencial com métodos e provas que possibilitem a identificação do microrganismo em questão. As características podem ser morfológicas, culturais, fisiológicas, bioquímicas, antigênicas, experimental, genéticas e de acordo com sua composição química estrutural. As técnicas de isolamento e identificação dos fungos e algas microscópicos dependem geralmente da observação de crescimento em meios de cultura ou nos tecidos pelo exame direto. O cultivo é frequentemente indispensável tanto para exame de fungos patogênicos como para diagnóstico das doenças micóticas. As exigências nutritivas dos fungos patogênicos são relativamente simples em comparação com as de muitas bactérias patogênicas. Os fungos geralmente não são suscetíveis aos antibióticos que agem sobre as bactérias. São, portanto, isolados facilmente em meios seletivos específicos que não permitem o crescimento bacteriano em função da falta de nutrientes ou da presença de antibióticos. 13 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. O exame da sistemática dos fungos patogênicos requer, em geral, que tecidos e exsudatos das lesões sejam examinados para pesquisa da forma tecidual dos microrganismos, como também exige o exame das características culturais. Geralmente, a presença do microrganismo nos tecidos com lesões, com suas formas características, é relativamente constante para cada espécie, sendo, portanto, um recurso diagnóstico das doenças causadas por fungos (JORGE, 2010). Na cultura, a morfologia colonial, a pigmentação e as características coloniais são importantes. As características biológicas e bioquímicas, particularmente o metabolismo dos carboidratos, são também de muita relevância. i) CuItivo de Protozoários Os protozoários são heterotróficos aeróbios com exigências nutricionais complexas. Muitos não são cultivados in vitro, e aqueles que o são exigem variedade de aminoácidos, vitaminas e carboidratos. Requerem pH na faixa de 6 a 8 para crescimento ótimo. Algumas amebas podem crescer em caldo peptonado simples; outros protozoários necessitam, entretanto, de emulsões de tecidos cerebrais, soro fetal ou infusão de fígado para crescimento. ii) Cultivo de algas As algas são, geralmente, fotoautotrópicas, requerendo apenas CO2, água e íons inorgânicos solúveis na presença de luz para seu crescimento. Meios complexos para algas contêm suplementos como extrato de soja ou outras fontes de nutrientes. Existem poucos meios padronizados, disponíveis comercialmente para crescimento de algas. Algas patogênicas, do gênero Prototheca, afetam homens e animais, produzindo doenças com maior frequência em pele e tecido subcutâneo, podendo haver disseminação sistêmica. São eucariotas, aclorofiladas e heterotróficas. São cultivadas em ágar Sabouraud dextrose (25 a 37°C/48 horas). iii) Cultivo de Vírus Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, que exigem células vivas para crescimento e replicação. Para seu estudo utilizam-se os seguintes métodos: 14 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � microscopia óptica – devido ao seu pequeno tamanho, os vírus não são visualizados em microscopia óptica. Esse método é utilizado no estudo dos vírus para observação de corpúsculos elementares ou inclusões nas células que parasitam, ou para observação das alterações histopatológicas típicas que provocam nos tecidos; � microscopia eletrônica – método de escolha para estudo das características estruturais dos vírus. É possível determinar, com o uso do microscópio eletrônico, características morfológicas, tamanho e estrutura dos vírus; � métodos de isolamento – o isolamento e identificação dos vírus, a partir de espécimes clínicos ou de materiais de pesquisa, podem ser desenvolvidos por meio de numerosos métodos, não havendo, contudo, uma técnica única que seja satisfatória para o estudo de todos os vírus. A primeira fase da identificação laboratorial de um vírus é a coleta e manutenção adequadas dos espécimes, para posteriormente serem inoculados em animal sensível, culturas de células ou ovos embrionados; � inoculação em animal sensível – tem por finalidade reproduzir sintomas da doença e também a manutenção de alguns tipos de vírus no laboratório. São utilizados diversos animais como macacos, ratos, camundongos, cobaias, hamster, de acordo com o tipo de vírus que se deseja estudar. Por exemplo, para o vírus da raiva, utiliza-se o cão, para a caxumba e poliomielite, o macaco; � cultivo em ovos embrionados – são utilizados ovos embrionados de galinha ou pata, de cinco a doze dias, inoculando-se o vírus através de orifício na casca do ovo. Pode-se inocular, de acordo com o vírus, sobre a membrana cório-alantoide, na cavidade alantoide, na cavidade amniótica e no saco vitelino; � cultura de tecidos – fragmentos tissulares são tratados com tripsina, separados por centrifugação e as células ressuspensas em meio nutritivo multiplicam-se e formam camadas monocelulares que aderem a frascos apropriados, propiciando renovação periódica do meio. - Culturas primárias: obtidas de tecidos normais, geralmente de animais. Exemplo: células renais de macacos. 15 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. - Culturas de células estáveis (linhagem contínua): culturas de células que sobreviveram a mais de cinquenta passagens in vitro. Exemplos: a) Células HeLa: linhagem obtida inicialmente de carcinoma uterinohumano, mantida em crescimento in vitro. b) Células Chang: obtidas de fígado humano. c) Células BHK: obtidas a partir de rim embrionário de hamster. d) Células Vero: obtidas de rim de macaco. � métodos antigênicos – são realizadas para pesquisa de características estruturais dos vírus (antígenos), utilizando-se anticorpos específicos. São também utilizados para detecção de anticorpos antivírus no soro de indivíduos ou de animais infectados (JORGE, 2010). Guarde... Os microrganismos: • só podem ser vistos com auxílio de microscópio; • são encontrados em todos os lugares; • sua relação com o homem tanto pode ser benéfica quanto maléfica; • apesar de minúsculos são bem diferentes entre si; • eles compõem o reino Monera, Protista e Fungi. 