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Colégio Brasilis ADÉLIA PRADO Homenageada Noite Poética - 2021 “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra” Adélia Prado Mogi das Cruzes 2021 APRESENTAÇÃO ADÉLIA: A CELEBRAÇÃO DA SIMPLICIDADE “Porque tudo que invento já foi dito nos dois livros que li: as escrituras de Deus, as escrituras de João. Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão”. Adélia Prado. Adélia é uma senhorinha mineira que escreve poesia e prosa. Publicou seu primeiro livro aos 40 anos. Foi professora por 20 anos. Talvez a docência com suas pedras no meio do caminho a tivesse endurecido, mas não o fez, ela é enternecida por natureza. Falo aqui de Adélia porque ela tem desconcertado a muitos com sua simplicidade, entre eles o Gérson, o Silvestre e eu. É tanto desconcerto que quando o Afonso Romano Sant’Anna apresentou o manuscrito de “Bagagem” a Drummond, este não foi imune e escreveu: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis”. Adélia é fogo que arde devagarinho. Sem alardes e sem reservas. A mineira escreve sem subterfúgios e desse jeito consegue afetar a muitos. Sem pressas ou ansiedades do mercado literário, Adélia ficou 10 anos sem escrever e em 2010 escreveu outra celebração do ordinário chamado “A duração do dia“. Feminista, perplexa diante de grandes mistérios, levemente passional, sardônica e irremediavelmente simples. Adélia não estabelece compromisso com a Marvel e seu olhar e palavras preferem a fragilidade humana. Há uma máxima atribuída a muitos que diz: “a simplicidade é a máxima sofisticação”; dona Clarice, a Lispector, escreveu (escreveu de verdade!) que era preciso muito esforço para chegar à simplicidade. Os dois posicionamentos são perfeitos. Tendemos ao floreio e a retórica. Volta e meia somos seduzidos pelo canto das palavras difíceis. Temos muita aversão as coisas ordinárias. É engraçado que nesse aspecto dona Adélia se assemelha ao Evangelho: celebra as coisas simples. E isso nos causa um enorme espanto! A poesia e prosa de Adélia conta causos de família, discorre sobre uma cor, cata feijão, fica feliz fazendo um bolo, sofre, pinta uma parede de laranja, vive a eternidade no seu dia a dia. Ela se relaciona com Deus: verbaliza dúvidas, questiona- o sobre quem Ele de fato é, pede afago e afeto, ora. Ela pede que Deus a livre da adultice. Ela confessa a Deus suas loucuras. Adélia aponta para Deus todo o indizível do universo. Ela descobre Deus nos pequenos detalhes do dia a dia. É provável que ela O veja na erva do campo e no pardal no fio de eletricidade. Adélia ou é fé ambulante ou um grande embuste. Para ela “a borboleta parada: ou é Deus ou é nada”. Não há meio termos na simplicidade. Ou é ou não é. “Estou com saudade de Deus, uma saudade tão funda que me seca.” Adélia cumpre à risca um antigo desejo de Manuel Bandeira que não queria o lirismo burocrático, nem o lirismo comedido. O lirismo dessa senhora é político em seu feminismo, perplexo em sua relação com Deus, é lúcido em suas fraquezas, é espantado diante das grandezas e das miudezas do mundo, é ansioso em ser criança. É um lirismo simples e necessário. Aconselho que você leia a Adélia. Leia seus livros de prosa. Leia suas poesias. Leia sozinho ingerindo aos poucos as palavras. Depois compartilhe com alguém íntimo e vivam a sinergia disso. Mario Quintana escreveu que em poesia só há confluência. A gente gosta do que se parece conosco. E eu espero que haja confluência entre Adélia e vocês. Eu espero que vocês sejam simples como aconselhou o sábio Salomão. No princípio era o Verbo. O verbo ainda hoje chama a vida à existência. Existe o Verbo e existe Adélia, a sua mais simples preposição. Fonte: https://www.apenasmusica.com.br/artigos/adelia-a-celebracao-da-simplicidade https://www.apenasmusica.com.br/artigos/adelia-a-celebracao-da-simplicidade ADÉLIA PRADO “Considero a poesia a passagem de Deus entre nós, o sinal luminoso de Seu dedo na brutalidade das coisas. Tocados por Ele, não morreremos. A ressurreição se garante. Claro que isso ocorre também fora da arte (...) A poesia é verdade. Posso inventar uma linguagem, nunca uma emoção.” Parte I – Vida e obras Biografia Adélia Prado (1935) é uma escritora e poetisa brasileira. Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com o livro "Coração Disparado", escrito em 1978. Nasceu em Divinópolis, em Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935. Era filha de João do Prado Filho, ferroviário, e de Ana Clotilde Correa. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Foi aluna do Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração. Em 1951 ingressou na Escola Normal Mário Casassanta. Em 1950, após a morte de sua mãe, escreveu seus primeiros versos. Sua obra recria numa linguagem despojada e direta, a vida e as preocupações dos personagens do interior mineiro. Em 1953 formou-se professora. Em 1955 começou a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Melo Viana Sobrinho. Posteriormente, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis e em 1973 formou-se em Filosofia. Características das obras Com vocabulário simples e linguagem coloquial, Adélia produz poemas leves e marcantes. Sua poesia é conhecida por retratar o cotidiano sob o olhar “feminino” e não feminista e libertário. Sua poesia costuma colocar a perspectiva da mulher em seus poemas, destacando sempre o “feminino” em primeiro plano. A fé católica se faz presente nos poemas de Adélia, que costuma tratar de temas ligados a Deus, à família e principalmente à mulher. Primeiras publicações Adélia Prado publicou seus primeiros poemas em jornais de Divinópolis e de Belo Horizonte. Em 1971 dividiu com Lázaro Barreto a autoria do livro "A Lapinha de Jesus". Sua estreia individual só veio em 1975, quando remeteu os originais de