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Mariana Marques – T29 Farmacocinética: Absorção e Distribuição INTRODUÇÃO • Passagem do fármaco pelas barreiras biológicas até atingir a circulação sistêmica e seu local de ação • Todas as vias de administração passam pelo processo de absorção, exceto a intravenosa • Depois da administração, o fármaco é absorvido e distribuído através dos vasos dos sistemas circulatório e linfático e, além de atravessar as barreiras, o fármaco precisa resistir ao metabolismo e à eliminação (pela ação dos rins e do fígado e nas fezes) • A membrana plasmática é a principal barreira a ser atravessada por um fármaco Absorção • Consiste na passagem do fármaco pelas barreiras biológicas até atingir a circulação sistêmica, ou seja, a transferência de um fármaco do seu local de administração para o compartimento central • Em casos de comprimidos ou cápsulas, a absorção depende inicialmente da dissolução desses, que então liberarão o fármaco • A biodisponibilidade descreve o percentual com que a dose de um fármaco administrado alcança seu local de ação ou um líquido biológico (circulação sistêmica) a partir do qual o fármaco tem acesso ao seu local de ação • Todas as vias de administração passam pelo processo de absorção, exceto a intravenosa • Apenas parte da dose administrada chega à circulação e alcança os locais de ação desejados, isso porque no fígado ocorre metabolização e excreção de parte desse fármaco • A absorção pode ocorrer por diversos mecanismos: ▪ difusão simples (principal), transportadores: difusão facilitada e transporte ativo (importantes), transporte vesicular e transporte paracelular CAMINHO DO FÁRMACO Trato gastrointestinal → fígado → circulação sistêmica Relembrando as características das vias de administração Via Padrão de Absorção Utilidade Limitações e precauções Intravenosa Não há absorção e os efeitos são imediatos Adequada para uso em emergências, permite a titulação da dose Aumenta o risco de efeitos adverso, são de aplicação lenta e é inadequada para substâncias oleosas e pouco solúveis Subcutânea Solução aquosa (imediata) e em preparações de depósito (leta e prolongada) Adequada para algumas suspensões pouco solúveis e para instilação de implantes de liberação lenta Inadequada para grandes volumes, substâncias irritantes pode causar dor e necrose Intramuscular Solução aquosa (imediata) e em preparações de depósito (lenta e prolongada) Adequada para volumes moderados, veículos oleosos e substâncias irritantes - autoadministração Contraindicada durante o tratamento anticoagulante, pode alterar exames diagnósticos Oral Variável (depende de muitos fatores) Mais conveniente e econômica, podendo ser mais segura Depende da adesão do paciente, a biodisponibilidade pode ser errática e incompleta Obs: ver resumo “Farmacocinética: Vias de Administração” FATORES QUE INTERFEREM NA ABSORÇÃO • Estrutura química do fármaco: polaridade da molécula e tamanho da molécula • Transportadores: existem transportadores que bombeiam fármacos para dentro do organismo (aumentando a absorção) e transportadores que bombeiam fármacos para fora do organismo (diminuindo a absorção) ▪ O polimorfismo genético dos genes que codificam para os transportadores pode resultar na variabilidade na absorção dos fármacos absorvidos via transportadores ▪ Interação medicamentosa: o uso de fármacos ou outras substâncias (alimentos) que inibem, competem ou induzem estes transportadores podem interferir na absorção dos fármacos absorvidos via transportadores Mariana Marques – T29 • Inativação do fármaco: devido ao pH ou devido à interação com alimentos • Motilidade e integridade do trato gastrintestinal: ▪ Diarreia x Estase intestinal: o tempo de trânsito do fármaco no trato gastrointestinal é diretamente proporcional à sua absorção via oral (quanto menor o tempo menor a absorção) ▪ Doença Celíaca, Doença de Crohn, Colite Ulcerativa, Síndrome do cólon irritável: patologias do trato gastrointestinal que podem alterar a absorção oral de fármacos pois interferem na permeabilidade intestinal Distribuição • Ocorre após a absorção ou administração sistêmica na corrente sanguínea • Consiste no transporte do fármaco entre a circulação sistêmica e outro compartimento (local de ação) • O fármaco é distribuído aos líquidos intersticial e intracelular em função de suas propriedades físico- químicas, da taxa de liberação do fármaco a cada um dos órgãos e compartimentos e das capacidades de interação diferentes de cada região com o fármaco • Essa segunda fase de distribuição pode demorar de minutos a horas, antes que a concentração do fármaco nos tecidos esteja em equilíbrio com seu nível sanguíneo FATORES QUE AFETAM A DISTRIBUIÇÃO • Débito cardíaco • Fluxo sanguíneo regional: quanto maior a perfusão, mais rápida é feita a distribuição, podendo interferir no tempo de meia-vida do fármaco) • Permeabilidade capilar: presença de barreiras especiais tais como hematoencefálica e placentária podem diminuir a distribuição • Volume do tecido LOCAIS DE DISTRIBUIÇÃO • Locais de distribuição rápida (alta perfusão): ▪ Cérebro ▪ Coração ▪ Fígado ▪ Pulmão ▪ Rim • Locais de distribuição lenta (baixa perfusão): ▪ Pele ▪ Músculo esquelético ▪ Tecido adiposo VELOCIDADE DE DISTRIBUIÇÃO X CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA • Distribuição rápida: ocorre quando o fármaco apresenta uma única taxa de decaimento da concentração plasmática que corresponde apenas à taxa de eliminação, devido à rápida distribuição, a meia vida é constante e o modelo é monocompartimental (fármaco é imediatamente