16 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 3 – MICRÓBIOS: BENÉFICOS, DETERIORANTES, PATOGÊNICOS Segundo Tortora, Funke e Case (2012), apenas uma minoria dos microrganismos é patogênica, igualmente minoria são aqueles que causam deterioração de alimentos como partes amolecidas em frutos e vegetais, decomposição de carnes e ranço de gorduras e óleos. A grande maioria deles é benéfica ao homem, a outros animais e às plantas de muitas maneiras. Embora falemos adiante dos malefícios que nos interessam na Microbiologia de Alimentos, primeiramente vamos ver algumas das atuações benéficas: a) Reciclagem de elementos vitais As descobertas feitas por dois microbiologistas, na década de 1880, formaram a base para o conhecimento atual dos ciclos biogeoquímicos que garantem a vida na Terra. Martinus Beijerinck e Sergei Winogradsky foram os primeiros a demonstrar como as bactérias ajudam a reciclar os elementos vitais do solo e da atmosfera. A ecologia microbiana, o estudo da relação entre os microrganismos e o ambiente, surgiu com o trabalho desses autores. Atualmente, a ecologia microbiana apresenta vários ramos, incluindo os estudos de como as populações microbianas interagem com plantas e animais nos diferentes ambientes. Entre as preocupações dos ecologistas microbianos estão a poluição das águas e a presença dos compostos tóxicos no ambiente. Os elementos químicos carbono, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo são essenciais para a manutenção da vida e abundantes, mas não necessariamente nas formas que possam ser utilizados pelos organismos. Os microrganismos são os principais responsáveis pela conversão desses elementos em formas que podem ser utilizadas por plantas e animais. Principalmente as bactérias e os fungos, têm um papel essencial no retorno do dióxido de carbono para a atmosfera quando decompõem resíduos orgânicos, plantas e animais mortos. Somente as bactérias podem converter naturalmente o nitrogênio atmosférico em formas disponíveis para plantas e animais. 17 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. b) Tratamento de esgotos: utilizando os micróbios p ara reciclar a água Com a crescente conscientização da sociedade sobre a necessidade de preservar o ambiente, muito mais pessoas estão conscientes da responsabilidade de reciclar a tão preciosa água e prevenir a poluição de rios e oceanos. Uma das maiores fontes de poluição é o esgoto doméstico, que consiste em excrementos humanos, a água suja e lixos industriais. O esgoto é constituído por cerca de 99,9% de água, com uma pequena fração de 0,01% de sólidos em suspensão. O restante é uma variedade de materiais dissolvidos. As estações de tratamento de esgoto removem os materiais indesejáveis e os microrganismos nocivos. Os tratamentos combinam vários processos físicos com a ação de micróbios benéficos. Os sólidos maiores, como papel, madeira, vidro, cascalho e plástico, são removidos do esgoto; o restante é composto de líquidos e materiais orgânicos que as bactérias convertem em produtos secundários, como dióxido de carbono, nitratos, fosfatos, sulfatos, amônia, sulfito de hidrogénio e metano. c) Controle de pragas de insetos por microrganismos Além de espalhar doenças, os insetos podem devastar plantações. O controle de pragas é, portanto, importante para a agricultura e na prevenção de doenças humanas. A bactéria Bacillus thuringiensis tem sido extensivamente utilizada nos Estados Unidos para controlar pestes como a lagarta da alfafa, a broca do milho, as lagartas do milho, os vermes do repolho, as pragas do tabaco e as lagartas comedoras de folhas de plantas frutíferas. A bactéria é pulverizada sobre as plantações atacadas por esses insetos. Ela produz cristais proteicos que são tóxicos para o sistema digestório dos insetos. O gene da toxina tem sido inserido em algumas plantas para torná-las resistentes aos insetos. Pelo uso de controles microbianos em vez de produtos químicos, os fazendeiros podem evitar prejuízos ao ambiente. Muitos inseticidas químicos, como DDT, permanecem no solo como poluentes tóxicos e acabam sendo incorporados na cadeia alimentar. 18 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. d) Biotecnologia moderna e tecnologia do DNA recomb inante À prática da Microbiologia que faz uso comercial de microrganismos na produção de alguns alimentos comuns e compostos químicos chamamos de Biotecnologia. Embora a Biotecnologia tenha sido utilizada de diferentes maneiras por séculos, as técnicas se tornaram mais sofisticadas nas últimas décadas. Há alguns anos, a Biotecnologia passou por uma revolução com o advento da tecnologia do DNA recombinante, expandindo o potencial de bactérias, vírus, células de leveduras e outros fungos para serem utilizados como fábricas bioquímicas em miniatura. Culturas de células animais e vegetais, assim como animais e plantas intactos são utilizados como organismos e células recombinantes. As aplicações da engenharia genética estão aumentando a cada ano. As técnicas de DNA recombinante têm sido utilizadas para produzir um grande número de proteínas naturais, vacinas e enzimas. Tais substâncias têm grande potencial para uso em medicina. Um resultado muito importante e excitante das técnicas de DNA recombinante é a terapia gênica – a inserção de um gene ausente ou a substituição