seus novos poemas para o crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna, que entregou a Carlos Drummond de Andrade para sua apreciação. Impressionado com suas poesias, Drummond as envia para a Editora Imago. Nesse mesmo ano, os poemas de Adélia foram publicados no livro "Bagagem" (1975) que chama a atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo. Em 1976, o livro é lançado no Rio de Janeiro, com a presença de importantes personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant'Anna, Clarice Lispector, Juscelino Kubitschek entre outros. Em 1978, publica "O Coração Disparado", com o qual conquista o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. Poesia e cultura Em 1979, depois de lecionar durante 24 anos, Adélia Prado abandona o Magistério e passa a se dedicar à carreira de escritora. Em seguida, publica a prosa: "Solte os Cachorros" (1979) e "Cacos Para Um Vitral" (1980). Em 1980, Adélia dirige o grupo teatral amador “Cara e Coragem” na montagem da peça “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Em 1981, dirige a peça “A Invasão”, de Dias Gomes, e volta à poesia com “A Terra de Santa Cruz”. Não tenho tempo algum, ser feliz me consome. Obras Traduzidas Para o inglês Adélia Prado: Thirteen Poems. Tradução de Ellen Watson. Suplemento do The American Poetry Review, jan/fev 1984. The Headlong Heart (Poesias de Terra de Santa Cruz, O coração Disparado e Bagagem). Tradução de Ellen Watson, New York, 1988, Livingston University Press. The Alphabet in the Park (O Alfabeto no Parque). Tradução de Ellen Watson, Middletown, CT USA, Wesleyan University Press, 1990. Ex-Voto (Ex-Voto). Tradução de Ellen Doré Watson, North Adams, MA, USA, Tupelo Press, 2013. Para o espanhol El Corazón Disparado (O Coração Disparado).Tradução de Cláudia Schwartz e Fernando Noy, Buenos Aires, Leviatan, 1994. Bagagem. Tradução de José Francisco Navarro Huamán. México, Universidade Ibero- Americana. Ainda em 1981 é apresentado, no Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Princeton, o primeiro de uma série de estudos sobre a obra de Adélia Prado. Entre 1983 e 1988 exerce a função de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis. Em 1985, participa em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses. Em 1988 apresenta-se em Nova York na Semana Brasileira de Poesia, promovida pelo Comitê Internacional pela Poesia. Em 1993 volta para Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis. Em 1996 estreia no Teatro do SESI em Belo Horizonte, a peça "Duas Horas da Tarde no Brasil". Em 2000, em São Paulo, apresenta o monólogo "Dona de Casa". Em 2001, no SESI do Rio de Janeiro, apresenta um Sarau onde declama poesias do livro "Oráculos de Maio". Vida pessoal Em 1958, Adélia casou-se com o bancário José Assunção de Freitas, com quem teve cinco filhos: Eugênio (1959), Rubem (1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966). Em 2014, foi condecorada pelo governo brasileiro com a “Ordem do Mérito Nacional”. Movimento Literário Adélia Prado pode ser classificada como uma escritora da literatura contemporânea. A poetisa costuma colocar a perspectiva da mulher em seus poemas, colocando sempre o feminino em primeiro plano. Estilo A fé católica sempre se fez presente nos poemas da autora, que costuma tratar de temas ligados a Deus, à família e, principalmente, à mulher. Com vocabulário simples e linguagem coloquial, produz poemas leves e de uma suavidade marcante. A poetisa ficou conhecida por retratar o cotidiano sob o olhar feminino, mas não feminista e libertário. Adélia Prado também coloca o erótico em seus escritos, de forma delicada e leve, características de sua poesia. Bibliografia Poesia Bagagem, Imago - 1975 O Coração Disparado, Nova Fronteira - 1978 Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira - 1981 O Pelicano, Rio de Janeiro - 1987 A Faca no Peito, Rocco - 1988 Oráculos de Maio, Siciliano - 1999 Louvação para uma Cor A duração do dia, Record - 2010 Miserere, Record - 2013 Prosa Solte os Cachorros, contos, Nova Fronteira - 1979 Cacos para um Vitral, Nova Fronteira - 1980 Os Componentes da Banda, Nova Fronteira 1987 O Homem da Mão Seca, Siciliano - 1990 Manuscritos de Filipa, Siciliano - 1994 Quero minha mãe - Record - 2000 Quando eu era pequena - 2009 Filandras, Record – 2018 Antologia Mulheres & Mulheres, Nova Fronteira - 1978 Palavra de Mulher, Fontana - 1979 Contos Mineiros, Ática - 1984 Poesia Reunida, Siciliano - 1991 Antologia da Poesia Brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim - 1994. Prosa Reunida, Siciliano – 1999 Balé A Imagem Refletida - Ballet do Teatro Castro Alves - Salvador - Bahia - Direção Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema escrito especialmente para a composição homônima de Gil Jardim. Cacos Para um Vitral - Rose Ballet Escola de Dança - Divinópolis - MG - Direção Artística: Mírian Lopes e Yan Lopes. Espetáculo baseado em referência dos poemas da escritora. Parcerias A Lapinha de Jesus (em parceria com Lázaro Barreto) - Vozes - 1969 Caminhos de Solidariedade (em parceria com Lya Luft, Marcos Mendonça e outros) – Gente - 2001. Amor para mim é ser capaz de permitir que aquele que eu amo exista como tal, como ele mesmo. Isso é o mais pleno amor. Dar a liberdade dele existir ao meu lado do jeito que ele é. Parte II - Poemas de Adélia Prado Tema: Infância ESPERANDO SARINHA Sarah é uma linda menina ainda mal-acordada. Suas pétalas mais sedosas estão ainda fechadas, dormindo de bom dormir. Quando Sarinha acordar, vai pedir leite na xícara de porcelana pintada, vai querer mel aos golinhos em colherinha de prata, duas horas vai gastar fazendo trança e castelos. Estou fazendo um vestido, uma tarde linda e um chapéu, pra passear com Sarinha, quando Sarinha acordar. Primeira Infância Era rosa, era malva, era leite, as amigas de minha mãe vaticinando: vai ser muito feliz, vai ser famosa. Eram rendas, pano branco, estrela dalva, benza-te a cruz, no ouvido, na testa. Sobre tua boca e teus olhos o nome da Trindade te proteja. Em ponto de marca no vestidinho: navios. Todos a vela. A viagem que eu faria em roda de mim. Tema: Objetos e outros JANELA Janela, palavra linda. Janela é o bater das asas da borboleta amarela. Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada, janela jeca, de azul. Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você, meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi o casamento da Anita esperando neném, a mãe do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai: minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis. Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão, claraboia na minha alma, olho no meu coração. Impressionista Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo. O VESTIDO No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante. Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão. De tempo e traça meu vestido me guarda. Tema: Mulher A SERENATA Uma noite de lua pálida e gerânios ele virá com a boca e mão incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobo o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia, os cabelos entristecidos, a pele assaltada de indecisão. Quando ele vier, porque é certo que vem, de que modo vou chegar ao balcão sem juventude? A lua, os gerânios e ele serão os mesmos - só a mulher entre as coisas envelhece. De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei se não for santa? A diva Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha tou podre. Outro dia a gente vamos Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais alto, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso. Perfeita. CASAMENTO Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. A bela adormecida Estou alegre e o motivo beira secretamente à humilhação, porque aos 50 anos não posso mais fazer curso de dança, escolher profissão, aprender a nadar como se deve. No entanto, não sei se é por causa das águas, deste ar que desentoca do chão as formigas aladas, ou se é por causa dele que volta e põe tudo arcaico, como a matéria da alma, se você vai ao pasto, se você olha o céu, aquelas frutinhas travosas, aquela estrelinha nova, sabe que nada mudou. O pai está vivo e tosse, a mãe pragueja sem raiva na cozinha. Assim que escurecer vounamorar. Que mundo ordenado e bom! Namorar quem? Minha alma nasceu desposada com um marido invisível. Quando ele fala roreja quando ele vem eu sei, porque as hastes se inclinam. Eu fico tão atenta que adormeço a cada ano mais. Sob juramento lhes digo: tenho 18 anos. Incompletos. Tema: Amor AMOR FEINHO Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro. Uma vez encontrado, é igual fé, não teologa mais. Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo e filhos tem os quantos haja. Tudo que não fala, faz. Planta beijo de três cores ao redor da casa e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada. Amor feinho é bom porque não fica velho. Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: eu sou homem você é mulher. Amor feinho não tem ilusão, o que ele tem é esperança: eu quero amor feinho. Simplesmente amor Amor é a coisa mais alegre Amor é a coisa mais triste Amor é a coisa que mais quero Por causa dele falo palavras como lanças Amor é a coisa mais alegre Amor é a coisa mais triste Amor é a coisa que mais quero Por causa dele podem entalhar-me: Sou de pedra sabão. Alegre ou triste Amor é a coisa que mais quero. AMOR VIOLETA O amor me fere é debaixo do braço, de um vão entre as costelas. Atinge meu coração é por esta via inclinada. Eu ponho o amor no pilão com cinza e grão de roxo e soco. Macero ele, faço dele cataplasma e ponho sobre a ferida. Enredo para um tema Ele me amava, mas não tinha dote, só os cabelos pretíssimos e um beleza de príncipe de estórias encantadas. Não tem importância, falou a meu pai, se é só por isto, espere. Foi-se com uma bandeira e ajuntou ouro pra me comprar três vezes. Na volta me achou casada com D. Cristóvão. Estimo que sejam felizes, disse. O melhor do amor é sua memória, disse meu pai. Demoraste tanto, que...disse D. Cristóvão. Só eu não disse nada, nem antes, nem depois. Pranto Para Comover Jonathan Os diamantes são indestrutíveis? Mais é meu amor. O mar é imenso? Meu amor é maior mais belo sem ornamentos do que um campo de flores. Mais triste do que a morte, mais desesperançado do que a onda batendo no rochedo mais tenaz que o rochedo. Ama e nem sabe mais o que ama. Tema: Conversas com outros textos Com licença poética Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. Harry Potter Quando era criança escondia-me no galinheiro hipnotizando galinhas. Alguma força se esvaía de mim, pois ficávamos tontas, eu e elas. Ninguém percebia minha ausência, o esforço de levantar-me pelas próprias orelhas, tentando o maravilhoso. Até hoje fico de tocaia para óvnis, luzes misteriosas, orar em línguas, ter o dom da cura. Meu treinamento é ordenar palavras: Sejam um poema, digo-lhes, não se comportem como, no galinheiro, eu com as galinhas tontas. Agora, ó José É teu destino, ó José, a esta hora da tarde, se encostar na parede, as mãos para trás. Teu paletó abotoado de outro frio te guarda, enfeita com três botões tua paciência dura. A mulher que tens, tão histérica, tão histórica, desanima. Mas, ó José, o que fazes? Passeias no quarteirão o teu passeio maneiro e olhas assim e pensas, o modo de olhar tão pálido. Por improvável não conta O que tu sentes, José? O que te salva da vida é a vida mesma, ó José, e o que sobre ela está escrito a rogo de tua fé: “No meio do caminho tinha uma pedra” “Tu és pedra e sobre esta pedra”. A