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1 UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ UNINGÁ – CENTRO UNIVERSITÁRIO INGÁ PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ADEQUAÇÃO NUTRICIONAL E MANUTENÇÃO DA HOMEOSTASE - PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE DOENÇAS RELACIONADAS Á IDADE IVETE HAFEMANN USO DE LDN NO TRATAMENTO DE DOENÇAS AUTOIMUNES REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SÃO PAULO 2020 2 UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ UNINGÁ – CENTRO UNIVERSITÁRIO INGÁ PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ADEQUAÇÃO NUTRICIONAL E MANUTENÇÃO DA HOMEOSTASE - PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE DOENÇAS RELACIONADAS Á IDADE IVETE HAFEMANN USO DE LDN NO TRATAMENTO DE DOENÇAS AUTOIMUNES REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SÃO PAULO 2020 Trabalho apresentado à Unidade de Ensino Superior Ingá – Uningá – Centro Universitário Ingá, como requisito parcial para obtenção de Certificado de Conclusão de Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Adequação Nutricional e Manutenção da Homeostase – Prevenção e Tratamento de Doenças Relacionadas à Idade. Orientador: Prof. Dr. Lair Ribeiro 3 HAFEMANN, IVETE. Uso de LDN no tratamento de doenças autoimunes. Revisão bibiográfica/ Ivete Hafemann. São Paulo, 2020. 91 f. Monografia. Ensino Superior Ingá – Uningá – Centro Universitário Ingá. Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Adequação Nutricional e Manutenção da Homeostase - Prevenção e Tratamento de Doenças Relacionadas a Idade. Orientador: Dr Lair Ribeiro. 1. LDN. 2. Naltrexona. 3. Doenças autoimunes. 4. Imunidade. Terapia. Título: Uso de LDN no tratamento de doenças autoimunes. Revisão bibiográfica. 4 IVETE HAFEMANN USO DE LDN NO TRATAMENTO DE DOENÇAS AUTOIMUNES REVISÃO BIBLIOGRÁFICA APROVADO EM _____ /______ /________ ________________________________ Prof. Dr. Lair Ribeiro Trabalho apresentado à Unidade de Ensino Superior Ingá – Uningá – Centro Universitário Ingá, como requisito parcial para obtenção de Certificado de Conclusão de Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Adequação Nutricional e Manutenção da Homeostase – Prevenção e Tratamento de Doenças Relacionadas à Idade. Orientador: Prof. Dr. Lair Ribeiro 5 RESUMO A Naltrexona é um antagonista opióide clássico, desenvolvido para o tratamento de dependência de álcool e opiáceos. Em doses substancialmente mais baixas do que o padrão, elas exercem farmacodinâmica diferente. O uso de baixa dose de naltrexona (LDN) apresenta-se como uma opção terapêutica potencial no tratamento de vários tipos de câncer e distúrbios autoimunes, doença de Crohn, distúrbios neuropsiquiátricos, doenças neurodegenerativas entre outros. Evidências acumuladas sugerem que o LDN pode promover a modulação imunológica reduzindo diversos processos autoimunes, oncogênicos e inflamatórios. O objetivo desta revisão é analisar de forma sucinta o atual conhecimento sobre o uso de baixas doses de naltrexona (LDN) nas doenças autoimunes, por meio de uma revisão de literatura de artigos publicados nas plataformas on line Bireme, Scielo, Pubmed e Medline datados de 1985 a 2019, submetidos aos descritores. A LDN tem sido utilizada off-label para o tratamento da dor e inflamação na esclerose múltipla, doença de Crohn, fibromialgia e outras doenças. Supõem-se que doses menores que o padrão de naltrexona inibem a proliferação celular das células T e B e bloqueiam o receptor Toll-like 4, resultando em um efeito analgésico e antiinflamatório. A literatura apresenta resultados satisfatórios do uso de LDN em doenças autoimunes, de forma rápida e eficaz comparada com outros tratamentos, e com pouco ou nenhum relato de efeitos colaterais reafirmando sua segurança e eficiência na abordagem terapêutica dessas doenças. PALAVRAS CHAVE: LDN. Naltrexona. Doenças autoimunes. Imunidade. Terapia. 6 ABSTRACT Naltrexone is a classic opioid antagonist developed for the treatment of alcohol and opiate addiction. At substantially lower than standard doses, they exert different pharmacodynamics. The use of low dose naltrexone (LDN) is a potential therapeutic option in the treatment of various types of cancer and autoimmune disorders, Crohn's disease, neuropsychiatric disorders, neurodegenerative diseases and others. Accumulated evidence suggests that LDN may promote immune modulation by reducing various autoimmune, oncogenic, and inflammatory processes. The aim of this review is to briefly analyze current knowledge about the use of low-dose naltrexone (LDN) in autoimmune diseases through a literature review of articles published on Bireme, Scielo, Pubmed and Medline online platforms dated 1985 to 2019, submitted to the descriptors. LDN has been used off-label for the treatment of pain and inflammation in multiple sclerosis, Crohn's disease, fibromyalgia and other diseases. Doses lower than the naltrexone standard are supposed to inhibit T and B cell cell proliferation and block the Toll-like receptor 4, resulting in an analgesic and anti- inflammatory effect. The literature presents satisfactory results of the use of LDN in autoimmune diseases, quickly and effectively compared to other treatments, and with little or no report of side effects reaffirming its safety and efficiency in the therapeutic approach of these diseases. KEY WORDS: LDN. Naltrexone. Autoimmune Diseases. Immunity. Therapy. 7 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 09 2 OBJETIVOS...................................................................................................... 13 3 METODOLOGIA.............................................................................................. 14 4 USO DE LDN NO TRATAMENTO DE DOENÇAS AUTOIMUNES.REVISÃO DE LITERATURA................................................... 15 4.1 MECANISMO DE AÇÃO DA NALTREXONA COM DOSE ULTRA BAIXA.................................................................................................................... 19 4.2 MECANISMO DE AÇÃO DA NALTREXONA COM DOSE MUITO BAIXA.................................................................................................................... 19 4.3 A VIA DA BETA-ENDORFINA NA REGULAÇÃO IMUNOLÓGICA...... 22 4.3.1 Modulação da naltrexona da regulação imunológica e tratamento de doença autoimune .................................................................................................. 22 4.4 LDN E METIONONA-ENCEFALINA........................................................... 23 5 DOENÇAS AUTOIMUNES............................................................................... 24 5.1 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO.......................................................... 24 5.2 SÍNDROME DE SJÖGREN........................................................................... 25 5.3 ARTRITE REUMATÓIDE.............................................................................. 25 5.4 DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL......................................... 27 5.4.1 Doença De Crohn.......................................................................................... 27 5.5 ESCLEROSE MÚLTIPLA............................................................................. 31 5.6 DISTÚRBIOS DO ESPECTRO DA NEUROMIELITE ÓPTICA.................. 33 6 DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS E OUTRAS COMORBIDADES CRÔNICAS............................................................................................................ 33 6.1 DOR CRÔNICA .............................................................................................. 35 6.2 SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA........................................37 6.3 DOENÇA DE PARKINSON........................................................................ 38 6.4 ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA................................................... 40 6.5 FIBROMIALGIA............................................................................................. 41 6.6 AFECÇÕES DERMATOLÓGICAS............................................................... 45 6.6.1 Granulomatose de Wegener.......................................................................... 48 6.6.2 Penfigóide bolhoso........................................................................................ 50 6.6.3 Psoríase......................................................................................................... 50 6.6.4 Hailey-Hailey................................................................................................ 52 8 6.7 TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS E SÍNDROME DE ESTRESSE PÓS- TRAUMÁTICO..................................................................................................... 56 6.8 DEPRESSÃO................................................................................................... 57 6.9 AUTISMO........................................................................................................ 58 6.10 CÂNCER........................................................................................................ 58 6.11 OUTRAS DOENÇAS CRÔNICAS............................................................... 64 7 QUALIDADE DE VIDA.................................................................................... 67 8 USO DE NALTREXONA NA CLÍNICA MÉDICA......................................... 68 8.1 NALTREXONA DE DOSE MUITO BAIXA EM MEDICINA CLÍNICA.... 68 8.2 ULTRA BAIXA DOSE DE NALTREXONA – ULDN................................. 69 8.3 SEGURANÇA E EFEITOS COLATERAIS................................................... 