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Farmacologia: Farmacocinética I Todos os fármacos devem satisfazer exigências mínimas para ter efetividade clínica. Um fármaco, para ser bem-sucedido, precisa atravessar as barreiras fisiológicas no corpo a fim de limitar o acesso das substâncias estranhas. A absorção dos fármacos pode ocorrer por meio de vários mecanismos desenvolvidos para explorar ou romper essas barreiras. Uma vez absorvido, o fármaco utiliza sistemas de distribuição dentro do organismo, como os vasos sanguíneos e linfáticos, para alcançar seu órgão-alvo em concentração apropriada. A capacidade do fármaco de ter acesso a seu alvo também é limitada por diversos processos que ocorrem no paciente. Estes são amplamente divididos em duas categorias: o metabolismo, em que o organismo inativa o fármaco mediante degradação enzimática (primariamente no fígado), e a excreção, em que o fármaco é eliminado do corpo (principalmente pelos rins e pelo fígado, bem como pelas fezes). Barreiras fisiológicas: - Um fármaco precisa vencer certas barreiras físicas, químicas e biológicas para alcançar seus locais de ação moleculares e celulares. O revestimento epitelial do trato gastrintestinal e de outras membranas mucosas é um tipo de barreira; são também encontradas outras barreiras após a penetração do fármaco no sangue e nos vasos linfáticos. - A maioria dos fármacos deve distribuir-se do sangue para tecidos locais, processo que pode ser impedido por determinadas estruturas, como a barreira hematoencefálica. - Tipicamente, os fármacos abandonam o compartimento intravascular pelas vênulas pós-capilares, onde existem lacunas entre as células endoteliais através das quais o fármaco pode passar. A distribuição de um fármaco ocorre principalmente por difusão passiva, cuja velocidade é afetada por condições iônicas e celulares locais. - Os princípios básicos de farmacocinética afetam a quantidade de fármaco livre que finalmente alcançará o sítio-alvo. Para produzir efeito, o fármaco precisa ser absorvido e, a seguir, distribuído até seu alvo antes de ser metabolizado e excretado. - Em qualquer momento, o fármaco livre na circulação sistêmica encontra-se em equilíbrio com os reservatórios teciduais, as proteínas plasmáticas sítio-alvo (que em geral consiste em receptores); apenas a fração do fármaco que consegue ligar-se a receptores específicos terá efeito farmacológico. - Observe que o metabolismo do fármaco pode resultar em metabólitos tanto ativos quanto inativos; os ativos também podem exercer efeito farmacológico sobre os receptores-alvo ou, algumas vezes, sobre outros receptores. Membranas biológicas: - Todas as células humanas apresentam membrana lipídica com duas camadas, as quais consistem principalmente em fosfolipídios, esteróis (sobretudo colesterol) e glicolipídios. A natureza anfifílica dos lipídios da membrana e os ambientes aquosos intra e extracelular fazem com que a membrana adote uma estrutura com um centro hidrofóbico e duas superfícies hidrofílicas. - Além dos componentes lipídicos, as membranas biológicas contêm proteínas transmembrana (que as atravessam) e proteínas que só estão expostas na superfície extra ou intracelular. A dupla camada lipídica da membrana semipermeável forma uma barreira ao transporte de moléculas e tem implicações significativas para a terapia medicamentosa. Transporte através da membrana: - O centro hidrofóbico de uma membrana biológica representa importante barreira para o transporte dos fármacos. - Pequenas moléculas não polares, como os hormônios esteroides, são capazes de difundir-se facilmente através das membranas. Entretanto, a difusão passiva é ineficaz para o transporte de muitos fármacos e moléculas grandes e polares. - Algumas proteínas transmembrana pertencentes à superfamília do carreador humano ligado a solutos (SLC, solutelinked carrier) – a qual inclui 43 famílias de proteínas, como as do transportador de ânions orgânicos (OAT, organic anion transporter) e do transportador de cátions orgânicos (OCT, organic cation transporter) – possibilitam o transporte de fármacos e moléculas polares através da membrana. - Determinadas proteínas carreadoras transmembrana podem ser específicas para um fármaco e moléculas endógenas relacionadas; após ligação do fármaco à superfície extracelular da proteína, esta sofre mudança em sua conformação, que pode não depender de energia (difusão facilitada) ou exigir a entrada desta (transporte ativo). Essa mudança de conformação torna possível ao fármaco ligado acessar o interior da célula, onde sua molécula é liberada da proteína. De modo alternativo, alguns fármacos ligam-se a receptores específicos da superfície celular e deflagram um processo denominado endocitose, em que a membrana celular envolve a molécula para formar uma vesícula, a partir da qual o fármaco é subsequentemente liberado no interior da célula. Difusão através da membrana: - Na ausência de outros fatores, um fármaco penetrará em uma célula até que as concentrações intra e extracelular dele sejam iguais. A velocidade de difusão depende do gradiente de concentração do fármaco através da membrana e da espessura, área e permeabilidade desta. - A difusão efetiva de fármacos ácidos e básicos através das membranas com dupla camada lipídica também pode ser afetada por um fenômeno associado à carga conhecido como sequestro pelo pH, que depende da constante dissociação ácida (pKa) do fármaco e do gradiente de pH através da membrana. Sistema nervoso central: - O sistema nervoso central (SNC) representa um desafio especial para a terapia farmacológica. Ao contrário da maioria das outras regiões anatômicas, está particularmente bem isolado de substâncias estranhas. - A barreira hematoencefálica utiliza junções estreitas, especializadas em impedir a difusão passiva da maioria dos fármacos da circulação sistêmica para a circulação cerebral. - Por conseguinte, os fármacos destinados a atuar no SNC devem ser suficientemente pequenos e hidrofóbicos para atravessar com facilidade as membranas biológicas, ou devem utilizar as proteínas de transporte existentes na barreira hematoencefálica para penetrar nas estruturas centrais. - Os fármacos hidrofílicos que não conseguem ligar-se a proteínas de transporte facilitado ou ativo na barreira hematoencefálica são incapazes de penetrar no SNC. - É possível transpor a barreira hematoencefálica utilizando infusão intratecal do fármaco, em que este é diretamente liberado no líquido cefalorraquidiano (LCR). Embora essa abordagem possa ser empregada no tratamento da meningite infecciosa ou carcinomatosa, a via intratecal não é prática para fármacos que precisam ser regularmente administrados ao paciente. Absorção: - O corpo humano apresenta obstáculos excepcionais à invasão de microrganismos. O tegumento tem uma camada externa queratinizada e defensinas no epitélio. As membranas mucosas são protegidas por depuração mucociliar na traqueia, secreção de lisozima nos ductos lacrimais, secreção ácida no estômago e básica no duodeno. - Esses mecanismos inespecíficos de defesa constituem barreiras para a absorção de fármacos e podem limitar sua chegada a certos órgãos-alvo. A biodisponibilidade, ou a fração do fármaco administrado que alcança a circulação sistêmica, dependerá da via de administração do fármaco, de sua forma química e de certos fatores específicos do paciente – como transportadores e enzimas gastrointestinais e hepáticos. - A definição de biodisponibilidade baseia-se no fato importante de que a maioria dos fármacos alcança seus sítios de ação moleculares e celulares diretamente a partir da circulação sistêmica. - Os fármacos de administração intravenosa são injetados diretamente na circulação sistêmica; para estes, a quantidade administrada equivale à quantidade que alcança a circulação, e sua biodisponibilidade é, por definição, igual a 1. Em contrapartida, a absorção gastrintestinal incompleta e o metabolismo hepático de “primeira passagem” tipicamente fazem com que a biodisponibilidade de um fármaco de administração