de um gene defeituoso em células humanas. Essa técnica utiliza um vírus inofensivo para transportar um gene ausente ou um novo gene para o interior de certas células hospedeiras, local onde o gene é inserido no cromossomo apropriado. Além das aplicações médicas, as técnicas de DNA recombinante também são utilizadas na agricultura. Por exemplo, linhagens de bactérias alteradas geneticamente têm sido desenvolvidas para proteger frutos contra os danos de geadas, e bactérias modificadas para controlar insetos que causam danos às plantações. O DNA recombinante também tem sido usado para melhorar a aparência, o sabor e para aumentar a durabilidade de frutos e vegetais nas prateleiras. Potenciais utilizações da tecnologia do DNA recombinante na agricultura incluem resistência à seca, ao ataque de insetos,a doenças microbianas e aumento da tolerância a altas temperaturas de plantas cultivadas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). 19 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3.1 Microrganismos úteis São MO que quando presentes em um alimento causam alterações benéficas, modificando suas características originais, de forma a transformá-los em um novo alimento. Esta forma de interação MO X alimento é conhecida há muito tempo. A este grupo pertencem os MO que são intencionalmente adicionados aos alimentos para que determinadas reações químicas ocorram. Muitos já estão naturalmente presentes, não sendo necessário adicioná-los, mas o que se faz é estimular seletivamente a sua atividade biológica. Neste grupo estão presentes todos os MO utilizados na fabricação de alimentos fermentados: cerveja, queijos, vinhos, pães, vegetais e muitos outros. a) Bactérias: - fermentação do leite (iogurtes e queijos); - carnes (salames); - vegetais (picles). b) Leveduras: - fermento na indústria de panificação; - bebidas (cerveja e vinho); - suplemento alimentar. c) Fungos: - fermentação de diversos queijos; - consumidos diretamente (champignon e shitake) (COSTA, 2011). 3.2 Microrganismo deteriorantes São microrganismos (MO) presentes nos alimentos que causam alterações químicas prejudiciais, resultando na chamada deterioração microbiana. A deterioração resulta na alteração de cor, odor, sabor, textura e aspecto do alimento. Essas alterações são consequências das atividades metabólicas naturais dos MO, os quais estão apenas tentando perpetuar a espécie, utilizando o alimento como fonte de energia. Bactérias, bolores e leveduras são os microrganismos de maior destaque como agentes potenciais de deterioração, e como eventuais patógenos ao homem (COSTA, 2011). 20 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3.3 Microrganismos patogênicos São microrganismos (MO) presentes nos alimentos que podem causar as doenças transmitidas por alimentos (DTA’s), sérios problemas econômicos e que representam um risco à saúde. São genericamente denominados de patogênicos, podendo afetar tanto o homem, como animais. As características das doenças que causam, dependem dos fatores inerentes ao alimento, do MO patogênico envolvido, e do indivíduo a ser afetado (COSTA, 2011). 3.4 Alimentos como substrato para microrganismos De acordo com Valsechi (2006), todos os alimentos apresentam uma microbiota natural extremamente variável, concentrada principalmente na região superficial, embora os tecidos internos, possam eventualmente apresentarem formas microbianas viáveis, que são os Fatores Intrínsecos. Ao lado da microbiota natural, nas diversas etapas que levam à obtenção de produtos processados, os alimentos estarão sujeitos à contaminação por diferentes microrganismos, provenientes de manipulação inadequada; contato com equipamentos, superfícies e utensílios; e pela atmosfera ambiental, os chamados Fatores Extrínsecos. Portanto, a definição das espécies ou grupos de microrganismos predominantes no alimento irá depender, fundamentalmente, das características inerentes a esse alimento e, por isso, fatores intrínsecos dos alimentos, bem como das condições ambientais prevalentes e, portanto, fatores extrínsecos. As bactérias, bolores e leveduras são os microrganismos de maior destaque como agentes potenciais de deterioração e como eventuais patógenos ao homem. Na grande maioria das situações, as bactérias são os microrganismos numericamente predominantes nos alimentos, principalmente por: � apresentarem um tempo de geração bastante reduzido; � serem capazes de utilizar uma diversidade de substratos; � apresentarem ampla variação de comportamento dos diferentes gêneros frente a fatores ambientais. 21 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. O conhecimento dos fatores (intrínsecos e extrínsecos) que favorecem ou inibem a multiplicação dos microrganismos é essencial para compreender os princípios básicos que regem tanto a alteração como a conservação dos alimentos. Dentre os fatores intrínsecos teremos: a) Atividade da água (Aa) O crescimento e o metabolismo microbiano exigem a presença de água numa forma disponível e a Aa é um índice desta disponibilidade para utilização em reações químicas e crescimento microbiano. b) Potencial Hidrogeniônico (pH) Os diferentes ácidos podem exercer um efeito inibitório ou letal sobre a célula microbiana, pela concentração hidrogeniônica (nível de H+ livre) ou pela toxicidade do ácido não dissociado. Determinados alimentos são mais resistentes à mudança de pH que outros, são os chamados alimentos tamponados. As carnes apresentam maior capacidade tamponada que as verduras e hortaliças. c) Potencial de óxi-redução (Eh) É uma medida da tendência de um sistema reversível de doar e receber elétrons. Mede a facilidade com que o substrato capta ou cede elétrons. Oxidação – liberação ou perda de