71 CONCLUSÃO....................................................................................................... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 79 9 INTRODUÇÃO A medicina preventiva tem se destacado na redução dos fatores de risco e danos à saúde de um modo geral, buscando a qualidade de vida e uma longevidade saudável. A literatura apresenta o uso de baixa dose de naltrexona (LDN) como uma maneira potencial de fortalecer os recursos cerebrais e corporais para facilitar homeostase e como uma opção terapêutica potencial no tratamento de vários tipos de câncer e distúrbios autoimunes (BROWN; PANKSEPP, 2008). A naltrexona, um receptor de opiáceo de longa duração, eficaz por via oral, foi aprovado pelo FDA para o tratamento de dependência de álcool e opiáceos em 1984. É um antagonista não seletivo, com efeitos robustos promovendo receptores MU opióides (MOR) e receptores opióides delta (DOR) (WEERTS et al., 2008), com menos antagonismo de aversão mediadora de Kapa receptores de opiáceos (KOR) (GHARAGOZLOU et al., 2006), mas um efeito substancial na família de opióides órfamina FQ ou nociceptina [N/OFQ] descoberto mais recentemente (SCHLICKER; MORARI, 2000). Os benefícios da naltrexona em altas doses na dependência de narcóticos são explicados pelo bloqueio de todos os efeitos produtores de prazer de opióides. Mecanismos semelhantes podem explicar a capacidade da naltrexona reduza o vício em álcool (BROWN; PANKSEPP, 2008). Bihari (2005) descobriu que quando foi tomada em uma dose muito menor, a LDM exibiu resultados benéficos para pacientes com autoimunidade, câncer e HIV ou AIDS. Daí o nome Low-Dose Naltrexone (LDN). Estas doses baixas aumentam o nível de endorfinas no corpo. Eles bloqueiam parcialmente seus receptores opióides quando níveis de endorfina são tipicamente mais altos (por volta das 3h às 4h). Isso sinaliza ao cérebro que seus níveis estão baixos, aumentando a produção de endorfinas e aumentando seus níveis gerais (RADHAKRISHNAN; GOYAL, 2018). Os efeitos podem ser benéficos para pacientes autoimunes devido ao fato de que as endorfinas desempenham um papel na modulação do sistema imune. Pacientes autoimunes tipicamente têm níveis mais baixos de endorfinas do que pessoas sem autoimunidade (SCHWAIGER, 2018). 10 Considera-se que fatores genéticos, imunológicos, hormonais e ambientais contribuem para o desenvolvimento de doenças autoimunes (AZRIELANT; SHOENFELD, 2017). As doenças autoimunes são a terceira principal causa de morbidade e mortalidade no mundo industrializado, superadas apenas pelo câncer e doenças cardíacas. Apesar dessa taxa de prevalência relativamente alta, a etiologia e a patogênese da maioria das doenças autoimunes permanecem obscuras e vários fatores têm sido implicados em sua patogênese (YANG et al., 2013). Não se sabe exatamente como as endorfinas ajudam a modular o sistema imunológico ou por que elas diminuem em pacientes autoimunes. Porém estudos mostram benefícios antiinflamatórios e uma diminuição nos sintomas de Crohn, Esclerose Múltipla e fibromialgia em pacientes tratados com LDN (CHEN; WU; WEI, 2018). Há também muitas histórias de sucesso de pacientes e médicos que obtiveram excelentes resultados usando baixa dose de naltrexona como tratamento autoimune (SCHWAIGER, 2018; MONASTERIO, 2019). O LDN pode ser usado para qualquer doença autoimune, embora tenha sido tipicamente mais eficaz para condições dolorosas. Pesquisas obtiveram sucesso com LDN em quase todas as doenças autoimunes, incluindo: Hashimoto, Artrite reumatóide, Lúpus, Crohn, Colite ulcerativa, Esclerose múltipla, Fibromialgia, Síndrome da fadiga crônica, Celíaca, Psoríase, Sjogren's, Autismo e Esclerodermia. A dose terapêutica de baixa dose de naltrexona para condições autoimunes é tipicamente entre 1,5 mg - 4,5 mg (CHEN; WU; WEI, 2018). A dose de LDN usada para tratar condições autoimunes é cerca de dez vezes menor do que a dose usual de tratamento da dependência. A dosagem usual para condições autoimunes é de 4,5 mg, embora possa variar (SMITH et al., 2011; CHEN; WU; WEI, 2018). A LDN tem sido utilizada off-label para o tratamento da dor e inflamação na esclerose múltipla, doença de Crohn, fibromialgia e outras doenças. Hipotetiza-se que doses menores que o padrão de naltrexona inibem a proliferação celular das células T e B e bloqueiam o receptor Toll-like 4, resultando em um efeito analgésico e antiinflamatório. Atualmente, as evidências confirmam a segurança e tolerabilidade da LDN na esclerose múltipla, fibromialgia e doença de Crohn (PATTEN; SCHULTZ; BERLAU, 2018). Os efeitos benéficos do LDN foram observados na encefalomielite autoimune experimental (EAE), e em um modelo animal de esclerose múltipla (MS) (LI et al., 2018; MCLAUGHLIN et al., 2015). 11 O impacto mais pesquisado do LDN nas condições autoimunes é centrado no Crohn - LDN foi encontrado para melhorar os sintomas em oito de 10 pacientes com Crohn que participaram de um dos estudos (SMITH et al., 2007; 2011; CREE et al., 2010; YOUNGER et al., 2013; 2014). Em um estudo randomizado em pacientes com doença de Crohn, houve melhorias nas medidas histológicas e endoscópicas objetivas no grupo LDN comparado ao placebo (SMITH et al., 2011), e pequenos estudos indicam efeitos em algumas variáveis de desfecho na EM (CREE et al. 2010) e psoríase (BRIDGMAN; KIRCHHOF, 2018). Entre os pacientes com esclerose múltipla não houve associação entre iniciar LDN e consumo de drogas (RAKNES; SMABREKKE, 2017, 2019), mas encontraram uma diminuição no número de usuários de vários medicamentos utilizados na doença inflamatória intestinal (DII) (RAKNES; SIMONSEN; SMABREKKE, 2018). Além disso, em toda a população usuária de LDN, houve uma redução de 47% no consumo de opióides entre usuários persistentes de LDN (RAKNES; SMABREKKE, 2017). Felizmente, o interesse científicorecente em LDN aumentou, e um aumento notável na literatura revisada por pares sobre o assunto foi notado. Embora vários ensaios controlados randomizados sobre LDN tenham surgido, outros tipos de pesquisa ainda são predominantes. Um destes estudos foi uma recente pesquisa farmacoepidemiológica norueguesa que englobou um banco de dados nacional de prescrição de medicamentos que demonstrou que 0,3% da população total do país recebia pelo menos uma dose de LDN após uma exibição de um documentário sobre LDN em um canal de televisão popular (RAKNES; SMABREKKE, 2017; TOLJAN; VROOMAN, 2018). Há um crescente reconhecimento na comunidade científica de que as doenças autoimunes resultam da imunodeficiência, o que perturba a capacidade do sistema imunológico de distinguir "eu" de "não-eu". A normalização do sistema imunológico induzida por LDN faz com o mesmo seja um plano eficaz no tratamento em tais doenças (BAHARI, 2013). A experiência de pessoas que têm doenças autoimunes e que iniciaram o tratamento com LDN tem sido notável. Pacientes com diagnósticos como lúpus sistêmico, artrite reumatóide, síndrome de Behçet, granulomatose de Wegener, penfigóide bolhoso, psoríase e doença de Crohn foram todos comprovadamente beneficiados (BIHARI, 2005; JAROS; LIO, 2019). Como a LDN claramente interrompe a progressão na esclerose múltipla, seu uso tem sido mais recentemente estendido a outras doenças neurodegenerativas, como a doença de 12 Parkinson e esclerose lateral amiotrófica (ELA ou doença de Lou Gehrig) cuja etiologia permanece desconhecida, mas para as quais há evidências sugestivas de possível mecanismo autoimune (PATTEN; SCHULTZ; BERLAU, 2018). Além disso, pessoas com fibromialgia e síndrome da fadiga crônica tiveram marcada melhora usando LDN, sugerindo que essas entidades provavelmente têm uma importante dinâmica autoimune também. O objetivo deste trabalho é analisar o atual conhecimento sobre o emprego de naltrexona em baixas doses no tratamento de doenças autoimunes, e seu impacto na prática clínica e qualidade de vida. 13 2 OBJETIVOS O presente trabalho emerge da necessidade de analisar o atual conhecimento sobre o atual conhecimento sobre o uso de LDN nas doenças autoimunes e seu impacto na prática clínica. Uma das finalidades desta revisão, também é analisar os mecanismos de ação e as diversas doenças autoimunes e suas respectivas respostas biológicas. 14 3 METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório qualitativo de revisão bibliográfica, da produção científica sobre o uso de LDN em doenças autoimunes. Realizou-se uma revisão bibliográfica dos artigos publicados nos bancos de dados on line Bireme, Scielo, Pubmed e Medline, datados de 1985 a 2019, para obter o atual conhecimento sobre o tema proposto, assim como seu impacto na prática clínica, e mecanismo de ação. Posteriormente, ensaios referentes às implicações clínicas do LDN foram pareados por patologia. A revisão bibliográfica foi realizada entre janeiro a setembro de 2019, nos quais foram selecionados 231 artigos, submetidos aos descritores “LDN, Naltrexona, Doenças autoimunes, Imunidade. Terapia” e seus respectivos termos em inglês. Os critérios de exclusão foram os artigos repetidos, cartas ao editor, e os que não respondessem a temática proposta. 