distribuído no organismo) • Distribuição lenta: ocorre quando o fármaco apresenta inicialmente uma taxa de decaimento maior (correspondendo à distribuição) seguida de uma taxa de decaimento baixa (correspondendo à eliminação), a meia vida é apresentada com dois valores distintos (a meia vida inicial será menor que a meia vida final) e o modelo é bicompartimental de decaimento (primeiro a distribuição, depois a eliminação) Mariana Marques – T29 LIGAÇÃO A PROTEÍNAS PLASMÁTICAS • Alguns fármacos circulam na corrente sanguínea ligados às proteínas plasmáticas • As principais proteínas dissolvidas no sangue são: ▪ Albumina: se liga fármacos lipofílicos e com cargas negativas (fármacos ácidos) ▪ Glicoproteínas alfa-ácidas: se ligam à fármacos lipofílicos com cargas positivas (fármacos básicos) • Normalmente, a ligação às proteínas é rápida e reversível, permitindo a rápida formação e dissociação do complexo fármaco/proteína • Alguns fármacos podem ligar-se às proteínas carreadoras de hormônios específicos (ligação do estrogênio ou da testosterona à globulina de ligação dos hormônios sexuais, ou a ligação do hormônio tireóideo à globulina de ligação da tiroxina) • A variação terapêutica das concentrações plasmáticas é limitada, assim, a amplitude de ligação e a fração livre são relativamente constantes • A fração do total de fármaco presente no plasma ligado às proteínas é determinada pela concentração do fármaco, pela afinidade dos locais de ligação do fármaco e pela concentração dos locais de ligação disponíveis • A ligação de um fármaco às proteínas plasmáticas limita sua concentração nos tecidos e em seu local de ação, depois de atingir o equilíbrio de distribuição, a concentração do fármaco ativo (livre) no líquido intracelular é igual à concentração plasmática, exceto quando há transporte mediado por carreadores • A ligação de um fármaco às proteínas plasmáticas limita sua filtração glomerular podendo reduzir seu transporte e metabolismo • O grau de ligação às proteínasplasmáticas pode ser afetado pela hipoalbuminemia Hipoalbuminemia • Pode causar um aumento na porcentagem de fármaco livre, causando um aumento do efeito do fármaco • Pode ser necessário realizar ajustes de dose (redução) • Fatores relacionados: ▪ Síntese prejudicada (cirrose hepática/ hepatite viral) ▪ Aumento do catabolismo (infecção bacteriana grave, neoplasias malignas, insuficiência cardíaca congestiva, doenças inflamatórias e infecciosas crônicas) ▪ Ingesta proteica inadequada (desnutrição proteica) ▪ Perdas (síndrome nefrótica e enteropatias perdedoras de proteínas) Interação medicamentosa • Dois fármacos com altas afinidades pela albumina podem competir pela ligação às proteínas plasmáticas, causando um aumento na porcentagem de fármaco livre, causando um aumento do efeito do fármaco • Podem necessitar um ajuste de dose (redução da dose de um dos fármacos) LIGAÇÃO AOS TECIDOS • Alguns fármacos acumulam-se nos tecidos em concentrações mais altas que as detectadas nos líquidos extracelulares e no sangue • A ligação tecidual dos fármacos ocorre com proteínas, fosfolipídios ou proteínas nucleares e é reversível • Uma fração expressiva do fármaco no corpo pode estar ligada dessa forma e funciona como reservatório, que prolonga a ação do fármaco nesse tecido ou em locais distantes, depois do transporte pela circulação sanguínea, podendo causar efeitos tóxicos locais Sistema nervoso central, líquido cerebrospinal e barreira hematoencefálica: as células endoteliais dos capilares do encéfalo têm junções compactas contínuas, assim, a penetração dos fármacos no encéfalo depende do transporte transcelular, desse modo, a solubilidade lipídica das formas não ionizada e livre de um fármaco é um determinante importante de sua captação pelo encéfalo, quanto mais lipofílico é um fármaco, maiores as chances de que ele atravesse a BHE Mariana Marques – T29 ▪ Barreira hematoencefálica: → É uma barreira de proteção ao SNC → Formada por capilares ricos em junções de adesão que fecham os espaços intercelulares impedindo a passagem de fármacos por transporte paracelular (impede a entrada de fármacos hidrofílicos), células que não permitem o transporte vesicular e células ricas em transportadores do tipo ABC (Glicoproteína-P) que bombeiam fármacos para fora do SNC → Para que um fármaco possa entrar no SNC a velocidade de entrada por difusão deve ser maior que a velocidade de saída por transporte ativo ou ele deve ter um transportador específico que permita a sua entrada no SNC → A inflamação pode romper a integridade dessa barreira - possibilitando a entrada no cérebro de substâncias que não costumam atravessá-la ▪ Barreira placentária: → Barreira de proteção ao feto → A transferência dos fármacos através da placenta é extremamente importante, porque alguns podem causar anomalias no feto em desenvolvimento → A lipossolubilidade, a extensão de ligação plasmática e o grau de ionização dos ácidos e das bases fracas são determinantes gerais importantes da transferência dos fármacos pela placenta. → Formada por capilares ricos em junções de oclusão que fecham os espaços intercelulares impedindo a passagem de fármacos por transporte paracelular (impede a entrada de fármacos hidrofílicos), células que não permitem o transporte vesicular e células ricas em transportadores do tipo ABC (Glicoproteína-P) que bombeiam fármacos para fora (impede a entrada de fármacos lipofílicos) → A placenta funciona como uma barreira seletiva para proteger o feto contra os efeitos deletérios dos fármacos
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