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NOEMI ANDRADE 1 GLICOCORTICOIDES GLÂNDULA SUPRARRENAL A glândula suprarrenal é formada pelo córtex e medula. A medula secreta epinefrina, ao passo que o córtex, secreta dois tipos de corticosteroides (glicocorticoides e mineralocorticoides) e os androgênios suprarrenais. × Medula: secreta epinefrina × Córtex: secreta dois tipos de corticosteroides (glicocorticoides e mineralocorticoides) e os androgênios suprarrenais. O córtex suprarrenal tem três zonas e a zona intermediária (a fasciculada) sintetiza os glicocorticoides (ex : cortisol), que estão envolvidos com o metabolismo normal e a resposta ao estresse.O colesterol é o precursor da biossíntese dos hormônios esteroides e, a partir dele, temos a formação do pregnenolona e, posteriormente, progesterona, que dá origem ao cortisol. Ele mantém os anéis aromáticos, garantindo a alta lipossolubilidade. × Zona mais externa, a glomerulosa: produz mineralocorticoides (p. ex., aldosterona), que é responsável pela regulação do metabolismo da água e do sal. A produção de aldosterona é regulada primariamente pelo sistema renina-angiotensina. × Zona intermediária, a fasciculada: sintetiza os glicocorticoides (p. ex., cortisol), que estão envolvidos com o metabolismo normal e a resposta ao estresse. × Zona interna: secreta os androgênios suprarrenais. O cortisol é o principal glicocorticoide endógeno, necessário para manutenção da vida. Sua síntese e secreção são estritamente reguladas pelo hormônio adrenocorticotrópico (ACTH/corticotropina), que é liberado em resposta ao hormônio liberador da corticotropina ( CRH). Os glicocorticoides servem de retroalimentação inibitória da secreção de ACTH e CRH. • Importante: lembrar que a concentração de corticosteroides endógenos (cortisol, cortisona e corticosterona) na circulação sanguínea é elevada no período da manhã e baixa no período da noite, também podendo ser afetada por fatores psicológicos e determinados estímulos, como frio ou calor excessivos, além de infecções ou lesões. GLICOCORTICOIDES Glicocorticóides regulam vários processos fisiológicos e, é a terapia antiinflamatória mais efetiva para doenças inflamatórias crônicas, como a asma. Glicocorticóides suprimem a inflamação através de vários mecanismos celulares e moleculares. Seus efeitos sobre as células inflamatórias incluem: indução de apoptose, inibição de citocinas e inibição da migração. Os mecanismos moleculares de ação dos glicocorticoides estão associados com a supressão de múltiplos genes inflamatórios que são ativados em doenças inflamatórias crônicas, através da ligação de receptores NOEMI ANDRADE 2 de glicocorticoides a co-ativadores e recrutamento de histona desacetilase 2 para o complexo de transcrição ativado; Receptores de glicocorticoides ativados também interagem com sítios de reconhecimento no DNA para ativara transcrição de genes antiinflamatórios. Obs: é importante relembrar os efeitos do processo de liberação endógena de corticoides. LIBERAÇÃO ENDÓGENA DE CORTICOIDES A síntese e a liberação dos corticoides ocorrem de forma natural no organismo, de acordo com a necessidade e sob a influência do ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). O processo começa quando o hipotálamo sintetiza o CRH (hormônio liberador de corticotrofina), que induz a hipófise a secretar ACTH. Em seguida, este hormônio induz a zona fasciculata do córtex adrenal a sintetizar cortisona. Os principais efeitos do corticoide são: →Metabolismo dos carboidratos: aumentam a gliconeogênese hepática e são antagonistas periféricos da insulina, podendo induzir à hiperglicemia devido a redução da captação de glicose no músculo e tecido gorduroso. Portanto, os glicocorticoides podem causar diabetes, que normalmente é moderado, estável, sem cetose e relacionado com a dose e o tempo de administração. Na maioria das vezes, após a retirada do corticoide, o diabetes desaparece. →Metabolismo proteico: ocorre inibição da síntese proteica e elevado catabolismo proteico com balanço nitrogenado negativo, provocando redução da massa muscular. →Metabolismo lipídico: altas doses de corticoide podem levar à um aumento do VLDL e LDL. →Efeitos no crescimento: a administração de corticoide em crianças pode provocar atraso no crescimento, causado pela redução da absorção de cálcio no intestino e efeito antianabólico e catabólico nas proteínas dos tecidos periféricos. Outro fator que pode prejudicar