pedra, ó José, a pedra. Resiste, ó José. Deita, José, Dorme com tua mulher, gira a aldraba de ferro pesadíssima. O reino do céu é semelhante a um homem como você, José. Tema: Deus e Bíblia A FILHA DA ANTIGA LEI Deus não me dá sossego. É meu aguilhão. Morde meu calcanhar como serpente, faz-se verbo, carne, caco de vidro, pedra contra a qual sangra minha cabeça. Eu não tenho descanso neste amor. Eu não posso dormir sob a luz do seu olho que me fixa. Quero de novo o ventre de minha mãe, sua mão espalmada contra o umbigo estufado, me escondendo de Deus. Direitos humanos Sei que Deus mora em mim como sua melhor casa. sou sua paisagem, sua retorta alquímica e para sua alegria seus dois olhos. Mas esta letra é minha. Artefato nipônico A borboleta pousada ou é Deus ou é nada. Paixão De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo. O mundo, cheio de departamentos, não é a bola bonita caminhando solta no espaço. Orfandade Meu Deus, me dá cinco anos. Me dá um pé de fedegoso com formiga preta, me dá um natal e sua véspera, o ressonar das pessoas no quartinho. Me dá a negrinha Fia pra eu brincar, me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe. Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável, me dá a mão, me cura de ser grande, ó meu Deus, meu pai, meu pai. Parâmetro Deus é mais belo que eu. E não é jovem. Isto sim, é consolo. . Parte III - Atividades LEITURA E ESCRITA Após a leitura da biografia de Adélia Prado, responda: 1. “Adélia Prado nasceu em Divinópolis, em Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935. Era filha de João do Prado Filho, ferroviário, e de Ana Clotilde Correa.”. A frase em destaque permite compreender que o pai de Adélia Prado trabalhava: a) Em uma empresa de táxis. b) Em uma empresa de trens de ferro. c) Em uma empresa de ônibus. d) Em uma empresa de ferro fundido. 2. Qual o assunto principal do texto? a) O trabalho de Adélia Prado na Secretaria de Educação e Cultura de Divinópolis. b) O exercício do magistério realizado por Adélia durante 24 anos. c) A vida e obra da professora e escritora mineira Adélia Prado. d) O período que Adélia Prado passou sem escrever nem um verso. 3. Quando criança, onde Adélia Prado residia com sua família? a) Na Rua Minas Gerais. b) Na Rua Divinópolis. c) Na Rua Ceará. d) Na Rua Rio de Janeiro. 4. “Conta a autora que o livro foi iniciado em 1987, mas depois de concluir o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise de depressão, que a bloquearia literariamente por longo tempo. Disse que vê “a aridez como uma experiência necessária” e que “essa temporada no deserto” lhe fez bem”. A expressão em destaque permite compreender que a mineira Adélia Prado: a) Passou um bom tempo se dedicando ao seu último livro lançado. b) Passou um bom tempo sem escrever nenhuma linha, nenhum verso. c) Passou um bom tempo trabalhando em um deserto. d) Passou um bom tempo trabalhando na Secretaria de Educação e Cultura. 5. “Fernanda Montenegro estreia, no Teatro Delfim – Rio de Janeiro, em 1987, o espetáculo ‘Dona Doida’ – um interlúdio, baseado em textos de livros da autora” – Fernanda Montenegro é: a) Irmã de Adélia Prado e sua intérprete no teatro. b) Uma atriz brasileira conhecida internacionalmente. c) Uma escritora brasileira conhecida internacionalmente. d) Nenhuma das alternativas anteriores. 6. “Conta a autora que o livro foi iniciado em 1987, mas depois de concluir o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise de depressão, que a bloquearia literariamente por longo tempo”. A palavra em destaque tem o mesmo sentido de: a) Pegar. b) Sentir. c) Comer. d) Adoecer. 7. Escolha um poema de Adélia Prado e copie-o a seguir. Faça uma ilustração sobre o poema.Entrevista | Adélia Prado Sentindo-se uma estreante aos 80 anos, Adélia Prado lança sua Poesia reunida e comemora os 40 anos de seu livro de estreia. Lançado há 40 anos, Bagagem (1976), primeiro livro de Adélia Prado, continua um marco. Maduro suficiente para Carlos Drummond de Andrade elogiá-lo à época do lançamento, segue como uma das melhores estreias poéticas da literatura nacional. A leitura do seu conjunto de livros exalta os recursos estilísticos e a variedade de temas utilizados por Adélia ao longo da carreira. No entanto, é a religiosidade, sob viés mais metafísico que espiritual, que permeia toda a obra da autora. O que, no entanto, não reduz sua poesia à carolice. A cada virar de página, uma surpresa com a poeta do interior de Minas que consegue falar tão intensamente sobre tantas coisas, como casamento, família, cotidiano etc. Confira o bate-papo. Seu primeiro livro, Bagagem (1976), foi lançado há quase quatro décadas. A coletânea foi saudada pela maturidade estética e de temas, mas também por ser o equivalente poético a um “romance de formação”. Hoje, com o distanciamento do tempo, que leitura a senhora faz daquela estreia? Bagagem faz 40 anos agora. Foi uma alegria enorme escrevê- lo. Mas continuo estreando, sempre me vejo como caloura. Isso me dá descanso e ao mesmo tempo o gosto de escavar palavras quando à vista de um novo livro, como um garimpeiro. É sempre novo. A senhora, desde o primeiro livro, sempre recebeu muita atenção da crítica e de outros grandes autores, como Drummond, Clarice Lispector e Affonso Romano de Sant’Anna, entre outros. Como lidou com essa expectativa e atenção recebida? Estas “atenções” me confirmaram a suspeita íntima de que eu era mesmo poeta. Ganhei a carteirinha. No seu primeiro livro há dois poemas que fazem referência a Carlos Drummond de Andrade. Ele foi a principal referência para a senhora naquele momento? Sim. Em Terra de Santa Cruz há um poema muito curioso sobre a existência e utilidade dos mapas (“Legenda com a palavra mapa”). Tudo, para a senhora, é poesia? Qualquer coisa é a casa da poesia. Ela é inclusiva por