15 4 USO DE LDN NO TRATAMENTO DE DOENÇAS AUTOIMUNES.REVISÃO DE LITERATURA. A naltrexona é um medicamento desenvolvido inicialmente para tratar a dependência de drogas baseadas em opiáceos, como a heroína ou a morfina. Pertence a uma classe de medicamentos chamados “antagonistas dos opiáceos” (PARKER et al., 2018). A naltrexona ou 17- (ciclopropilmetil)-4,5-epoxi-3,14-di-hidroxi-6-ona é um antagonista opiáceo puro não seletivo com a maior afinidade para os receptores μ de opiáceos (CSAT, 2009; SCHUMACHER; BASBAUM; RAMANA, 2014; WANG et al., 2016). É quase completamente absorvido (96%), mas sua biodisponibilidade oral varia entre 5% e 40% devido ao metabolismo de primeira passagem. A meia-vida da naltrexona é de 4 horas e é uma droga altamente metabolizada (> 98%) - sendo o principal metabólito 6-β- naltrexol com meia-vida de 13h e ação antagonista sobre os receptores opióides. A filtração glomerular é o modo predominante de eliminação renal para uma pequena fração de naltrexona não metabolizada, enquanto o 6-β-naltrexol é adicionalmente secretado (TOLJAN; VROOMAN, 2018). A naltrexona ministrada em doses mais baixas (LDN) tem sido usada nos EUA para tratar os sintomas de doenças autoimunes, como a esclerose múltipla (EM), desde 1985 e, mais recentemente, na Europa e no Reino Unido (BAHARI, 2013). O método de uso de baixa dose de naltrexona foi desenvolvido pelo Dr. Bernard Bihari, de Nova York. O Dr. Bihari é qualificado em Medicina Interna, Psiquiatria e Neurologia (RAKNES; SMABREKKE, 2019). O LDN é usado como um tratamento para os sintomas de muitas condições, incluindo doença de Crohn, fibromialgia, síndrome da fadiga crônica e colite ulcerativa - condições de origem autoimune ou potencial origem autoimune (PARKER et al., 2018; JAROS; LIO, 2019). A naltrexona foi sintetizada em 1963 como um antagonista competitivo do receptor opióide oralmente ativo. A naltrexona é estrutural e funcionalmente semelhante ao antagonista opióide naloxona, mas tem maior biodisponibilidade oral e uma meia-vida biológica mais longa de 4 horas (JAROS; LIO, 2019). Sabe-se agora que a naltrexona realmente exerce seus efeitos em humanos através de pelo menos dois mecanismos receptores distintos. O primeiro é um efeito diretamente antagonista nos receptores mu-opióides. O segundo é via antagonismo da via pró-inflamatória mediada pelo receptor Toll-like 4 (TLR4) em macrófagos e microglia (JAROS; LIO, 2019). 16 O mecanismo de LDN é pensado para ser distinto da naltrexona de alta dose (HDN). Os mecanismos propostos incluem: 1. Bloqueio do eixo do receptor do fator de crescimento de opióides (OGFR), que normalmente estimula a proliferação de células B e T; e 2. Estimulação da libertação de beta-endorfina e encefalina, que tem efeitos antiinflamatórios nas células T e B (PARKER et al., 2018). Em contraste com a alta dose de naltrexona, que estimula o sistema imunológico, acredita-se que a atividade intermitente de LDN deprima a proliferação e a atividade das células imunes (JAROS; LIO, 2019). Surpreendentemente, isso implica que a naltrexona pode ser tanto antiinflamatória quanto pró-inflamatória, dependendo de sua duração de ação, colocando o medicamento na categoria “imunomoduladora” (BAHARI, 2005). O HDN tem uma duração de ação mais longa e, portanto, bloqueia continuamente o eixo OGFR, levando ao aumento da proliferação celular e da inflamação. O LDN, por outro lado, tem uma duração de ação mais curta que resulta em um bloqueio intermitente do eixo OGFR, levando a um mecanismo compensatório que aumenta a produção de receptores de OGF e opióides endógenos. Isso fortalece os efeitos inibitórios do eixo OGFR na proliferação celular e inflamação. O eixo OGFR e suas respostas únicas ao bloqueio sustentado e intermitente podem explicar potencialmente os efeitos paradoxais associados à dose (JAROS; LIO, 2019). A naltrexona expande a abordagem padrão em relação a uma curva dose-efeito linear. O que é conhecido como "princípio hormético", pelo qual certas substâncias farmacológicas ou toxicológicas exercem efeitos farmacodinâmicos qualitativamente diferentes em relação à quantidade aplicada, parece abordar as propriedades de LDN de maneira mais adequada (CALABRESE, 2013). Isso implica que a naltrexona, tendo múltiplos alvos farmacológicos dependentes de dose, com diferentes efeitos respectivos, pode ser considerada uma substância desse tipo (TOLJA; WROOMAN, 2018). Em pequenasdoses discretas variando de 1 a 5 mg, a naltrexona age como um modulador glial (YOUNGER; PARKTNY; MCLAIN, 2014; AGARWAL et al., 2017). Liga-se especificamente ao receptor Toll-like 4, onde atua como um antagonista (WANG et al., 2016; SELFRIDGE et al., 2015). A sinalização celular a jusante do receptor Toll-like 4 inclui a resposta primária de diferenciação mielóide 88 (MyD88) e as vias de interferon-β (TRIF) indutoras de adaptador contendo receptor de interleucina Toll (TIR), 17 ambas levando a produtos finais inflamatórios, como interleucina (IL) -1, fator de necrose tumoral (TNF) -α, interferon-β e óxido nítrico (TOLJAN; WROOMAN, 2018). A naltrexona em baixas doses interrompe a porção TRIF da cascata de sinalização que reduz a síntese de TNF-α e interferon-β (WANG et al., 2016). Consequentemente, as células microgliais ativadas que expressam o receptor do tipo Toll 4, caso contrário, um receptor não-constitutivo, exercem um perfil pró-inflamatório atenuado (SELFRIDGE et al., 2015). O alcance e a importância da sinalização neuronal do receptor Toll-like 4 ainda está em debate com investigações in vitro enfatizando seu papel na neuroinflamação, um papel tradicionalmente reservado à glia no sistema nervoso central (SNC). Portanto, o atributo 'atenuador glial' é ocasionalmente usado para descrever LDN (CHOPRA; COOPER, 2013; AGARWAL et al., 2017). O efeito “clássico” da naltrexona que exerce o antagonismo opióide ainda permanece na tradicional curva dose-efeito, ainda que em baixas doses, esse mecanismo de ação da droga possa parecer menos importante. Pelo contrário, em vez de provocar um bloqueio permanente do receptor opióide por dosagem padrão, o bloqueio transitório do receptor opióide resultante do uso de baixa dose aumenta a sinalização opióide (BROWN; PAKSEPP, 2009; RAHN; MCLAUGHLIN; ZAGON, 2011). Isso abre a perspectiva do LDN como ferramenta moduladora do eixo neuroimune (MCCUSKER; KELLEY, 2013), que se entrelaça ainda mais com o eixo neuroendócrino para formar um cruzamento entre o SNC e o resto do corpo. A regulação positiva do sistema opióide endógeno é evidente em modelos experimentais por níveis crescentes de endorfina e metencefalina, também conhecidos como fator de crescimento opióide, com a expressão concomitante de μ-opióide, δ-opióide e op-opióide, respectivamente também denominado receptor do fator de crescimento opióide (RAHN; MCLAUGHLIN; ZAGON, 2011; YOBURN et al., 1994). A maior reatividade das células imunes e o crescimento diminuído das células cancerosas são mediadas pelo aumento transitório na sinalização do fator de crescimento opióide (RAHN; MCLAUGHLIN; ZAGON, 2011; ZAGON, 2013; ROGOSNITZKY et al., 2013). A resposta imune exagerada está envolvida na patogênese de vários distúrbios degenerativos. Ao mesmo tempo, a ausência de estímulos imunológicos também produz distúrbios do desenvolvimento do SNC (STREIT; XUE, 2010; HART; DEN DUNNEN, 2013). 18 As respostas imunes são reguladas por citocinas, talvez através da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) (HIMMERICH et al., 2014; DHAMA et al., 2013). As células T autoimunes estão envolvidas no processo de neurogênese. Foi descoberto através de vários trabalhos de pesquisa que a resposta imune adaptativa aumenta a neurogênese no hipocampo. É um fato comprovado que as células T, assim como a microglia, são importantes para o processo de neurogênese (DHAMA et al., 2015). O bloqueio permanente do receptor do fator de crescimento opióide leva ao aumento do crescimento celular, que é indesejado no caso de tumores, mas tem sido usado experimentalmente para cicatrização de feridas e lesões da córnea (MCLAUGHLIN ZAGON, 2015). Além disso, as endorfinas superreguladas podem produzir benefícios neuropsicológicos (LUTZ; KIEFFER, 2013). Os potenciais benefícios teóricos obtidos por tais efeitos da LDN levaram o Dr. Panksepp, o fundador da neurociência afetiva, a propor-se como um 'estimulador da qualidade de vida' (BROWN; PANKSEPP, 2009). Uma característica particular da estérea seletividade e dos alvos LDN é observada. Enquanto os receptores opióides clássicos são seletivos para os isômeros (-) opióides, o receptor Toll-like 4 não é (WANG et al., 2016). Ao utilizar (+) naltrexona ou (+) naloxona, a sinalização relacionada com opióide não seria afetada e o receptor 4 de tipo Toll seria exclusivamente direcionado. Teoricamente, esse direcionamento estereosseletivo reduziria o espectro de ação do medicamento que diz respeito à regulação positiva de opióides endógenos, mas também permitiria uma avaliação mais específica de um mecanismo de ação particular no ambiente clínico real (TOLJAN; VROOMAN, 2018). Embora acreditemos que muitos dados sejam consistentes com a alegação de que o LDN funciona por meio de novos canais antiinflamatórios, existem modelos explicativos convincentes alternativos do mecanismo LDN. A hipótese mais prevalente, apresentada por Zagon et al. (1989), afirma que a indução de um bloqueio pequeno e transitório de opióides levará o corpo a compensar aumentando a regulação tanto dos opióides endógenos quanto dos receptores opióides (BROWN; PANKSEPP, 2009). O efeito de regulação positiva do opióide do bloqueio temporário da naltrexona foi demonstrado várias vezes anteriormente (TEMPEL; GARDNER; ZUKIN, 1985; ZAGON; 19 MCLAUGHLIN, 1995). Esse efeito de “rebote de opiáceos” pode ter múltiplos impactos na saúde e na qualidade de vida, incluindo analgesia endógena aumentada e repressão de fatores imunológicos críticos (BROWN; PANKSEPP, 2009). 