o crescimento é que os corticóides também podem antagonizar os efeitos do GH e interferir na sua secreção. →Efeito no Na, K e Metabolismo da Água:a reabsorção de Na+ e a excreção de K+ são aumentadas pelo uso de corticoides e em altas doses pode ocorrer alcalose metabólica hipocalêmica. A interferência no metabolismo da água ocorre pelo aumento do “clearance” de água livre provocado por um efeito direto no túbulo renal e uma maior taxa de filtração glomerular. Além disso, os corticoides podem inibir a secreção do ADH (hormônio antidiurético), contudo, ainda não é conhecido por qual mecanismo. →Efeito no Metabolismo do Cálcio: a absorção intestinal de cálcio é diminuída pelos corticoides, já a excreção fecal é aumentada pelo efeito antivitamina D a nível intestinal. O aumento da filtração glomerular juntamente com a redução da reabsorção tubular faz com que o rim aumente o “clearance” urinário de cálcio. →Resposta Inflamatória: a potente ação anti-inflamatória dos corticoides ocorre principalmente devido a ação estabilizadora na membrana do lisossomo; a inibição da formação de cininas que provocam vasodilatação, maior permeabilidade capilar e dor; a inibição da proliferação de fibroblastos e a redução da síntese de colágeno. MECANISMO DE AÇÃO Os efeitos moleculares dos glicocorticoides ocorrem da seguinte maneira: a molécula de GC (glicocorticoide), por um processo de difusão passiva, entra na célula e liga-se a um receptor citoplasmático próprio (GR) que a leva até o núcleo, fazendo a alteração direta da transcrição de 10 a 100 genes. As GR estão em praticamente todas as células do organismo. No interior do núcleo a transcrição NOEMI ANDRADE 3 de genes vinculados a inflamação e a imunidade é alterada, além disso, também ocorre a inibição do fator nuclearNF-kB e do AP1, que são fatores essenciais na resposta inflamatória, esse processo é chamado de transrepressão. Deste modo, os efeitos resultantes são: redução das moléculas pró-inflamatórias (interleucinas, fatores de adesão, fatores de crescimento, proteases, etc); inibição da COX2; aumento das anexinas1 e 2, com consequente inibição da fosfolipase A2 seguida redução da síntese de prostaglandinas e leucotrienos a partir do ácido araquidônico. Outra ação dos glicocorticoides é a chamado de transativação, que ocorre quando o complexo glicocorticoide- receptor se liga a regiões promotoras de certos genes, induzindo a síntese de proteínas antiinflamatórias como a lipocortina-1 e IkB, além de proteínas com atuação sistêmica como as proteínas que provocam gliconeogênese. Segundo estudos, a maior parte dos efeitos adversos desta classe de medicamentos é devido aos mecanismos de transativação. MINERALOCORTICOIDES Os mineralocorticoides auxiliam no controle do volume de água e da concentração de eletrólitos, especialmente sódio e potássio. A aldosterona atua nos túbulos distais e ductos coletores nos rins, causando reabsorção de sódio, bicarbonato e água. Ela diminui a reabsorção de potássio, que, com H+ , é perdido na urina. O aumento da reabsorção de sódio pela aldosterona também ocorre na mucosa gastrintestinal (GI) e nas glândulas salivares e sudoríparas. As células-alvo da ação da aldosterona contêm receptores mineralocorticoides que interagem com o hormônio de modo análogo ao dos receptores glicocorticoides. Obs: níveis elevadosde aldosterona podem causar alcalose e hipopotassemia, retenção de sódio e água e aumento do volume sanguíneo e da pressão arterial. O hiperaldosteronismo é tratado com espironolactona. CLASSIFICAÇÃO A classificação dos GC ocorre de acordo com sua duração de ação. A duração de ação pode ser curta, intermediária ou longa e tem como base o tempo de supressão do ACTH, após dose única que demonstre atividade anti-inflamatória equivalente a 50 mg de prednisona. Ação curta: suprimem o ACTH durante 8 a 12 horas. A cortisona e a hidrocortisona são exemplos. Ação intermediária: suprimem o ACTH por 12 a 36 horas. Como exemplo pode-se citar a prednisona, prednisolona, metilprednisolona e triancinolona. NOEMI ANDRADE 4 Ação longa: suprimem o ACTH por 36 a 72 horas. A dexametasona e a betametasona são representantes deste grupo. FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA DOS CORTICOIDES Após serem absorvidos, a maioria dos glicocorticoides são transportados ligados a proteínas plasmáticas, em especial a globulina de ligação de corticoides (CBG) e à albumina, sendo inativos biologicamente quando