natureza. Há séculos Tomás de Aquino já ensinava: “Todo ser é belo”. A Bíblia sempre exerceu uma grande influência em sua escrita. Para além da religiosidade, do cristianismo, o que mais a fascina no livro? Sua poesia. A religiosidade talvez seja o traço mais marcante de sua poética. Não teve receio de que isso fosse algo que interferisse demais em sua produção, a ponto de que outros aspectos importantes de sua poética (como o amor, a oralidade, a cultura popular, o cotidiano, a lembrança etc.) fossem ofuscados? Nunca. Ela, a poesia, pode falar sobre qualquer coisa ou sobre uma coisa só. Os pintores que escolhem pintar apenas animais ou garrafas não por isso deixam de ser universais se são pintores de verdade. Nos poemas “A vida eterna” e “A bela adormecida”, do livro O pelicano (1987), a senhora reflete sobre os 50 anos. Hoje, aos 80, acha que existe uma idade em que o poeta atinge o auge de sua forma? Não gosto de ponto final. Amo os dois pontos. Há poetas que fizeram obras geniais aos 19 anos e depois pararam de escrever. Outros continuaram de maneira menos brilhante. Outros seguiram cada vez melhores. Não sei responder em que idade nada disso pode acontecer. Acha que existem grandes diferenças entre a poesia escrita por homens e a produzida por mulheres? Nenhuma, se homem ou mulher estão fazendo poesia mesmo. A diferença, eventualmente, será na casuística do poema, visão do mundo, experiências. Como a senhora gostaria que sua poesia fosse vista no futuro? Como foi vista em seu começo. Adaptado de https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Entrevista-Adelia-Prado https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Entrevista-Adelia-Prado 1. Conhecer a biografia de um poeta ou de um autor nos ajuda, muitas vezes, a entender como ele pensava ou porque escrevia sobre determinados temas. Após a leitura da entrevista, de reler a biografia de Adélia Prado e realizar pesquisas sobre a autora, indique: a) Qual foi a primeira obra escrita por Adélia Prado? _____________________________________________________________________ b) Quais prêmios ela recebeu? ______________________________________________________________________ c) Qual é o poeta que foi exemplo e inspiração para a escrita do seu primeiro livro? ______________________________________________________________________ d) Qual é a influência da Bíblia e da religiosidade nas obras da autora? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ e) Quais são os principais temas abordados em suas obras? ______________________________________________________________________ f) Qual é a posição da autora sobre a escrita poética de homens e mulheres? _____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ g) Com inspiração na vida e nas obras da autora, crie um acróstico a partir do seu nome. A___________________________________________________________________ D___________________________________________________________________ E___________________________________________________________________ L___________________________________________________________________ I___________________________________________________________________ A___________________________________________________________________ P___________________________________________________________________ R___________________________________________________________________ A___________________________________________________________________ D___________________________________________________________________ O___________________________________________________________________ Leia os seguintes versos: I. Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964) II. Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim. (BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989) III. Quando nasci um anjo esbelto Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Carga muito pesada pra mulher Esta espécie ainda envergonhada. (PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986) 2. Em “Com Licença Poética” (trecho III), Adélia Prado estabelece um diálogo com o “Poema de Sete Faces” (trecho I), de Carlos Drummond de Andrade. Esse recurso é denominado a) contextualização. b) intertextualidade. c) citação. d) ironia. Você já passou pela experiência de estar lendo um texto e perceber que aquela passagem já foi lida em outro? Isso ocorre porque os textos, constantemente, conversam entre si, criando diálogos. A esse processo linguístico chamamos intertextualidade. Intertextualidade é, portanto, o nome dado à relação que se estabelece entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na criação de um novo texto. Diversos autores utilizam textos já existentes e reconhecidos, chamados de textos fontes, para servir de base às suas novas criações. 3. Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por: a) repetição de imagens. b) oposição de ideias. c) falta de criatividade. d) negação dos versos. e) ausência de recursos. 4. Transcreva duas passagens do poema de Adélia Prado que remetem diretamente aos versos de Drummond. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. Quais as diferenças entre os anjos do poema de Drummond, do Chico Buarque e de Adélia Prado? _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 6. Nos poemas, a postura do "eu lírico" frente à vida é determinada pela apresentação do anjo. Explique como eles entendem a vida. _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 7. Releia o poema “Agora, ó José”. Ele estabelece intertextualidade com qual outro poema? Quais são as semelhanças e diferenças entre eles? _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 8. Releia o poema “Harry Potter”. Apesar do título, o eu-lírico fala sobre si e não sobre a personagem famosa, por qual razão você acredita que Adélia Prado tenha dado este título ao poema? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 9. Assim como fez Adélia Prado, inspire no poema “Esperando Sarinha” e faça o seu próprio poema com o recurso da intertextualidade. ______________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ ____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Ensinamento Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: “Coitado, até essa hora no serviço pesado”. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. 10. Segundo o texto, a coisa mais fina do mundo é o estudo? Explique. _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 11. Que palavra do poema melhor sintetiza seu título? Justifique sua escolha. _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 12. O poema revela traços psicológicos que permitem a caracterização da mãe do eu lírico. Que verso é mais apropriado para que se comprove essa afirmação? _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 13. O poema “Ensinamento”, entre outros aspectos, versa sobre os relacionamentos humanos, revelando que: a) o amor é uma palavra de luxo por ser escasso na relação familiar apresentada. b) a mulher é representada por uma figura reprimida, sem acesso ao estudo e subjugada ao marido. c) o eu lírico aprendeu com a mãe um ensinamento sobre o amor por meio de uma experiência cotidiana. d) o eu lírico apresenta discordância em relação ao ensinamento da mãe, buscando criticá-la por sua postura submissa. e) há diferenças entre gerações; no caso, a mãe valoriza o casamento, enquanto a filha preocupa-se com o futuro profissional. 14. Leia as seguintes afirmações sobre o poema “Ensinamento”, de Adélia Prado. I - O sujeito lírico mostra que o sentimento é revelado pelas ações das pessoas. II - A cena recuperada mostra o gesto de amor da mãe para com o pai. III - O ensinamento do poema é que o amor é mais importante do que a instrução. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 15. Assim como fez Adélia Prado, inspire no poema “Ensinamento” e faça um pequeno poema que tenha como tema a história de uma mulher. ______________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ GRAMÁTICA ANÍMICO Anímico Nasceu no meu jardim um pé de mato Que dá flor amarela. Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira Da insetaria na festa. Tem zoando de todo jeito: Tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre. É pata, é asa, é boca, é bico. É grão de poeira e pólen na fogueira do sol. Parece que a arvorinha conversa. Adélia Prado. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano. Entendendo a poesia: 16. O que é anímico? ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 17. O que significa “na fogueira do sol”? ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 18. Que palavra está usada em sentido figurado? Na frase abaixo. “Parece que a arvorinha conversa.” ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 19. Por que a palavra “anímico” tem acento? Escreva outras palavras acentuadas de acordo com a mesma regra ortográfica. ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 20. A autora escreveu “arvorinha”. De que outra formapodemos escrever esse diminutivo? ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 21. Dê as outras formas de diminutivo de: Colherinha: colherzinha. · a) Amorinho: _____________ b) Florinha: ______________ 22. “Insetaria” é derivado de inseto. Escreva derivados de: a) Nascer: _________________ b) Jardim: _________________ c) Aprendiz: ________________ d) Pólen: __________________ e) Sol: ____________________ 23. Escolha duas palavras do exercício anterior e escreva uma quadra. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Releia o poema “A diva”. Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha tou podre. Outro dia a gente vamos Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais alto, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso. Perfeita. 24. Sobre o poema acima, assinale V ou F: a. ( ) É um poema narrativo, de modo que o leitor se deixa levar pela cena descrita, imaginando-a conforme o diálogo nela existente. b. ( ) Surpreende o leitor pelo seu efeito poético no final. c. ( ) Relata uma experiência real vivida por uma atriz. d. ( ) A repetição da palavra "teatro" pretende reforçar a impossibilidade da personagem de se libertar de seu cotidiano cansativo de dona de casa. d) ( ) Descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora. e) ( ) Diante das obrigações do dia a dia, ir ao teatro parece ser para Maria José um luxo supérfluo. 25. Reescreva o poema “A diva”, fazendo a sua transposição para prosa. Não se esqueça de que é importante marcar os diálogos com a pontuação. Você poderá incluir mais elementos. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Observe o poema: 26. Compare estas orações: I. O trem de ferro atravessou a rua, enquanto os carros esperavam. II. [O trem de ferro] “atravessa a noite, a madrugada, o dia.” III. [O trem de ferro] “atravessou minha vida, / virou só sentimento.” Assinale a alternativa incorreta em relação às orações e ao poema. a) Na oração de número I, o verbo atravessar foi empregado com o sentido comum, encontrado no dicionário, que é “transpor, passar para o outro lado”. b) Na frase de número III, o trem de ferro torna-se uma lembrança ou uma emoção permanente na memória do eu lírico, a que ele chama sentimento. c) No segundo verso do poema, a palavra mas introduz uma ideia de oposição entre “noite” e “dia”. d) A utilização da palavra atravessou, no terceiro verso, fora do sentido usual, constitui uma metáfora, ou seja, uma figura de linguagem baseada na comparação. e) O título do poema — “Explicação de Poesia sem Ninguém Pedir” — possibilita a seguinte interpretação do texto: a poesia transfigura os objetos, convertendo-os em sentimento. 