elétrons. Redução – o composto recebe elétrons. A presença de O2 para os anaeróbios é mais letal do que o potencial positivo de oxirredução – isto pode ser explicado pelo fato deste grupo não ser capaz de produzir a enzima catalase, que decompõe a água oxigenada (H2O2) em H2O e O2; e o acúmulo deste composto intoxica a célula. Quanto aos fatores extrínsecos teremos: a) Temperatura O crescimento microbiano apresenta uma faixa muito ampla de temperaturas (- 8º a -90ºC). A temperatura exerce uma influência marcante nas características: 22 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. (1) Duração da fase lag. (2) Velocidade de crescimento. (3) O número final de células de uma população. (4) Na composição química e enzimática da célula. Grupos de microrganismos baseados no seu ótimo de temperatura para o crescimento. Microrganismos Temperatura (°C) Termófilos 55-75 Mesófilos 30-45 Psicrotrófilos 25-30 Psicrófilos 12-15 � Os psicrotrófilos são de extrema importância como agentes deterioradores de alimento (Pseudomonas, Actinobacter, Vibrio, Lactobacillus, Bacillus, entre outros). � A maior parte das bactérias termófilas de importância alimentícia estão incluídas no gênero Bacillus e Clostridium, porém poucas são as espécies termófilas destes. � Entre os mesófilos destacam-se as bactérias patogênicas e deterioradoras, alguns bolores e leveduras. � Os psicrófilos estritos ocorrem mais em ambientes marinhos e em locais que a temperatura permanece constantemente reduzida. b) Umidade Relativa do Ambiente (URE) A U.R.E. está envolvida na maior ou menor perecibilidade de um alimento. Havendo uma estreitarelação entre a URE e a Aa. O relacionamento Aa/U.R.E deve ser levado em conta para melhor adequar as condições de embalagem dos produtos alimentícios e de garantir o controle do desenvolvimento microbiano, prolongando o tempo de armazenagem. 23 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. c) Atmosfera envolvendo o alimento – presença e con centração de gases no meio ambiente O uso de atmosfera controlada envolvendo os alimentos poderá modificar a natureza do processo de deterioração, podendo retardá-lo, como por exemplo, a presença de O2 para os anaeróbios. O CO2 é o gás mais utilizado para retardar a deterioração de alimentos (frutas, produtos cárneos). A maioria das bactérias, bolores e leveduras são inibidas, mas não destruídos em atmosfera contendo 5 e 50% de CO2 (v/v). Uma concentração de 10% reduz em até 50% nas contagens totais. O CO2 é muito eficiente contra microrganismos psicrotrófilos – bolores e leveduras oxidativas e bactérias Gram-negativas. O emprego de 15% de CO2 na atmosfera praticamente dobra o espaço de tempo para estas bactérias se multiplicarem a 0°C. As bactérias Gram-Positivas, principalmente as lácticas, são resistentes ao CO2 (VALSECHI, 2006). 24 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 4 – DOENÇAS X ALIMENTOS Problemas com a qualidade e a segurança de alimentos existem há muitos séculos, por exemplo, a adulteração do leite, da cerveja, do vinho, das folhas de chá e do azeite de oliva. Alimentos contaminados causam um dos maiores problemas de saúde no mundo e geram uma redução na produtividade econômica (BETTCHER et al., 2000 apud FORSYTHE, 2013). São muitos os patógenos transmitidos por alimentos contaminados, entretanto, embora as doenças de origem alimentar com frequência sejam atribuídas a bactérias patogênicas, também temos uma ampla gama de organismos e produtos químicos que podem causar enfermidades decorrentes da ingestão de alimentos. Alguns compostos e organismos são contaminantes externos aos alimentos, enquanto outros são intrínsecos, por exemplo, o ácido oxálico no ruibarbo e a solanina alcaloide nas batatas. As doenças alimentares microbianas são originadas por uma variedade de microrganismos com diferentes períodos de incubação e duração de sintomas. Organismos como a Salmonella e a Escherichia coli O157:H7 são bastante conhecidos pelo público em geral. Contudo, existem vírus e toxinas fúngicas que foram relativamente pouco estudados e, no futuro, poderão ter sua contribuição na incidência de doenças alimentares melhor reconhecida. Os microrganismos causadores de doenças podem ser encontrados em diversos alimentos, como leite, carne e ovos. Eles apresentam uma vasta gama de fatores de virulência que geram respostas adversas agudas, crônicas ou intermitentes. Algumas bactérias patogênicas, como a Salmonella, são invasivas e podem chegar à corrente sanguínea através das paredes do intestino, causando infecções generalizadas. Outros patógenos produzem toxinas nos alimentos, antes de serem ingeridos ou durante a infecção, podendo causar graves danos a órgãos suscetíveis, como o fígado. A E. coli O157:H7 é um exemplo de microrganismo que pode produzir toxina após ser ingerida no alimento. Também podem ocorrer complicações devido às reações imune-associadas (por exemplo: uma infecção causada por Campylobacter que pode levar a uma artrite reativa e a síndrome de Guillain-Barré) nas quais a resposta imune do hospedeiro ao patógeno também é infelizmente dirigida contra os 25 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. tecidos do próprio hospedeiro. Dessa forma, as doenças de origem alimentar podem ser muito mais graves do que um curto episódio de gastrenterite, podendo, ao contrário, levar à hospitalização. A gravidade pode ser tal que existe a possibilidade de ocorrerem sintomas (crônicos) residuais e haver o risco de morte, de modo especial em pacientes idosos e imunodeprimidos. Em consequência, há uma considerável preocupação dos setores de saúde pública relacionada às infecções de origem alimentar (FORSYTHE, 2013). Visto que os consumidores