associados, entrando nas células por difusão. A meia vida plasmática da cortisona é de até 90 minutos, porém os seus efeitos biológicos podem durar de 2 à 8h. São metabolizados por enzimas oxidantes microssomais hepáticas e seus metabólitos são conjugados com o ácido glicurônico ou sulfato, sendo excretados pelo rim posteriormente. USOS TERAPÊUTICOS Para iniciar a terapia com glicocorticoides algumas considerações devem ser realizadas para que a relação risco/benefício do uso destes medicamentos seja a melhor possível, algumas destas considerações são: o diagnóstico da doença base já foi confirmado? A gravidade da doença justifica o uso dos GC? Também deve-se avaliar se foi afastada a possibilidade de infecção ativa concomitante e/ou de infecção oportunista em pacientes já em uso de imunossupressores, se a possibilidade de ocorrer diabetes, hipertensão arterial, entre outras. A posologia, as vias de administração e os fármacos utilizados variam de acordo com a doença, sua gravidade e presença de comorbidades. INDICAÇÕES Devido ao seu efeito anti-inflamatório, a gama de indicações dos corticosteroides é grande, podendo ser utilizados em doenças reumáticas, alérgicas, distúrbios inflamatórios e cânceres. Entre as indicações, incluem-se: tratamento de reposição na doença de Addison (insuficiência suprarrenal primária) e na insuficiência suprarrenal secundária/terciária; diagnóstico da Síndrome de Cushing; tratamento de reposição para a hiperplasia suprarrenal congênita; alívio de diversos sintomas inflamatórios; tratamento de alergias; e aceleração de maturação pulmonar em prematuros. 1. Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal primária (doença de Addison): A doença de Addison é causada pela disfunção do córtex suprarrenal (diagnosticada pela falta de resposta ao ACTH). A hidrocortisona, que é idêntica ao cortisol natural, é administrada para corrigir a deficiência. A não adoção desse tratamento leva à morte. A dosagem de hidrocortisona é dividida de forma que dois terços da dose diária sejam dados pela manhã e um terço seja dado à tarde. A administração de fludrocortisona, um mineralocorticoide sintético e potente, com alguma atividade glicocorticoide, também pode ser necessária para suplementar a deficiência mineralocorticoide. Obs: o objetivo desse regime é mimetizar a variação normal diurna nos níveis de cortisol. 2. Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal secundária ou terciária: Esses distúrbios são causados por defeito na produção de CRH pelo hipotálamo ou na produção de ACTH pela hipófise. (Nota: sob essas condições, a síntese de mineralocorticoides no córtex suprarrenal é menos prejudicada do que a de glicocorticoides.) A hidrocortisona é usada para essa deficiência. 3. Diagnóstico da síndrome de Cushing: A síndrome de Cushing é causada pela hipersecreção de glicocorticoides (hipercortisolismo), que resulta do excesso de liberação de ACTH pela hipófise anterior ou de um tumor suprarrenal. Os níveis de cortisol (urina, plasma e saliva) e o teste de supressão de dexametasona são usados para o diagnóstico da síndrome de Cushing. O glicocorticoide sintético NOEMI ANDRADE 5 dexametasona suprime a liberação de cortisol em indivíduos normais, mas não naqueles com síndrome de Cushing. Obs: o tratamento crônico com doses altas de glicocorticoide é uma causa iatrogênica frequente da síndrome de Cushing.) 4. Tratamento de reposição para a hiperplasia suprarrenal congênita (HAC): A HAC é um grupo de doenças resultante de um defeito enzimático na síntese de um ou mais hormônios esteroides suprarrenais. A HAC pode levar à virilização de mulheres devida à superprodução de androgênios suprarrenais. O tratamento da HAC exige a administração de corticosteroides suficientes para normalizar os níveis hormonais, suprimindo a liberação de CRH e ACTH. Isso diminui a produção de androgênios suprarrenais. A escolha do hormônio de substituição depende do defeito enzimático específico. 5. Alívio dos sintomas inflamatórios: Os corticosteroides diminuem significativamente as manifestações da inflamação associadas com artrite reumatoide e condições inflamatórias da pele, incluindo vermelhidão, inchaço, calor e sensibilidade que podem estar presentes no local da inflamação. Estes fármacos também são importantes para manter sob controle os sintomas de asma persistente, bem como para tratar exacerbações asmáticas e doença intestinal inflamatória ativa. Em distúrbios não inflamatórios como a osteoartrite, pode ser usado corticosteroide intra-articular para combater o flare da doença. Nessas doenças, os corticosteroides não são curativos. 