4.1 MECANISMO DE AÇÃO DA NALTREXONA COM DOSE ULTRA BAIXA A naltrexona ou naloxona de dose ultra baixa (ULDN) refere-se a uma faixa de dosagem quando são usadas menos de 1 mg de medicamento. Seu mecanismo de ação está relacionado a uma resposta celular bimodal aos opióides. Além de sua resposta acoplada Gi inibitória, os opióides induzem uma resposta estimuladora concomitante e menos evidente acoplada a Gs (SHEN; CRAIN, 1989). A resposta estimulatória é extremamente exclusiva se pequenas quantidades de agonistas opióides forem usadas, caso contrário, aumentará de forma constante com a estimulação crônica dos receptores μ-opióides. A cascata de respostas acopladas ao receptor opióide Gs tem sido associada ao prolongamento do potencial de ação, hiperalgesia, tolerância e dependência. Um elemento crucial que media a segunda mensagem do receptor opióide μ-opióide é o filamento da proteína de suporte chamado filamina-A (FLNA)(WANG; BURNS, 2009; BURNS; WANG, 2010). A filamina-A (FLNA) contém um local de ligação de alta afinidade para naloxona e naltrexona (3,94 pM). Quando tal ligação ocorre, o acoplamento Gs do receptor μ-opióide é atenuado a resposta acoplada ao Gi prevalece. Assim, os efeitos analgésicos dos opióides são potencializados e as consequências indesejadas são mitigadas. No entanto, o FLNA também contém um local de ligação de baixa afinidade para os antagonistas de opiáceos acima mencionados (834 pM). Se ambos os locais de ligação estiverem saturados, o perfil favorável da sinalização do receptor opióide μ é abolido. Esses locais de afinidade ditam o período no qual a ULDN pode ser clinicamente relevante para aumentar as respostas ao agonismo do receptor µ-opióide. Os intervalos calculados de concentração de fármacos correspondentes são de 1,3 a 272,9 pg/mL para a naloxona e de 1,4 a 284,7 pg/mL para a naltrexona (TOLJAN; VROOMN, 2018). 4.2 MECANISMO DE AÇÃO DA NALTREXONA COM DOSE MUITO BAIXA Não há nenhum estudo farmacológico experimental completo que avalie especificamente a farmacodinâmica da naltrexona de dose muito baixa (VLDN), além de algumas tentativas no cenário clínico discutidas mais adiante. Devido à sua proximidade com 20 a faixa de dosagem LDN, o VLDN pode ter as propriedades e recursos bastante semelhantesao LDN (TOLJAN; VROOMN, 2018). Quando administrado em baixas doses de 3-4,5 mg por dia, a naltrexona aumenta a expressão dos receptores opióides MU, delta e épsilon bem como a central e circulante metencefalina (ME) e betaendorfina (BE), que podem melhorar o bem-estar psicológico (BROWN; PANKSEPP, 2008). As alterações corporais associadas resultam em funções imunes melhoradas que podem interromper a inflamação e a progressão de doenças autoimunes reumatóides, gastrointestinais e neurológicas (BROWN; PANKSEPP, 2008). Estes efeitos hipotéticos modificadores da doença de funções imunes melhoradas contradizem a opinião médica atual de que funções imunológicas devem ser globalmente suprimidas para retardar a progressão de doenças autoimunes. No entanto, há evidências de que o LDN têm efeitos terapêuticos substanciais em tais desordens. Além disso, o aumento do sistema imunológico da naltrexona é uma novidade de abordagem para prevenção e tratamento de uma variedade de cânceres. Resistência de doenças virais também pode ser melhorada, como apresenta um teste atualmente em progresso para avaliar a eficácia do LDN no tratamento da AIDS (WEERTS et al., 2008). Desde que a naltrexona entrou no domínio público em 1984, pouco financiamento foi disponibilizado para pesquisa e tratamento para quaisquer doenças, exceto etilismo e dependência de opiáceos, ambos fortemente apoiados por verbas federais. Agora, no entanto, foram expostos relatos generalizados de tratamentos bem sucedidos de vários tipos de câncer, AIDS e esclerose múltipla, e doenças autoimunes, como lúpus, artrite e fibromialgia (BIHARI, 1995; AGRAWAL, 2005). Se o uso de LDN crônico puder potencializar e regular o sistema imunológico nas formas de promoção da saúde, ele poderá servir para combater a AIDS e alguns tipos de câncer e reduzir ações autodestrutivas em vários distúrbios (BROWN; PANKSEPP, 2008). Os primeiros ensaios clínicos bem sucedidos foram para a doença de Crohn em 2006 (SMITH et al., 2007) e no final de 2007 para Esclerose Múltipla (EM) (GIRONI et al., 2008). A dose normal de 50 mg de naltrexona que bloqueia os receptores opióides 24 horas por dia é comumente prescrito para etilistas e viciados em heroína que desejam resistir a uma recaída. Isso normalmente equivale a mais de 0,5 mg/kg para a maioria dos adultos. Em contraste, o LDN mais comum, o uso é tipicamente 4,5 mg, o que geralmente significa que a maioria dos adultos usam não mais de 0,08 mg/kg por dia, o que pode bloquear os receptores 21 opióides um por apenas algumas horas, talvez até 6 h. Se tomado na hora de dormir, significaria que um indivíduo poderia acordar na manhã seguinte com uma super atividade induzida por rebote homeostático dos sistemas opióides endógenos (BROWN; PANKSEPP, 2008). Tabela 1. Mecanismos de ação e uso clínico em relação às diferentes doses de naltrexona utilizadas. Faixa de dose Mecanismo de Ação Específico da Dose Uso Clínico Padrão (50 a 100 mg) Antagonismo do receptor opióide Abuso de álcool e opiáceos Dose baixa (1 a 5 mg) Antagonismo do receptor Toll-like 4, antagonismo do fator de crescimento opióide Fibromialgia, esclerose múltipla, doença de Crohn, câncer, doença de Hailey-Hailey, síndrome de dor complexo-regional Muito baixa dose (0,001-1 mg) Possivelmente o mesmo que dose baixa Add-on to metadone desintoxicação taper Ultra baixa dose (<0,001 mg) Ligação ao sítio de alta afinidade filamina-A (FLNA) e redução do acoplamento Gs associado ao receptor opióide μ Potenciação da analgesia opióide Fonte: BROWN; PANKSEPP, 2008. É este tipo de mudança corporal na dinâmica dos opióides que se concentram alguns estudos. Até recentemente, aumentos significativos em MU, delta e talvez a expressão do receptor ópio épsilon só foi documentado em modelos animais para o bloqueio crônico de opiáceos com alta dose de naltrexona (GIORDANO et al., 1990), o que leva à elevação da analgesia da morfina (YOBURN et al., 1985). No entanto, um estudo recente em animais confirmou que uma dose baixa (0,1 mg/kg de naloxona) poderia elevar a densidade de receptores opióides MU também (RAJASHEKARA et al., 2003). Mais significativamente, um estudo concluído sobre esclerose múltipla utilizando 5 mg de naltrexona diariamente encontrou aumentos significativos na beta-endorfina circulante, juntamente com relatos generalizados de alívio dos sintomas (GIRONI et al., 2008). A naltrexona de uso prolongado afeta tanto a imunodeficiência quanto a endorfina, enquanto a alta dose de naltrexona pode neutralizar a redução da atividade do sistema imunológico causada por analgésicos opiáceos (HOLAN et al., 2003). Quando 22 administrada isoladamente, pode facilitar os parâmetros do sistema imunológico (SACERDOTE et al.,1997). 4.3 A VIA DA BETA-ENDORFINA NA REGULAÇÃO IMUNOLÓGICA Para compreender os possíveis caminhos de ação da LDN, consideremos os seguintes caminhos do antagonista de opióide bem articulado para tratar doença autoimune. A ação potencial do BE em melhorar doença autoimune é esboçada a seguir (BROWN; PANKSEPP, 2008). 4.3.1 Modulação da naltrexona da regulação imunológica e tratamento de doença autoimune Estudos demonstraram que as concentrações de BE na circulação sanguínea são dramaticamente baixa em doenças reumáticas, como artrite, lúpus e gota, com correlações inversas significativas entre BE e fator reumatóide e taxa de sedimentação de eritrócitos e, portanto, a probabilidade de inflamação (WIEDERMANN et al., 1992, MONASTERIO, 2019). Níveis de BE foram baixos em outras doenças, incluindo fibromialgia (PANERAI et al., 2002), doença de Crohn, esclerose múltipla (GIRONI et al., 2003), enxaqueca crônica e endometriose (BROWN; PANKSEPP, 2008). Um estudo piloto preliminar com uso de 4,5 mg de naltrexona para a Doença de Crohn, concluído em 2005, produziu resultados promissores. Em 3 meses, 89% dos pacientes obtiveram redução significativa sintomas e melhora nas medidas de qualidade de vida, e 67% entrou em remissão. Estes resultados foram mantidos após 4 semanas de naltrexona (SMITH et al., 2007). Em estudo sobre artrite induzida por colágeno em ratos descobriu que o aumento de BE durante o tratamento reduz as manifestações clínicas da artrite, alterando equilíbrio de células TH-1 e TH-2 para TH-2. Isso vem de regulação negativa da via do NF-kappa2, incluindo fator de necrose tumoral alfa, interleucina-1beta, interleucina-6, nítrico induzido óxido sintase e mRNA para metaloproteinase de matriz-2 e mmp-9 (YIN et al., 2005). Sacerdote et al., (2001) chegou à mesma conclusão de que o aumento de BE melhora doenças autoimunes, suprimindo TH-1 e aumentando as células TH-2. 23 4.4 LDN E METIONONA-ENCEFALINA O efeito positivo do LDN sobre os parâmetros imunológicos é reforçado por estudos que avaliaram a Metionona-Encefalina (ME) infundida no tratamento de cânceres (BROWN; PANKSEPP, 2008). Plotnikoff et al.(1987) relatam que a ME estimula a expressão de receptores de interleucina-2 e níveis sanguíneos da interleucina-2, juntamente com o aumento dos glóbulos brancos, atividade de células killers, interferon-gama, células T ativas e outras Beta- Endorfinas. Estes resultados foram obtidos tanto in vitro e in vivo e com voluntários normais, bem como pessoas sofrendo de uma variedade de cânceres, incluindo o sarcoma de Kaposi, câncer de pulmão, melanoma e hipernefroma. 