não estão conscientes de que possam existir problemas potenciais com os alimentos, uma quantidade significativa de alimentos contaminados é ingerida, levando-os, assim, a ficar doentes. Desse modo, é difícil saber qual alimento foi a causa original da toxinfecção alimentar, uma vez que o consumidor não lembrará de algo diferente em suas últimas refeições. Em geral, os consumidores se lembram de alimentos que apresentem cheiro ou coloração diferentes. Entretanto, tais características estão ligadas à deterioração dos alimentos e não a toxinfecções alimentares, daí podemos inferir o quão importantes são os serviços de vigilância sanitária de alimentos. O alimento contaminado se constitui no mais importante veículo do agente patogênico – via oral e via de penetração do patógeno no organismo humano. As doenças de origem alimentar podem ser divididas em duas grandes categorias: as intoxicações e as infecções (VALSECHI, 2006; FORSYTHE, 2013). 4.1 Intoxicações, infecções e estatísticas mundiais Toxinfecções ou intoxicações alimentares são infecções causadas pela ingestão de alimentos contendo toxinas microbianas pré-formadas, enquanto infecções alimentares são infecções causadas pela ingestão de alimentos contendo células viáveis de microrganismos patogênicos. Para que ocorra a infecção é necessária a presença da bactéria patogênica em um número que represente a dose mínima infectante, que é definida como o número de células microbianas viáveis capazes de produzir a manifestação clínica da doença (CARVALHO, 2010). 26 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Microrganismos causadores de toxinfecções são em geral divididos em dois grupos: � infecções: cepas de Salmonella, Campylobacter jejuni e E. coli patogênicas; � intoxicações; Bacillus cereus; Staphylococcus aureus e Clostridium Botulinum (FORSYTHE, 2013). O mesmo autor explica que o primeiro grupo é composto por microrganismos que podem se multiplicar no trato intestinal humano, enquanto o segundo produz toxinas, tanto nos alimentos como durante a passagem pelo trato intestinal. Essa diferença é bastante útil para ajudar a reconhecer os caminhos da toxinfecção alimentar. Os sintomas também são indicativos do tipo de organismo infeccioso. De forma generalizada, infecções bacterianas causam gastrenterites, enquanto a ingestão de toxinas causa vômitos. Gastroenterite acompanhada por febre pode ter sido originada por bactérias Gram-negativas, já que o sistema imune do hospedeiroresponde ao lipopolissacarideo dessas bactérias causando a febre. As infecções virais causam tanto vômitos quanto gastrenterites. Enquanto as células vegetativas são mortas por tratamentos térmicos, os esporos (produzidos por Bacillus cereus e Clostridium perfringens) podem sobreviver e germinar em alimentos que não foram conservados suficientemente quentes ou frios após a cocção. Um agrupamento alternativo seria de acordo com a gravidade da doença. Essa abordagem é útil para a definição de critérios microbiológicos (planos de amostragem) e análises de risco. A Comissão Internacional de Especificações Microbiológicas para Alimentos (International Commission on Microbiological Specifications for Foods – ICMSF 1974, 1986 e 2002) dividiu os patógenos mais comuns, causadores de doenças de origem alimentar, nesses grupos para auxiliar nas tomadas de decisões dos planos de amostragem. Apesar da crescente conscientização e compreensão dos microrganismos responsáveis por doenças que têm origem em alimentação e águas, essas doenças continuam sendo um problema significativo e são causas importantes da redução da produtividade econômica. Embora todos sejam suscetíveis a essas doenças, há um número crescente de pessoas que são mais propensas e em geral sofrem consequências mais graves. Essas pessoas incluem crianças, bebês, grávidas, 27 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. imunodeprimidos devido ao uso de medicamentos ou a enfermidades e idosos. Existem evidências de que as causas microbianas de gastrenterites variam de acordo com a idade e que os vírus são, provavelmente, o principal agente infectante em crianças menores de 4 anos. Também há uma diferença entre os sexos, em razão das diferenças entre os hábitos pessoais de higiene, uma vez que os homens têm menos tendência a lavar as mãos após irem ao banheiro. A produção de alimentos aumentou cerca de 145%, desde 1960. De particular importância é o crescimento e o desenvolvimento de países da África (140%), América Latina (200%) e Ásia (280%). A produção de alimentos dobrou nos Estados Unidos e aumentou 68% na Europa Ocidental. Mesmo assim, a fome ainda é um problema mundial. Neste século, existem 800 milhões de pessoas sofrendo de desnutrição. Durante o mesmo período, a população mundial aumentou de 3 para 6 bilhões e espera-se que chegue a 9 bilhões até 2050. Obviamente, a demanda obrigará o aumento da produção de alimentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 30% da população dos países desenvolvidos é infectada por alimentos e água todos os anos. Nos países desenvolvidos, as doenças de origem alimentar constituem a maior (acima de 70%) causa de diarreia em crianças menores de 5 anos. Elas podem sofrer 2 a 3 episódios de diarreia por ano, com possibilidade de chegar até 10. As bactérias patogênicas podem contaminar a alimentação infantil por meio de alimentos ou do abastecimento de água, causando 25 a 30% das infecções diarreicas. Episódios recorrentes de diarreia podem ocasionar graves problemas. O estado nutricional e o sistema imune de uma criança ficam debilitados devido à ingestão reduzida de alimentos, à má absorção de nutrientes e aos vômitos. Além disso, elas ficam mais suscetíveis a outras