6. Tratamento de alergias: Os corticosteroides são benéficos no tratamento da rinite alérgica e das reações alérgicas por fármacos, soro e transfusões. Obs: no tratamento da rinite alérgica e da asma, a fluticasona e outros são aplicados topicamente no trato respiratório por inalação a partir de um dispensador de doses mensuradas. Isso minimiza os efeitos sistêmicos e permite ao paciente diminuir ou eliminar o uso de corticosteroides orais. 7. Aceleração da maturação pulmonar: A síndrome da angústia respiratória é um problema em recém- nascidos prematuros. O cortisol fetal é um regulador da maturação pulmonar. Consequentemente, um regime de betametasona ou dexametasona administrado por via intramuscular (IM) à mãe 48 horas antes de realizar o parto prematuro pode acelerar a maturação pulmonar do feto. RETIRADA A retirada ou redução das doses de GC deve ocorrer de forma lenta e gradual em usuários crônicos destes hormônios, pois a retirada abrupta pode provocar a reativação da doença base ou a insuficiência adrenocortical secundária (supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal — HHA). A descontinuação desses fármacos pode ser um problema quando seu uso ocorre por mais de 14 dias. Isso porque sua administração pode suprimir o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, podendo causar uma insuficiência suprarrenal aguda, potencialmente fatal. Dessa forma, sua retirada deve ser gradual de acordo com a tolerância individual, sendo recomendada a monitorização do paciente. OBS: para reduzir uma dose de 60mg de prednisona ao dia para 40 mg/dia é necessário uma ou duas semanas, porém para reduzir ou retirar uma dose de 20 mg/dia são necessárias semanas. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS Se usado juntamente com fenobarbital, fenitoína, rifampicina ou efedrina pode aumentar o metabolismo dos corticosteroides, reduzindo o efeito da terapia. A metabolização desses fármacos é feita pela enzima CYP3A4, então, produtos que contenham cetoconazol, itraconazol, claritromicina, ritonavir e cobicistate (inibidores potentes da CYP3A4) podem levar ao aumento da concentração plasmática dos corticosteroides, elevandoo risco de efeitos adversos. NOEMI ANDRADE 6 O uso concomitante com diuréticos que reduzem a concentração de potássio pode intensificar a hipocalemia, assim como o uso com glicosídeos cardíacos pode aumentar os eventos arrítmicos e intoxicação digitálica associada a hipocalemia. Além disso, se associado a anticoagulantes cumarínicos podem alterar os efeitos anticoagulantes (para mais ou para menos) sendo possível o reajuste posológico. Os glicocorticoides associados a AINEs ou álcool podem aumentar a incidência/gravidade de úlceras gastrointestinais. Nas hipoprotrombinemias, o ácido acetilsalicílico deve ser administrado com precaução, já que os corticosteroides podem reduzir as concentrações plasmáticas de salicilato. Por fim, em diabéticos, o tratamento com glicocorticoides pode inibir a resposta à somatotropina, portanto, poderá ser preciso reajuste nas doses dos fármacos hipoglicemiantes. EFEITOS ADVERSOS Os principais efeitos adversos dos glicocorticoides nos sistemas do corpo humano são: • Sistema imunológico: maior probabilidade de desenvolver infecções secundárias. • Sistema nervoso: podem ocorrer: estados depressivos e eufóricos, convulsão, psicoses e pseudotumor cerebral. • Sistema ocular: distúrbios como glaucoma e catarata. • Dermatológico: podem surgir acne, estrias róseas, fragilidade capilar, dificuldade de cicatrização de feridas e equimoses. • Sistema musculoesquelético: complicações como osteoporose, miopatia e necrose asséptica. • Sistema endócrino/metabólico: entre as principais complicações deste sistema estão: síndrome de Cushing, supressão do eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal, diabetes, intolerância a glicose, obesidade central, dislipidemia, atraso do crescimento, distúrbios menstruais, impotência, balanço negativo de cálcio e nitrogênio. • Sistema cardiovascular: pode ocorrer retenção hídrica, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e equimoses. • Sistema gastrointestinal: podem ocorrer pancreatite, úlcera gastrointestinal, ulceração e sangramento digestivo.
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