oralseja menor que 1. Vias de administração e seus fundamentos: Enteral: - A administração enteral por via oral constitui a mais simples das vias de administração de fármacos. Porém, expõe o fármaco a ambientes ácido (estômago) e básico (duodeno) rigorosos, passíveis de limitar sua absorção. - Essa via oferece muitas vantagens ao paciente: possibilita fácil e conveniente auto administração de fármacos orais, e a deglutição tem menos tendência do que outros métodos a causar infecções sistêmicas como complicação do tratamento. - Um fármaco administrado por via oral deve permanecer estável durante sua absorção pelo epitélio do trato gastrointestinal. As junções das células epiteliais gastrintestinais dificultam o transporte através do epitélio intacto. - Na verdade, as substâncias ingeridas (como os fármacos) devem, em geral, atravessar a membrana celular tanto na superfície apical quanto na basal, para alcançar o sangue circulante. - A eficiência desse processo é determinada pelo tamanho e pelo caráter hidrofóbico do fármaco e, algumas vezes, pela presença de carreadores por intermédio dos quais o fármaco pode entrar e/ou sair da célula. Em geral, os fármacos hidrofóbicos e neutros atravessam as membranas celulares de modo mais eficiente do que os fármacos hidrofílicos ou com carga elétrica, a não ser que a membrana contenha uma molécula carreadora que facilite a passagem das substâncias hidrofílicas. - Após atravessar o epitélio gastrintestinal, os fármacos são transportados pelo sistema porta até o fígado antes de passar para a circulação sistêmica. - Enquanto a circulação porta protege o corpo dos efeitos sistêmicos de toxinas ingeridas, entregando-as ao fígado para destoxificação, esse sistema pode complicar a liberação de fármacos. - Todos os fármacos administrados por via oral estão sujeitos ao metabolismo de primeira passagem no fígado. Nesse processo, as enzimas hepáticas podem inativar uma fração do fármaco ingerido. - Qualquer fármaco que sofra metabolismo de primeira passagem significativo precisa ser administrado em quantidade suficiente para assegurar a presença de uma concentração efetiva na circulação sistêmica, a partir da qual possa alcançar o órgão-alvo. - Fármacos administrados por vias não enterais não estão sujeitos ao metabolismo hepático de primeira passagem. Parenteral: - A administração parenteral, que consiste na introdução direta de um fármaco na circulação sistêmica, no líquido cefalorraquidiano, em tecido vascularizado ou em outro espaço tecidual, supera imediatamente as barreiras capazes de limitar a eficiência dos fármacos administrados por via oral. - A administração tecidual resulta em uma velocidade de início de ação do fármaco que difere entre os vários tecidos do corpo, dependendo da velocidade de fluxo sanguíneo para o tecido. - A administração subcutânea (SC) de um fármaco no tecido adiposo pouco vascularizado resulta em início de ação mais lento do que a injeção em espaços intramusculares (IM) bem vascularizados. - Os fármacos apenas solúveis em soluções oleosas são frequentemente administrados por via intramuscular. Sua introdução direta na circulação venosa [por via intravenosa (IV)] ou arterial [intra-arterial (IA)] ou no líquido cefalorraquidiano [intratecal (IT)] faz com que o fármaco alcance mais rapidamente o órgão-alvo. - Diferentemente das injeções subcutâneas e intramusculares, a injeção intravenosa não é limitada na quantidade de fármaco que pode ser liberada. As infusões contínuas desse tipo também têm a vantagem de uma liberação controlada do fármaco. - A administração parenteral pode envolver várias desvantagens potenciais, incluindo maior risco de infecção e necessidade de administração por um profissional de saúde. - A velocidade de início de ação dos fármacos administrados por essa via é frequentemente rápida, resultando em aumento potencial da toxicidade quando esses fármacos são administrados com muita rapidez ou em doses incorretas. Tais desvantagens devem ser confrontadas com as vantagens da