infecções. Infelizmente, esse ciclo de infecções resulta na morte de cerca de 13 milhões de crianças menores de 5 anos a cada ano. O rotavírus (principalmente transmitido por via oral/fecal) é um dos piores organismos infecciosos e mata entre 15 mil a 30 mil crianças/ano, em Bangladesh, e uma em cada 200 a 250 crianças indianas menores de 5 anos. 28 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. No ano de 2025, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo terão idade superior a 60 anos, e mais de dois terços delas viverão em países em desenvolvimento. Crescimento significa um aumento de riscos de doenças de origem alimentar. Não causa surpresa que, em alguns países, uma em cada quatro pessoas corra o risco de contrair uma doença de origem alimentar (FORSYTHE, 2013). O número exato de doenças de origem alimentar ocorridas anualmente pode apenas ser estimado. Em muitas circunstâncias, somente uma pequena quantidade de pessoas procura ajuda médica, e nem todas são investigadas. Mesmo quando o país possui infraestrutura para notificação de dados, apenas uma pequena parcela das doenças de origem alimentar é notificada às autoridades. No passado, foi evidenciado que, em países industrializados, menos de 10% dos casos eram informados, enquanto naqueles em desenvolvimento os casos reportados provavelmente fossem abaixo de 1% dos casos reais. Uma estimativa mais acurada está sendo possível devido ao uso dos “estudos-sentinelas”, reportado pelos Estados Unidos, pelo Reino Unido e pelos Países Baixos. Nos Estados Unidos, foi estimado que 76 milhões de casos de doenças de origem alimentar ocorrem a cada ano, resultando em 325 mil hospitalizações e 5 mil mortes (MEAD et al., 1999 apud FORSYTHE, 2013). Um estudo realizado no Reino Unido avaliou que 20% da população tem gastrenterites a cada ano e talvez mais de 20 pessoas por milhão morram (WHEELER et al., 1999 apud FORSYTHE, 2013). Um estudo-sentinela mais recente, realizado nos Países Baixos, estimou que o número de doenças de origem alimentar causadas por microrganismos foi de 79,7 para cada 10 mil pessoas por ano (DE WIT et al., 2001 apud FORSYTHE, 2013). Notermans e van der Giessen (1993 apud FORSYTHE, 2013) concluíram que esse número pode ser de 30% da população por ano. Como os sintomas de toxinfecções alimentares em geral são brandos e duram poucos dias, as pessoas costumam se recuperar sem procurar por cuidados médicos. Entretanto, aquelas que estão sujeitas a um risco maior, como os muito jovens, as grávidas e os idosos, podem sofrer danos maiores, mais debilitantes e 29 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. correr risco de morte. Isso já recebeu ampla abordagem em estudos de surtos alimentares em humanos (FORSYTHE, 2013). 4.2 Causas de doenças de origem alimentar As doenças de origem alimentar podem ser provocadas por mais de 250 tipos de bactérias, fungos ou vírus. Muitos desses microrganismos vivem naturalmente no ambiente onde os alimentos são produzidos e podem ser eliminados pelo calor durante o cozimento do alimento e também pelas boas práticas de higiene. Na maioria das vezes, a transmissão das doenças de origem alimentar ocorre pela inadequada manipulação e preparação dos alimentos (OLIVEIRA, 2013). Segundo Andrade (2008), além dos agentes etiológicos citados acima, indo desde o campo até a mesa do consumidor, incluem-se ainda os agentes químicos, os parasitas e as substâncias tóxicas de origens animal e vegetal. Agentes químicos, como metais pesados, parasitas, incluindo Tricnela spiralis e Entamoeba histolytica, Giardia lamblia e Cryptosporidium spp. e, ainda, vírus, como o da hepatite, são incriminados em algunssurtos de doenças alimentares. No entanto, não há dúvidas de que são as bactérias os principais agentes etiológicos das doenças causadas por alimentos, sendo responsáveis por cerca de 70 % dos surtos e 95 % dos casos. São fatores que contribuem para o aumento das doenças de origem alimentar: � produção de alimentos em grande escala; � transporte de alimentos a longas distâncias de seu lugar de fabricação; � uso crescente de alimentos instantâneos, semipreparados, em pó e congelados; � manutenção incorreta dos alimentos em supermercados; � colocação de produtos por períodos prolongados à temperatura ideal para o desenvolvimento de patógenos; � embalagens não controladas; � controle inadequado da temperatura durante o cozimento, o resfriamento e a estocagem; 30 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � higiene pessoal insuficiente; � contaminação cruzada entre produtos crus e processados; � monitoramento inadequado dos processos (FORSYTHE, 2013). Esses fatores podem ser reduzidos de forma considerável por meio da capacitação adequada da equipe e implementação do sistema APPCC combinada com a avaliação de riscos. Segundo a Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2003), o sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) tem como objetivo a garantia, efetividade e eficácia do controle dos perigos à produção de alimentos. São pré-requisitos para a criação do sistema, as Boas Práticas de Fabricação e a Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 sobre Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO). Esses pré-requisitos identificam os perigos potenciais à segurança do alimento desde a obtenção das matérias-primas até o consumo, estabelecendo em determinadas etapas (Pontos Críticos de Controle), medidas de controle e monitorização que garantam, ao final do processo, a obtenção de um alimento seguro e com qualidade. Técnicos das Vigilâncias Sanitárias estaduais e municipais e técnicos em empresas produtoras de alimentos recebem capacitação por meio de aulas e seminários oferecidos