27. Retomando a biografia da autora, explique por qual razão o trem de ferro é importante na vida de Adélia Prado. ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ Leia as considerações a seguir e o poema “Alfândega” para responder as questões de 28 a 30. Alfândega é um título de poema bastante interessante e compatível com a escolha da poetisa se pensarmos no livro em que está inserido: Bagagem. Ambas as palavras pressupõem a presença de um eu-lírico em trânsito, que se desloca, que leva consigo apenas aquelas coisas que considera essenciais. É na alfândega que habitualmente os viajantes declaram os bens físicos que pretendem carregar, no entanto, o que o eu-lírico oferece nesse momento da sua viagem são sentimentos, impressões, lembranças, subjetividades. As sensações parecem elencadas ao acaso, movidas por um fluxo de consciência que traz à tona emoções ao acaso. Ao final do poema, o sujeito poético chega a uma conclusão inusitada: ele abandona um dos bens (o dente) para poder seguir adiante. Alfândega O que pude oferecer sem mácula foi meu choro por beleza ou cansaço, um dente exraizado, o preconceito favorável a todas as formas do barroco na música e o Rio de Janeiro que visitei uma vez e me deixou suspensa. ‘Não serve’, disseram. E exigiram a língua estrangeira que não aprendi, o registro do meu diploma extraviado no Ministério da Educação, mais taxa sobre vaidade nas formas aparente, inusitada e capciosa — no que estavam certos — porém dá-se que inusitados e capciosos foram seus modos de detectar vaidades. Todas as vezes que eu pedia desculpas diziam: ‘Faz-se de educado e humilde, por presunção’, e oneravam os impostos, sendo que o navio partiu enquanto nos confundíamos. Quando agarrei meu dente e minha viagem ao Rio, pronto a chorar de cansaço, consumaram: ‘Fica o bem de raiz pra pagar a fiança’. Deixei meu dente. Agora só tenho três reféns sem mácula. 28. Indique o significado dos seguintes termos retirados do poema: a) “mácula”: _______________________________________________________________________ b) “inusitada”: ______________________________________________________________________ c) “capciosa”: ______________________________________________________________________ d) “presunção”: _____________________________________________________________________ e) “oneravam”: _____________________________________________________________________ 29. Transcreva do texto palavras acentuadas de acordo com as seguintes regras: a) Proparoxítonas são sempre acentuadas: _____________________________________________ b) Paroxítonas terminadas em –L são acentuadas: _______________________________________ c) Paroxítonas terminadas em ditongo oral são acentuadas: ________________________________ d) Oxítonas terminadas em –EM/-ENS (com mais de uma sílaba) são acentuadas: ______________ ____________________________________________________________________________________ 30. Transcreva do texto: a) Dez adjetivos: ______________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ b) Dez verbos no pretérito perfeito do indicativo: ______________________________________ c) Cinco verbos no pretérito imperfeito do indicativo: ___________________________________ _________________________________________________________________________________ TÉCNICA DE REDAÇÃO Saber fazer um comentário de texto ou mensagem é uma atividade muito importante, pois é um gênero que faz parte da vida cotidiana e de algumas provas. Saber fazer um bom comentário vai ajudar muito na sua trajetória escolar. Depois da leitura das frases de “Adélia Prado”, escreva um comentário sobre a mensagem: FRASES COMENTÁRIOS FOTOGRAFIA Quando minha mãe posoupara este que foi seu único retrato, mal consentiu em ter as têmporas curvas. Contudo, há um desejo de beleza no seu rosto que uma doutrina dura fez contido. A boca é conspícua, mas as orelhas se mostram. O vestido é preto e fechado. O temor de Deus circunda seu semblante, como cadeia. Luminosa. Mas cadeia. Seria um retrato triste se não visse em seus olhos um jardim. Não daqui. Mas jardim. 31. Procure no dicionário os termos abaixo. a) têmporas:_______________________________________________________ b) contido (conter):__________________________________________________ c) conspícua (conspícuo):_____________________________________________ d) circunda (circundar):_______________________________________________ 32. No retângulo ao lado do poema, faça uma ilustração de FOTOGRAFIA. 33. Quais adjetivos contribuem para a descrição de: a) Têmporas ________________________________ b) Boca ____________________________________ c) Vestido __________________________________ 34. O título do texto é “Fotografia”, qual palavra retoma o título ao longo do texto? ___________________________________________________________________________ 35. Qual é a impressão que a personagem tem a respeito da fotografia de sua mãe? ___________________________________________________________________________ Poesia Descritiva Assim como na prosa, na poesia a descrição, normalmente, ocorre dentro de uma narração. O poema descritivo pode apresentar linguagem subjetiva e/ou objetiva, e pretende apresentar características de uma pessoa ou paisagem, real ou imaginária, reproduzido suas particularidades físicas e/ou psicológicas. Os pormenores físicos são as características que se referem aos sentidos (visão, tato, paladar, olfato e visão), que retratam os aspectos exteriores do ser como os traços faciais, as partes do corpo, o jeito de falar, andar, e de se vestir. Os pormenores psicológicos são as características que se referem aos aspectos emocionais e mentais do ser: comportamento, qualidades, defeitos, personalidade, caráter, virtudes e preferências. 