administração parenteral (como velocidade de início da ação e controle da dose liberada) e a urgência da indicação da terapia farmacológica. Membrana mucosa: - A administração de fármacos através de membranas mucosas pode proporcionar potencialmente rápida absorção, baixa incidência de infecção e conveniência na autoadministração, além de evitar o ambiente gastrintestinal adverso e o metabolismo de primeira passagem. - Os epitélios sublingual, ocular, pulmonar, nasal, retal, urinário e do trato reprodutor foram todos utilizados para administração de fármacos em gotas, comprimidos de rápida dissolução, aerossóis e supositórios (entre outras formas farmacêuticas). - As mucosas são muito vascularizadas, possibilitando ao fármaco penetrar rapidamente na circulação sistêmica e alcançar seu órgão-alvo em tempo mínimo. - Os fármacos também podem ser administrados diretamente no órgão-alvo, o que torna seu início de ação praticamente instantâneo. Esse aspecto constitui vantagem em situações críticas, como asma aguda, em que certos fármacos (p. ex., agonistas β-adrenérgicos) são administrados diretamente nas vias respiratórias por aerossóis. Transdérmica: - Um número limitado de fármacos é tão lipofílico que atravessa a pele por difusão passiva, fazendo dela uma via de administração a ser considerada. - Os fármacos administrados por via transcutânea são absorvidos a partir da pele e dos tecidos subcutâneos diretamente para o sangue. Essa via de administração é ideal para um fármaco que precisa ser administrado de modo lento e contínuo por longo período. Não oferece risco de infecção, e a administração é simples e conveniente. - O sucesso dos adesivos transdérmicos de nicotina, estrógeno e escopolamina demonstra a utilidade potencial dessa via de administração. Fatores locais, regionais e sistêmicos que afetam a absorção: - A velocidade e a magnitude de absorção de um fármaco são influenciadas por fatores locais, regionais e sistêmicos. - De modo geral, uma dose alta e/ou administrada rapidamente resulta em concentração local elevada da substância. Um amplo gradiente de concentração entre o local da administração e o tecido circundante promove a distribuição do fármaco para o tecido próximo e/ou para a vasculatura. - Qualquer fator que reduza o gradiente de concentração no local da administração diminui a força motriz do gradiente e pode reduzir a quantidade de fármaco a ser distribuída para os tecidos locais. - O fluxo sanguíneo regional exerce o maior efeito nesse aspecto; em uma região com alta perfusão, as moléculas do fármaco que penetram nesse compartimento são rapidamente removidas. Esse efeito mantém a concentração do fármaco em baixos níveis no compartimento, possibilitando que a força propulsora para a entrada de novas moléculas do fármaco no compartimento permaneça alta.. Por exemplo, os anestésicos gerais voláteis são administrados por inalação. Os pulmões são bem irrigados, e o anestésico é removido deles com rapidez para a circulação sistêmica. O fármaco não se acumula na circulação local, mantendo-se, assim, um gradiente de concentração que promove a difusão para o sangue. - Nos indivíduos com elevada massa corporal, tanto a área de superfície absortiva como os volumes teciduais maiores disponíveis para distribuição tendem a remover a substância do local da administração e aumentar a velocidade e a magnitude da absorção do fármaco. - A velocidade de absorção de um fármaco influencia a concentração local da substância (inclusive sua concentração plasmática) e o período de ação da mesma. Distribuição: - Embora a absorção do fármaco constitua pré-requisito para atingir níveis plasmáticos adequados desse fármaco, ele também precisa alcançar seu órgão ou órgãos-alvo em concentrações terapêuticas para exercer o efeito desejado sobre determinado processo fisiopatológico. - A distribuição de um fármaco ocorre primariamente por meio do sistema circulatório, enquanto o sistema linfático contribui com um componentemenor. - Uma vez absorvido na circulação sistêmica, o