pelo Senai, com o apoio da Anvisa, e das Vigilâncias estaduais e municipais através dos CGEs (Comitês Gestores Estaduais). A participação nos seminários é gratuita. O Sistema APPCC contribui para uma maior satisfação do consumidor, torna as empresas mais competitivas, amplia as possibilidades de conquista de novos mercados, nacionais e internacionais, além de propiciar a redução de perdas de matérias-primas, embalagens e produto (ANVISA, 2003). Andrade (2008) também frisa que a maioria desses problemas pode ser controlada. Sem dúvida, a conscientização dos manipuladores, dos processadores, enfim, daqueles que de uma forma ou de outra trabalham com alimentos contribui para evitar ou diminuir os surtos de doenças causadas por alimentos. Com relação aos locais de produção, sabe-se que cerca de 40% dos surtos de doenças veiculadas por alimentos ocorrem em serviços comunitários de alimentação, como 31 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. serviços de alimentação e nutrição e os alimentos industrializados são responsáveis por aproximadamente 5% dos surtos. No entanto, deve-se observar que a possibilidade de esses alimentos contaminarem grande número de pessoas é maior, considerando-se que podem ser distribuídos em diferentes regiões de um país. Nos últimos anos, o número de surtos por contaminação de alimentos em cozinhas domésticas tem aumentado consideravelmente, atingindo, às vezes, 50%. A postura do profissional da área de alimentos deve ser eminentemente preventiva, no sentido de evitar que os surtos de doenças por alimentos ocorram. Para isso, é fundamental ter e usar conhecimentos de processamento de alimentos, de controle de qualidade, de Microbiologia de alimentos e de higienização industrial, entre outros (ANDRADE, 2008). Como diz Forsythe (2013), a chave para a produção de alimentos seguros é produzi-los microbiologicamente estáveis. Em outras palavras, é necessário certificar-se de que nenhum microrganismo do alimento vá se multiplicar até níveis infecciosos. De maneira ideal, é importante que os microrganismos estejam inativados e que não haja toxinas. Essencialmente, as temperaturas de cozimento e de resfriamento devem ter como finalidade: 1. A redução do número de microrganismos infectantes em uma ordem de 6 log (ou seja, reduzir 106 células/g até 1 célula/g). 2. Não proporcionar condições que permitam o desenvolvimento de esporos microbianos que sobreviveram ao cozimento. 3. Evitar condições favoráveis para a produção de toxinas termoestáveis; por definição, essas toxinas são aquelas resistentes a 100ºC por 30 minutos e, portanto, não são destruídas no processo de cocção. As contaminações cruzadas causam contaminações pós-processamento do alimento (ou seja, após a etapa de cozimento). Podem ser evitadas por meio de: 1. Planejamento cuidadoso do layout da fábrica. 2. Controle do movimento do pessoal. 3. Hábitos higiénicos adequados por parte dos manipuladores. Os alimentos que não passam por um processo de cozimento são normalmente acidificados (como, por exemplo, os que são fermentados) e estocados 32 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. sob refrigeração. Essas práticas baseiam-se no princípio de que o pH e a temperatura do alimento vão inibir a multiplicação microbiana. A faixa de multiplicação da maioria dos microrganismos que causam toxinfecções alimentares foi documentada (International Commission of Microbiological Specifications for Foods - ICMSF 1996), portanto, e possível predizer o pH e a temperatura de estocagem de alimentos que restringem o desenvolvimento dos patógenos alimentares (FORSYTHE, 2013, p. 28). 33 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 5 – MICRORGANISMOS PRESENTES NA ÁGUA Vale a pena começar a unidade com um caso interessante que ilustra bem a problemática das águas contaminadas. SURTO DE HEPATITE NO HOLY CROSS COLLEGE Logo depois do jogo realizado em Dartmouth, em 1969, todos os integrantes do time de futebol americano do Holy Cross College ficaram doentes (MORSE, 1972). Tiveram febre, náuseas e dores abdominais, além de apresentarem pele amarelada – sintomas característicos da hepatite infecciosa. Nos dias que se seguiram, quase 90 pessoas – entre jogadores, treinadores, técnicos e outras pessoas – que faziam parte do programa de futebol da instituição também adoeceram. O colégio cancelou o restante da temporada e tornou-se alvo de um mistério epidemiológico. Como explicar que um time inteiro tivesse contraído hepatite infecciosa? Sabe-seque a doença é transmitida basicamente de pessoa para pessoa. Embora epidemias possam ocorrer, isso quase sempre se deve à contaminação da água ou de frutos do mar. Há vários tipos de vírus da hepatite com drásticas consequências para o ser humano. O menos mortal é o da hepatite A que ocasiona mal-estar durante várias semanas, mas raramente deixa sequelas duradouras. As hepatites B e C, todavia, podem provocar graves problemas, em especial no fígado, e durar por anos. Na ocasião da epidemia no Holy Cross College, o vírus da hepatite ainda não havia sido isolado e muito pouco se sabia sobre sua etiologia ou suas consequências. Quando o colégio teve ciência da seriedade da epidemia, pediu e recebeu ajuda dos governos estadual e federal, que enviaram epidemiologistas até a cidade de Worcester. Em princípio, esses especialistas coletaram todo tipo de informação sobre os integrantes do time de futebol: com quem haviam estado e o que haviam comido e bebido. O objetivo era encontrar pistas que os levassem a descobrir como surgiu a epidemia, e obtiveram os seguintes dados: � uma vez que o período de incubação da hepatite é de cerca de 25 dias, a infecção deve ter ocorrido em algum momento antes