36. O poema “Fotografia” é constituído de quantos versos? ___________________________________________________________________________ 37. A partir da observação da fotografia a seguir, elabore um pequeno poema descritivo, assim como fez Adélia Prado. _________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Releia o Poema “Janela”. Grife os elementos descritivos. Janela Janela, palavra linda. Janela é o bater das asas da borboleta amarela. Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada, janela jeca, de azul. Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você, meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi o casamento da Anita esperando neném, a mãe do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai: minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis. Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão, claraboia na minha alma, olho no meu coração. 38. Em “Janela é o bater das asas da borboleta amarela”, qual é a comparação que a autora faz? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ 39. O que a autora quis dizer com “claraboia na minha alma”? ___________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ Toquinho e Vinícius também fizeram poemas sobre coisas/ objetos. Leia os trechos apresentados a seguir. O Caderno Sou eu que vou seguir você Do primeiro rabisco até o bê-á-bá Em todos os desenhos coloridos vou estar A casa, a montanha, duas nuvens no céu E um sol a sorrir no papel A casa Era uma casa muito engraçada Não tinha teto, não tinha nada Ninguém podia entrar nela não Porque na casa não tinha chão 40. Assim como fez Adélia Prado, Vinicius e Toquinho escolha um objeto e faça um poema sobre ele. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ DONA DOIDA Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos. Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha mãe. A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha, com sombrinha infantil e coxas à mostra. Meus filhos me repudiaram envergonhados, meu marido ficou triste até a morte, eu fiquei doida no encalço. Só melhoro quando chove. 41. Identifique os elementos característicos do texto narrativo presentes no texto anterior: a) Qual é o tipo de narrador? ( ) narradorpersonagem ( ) narrador observador b) Quem são as personagens? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ c) Reescreva as palavras ou expressões que indicam o tempo em que se passa o poema. ____________________________________________________________________________ d) Em relação ao enredo, indique três fatos que marcam períodos diferentes da vida da personagem. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 42. Em seus poemas, Adélia Prado demonstra uma busca primordial pela autodescoberta, pela autodefinição; há a busca pela identidade, que se dá, muitas vezes pela poesia dentro do seu próprio universo feminino. Descobrindo-se poeta, ela descobre-se mulher, pois a poesia é exercício espiritual, método de libertação interior, regresso à infância; confissão; consciência de ser algo mais que passagem; experiência inata, coletiva e pessoal. Em “’Serenata”, “Casamento”, “A diva” e “A Bela Adormecida”, Adélia Prado usa como tema o universo feminino. Faça como a poetisa e elabore um poema que trata da MULHER. Poesia Narrativa A poesia mais antiga não foi escrita, mas falada, recitada, contada ou cantada. Recursos poéticos como ritmo, rima e repetição tornavam as histórias mais fáceis de serem memorizadas, facilitando, dessa forma, que elas fossem transportadas por longas distâncias e transmitidas de geração em geração. A partir dessa tradição oral, nasceu a poesia narrativa. Essa forma de poesia conta histórias por meio de versos. Como um romance ou conto, um poema narrativo tem enredo, personagens e cenário. Usando uma variedade de técnicas poéticas, como rima e métrica, a poesia narrativa apresenta uma série de eventos, muitas vezes incluindo ação e diálogo. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 43. Releia o poema “Com licença poética”, converse sobre ele com sua professora e seus colegas. Faça anotações do que considerar importante. Agora é a sua vez 44. Utilize o poema “Com licença poética”, de Adélia Prado, como base para a construção do seu poema. _________________________ Quando nasci um anjo ______________ desses que __________ _____________, anunciou: ______________________________ __________ muito __________ pra _________ ___________________________________. (...) Não sou tão _________ que não possa __________, acho ____ ______________ uma __________ e ora sim, ora não, creio _______________. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é __________________. Minha ______________ não tem ____________, já a minha vontade de ____________, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser __________ na vida é ___________ pra ___________. ___________ é _______________. Eu sou. Em “Com licença poética” a autora conta um pouco de seu nascimento e, em “Harry Potter” ela apresenta momentos de sua infância. Leia o poema: Harry Potter Quando era criança escondia-me no galinheiro hipnotizando galinhas. Alguma força se esvaía de mim, pois ficávamos tontas, eu e elas. Ninguém percebia minha ausência, o esforço de levantar-me pelas próprias orelhas, tentanto o maravilhoso. Até hoje fico de tocaia para óvnis, luzes misteriosas, orar em línguas, ter o dom da cura. Meu treinamento é ordenar palavras: Sejam um poema, digo-lhes, não se comportem como, no galinheiro, eu com as galinhas tontas. Agora é a sua vez! 45. Nós conhecemos alguns poemas narrativos “Esperando Sarinha”, “Com licença poética” e “Harry Potter”, que tratam do universo infantil. Inspire-se nesses poemas e elabore um poema sobre a sua INFÂNCIA. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________
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