24 5 DOENÇAS AUTOIMUNES Um sistema imunológico saudável defende o corpo contra doenças e infecções. Mas, se o sistema imunológico não funciona bem, ele equivocadamente ataca células, tecidos e órgãos saudáveis. Chamada de doença autoimune, esses ataques podem afetar qualquer parte do corpo, enfraquecendo a função corporal e até mesmo colocando a vida em risco (BROWN; PANKSEPP, 2008). Existem mais de 80doenças autoimunes. Algumas são bem conhecidas, como diabetes tipo 1, esclerose múltipla, lúpus e artrite reumatóide, enquanto outros são raros e difíceis de diagnosticar. Com doenças autoimunes incomuns, os pacientes podem sofrer anos antes de obter um diagnóstico adequado. A maioria dessas doenças não tem cura. Alguns requerem tratamento ao longo da vida para aliviar os sintomas (CHEN; WU; WEI, 2018). Coletivamente, essas doenças afetam mais de 24 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Aproximadamente de oito milhões de pessoas possuem autoanticorpos que indicam a chance de uma pessoa desenvolver doença autoimune. Doenças autoimunes estão afetando cada vez mais as pessoas e por razões desconhecidas (SCHWALGER, 2018). Yi et al., (2016) exploraram o efeito do LDN no fenótipo e na função dos macrófagos usando citometria de fluxo (FCM); FITC-dextrano fagocitose e ensaio imunossorvente ligado a enzima (ELISA). Os autores descobriram que o LDN aprimora a função dos macrófagos, como confirmado pela molécula MHC II de regulação positiva e CD64 nos macrófagos, enquanto regula a expressão de CD206. Além disso, as produções de TNF-α, IL-6, IL-1β aumentaram significativamente. Os macrófagos no grupo tratado com LDN aumentaram a fagocitose. Portanto, conclui-se que o LDN poderia promover a função dos macrófagos e este trabalho forneceu dados concretos de impacto no sistema imunológico pelo LDN. Estudos indicam que essas doenças provavelmente resultam de interações entre fatores genéticos e ambientais. As características de gênero, raça e etnia estão ligadas à probabilidade de desenvolver uma doença autoimune (ZASHIN, 2019). 5.1 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune sistêmica que pode causar inflamação crônica e danos em múltiplos tecidos e órgãos (AGMON-LEVIN et al., 2012). 25 Fatores ambientais e suscetibilidade genética são responsáveis pela patogênese do LES (BORCHERS et al., 2010; FU et al., 2011). A partir do entendimento dos mecanismos moduladores de células gliais, o bloqueio TLR-7 e TLR-9 pela hidroxicloroquina, tem sido utilizado com sucesso em distúrbios inflamatórios, como lúpus eritematoso sistêmico (TANG et al., 2012). Estudos sugerem que portadores de lúpus, podem se beneficiar do LDN melhorando os sintomas. O LDN pode servir como medicamento concomitante quando as terapias imunomoduladoras não são eficazes ou não são bem toleradas pelo paciente (YOUNGER; PARKTNY; MCLAIN, 2014). 5.2 SÍNDROME DE SJÖGREN A síndrome de Sjögren (SS) é uma doença autoimune sistêmica que afeta principalmente as glândulas exócrinas, resultando em ressecamento dos olhos e da boca devido à infiltração linfocitária das glândulas salivares e lacrimais, juntamente com artrite, envolvimento renal, hepático e pulmonar, fadiga crônica, dor musculoesquelética, vasculite e assim por diante. Um avanço considerável foi feito para a classificação e tratamento da SS primária nos últimos anos (CHEN; WU; WEI, 2018). Zashin (2019), apresentou um relato de caso, de uma mulher de 47 anos, portadora de SS, em uso de LDN, que notou benefício clínico significativo em sua fadiga e dor, em duas semanas após o início do uso de naltrexona em baixas doses, porém sem alteração significativa quanto aos seus olhos ou boca seca. A paciente apresenta resultados satisfatórios com LDN quatro meses depois de interromper a hidroxicloroquina devido às anormalidades do eletrocardiograma (ECG). Enquanto seus sintomas melhoraram, o que é mais interessante sobre este caso é que sua melhora clínica foi associada a uma melhora em seus marcadores inflamatórios. Com base em uma revisão do Medline, este é o primeiro relato de caso de uma paciente com Síndrome de Sjögren que foi tratado com LDN e obteve benefícios clínicos (ZASHIN, 2019). 5.3 ARTRITE REUMATÓIDE A artrite reumatóide é uma condição autoimune caracterizada predominantemente por dor nas articulações. Embora nem sempre presente, esta condição é frequentemente 26 associada com um fator reumatóide positivo (FR) e anticorpos anticíclicos citrulinados (anti- CCP) (SCHWALGER, 2018). As citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α e algumas interleucinas, como a IL-1, estão frequentemente associadas à AR. A utilização de inibidores do TNF tem sido uma opção para o tratamento; no entanto, em pacientes para os quais o tratamento não foi bem sucedido, os pesquisadores encontraram células T auxiliares elevadas tipo 17 (Th17), que não respondem a essa terapia (FURST; EMERY, 2014). Os resultados sugerem que o uso persistente de LDN está associado à redução do consumo de medicamentos analgésico. O uso concomitante de LDN e opióides é frequentemente desencorajado, o que provavelmente explica em parte a redução observada no uso de opióides na artrite reumatóide/soropositiva. A redução foi semelhante ao que observado em toda a população norueguesa usando LDN (RAKNES; SMABREKKE, 2017). Na artrite reumatóide, a dor pode ser causada por fibromialgia concomitante ou por causas não inflamatórias (BOYDEN et al., 2016). As reduções na distribuição de imunomoduladores indicam que o LDN pode ter um efeito terapêutico contra a doença reumática e fibromialgia (YOUNGER; MACKEY, 2009; YOUNGER et al., 2013). O tratamento do AR é feito com inibidores do TNF que incluem medicamentos como adalimumabe (Humira), etanercept (Enbrel) e infliximabe (Remicade). Outras opções para o tratamento da AR incluem os antiinflamatórios não-esteroidais (AINEs), como o ibuprofeno, esteroides como a prednisona, drogas antirreumáticas modificadoras da doença (DMARDs), como o metotrexato, e agentes biológicos, como os inibidores do TNF. As células T-helper 17 são responsáveis pela produção de IL-17, uma citocina pró- inflamatória. Em geral, as células do tipo Th1 / Th17 são consideradas pró-inflamatórias e as células Th2/reguladoras (Tregs) são antiinflamatórias. Demonstrou-se que a atividade do auxiliar T2 está reduzida em pacientes com AR (LARSEN et al., 2012). Para explorar mais a eficácia do LDN em condições inflamatórias, ensaios clínicos estão em andamento para estudar os efeitos do LDN em adultos com osteoartrite e artrite inflamatória (SCHWALGER, 2018). 5.4 DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL 27 A doença inflamatória intestinal (DII) inclui colite ulcerativa e doença de Crohn, ambas caracterizadas por inflamação crônica do intestino. Níveis reduzidos e/ou auto- fagocitose disfuncional têm sido implicados como fatores contribuintes na DII (EL-KHIDER; MCDONALD, 2016). A primeira aplicação do LDN em questões relacionadas ao trato gastrointestinal foi em 2006, quando um grupo de pesquisa israelense apresentou um estudo piloto envolvendo 42 pacientes que sofriam de síndrome do intestino irritável (SII) (KARIV et al., 2006). Foi um estudo aberto em que 0,5 mg de LDN foi administrado diariamente durante 4 semanas. A droga foi bem tolerada e mais de 75% dos pacientes foram considerados respondedores por uma escala subjetiva que mede dias sem dor e alívio dos sintomas. Cerca de 30% dos pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) são refratários aos medicamentos atuais ou apresentam recaídas ao longo do tempo. Novos tratamentos são necessários, e a dose baixa de naltrexona (LDN) pode fornecer uma opção de tratamento alternativo segura e facilmente acessível para esses pacientes. Neste sentido Lie et al., (2018) investigaram o potencial do LDN para induzir resposta clínica em pacientes com DII refratários à terapia e seus efeitos diretos na função da barreira epitelial, com uma amostra de 47 pacientes de ambos os sexos, acompanhados por 12 semanas. Os autores observaram que a LDN induziu melhora clínica em 74,5% e remissão em 25,5% dos pacientes, melhorou a cicatrização de feridas e reduziu o estresse do ER induzido pela tunicamicina,lipopolissacarídeo ou bactérias nas barreiras epiteliais. A mucosa inflamada dos pacientes com DII apresentou altos níveis de estresse no ER, que foram reduzidos nos pacientes tratados com LDN. Os níveis de citocinas em células epiteliais nem soro de pacientes com DII foram afetados. Assim concluíram que a LDN é eficaz e seguro e pode ser considerado para o tratamento de pacientes com DII refratários à terapia (LIE et al., 2018). 5.4.1 DOENÇA DE CROHN A doença de Crohn é uma condição inflamatória recidivante e transmural que afeta o trato digestivo. A sinalização opióide, conhecida há muito tempo por afetar a secreção e a motilidade no intestino, foi implicada na cascata inflamatória da doença de Crohn. A baixa 28 dose de naltrexona, um antagonista opióide, tem despertado interesse como uma terapia potencial (SEGAL; MACDONALD; CHANDE, 2018). A doença de Crohn pode envolver qualquer porção do trato digestivo e vários locais extraintestinais. As complicações incluem obstruções do intestino grosso e delgado, fístulas e abscessos intra-abdominais e doença perianal (BAUMGART; SANDBOURN, 2007 ). Além disso, os pacientes experimentam grandes impactos no emprego, relacionamentos e bem-estar geral (HOMMES et al. 2012 ). A patogênese da doença de Crohn ainda não está clara. Naqueles pacientes com certos fatores genéticos e ambientais, pode haver uma perda de equilíbrio entre a tolerância imunológica e a resposta patogênica ao vasto ambiente de microbiológico luminal (ABRAHAM; CHO, 2009). Os casos de doença de Crohn estão crescendo tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos. A maior incidência anual de doença é de 20,2 por cem mil pessoas-ano na América do Norte (Molodecky et al., 2012). As terapias médicas atuais incluem corticosteróides, imunossupressores (por exemplo, azatioprina, 6‐mercaptopurina ou metotrexato) e antagonistas do fator de necrose tumoral alfa e outros produtos biológicos ( BURGER, TRAVIS, 2011 ). Mais de 30% dos pacientes necessitam de cirurgia abdominal em cinco anos após o diagnóstico (BOUGUEN; PEYRIN-BIROULET, 2011). No entanto, a cirurgia não é curativa e a taxa de recorrência endoscópica pode chegar a 90% dentro de um ano da cirurgia e a taxa de recorrência clínica pode ser de 30% dentro de dois anos da cirurgia (OLAISON et al., 1992; PARKER; et al., 2018). No intestino, os opióides afetam a secreção e a motilidade interagindo com os receptores δ, κ e μ-opióides. A naltrexona é um potente inibidor do receptor µ-opióide (MOR), presente no intestino, bem como no sistema nervoso central, que interage com os peptídeos opióides endógenos β ‐ endorfina, metencefalina e leucencefalina (HOLZER 2009). A descoberta de que o MOR é superexpresso por CD4 + e CD8 + Os linfócitos T no intestino inflamado, levaram à hipótese de que a regulação do eixo opióide inato pode ser um tratamento eficaz para a doença de Crohn (PHILIPPE et al., 2006). A ativação da MOR pelos agonistas opióides reduz a inflamação em modelos de rato de colite com uma redução concomitante de linfócitos T CD4 + e citocinas, incluindo fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina-1β (IL-1β) (PHILIPPE et al., 2003 ). 