fármaco é então capaz de alcançar qualquer órgão-alvo (com a possível exceção dos compartimentos santuários, como o cérebro e os testículos). - A concentração do fármaco no plasma é tipicamente utilizada para definir e monitorar seus níveis terapêuticos, visto que é difícil medi-los no órgão-alvo. - Mesmo em casos em que a concentração plasmática de um fármaco representa medida relativamente precária de sua concentração tecidual, seu efeito no tecido-alvo com frequência correlaciona-se bem com sua concentração plasmática. Volume de distribuição: - O volume de distribuição (Vd) descreve a proporção de fármaco que se divide entre o plasma e os compartimentos teciduais. Em termos quantitativos, Vd representa o volume de líquido necessário para conter a quantidade total do fármaco absorvido no corpo, em uma concentração equivalente à do plasma no estado de equilíbrio dinâmico. - O volume de distribuição é uma extrapolação do volume com base na concentração de fármaco no plasma, não se trata de volume físico. - Desta maneira, Vd é baixo para fármacos principalmente retidos no compartimento vascular e alto para fármacos que sofrem ampla distribuição em músculo, tecido adiposo e outros compartimentos não vasculares. - Para fármacos cuja distribuição é acentuadamente alta, o volume de distribuição é, com frequência, muito maior do que o volume de água corporal total, refletindo as baixas concentrações do fármaco no compartimento vascular, no estado de equilíbrio dinâmico. - A capacidade do sangue e de vários órgãos e tecidos de captar e reter um fármaco depende tanto do volume (massa) do tecido quanto da densidade de sítios de ligação específicos e inespecíficos para o fármaco nesse tecido. - Um fármaco captado em grandes quantidades por tecidos corporais como o adiposo e o músculo será amplamente removido da circulação no estado de equilíbrio dinâmico. - Na maioria dos casos, esses tecidos precisam estar saturados para que os níveis plasmáticos dos fármacos possam aumentar o suficiente a ponto de afetar o órgão-alvo. - Assim, considerando dois fármacos de potência igual, aquele que tiver distribuição mais alta entre os tecidos corporais, em geral, necessitará de dose inicial maior para estabelecer concentração plasmática terapêutica do que aquele que tiver distribuição mais baixa. Ligação às proteínas plasmáticas: - A capacidade do músculo e do tecido adiposo de se ligarem a um fármaco aumenta a tendência desse fármaco de difundir-se do sangue para compartimentos não vasculares. - Porém, essa tendência pode ser contrabalançada, em certo grau, pela ligação do fármaco às proteínas plasmáticas. - A albumina, proteína plasmática mais abundante (com concentração de cerca de 4 g/dℓ), é responsável pela maioria das ligações dos fármacos. - Muitos se ligam com baixa afinidade a ela por meio de forças hidrofóbicas e eletrostáticas. A ligação às proteínas plasmáticas tende a reduzir a disponibilidade de um fármaco para difusão ou transporte até seu órgão-alvo, visto que, em geral, apenas a forma livre ou não ligada do fármaco é capaz de propagar-se através das membranas. - A ligação às proteínas plasmáticas também pode reduzir o transporte dos fármacos em compartimentos não vasculares (p. ex., o tecido adiposo e o músculo). Como um fármaco altamente ligado a elas tende a permanecer na vasculatura, frequentemente apresenta volume de distribuição relativamente baixo. - Teoricamente, a ligação a tais proteínas poderia ser importante como mecanismo em algumas interações medicamentosas. A coadministração de dois ou mais fármacos que se ligam a elas pode resultar em uma concentração plasmática da forma livre acima do esperado de um ou de ambos os fármacos, quando competem entre si pelos mesmos sítios de ligação nessas proteínas. - A concentração aumentada de fármaco livre é capaz de, eventualmente, causar efeitos terapêuticos e/ou tóxicos aumentados do fármaco. Nesses casos, é possível deduzir que será necessário ajustar o esquema de dosagem de uma ou de ambas as substâncias, de