do dia 29 de agosto; � os jogadores que deixaram o time antes desse período não foram infectados; 34 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. � jogadores da equipe principal que chegaram atrasados, depois do dia 29 de agosto, também não foram infectados; � jogadores do time de calouros que chegaram no dia 3 de setembro também não tiveram a doença; � tanto os jogadores do time de calouros como os do time principal usaram o mesmo refeitório, e, como nenhum calouro foi infectado, descartou-se a hipótese de que o refeitório fosse a causa da doença; � um dos técnicos que desenvolveu hepatite não havia usado o refeitório do colégio; � não havia nenhum indício de que os jogadores tivessem comido frutos do mar em algum restaurante, o que poderia dar uma dica sobre onde poderiam ter contraído o vírus; � os jogadores consumiram uma bebida preparada pelo colégio, cuja composição era açúcar, mel, gelo e água (a versão caseira do Gatorade). No entanto, como os funcionários da cozinha provaram da bebida antes e depois do jogo, e nenhum deles desenvolveu a doença, a possibilidade de a bebida ter sido a causadora da doença foi descartada. Como não encontravam respostas para o fato, os epidemiologistas se concentraram no fornecimento da água. O colégio recebe água da cidade de Worcester e uma tubulação subterrânea traz a água da Rua Dutton – que é sem saída – até o campo de treinamento de práticas esportivas, onde há um bebedouro que os jogadores utilizam durante os treinos. Amostras da água foram colhidas do bebedouro e não apresentaram nenhuma contaminação. A ausência de contaminação durante a amostragem não descartou, entretanto, a possibilidade de transmissão da doença através da tubulação, que cruzava o campo por meio de um medidor de água e várias caixas de sprinklers enterradas no solo, colocadas em todo o campo para regar o gramado. 35 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. Duas outras informações foram cruciais. Soube-se que, em uma das casas na Rua Dutton, moravam crianças que haviam contraído hepatite. Durante o verão, elas brincavam com água dos sprinklers, espirrando umas nas outras e formando poças no gramado. No entanto, como a água dessas poças – caso as crianças a tivessem contaminado – teria ido parar na tubulação, já que os canos de água eram mantidos sempre sob pressão positiva? A última peça do quebra-cabeça se encaixou quando os epidemiologistas descobriram que havia ocorrido um grande incêndio em Worcester, durante a noite do dia 28 de agosto, que durou até a manhã do dia seguinte. A demanda de água para o incêndio foi tão grande que todas as casas da Rua Dutton ficaram sem água da rua, ou seja, os bombeiros bombearam a água em tal quantidade que a pressão no encanamento ficou negativa. Esses dados levaram à seguinte conclusão: as crianças esqueceram algumas das válvulas dos sprinklers abertas, o que certamente provocou a contaminação da água ao redor do sprinkler. Então, o vírus da hepatite entrou no encanamento da água potável. Na manhã seguinte, a pressão da água foi restabelecida no encanamento, e a água contaminada foi parar no final do ramal da tubulação, ou seja, no bebedouro do campo de futebol – todos os jogadores, treinadores, técnicos e quaisquer outras pessoas que beberam daquele bebedouro foram infectados com hepatite. Esse caso ilustra a clássica conexão cruzada, ou seja, o contato físico entre a água potável tratada e a contaminada e as consequências potencialmente graves dessas conexões. Proteger a saúde pública é um dos objetivos dos profissionais que trabalham nas áreas de saúde, saneamento e outras. Cada um, no seu campo, pode dar 36 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. inúmeras contribuições para a manutenção da saúde, seja projetando sistemas que evitem ligações cruzadas, seja pesquisando as doenças possíveis, seja estudando meios de prevenção das mesmas ou promoção da saúde. 5.1 Protozoários e cianobactérias Protozoários e cianobactérias são considerados organismos emergentes em sistema de abastecimento de água para consumo humano. Microrganismos emergentes são aqueles para os quais a atenção e/ou preocupação de médicos, especialistas e/ou epidemiologistas tem se voltado a partir de períodos mais ou menos recentes. Assim, podem constituir espécies recém- descobertas ou organismos já conhecidos/identificados, porém que apenas agora se descobriu serem capazes de infectar e serem patogênicos para seres humanos (BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). A emergência dos organismos acima está relacionada não ao fato de serem espécies recém-descobertas, mas ao fato de que, recentemente, em diferentes países, têm-se registrados surtos ou epidemias de doenças em que os mesmos foram identificados como os agentes etiológicos envolvidos e onde o abastecimento de água, mesmo tratada, foi incriminado como a fonte da exposição. Os protozoários constituem um grupo de organismos que inclui seres de vida livre e parasitas, que se caracterizam por apresentar diferentes formas, tipos de metabolismos e locais de ocorrência. O ser humano e diferentes espécies animais constituem os hospedeiros obrigatórios ou acidentais dos protozoários patogênicos, sendo que alguns desses podem apresentar complexos ciclos biológicos envolvendo, inclusive, diferentes modos e mecanismos de transmissão. A transmissão de protozoários patogênicos via água de consumo é há muito tempo conhecida e consolidada na comunidade técnica e científica. Como exemplos, citam-se a associação entre Giardia sp e água com qualidade imprópria ao consumo humano e, mais recentemente, Cryptosporidium spp., responsável por parasitose de caráter emergente, tanto pela sua
Compartilhar