29 O mecanismo de ação pode envolver uma diminuição na proliferação de células inflamatórias via inibição tônica através do eixo opióide (ZAGON; MCLAUGHLIN, 2011). A naltrexona, um antagonista da MOR, quando administrada em baixas doses, aumenta temporariamente a proliferação bloqueando o receptor opióide, mas regula tanto os ligantes quanto os receptores, proporcionando um período mais longo de diminuição da proliferação (ZAGON; MCLAUGHLIN, 1989). Um estudo piloto pequeno, aberto e não controlado (N=17) descobriu que a baixa dose de naltrexona (LDN) pode melhorar a qualidade de vida e induzir a remissão em pacientes com doença de Crohn moderada a grave (SMITH et al., 2007). Acredita-se também que os antagonistas de opióides estimulem o peristaltismo e aumentem o trânsito, o LDN também foi estudado em um estudo randomizado de tratamento para a síndrome do intestino irritável com predominância de constipação e obteve resultados satisfatórios sem nenhum efeito adverso (FOXX-ORENSTEIN et al., 2007). Uma revisão da Cochrane, de 2014 (TAWFIK et al., 2016) e atualizada em 2018 (PARKER et al., 2018), avaliaram o LDN como modalidade de indução da remissão da doença de Crohn. O total foi de 46 pacientes (12 pediátricos), que foram incluídos em ensaios controlados por placebo, randomizados, avaliando a terapia LDN contra placebo durante um período de 12 semanas para adultos e oito semanas para crianças. Um quarto dos pacientes pediátricos tratados com LDN alcançou remissão clínica (ou seja, pontuação do índice de atividade da doença de Crohn pediátrica <10), enquanto nenhum comparou com o placebo. A droga foi bem tolerada e efeitos adversos mais leves, como distúrbios do sono, fadiga, náusea ou cefaleia enquanto se tomava LDN. Embora a qualidade da evidência tenha sido classificada como baixa, a revisão mostrou que o LDN poderia potencialmente oferecer benefícios na DII ativa. O estudo clínico mais recente que avaliou o LDN na DII foi um estudo prospectivo aberto envolvendo 28 pacientes afetados pela doença de Crohn e 19 pela colite ulcerativa (LIE et al., 2018). Pacientes com uma fase ativa intratável de DII receberam 4,5 mg de LDN diariamente, além do tratamento padrão. O seguimento mediano durou 3 meses e 35 pacientes (74,5%) responderam à terapia, ou seja, houve uma diminuição na atividade da doença que durou pelo menos um mês. Seis pacientes obtiveram remissão clínica completa, incluindo cinco deles com remissão endoscópica completa. A naltrexona reduziu significativamente o estresse do retículo endoplasmático (RE) nos organóides dos tecidos intestinais, bem como 30 nas culturas de células epiteliais intestinais expostas a bactérias e produtos bacterianos, como o lipopolissacarídeo (LIE et al., 2018). Estudos pré-clínicos prévios em modelos de DII murina demonstraram que o tratamento com naltrexona reduziu a expressão de citocinas pró-inflamatórias como IL-6 e IL- 12 em células colônicas, melhorou as características histológicas da colite, diminuiu os níveis sistêmicos de proteína C-reativa e TNF-α e reduziu a gravidade dos sintomas [Culturas de células epiteliais do cólon HCT116 e CACO2 tratadas com naltrexona curaram-se muito mais rapidamente devido ao aumento da migração celular]. Embora esses achados apontem para uma resposta antiinflamatória local, os níveis sistêmicos de citocinas produzidas pelas células intestinais, notadamente IL-8 e TNF-α, não foram alterados nos pacientes em exames de acompanhamento, houve redução da expressão de citocinas pró-inflamatórias como IL-6 e IL- 12 em células colônicas, melhorou as características histológicas da colite, diminuiu os níveis sistêmicos de proteína C-reativa e TNF-α e reduziu a gravidade dos sintomas (MATTERS et al., 2008; TAWFIK et al., 2016). Um estudo farmacoepidemiológico norueguês, Raknes, Simonsen, Smabrekke (2018) extraiu informações de seu banco de dados nacional sobre a distribuição de medicamentos e avaliaram o uso de medicação em 582 pacientes afetados por DII que receberam pelo menos uma dose de LDN. Houve uma redução superior a 10% de qualquer outro uso de drogas indicado para DII. Na população de pacientes que coleta pelo menos duas doses de LDN, após o uso de uma dose de LDN, houve uma redução significativa de 12 a 16,5% no uso de amionossalicilato, sendo a diferença em correlação positiva com a quantidade de doses de LDN. Para o grupo que obteve quatro ou mais doses de LDN, houve uma redução significativa do uso de corticosteroides intestinais (-32,1%) e outros imunossupressores sistêmicos (-28,9%). Smith et al., (2013) realizaram um estudo clínico piloto em crianças com doença de Crohn moderadaa grave. Quatorze indivíduos com idade de 8 a 17 anos) foram incluídos. As crianças foram randomizadas para receber placebo ou naltrexona (0,1 mg / kg) por via oral por 8 semanas, seguido de tratamento aberto com 8 semanas adicionais de naltrexona . A segurança e a toxicidade foram monitoradas por exames físicos e químicas no sangue. A atividade clínica foi avaliada pelo Índice de Atividade Pediátrica de Crohn (PCDAI) e a qualidade de vida foi monitorada pela pesquisa Impact III. Os autores concluíram que a LDN oral foi bem tolerada sem eventos adversos graves em crianças com doença de Crohn moderada a grave. Os escores do PCDAI diminuíram significativamente dos valores pré-tratamento (34,2 ± 3,3) com um curso de oito 31 semanas de terapia com naltrexona (21,7 ± 3,9) (P = 0,005). Vinte e cinco por cento dos pacientes tratados com LDN foram considerados em remissão (escore ≤ 10) e 67% haviam melhorado com atividade leve da doença (diminuição do escore PCDAI em pelo menos 10 pontos) ao final do estudo. A qualidade de vida sistêmica e social melhorou com o tratamento com naltrexona (P=0,035). A terapia com naltrexona parece segura com toxicidade limitada quando administrada a crianças com doença de Crohn e pode reduzir a atividade da doença (SMITH et al., 2013). Infelizmente, todos os estudos sobre o tema sofrem de falta de métodos mais rígidos de acordo com paradigmas baseados em evidências ou de participantes insuficientes para produzir conclusões estatisticamente significativas. No entanto, o manejo de patologias gastrointestinais complexas, como a DII, ainda é um grande desafio clínico, e a LDN se apresenta como um tratamento adjunto seguro e potencialmente benéfico (TOLJAN; VROOMAN, 2018). 5.5 ESCLEROSE MÚLTIPLA A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença autoimune neurodegenerativa, causada por linfócitos T autoreativos de mielina, que leva ao recrutamento de macrófagos, com subsequente destruição da mielina e degeneração axonal (FERNANDES DE ABREU; EYLES; FERON, 2009). É uma doença inflamatória crônica caracterizada por dano imunomediado do sistema nervoso central (BROUX et al., 2012). A etiologia da EM não é bem compreendida, mas, como outras doenças autoimunes, pode ser atribuída a predisposição genética e/ou fatores ambientais (LUCKEY; BASTAKOTY; MANGALAM, 2011; MORONI; BIANCHI; LLEO, 2012). A EM é considerada o distúrbio inflamatório crônico mais comum do SNC nos países ocidentais e - por se tratar de uma doença incurável - um curso importante de incapacidade e aposentadoria precoce em adultos jovens, predominantemente mulheres em idade fértil (DORR; PAUL, 2015; KRIEGER et al., 2016; BORISOW et al., 2012). Um estudo retrospectivo publicado em 2016 revisou os registros médicos de pacientes com esclerose múltipla recorrente-remitente que usaram LDN apenas ou LDN com acetato de glatiramer, durante um período de 10 anos (2006-2015). O estudo comparou 3 parâmetros entre os grupos: valores laboratoriais (por exemplo, função renal, enzimas hepáticas); tempo para andar um percurso de 25 pés sem ajuda; e mudanças no cérebro com base na ressonância magnética. Os pesquisadores concluíram que não houve diferença 32 significativa no grupo que foi tratado apenas com LDN versus aqueles que usaram a combinação de LDN e acetato de glatiramer (LUDWING et al., 2016). Embora não tenha havido diferença entre os dois grupos, os autores concluíram que o LDN deve ser considerado no tratamento de pacientes com EM, devido ao baixo custo. O custo médio anual de LDN é de cerca de US $ 212 por paciente, enquanto o custo anual de DMTs varia de US $ 41.078 a US $ 53.032 por paciente (HARTUNG et al., 2015). A proposta de investigação científica de LDN como tratamento para esclerose múltipla (EM) foi apresentada como uma hipótese médica em 2005 (AGRAWAL; LOW, 2005). Logo em seguida, um estudo piloto multicêntrico de rótulo aberto envolvendo 40 pacientes avaliou a segurança e a tolerabilidade do LDN na EM progressiva primária por um período de seis meses (GIRONI