modo que a concentração de fármaco livre retorne à sua faixa terapêutica. - Na prática, entretanto, tem sido difícil demonstrar interações medicamentosas clinicamente significativas ocasionadas por competição de dois fármacos por sua ligação às proteínas plasmáticas, talvez devido à depuração aumentada dos fármacos livres quando deslocados de seus sítios de ligação nessas proteínas. Modelagem da cinética e da termodinâmica da distribuição dos fármacos: - A maioria dos fármacos presentes na circulação sistêmica (compartimento intravascular) distribui-se rapidamente para outros compartimentos do corpo. - Essa fase de distribuição acarreta acentuada diminuição da concentração plasmática do fármaco pouco depois de sua administração por injeção intravenosa única em bolo. - Mesmo quando o fármaco já está equilibrado entre seus reservatórios teciduais, sua concentração plasmática continua declinando em virtude da eliminação do fármaco do corpo. Entretanto, tal concentração declina de modo mais lento durante a fase de eliminação, devido, em parte, a um “reservatório” de fármaco nos tecidos que pode difundir-se novamente para o sangue, a fim de substituir o que foi eliminado. - A tendência de um fármaco de ser captado pelos tecidos adiposo e muscular durante a fase de distribuição determina um conjunto de equilíbrios dinâmicos entre as concentrações nos vários compartimentos corporais. - O rápido declínio da concentração plasmática de um fármaco, observado após a administração de injeção em bolo intravenosa, pode ser estimado com uso de um modelo de quatro compartimentos, constituídos por sangue, tecidos altamente vascularizados, tecido muscular e tecido adiposo. - O compartimento altamente vascularizado é o primeiro compartimento extravascular no qual a concentração do fármaco aumenta, visto que o elevado fluxo sanguíneo recebido favorece cineticamente a entrada do fármaco nesse local. Entretanto, o tecido muscular e o adiposo frequentemente exibem maior capacidade de captar o fármaco do que o compartimento altamente vascularizado, visto que o tecido adiposo acumula maior quantidade de fármaco em velocidade mais lenta. - Logo após administração intravenosa de um fármaco, sua concentração plasmática declina rapidamente, à medida que o fármaco presente no compartimento vascular distribui-se para outros compartimentos do corpo. - Esse rápido declínio é seguido de um declínio mais lento enquanto o fármaco é metabolizado e excretado do corpo. Tanto sua distribuição quanto sua eliminação exibem cinética de primeira ordem, demonstrada pela cinética linear em um gráfico semi logarítmico. - A capacidade de captação de um fármaco por um compartimento e a velocidade de fluxo sanguíneo para esse compartimento também afetam a taxa de saída de fármacos. Estes tendem a sair em primeiro lugar do compartimento altamente vascularizado, seguido do tecido muscular e, por fim, do adiposo. - Um padrão complexo e dinâmico de mudança nas concentrações sanguíneas pode se desenvolver, sendo específico para cada fármaco. O padrão também pode ser específico para o paciente, dependendo de fatores como tamanho, idade e nível de condicionamento físico. - Por exemplo, um paciente de mais idade tem menos massa muscular esquelética do que um mais jovem, o que diminui a contribuição da captação muscular para as mudanças observadas na concentração plasmática de um fármaco. O efeito oposto é observado em um atleta, que apresenta massa muscular maior e também fluxo sanguíneo muscular proporcionalmente maior. Como terceiro exemplo, um indivíduo obeso exibe maior capacidade de captação de um fármaco no tecido adiposo. Referências: Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia /editor-chefe David E. Golan, co-editor Armen H. Tashjian, Jr., editores associados Ehrin J. Armstrong, revisão técnica Lenita Wannmacher; traduzido por Patricia Lydie Voeux, Maria de Fátima Azevedo.– [3. ed.] – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
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