et al., 2008). A droga foi bem tolerada, e uma diminuição estatisticamente significativa na espasticidade foi notada (desfecho secundário). Níveis de β- endorfinas em células mononucleares de sangue periférico de pacientes aumentaram concomitantemente com a administração de LDN, uma prova de conceito in vivo para um dos mecanismos de ação da droga. Posteriormente, um estudo retrospectivo avaliou 215 pacientes (87% MS reincidente-remitente, 10% secundário MS progressivo), que tomaram LDN (TUREL et al., 2015). A duração média da doença foi de 10 anos e a mediana do período de terapia com LDN foi de 804 dias. Apesar da influência do viés de memória, 77% dos pacientes não tiveram efeitos colaterais em nenhum momento sob LDN. Seis por cento notaram insônia e cinco por cento tiveram pesadelos. Sessenta por cento dos pacientes relataram menos fadiga ao tomar LDN e apenas quatro pessoas a classificaram de forma oposta. Três quartos dos pacientes endossaram uma melhora na qualidade de vida. Um estudo randomizado controlado por placebo determinando os efeitos do LDN na qualidade de vida em EM foi publicado antes do estudo acima mencionado. O primeiro foi composto por 96 pacientes e não houve diferença estatística entre os grupos. Este último teve 60 pacientes que completaram o estudo e uma melhora significativa foi observada para componentes de saúde mental que estimam a qualidade de vida (IBRAHIM et al., 2017). Um estudo retrospectivo comparando coortes padronizadas de LDN-only e LDN em combinação com usuários de acetato de glatiramer, Ludwig et al., (2016) descobriram que não houve diferença entre os grupos na progressão da doença por marcadores de ressonância magnética da inflamação. Metade dos pacientes em ambas as coortes apresentavam um estado de doença estável ao longo de um período de dez anos. A duração média da doença foi de 14 anos e o uso médio de LDN como terapia foi de três anos. Tal período sem efeitos adversos 33 ou diretamente causando a exacerbação da doença corrobora a segurança do LDN quando aplicado para a EM. Além disso, conforme determinado pelo teste laboratorial histórico disponível, o uso de LDN na EM reincidente-remitente não altera nenhum parâmetro padrão hepático, renal ou hematológico. A semelhança em todos os estudos foi a droga sendo bem tolerada e compatível com a terapia padrão da EM. Curiosamente, um estudo farmacoepidemiológico de larga escala com um banco de dados de dispensação de medicamentos não encontrou nenhuma diferença em relação à utilização da terapia padrão entre pacientes afetados pela EM que receberam LDN durante um período prospectivo de dois anos (RAKNES; SMABREKKE, 2017). 5.6 DISTÚRBIOS DO ESPECTRO DA NEUROMIELITE ÓPTICA Os distúrbios do espectro da neuromielite óptica (DENMO) são condições inflamatórias autoimunes do sistema nervoso central que afetam predominantemente o nervo óptico, o tronco cerebral e a medula espinhal; no entanto, fadiga, dor, depressão e problemas de sono também são sintomas frequentes (JARIUS; WILDERMANN; PAUL, 2014; CHAVARRO et al. 2016). Por muito tempo, DNMO foram considerados variantes raras de EM; no entanto, a detecção seminal de um biomarcador sérico altamente específico, anticorpos para o aquaporina-4 do canal de água de astrócitos, em até 80% dos pacientes com um fenótipo DNMO, bem como subsequentes estudos imunológicos, biomarcadores e de imagem tornaram claro que DENMO é uma entidade de doença autoimune distinta do EM (ZEKERIDOU; LENNON, 2015; HERTWING et al., 2016; KIM et al., 2015; BENNETT et al., 2015; JARIUS et al., 2011; SCHNEIDER et al., 2013; FINKE et al., 2016; TAKESHITA et al., 2017). O acréscimo de incapacidade neurológica irreversível é geralmente mais rápido e o prognóstico em longo prazo é menor do que na EM clássica (JARIUS et al., 2012;SCHMIDT et al., 2017). Para o manejo clínico, é importante ter em mente que muitos medicamentos imunomoduladores clássicos administrados na EM são ineficazes ou mesmo prejudiciais em DEMNO (STELLMANN et al., 2017; AYZENBERG et al., 2016; KLEITER et al., 2012; GELFAND et al., 2014). 34 Recentemente, anticorpos para a glicoproteína de oligodendrócito de mielina (MOG) foram relatados em um subgrupo de pacientes com um fenótipo DNMO seronegativo para anticorpos de aquaporina-4 (JARIUS et al., 2016; PACHE et al., 2016). Debate científico contínuo a respeito do diagnóstico de pacientes com anticorpos contra MOG serem portadores de DENMO ou se a encefalomielite associada a anticorpos por MOG é uma entidade da doenças em si ( ZAMVIL; SLAVIN, 2015; REINDL; ROSTASY, 2015). Estudos sugerem que a naltrexona possa beneficiar no tratamento do DENMO assim como na EM. Morrow (2011) afirma a resposta medicamentosa benéfica da LDN na fadiga nos casos de DENMO. 35 6 DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS E OUTRAS COMORBIDADES CRÔNICAS. 6.1 DOR CRÔNICA A dor pode ter um efeito devastador na qualidade de vida dos pacientes em medicina paliativa. Até o momento, a maioria das pesquisas tem sido centrada no tratamento da dor com base em opióides, com uma evidência empírica limitada para o uso de medicamentos não opióides em cuidados paliativos. No entanto, medicamentos opióides e não-opióides, como antiinflamatórios não-esteróides, têm limitações no uso clínico devido ao risco de efeitos adversos; portanto, é necessário que mais pesquisas sejam direcionadas para encontrar uma abordagem alternativa ao tratamento da dor no cuidado com conforto configuração (TROFIMOVITCH; BAUMRUCKER, 2019). Naltrexona é um antagonista competitivo reversível nos receptores μ-opioide e κ- opioide, em doses baixas segue vias farmacodinâmicas alternativas com vários efeitos. Quando utilizado em doses de 1 a 5 mg, atua como um modulador glial com efeito neuroprotetor via inibição da ativação microglial. Liga-se ao receptor Toll-like 4 e atua como um antagonista, inibindo, portanto, as vias de sinalização celular a jusante que levam a citocinas pró-inflamatórias, reduzindo a resposta inflamatória. Seu outro modo de ação envolve o bloqueio do receptor opióide transiente que se seguiu a partir de baixo - de do seu so que regula positivamente a sinalização de opióides, resultando em níveis aumentados de produção endógena de opióides, conhecido como efeito rebote opióide. Os mecanismos propostos para o alívio da dor com LDN incluem bloqueio dos receptores opióides, causando liberação compensatória de opióides endógenos e antagonismo do receptor 4 semelhante a Toll na microglia, que produz uma variedade de fatores inflamatórios, como citocinas pró-inflamatórias, substância P, nítrica óxido e aminoácidos excitatórios. Outros alvos propostos incluem astrócitos NADPH oxidase-2 e receptor de fator de crescimento opioide (OGFr). Até o momento, há muito pouca informação disponível sobre o mecanismo de alívio da dor pelo LDN e sua segurança em longo prazo (HOTA et al., 2016). Hota et al., (2016) relataram um caso em que LDN off label foi usado para o tratamento de dor neuropática diabética dolorosa refratária à maioria das terapias disponíveis. Trata-se de um paciente, sexo masculino, 76 anos de idade com 30 anos de história de diabetes tipo 2 e 7 anos de sintomas neuropáticos diabéticos, com queixas de dor em 36 queimação nas duas pernas abaixo do nível médio da panturrilha. Ele descreveu que a dor começou insidiosamente, ocorrendo de vez em quando e associada a certo grau de dormência. Posteriormente, tanto as frequências de ocorrência como a intensidade da dor aumentaram, perturbando sua noite de sono. A dor foi parcialmente aliviada pela caminhada, massagens e paracetamol. O mesmo fazia uso de amitriptilina, pregabalina, duloxetina, lamotrigina e antiinflamatórios não esteróides (AINEs) em doses e combinações variáveis. Posteriormente, ele foi submetido a um bloqueio do nervo paravertebral lombar (L2-L4) e teve alívio quase total da dor posteriormente, mas a dor reapareceu em poucas semanas. Ele também recebeu vitamina B-complexo e vitamina D injetáveis em doses terapêuticas sem nenhum benefício. Opiáceos, adesivos transdérmicos de capsaicina ou lidocaína não foram utilizados. Ao exame físico, apresentava membros inferiores, com a pele sobre o dorso de ambos os pés brilhante, sem qualquer úlcera, diminuição da percepção do toque bilateralmente abaixo dos joelhos e houve hiperalgesia, mas não alodinia. O paciente avaliou sua dor em 90% (0 a 100 pontos), 8 e 8 em uma escala visual analógica (EVA), questionário curto de dor McGill e escala de 11 pontos Likert, respectivamente. A pontuação dos sintomas da neuropatia foi de 9 em 9. Os reflexos tendinosos profundos estavam ausentes nos dois tornozelos, 1+ em ambos os joelhos e 2+ nas articulações dos membros superiores. A força muscular era normal em todos os membros. Estudos de condução nervosa mostraram polineuropatia sensorial motora bilateral. O paciente apresentava controle glicêmico adequado (HbA1c, 6,4%) e usava metformina (2 g / dia), pioglitazona (30 mg / dia) e insulina (20 unidades / dia) com boa adesão. O trabalho para outras causas de neuropatia não foi contributivo. A ressonância magnética da coluna lombar mostrou alterações degenerativas sem envolvimento neural (HOTA et al.,2016). Foi iniciado o tratamento com LDN oral em doses graduadas (1, 2 e 4 mg de HS por 2 semanas cada). Após a terapia com naltrexona, ele teve diarréia, náusea e sonolência leves, que desapareceram espontaneamente em poucos dias, sem qualquer intervenção (HOTA et al., 2016). Este foi o primeiro relatório que demonstra a eficácia do LDN no alívio da dor da neuropatia diabética. Ghai et al., (2014) relataram um caso em que o LDN resultou em uma melhora dramática na dor paraespinhal. Trata-se de um paciente, sexo masculino, 35 anos, que sofria de dor lombar crônica inespecífica no lado esquerdo por 2 anos. A história médica não era marcante, e tratamento com analgésicos opióides de ação curta (tramadol), antiinflamatórios não esteróides (diclofenaco e piroxicam), antidepressivo tricilíclico (amitripitina), antiepiléticos (pregabalina e duloxetina), fisioterapia, injeção de pontos-gatilho, e três 37 injeções de corticosteróide (acetato de prednisolona 40 mg / mL [duas injeções peridurais e uma faceta]) não foram eficazes, apesar da adesão auto-relatada satisfatória. A escala visual analógica (EVA, 0 a 100 pontos) para dor foi de 90 a 100 na maioria das vezes e interferiu em quase todas as atividades diárias. Sua pontuação no Modified Oswestry's Disability Questionnaire (MODQ) era de 65 a 70%. Nenhum outro achado notável foi observado no exame físico. Exames laboratoriais dentro dos limites de normalidade. As radiografias simples da coluna lombar e as tomografias computadorizadas eram normais, e a ressonância magnética lombar revelou protuberância posterior difusa e perfusão do disco póstero-lateral direito em L5-S1, causando compressão bilateral (direita> esquerda) do forame neural, enquanto a dor estava à esquerda. O tratamento foi iniciado com 2 mg de LDN, por via oral na hora de dormir, por 2 semanas. Quando o paciente não relatou resposta apreciável, a dose foi aumentada para 4 mg. Isso resultou em uma redução de 30 a 40% na dor após 2 semanas. Quando a dose de 4 mg foi continuada por mais 2 semanas, o paciente marcou seu EVA como 35 e MODQ como 35,5%. A administração do medicamento foi interrompida após a ingestão total de LDN por 6 semanas. Nenhum evento adverso foi observado durante ou após a administração do medicamento, e nenhum outro tratamento foi utilizado. No último acompanhamento (6 meses após o início do medicamento), o pacienteestava com dor mínima e pôde participar de todas as atividades físicas diárias. Um único caso não constitui evidência de eficácia, mas a resposta satisfatória no presente caso anuncia uma possível nova opção para lombalgia crônica refratária (GHAI et al., 2014). 6.2 SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA O nome síndrome de dor complexa regional (SDCR) reflete características desta condição e seu tratamento eficaz é um desafio clínico. Além de um tratamento padrão da dor, o LDN melhorou consideravelmente os sintomas em três pacientes (CHOPRA; COOPER, 2013; WEINSTOCK et al., 2016). Os dois primeiros casos relatados incluíram pacientes com SDCR intratável de longa duração (> 3 anos) de múltiplas extremidades, afetando gravemente as atividades diárias, incluindo as simples, como caminhar. Dentro de um período de dois meses após a introdução do LDN, ambos os pacientes reduziram significativamente o uso de cetamina para tratamento da dor e melhoraram clinicamente. Além da redução objetiva e subjetiva da sintomatologia da SDCR, o primeiro paciente parou de usar uma bengala, enquanto o outro 38 foi submetido à cirurgia do pé distônico acometido pela SDRC sem qualquer exacerbação da doença no pós-operatório, atingindo a remissão completa. O último resultado pode ser de particular interesse, pois trauma e cirurgia são fatores comuns envolvidos na etiologia e disseminação da SDRC. (CHOPRA; COOPER, 2013). Um segundo relato de caso apresentou um paciente com múltiplas comorbidades com síndrome de Ehlers-Danlos, supercrescimento bacteriano de intestino delgado, apnéia do sono e SDCR da perna direita após cateterismo cardíaco (WEINSTOCK et al., 2016). Após oito anos de falha no manejo multimodal da dor para SDCR, o LDN foi introduzido. Além dos tratamentos concomitantes que abordam outras doenças, o paciente alcançou a remissão em LDN. Sturn e Collin (2016) em sua pesquisa apontaram que, embora atualmente não existam grandes estudos clínicos randomizados que suportam o uso de baixo - dose de naltrexona, apresentaram um estudo de caso, de um paciente com Dor Regional Complexa síndrome Tipo I, descrevendo o impacto da composição LDN que melhorou dramaticamente sintomas de dor do paciente que foram refratários a outros tratamentos. 6.3 DOENÇA DE PARKINSON A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio do movimento comum, visto na prática neurológica, mas o diagnóstico e o tratamento são desafiadores. O diagnóstico é clínico e às vezes difícil, considerando um grande número de sintomas motores e não motores em pacientes com DP. O tratamento clínico de pacientes com DP é difícil, pois as opções de medicamentos são limitadas (RADHAKRISHNAN; GOYAL, 2018). A doença de Parkinson é o segundo distúrbio neurodegenerativo mais comum que afeta 2-3% da população ≥65 anos de idade. A perda neuronal na substantia nigra, que causa deficiência de dopamina no estriado, e inclusões intracelulares contendo agregados de α- sinucleína são as marcas neuropatológicas da doença de Parkinson. Vários outros tipos de células em todo o sistema nervoso autônomo central e periférico também estão envolvidos, provavelmente a partir da doença inicial. Embora o diagnóstico clínico dependa da presença de bradicinesia e outras características motoras cardinais, a doença de Parkinson está associada a muitos sintomas não motores que aumentam a incapacidade geral (POEWE et al., 2017). A (DP) é uma doença neurodegenerativa do sistema nervoso central caracterizado por tremor, rigidez, bradicinesia, desequilíbrio postural resultando em quedas 39 e sintomas psiquiátricos graves como depressão e demência (LUE et al., 2016; CLARKE et al., 2016). É a segunda doença neurodegenerativa progressiva mais comum que afeta mais homens do que mulheres, com a taxa de incidência diferindo entre as etnias e aumentando com a idade (LUE et al., 2016). Embora as causas exatas permaneçam elusivas, fatores genéticos e ambientais contribuem para o risco da doença. Os pacientes com DP tendem a ter níveis mais baixos de vitamina D associados à baixa densidade mineral óssea, contribuindo para a incapacidade relacionada à doença (MADEIRA, 2017). Papay (2014) em um estudo randomizado, com 50 pacientes portadores de Doença de Parkinson (DP) e distúrbios de controle de impulso (DCI) em uso de naltrexona por oito semanas, apresentaram resultados negativos para a eficácia da naltrexona no tratamento de DCI na DP, utilizando uma classificação clínica de melhoria global. No entanto, o estudo não possuía precisão estatística para excluir uma diferença importante nas taxas de resposta entre naltrexona e placebo. Usando uma avaliação específica da DP da escala de classificação do DCI, concluída pelo paciente, o tratamento com naltrexona foi associado a uma diminuição dos sintomas do DCI em comparação com o placebo. Papay et al. não relataram efeitos significativos da naltrexona em comparação com o placebo no tratamento de distúrbios de controle de impulso (CDI) na doença de Parkinson (DP) e Galduroz (2014) sugere que os resultados possam ser parcialmente explicados por problemas com as medidas de resultado. O questionário utilizado no estudo (QUIP-RS) não diferencia claramente entre impulsividade e compulsividade. Embora esses conceitos compartilhem vários circuitos neurais, eles ainda estão mal definidos no cenário clínico. Estudos da naltrexona para tratar a dependência do álcool indicam que ela atua principalmente no desejo, que pode estar neurobiologicamente mais próximo da compulsividade do que da impulsividade (BERLIN; HOLLANDER, 2014). Outra evidência de um problema relacionado à medida seria o efeito relatado sobre a característica de busca de novidade. A impulsividade na DP parece principalmente mediada por dopamina, mais relacionada à impulsividade da recompensa do que aos déficits no controle inibitório (GRANT; KIM, 2014). Esta hipótese seria consistente com um efeito da naltrexona no controle de impulsos via modulação opióide da dopamina no corpo estriado (GARBUTT, 2014). Portanto, a falta de eficácia da naltrexona neste estudo pode ser uma consequência da confusão de conceitos como impulsividade, compulsividade e desejo. Instrumentos que detectam respostas 40 terapêuticas mais precisas em cada um desses domínios podem ajudar a esclarecer os efeitos da naltrexona e de outras farmacoterapias para o DCI (GALDUROZ; 2014). Um terço dos pacientes com doença de Parkinson idiopática relatam a fadiga como o sintoma mais incapacitante e 58% consideram a fadiga um dos três sintomas mais incapacitantes. Guttuso Jr et al., (2010) realizaram um estudo aberto com oito pacientes portadores de DP em uso de LDN (4,5 mg/ dia). Os pacientes relataram melhora significativa da fadiga na DPI. Deste estudo, quatro indivíduos com DIP que estavam fatigados na linha de base sofreram uma redução média de 22% nos escores do PFS-16 (variação de 13 a 30%) e um aumento de 15% no total dos escores UPDRS após 8 meses de terapia com LDN. A satisfação global média do tratamento em oito meses foi de 8,75 na escala de 10 pontos. Nenhum efeito colateral foi associado à terapia com LDN entre os oito indivíduos. Bihari (2005) relatou que havia sete pacientes com Doença de Parkinson (DP) em sua prática, os quais não mostraram nenhuma progressão desde o início do LDN. De fato, dois deles mostraram evidências claras de melhora nos sinais e sintomas. Dois pacientes, sexo masculino, com 60 e 48 anos respectivamente, portadores de DP, se beneficiaram do uso de LDN, resultados que persistem após mais de dois anos em LDN. Bihari encontrou melhora em alguns sinais de sua doença de Parkinson. Entre estes, estava agora a ausência do sinal glabelar, um reflexo primitivo que é consistentemente encontrado naqueles com DP e que o paciente havia demonstrado no ano anterior em seu exame inicial (BIHARI, 2005).
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